POTENCIAL PARA ÁREAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL NA MICRORREGIÃO DE CERES
Fernanda Bomfim Soares
1Ricardo dos Santos
2Maria Gonçalves da Silva Barbalho
3Josana de Castro Peixoto
4Antônio Cezar Leal
5R ESUMO :
A Unidade de Conservação (UC) é um instrumento de proteção dos recursos naturais que garante a biodiversidade e a manutenção dos biomas brasileiros. Algumas principais UCs brasileiras estão em Goiás, porém faltam planos de manejo e fiscalização que garantam a diversidade natural do Cerrado.
Assim, este trabalho, vinculado ao projeto do PROCAD/CAPES intitulado “Novas fronteiras no oeste: relação entre sociedade e natureza na Microrregião de Ceres em Goiás (1940 – 2013)”, tem como objetivo destacar a importância das UCs para o equilíbrio da biodiversidade no Cerrado, indicar Áreas Prioritárias e destacar potencialidades na Microrregião de Ceres. A região tem grande potencial ambiental relacionado à diversidade natural e geoestratégico devido sua conexão com outros biomas e regiões do país. Atualmente, áreas de vegetação do Cerrado, pastagens e o cultivo de grãos estão sendo substituídos pela cana de açúcar, gerando graves impactos ambientais e altos retornos econômicos aos municípios, mas não à população.
Palavras-Chave: Unidades de Conservação; Áreas de Proteção Ambiental; Cerrado; Microrregião de Ceres/GO.
1
Doutoranda em Geografia pela Universidade Estadual Paulista, FCT/UNESP, Brasil. Mestra em Geografia pela Universidade Estadual Paulista, FCT/UNESP, Brasil. fbs.geo@gmail.com
2
Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual Paulista, FCT/UNESP, Brasil. Mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista, FCT/UNESP, Brasil. ricasantos2000@gmail.com
3
Doutora em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás, UFG, Brasil. Docente na UniEvangélica Centro Universitário de Anápolis, Brasil. mariabarbalho2505@gmail.com
4
Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Goiás, UFG, Brasil. Docente na UniEvangélica Centro Universitário de Anápolis, Brasil. josana.peixoto@gmail.com
5
Doutor em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil. Docente na Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil. cezarunesp@gmail.com
uitos povos e civilizações reconheceram, ao longo da história da humanidade, a necessidade de proteger áreas naturais com características especiais, por motivos dos mais diversos, pois estas áreas podiam estar associadas a mitos, fatos históricos marcantes e à proteção de fontes de água, caça, plantas medicinais e outros recursos naturais (Brasil, 2016)
6.
O governo brasileiro tenta proteger as áreas naturais por meio de Unidades de Conservação (UCs), uma estratégia nem sempre eficaz para a manutenção dos recursos naturais, pois sem fiscalização e monitoramentos eficazes, apenas proteger essas áreas não garante a total conservação.
Para atingir o objetivo de proteção dos recursos naturais de forma efetiva e eficiente, foi instituído o Sistema Nacional de Conservação da Natureza (SNUC), com a promulgação da Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000.
Unidades de Conservação (UCs) é a denominação dada pelo SNUC às áreas naturais passíveis de proteção por suas características especiais, compreendidas por:
espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção da lei (Artigo 1º, inciso I).
No Brasil, este direito é garantido aos cidadãos pela Constituição Federal de 1988 no artigo 225, no qual afirma que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações." Entretanto, é preciso que haja instrumentos para que se possa materializar o direito garantido na Constituição.
Dessa necessidade surge a Lei Federal nº 9.985/2000 e o Decreto Federal nº 4.340/2002 que, respectivamente, cria e regula o SNUC, como instrumento para a proteção do Meio Ambiente, ressaltando a competência de preserva-lo em todas as esferas do Poder Público, a iniciativa privada e toda sociedade em geral.
As Unidades de Conservação da esfera Federal do governo são administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Nas esferas estadual e municipal são por meio dos Sistemas Estaduais e Municipais de Unidades de Conservação.
O SNUC agrupa as Unidades de Conservação em dois grupos principais, de acordo com seus objetivos de manejo e tipos de uso: Proteção Integral e Uso Sustentável.
As Unidades de Proteção Integral têm como principal objetivo preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, ou seja, aquele que não envolve consumo, coleta ou danos aos recursos naturais: recreação em contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa científica, educação e interpretação ambiental, entre outras. As categorias de proteção integral são: estação ecológica, reserva biológica, parque nacional, monumento natural e refúgio de vida silvestre.
As Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos, conciliando a presença humana nas áreas protegidas.
Nesse grupo, atividades que envolvem coleta e uso dos recursos naturais são permitidas, desde que praticadas de uma forma a manter constantes os recursos ambientais renováveis e processos ecológicos.
6
Brasil, Ministério do Meio Ambiente, 2016.
M
As categorias de uso sustentável são: Área de Relevante Interesse Ecológico (IE), Floresta Nacional (FN), Reserva de Fauna (RF), Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), Reserva Extrativista (RE), Área de Proteção Ambiental (APA) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
O SNUC também prevê doze categorias complementares, que estão expostas no Quadro a seguir, conforme estabelecido pelo ICMBio (2017)
7.
Quadro 1. Categorias do SNUC na República Federativa do Brasil.
Grupo Categoria SNUC Origem Descrição
Proteção integral
Estação Ecológica SEMA (1981)
De posse e domínio público, servem à preservação da natureza e à realização de pesquisas científicas.
A visitação pública é proibida, exceto com objetivo educacional. Pesquisas científicas dependem de autorização prévia do órgão responsável.
Reserva Biológica Lei de Proteção
à Fauna (1967)
Visam a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos.
Parque Nacional
Código Florestal
de 1934
Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Monumento Natural
SNUC (2000)
Objetivam a preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
Refúgio de vida
silvestre SNUC (2000)
Sua finalidade é a proteção de ambientes naturais que asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.
Área de Relevante Interesse Ecológico
SEMA (1984)
Geralmente de pequena extensão, são áreas com pouca ou nenhuma ocupação humana, exibindo características naturais extraordinárias ou que abrigam exemplares raros da biota regional, tendo como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá- lo com os objetivos de conservação da natureza.
7
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Sistema Nacional de Unidade de Conservação - SNUC, 2017.
Uso sustentável
Reserva Particular do Patrimônio
Natural
MMA (1996)
De posse privada, gravada com perpetuidade, objetivando conservar a diversidade biológica.
Área de Proteção Ambiental
SEMA (1981)
São áreas geralmente extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Floresta Nacional Código Florestal
de 1934
É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.
Reserva de Desenvolvimento
Sustentável
SNUC (2000)
São áreas naturais que abrigam populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações, adaptados às condições ecológicas locais, que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.
Reserva de Fauna
Lei de Proteção
à Fauna (1967)
É uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico- científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos.
Reserva
Extrativista SNUC (2000)
Utilizadas por populações locais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, áreas dessa categoria tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.
As Unidades de Conservação asseguram às populações tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais de forma racional e ainda propiciam às comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis. Segundo a legislação vigente, a partir da Lei Federal nº 9.985/2000 e o Decreto Federal nº 4.340/2002, as UCs são criadas por meio de ato do Poder Público (Poder Executivo e Poder Legislativo) após a realização de estudos técnicos da importância ecológica dos espaços propostos e, quando necessário, consulta à população.
No Estado de Goiás, essa regulamentação foi instituída pela Lei Estadual nº 12.247/2002 e
pelo Decreto Estadual nº 5.806/2003, criando o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC), no qual se entende por Unidade de Conservação o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituída pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, à qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Atualmente, a Lei Estadual nº 18.104/2013 dispõe sobre a Política Florestal do Estado de Goiás, normatizando as áreas de conservação e prioriza os corretos usos do solo e dos recursos hídricos.
As Unidades de Conservação do SEUC se dividem em Proteção Integral e Uso Sustentável. O grupo das unidades de proteção integral é composto pelas seguintes categorias de Unidades de Conservação:
I – Estação Ecológica - EE;
II – Parque Estadual - PE;
III – Monumento Natural - MN;
IV – Refúgio de Vida Silvestre - RVS.
Constituem o grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de Unidades de Conservação:
I – Área de Proteção Ambiental – APA;
II – Reserva de Desenvolvimento Sustentável – RDS;
III – Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN;
IV – Área de Relevante Interesse Ecológico – ARIE;
V – Floresta Estadual – FE.
Assim, de acordo com o Sistema Estadual de Unidades de Conservação, o Estado de Goiás tem as seguintes UCs:
I – Grupo de Proteção Integral:
1. Parque Estadual de Paraúna – Paraúna;
2. Parque Estadual do Araguaia - São Miguel do Araguaia;
3. Parque Estadual da Serra Dourada - Mossâmedes, Goiás e Buriti de Goiás;
4. Parque Ecológico da Serra de Jaraguá – Jaraguá;
5. Parque Estadual Telma Ortegal - Abadia de Goiás;
6. Parque Estadual de Terra Ronca - São Domingos e Guarani de Goiás;
7.Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco – Goiânia, Goianápolis, Teresópolis e Nerópolis;
8. Parque Estadual da Serra de Caldas Novas - Caldas Novas e Rio Quente;
9. Parque Estadual dos Pirineus – Pirenópolis, Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás.
II – Grupo de Uso Sustentável:
1. Área de Proteção Ambiental do Encantado – Baliza;
2. Floresta Estadual do Araguaia - São Miguel do Araguaia;
3. Área de Proteção Ambiental João Leite - Goiânia, Terezópolis de Goiás, Goianápolis, Nerópolis, Anápolis, Campo Limpo e Ouro Verde de Goiás;
4. Área de Proteção Ambiental Serra das Galés e da Portaria – Paraúna;
5. Área de Proteção Ambiental Pouso Alto - Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Nova Roma, Teresina de Goiás e São João D’Aliança;
6. Área de Relevante Interesse Ecológico Águas de São João - Cidade de Goiás (Distrito de São João);
7. Área de Proteção Ambiental da Serra Dourada - Cidade de Goiás e Mossâmedes;
8. Área de Proteção Ambiental da Serra dos Pireneus - Pirenópolis, Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás;
9. Área de Proteção Ambiental da Serra Geral de Goiás - São Domingos e Guarani de Goiás;
10. Área de Proteção Ambiental Serra da Jibóia - Palmeiras de Goiás e Nazário.
De acordo com o ICMBio (2017)
8, a utilização de UCs como instrumento de política ambiental no Estado de Goiás, sendo elas de proteção integral ou uso sustentável, iniciou-se no ano de 1959, com a criação pelo Governo Federal, do Parque Nacional do Araguaia, hoje situado no Estado do Tocantins. Atualmente, o Estado de Goiás possui dois parques nacionais administrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); seis Parques Estaduais, quatro Áreas de Proteção Ambiental, uma Área de Relevante Interesse Ecológico, administrada pelo Estado (SEMARH e Agência Ambiental de Goiás); oito Unidades de Conservação municipais, além de
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