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A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NAS CULTURAS DO ESCRITO Giane Araújo Pimentel Carneiro Universidade do Estado da Bahia Campus XII

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Academic year: 2021

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A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NAS CULTURAS DO ESCRITO Giane Araújo Pimentel Carneiro –gianeap@hotmail.com

Universidade do Estado da Bahia – Campus XII

Resumo

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa em andamento que tem como objetivo analisar a forma como as crianças que freqüentam o primeiro ano do ensino fundamental se apropriam das culturas do escrito, tanto na vida escolar como fora dela.

Pretende ainda identificar quais os sujeitos que mediam essas práticas, os materiais escritos que circulam e enfim, como se dá a relação entre essa participação e o processo de aquisição da língua escrita. Compreender as relações que a sociedade atual estabelece com as culturas do escrito, o papel que possuem, o que elas podem falar dessa sociedade e dos seus sujeitos são questões que podem ser estudadas a partir da participação das crianças nessas práticas. Acreditamos que quanto mais imersas estão as crianças nas culturas do escrito, mais facilitado será o processo de aquisição da língua escrita. Por enquanto, foram analisadas as entrevistas realizadas com professores de escolas públicas do município de Guanambi-BA que trabalham com o primeiro ano.

Fundamentamos nos estudos de Magda Soares (2004, 2011), Harvey Graff (1994), Ana Galvão (2006, 2007), Cecília Goulart (2010), Claudinei Belintane (2013), entre outros.

Os resultados parciais indicam que o contato das crianças com as culturas do escrito se dá, principalmente, por meio dos livros de literatura e dos livros didáticos, mesmo que muitas escolas ainda não têm um acervo constituído ou preservado. Nas entrevistas realizadas com professores é unânime o reconhecimento de que é importante para a formação/desenvolvimento da criança o acesso aos livros e à cultura letrada. Porém, foram percebidas contradições entre o discurso e a prática de algumas escolas/professores.

Palavras Chave: Culturas do escrito. Crianças. Alfabetização e letramento.

Introdução

Os estudos que envolvem a área da leitura e da escrita aumentaram consideravelmente nas últimas décadas e têm sido problematizados diante das novas questões postas pela realidade sociocultural e econômica e do revisionismo teórico sobre o tema. Acreditava-se que o domínio da língua escrita, pela população, seria a mola mestra que moveria o mundo industrializado, condição sine qua non para o desenvolvimento social e econômico dos países; idéia essa que não tem mais a hegemonia de antes, diante das problemáticas que envolvem esse assunto, a partir das últimas décadas dos anos de 1980 (GRAFF, 1994).

Compreender as relações que a sociedade atual estabelece com as culturas do escrito,

o papel que possuem, o que elas podem falar dessa sociedade e dos seus sujeitos são

questões pertinentes para o próprio entendimento da realidade cultural de cada grupo

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humano. Cecília Goulart (2010) afirma que a forma como cada sociedade e cada grupo utiliza a escrita é singular, com suas especificidades e diz muito sobre como a escrita influencia a organização da sociedade e como é por ela organizada.

Segundo Graff (1994) definir o termo cultura escrita é difícil, pois a cultura escrita tem diferentes significados e uma variação de funções nos seus modos de apropriação, seus usos, para cada sujeito, em diferentes lugares. Utilizaremos o termo culturas do escrito de acordo com Galvão (2007) que defende a existência não de uma cultura escrita, homogênea, mas várias culturas com características próprias.

Os estudos sobre as culturas do escrito abrangem as dimensões da oralidade, das práticas discursivas, da leitura, do manuscrito e do impresso, do processo de aquisição da língua escrita e do letramento. Entre essas temáticas destacam-se os estudos sobre a alfabetização e o letramento pelo fato de parecer incomodar a uma sociedade grafocêntrica, com uma forte cultura letrada, a existência de pessoas que não dominam os conhecimentos sobre a língua escrita ou não conseguem utilizá-los bem nas práticas sociais.

A pesquisa em andamento pretende analisar os modos de participação das crianças de turmas do 1º Ano do Ensino Fundamental, de escolas públicas municipais de Guanambi-BA, nas culturas do escrito, realizadas tanto no ambiente escolar como na sua vida cotidiana. Apresentamos resultados parciais dos dados coletados no ambiente escolar por meio de entrevistas com professores, para tentar responder algumas questões propostas no estudo: como se dá a apropriação das crianças nas culturas do escrito?

Quais os sujeitos que participam dessa mediação? Quais as práticas de leitura que as crianças se envolvem? Quais os materiais escritos que circulam e que se encontram disponíveis para essas crianças? Como se dá a relação entre essa participação e o processo de aquisição da língua escrita e dos níveis de letramento?

As culturas do escrito, as crianças e o processo de alfabetização e letramento

Acreditamos que quanto mais imersas estão as crianças nas culturas do escrito,

inclusive tendo acesso aos textos orais que advém da tradição cultural do seu povo

(BELINTANE, 2013), mais facilitado será o processo de aquisição da língua escrita. Os

índices e avaliações internas e externas às escolas nas últimas décadas acusam um

quantitativo grande de crianças que não se apropriam do sistema de escrita da língua.

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O censo do IBGE (2010) mostra, na primeira década do século XXI, a preponderância de analfabetismo na nossa região, quando comparada às demais regiões brasileiras. Apesar de percebermos um decréscimo nos índices de analfabetismo, essas taxas ainda se apresentam muito altas.

Atualmente, as formas de organização do currículo escolar, instituídas a partir dos programas educacionais de âmbito federal possibilitam a promoção das crianças para as séries seguintes, mesmo sem dominarem o código da língua escrita, a pretexto de ser esta, uma aprendizagem processual. No entanto o modo como a escola organiza o trabalho pedagógico não tem dado conta de garantir essa aprendizagem, ainda que entendida como um processo. Segundo Magda Soares (2004, p.9):

O fracasso em alfabetização nas escolas brasileiras vem ocorrendo insistentemente há muitas décadas; hoje, porém, esse fracasso configura-se de forma inusitada. Anteriormente ele se revelava em avaliações internas à escola, sempre concentrado na etapa inicial do ensino fundamental, traduzindo-se em altos índices de reprovação, repetência, evasão; hoje, o fracasso revela-se em avaliações externas à escola – avaliações estaduais (como o SARESP, o SIMAVE), nacionais (como o SAEB, o ENEM) e até internacionais (como o PISA), espraia-se ao longo de todo o ensino fundamental, chegando mesmo ao ensino médio, e se traduz em altos índices de precário ou nulo desempenho em provas de leitura, denunciando grandes contingentes de alunos não alfabetizados ou semi-alfabetizados depois de quatro, seis, oito anos de escolarização.

Os estudos sobre a psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro e Anna Teberosky (1985) propuseram novas discussões sobre o processo de construção do código escrito pelas crianças, que, mal interpretadas por alguns, levaram ao desenvolvimento de práticas espontaneístas, pois, na medida em que se criticava muito, o trabalho de alfabetização a partir dos métodos tradicionais, cada um interpretava de uma forma como a proposta construtivista deveria ser aplicada. Começam a serem denunciadas também as práticas de alfabetização desvinculadas do desenvolvimento das habilidades para o uso competente da língua escrita enquanto uma prática social, os chamados “analfabetos funcionais”.

O conceito de letramento aparece nas discussões sobre alfabetização, e após intensos

debates, reconhece-se atualmente que, apesar de serem termos diferenciados, são

indissociáveis (CARVALHO, 2005). A defesa é que se deve alfabetizar letrando ou

letrar ao alfabetizar, de forma que os sujeitos do conhecimento possam se apropriar da

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língua escrita de forma competente, desenvolvendo habilidades do seu uso nas práticas sociais do cotidiano.

A Resolução do CNE/CEB 5/2009 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, no Art. 9º fala da proposta curricular e propõe os eixos norteadores das práticas pedagógicas. Indicam que elas devem favorecer a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical, além de possibilitarem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos.

A criança, mesmo sem dominar ainda o conhecimento sobre a língua escrita, se apropria de um saber sobre o livro e sobre o mundo letrado no qual está inserida. Ou seja, o fato da criança não estar ainda alfabetizada não significa que não deva participar de contextos de letramento. Magda Soares (2003) defende que o trabalho com a oralidade, sempre envolvendo a ludicidade, como a contação/leitura de histórias, utilizando os livros de literatura, é um precursor da leitura e escrita, além de enfatizar que o contato das crianças com o livro, nas salas de aula, deve ser diário. Convém ressaltar que na edição de 2012 o PNBE já inclui a creche.

As culturas do escrito e as práticas escolares

A contação/leitura de histórias é uma das práticas que mais agradam às crianças e que tem sido comumente encontrada nas escolas. Entretanto, muitas questões relacionadas com a garantia do acesso ao acervo literário infantil ainda carece de reflexões. Nas entrevistas realizadas com professores do 1º ano é unânime o reconhecimento de que é importante para a formação/desenvolvimento da criança o acesso à literatura infantil. Porém, foram percebidas contradições entre o discurso do professor e a prática de algumas escolas/professores.

Muitas escolas não têm um acervo constituído ou preservado, mesmo com as

políticas federais do PNBE e quando têm, poucas são as situações planejadas e

disponibilizadas às crianças para utilização desses livros. Alguns relatos afirmam que os

livros ficam guardados para não estragarem ou para não sumirem, além de que, nem

todas as escolas contam com bibliotecas, salas de leitura e/ou funcionários para fazê-las

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Uma das professoras relata que “não faz diferença o acesso à literatura se as crianças não sabem ler” (PROFESSORA Y, 2013). E outra professora ao falar sobre as práticas, afirmou que utiliza a literatura como estratégia para as crianças “ficarem tranquilas”

(PROFESSORA N, 2013).

Apesar desses enganos, percebemos um avanço quanto à constituição dos cantinhos de leitura em um grande quantitativo das salas de aula observadas, principalmente no ano de 2013, após a implantação do PNAIC – Pacto Nacional pela alfabetização na Idade Certa.

Afirmamos por enquanto, que o acesso das crianças às culturas do escrito, nas escolas, tem sido basicamente por meio dos livros de literatura e dos livros didáticos, mediados pelo professor e algumas vezes pelos próprios pares. Carecemos de mais dados sobre outros materiais, sobre como ocorrem as práticas e sobre como se dá essa participação na vida fora da escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELINTANE, Claudemir. Oralidade e alfabetização: uma nova abordagem da alfabetização e do letramento. São Paulo: Cortez, 2013.

BRASIL / Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação.

Diretrizes curriculares nacionais para a Educação Infantil; Resolução n. 5, de 17/12/2009, Brasília: MEC, 2009.

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Cordel: leitores e ouvintes. Belo Horizonte:

Autêntica, 2006.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira et al (orgs.). História da cultura escrita: séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

GOULART, Cecília. Cultura escrita e escola: letrar alfabetizando. In.: MARINHO, Marildes e CARVALHO,Gilcinei Teodoro (orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

GRAFF, Harvey. Os Labirintos da Alfabetização: reflexões sobre o passado e o presente da alfabetização. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação. nº 25. Rio de Janeiro Jan./Apr. 2004.

Site : http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf - Acesso em março/2011.

_______. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Editora Contexto, 2003.

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