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Psicodrama infantil: estratégias e correlações no trabalho com a criança e a família

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ICODRAMA INFANTIL: ESTRATÉGIAS E CORRELAÇÓES

NO TRABALHO COM A CRIANÇA E A FAMíLIA

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Lilian Adeodato Carvalho *

Maria Natércia Linard Aquino Limaverde **

RESUMO

Este estudo procura analisar a atuação do psicoterapeuta infantil, defrnindo as especificidades do processo terapêutico desenvolvido com a criança, assim como os pais. Procura também mostrar ascorrelações e integraçOes entre estas duas vertentes, de forma a garantir com maior eficácia os objetivos da terapia da criança.

Esta análise se faz com base nas diversas modalidades de trabalho em psicodrama infantil (Ferrari (Rev. Febrap, ano 7, nO2)), Gonçalves, (1988), Turbiani e Senatro (1988) e outros, identificadas com a teoria moreniana e pelo uso do conceito de objeto intermediário de Bermúdez (1980, 1984) formulando estratégias terapêuticas alternativas emPONMLKJIHGFEDCBAf u n ç ã o de uma prática profissional aqui relatada e exemplificada pelo relato de dois casos em atendimento.

Nesse sentido, procura-se fazer uma reflexa o das dificuldades e alternativas do trabalho do psicodramatista infantil, em especial nas situaçOes em que os pais, por defesas particulares, n ã o conseguem se envolver e se identificar com a problemática do filho, excluindo-se asim do trabalho centrado no vinculo pais-criança tal como é proposto no processo terapêutico.

ABSTRACT

This study tries to analyse the acting of the infant psychotherapist devel-oped with the child, and also with the parents. It also tries to show the relationships and integrations between these two lines in order to guarantee with greater efficiency the aims of the child's therapy.

This analyses is made based on several kinds of work on infant psycho-drama (Ferrari (FEBRAP MAGAZINE, 7th year, 2)), Gonçalves (1988), Turbiani and Senatro (1988) and others, identified with the Morenian Theory and by the usage of the Bermudez's conception of intermediary objetc (1980, 1984) formulating alternative therapeutic strategies in function of a profesional practice here reported and by two cases in attendance.

Thus, we try to make a reflection about the difficulties and alternatives of the infant psychodrama therapist, specially in the situations in which the par-ents (because of their particular defences), cannot take part and identify, with the kid's problem, keeping themselves out of the work centered on the par-ents-kid connection the way it is proposed in the therapeutic processo

rofessora adjunta do Departamento de Psicologia da UFC rofessora adjunta do Departamento de Psicologia da Ufc

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é analisar a atuação do Psicoterapeuta Infantil juntoPONMLKJIHGFEDCBAà criança e à família, tomando como referencial o Psicodrama.

Para Moreno (1975), a finalidade da psicoterapia psicodramática é o Encontro, a verdadeira relação entre o EU-TU. Todo seu trabalho enfatiz a relação com o outro, a tele, a espontaneidade e a criatividade.

O encontro é o ponto central da teoria psicodramática. É a realização própria através do outro, de tal maneira que o EU passa a ser TU, e o TU se transforma em EU.

Para compreender este processo é fundamental estudar o desenvolvimento da criança.

Segundo Moreno, a criança ao nascer é um gênio em potencial. São os condicionamentos culturais, as conservas, que vão bloqueando su espontaneidade e criatividade.

A criança ao nascer é inserida na sua família que tem a função d satisfazer suas .necessidade.s básicas. Ela nasce desprotegid , dependente da mae para sobreviver. Esta tem um papel muito important nessa fase e nas subseqüentes porque é a mãe que oferece os meio para satisfazer as suas necessidades. A criança estabelece o primeiru vínculo com a mãe. Mesmo com a presença do pai, não estabelec uma relação afetiva imediata com o mesmo, só ocorrrendo em fas posteriores do seu desenvolvimento.

É através de transformações - de um ser indiferenciado, de um s I

simbólico com a mãe em ser independente, e com identificação própnI

capaz de reconhecer o outro como realmente ele é, de ver e de S I

visto, e de se colocar no lugar do outro e este no seu - que MorenI enfatizou a dependência da criança com seu meio. Com essa ênfa sobre o meio, Moreno preconiza a necessidade da relação com o outr do estar junto com o outro para crescer (apud, FERRARI, sem data) De acordo com o referencial psicodramático todo esse processo chamado de matriz d~ identidade, que é segundo Moreno (1975), " I '

locus", a placenta social da criança, que condiciona grande parte I sua vida futura .

. Para a criança, a família, mais especificamente os pais, compõem nucleo central de sua formação. Estes participam da formação da rnatu de identidade do filho e este relacionamento permeia grande parte I vida da criança, pois lhe apresenta modelos de conduta soci I fundamenta o seu processo de aprendizagem emocional (apud, Benedltll e outros, sem data).

Esta aprendizagem se dá através do vínculo mãe-filho, pai-filho, 1 1 1 seja, tanto os pais ensinam aos filhos como também aprend 1 1 1

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ninando.

8CH-PERIOOICOS

Quando a mãe desempenha o seu papel de forma equilibrada e rmônica a criança desenvolverá o seu potencial adequadamente. Se o ocorre torna-se mais espontânea e criativa tanto na relação com a

e quanto no estabelecimento de novos vínculos.

A medida que o pai desempenha seu papel, aceita a relação mãe-lho e com esta colabora, facilita o desenvolvimento satisfatório dessa

Imeira fase da matriz de identidade.

Em fases posteriores do desenvolvimento a criança reconhece o EU TU. Aos poucos se torna apta a se colocar no lugar do outro, resentá-Io e permitir que o outro se coloque em seu lugar. Faz ensaios Inversão de papéis (pré-inversão) e estará em condições de perceber I e aceitar essa relação. Aqui o pai muda sua atuação, pois ele é

na relação com a mãe e TU na relação com o filho.

"A facilitação do reconhecimento é alcançado quando a criança se ontra em condições afetivo-emocionais de se relacionar com o pai mãe, enquanto indivíduos, e de suportar a relação destes entre si.É

rtir daí que pode incluir mais efetivamente outros indivíduos no seu ulo de relações". (Turbiani e Senatro, 1988, p. 54).

endo assim, a família participa do processo de aprendizagem ocional da criança favorecendo ou dificultando determinadas

dutas. Dependendo da atuação dos pais, a criança desempenhará papéis de forma espontânea e criativa.

ortanto, a relação pais e filhos é de extrema importância no nvolvimento da personalidade da criança. Ao desempenharem seus is de pai e mãe, estes estão influenciando o papel de filho, ao mo tempo que o filho está influenciando o dos pais.

vemos assinalar que na relação mãe-filho ou pai-filho o objetivo é envolvimento de ambos e para que isso ocorra é necessário nças no papel e contra papel.É uma aprendizagem conjunta onde

um se aperfeiçoa no desempenho do seu papel. OTERAPIA PSICODRAMÁTICA: CRIANÇA E FAMíLIA

nsiderando o tema proposto neste trabalho com a criança e a

11 , destacaremos alguns aspectos fundamentais para atingir os uvos da psicoterapia psicodramática.

psicoterapia moreniana tem como base a pesquisa da relação p ssoas e grupos, e nesta, tem destaque os papéis que as pessoas mpenham. Assim, o método psicodramático visa apreender nos

1 0 estabelecidos entre os indivíduos, as conexões entre papéis e

papéis. (Apud Turbiani e Senatro, 1988, p. 63).

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ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAconceito de saúde mental de acordo com a teoria psicodramática baseia-se na c~~acidade do indivíduo jogar e inverter papéis. Quand~

por al~uma dlfl~uldade essa inversão não é possível, surge

necessidade da ajuda de um psicoterapeuta.

D~rante o atendimento o psicoterapeuta propicia condições para o

surglmen.to de novos papéis, fortalecendo os papéis pouco

desenvolvidos ou aqueles que não estão bem estruturados.

A psico~erapia facilita a liberação de forças que estão bloqueando

espontaneidade, restabelecendo a comunicação adequada entre

cna~9a e a família. Além disso, favorece à aprendizagem de novo papeis, bem como o estabelecimento de outros vínculos.

Fo~seca propõe a ~sico~erap~a como um processo de re-matrização, como u~a nova matnz de Identidade que não substitui a primeira, mas se propoe .a oferecer um n?v? mo~elo de relação interpessoal, que s~ra ~orre~vo, que oferecera sítuações de complementariedade que pnmelr~ nao ofereceu". (Apud FERRARI, sem data) .

. Por ISS~,. qua~do se trabalha com criança dentro do referencial p~lcodr~matlc? n~o se pode desvincular a criança da família, tendo em vista a tmportêncía desta no desenvolvimento da matriz de identidad do filho.

Devido a depen~ênci~ de seus pais, a criança necessita de ajuda para qualquer rnodiflcação em suas relações.

,?s pais recorrem ao psicoterapeuta quando não conseguem entender

a criança ou quando percebem que não estão desempenhando seus

papéis adequadamente.

Assim, du~an.te o atendimento trabalha-se com a criança e com os pais como objetivo de rematrizar a relação pais-filhos, restabelecer a comunicação e facilitar o desempenho dos papéis pouco desenvolvidos.

. ~uando a ~~ança é encaminhada para terapia o procedimento utilizado na pratica consta das seguintes etapas:

a) Atendimento inicial com os pais; b) Atendimento à criança;

c) Atendimento a crianças e pais;

d) Atendimento aos pais para devolver os dados obtidos e definir o andamento do processo terapêutico.

Q~ando é indicado. terapia é r~alizado um contrato terapêutico com os pais e um com a criança. Explica-se a metodologia utilizada durante o tratamento no que se refere à duração das sessões freqüência

evolução e honorários. "

As sessões com a criança são realizadas uma ou duas vezes por se~ana,. dependendo do caso e com os pais uma sessão de quinze em qumze dias. De acordo com a necessidade realiza-se sessões conjuntas

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om os pais e a criança.

A metodologia utilizada nas sessões baseia-se no esquema clássico Moreno: aquecimento, dramatização e comentários. No entanto, tem uas características peculiares, em especial nas etapas de aquecimento

comentários. Nessa etapa evolutiva a criança ainda ultrapassa com muita facilidade a linha divisória entre fantasia-realidade, o que imprime n sessão uma permanência maior na dramatização. Os comentários

o feitos através de assinalamentos de acordo com o desempenho da riança durante a dramatização. Outra peculiaridade é a existência, no onsultório do psicodramatista, de brinquedos e objetos, alguns mais utros menos estruturados, tais como fantoches, máscaras, material

ra a confecção de objetos, massa de modelar, etc., que são

proveitados quer como instrumento de aquecimento, objeto

Intermediário, ou como parte da dramatização com personagens reais. (Alegre, 1980;Gonçalves e Kaufman, 1988).

As técnicas mais utilizadas são realização simbólica, interpolação resistências e inversão de papéis. Em algumas situações usa-se

t mbém o druplo e o espelho. •

A TERAPIA COM A CRIANÇA: UM CASO EM ATENDIMENTO

S.A.S., 10 anos, sexo masculino, é o 4° filho de uma família de 5 Irmãos. Estuda numa escola pública e está repetindo a 18

série. A mãe é doméstica e o pai vigilante,aposentado por invalidez por presentar "problemas nervosos". (SIC)

Os pais procuraram atendimento na clínica para seu filho, porque ra muito agressivo, apresentava mutismo na escola, dificuldades de r lacionamento e problemas de aprendizagem .

Segundo seus pais a criança nasceu de uma gravidez indesejada. A mãe tentou abortá-Ia até o 4° mês. O parto foi normal, a mãe amamentou

tê o 3° mês e o desenvolvimento geral foi normal. Em casa fala pouco,

agressivo com a família e não se relaciona bem com os pais.

emonstra total desinteresse pelos estudos, não participa da recreação, n o fala e não se relaciona com a professora e colegas.

Na fase diagnóstica constatou-se que a criança praticamente não verbalizava nada e quando fazia, restringia-se a dizer o essencial e om extrema dificuldade. Às vezes apenas acenava com a cabeça para onfirmar ou não uma resposta. Sem iniciativa, com expressão corpo-r I muito corpo-rígida, tinha dificuldades no desempenho dos papéis sociais e

m estabelecer vínculos (não fixava o olhar, não sorria, esmurrava as paredes, não queria entrar na sala).

Foram realizadas seis sessões de terapia com a criança, duas com

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os pais, para orientação.

Durante o atendimento utilizou-se fantoches, bolas, almofadas, luva de boxe, ou seja, vários objetos intermediários para facilitar comunicação e a relação afetiva com a criança.

Seu progresso foi lento e gradual, mas notável a cada sessão. Do comportamento de mutismo passou a uma comunicação verbal compreensível, apesar de limitada. Aos poucos foi se tomando mai espontâneo, mais alegre e mais ativo. Tomava iniciativas em alguma situações, demonstrando mudanças na relação com a terapeuta (troc de olhares, melhor expressão corporal, maior mobilidade). Su participação demonstra que aos poucos está se descobrindo como pessoa.

Na escola, a professora relatou que também apresentou mudança no comportamento. Já brinca com os colegas no recreio e em sal melhorou um pouco o interesse pelas atividades escolares.

No que se refere aos pais, ficou claro que estes não aceitam a limitções do filho e o consideram um "deficiente", por isso, não fazem nada para melhorar a relação com a criança.

Nas sessões de orientação aos pais fazia-se inicialmente umI

avaliação das mudanças ocorridas com o tratamento. Além disso, utilizando-se de técnicas psicodramáticas trabalhava-se os papéis d cada um deles e sua relação com o filho. Verificou-se que o desempenho do papel deles em relação ao filho era muito ambivalente. Os pais não complementavam os papéis adequadamente na relação com a crianç

e, conseqüentemente, não percebiam mudanças na conduta da mesmPONMLKJIHGFEDCBA

A medida em que os pais foram se conscientizando da necessidad de participar do processo de aprendizagem emocional do filho, procurando aceitá-Io e acreditando mais no mesmo, S.AS. começou melhorar no seu papel de aluno e de filho.

S.A.S. continua em terapia e está sendo trabalhado para ser colocado num grupo e aos pais, será solicitada a participação num curso d orientação em grupo que está sendo organizado.

Conclui-se que no trabalho com crianças é muito importante ess forma de terapia, uma vez que muitos conflitos não resolvidos está diretamente ligados à relação pai-mãe-filho. Podemos dizer que além

de terapeuta da criança é fundamental desenvolver esse trabalho com os pais, seja para orientar ou para rematrizar os seus vínculos com criança.

ALTERNATIVAS PARA O TRABALHO COM A FAMfuA

O processo terapêutico infantil no psicodrama prevê

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ompanhamento e orientação dos pais a cada etapa do trabalho (Petrilli, m data; Ferrari e Leão, sem data; Volpe, sem data), solicitando dos I uma concretização, elaboração e modificação dos vínculos pais-lhos e na dinâmica do grupo familiar.

O processo de atendimento aos pais difere de acordo com as essidades do cliente e/ou família, compreendendo desde o trabalho I I ial somente com os pais (Petrilli, sem data; Camargo, sem data), a

I ntação dos pais paralela ao trabalho terapêutico com a criança urbiani e Senatro, 1988; Cavalcanti, sem data) até o atendimento em rupo de pais, cuja formação é paralela ao grupo de crianças (Alvim e

uto, sem data; Benedito e outros, sem data).

Todos esses modelos abordam uma tentativa de rematrização da I ção pais-filhos usando entre outras técnica~ a inversão de pap~is, o pio, a imagem e o espelho, tendo em vista a. compreensao e nscientização do filho/criança intemalizada dos pais.

Alegre (1980) propõe para o psicodrama infantil a associação do o e da ação, justificando no uso do brinquedo a possibilida~e de dar lementos através dos quais pode concretizar suas fantasias, sem cessidade de elevada abstração e simbolização; no uso do Icodrama, da ação, a vida através da qual a criança pode. ela~orar e mpreender suas fantasias, sem fazer uso de uma verbahzaçao que m sempre tem condições de desenvolver,

stas adaptações propostas para o trabalho com a criança também fazem necessárias para o trabalho com os pais. Quanto mais culdades a criança apresenta, e o faz como uma conseqüência das

I

funções do vínculo pais-filhos, maior é o envolvimento e .a

ponsabilidade dos pais com esta real~dade. No entaAnto, mais qüentemente, os pais negam essa relaçao entre os fenomenos, . 0

obstaculariza o trabalho do profissional, exigindo dele mais tividade na superação dessas barreiras.

De acordo com a Teoria Geral dos Papéis (Bermudez, 1980, 1984) estados de alerta acontece a expansão do "si mesmo". Os papéis uco desenvolvidos ficam na área do "si mesmo", inviabilizando o ntato com papéis complementares. O uso do objeto intermediário rve de valioso elemento para a comunicação, como também de tlmulo para revelar aspectos inconscientes ou condutas conflituais It das. De acordo com o autor,

"O objeto intermediário pode ultrapassar a barreira do 'si mesmo', sem desencadear reações de alarme, particularidade que lhe confere a possibilidade de ser

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utilizado como instruimento terapêutico (relação papel objeto intermediário-papel). (Bermudez, 1980).

Esta teorização ajuda a compreender a insegurança e a resistênci de alguns pais ao trabalho de dramatização dos papéis parentais (papéi

pouco desenvolvidos), priorizando o uso da verbalização, onde o ataquesPONMLKJIHGFEDCBAà criança, colocada como bode expiatório, são intensos. Com vistas a não confirmar essa forma de lidar com a realidade, mas ao mesmo tempo procurando trabalhar da perspectiva dos pais, solicita se dos mesmos, em paralelo aos conteúdos trabalhados-verbalizados, a representação por brinquedos-objetos, escolhidos por eles, de form a sintetizar cada aspecto da relação pais-filho abordado. Assim, im pede-se uma dispersão do conteúdo verbalizado (quer porque a palavr , depois de falada, pode-se perder por mecanismos de esquecimento ou por tentativa de negação consciente). Iremos exemplificar através do acompanhamento de um cliente, como o brinquedo, enquanto objeto intermediário, pode ser utilizado como coadjuvante no trabalho com o pais:

T.B. tem 7 anos e está cursando a 18 série. É agitado, faz caretas

mungangos, chora fácil e rói as unhas. Tem dificuldades d

relacionamento na escola, fazendo escândalos ijogando objetos, virando mesa, entrando em confusão com colegas) nos momentos em que não consegue fazer o que quer. Conhecido por esse aspecto por todos d colégio passou a ser marginalizado pelos pais dos alunos.

O casamento dos pais, precoce por conta de uma gravidez, deixou o casal dependente da família dela, para que ele concluísse os estudo Além da dependência financeira, segundo o marido, havia também dependência emocional, implicando na ajuda permanente, e além d necessário para os cuidados com o primeiro filho e da casa. A gravide de T.B. aconteceu quando seu irmão tinha um pouco mais de ano. Su mãe perdeu sangue, logo no início, e precisou ficar de repouso. Nascid de parto normal e amamentado até aos 8 meses, T.B., teve a lactaçã interrompida pela necessidade da mãe ficar em isolamento por suspeit de ter contraído uma doença infecciosa, e logo em seguida, quebrar

braço. Nesse mesmo período os pais, que nessa ocasião moravam

com os avós matemos de T.B. passaram a morar com os avós paterno Por falta de espaço, T.B. não acompanhou os pais e permaneceu com os avós maternos. Três meses depois mudam para o local que moram até hoje.

O pai se mostra imaturo, inclusive profissionalmente, e segundo sua palavras "sem jogo de cintura". Relacionamento difícil com todo mundo,

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e preocupa em ser agradável com ni~gué~ ..90sta de máquinas profissão e como hobbie), tem pouca disponibilidade para os filhos,

e incomodar nem reagir ao choro deles. Resolve os assuntos dos

I

com rigidez e impaciência. Acha-se superior (intelectualmente

I ndo), não pensando o mesmo da mulher. ". .

Ambos têm um bom nível cultural e os filhos sao cnados com muita rdade. Estes são preconceituosos com as empregadas e T.B. usa e

u a nas brincadeiras com elas. Isto parece se estender ao

I ionamento com a professora, ridicularizada e desconfirmada por aber nada, segundo a avaliação dele.

A proposta de trabalho para com os pais f?i ~~eita prontamen"te. I taremos agora três sessões de trabalho individual com a ma~,

luínoo aqui o trabalho com o pai, que apesar de c~mparecer ~s

ões, mostrou-se muito resistente em explorar os conflitos da relaçao o filho, falando mais sobre si e sua vida. '

N primeira sessão com ela é proposto que se. procure ent~nder ue T.B. está nessa situação. Ela mostra-se resistente. Atraves da ica do duplo, utilizada como aquecimento, obtemos o relato de fatos dona dos ao casal, ainda não explicitados anteriormente. Ela mostra-Indecisa sobre a importância ou não desse relato em. que descr~ve onflitos no relacionamento com o marido, que determinaram a salda I da casa dos pais dela para a casa da s c ç r a . Com o ~s~ ~e

ofadas, ela monta a estrutura familiar, antes e depois dess~ epísódio, ndo claro a mudança significativa que ocorre no se~ ~e1acl.onamen~0

T.B. no antes e no depois. Na etapa dos comentanos díz qu~ nao t de lembrar dessa época, já que lhe traz sofrimento. Mesm~ diante Interrogações feitas por ela, não se emite opiniões se tais fatos hcariam ou não a discriminação de T.B. Esclarece-se somente a ortância de se colocar àmostra todas as informações importan~es e I recedoras sobre dinâmica da família, ressaltando-se tambem a r nça de sua relação com o filho, antese depois do conflit~. . N sessão seguinte, a mãe entra com cólicas e pede para nao subir Ico. Depois de poucos minutos em que s"e conve~sa sobre o seu

mpenho como mãe e sobre a nova geraçao de maes que vem se

ndo, a dor desaparece. ."

N terceira sessão, depois de um rápido aqu~clI~n~nto, p~opoe-se a lha de objetos que possam representar a hístórta de vida de T.B. ce-se brinquedos pequenos, dos mais variados aspecto~, d~ fon:na cada brinquedo escolhido, representasse um momento slgnl~~ativo

história. Para a seguinte seqüência montada por ela, soücíta-se

bém uma palavra definidora de cada situação representada.

(6)

P A L A V R A .c H A V E

D E F I N D O R A D E C A D AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAOBSERVAÇÕES VERBALlZADAS

OBJETO M O M E N T O ( E S C R I T A S PELAMAE

~ L O U S A I

1. Almofada Vazio Não planejou a gravidez e não tem registros

conscientes desse momento.

2. Pera Surpresa Nao é carne nem é peixe. Nao queria

engravidar, mas depois gostou da idéia.

3. Tomate TranqUilidade Gostava de cuidar de ToB. como bebê. Nao

foi tão dlflcil quanto com o primeiro.

4. Boneco s/perna Sofrimento Falta um pedaço. Ele perdeu alguma coisa

quando eles foram para casa sa sogra.

5. Boneco Amarelo Abandono Época em que já estavam na casa deles.

Boneco (coringa) Cegueira Quem cuidava de T-B. era uma babá que ela

nem conhecia direito. O mais velho ficava na

casa dos pais dela. Quando chegava em

casa. T-B. se agarrava com ela e não queria

saber da empregada; logo em seguida ela

começa a trabalhar fora.

6. Boneco (T.B) Confusão Ser criança. Época da entrada de ToB. na

Grupo de Soldados escola. Aqui ele já apresentava as

(outras crianças dificuldades de relacionamentos, mas a mãe

separadas de T-B.) considerava como "coisa de criança:.

7. Boneco Só (T.B.) Abandono Aonde T.B. estava tinha confusão. Ela precisa

Outros bonecos em ficar alerta. Não sabia se ficava do lado dOI

grupo (outras outros ou do lado dele. Acha que ficava mal

crianças) do lado dos outros.

Bonedo (mãe - mais próxima do grupo de que de T.B.)

8. Boneco (T.B.) Reaproximaçao Hoje já se aproximou mais dele. O pai também

(outros bonecos) está se esforçando, mas ela não sabe se ele

está conseguindo algo.

Depois que ela acaba pede-se que veja no quadro as palavr anotadas e lidas em voz alta. Ela se emociona muito. Volta para o pai 1 1

e seu primeiro gesto é o de recolher tudo. Logo em seguida, pergunt I

que tem a fazer. Pergunta-se se ela quer continuar e com ambivalên .1

diz que sim. Assinala-se em forma de pergunta se a vontade dela n 1 1

seria a de parar e esconder tudo, pela forma como tenta recolher I

brinquedos. Pergunta-se como seria a montagem da história do irm I

de T.B. Ela diz, de imediato, que seria muito diferente.

Com essas três sessões com a mãe pode-se trazer à . ton

Revista de Psicologia, Fortaleza, V. 11(112),V. 12(112); p.

n -

p.88, Jan.lDez.

199319-formações fundamentais sobre a compreensão da problemática de Parece que para dar continuidade ao casamento, considerando gostava do marido, resolveu afastar de si todos os conflitos da I ção conjugal, mas isso também trouxe como conseqüência o seu f tamento afetivo, distanciando-se de T.B.

°

foco da problemática,

I torcido e projetado no filho, tem a sua origem no relacionamento njugal.

NCLUSÕES

As dificuldades da criança reproduzem dificuldades pessoais dos

I ,através dos modelos parentais internalizados ou servem de t paro para dificuldades conjugais do casal projetadas no filho, onde tr balho terapêutico não pode se omitir de redefinir as relações

Iliares, de forma a não confirmar o papel de paciente identificado na nça, trazendoà tona todas as disfuncões do par parental e redefinindo

inâmica familiar.

A habilidade do terapeuta em saber convocar os pais para um lho conjunto, tornando-os seus aliados, nem sempre é de fácil

ução, podendo muitas vezes colocar os pais em cheque, implicando certos casos, até na interrupção da terapia com a criança. Esta Iv zseja a maior dificuldade do trabalho terapêutico infantil, ou seja, evitar essa interrupção e conciliar as necessidades da criança e pais.

oncluímos nesse momento que as propostas aqui apresentadas receram a condução mais conseqüente do processo terapêutico ntil, onde a criança é apenas uma peça de um quebra-cabeça que

er montado exige a reunião com as outras peças.

10GRAFlA

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Referências

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