• Nenhum resultado encontrado

A IDADE DOS GRANITOS PORTUGUESES POR

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A IDADE DOS GRANITOS PORTUGUESES POR"

Copied!
21
0
0

Texto

(1)

A IDADE DOS GRANITOS PORTUGUESES

POR

J. M. COTELO NEIVA

ASBISTENTE DO LABORATÓRIO MINERALÓGICOli) GEOLÓGICO DA FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PÔRTO

BOLSEIRO DO INSTITUTO PARA A ALTA CULTURA

Tanto em trabalhos de petrógraíos e de geólogos portu- gueses, como em estudos geológicos espanhóis, se nota o desejo de determinar a idade de diversos afloramentos graníticos ibéricos.

Macpherson, Carlos Ribeiro, Sousa Brandão, Pereira Ca- bral, San Miguel' de la Câmara, Mallada, Barrois, Shultz, Schiappa Azevedo, Fleury, Ferraz de Carvalho, Carríngton da Costa, Freire de Andrade, Carmo Vianna, Bernardo Ferreira, Amilcar de Jesus, Rosas da Silva, Parga-Pondal, Zbyszewski, Orlando Ribeiro, Carlos Teixeira e tantos outros focaram, ao de leve ou mais profundamente. o problema da idade de alguns granitos peninsulares. Destacam-se os trabalhos dos Profs.

Parga-Pondal e Rosas da Silva.

O Prof. Parga-Pondal (1) dividiu, quanto à sua idade. os granitos galegos em três grupos, que caracterizou do seguinte modo: granitos arcaicos - de textura gneissica, com os íeldspa- tos extremamente caulinizados e com moscovite e rara ou nenhuma biotite; granitos hurónicos - de textura granosa, com os feldspatos muito alterados, com idênticas percentagens de biotite e de moscovite; e granitos hercínicos - de textura porfi- róide, biotiticos, com grandes fenocristais de feldspatos frescos,

bem conservados. .

(1) IsiDRO P ARGA-PONDAL -

Ensayo de classijicación cronológica de los granitos gallegos - Anais da Faculdade de Ciências do Pôrto,tômo XX,

1935. .

(2)

o Prof. Rosas da Silva seriou os diferentes tipos de grani- tos portugueses conforme lias condições em que se apresentam os seus afloramentos" ('l): Os granitos com mica branca pre- dominante, bastante caulinizados, serão' os mais antigos, seguín- do-se-Ihes os granitos porfiróides com mica negra predominante e finalmente os nódulos ou veios de elementos ferro-magnesianos.

Admite, como ante-hercínicos, os granitos possuindo micas branca e negra em proporções idênticas ou quási semelhantes, e, como hercínícos, os granitos porfiróides com biotite.

Na generalidade os tentames de classificação cronológica dos granitos portugueses e espanhóis baseiam-se, como acontece nas classificações a que me acabo de referir, no grau de alte- ração, especialmente na caulinização, dos afloramentos, e nos contactos perfeitos, nftidos, que os diversos tipos graníticos podem mostrar entre si. .

Sendo até agora os únicos critérios possíveis para a classi- ficação cronológica dos granitos, consideramos precárias as suas bases, porque nem tõdas as formações granfticas estão expostas de modo idêntico às acções erosivas, tanto físicas como químicas, como também algumas alterações dêste último tipo podem ser devidas a fenómenos pneumatolfticos e hidrotermais que, por vezes, dão origem também a decomposições hidrolíticas, origi- nárias de substâncias coloidais, como sílica, hidratos férricos e alumfnicos e gels siliciosos. .

No entanto, não se pode deixar de reputar êsses tentames para a determinação da idade dos granitos peninsulares, como sendo os melhores até agora realizados.

Novo tentam e, bem modesto, procuramos levar a efeito, baseando-nos em dados da nossa geologia e da petro-química dos granitos portugueses.

Para êsse estudo devemos deter presente que na crusta as intrusões acídicas, no geral de modo de jazida abissal, tendo como tipo principal o batolftico, estão directamente relaciona- das com os períodos de mais intensa acção diastrófica (8).

(2) DOMINGOS

J.

ROSAS DA SILVA~

Granitos do Põrto

~

Põrto, 1936.

(9) REGINALD ALDWORTH

DALY-Igneous Roeks anâ their Origin-

New-York, 1914.

(3)

51 Está na sua generalidade comprovado (4) que foi imedia- tamente após ter. sido atingido, num movimento .orogéníco, o período de mais forte compressão, formativo de intenso dobra- mento, que ocorreram abundantes intrusões granfticas.

Partindo dêstes princípios e de dados da nossa geologia e petrologia tratemos do problema da idade dos granitos portu- gueses.

*

* *

A possibilidade da existência em Portugal de uma intrusão granítica ante-câmbrica não pode ser posta de parte.

Embora alguns geólogos duvidem da existência dos movi- mentos ante-câmbricos e outros não os considerem devido à sua difícil sincronização universal, ou não os julguem tão evidentes como os da escola de Macpherson, a sua existência para Por- tugal é incontestável.

A prová-lo temos as formações câmbricas, acadianas segundo o Prof. Fleury, possivelmente georgianas segundo o Prof. Carríngton da Costa, que assentam discordantemente sôbre o Agnotozóico (5).

Nas formações xistosas agnotozõicas notam-se as raízes de fortes enrugamentos, orientados na direcção NE. - 50., segundo Macpherson (6), trabalhados até o último grau de gliptogénese, Orientações aproximadas, E. NE.-O. 50., encon- tram-se em certos gneisses e xistos do Minho, de Trás-os-Montes, da Serra de Ouadarrama e nos Farilhões, direcção que deveria ter sido, possivelmente, a orientação do enrugamento.

A importância dos enrugamentos hur6nicos deve ser maior, talvez, do que a que habitualmente se admite, embora no nosso País seja relativamente fraca, sea compararmos à importância

(4)

G. F.

LOUGHLlN -

Comments on the origin anã maior strutural control 01 igneous rocks

anã

related mineral âeposits-« Economic Geology, vol. XXXVI, November, 1941, n.O 7.

(5)

J.

CARRfNGTON SIMÕES DA COSTA -

O Paleozóico Português (slntese

e critica) - Põrto, 1931.

(6) J. MACPHERsoN-Ensayo de Historia Evolutiva de la Peninsula

Ibérica - An. Soe. Esp, Hist, Natural, tômo XVIII, 1901.

(4)

geomorfológica dos movimentos hurónicos no Norte da Europa e da América.

Não obstante a erosão haver aplanado os testemunhos daqueles movimentos paroxismais, que, possivelmente, em algu- mas regiões foram grandiosos, e houvessem deixado somente pálidas impressões das raízes dos seus enrugamentos, não se pode deixar de reconhecer que devem ter desempenhado papel relevante nas acções diastróficas que afectaram a Península Ibérica.

Tais acções diastróficas permitem, talvez, a possibilidade de uma intrusão granítica, desde o momento que consideremos os movimentos ante-câmbricos como fautores de fortes e inten- sos enrugamentos.

l Será possível encontrarmos testemunhos garantidos como tal, verdadeiros granitos ante-câmbricos?

lNão teriam as intrusões graníticas ulteriores digerido aquêles, ou o metamorfismo, regional, principalmente, não os teriam modificado profundamente?

Nery Delgado (1) admite a existência de breves retalhos graníticos arcaicos no Minho e na Galiza e Freire de Andrade (S) presume serem da mesma idade os granitos das Berlengas e Estelas. Os granitos que Parga-Pondal admite como arcaicos é natural que o não sejam, bem como os que Nery Delgado e . Freire de Andrade consideram como tal. Nada pode garantir que sejam daquela idade.

O seu estudo petrológico é possível que traga elementos para se lhes poder atribuir um grupo geoquírnico distinto do de todos os outros granitos do nosso País; não obstante, supo- mos que isso não sucederá.

/ O granito gneissico de Água-Levada e o gneisse de Mundão, respectivamente estudados pelos Profs. Amílcar de Jesus

(~)

e

(7) J. F. NERY DELGADO-

Contributções para o estudo dos terrenos paleozóicos - Com. da Com. do Servo Geol, de Portugal, tômo VI, Lisboa, 1904-1907.

(8) CARLOS FREIRE DE ANDRADE -

Os vales submarinos portugueses-

Lisboa, 1937. .

(9) AMILCAR DE JESUS -

Pegmatites mangano-liüniferas da região de

Mangualde - Com. dos Servo Geol. de Portugal, tômo XIX, Lisboa, 1933.

(5)

,Duparc P"], devem corresponder ao resultado da digestão de mícaxístos pelo magma granítico do tipo magmático engadinítico de Niggli, segundo determinámos (11), magma êsse que adiante, como veremos, consideramos como antracolítico. O Professor Amílcar de Jesus reconheceu a passagem lateral e gradual do granito gneissico de Água-Levada ao granito porfiróide (9).

Se é discutível a idade dos granitos-gneissicos de Parga- -Pondal, muito mais discutível é considerar hurónicos os granitos de textura granosa, com feldspatos muito alterados, com idên- ticas percentagens de biotite e de moscovite, não só pela falência do critério de tempo de alteração, mas também devido a razões de natureza geoquímica que conferem àquêles granitos o mesmo grupo que o dos granitos das Beiras e Norte de Por- tugal e cuja intrusão consideramos, como veremos, realizada no Pérrnico.

Não' quer isto dizer que ponhamos em dúvida a existência de granitos ante-câmbricos, pois sem terem existido não se poderia explicar a presença de ortogneisses intercalados no complexo cristalino agnotozóico, nem as arcoses que aparecem no Silúríco, nem a existência de nódulos grano-gneissícos intercalados em xistos ordovicianos de Lagares-do-Estanho.

O que duvidamos é que hoje se possam encontrar rochas eruptivas graníticas em Portugal que sejam garantidamente

ante-câmbricas.

l Teriam os movimentos sárdicos atingido o nosso País ? Supomos bem que sim. É possível, até, que se tivesse dado uma regressão no Câmbrico superior.

l Haveria probabilidades de qualquer intrusão granítica?

Cremos bem que não'. Nem os dados directos que se podem colher no terreno nos levam a admiti-la, nem a compara- ção com .o que aconteceu em outros países, onde tais movi- mentos reconhecidamente se fizeram sentir, nos permitem uma

( 10)

L.

DUPARC -

Über, die Wolfram-und Uran-Brzlagersiãiietz von Vizeu in Portugal - Tschermaks Miner. und Petr, Mitt., B. 38, 1925.

(11) J.

M.

COTELO NEIVA - Jazigos portugueses de eassiterite e vdframu«

(em publicação).

(6)

resposta afirmativa a tal interrogação, pois, na generalidade, só aparecem extrusões magmáticas de natureza básica.

Fleury diz-nos que os movimentos caledõnicos foram muito fracos (12) e Medeiros-Gouvêa fala-nos de pequenas rugas caledónicas, formadas a Norte do maciço arcaico-eruptivo de Évora por um movimento de translação de conjunto dos conti- nentes Norte-Atlântico e de Gondwana, separados então pelo mar de Tetis (l3).

Provàvelmente os movimentos tacónicos não tiveram acção intensa, porquanto desconhecem-se discordâncias entre

Q

Silúrico inferior e superior e somente se notam alternâncias de sedimen- tação, diferenças de nível do mar, especialmente no Ordoviciano.

Os movimentos caledónicos propriamente ditos, com as fasesardénica e éríca atingiram o nosso território, em pontos localizados, e originaram unicamente movimentos epirogénicos.

O desconhecimento do Devónico médio em Portugal, a existência do Devónico superior só para Sul do maciço azóíco- -eruptivo de Évora e

conhecimento do Devónico inferior unicamente para Norte daquela região, indica-nos, que, pelo menos, no Alentejo central, fortes acções tectónicas se deveriam ter sentido no Meso-Devónico. Foi no Devónico médio que emergiu uma parte do Maciço Hespérico.

lEstarão relacionados com os movimentos caledónicos propriamente ditos ou com os movimentos que se deram no Devõníco médio algumas intrusões graníticas portuguesas?

O Prof. Rosas da Silva diz-nos, nos« Granitos do Põrto» (I), que os granitos em que as duas micas entram aproximada- mente nas mesmas proporções, e com os feldspatos bastante caulinizados, ser possivel que sejam ante-hercínícos. l Podere- mos considerá-los como caledónicos? Supomos bem que não.

Antes os consideramos como sendo antracoliticos, como pro- curaremos demonstrar, pois aquêles granitos, como todos os granitos estudados sob o ponto de vista petro-químlco pelo

(12) ERNEsr FLEURY -

Les plissements hercyniens en Portugal- Com. dos Servo Geol, de Portugal, tômo XIII, 1922.

''lO\' A ,..", r"_ ••••A . A,-~__< U _ T .:...'L... 102Q

(7)

55

Prof. Rosas da Silva (II), caem no mesmo tipo magmático que a maioria dos granitos portugueses do centro e Norte do País, até agora estudados, e no mesmo grupo geoquírnico que todos êles formam.

Admitimos que os movimentos caledónicos não foram de tal envergadura que, pela sua tectónica, pelo menos nas Beiras e Norte de Portugal, nos possam permitir pensar em intrusões graníticas com êles relacionados.

A maioria dos petrógrafos e geólogos portugueses e espa- nhóis admitem uma intrusão granítica hercínica caracterizada pela formação de granitos porfiróides biotíticos.

Admitimos, como veremos, que os granitos hercínicos não são só os daquele tipo.

J:. Carlos Teixeira (l'),.após os Profs. Fleury PS), Carríngton da Costa

(~)

e Medeiros-Oouvêa (lS), que nos dá em síntese uma nova interpretação dos movimentos hercínicos em Portugal, que está de acôrdo com a estratigrafia do Antracolítico português.

Sendo quási nulos em Portugal os movimentos das fases bretã e sudética e sem influência visível os da fase final dos movimentos hercínicos - fase palatina - , são importantes os das fases astúrica e saálica.

Baseando-nos na intensidade das fases dos movimentos hercínicos, seria para admitir, relacionada com a fase astúrica, uma intrusão granítica. Na realidade os movimentos astúricos foram deveras importantes, verdadeiramente paroxismais para o nosso País, especialmente na parte Sul do Alentejo e no Algarve.

É possível que tivessem atingido formações westfalianas (West- faliano D) de Moinho-da-Ordem, onde as últimas emissões porfiriticas com êles devem estar relacionadas, e permitiram a emersão do bloco Sul da Meseta, onde o Carbónico marinho aflora.

Não encontrámos no centro e Norte do nosso Pais quais- quer elementos que comprovem uma intrusão granítica relacio- nada com os movimentos da fase astúrica.

(14) CARLGS TEIXEIRA -

Os movimentos hercinicos na tectónica portu-

guesa - BoI. da Soe. GeoI. de Portugal, vol, I, fase. II, Pôrto, 1942.

(8)

zse ela se tivesse efectuado, não se deveriam encontrar calhaus dêsse granito nos conglomerados estefanianos da faixa carbonifera que se estende desde próximo de Ermezinde até o distrito de Viseu, e nos conglomerados autunianos do Buçaco?

Ora, tal não acontece, como averiguámos pelo estudo a que procedemos daqueles conglomerados. '

As lacunas existentes entre o Estefaniano médio e o Autu- uiano inferior (Rothliegende inferior), o não aparecimento em sucessão regular daquelas assentadas e as suas situações pró- ximas, mas em bacias diferentes (o Estefaniano na mancha carbonifera do Douro - Beira-Alta e o Autuniano Inferior no Buçaco), atribue-as. Carlos Teixeira (14) a movimentos sin- crónicas com os que se deram, nessa altura, na América e no Maciço Central.

Sendo a mancha estefaniana, que se estende desde os arre- dores do Pôrto até às proximidades de Queiriga( Viseu), cortada na região de Castro-Daire, por um afloramento granítico que a . metamortíza, Carlos Teixeira, baseando-se naqueles últimos movimentos considerados, põe a hipótese de que os granitos desta mancha podem ser ante-pérmicos (l4.).

Não somos da opinião de Carlos Teixeira quanto à idade dos granitos de Castro-Daire e, portanto, dos granitos das Beiras e do Norte de Portugal, com que aquêles estão directamente relacionados, pois os movimentos com que o mesmo geólogo os relaciona somente tiveram uma importância restrita e local.

Na Peninsulalbérica reconhece-se na generalidade uma sucessão e concordância regular entre o Estefaniano e o Pérmíco inferior (14), o que não permite antever a possibilidade tectónica de uma intrusão granítica daquela idade.

O magma granítico que fêz a sua intrusão na região das Beiras e Norte de Portugal tem caracteristicas magmáticas semelhantes às dos granitos que se introduziram em certas regiões da Espanha, da França e da Orã-Bretanha, e portanto não podemos relacionar a intrusão granítica com movimentos tectónicos de puro carácter local, mas, sim, com movimentos orogénicos, de intenso paroxismo, de grande envergádurae extensão, como foram os movimentos da fase saálíca.

Segundo o nosso modo de ver, que está em-paralelo com

(9)

57 o do Prof. Carríngton da Costa, a fase saãlíca, situada entre o Rothliegende inferior e o Rothlíegende superior, é uma das mais importantes, se não a mais importante, dos movimentos hercí- nicos, no que diz respeito ao nosso País. Dêste modo se explica a inexistência em Portugal do Antracolítico superior e o forte dobramento do Rothliegende inferior, que se encontra quãsí vertical no Buçaco.

Em diversos pontos daPenínsula Ibérica há discordância angular entre as formações perrno-triássicas (constituídas por assentadas do Pérmico superior e do Triãssico) e o Pérmico inferior. No Buçaco a discordância entre o Triássico e o Pér- mico inferior é absolutamente. nítida no caminho do Apiário Aurora. Em Santa-Cristina vê-se bem o Triássico quási hori- zontal, inclinando ligeiramente para 50., recobrir os estratos quási verticais do Pérmico, avançando pelas lombas e recuando no fundo dos vales.

Já anteriormente dissemos que não encontrámos calhaus de granito no conglomêrado autuniano do Buçaco.

Porém no Triãssico português, cuja continentalidade foi bem defendida por Carlos Teixeira e por Orlando Ribeiro (15), des- cobrimos calhaus de granito. No Triássico de Coimbra, em Santo-António-dos-Olivais, encontrámos calhaus de granito, bem como no Triássico do Buçaco, adiante de Pego, na vertente oposta à povoação e próximo do cemitério do Luso e também na estrada do -Luso à Mealhada, na curva do Carvoeiro. Aquêles calhaus de granito estão bastante alterados, mas no seu todo são semelhantes aos granitos da mancha das

Beiras. .

No Triássico do Buçaco, encontrámos como detritos, além de calhaus de granito, calhaus de xistos, de quartzite, de quartzo, de diábases, etc., e mesmo alguns .leitos de elementos detríticos que resultaram da alteração e erosão de formações pegmatíticas graníticas, especialmente cristais de feldspato, muito levemente rolados, e em que se vêem macIas de Carlsbad.

( 15) ORLANDO RIBEIRO

e

CARLOS TEIXEIRA -

Sur le caradêre eontinen- .talle du Trtas portugals - BoI. da Soe. Geol. de Portugal, 'VoL II, fase. I,

Pôrto, 1942. .

(10)

Estando as formações batolíticas relacionadas directamente com os períodos de mais activa acção diastr6fica orogéníca, de maior compressão, produtores de fortes, intensos enrugamentos, imediatamente a seguir aos quais se formam, e sendo a fase saálica, após a deposição do Estefaniano, a mais activa fase oro- génica hercínica no nosso País, l não será para admitir que o granito da mancha de Castro-Daire,' garantida mente post-este- faniano, directamente relacionado pelos seus prolongamentos com a grande mancha granítica das Beiras, esteja relacionado com aquela fase orogénica?

Assim o supomos e achamos que podemos generalizar essa idade, num senso lato, para a maioria, se não a totalidade, dos granitos que afloram nas Beiras e Norte de Portugal. Todos pertencem ao mesmo grupo geoquímico.

Mesmo os granitos doPôrto, que pelos seus afloramentos não estão directamente relacionados com os granitos das Beiras, são também, muito provãvelmente, post-estefanianos, pois metamorfizam profundamente a pequenina mancha carbonífera de São-Miguel-o-Anjo. Pelo seu quimismo estão. relacionados com os granitos das Beiras e do Minho.

É de notar que grande número dos afloramentos graní- ticos portugueses mostra a orientação característica da orogenia hercínica.

Não falamos até agora nos granitos. de-Sintra, por serem os de idade mais recente que afloram no nosso País.

O maciço eruptivo de Sintra, na sua maioria de natureza granítica, é incontestàvelmente post-cenomaníano..e, por idêntica garantia de considerações, ante-olígocénico. Atravessou e meta- morfizou o Cenomaniano (16), transgressivo, talassocrático, e nos conglomerados olígocénícos encontram-se já calhaus rolados de rochas eruptivas do batõlíto (1

7 ). .

(16) PAUL CHOFFAT

~Âge du granite de Sintra-

Com. da Com. dos Trab. GeoI. de Portugal, tômo I, Lisboa, 1883-1887.

(17)

ORLANDO RIBEIRo-Remarques

sur la morphologie de la région de Sintra et Cascais. -

Revue Géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest,

t,

XI, fase. 3-4, 1940. .

(11)

59

~

possível que aquêle batólito se tivesse formado no Cre- tácico superior, segundo opinião de Zbyszewski (l8). ~ natural que esteja relacionado com a fase larâmica dos movimentos alpídicos,

Não nos referimos às manchas eruptivas dos distritos de Évora e de Bela que na' Carta Geológica de Portugal- edição de 1899- estão indicadas como granitos, porque são, na sua generalidade, de natureza diorítica (devem predominar os tona- litos), como foi comprovado pelos estudos petrográficos de Sousa Brandão. ({g

e20).

São calhaus de rochas eruptivas daque- las manchas, e de outras, que encontrámos nos conglomerados westfalianos (Westfaliano O) de Santa-Susana (lU).

*

* *

É muito dificil de estabelecer a verdadeira idade dos gra- nitos portugueses.

Só um estudo' sistemático das manchas graníticas, isto é, . dos granitos e dos seus produtos de diferenciação, estudo êsse tanto minero-petrográfico como petroquímico e petrogenétíco, acompanhado do estudo dos fenómenos metasomãticos e meta- mórficos a que o magma granítico pode dar origem, seguido de um agrupamento consciente por parentesco magmático e loca- lizações geomorfológicas, baseàdo num conhecimento profundo

(18)

GEORGES ZBYSZEWSKI --

Obsetvaiions sur la structure et la mor- fologie du bas Alentejo et de l' Algarve - Lisboa, 1939.

(19)

V.

SOU!!A BRANDÃO~

Contrttnüções para a petrografia de Por- tugal: II Deseripção de uma 'colecçilo de rochas do distrito eruptivo de Évora - Com. da Com. do Servo Geol. de Portugal, têmo IX, Lisboa, 1912·13, págs. 33-57.

(20)

V.

SOUSA BRANDÃO -

Contribuições para a petrografia de Por- tugal: III Descripção de rochas eruptivas do Alentejo - Com. da Com. do Servo Geol, de Portugal, tômo IX, Lisboa, 1912-13, págs. 77-126.

(21)

J.

M. COTELO NEIVA - Os

conglomerados antracollticos

e

a idath de algumas formações eruptivas portuguesas - BoI. da Soe. Geol. de Portu-

d<i! vn!

TIL

fase.

L Põrto. 1943.

(12)

da estratigrafia e da tectónica Peninsulares, nos pode levar a boas conclusões.

No entanto,. o quimismo das nossas formações granfticas permite-nos desde já fazer um certo número de considerações,

e tirar várias conclusões. .

Têm-se dedicado ao estudo petro-químíco dos granitos portugueses os Profs .. Duparc (lO), Lacroix (lIJ), Amílcar de Jesus (8

e

II) e Rosas da Silva (I). O Eng. Humberto de Almeida (I') publicou recentemente a análise de um granito do Alto-Douro.

Última mente (Iii), para um trabalhoque muito em breve publi- caremos sôbre os jazigos portugueses de cassiterite e de volfra- mite (11), estudámos pormenorizadamente diversos tipos de granitos; é dêsse trabalho que transcrevemos as análises quími- cas que conseguimos num bosquejo bibliográfico dos autores citados, ou que realizámos no Laboratório Mineralógico e Geo- lógico da Faculdade de Ciências do Pôrto. Agrupamos essas análises em dois quadros (Quadros I e II).

Dessas análises calculámos os respectivos números de Niggli (Quadros I-A e II-A).

(22)

A.

LACROIx-Surquelques granites âes environs de Pbrto-Anais

da Faculdade de Ciências do Pôrto, tômo XVIII, Pôrto, 1933•

.(23)

AMÍLCAR DE JESUS - Uma albiiite da

região

de

Idanha-a-Nova -

Com. dos Servo GeoI. de Portugal, tômo XVII, 1931.

(24)

HUMBERTO DE ALMEIDA - Composição química de alguns vinhos do Pôrto relacionada com a

composição.

química das respectivas terras-

Pôrto, 1938.

(25) J. M.

COTELO NEIVA~ContTibui'çflopara o estudo dos granitos portugueses

(em publicação).

(13)

1 2 3 4 5 6 7 8

9

10 11 12 13 14 15 16 Si Oa . · 67,66 67,95 67,96 68,14 68,16 68,35 71,01 71,28 71,40 72,31 72,45 72,52 72,94 73,48 74,04 ·74,25 TiOa . 0,86 0,36 0,60 0,78 0,48 0,37 0,14 0,37 0,29 0,37 0,26 0,06 - 0,06 0,13 0,08

Os Ala . · 15,16 15,13 15,85 15,82 13,70 15,82 14,62 16,14 14,82 15,02 13,94 16,43 13,50 15,40 14,57 14,67 GsFea. 4,70 0,78 0,53 0,35 4,97 0.60

} 3,47 0,31 0,57 0,36 0,63 0,27 1,02 1,38 0,64 uze

OFe . · - 2,53 2,76 . 2,37 1,34 2,59 1,32 1,61 1,98 1,88 0,31 1,07 0,49 . 1,01 0,75

OMn. . - 0,01 0,02 0,08 - 0,02 - 0,05 0,01

Vestígios

0,03 0,09 0,05

VeslígioB

- 0,02

OCa. 0,67 2,04 1,82 2,80 1,69 1,73 0,35 1,24

1,~3

0,81 1,29 1,38 0,88 ·0,10 0,56 0;84 OMg. 0,49 '0,13 0,29 0,87 2,39 0,19 0,66 0,18 0,27 0,12 Q,OS 0,16 0,09 0,64 0,06 0,05 ONall . 3,26 2,13 3,21 3,92 2,10 3,70 2,49 3,52 2,86 3,14 3,29 5,48 2,73 1,98 3,01 3,89 OK

Il • •

· 4,28 7,64 5,33 3,59 4,63 5,88 5,44 ' 4,68 5,01 4,93 4,51 1,66 6,09 7,22 4,62 3,97

P a0

5 •

· - 0,27 0,44 0,20 - 0,39 - 0,18 0,31 0,36 0,22 0.35 0,56 - 0,48 0,32

OHa +· - 0,61 0,92 1,10 - 0,61 - 0,53 0,89 0,67 0,82 0,52 O,?2 - 1,11 0,68

O Hll-. · 0,25 0,29 0,40 0,05 - 0,18 - 0,15 0,25 0,24 0,34 0,11 0,26 - 0,33 0,21

Perda ao rubro. 2,48 - -

-

0,55 - 0,90 - - - -

,

- - 0,44 - -

F • -

-

- 0,22 - - - 0,31 0,19 - 0,12 0,24 0,17

-

- 0,10

BIOs·

-

- - - -

.

- - - - - - 0,51 - - - -

99,81 I 99,87 - - - -

101,19\100,56 100,13 100,29 100,01 100,43 99,08 100,26 100,01 100,31 99,83 100,09 100,08 100,09

1 - Granito do Alto-Douro. Análise de Humberto de Almeida. .

2 - Granito de Santo-André (Mangualde). Análise do Prof. Amílcar de Jesus.

3 - Granito de Lagares-do-Estanho (Queiriga - Viseu). Análise de J. Coteio Neiva.

4 - Granito de Gaia. Análise de Raoult.

5 - Granito de Viseu (média de seis análises). Análise do Prof. Dupare, 6 - Granito de Deíão (Viana-do-Castelo). Análise de J. Cotelo Neiva.

7 - Granito da Tapada-Negra. Análise do Prof, Dupare.

8 - Granito de Caminha. Análise de Raoult.

9·- Granito de Taboza(200m aS. - SOD.-E.mg, daquela povoaçào-Mangualde). Análise do Prof. Amílcar de Jesus.

10 - Granito das faldas da Serra de Arga, das proximidades de Dem (Viana-do-Castelo). Análise de J. Coteio Neiva.

11 - Granito de Arcanjo-do-Carmo (Mangualde). Análise do Prof. Amílcar de Jesus.

12 - Granito de Areosa (Pôr to). Análise de Raoult.

13 - Granito da Senhora-do-Castelo (Mangualde). Análise do Prof. Amílcar de Jesus.

14 - Granito de Felgueira. Análise do Prof. Dupare,

15 - Granito de Cabeço-Monteiro (Ldanha-a-Nova). Análise do Prof. Amílcar de Jesus.

16 - Granito de Cubos (Mangualde). Análise do Prof. Amílcar de Jesus.

(14)

5 1 06

,8

8 00 2

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

H

si . · · 340,8 326,5 326 314,7 293,5 319 384 379,5 385 402 408 395 424 404 448,7 442

aI • · • 45 42,7 44,8 42,9 34,6 43,4 46,4 50,5 46,9 49 45,9 52,6 46 49,8 52 51,

fm. • 21,2 13,8 15 15,2 36,2 13,7 19,8 8,9 12 12,3 12,2 4,2 10,4 13,5 8,7 5,

c • · 3,9 10,4 9,2 13;9 7,8 8,4 2,3 6,7 8,7 4,7 7,8 8,2 5,6 0,7 4 5

alk, · · • 29,9 33,1 31 28 21,4 34,5 31,S 33,9 32,4 34 . 34,1 35 38 36 35,3 37,

k • · · · 0,46 0,70 0,52 0,38 0,59 0,51 _ 0,59 0,47 0,53 0,51 0,48 0,17 0,60 0,71 0,51 O,

mg.

· · 0,17 0,06 0,13 0,27 0,43 0,10 0,28 0,18 0,19 0,08 0,03 0,31 0,07 0,39 0,08 0,

ti • · · 3,3 1,4 2,3 2,8 1,6 1,4 0,3 1,6 1,3 1,7 1,4 0,3 - 0,3 0,4 0,

p •

· - 0,6 0,9 0,3 - 0,8 - 0,3 0,6 1,0 0,3 1,0 1,4 - . 1,5 0,

c 0,19 0,75 0,61 0,91 0,22 0,61 0,12 0,75 0,73 0,38 0,64 1,95 0,54 0,05 0,46 0,

fm'

· ·

Ls. · · 0,62 0,67 0,66 0,63, 0,53 0,71 0,57 0,62 0,58 0,58 0,56 0,61 0,57 0,60 0,54 0,

Fs. · · 0,03 0,04 0,03 0,04 0,10 0,04 0,02 0,00 0,02 0,01 0,02 0,00 . 0,02 0,00 0,00 0,

Qs •

· · 0,35 0,29 0,31 0,33 0,37 0,25 0,41 0,38 0,40 0,41 0,42 0,39 0,41 0,40 0,46 0,

qz • • 121,2 94,1 102 102,7 107,4 81 158 143,9 155,4 166 171,6 155 172 160,3 207,5 190, 2 aIk

0,80 0,87 0,82 0,79 0,76 0,89 0,81 0,80 0,82 0,81 0,85 0,80 0,90 0,84 0,81 0,

aI+ aIk: • ·

(15)

QUADRO II

t 2

3 4 5 6

Si0

2 •

· · 70,92 68,72 69,18 68,54 69,11 70,96

Oa AI

2

15,77 16,64 17,68 16,01 16,95 16,62

OFe+OMg · 1,76 1,68 0,97 1,47 0,94 0,28

OCa. 1,31 2,03 2,36 1,96 1,53 1,46

/

OK

2 •

5,63 '4,44 5,44 4,97 6,80 5,46

ONa2' · 2,73 5,03 4,26 5,23 4,43 4,90

1 - Granito. da Boa-NJva (Matozinhos-Pôrto)

1

2 - Granito de Triana (Pôrto) . '

3 - Granito da Caverneira (Pôrto)

i

Análises do

4 - Granito de S. Gens (Pôrto) . Prof. Rosas da Silva 5 - Granito de Cutamas (Pôrto )

6 - Granito de Santo-Ovídio (Gaia - Pôrto) ,

QUADRO II-A

t

.... 2 3 4 5

6

si. 385 326 323 325,4 329 356

aI. · 50,S 46,4 48,7 44,7 47,7 49,1

fm · 8,1 6,8 3,9 6 3,7 1,2

c

v-.

7,5 10,3 12,1 10,3 7,7 8,1

alk · · 33,9 36,5 35,3 39 40,9 41,6

k • '. · 0,58 0,37 0,45 0,39 0,50 0,43

mg · - - - - - -

ti. · - - - - - -

p. - - - - - -

c 0,93 1,51 3,10 1,71 2,08 6,75

fm ·

Ls · 0,61 0,73 0,74 0,76 0,79 0,74

Fs. · · · 0,00 0,02 0,01 0,03 0,01 0,01

Qs · · · 0,39 0,25 0,25 0,21 0,20 0,25

qz · · · 149,4 80 81,8 69,4 65,1 89,6

2alk 0,80 0,88 0,84 0,93 0,92 0,91

aI + alk • ·

(16)

Examinando os quadros I-A e II-A, excluídos os granitos de Viseu e do Alto-Douro, por as suas análises terem incidido, respectivamente, sôbre má amostra e sôbre uma amostra reti- rada do contacto com xistos sericíticos, chegamos às seguintes conclusões:

1.0 Os granitos de Arcanjo-da-Carmo, Senhora-do-Castelo, Tapada-Negra, Caminha, Taboza, Santo-André, Lagares-do- -Estanho, Deião, Caverneira e das proximidades de Dem filiam-se no tipo magmático engadinitico de Niggli do magma granitico da série calco-alcalina.

2.° Não hesitamos em colocar os. granitos de Boa-Nova, Cutamas, Santo-Ovídio, São-Oens e Triana no mesmo tipo magmático, não obstante o valor de fm ser bastante baixo, o que lhes confere certas tendências ao magma aplito-granítico de Niggli, bem como o granito de Felgueira, cujo valor de c

é baixo de mais. Estas defiêiências são somente explicáveis por imperfeições analiticas ou de amostragem.

3.° O granito akerftico de Gaia filia-se no tipo magmá- tico yosemitico de Niggli, do magma granítico, e mostra absolutas afinidades com o tipo magmático engadinftico.

4.° O granito com moscovite e turmalina de Areosa podemos considerá-lo, pelo seu quimismo, como representando um têrmo de .passagem entre o. magma aplito-granitico e o magma engadinítico, mas com tendências a êste último..

5.° O granito de 'Cabeço-Monteiro, não obstante apre- sentar um valor alto de mais em al, o que não admira se nos lembrarmos que é uma fácies de diferenciação do magma granítico, filia-se no tipo magmático engadinitico de Niggli, com tendências ao aplito-grauítíco.

6.° Pertencem todos os granitos à série calco-alcalina, característica da Província Pacífica.

7.° A grande maioria dos granitos portugueses caem no mesmo tipo magmático, e os restantes em tipos magmáticos afins dêste.

8.° Pelo seu quimismo, os granitos portugueses formam

um grupo geoquímico característico e bem definido.

(17)

65

Fig, l-Projecção Ls-Fs-Qs dos granitos [portugueses (zona tracejada).

oq1

0,2 q8

0,4 0,6

0,6 0,4

0,8 0,2

f

1

ol

~ 1,2 0,2

Ir

\1,4 0,4

95\

5',6 0,6

\8 -0,8

o

2 ~

e2

-~

2,4 -1,4

~

-w

~

-w

3 ~

e o q2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

'j.,

1.6 1,82 2.2 2;f 2.6·2,8 3n

~ ,

,

Estas conclusões e o exame das projecções dos parâmetros de Nigglí, para cada rocha, no triângulo Ls-Ps-Qs (Fig. 1) permitem-nos reconhecer o carácter Pacífico dos granitos portu- gueses, admitir uma comunidade genética para os granitos das Beiras, do Douro e do Minho, até hoje estudados, e admitir um magma acídico fundamental de que derivaram todos os tipos de granitos projectados.

Nota-se certa dispersão na diferenciação, que pode ser explicada pela impossibilidade de existir uma perfeita e total homogeneidade no s.

processos de diferen- ciação magmática em tão extensa superfície, correspondente tam- bém, provàvelmente, a um grande reser- vatório magmático, havendo a possibili- dade de uma breve dispersão tem poral nos próprios tipos gra- níticos.

Reconhecemos que os granitos. pre- dominantes no Centro e no Norte de Portu- gal, que são, em pri-

meiro lugar, os granitos porfiróides biotíticos ou os porfiróides

de duas micas em que a biotite predomina (granitos analisados

de: Boa-Nova, Triana, Caverneira, Taboza, Gaia, Deião, Laga-

res-do-Estanho e Alto de Santo-André), e, em segundo lugar,

os granitos de grão médio de duas micas (granitos analisados

de: Caminha, faIdas da Serra de Arga - proximidades de

Dern, São-Oens, Cutamas, Santo-Ovídio, Senhora-do-Castelo,

Cabeço-Monteiro, Tapada-Negra, Felgueira e Arcanjo-do-

-Carmo), se filiam no tipo magmático engadinítico de Niggli,

do magma granítico, da grande famfIia de Províncias Pacíficas,

da série calco-alcalina.

(18)

Notam-se por estudos de campo, por exemplo, em Man- gualde e em São-Mamede-de-Ríba-Tua, e por estudos laborato-, riais (macro e microsc6picos), passagens laterais e graduais dos granitos porfir6ides biotítícos, ou dos porfir6ides de duas micas em que a biotite predomina, aos granitos de grão médio de duas micas, em que estas se encontram em proporções idênticas.

No campo reconhece-se, indo do granito de duas mieis para o granito porfir6ide biotítico, um aumento gradual de fenocristais de feldspato e de cristais de biotite em detrimento da moscovite..

Estudos microscópicos permitem reconhecer passagens graduais da textura holocristalina granosa à textura holocrista- lina porfiróíde, com gradual aumento de fenocristais de feldspato e de cristais de biotite e diminuição de moscovite. Essas passa- gens são naturalmente condicionadas pela evolução gradual, tanto espacial como temporal, dos factores termodinâmicos que presidiram à diferenciação e consolidação do magma granítico e à possível retusão, em certos casos, deformações preexis- tentes. Somos, portanto, levados a, concluir que os dois tipos de granitos, dominantes nas Beiras, no Minho e no Douro e em alguns retalhos de Trás-os-Montes, se formaram ao mesmo tempo e com a mesma origem magmática.

Noutras regiões, o que é vulgar, notam-se limites nítidos, contactos distintos, entre aquêles dois tipos de granitos.

A passagem gradual e lateral do granito' porfir6ide bío- títico ao granito de grão médio de duas micas explica-a o Prof. Amílcar de Jesus, para a região de Mangualde, admitindo a preexistência de um granito básico plagíoclãsico "não unifor- memente atingido pelos efeitos de intrusão de novos minerais, dando assim lugar à disseminação de manchas de composição um tanto variável" (II).

No entanto, os aspectos de passagem entre os granitos de

grão médio de duas micas e o granito porfir6ide biotítieo ou o

granito porfir6ide de duas mieas em que a biotite predomina,

bem como os contactos nítidos que possam existir entre aquêles

tipos de granitos, podem explicar-se, segundo supomos, sem

haver necessidade da existência de oualquer zraníto ou forma-

(19)

67 çlo metamórfica, 'Ou mesmo sedimentar, preexistente que tivesse sido digerida pelo magma. Vejamos como:

As formações graníticas portuguesas devem corresponder a batólitos, cujo processo de formação é devido à consolidação de possantfssimas massas magmáticas homogéneas. Essa con- solidação, muito lenta, foi acompanhada de esbôço de diferen- ciação.

. É a marcha da cristalização um dos factores primaciais a considerar nas relações genéticas das diversas rochas de um maciço eruptivo.

No caso das diferenças texturais e mineralógicas dos gra- nitos portugueses, atribuímos à pressão, principalmente. essa diferenciação. Mal a pressão começou a agir mais intensa e gradualmente num dos primeiros estádios da consolidação, dirigindo, como um dos factores primaciais, a evolução da cristalização, as fases de diferenciação, que, por imiscibilidade, se desenhavam no próprio. magma granítico, não se puderam individualizar, desaparecendo os limites distintos entre as diver- sas fases e por isso a consolidação veio-nos trazer transições graduais entre diversos tipos de granitos.

Noutras regiões, a perfeita distinção e contactos nítidos dos granitos porfiróides biotíticos, ou porfiróides de duas mieas em que a biotite fortemente predomina, e dos granitos de grão médio de duas mícas, podem explicar-se por uma mais intensa acção, brusca e local, da pressão, repercutida na imiscibilidade das fases de diferenciação.

*

* *

Do que ficou exposto diversas conclusões se podem tirar.

De entre elas fazemos ressaltar as seguintes:

Os granitos das manchas das. Beiras, do Douro e do Minho mostram-se intimamente relacionados, pertencem na sua grandemàioria ao mesmo tipo magmátieo e os restantes, bem poucos, a tipos afins. Mostram uma comunidade genética e devem ter derivado do mesmo magma.

A inexistência de calhaus de granito nos conglomera-

(20)

dos estefanianos, que dos arredores do Pôrto se estendem até próximo de Queiriga, e nos conglomerados autunianos (Rothliegende inferior) do Buçaco, a existência de calhaus rolados de granitos nos afloramentos tríãssicos de Coimbra e do Buçaco, a existência de, detritos de pegmatites graníticas no . Triássico desta última região, a metamorfização do Estefaniano médio pelos granitos, reconhecível na pequena mancha provà- velmente estefaniana de São-Miguel-o-Anjo, próximo do Pôrto, reconhecível na região do Gafanhão e também bem visível próximo das povoações de Nogueira e Cota, e o idêntico- quimismo dos variados tipos de granitos, são fortes argumentos para considerarmos os granitos das Beiras e do Norte de Por- tugal como post-estefanianos e ante-triâssicos.

Sendo a fase saálica, para nós, a mais importante dos movimentos hercínicos no nosso Pais, e sendo os granitos post-estefanianos e ante-triãssicos, é muitfssimo natural que os granitos do Centro e Norte de Portugal estejam relacionados com os movimentos daquela fase. Alguns lamprófiros, vários aplitos, numerosas' pegmatites -graníticas e inúmeros jazigos hidrotermais, profundamente mineralizados, estão directamente relacionados com aquêles granitos.

As manchas eruptivas do Alentejo, indicadas na Carta Geológica

~

edição de 1899- como granitos, são, na sua gene- ralidade ou maioria, de natureza diorítíca (tonalitos), como se pode concluir dos estudos petrográficos de Sousa Brandão.

As rochas dêstes aíloramentos são ante-westfalianas, pois calhaus daqueles afloramentos encontram-se nos conglomerados westfa- lianos (Westfaliano D) de Santa-Susana. Nestes conglomerados reconhecemos que não ocorrem calhaus de granito.

Temos de admitir a existência de uma intrusão granítica ante-hercínica, ou melhor, ante-estetaniana, devido à ocorrência de arcoses no Estefaniano da mancha carbonífera 'do Douro.

~ possível que essa intrusão esteja relacionada com os movi- mentos ante-câmbricos, o que além de explicar a existência daquelas arcoses, explicaria a existência das arcoses silúricas e dos ortogneisses considerados agnotozóicos. No entanto, des- conhecemos em Portugal rochas eruptivas que garantidamente

cpillm

lIntp-t"~mhrit"lIc_

(21)

69 Duvidamos de qualquer existência em Portugal de intru- sões graníticas relacionadas com os movimentos caled6nicos e com as fases bretã, sudética, e mesmo astúrica, dos movimentos hercínícos,

Os granitos de Sintra são post-cenomanianos e ante- -oligocénicos: possivelmente a sua intrusão é do topo do Cretácico, talvez relacionada com a fase larâmíca dos movi- mentos alpídicos,

Laboratório Mineralógico e Geológico

da Faculdade de Ciências.do Põrto, Maio de 1943.

Referências

Documentos relacionados

1 — Nos termos dos artigos 12.º, 13.º, 19.º, 20.º, 22.º e 31.º a 38.º do Estatuto dos Funcio- nários Parlamentares (EFP), aprovado pela Lei n.º 23/2011, de 20 de maio, e

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

By interpreting equations of Table 1, it is possible to see that the EM radiation process involves a periodic chain reaction where originally a time variant conduction

Em relação ao item “d”, a resposta esclarece que a ANTT não possui competência para aplicar multas com base na Lei nº 8.899/14 (diploma legal que “Concede passe livre às

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Perspectiva antropológica das danças tradicionais da Lousã-Beira Baixa : análise contextual, coreográfica e musical da Dança das Virgens, Dança dos Homens e Dança das Tesouras /