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A REFORMA D O JUDICIÁRIO E OS NOVOS MARCOS DA COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA D O TRABALHO N O BRASIL

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Academic year: 2021

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M ARCOS D A C O M PETÊN C IA MATERIAL D A JU STIÇ A D O TRABALHO N O BRASIL

J o ã o O r e s t e D a l a z e n *

S U M Á R I O : I n t r o d u ç ã o ; 1 L i d e s o r i u n d a s d a r e l a ç ã o d e tr a b a l h o ; 1.1 E x e g e s e h i s t ó r i c a d o n o v o a r tig o 1 1 4 , in c is o I, d a C F / 8 8 ; 1 .2 C o n c e i t o d e r e l a ç ã o d e t r a b a ­ lh o ; 1.3 L i d e d a r e l a ç ã o d e t r a b a l h o a f e t a à J u s t i ç a d o T r a b a l h o ; 1 .3 .1 D i s s í d i o s in d i v i d u a i s d a r e l a ç ã o d e e m p r e g o ; 1 .3 .2 C o n t r a t o p e s s o a l d e a t i v i d a d e ; 1 .3 .3 S e r ­ v i d o r p ú b lic o ; 1 .4 F u n d a m e n t o s p a r a a a m p l i a ç ã o d a c o m p e t ê n c i a d a J u s t i ç a d o T r a b a l h o p a r a a l id e d e r e l a ç ã o d e tr a b a l h o ; 2 D i s s í d i o s in d i v i d u a i s s i n d i c a i s ; 2 .1 I n t e r s i n d i c a i s n ã o c o l e t i v o s ; 2 . 1 .1 I n t e r s i n d i c a i s d e r e p r e s e n t a t i v i d a d e ; 2 . 1 . 2 D i s s í d i o d e c l a r a tó r io d e v i n c u l o j u r íd i c o - s i n d i c a l ; 2 . 2 D i s s í d i o s i n t r a - s i n d i c a i s ; 2 .2 .1 D i r i g e n te s in d i c a l lic e n c i a d o ; 2 . 2 . 2 D i s s í d i o p a r a a n u l a ç ã o d e e l e i ç ã o s i n d i ­ c a l; 2 . 2 .3 D i s s í d i o p a r a a n u l a ç ã o d e a s s e m b l é i a g e r a l s i n d i c a l ; 2 .3 S i n d i c a i s s o b r e c o n tr i b u i ç õ e s ; 3 L i d e s d e p e n a l i d a d e s a d m i n i s t r a t i v a s im p o s t a s a o s e m p r e g a d o ­ r e s ; 4 L i d e s d e c o r r e n te s d e d a n o m o r a l o u p a t r i m o n i a l . A c i d e n t e d e tr a b a l h o ; 5 L i d e s d o e x e r c í c i o d o d i r e i t o d e g r e v e ; 6 J u í z o c r itic o . O m i s s õ e s . C o n c l u s ã o .

C o n s titu iç ã o F ed era l d e 1988, c o m o se re c o rd a , re v e lo u -s e m u ito a v a ra e p recária, a o r e g u la re m u m único p receito (art. 114) a co m p etên cia m aterial d a J u s tiç a d o T r a b a lh o n o c a m p o d o d is s íd io in d iv id u a l, te m a s o b re m o d o c o m p le x o e in trin c a d o p a ra s e r tra ta d o c o m ta m a n h a p a r c im ô n ia .

A re c e n te p u b lic a ç ã o d a E m e n d a C o n s titu c io n a l n ° 4 5 , d e 3 1 .1 2 .2 0 0 4 , q u e im p la n to u a p r im e ir a e ta p a d a R e fo r m a d o P o d e r J u d ic iá r io , n o p a r tic u la r , c o n s titu i u m f o r m id á v e l a v a n ç o , n ã o o b s ta n te se re s s in ta a in d a d e im p e rfe iç õ e s . A lé m d e s u p r ir a lg u m a s g ra v e s la c u n a s a tin e n te s à c o m p e tê n c ia p a ra c o n flito s tra b a lh is ta s típ ic o s , c o n te m p lo u a J u s tiç a d o T r a b a lh o c o m u m v ig o r o s o e a le n ta d o r f o r ta le ­ c im e n to in s titu c io n a l, m o rm e n te a o a m p lia r - lh e s o b re m o d o a c o m p e tê n c ia m a te r ia l.

D e f a to , a E C e m c o m e n to in o v o u s ig n if ic a t iv a m e n t e n a d is c ip lin a c o n s titu c io n a l d a c o m p e tê n c ia m a te r ia l d a J u s tiç a d o T r a b a lh o , s e ja m e d ia n te u m in é d ito d e ta lh a m e n to , d e c e rto v is a n d o a e v ita r a o m á x im o o s in d e s e já v e is c o n flito s e e x c e ç õ e s d e c o m p e tê n c ia , s e ja a tr ib u in d o - lh e c o m p e tê n c ia p a ra ju lg a r o u tra s lid e s d e n a tu r e z a d iv e rs a , a b s o lu ta m e n te e s tra n h a s à s u a c lá s s ic a c o m p e tê n c ia p a ra o c o n flito o b r e iro - p a tro n a l.

M in is tr o d o T r ib u n a l S u p e r io r d o T r a b a lh o . P r o fe s s o r A s s is te n te d a U n iv e r s id a d e d e B r a s ília (U n B ).

I N T R O D U Ç Ã O

R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 41

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Percebe-se a in d a d o n o v o te o r d o a rt. 114 da C o n s titu iç ã o F e d e ra l que a Justiç a d o T ra b a lh o re ve lo u -se m e re ce d o ra de c o n fia n ç a do C ong resso N a c io n a l, p o is lh e a trib u iu c o m p e tê n c ia p ara ju lg a r lid e s de n a tu re za d ive rsa que te n h a m o tra b a lh o c o m o fu n d a m e n to .

E m essência, a n o v a red ação em p restad a p e la E C 4 5 /0 4 ao a rt. 114 da C o n s titu iç ã o F e d e ra l c o n v o lo u a Justiça do T ra b a lh o n o ju íz o n a tu ra l, p ara o q u a l d e ve m c o n ve rg ir tod os os c o n flito s decorrentes d o trab alho pessoal prestado a o u tre m , su b o rd in a d o o u não, a ssim c o m o d ive rsa s lid e s conexas d ecorrentes da execução de u m c o n tra to de em p reg o.

1 L ID E S O R IU N D A S D A R E L A Ç Ã O D E T R A B A L H O

1.1 E xeg ese h is tó ric a d o n o v o a rtig o 114, in c is o I, d a C F /8 8

S eg uram ente a m a is n o tá v e l in o va ç ã o rep ousa na com p e tê n c ia m a te ria l da Ju stiç a do T ra b a lh o p ara lid e s o riu n d a s d a re la ç ã o de tra b a lh o .

N o te -s e q u e o te x to c o n s titu c io n a l a n te rio rm e n te a lu d ia a “ d is s íd io s in d iv id u a is e c o le tiv o s e n tre tra b a lh a d o re s e em p reg ad ores” , b em c o m o c o n fe ria c o m p e tê n c ia , “ n a fo rm a da le i” , p ara “ o u tra s c o n tro vé rsia s d ecorrentes da re la ç ã o de tra b a lh o ” . P o r isso, sob o sig n o de ta l m a n d a m e n to c o n s titu c io n a l, fix o u -s e o e n te n d im e n to de que a p ró p ria C o n s titu iç ã o F e d e ra l a trib u iu à Justiça d o T ra b a lh o d ir im ir os litíg io s entre em p reg ad os e em preg ad ores (c o n flito s tra b a lh ista s típ ic o s ), m as reservou-se à le i a p o ssib ilid a d e de estender ta l com petência a litíg io s em ergentes e n tre n ã o-em p reg ad o e n ã o -e m p re g a d o r v in c u la d o s p o r u m a re la çã o de tra b a lh o e m se n tid o la to . L o g o , duas con c lu sõ e s e ntão se e xtra íra m : a) para os c o n flito s in d iv id u a is em anados de re la ç ã o de e m p reg o, a fo n te da c o m p etência m a te ria l da Ju stiç a d o T ra b a lh o era a p ró p ria C o n s titu iç ã o F e d e ra l; b ) d ive rsa m e n te , p ara os c o n flito s in d iv id u a is (a típ ic o s ) e m a n a d o s d a re la ç ã o de tra b a lh o , a fo n te da c o m p e tê n c ia m a te ria l da Justiç a d o T ra b a lh o e ra a le i o rd in á ria .

S o b re vin d o a E C 4 5 /0 4 , n ã o se v in c u la m a is a com p etência m a te ria l da Justiça d o T ra b a lh o estrita m e n te à lid e em anada da relação de em prego e entre os resp ectivos s u je ito s . V in c a -s e d ita c o m p e tê n c ia à lid e ad vind a da re la ç ã o de tra b a lh o .

A q uestão to rm e n to s a e a to rm e n ta d o ra , p o is, consiste e m saber se a lo c u ç ã o

“ da re la ç ã o de tra b a lh o ” n o n o v o te x to c o n s titu c io n a l pode s ig n ific a r “ da re la çã o de e m p re g o ” .

A a b so lu ta p e rtin ê n c ia da ind ag ação a ind a m a is se acentua q uand o se atende p ara a c irc u n stâ n c ia de que o te x to o ra a p rova d o in c o rre em g rave c o n tra d iç ã o .

C o m e fe ito . A o m e sm o te m p o em que o in c is o I do art. 114 d eclara c o m p e tir à Justiça do T ra b a lh o ju lg a r os d issíd ios em g eral em ergentes de “ relação de tra b a lh o ” , o in c is o I X e sta tu i que a Justiç a d o T ra b a lh o pode ju lg a r “ o u tra s c o n tro vé rsia s d ec o rre n te s da re la çã o de tra b a lh o , n a fo rm a da le i” .

4 2 R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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P o d er-se-ia o b je ta r que, se a com petência da Justiça do T ra b a lh o p ara “ relação de tra b a lh o ” re p ou sa rá n o p ró p rio te x to c o n s titu c io n a l (in c is o I), não h a ve ria p o r que se c o n te m p la r e m o u tro in c is o ( IX ) a p o ss ib ilid a d e de a le i o rd in á ria estender essa com p e tê n c ia a o u tra s c o n tro vé rsia s d ecorrentes da re la çã o de tra b a lh o . P o d e r- se-ia re d a rg ü ir que de duas, um a: ou o in c iso I a lud e im p ro p ria m e n te à relação de tra b a lh o , p re te n d e n d o re fe rir-s e tã o -s o m e n te à re la ç ã o de e m p re g o , ú n ic a c irc u n stâ n c ia e m que se com p re en d e ria e ju s tific a r-s e -ia a n o rm a do in c is o I X , ao c o n te m p la r a p o ss ib ilid a d e de a le i estender a com p e tê n c ia para o utras c o n tro vé rsia s d ecorrentes da re la çã o de tra b a lh o , ta l com o sucedia e m face da redação o rig in á ria do art. 114; o u o in c is o I com eteu à Justiça do T ra b a lh o c o m p etência p ara o litíg io a d vin d o m e sm o de q u a lq u e r “ relação de tra b a lh o” em se n tid o a m p lo , h ip ótese em que o in c is o I X d e sp o n ta ria o c io so , a tod a e vid ên c ia .

In e q u iv o c a m e n te , o art. 114, in c is o I, padece de um a redação d e fe itu o sa e te c n ic a m e n te im p ró p ria , que bem se e xp lic a n o processo le g is la tiv o que re d un d o u na E C 4 5 /0 4 . N a C o m issã o E sp ec ia l da P E C 9 6 /1 9 9 2 da C â m ara dos D ep utad os, v o to u -s e e a p ro v o u -s e p a re c e r da R e la to ra , D e p . Z u la iê C o b ra , e m q u e , coerentem ente, p re servava-se o sistem a o rig in á rio do art. 114 da C F /8 8 : na p rop osta d o que seria o a rt. 115, in c is o I, rep ortava -se e x p lic ita m e n te a d issíd io de re la ç ã o de em p reg o e e m o u tro in c is o ( V I I I ) rep isava-se a d ire triz de que a le i p o d e ria a la rg ar a com p e tê n c ia da J T p ara outras c o n tro vé rsia s d ecorrentes da re la çã o de tra b a lh o .

Sucede, to d a via , que, em P le n á rio , a C âm ara dos D ep utad os a p ro vo u destaque para s u b s titu ir a lo c u ç ã o “ re lação de e m p reg o” p o r “ re la çã o de tra b a lh o” O lv id o u - se, n o enta n to , de s u p rim ir (p orq ue in ú til e in c o m p a tív e l c o m o destaque apresentado e a p ro v a d o ) o in c is o ( V I I I da P E C , a tu a l I X ) p e lo q u a l a le i p o d e ria estender a com p e tê n c ia da J T para o u tra s c o n tro vé rsia s d e riva n te s da re la çã o de tra b a lh o . E o Senado F e d e ra l m a n te v e a locução “ re lação de tra b a lh o ” .

A p ro fu n d a n d o -s e m a is no processo le g is la tiv o , constata-se que n o Senado F e d e ra l ap resentou-se E m e n d a de P le n á rio ,2 em que se p ro p u g na va o re stab e le ­ c im e n to do te x to a p ro va d o na C o m issã o E sp e c ia l da C â m a ra dos D e p uta d o s c o m a lo cução re la ç ã o de em p reg o. A em enda, c o n tu d o , seq uer fo i vota d a , o que dá b em a m ed id a da a b so lu ta fa lta de re ce p tivid ad e à p ro p o siç ã o .

O u tro aspecto sum am ente im p o rta n te do p rocesso le g is la tiv o está em que o Senado F e d e ra l m a n te ve a locução “ rela çã o de tra b a lh o ", m as a p ro v o u em enda para e x c lu ir da c om p etência m a te ria l da Justiça do T ra b a lh o “ os servid ores ocupantes de cargos c ria d o s p o r le i, de p ro v im e n to e fe tiv o o u e m c o m issã o , in c lu íd a s as a u tarq uias e fund ações p ú b lic a s” . O ra, essa exceção à reg ra da com p etência da J u s tiç a d o T r a b a lh o p a ra as lid e s d e riv a n te s de “ re la ç ã o d e tr a b a lh o " é in d u b ita v e lm e n te re ve la d o ra de que não q u is o Senad o F e d e ra l c ifra r a re fe rid a c o m p e tê n c ia às lid e s em erg entes de re la ç ã o de em p reg o p o rq u a n to , se assim fosse,

1 Destaque de Votação em Separado n° 116, do Dep. Nelo Rodolfo (PMDB-SP) 2 Emenda de Plenário n° 136 do então Senador Artur d a Távola (PSDB-RJ).

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1 , j a n / a b r 2 0 0 5 4 3

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n a tu ra lm e n te n ão se fa ria necessária a e xc lu sã o dos servid o re s p ú b lic o s e sta tu tá rio s.

C o m e fe ito , se a com p etência da Justiç a d o T ra b a lh o p ersistisse re s trita às lid e s p ro ve n ie n te s de re la ç ã o de em prego, não h a v e ria p o r que e xcep cionar os e sta tu tá rio s de ta l c o m p etência, p o rq ue o b via m e n te n ã o m a n tê m re la çã o de em p re g o c o m o E sta d o .

S in to m á tic o desse m a n ife s to in tu ito d o le g is la d o r é ta m b é m o fa to de que, d ife re n te m e n te da redação a n te rio r d o a rt. 114, a a tu a l n ã o re p isa a re fe rê n c ia a d issíd io entre trab alhad ores e em pregadores. O silê n c io eloq üente acerca dos s u je ito s e m que se pode c o n fig u ra r u m d is síd io a d vin d o da re la çã o de tra b a lh o ta m b é m sin a liza , in ilu d iv e lm e n te , que se o b je tiv o u m e sm o a expansão dos d o m ín io s da Justiça d o T ra b a lh o , de m a n e ira a in s c re v e r e m sua e sfera m u ito s o u tro s litíg io s d e riva n te s de re la ç ã o de tra b a lh o , em se n tid o la to , e m que n ã o h a ja v ín c u lo e m p re g a tíc io .

Transp arece n ítid a e in s o fis m á v e l, assim , à lu z de u m a in te rp re ta ç ã o h is tó ric a d o p rocesso le g is la tiv o da E C 4 5 /0 4 , que a m ens le g is la to ris fo i a de re p e lir a id e n tific a ç ã o da c o m p etência m a te ria l da Justiça do T ra b a lh o e strita m e n te c o m os d issíd io s em ergentes da “ re la çã o de em p re g o ” . H o u v e , sim , d elib e ra d a v o n ta d e do C o ng re sso N a c io n a l, expressa e m sucessivos m o m e n to s, de a la rg a r os h o riz o n te s da atuação da Justiça d o T ra b a lh o , so b re tu d o n o que se re n e g o u a lo c u ç ã o “ da re la ç ã o de em p re g o ” , p re fe rin d o -s e a esta a lo cução, m u ito m a is a m p la e g e n é ric a ,

“ da re la ç ã o de tra b a lh o ” .

1 .2 C o n c e ito de re la ç ã o de tra b a lh o

A e s trita v in c u la ç ã o d o n o v e l a rt. 114, in c is o I, da C F /8 8 , às lid e s “ o riu n d a s d a re la ç ã o de tr a b a lh o” b a s ta ria p a ra s e r o fa to r d e te rm in a n te e m s i d o re c o n h e c im e n to da c o m p e tê n c ia m a te ria l da Justiça d o T ra b a lh o p ara m u ito a lé m d o d is síd io in d iv id u a l e n tre em p reg ad o e em pregador.

O v o c á b u lo “ re la çã o ” , d o p o n to de v is ta filo s ó fic o , in d ic a “ o m o d o de ser o u c o m p o rta r-se dos o b je to s e n tre s i” .3 4

N o toc a n te ao tra b a lh o h u m a n o , seja sub o rd in a d o , seja a u tô n o m o , acha-se

“ re la c io n a d o ” de d ife re n te s m o d o s, v is to que n o to ria m e n te p od e ser o b je to de d is tin ta s re la çõ e s ju ríd ic a s , c o n tra tu a is o u n ã o , e n tre as q uais: re la ç ã o ju ríd ic a e sta tu tá ria e n tre s e rv id o r p ú b lic o e o E sta d o , c o n tra to de em p reg o, c o n tra to de e m p re ita d a , c o n tra to de p restação de se rviç o s, c o n tra to de p arce ria , c o n tra to de rep resentação m e rc a n til etc. P o r isso, n o p la n o do D ire ito P riv a d o , re p o rta m -se a lg u n s d o u trin a d o re s aos c o n tra to s, d e n o m in a n d o -o s g e n e ricam ente “ c o n tra to s de a tiv id a d e ” .

D a í o p e rtin e n te e a b a liza d o e sc o lio de A m a u ri M a sc a ro N a sc im e n to :

“ R e la ç ã o de tra b a lh o é u m g ênero, d o q u a l a re la çã o de em p re g o o u c o n tra to de tra b a lh o é u m a das m o d a lid a d e s, aspecto de fá c il c o m p reensão

3 ABBAGNANO, Nicola. D ic io n á r io d e filo s o f i a . 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982.

4 4 Rev T S T B rasília, vol. 71, n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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d ia n te das m ú ltip la s fo rm a s de a tiv id a d e h u m a n a e que o D ire ito p ro c u ra re g u la m e n ta r e m seto riza ç õ e s d ifere n te s. P od e-se, m e sm o , fa la r em d iv isã o ju ríd ic a d o tra b a lh o c o m im p licações n o p ro b le m a da com p etência dos órgãos ju ris d ic io n a is .”

P a te n te, p o r c o n se g u in te , que p ara e fe ito de d ita r a com p e tê n c ia m a te ria l da Justiça do T ra b a lh o , a lo c u ç ã o re la çã o ju ríd ic a de tra b a lh o é u tiliz a d a c o m alcance m a is abrangente que re la ç ã o ju ríd ic a de em prego.

1.3 L id e d a re la ç ã o de tra b a lh o a fe ta à J u s tiç a d o T ra b a lh o

Q u e se h á de entend er, e n tã o , p o r “ re la ç ã o de tra b a lh o ” , p ara e fe ito de d e te rm in a ç ã o da c o m p e tê n c ia m a te ria l da Justiç a d o T ra b a lh o ?

C o n v e n c i-m e de que o n o v e l te x to c o n s titu c io n a l, ao e s ta tu ir que in c u m b irá à Justiça d o T ra b a lh o e q u a c io n ar d issíd io o riu n d o da “ re la ç ã o de tra b a lh o ” (a rt.

114, in c is o I) , c o n fio u -lh e :

a) os c o n flito s tra b a lh is ta s em ergentes de u m a re la ç ã o de em prego, p o is esta é u m a espécie de re la ç ã o de tra b a lh o ;

b ) ta m b é m to d a lid e a d vin d a dos c o n tra to s de a tiv id a d e em g eral, c o n ta n to que se cuid e de prestação p e s s o a l de se rviç o a o u tre m ;

c) a lid e q ue e n v o lv a s e rv id o r p ú b lic o , q u a lq u e r que seja o re g im e , in c lu s iv e o e s ta tu tá rio , c o n q u a n to , n o p a rtic u la r, o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l s in a liz e em c o n trá rio .

E x a m in e m o s de fo rm a p a rtic u la riz a d a esses casos.

1.3.1 D is s íd io s in d iv id u a is da re la çã o de em p reg o

P a te n te que a n o rm a c o n s titu c io n a l d o a rt. 114, in c is o I, conq uanto se re p o rte às lid e s que d im a n a m da “ re la ç ã o de tra b a lh o ” , n ã o p re e x c lu iu a com p e tê n c ia do J u d ic iá rio T ra b a lh is ta p ara os litíg io s d e riva n te s de re la çã o de em p reg o: n ã o pode ser o u tra a in fe rê n c ia ló g ic a se se tiv e r presente que se c o ntém n o c o n ceito de “ relação de tra b a lh o ” o de “ re la çã o de em p re g o ” .

C o m o se sabe, e é da tra d iç ã o d o D ire ito b ra s ile iro , h á u m a u m b ilic a l c o rre la ç ã o e n tre c o n flito s tra b a lh is ta s típ ic o s - have n d o -se p o r ta is os que nascem de u m a rela çã o de em p reg o - e com p e tê n c ia m a te ria l da Justiç a d o T ra b a lh o : a c o m p e tê n c ia m a te ria l da Justiç a d o T ra b a lh o p e rsiste rep ou sa n d o essencialm ente n a soluç ã o dos c o n flito s tra b a lh ista s.

A ausp iciosa n o vid a d e está em que a n o v a n o rm a c o n s titu c io n a l, consoante já se a n o to u , n ã o m a is c irc u n s c re v e a c o m p e tê n c ia da Justiç a d o T ra b a lh o aos d issíd io s “ entre tra b a lh a d o re s e em preg ad ores” , c o m o o fa z ia a redação a n te rio r.

A s s im , p o rq u e o s u p o s to d a d e te rm in a ç ã o da c o m p e tê n c ia é u n ic a m e n te a c o n tro v é rs ia d e riv a r da “ re la çã o de tra b a lh o ” , o n o v o te x to c o n s titu c io n a l preenche

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 4 5

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u m a o m is sã o de que se re sse ntia a d is c ip lin a da com p etência m a te ria l da Ju stiç a do T ra b a lh o : os litíg io s d a re la ç ã o de em p reg o e que n ã o e n v o lv a m os seus s u je ito s.

D e s o rte que, p resentem ente, in scre vem -se na c o m p etência da Justiç a do T ra b a lh o , a o re v é s d o q u e s u c e d ia a n te s (p o r fa lta de p e rm is s iv o le g a l e c o n s titu c io n a l): a) os d issíd io s in te ro b re iro s , a e xe m p lo do que se passa, às vezes, e n tre os em p reg ad os que c e le b ra m c o n tra to de equipe, a re sp e ito de s a lá rio ; b ) os d issíd io s in te rp a tro n a is sobre ob rig a ç ão que decorre do c o n tra to de e m p reg o, ta l c o m o se v e rific a na lid e e n tre o em p re g a d or sucessor e o suced id o, o u e n tre o e m p re g a d or s u b e m p re ite iro e o e m p re ite iro p rin c ip a l (a rt. 4 5 5 da C L T ); c) q u a isq u e r o u tra s lid e s a p ro p ó sito de d ire ito s e ob rigações que d ecorram da relação de em p reg o, m e sm o que n ã o se estab eleçam e n tre em preg ad o e em pregador, c o m o se dá c o m a ação c iv il p ú b lic a “ tra b a lh is ta ” , o u c o m o d is s íd io sob re c o m p le m e n ta ç ã o de a p o s e n ta d o ria entre em pregado e entid ad e de p re vid ê n c ia p riva d a fechada in s titu íd a p e lo em p reg ad or, quand o a co m p le m e n ta ç ã o de ap osentad oria n ã o é c ria d a p e lo em p reg ad or.

S itu a ç ã o p e c u lia r é a do tra b a lh a d o r e ve n tu a l a v u ls o: d e se n vo lve tra b a lh o s u b o rd in a d o n ã o c o n fig u ra d o r de re la ç ã o em p reg atícia. A C o n s titu iç ã o F e d e ra l, c o n tu d o , a sse g u ra ao a v u ls o d ire ito s ig u a is aos d o tra b a lh a d o r c o m v ín c u lo p e rm a n e n te (a rt. 7 o, p a rá g ra fo ú n ic o ). H á , p o is, re lação de tra b a lh o a ssim ila d a à de em p re g o e re g id a p e lo D ire ito d o T ra b a lh o .

A n te s da a tu a l redação em p restad a ao a rt. 114, in c is o I, da C F /8 8 , a M P 2 .1 6 4 /0 1 a trib u iu com p e tê n c ia à Justiç a d o T ra b a lh o para as lid e s entre u m a espécie de a vu ls o , o tra b a lh a d o r p o rtu á rio , e os operad ores p o rtu á rio s o u o Ó rg ão G e s to r de M ão -d e -O b ra (O G M O ).

E n te n d o que, e m face do n o v o te x to c o n stitu c io n a l, cabe à Justiça do T ra b a lh o s o lu c io n a r to d o s os d issíd io s p o r d ire ito s e ob rigações da re lação de tra b a lh o do a vu ls o , a saber: a ) entre o a vu ls o e o to m a d o r dos serviç o s; b ) entre o a vu ls o e o s in d ic a to (q u e lh e coord ena e d irig e as a tiv id a d e s) o u o O G M O ; c) entre o s in d ic a to e o to m a d o r dos serviços.

1.3.2 C o n tra to p essoal de a tivid a d e

Ig u a lm e n te p o d e re c a ir n a ó rb ita da Justiça d o T ra b a lh o o la b o r p restad o

“ sem su b o rd in a ç ã o ” , o b je to de u m a re la ç ã o de tra b a lh o em sen tid o a m p lo , q u e r h a ja sid o fo rm a liz a d a , q u e r não. É o tra b a lh o a u tô n o m o o u p o r c onta p ró p ria .

M u ito s c o n tra to s de a tiv id a d e , m e d ia n te os q uais se e x te rio riz a o tra b a lh o h u m a n o a u tô n o m o o u p o r conta p ró p ria , p od e m p ro vo c a r o surg im e n to de lid e a fe ta à c o m p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o .

A a lu d id a com p etência, to d a v ia , a m e u ju íz o , não enlaça to d o c o n tra to de a tivid a d e : re sp e ita som ente à lid e d e riva n te da prestação p e sso a l de serviç o a o u tre m .

P o r quê? P o rq u e a tô n ic a da c o m p etência traçada n o n o v o art. 114, in c is o I, em m e u entender, há de g uard ar u m a certa s im e tria ou p a ra le lism o com a c om p etência

4 6 R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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p a ra os d issíd io s em ergentes de re la çã o de em p reg o. É a s im ilitu d e de condições s o c io e c o n ô m ic a s e n tre a fig u ra do e m p reg ad o e a d o a u tô n o m o que d ita essa co m p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o . A m b o s tê m em c o m u m a circunstância de s u b s is tire m da “ a lie n a ç ã o ” p essoal da fo rç a de tra b a lh o a o u tre m . T a l traço de id e n tid a d e e n tre o em preg ad o e o a u tô n o m o é que ju s tific a subm eterem -se am bos a u m a ju ris d iç ã o que é “ do T ra b a lh o ” , a e xe m p lo d o que já sucede há décadas c o m o p eq ueno e m p re ite iro o p e rá rio o u a rtífic e (C L T , art. 6 5 2 , a, II I) . Esse, parece-m e, o e sp írito da n o rm a c o n s titu c io n a l e m fo c o .

D a í se segue, p o r e xe m p lo , que u m c o n tra to de em p re ita d a entre pessoas ju ríd ic a s , o u m e d ia n te o q u a l u m a pessoa ju ríd ic a ob rig a -se ju n to a u m a pessoa fís ic a a e xe c u ta r d ete rm in a d a o b ra, sob c e rto p reço, transcende da com p etência da Justiça d o T ra b a lh o , p o r n ã o se tra ta r de se rviç o avençado e p restad o d iretam ente p o r pessoa físic a . D ig a -s e o m e sm o de u m litíg io que a flo re em u m c o n tra to de p restação de se rviç o s e n tre u m p la n o de saúde e o c lie n te , ou e n tre u m banco n a q ua lid a d e de p re stad o r de serviç o s e pessoa fís ic a (p o r e xe m p lo , ao receber trib u to s m e sm o de n ã o c lie n te ).

Se, e n tre ta n to , a lid e d e riva de la b o r p e ss o a l, em b ora a u tô n o m o , inscreve-se na com p e tê n c ia m a te ria l da Justiça do T ra b a lh o , ante a in a fa s tá v e l in c id ê n c ia do a rt. 114, in c is o I, da C F /8 8 . É o que pod e suceder em n u m e ro so s c o n tra to s firm a d o s p o r p essoa fís ic a , ta is c o m o os de p re sta ç ã o de s e rv iç o s , de c o rre ta g e m , de rep resentação c o m e rc ia l (d e n o m in a d o de c o n tra to de agência e d is trib u iç ã o n o C ó d ig o C iv il de 2 0 0 2 ), o u nos c o n tra to s celeb rad os e n tre o c o rre to r de seguros e o re sp e c tivo to m a d o r de serviç o s, o u entre o tra n sp o rta d o r ro d o v iá rio a u tô n o m o e a em presa de tra n sp o rte ro d o v iá rio de bens o u o u s u á rio desses serviç o s, o u e n tre o e m p re ite iro pessoa fís ic a e o d o n o da ob ra, nos c o n tra to s de pequena em p reitad a, o u e n tre o p a rc e iro o u o a rre n d a tá rio ru ra l e o p ro p rie tá rio , o u entre co o p e ra tiva s de tra b a lh o e seus associados, o u e n tre c o o p e ra tiva s de tra b a lh o o u seus associados e os to m a d o re s de serviços.

P o r c o n s e g u in te , a títu lo ilu s tr a tiv o , p ro fis s io n a is lib e ra is (m é d ic o s , advog ad os, o d o n tó lo g o s , e c onom istas, a rq u ite to s, en g e n h eiro s, e n tre ta n to s o u tro s ) p o d e m ag ora d em and ar e ser dem andados, nesta q ua lid a d e ju ríd ic a , na Justiça do T ra b a lh o .

D esse m o d o , v a lo riz a -s e e m od er n iza-se a Justiça do T ra b a lh o , b em assim re tira -s e o m á x im o p ro v e ito s o c ia l de sua fo rm id á v e l e stru tu ra . A fo ra isso, sup era- se a arraig ad a e superada concepção de c o n s titu ir a Justiç a do T ra b a lh o m era m e n te u m a Justiç a do em prego.

Q uestão re le va n te que se põe a q u i consiste e m a v e rig u a r se ta l com p e tê n c ia alcançaria ta m b é m a re lação c o n tra tu a l de consum o, reg ulad a p e lo C ó d ig o de D e fe sa do C o n s u m id o r (L e i n ° 8 .0 7 8 /9 0 ).

Sabe-se que a re la çã o c o n tra tu a l de c o n su m o p o d e te r p o r o b je to a prestação p essoal de serviços e, assim , ta m b é m c o n s titu ir re lação de tra b a lh o em s entid o a m p lo (a rt. 3 o, § 2 o do C D C ). A p restação de serviç o a d vo c a tíc io , a p restação de se rviç o

R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 4 7

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m é d ic o para u m a c iru rg ia estética o u re p a ra tó ria , o se rviç o de c o nserto o u a ssistência té c n ic a , e n tre in fin d á v e is de o u tro s e xe m p lo s, c a ra c te riza m re la çã o de c o n su m o .

H á rela çã o de c o n su m o desde que presente u m a re la çã o ju ríd ic a e m c u jo s p ó lo s e stejam as fig u ra s d o c o n su m id o r-fo rn e c e d o r, te n d o p o r o b je to u m p ro d u to o u u m se rviç o .

O art. 2 ° do C D C re p u ta “ c o n su m id o r to d a pessoa fís ic a o u ju ríd ic a que a d q u ire o u u tiliz a p ro d u to o u s e rv iç o c o m o d e s tin a tá rio fin a l .

É c o n su m id o r, p o rta n to , a q uele que “ c o n tra ta a p restação de se rviç o s, c o m o d e stin a tá rio fin a l, p ressup ond o-se que, assim , age c o m v ista s ao a te n d im e n to de u m a necessidade p ró p ria , e n ã o p a ra o d e se n v o lvim e n to de u m a o u tra a tiv id a d e n e g o c ia i” .4

Sucede, n o e n ta n to , que se p od e v is u a liz a r a re la çã o c o n tra tu a l de c o n su m o n ã o apenas sob o â n g u lo do c o n s u m id o r/d e s tin a tá rio do s e rviç o , m as ta m b é m sob o p ris m a da v irtu a l p e sso a fís ic a p re s ta d o ra (fo rn e c e d o r) d o s e rv iç o .

C uid a-se, a m e u ju íz o , de u m a rela çã o ju ríd ic a de n a tureza b ifro n te: d o â n g u lo do c o n su m id o r/d e s tin a tá rio d o s e rv iç o , re la çã o de co n su m o , re g id a e p ro te g id a p e lo C D C ; d o â n g u lo do p re sta d o r d o s e rv iç o (fo rn e c e d o r), re g ulad a pelas n o rm a s g erais de D ire ito C iv il.

E v id e n te m e n te que nessa re la ç ã o c o n tra tu a l ta n to pode s u rg ir lesão a d ire ito s u b je tiv o do p re s ta d o r d o s e rv iç o (fo rn e c e d o r) q uanto do c o n su m id o r/d e s tin a tá rio d o serviç o .

E n te n d o que a lid e p ro p ria m e n te da re la çã o de c o n su m o e n tre o c o n su m id o r, nesta cond ição, e o re sp e c tivo p re s ta d o r d o s e rv iç o , v isa n d o à a p lic a ç ã o d o C ó d ig o de D e fe s a do C o n s u m id o r, escapam à com p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o , p o is aí n ã o a flo ra d isp uta em anada de re la ç ã o de tra b a lh o . É lid e c u jo o b je to é a defesa de d ire ito s d o cidadão na cond ição de c o n su m id o r de u m serviç o e, não, c o m o p re s ta d o r de u m se rviç o . A fo ra isso, e m g e ra l, a re lação de con su m o tra d u z u m a ob rig a ç ão c o n tra tu a l de re su lta d o , em que o que m enos im p o rta é o tra b a lh o e m si.

E n tre ta n to , sob o e n fo q u e d o p re stad o r d o se rviç o (fo rn e c e d o r), é fo rç o so c o n v ir que firm a e le u m a re la çã o ju ríd ic a de tra b a lh o c om o c o n su m id o r/d e s tin a tá rio do se rviç o : u m se o b rig a a d e se n v o lve r d eterm inad a a tivid a d e o u se rviç o e m p ro v e ito d o o u tro m e d ia n te o p a g a m e n to de d e te rm in a d a re trib u iç ã o , o u p reço.

Se, p o is, a re la çã o c o n tra tu a l de c o nsum o p o d e te r p o r o b je to a p restação de se rviç o s e, assim , c a ra c te riza r ta m b é m , in e q u ivo c a m e n te , u m a re la ç ã o de tra b a lh o e m se n tid o a m p lo , a fig u ra -se -m e in a fa s tá v e l o re c o n h e c im e n to da c o m p e tê n c ia m a te ria l da Justiça d o T ra b a lh o p ara a lid e que daí e m e rg ir, se e e n q u a n to n ã o se tra ta r de lid e e n vo lv e n d o a a p lic a ç ã o d o C ó d ig o de D e fe sa d o C o n s u m id o r.

V a le d ize r: se não se c u id a de litíg io que surge p ro p ria m e n te da re la ç ã o de c o n su m o , m as da re la çã o de tra b a lh o que n e la se c o n té m , re g ulad a p e lo D ire ito

4 FILOMENO, José Geraldo Brito et al. C ó d ig o b r a s ile ir o d e d e fe s a d o c o n s u m id o r . Comentado pelos autores do anteprojeto. 5. ed., p. 25.

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C iv il, n ã o a tin o p ara a razão de descartar-se a com p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o . É o que se dá, p o r e xe m p lo , na dem anda da pessoa fís ic a prestad ora de serviç o s em fa v o r de o u tre m p elos h o n o rá rio s o u p reço dos se rviç o s contratados.

E is p o r que re a firm o que a c irc u n stâ n c ia de h a ve r sub jacente à lid e u m a re la ç ã o c o n tra tu a l de consum o n ã o obsta a que p ro fis s io n a is lib e ra is e a u tô n o m o s e m g e ral d o rava n te dem andem , nesta q u a lid a d e ju ríd ic a , na Justiça do T ra b a lh o , u m a v e z que o façam c om o sujeito s de u m a re lação ju ríd ic a que tam b ém é de tra b a lh o e a lid e n ã o seja concernente a d ire ito s do c o n su m id o r.

1.3.3 S e rv id o r p ú b lic o

O te x to p ro m u lg a d o e p u b lic a d o da E C 4 5 /0 4 c o n fe riu com p etência m a te ria l à Justiça d o T ra b a lh o para os d issíd io s d ecorrentes de “ re lação de tra b a lh o ” em g e ra l, in c lu s iv e c o m ente p ú b lic o (a rt. 114, in c is o I).

É c e rto que a redação a p rova d a n o S enad o F e d e ra l e xc e p c io n o u de ta l c o m p e tê n c ia “ os se rvid o re s ocupantes de cargos c ria d os p o r le i, de p ro v im e n to e fe tiv o o u em com issão, in c lu íd a s as a u ta rq u ia s e fund ações p ú b lic a s dos re fe rid o s entes da fed eração” . A exceção em te la , p o ré m , p o rq ue re su ltan te do acatam ento de em end a de m é rito in tro d u z id a n o S enad o, v o lto u à ap reciação da C â m a ra dos D e p uta d o s. E xa ta m e n te p o r isso, do te x to p ro m u lg a d o n ã o consta a a lu d id a exceção.

P re lim in a rm e n te , d e vo re a lç a r que n ã o d iv is o , ao c o n trá rio de a lg u n s, in c o n s titu c io n a lid a d e fo rm a l na n o rm a c o n s titu c io n a l p ro m u lg a d a (a rt. 114, in c is o I). A tod a e vid ên c ia , não se p od eria p ro m u lg a r a redação in te g ra l aprovada n o Senado p o rq u e n ã o ap rova d a na C âm ara a e xc lu sã o da c o m p etência da Justiça do T ra b a lh o para os e sta tu tá rio s. P ro m u lg o u -s e e p u b lic o u -se e strita m e n te a redação ta l c o m o ap rovad a nas duas Casas do C ongresso N a c io n a l: com p etência para as lid e s o riu nd a s de “ re la ç ã o de tra b a lh o ” e m g eral. E n ã o h a v e ria ó b ic e à p ro m u lg a ç ão p a rc ia l, p o rq u a n to n ã o se a lte ro u n o Senado F e d e ra l o te o r da p rop osição ju ríd ic a c o n tid a na p rim e ira p arte do in c is o I do art. 114.

M a lg ra d o a im ensa c iz â n ia que já se detecta, n o p a rtic u la r, c o n ve n c i-m e de q ue a redação em p restada a o a rt. 114, in c is o I, p ela E C 45 m u d o u ra d ic a lm e n te a c o m p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o para o s e rv id o r p ú b lic o , que até então estava c irc u n s c rita ao s e rv id o r p ú b lic o c e le tista .

P enso que a alusão a d issíd io s d ecorrentes de “ rela çã o de tra b a lh o ” c o m ente p ú b lic o é in d ic a tiv a de que se tra n s fe rira m para a ó rb ita da Justiça do T ra b a lh o tod os os d issíd ios de s e rv id o r p ú b lic o , q ualq uer que seja o re g im e ju ríd ic o : “ ce le tista ” o u e sta tu tá rio . A m eu ju íz o , abarca d ita co m p e tê n c ia , in c lu s iv e , a lid e e n tre ente p ú b lic o e s e rv id o r c o n tra ta d o p o r te m p o d e te rm in a d o , sob a égide do art. 3 7 , in c is o I X , da C F /8 8 , “ para atend er a necessidade te m p o rá ria de e xc e p c io n a l interesse p ú b lic o ” .

E m p rim e iro lug ar, em fa v o r dessa exegese m ilita a in te rp re ta ç ã o h is tó ric a . C o m o v is to , ao lo n g o da tra m ita çã o da P E C n o C ongresso N a c io n a l, fo ra m re je ita d a s

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 4 9

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as em endas apresentadas p ara s u b s titu ir a lo cução “ re lação de tra b a lh o ” p o r re la çã o de em p reg o. L o g o , já p ela exegese h is tó ric a da n o rm a c o n s titu c io n a l, vê-se que c o n s titu i u m le d o eng ano id e n tific a r-s e “ re la çã o de tra b a lh o ” c o m “ re la ç ã o de e m p re g o ” .

E m segundo lug ar, insta te r presente o evid ente alcance c o n c e itu a i m a is a m p lo e ab rang ente da lo c u ç ã o “ re la ç ã o de tra b a lh o ” . Q uisesse o C o ng re sso N a c io n a l m a n te r a c o m p etência m a te ria l da Justiça do T ra b a lh o v in c u la d a aos d issíd io s e n tre

“ tra b a lh a d o re s e em p reg ad ores” , te ria re p e tid o o te x to c o n stitu c io n a l a n te rio r.

O ra , in c o n te ste que e n tre o s e rv id o r e a A d m in is tra ç ã o P ú b lic a fo rm a -s e u m a re la çã o de tra b a lh o em sen tid o a m p lo , em b ora de natu re za ju ríd ic a b e m d is tin ta da c o n tra tu a l-tra b a lh ista .

T a n to isso é e xa to que a lo c u ç ã o “ rela çã o de tra b a lh o ” com p reend e ta m b é m a re la ç ã o ju ríd ic a e sta tu tá ria d o s e rv id o r c o m a A d m in is tra ç ã o P ú b lic a que, para a fa sta r a com p e tê n c ia da Justiça do T ra b a lh o p ara as lid e s daí d ecorrentes, o Senado F e d e ra l n e c e ss ito u a p ro v a r u m a exceção e xp ressa a ta l re g ra , p re c isa m e n te a p ro p o siç ã o ju ríd ic a da p arte fin a l do in c is o I, o ra sub m etid a à apreciação da C â m a ra dos D e p utad os. V a le d iz e r: se a lo cução “ rela çã o de tra b a lh o ” , p o rq ue g u a rd aria id e n tid a d e c o m a “ re la ç ã o de e m p re g o ” , já p re e x c lu is se a c o m p etência p ara as lid e s dos se rvid o re s e sta tu tá rio s, então seria to ta lm e n te ociosa, desp iciend a a exceção in tro d u z id a n o S enado, exa ta m e n te para d e c la ra r que escapam à Justiça do T ra b a lh o os se rv id o re s e sta tu tário s.

Sucede, to d a v ia , que recente lim in a r do M in . N é ls o n J o b im ( A D In 3 3 9 5 -6 ), à testa d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l, ab raçou e n te n d im e n to d ia m e tra lm e n te op o sto . N o a fã de c o n fe rir in te rp re ta ç ã o c o n fo rm e a C o n s titu iç ã o F e d e ra l, suspendeu, a d re fe re n d u m do P le n o , “ tod a e q u a lq u e r in te rp re ta ç ã o dada ao in c is o I do a rt. 114 da C F ” , na redação dada p ela E C 4 5 /0 4 , que in c lu a , na com p etência da Justiç a do T ra b a lh o , a “ (...) apreciação (...) de causas que (...) sejam instaurad as e n tre o P o d e r P ú b lic o e seus se rvid o re s, a ele v in c u la d o s p o r típ ic a re lação de o rd e m e sta tu tá ria o u de ca rá te r ju ríd ic o -a d m in is tra tiv o ” .

A insp ira ç ã o fo i a m e m o rá v e l decisão p ro fe rid a p e lo S T F na A D I 4 9 2 -1 , m e d ia n te a q u a l o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l d e c la ro u a in c o n s titu c io n a lid a d e m a te ria l d o art. 2 4 0 , e, da L e i n ° 8 .1 1 2 /9 0 ; já com etera ta l c o m p etência m a te ria l o u tro ra à Justiça do T ra b a lh o .5

D a ta m a x im a v e n ia , p arece-m e que as razões básicas que d ita ra m a a lu d id a d eclaração de in c o n stitu c io n a lid a d e m a te ria l fla g ra n te m e n te não m a is sub sistem .

C o m e fe ito : a) o te x to a tu a l do art. 114, in c is o I, não m a is alud e a d issíd io e n tre “ tra b a lh a d o r” e em p re g a d or para que se possa c in g ir aos d issíd ios da re la çã o de em p re g o a com p e tê n c ia m a te ria l da J T ; b) tam p o u c o consta a rep resentação c la s s is ta da e s tru tu ra da J u s tiç a d o T ra b a lh o , e n tã o in v o c a d a c o m o ó b ic e ao re c o n h e c im e n to da a c e n a d a c o m p e tê n c ia ; c ) a d e m a is , d e c la ro u -s e e n tã o a

5 ADI 492-1/DF, Rel. Min. Carlos M. Velloso, DJU 12.03.1993.

5 0 R e v T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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in c o n stitu c io n a lid a d e ta m b é m à lu z de u m a n o rm a c o n s titu c io n a l h o je in e x is te n te (a rt. 3 9 ), que p re v ira re g im e ju ríd ic o ú n ic o dos se rvid o re s p ú b lic o s; d ) p o r fim , in sista-se e m a ssin a la r que, se a lo c u ç ã o “ re la ç ã o de tra b a lh o ” n ã o com p reendesse ta m b é m a re la çã o ju ríd ic a e sta tu tá ria d o s e rv id o r c o m a A d m in is tra ç ã o P ú b lic a , n ã o fa ria s e n tid o o Senado Fed e ra l a p ro va r u m a exceção expressa a ta l reg ra, exa ta m e n te com a fin a lid a d e de descartar a com p etência da Justiça d o T ra b a lh o para o e sta tu tário .

D e o u tra parte, sustento que há p ond eráveis razões em p ro l d o re co n h e c im e n to da c o m p e tê n c ia da Justiça d o T ra b a lh o ta m b é m p ara as lid e s d o s e rv id o r p ú b lic o e sta tu tá rio .

É fo rç o s o c o n v ir que n ã o se a fig u ra ra z o á v e l a sistem á tic a de c in d ir-s e a c o m p e tê n c ia consoante o re g im e ju ríd ic o . R e c o rd e -se que, n o caso d o s e rv id o r p ú b lic o fe d e ra l, p o r e xe m p lo , a lim ita ç ã o da c o m p e tê n c ia da Justiç a d o T ra b a lh o até 1 1 .1 2 .1 9 9 0 ( L e i n ° 8 .1 1 2 , de 1 0 .1 2 .1 9 9 0 ) le v a o s e rv id o r, m u ita s veze s, a dem and ar sucessivam ente n a Justiça d o T ra b a lh o e n a Justiça F e d e ra l p o r u m m e sm o d ire ito , o que p od e g erar, in c lu s iv e , decisões c o n flita n te s.

A lé m d isso, essa d u a lid a d e de c o m p e tê n c ia gera u m q u a d ro p e rve rso p ara o s e rv id o r e u m p riv ilé g io in ju s tific á v e l à A d m in is tra ç ã o P ú b lic a .

P o r q u ê ? P o rq u e e n se ja à A d m in is tra ç ã o P ú b lic a , a o s a b o r d e suas conveniências, eleger o segm ento do P o d e r J u d ic iá rio com p etente, m e d ia n te m udança d o re g im e ju ríd ic o do s e rvid o r, de m a n e ira que so b e ja m m o tiv o s p ara se c o n fia r à Justiça do T ra b a lh o a solução d o litíg io e n tre o s e rv id o r p ú b lic o e s ta tu tá rio e a A d m in is tra ç ã o P ú b lic a .

N a tu ra lm e n te , o v irtu a l reco n h e c im e n to de ta l com p etência e x ig iria da Justiça do T ra b a lh o o eq u a c io n am en to da lid e sob e n fo q u e to ta lm e n te d is tin to d o que o fa z na com p o siç ã o das lid e s em anadas das relações tip ic a m e n te tra b a lh is ta s, o u seja, e strita m e n te à lu z do D ire ito P ú b lic o , o que, em d e rra d e ira a n á lise , d e m a n d a ria u m a p ro fu n d a re c ic la g e m té c n ic o -ju ríd ic a dos m a g istra d o s do tra b a lh o .

D e to d o m o d o , a d outa lim ita r em fo c o , u m a v e z que se cing e a d e c id ir e p ro c la m a r, e m conclusão, u n ic a m e n te a in c o m p e tê n c ia da J T p ara as lid e s dos se rvid o re s e sta tu tá rio s, não afasta, a m eu ju íz o , ao m enos até s o b re v ir d ecisão d e fin itiv a da A D I, a in te rp re ta ç ã o bem m a is a m p la e ab rang ente da lo c u ç ã o “ re la çã o de tra b a lh o ” c o m p re en siva de tod os os c o n tra to s de p re s ta ç ã o p e s s o a l de a tiv id a d e , ta l c o m o ora d efend o. Im p o rta d ize r: a lim in a r n ã o a u to riz a , d a ta v e n ia , p e rsis tir-se c ifra n d o a com p etência d itad a p e lo art. 114, in c is o I, da C F /8 8 , às lid e s o riu n d a s da relação de em prego.

1 .4 F u n d a m e n to s p a ra a a m p lia ç ã o d a c o m p e tê n c ia d a J u s tiç a d o T ra b a lh o p a ra a lid e de re la ç ã o de tra b a lh o

O b serva-se n o D ire ito C o m p a ra d o u m a tend ência abrang ente e e xp a n sio n ista da concepção de c o n flito tra b a lh ista , c o m n a tu ra l rep ercussão na c o m p e tê n c ia da Justiça d o T ra b a lh o que, p o r isso m e sm o , e xp e rim e n ta crescente a m p lia ç ã o , em m a io r o u em m e n o r m ed id a, a q u i e acolá, de m o d o a ro m p e r a id e n tific a ç ã o e xc lu s iva

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l . 7 1 , n º1, j a n / a b r 2 0 0 5 5 1

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e a b so lu ta desse seg m ento d o P o d e r J u d ic iá rio c o m a lid e e n tre em p re g a d o e e m p reg ad or.6

N o B ra s il, a a lu d id a tend ência já se detectara da com paração do art. 142 da C o n s titu iç ã o F e d e ra l de 1969 c o m a redação o rig in á ria do art. 114 da C o n s titu iç ã o F e d e ra l de 1988. A E C 4 5 /0 4 , ao im p le m e n ta r n o v a a m p lia ç ã o da com p e tê n c ia da Justiça d o T ra b a lh o , re a firm a essa tend ência.

É im p e ra tiv o recon h e c e r que a g lo b a liza ç ã o da e c o n o m ia c a p ita lis ta e os avanços te c n o ló g ic o s, c o m o conseqüente e d ra m á tic o aum e n to d o d esem p rego, tê m c o n trib u íd o para e x ib ir u m p a n o ra m a e xub erantem ente d iv e rs ific a d o das fo rm a s de prestação de tra b a lh o . D im in u i o em p reg o fo rm a l em todos os quadrantes e cresce o tra b a lh o in fo rm a l, assim c o m o crescem ta m b é m fo rm a s a lte rn a tiv a s de prestação de tra b a lh o p o r conta p ró p ria , em cond ições m u ita s vezes até bastante assem elhadas a u m c o n tra to de em prego.

A re alid a d e in d is fa rç á v e l é que m ilh õ e s de b ra s ile iro s h o je p re stam s e rviç o s a o u tre m c o m o a u tô n o m o s, fe n ô m e n o que parece te n d e r a acentuar-se ta m b é m em face de p o lític a s econôm icas n e o lib e ra is que v ê m fu stig a n d o e am eaçando a p ró p ria s o b re v ivê n c ia do D ire ito d o T ra b a lh o .

N ã o se pode esquecer ig u a lm e n te que esta é u m a R e p ú b lic a que te m e n tre seus fu n d a m e n to s o v a lo r s o c ia l d o tra b a lh o (C F /8 8 , a rt. 1o, I V ) . S e g u n d o a C o n s titu iç ã o F e d e ra l, a o rd e m e c o n ô m ic a é fund ad a na v a lo riz a ç ã o do tra b a lh o h u m a n o , e a o rd e m so c ia l te m c o m o base o p rim a d o d o tra b a lh o (arts. 170 e 193).

Se a ssim é, transparece m u ito m a is consentâneo c o m esse p rin c íp io e c o m as e xig ên c ia s da cid ad ania a trib u ir-s e à Justiça d o T ra b a lh o todas as causas d e riva n te s de tra b a lh o pessoal p restad o em fa v o r de o u tre m .

P o r quê? P orq ue c om p a rativa m en te m a is célere, d esb urocratizad a e acessível, e m c o te jo c o m a Justiç a co m u m .

É in e g á ve l que, em c o n fro n to c o m o processo c iv il, o processo p erante a Justiç a do T ra b a lh o , apesar de to d o s os pesares, aind a o u to rg a tu te la ju ris d ic io n a l re la tiv a m e n te com m a io r p resteza e e fic iê n c ia , p o is é m arcad o pela in fo rm a lid a d e e acentuada o ralid a d e , in c lu s iv e p ela irre c o rrib ilid a d e das decisões in te rlo c u tó ria s . A disp ensa de ad vog ad o e a g ra tu id a d e dos atos p rocessuais em g e ra l ta m b é m o d is tin g u e m do processo c iv il.

6 Em Portugal, por exemplo, vinca-se a competência material dos tribunais do trabalho lusitanos a conhecer dos seguintes conflitos individuais jurídicos (“questões”), entre outros (Lei n° 38, de 23.12.1987, art. 64): a) “emergentes de relações de trabalho subordinado e das relações estabelecidas com vistas à celebração de contrato de trabalho” ; b) “emergentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais”. Na Espanha, a competência material dos órgãos da Ordem Social atinge (os arts. 1°

e 2o da Lei de Procedimento Laboral de 1990): a) dissídios entre empregado e empregador como conseqüência do contrato de emprego, incluídos pactos acessórios e preliminares deste (pré-contra­ to de trabalho); b) lides referentes à Seguridade Social, inclusive de proteção por desemprego.

5 2 R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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É in e g á ve l ig u a lm e n te a m a io r s e n s ib ilid a d e e e sp ecialização d o J u iz do T ra b a lh o para d ir im ir c o n flito s re su ltan te s d o tra b a lh o h u m a n o pessoal p restad o a o u tre m . In q u e stio n á ve l que o J u iz do T ra b a lh o tra n sita c o m m u ito m a io r fa m ilia rid a d e nessa área.

P o r o u tro la d o , não se pode p e rd er de v is ta que, m u ita s vezes, a situação do tra b a lh a d o r a u tô n o m o , d o p o n to de v ista s o c ia l e e c o n ô m ic o , equip ara-se à de u m v e rd a d e iro em pregado.

R e a lm e n te , há in ú m e ros contratos de a tivid a d e e m que a situação do p restad or de serviç o s o stenta características bastante s im ila re s à d o p eq ueno e m p re ite iro , c u jo d issíd io já era c o n fia d o à Justiça d o T ra b a lh o antes da E m e n d a C o n s titu c io n a l n° 45 (C L T , art. 6 5 2 , cr, III) .

São casos de pessoas que, e m b ora n ã o o ste n te m te c n ic a m e n te a q ualid ad e de em pregadas, ta m b é m d ep endem d o p ró p rio tra b a lh o p o r conta p ró p ria para s o b re v iv e r e estão v in c u la d a s a u m a re lação de tra b a lh o .

F re q ü e n te m e n te , in c lu s iv e , a p re sta ç ã o de tra b a lh o s itu a -s e e m z o n a fro n te iriç a ao c o n tra to de em p reg o p ro p ria m e n te d ito .

É o que sucede, c o m o sabem os, nos c o n tra to s de rep resentação c o m e rc ia l, de p a rce ria a g ríc o la o u de p a rce ria p ecuária, n o c o n tra to de prestação de se rviç o (m é d ic o , ou advogado, p .e x.), n o c o n tra to de sociedade, nas coo p e ra tiva s de tra b a lh o etc.

T ra ta -se de casos, c o m u n íssim o s n o fo ro , de tra b a lh a d o re s situad os n u m a zon a c in ze n ta , em que o sup osto em p reg ad o re c la m a n te , se não o b tiv e r ê x ito na p retensão de re c o n h e c im e n to de v ín c u lo e m p re g a tíc io , vê-se na c o n tin g ê n c ia , após anos de espera, de in g re ssa r com o u tra ação, na ju s tiç a estad ual, para d em and ar p o r d ire ito s da q ualid ad e de a u tô n o m o .

O ra , isso n ã o fa z m u ito se n tid o se se pensar e m e c o n o m ia e e m celerid ad e p rocessual e, sob re tu d o , n o interesse d o ju ris d ic io n a d o e da sociedade e m alcançar u m a p ro n ta resp osta p ara o c o n flito .

Parece m u ito m a is ra z o á v e l e consentâneo c o m a ra p id e z, e xig id a n a s oluç ã o do litíg io , que se c o n c e ntre a com p e tê n c ia apenas n u m ú n ic o seg m ento d o P o d e r J u d ic iá rio , q u e r p ara a dem anda na q ualid ad e de a u tô n o m o , q u e r p ara a dem anda na q u a lid a d e de em p reg ad o, até p o rq u e, in s is to , fre q ü e n te m e n te há d ú vid a fundada q u a n to à n a tu re za da re la çã o ju ríd ic a que v in c u la os litig a n te s.

A s s im , d o rava n te , e m casos que ta is, bastará que o re clam an te fo rm u le u m p e d id o p rin c ip a l, c o m sup orte n o v ín c u lo e m p re g a tíc io , e u m p e d id o sucessivo, c o m sup o rte em o u tro c o n tra to de a tivid a d e , p ara que a Justiça d o T ra b a lh o , de to d o m o d o , eq uacione o litíg io .

N a tu ra lm e n te , o re c o n h e c im e n to da c o m p e tê n c ia m a te ria l da Ju stiç a do T ra b a lh o para ju lg a r o p e d id o sucessivo, fo rm u la d o na q u a lid a d e de tra b a lh a d o r a u tô n o m o , d e riva de ig u a l co m p e tê n c ia para o p e d id o p rin c ip a l, que tam b ém poderá ser d e d u zid o nessa q ualid ad e.

R e v . T S T , B r a s ília , v o l. 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 5 3

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P o r d e rra d e iro , h a v ia u m a ju s tific a tiv a p o lític a , sum am ente re le va n te , em fa v o r da a m p lia ç ã o da c o m p e tê n c ia da J u stiç a d o T ra b a lh o : a necessid ad e de fo rta le c im e n to p o lític o da in s titu iç ã o , de uns tem p os a esta parte c o m b a lid a p e la p ro p o sta de e xtin ç ã o . E esse fo rta le c im e n to se a lc a n ç o u alargando-se os d o m ín io s da Justiç a do T ra b a lh o p ara o d is síd io in d iv id u a l. N a tu ra lm e n te , c o m p e tê n c ia é poder.

B e m se com preende tam b é m a am p lia ç ã o dos d o m ín io s da Justiça do T ra b a lh o q uand o se atende para o fa to de que ta l p ro v id ê n c ia , n o fu n d o , apenas c o n tra b a la n ça a re la tiv a perda de com petência n o rm a tiv a dos T rib u n a is do T ra b a lh o e que, in c lu s iv e , tend e a ser e xtin ta .

N ã o ig n o ro alg um as ob jeções sérias levantad as a p ro p ó sito .

A rg u m e n ta -se , p o r e xe m p lo , que u m a d ila ta ç ão desse p o rte na c o m p e tê n c ia m a te ria l da Justiça d o T ra b a lh o c o m p ro m e te ria sua especialização.

E stá c la ro que, c o m o tod os sabem os, e m suas o rig e ns, a Justiça d o T ra b a lh o c o n s titu iu e c o n s titu i u m a ju ris d iç ã o esp ecial, d estinad a a s o lu c io n a r u m c o n flito esp ecial, m e d ia n te a ap licação de u m d ire ito m a te ria l e de u m d ire ito p rocessual (d o T ra b a lh o ) ig u a lm e n te especiais.

E v id e n te m e n te que essa é, sem p re fo i e sem pre será a m issão p o r e xc e lê n c ia da Ju stiç a do T ra b a lh o .

T o d a v ia , a Ju stiç a d o T ra b a lh o , c o m o tu d o n a v id a , p re cisa va e v o lu ir e a c o m p a n h ar o d in a m is m o da sociedade, sob pena de soç o b ra r ante os n o vo s ve n to s de m o d e rn id a d e.

A d e m a is , a esp ecialização n a tu ra l n o c o n flito o riu n d o da re lação de e m p re g o n ã o é e n u n c a fo i in c o m p a tív e l c o m u m a c o m p e tê n c ia p a ra le la p ara as lid e s d ecorrentes de re la çã o de tra b a lh o .

C o n fo rm e e sc re vi a lh u re s, o que q u a lific a de especial u m a ju ris d iç ã o é o c o n c u rso s im u ltâ n e o de d o is e le m e n to s c o n te m p la d o s e m le i:

a ) u m a especialização da fu n ç ã o ju ris d ic io n a l, com etendo-a esp ecificam ente, o u p re cip u am en te , à re so lu ç ã o de lid e s de u m a d ete rm in a d a n a tu re za ; is to é, c o n flito s de interesses sub jacentes a d ete rm in a d a re lação ju ríd ic a ; b ) a e xistê n c ia de u m c o rp o de J u íz e s que, c o m p o n d o um a o rg an iza ç ã o

a d m in is tra tiv a p ró p ria e à m a rg e m do q u a d ro da m a g istra tu ra o rd in á ria , e ste ja p e rm a n e n te m e n te in v e s tid o da c o g n iç ã o (re c tiu s: c o m p e tê n c ia m a te ria l) para c e rto g ru p o de c o n tro vé rsia s .

O ra , nad a d isso a Ju s tiç a d o T ra b a lh o p e rd e u n o que se lh e a m p lio u a c o m p e tê n c ia para as lid e s o riu n d a s de re la ç ã o de tra b a lh o .

Im p e n d e re a lç a r que o art. 8 o, p a rá g ra fo ú n ic o da C L T , sem pre p e rm itiu ao J u iz d o T ra b a lh o a in voc a ç ã o s u b sid iá ria d o d ire ito c o m u m para so lu c io n a r o litíg io tip ic a m e n te tra b a lh ista , o que d enota, c o m o assinala M ag a n o , o re p úd io do le g is la d o r

5 4 Rev. T S T B r a s ília , v o l. 71, n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5

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em c a va r u m fo sso is o la c io n is ta em to m o d o D ire ito d o T ra b a lh o ( M a n u a l de D ire ito do T ra b a lh o ).

N ã o se deve esquecer tam b ém de que o d is síd io do p eq ueno e m p re ite iro sem pre fo i ju lg a d o p e la Justiça do T ra b a lh o sob a ó tic a d o D ire ito C iv il (C L T , art.

6 5 2 , III) .

D o m e sm o m o d o , m e d ia n te ap licação do D ire ito C iv il, a Justiça d o T ra b a lh o já ju lg a v a , c o m fre q ü ê n c ia , sob o b enep lácito d o S u p re m o T rib u n a l F e d e ra l, d issíd io

entre em p reg ad o e em p re g a d or p o r d a n o m o ra l.

In c u rs õ e s n o D ire ito P re v id e n c iá rio , a J u s tiç a d o T ra b a lh o já se v ê na c o n tin g ê n c ia de p ro m o v e r, aq ui e acolá, aind a que in c id e n ta lm e n te , em v irtu d e da c o m p e tê n c ia c o n s titu c io n a l a tu a l para execução de c o n trib u iç õ e s p re vid e n c iá ria s d ecorrentes de d é b ito s tra b a lh ista s, o u de c lá u su la de a c o rd o o u convenção c o le tiv a de tra b a lh o .

N ã o c re io , a ssim , que m esm o essa e xp re ssiva a m p lia ç ã o de com p etência afete a esp e c ia liza ç ã o da Justiça do T ra b a lh o .

H a v e rá necessidade, sim , de u m a re c ic la g e m in te le c tu a l d o J u iz do T ra b a lh o . U m a p rim o ra m e n to té c n ic o -ju ríd ic o , m o rm e n te n o â m b ito do D ire ito C iv il, do D ire ito C o m e rc ia l e d o D ire ito A d m in is tra tiv o , m as não a p o n to de im p lic a r u m a perda na especialização da Justiça do T rab a lh o para o d issíd io d e riva n te da relação de em prego.

D e que n e c e ssita m os Juízes d o tra b a lh o , a p a rtir da E C 4 5 /0 4 , em m a io r o u e m m e n o r m e d id a , é sup erar o ve zo de p ro p e nd e r p ara id e n tific a r, a q u i e acolá, u m v ín c u lo e m p re g a tíc io , o u de s o lu c io n a r as lid e s apenas sob a ó tic a das n o rm a s e p rin c íp io s d o D ire ito do T ra b a lh o . Essa p o stu ra s im p lific a d o ra e re d u c io n is ta do c o m p le x o e v a s to fe n ô m e n o das re la ç õ e s ju ríd ic a s de tra b a lh o h a v e rá de ser sup lantad a, sob pena de a Justiça do T ra b a lh o d e sp re stig ia r-se e d e sm o ra liza r-se p e rante a sociedade.

É e xtre m e de d ú vid a s que a com p etência m a te ria l que se o u to rg o u à Justiça d o T ra b a lh o e x ig irá d ela que lance u m n o v o o lh a r sobre os litíg io s a que será cham ada a d irim ir, o lh a r m u ita s vezes b em d ive rso d aq uele m e d ia n te o q ual está hab itu a d a a c o m p o r os c o n flito s tra b a lh ista s tra d ic io n a is.

O u tra o b je ç ã o q ue te m s id o a p rese n ta d a s u s te n ta que a a m p lia ç ã o de c o m p e tê n c ia c o n g e stio n a ria aind a m a is a Justiç a d o T ra b a lh o , já a braços c o m d ific u ld a d e s para fa z e r fre n te às causas entre em p reg ad o e em pregador.

O a rg u m e n to im p re ssio n a , m as a m im não convence.

É c e rto que, antes da am p lia ç ã o de com p e tê n c ia e m apreço, já se d etectavam a lg uns p o n to s iso la d o s de e stran g u la m e n to na o u to rg a da prestação ju ris d ic io n a l tra b a lh is ta , so b re tu d o n o â m b ito do T rib u n a l S u p e rio r d o T ra b a lh o .

D o is aspectos, to d a v ia , são p ond eráveis:

1º) o T S T o b via m e n te não é a Justiça do T ra b a lh o , e a sua d elicad a situação, do p o n to de v is ta da d em ora n o ju lg a m e n to dos recursos, apesar de tod os

R e v . T S T , B r a s í l i a , v o l . 7 1 , n º 1, j a n / a b r 2 0 0 5 5 5

Referências

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