Ia. Jornada Científica da Fatec de Botucatu, 25 e 26 de outubro de 2012, Botucatu – São Paulo, Brasil.
O LEITOR DO TEXTO DIGITAL: ANÁLISE DO PERFIL DE USUÁRIOS DA
INTERNET
Eliana Gonçalves Adão1, Adriane Belluci Belório de Castro2 1
Aluna do curso de Informática para Negócios regularmente matriculada, Faculdade de Tecnologia, Botucatu, SP, Brasil. E-mail: ega_wsa@ig.com.br
2 Professora da Faculdade de Tecnologia, Botucatu, SP, Brasil. E-mail: acastro@fatecbt.edu.br
Palavras chave: Internet. Meios de comunicação.
Perfil de leitores. INTRODUÇAO
Esta pesquisa tem, por objetivo, apresentar a evolução dos meios de comunicação e a consequente mudança provocada no perfil dos leitores diante do aumento das novas opções tecnológicas de meios de comunicação. Além disso, procura-se discutir como a informação circula na sociedade em que se tem a transição do impresso para o digital, a criação de novas formas de comunicação, a alteração do perfil do leitor e a maior abrangência da possibilidade de leitura na sociedade. Para tanto, apresenta-se um panorama do uso dos principais meios de comunicação nos últimos cinco anos no Brasil.
A invenção da imprensa de caracteres móveis é considerada um marco da comunicação social, por constituir o primeiro método viável de disseminação de ideias e de informação a partir de uma única fonte. Até o início do século XIX, as redes de comunicação se limitavam a guetos sociais e profissionais, a informação era sinônima de poder. A imprensa foi o primeiro passo, mesmo que singelo, que vislumbrou mudar isso.
A partir da segunda metade do século XIX, surgem as primeiras grandes inovações midiáticas: o telégrafo eletrônico, o rádio, o telefone, o cinema e a televisão.
Cada nova invenção provocou, de certo modo, mudanças drásticas no modo de apresentação das mensagens. O rádio, por exemplo, alterou a forma das histórias noticiosas com o aparecimento do som. Do mesma maneira, a televisão modificou o conceito de meio de comunicação.
A cultura audiovisual teve sua revanche histórica no século XX. A tecnologia elétrica parece favorecer a palavra falada, inclusiva e participacional, e não a palavra escrita especializada, afetando consideravelmente nossos valores. A difusão da televisão representou o fim de um sistema de comunicação essencialmente dominado pela mente tipográfica e pela ordem do alfabeto fonético. A TV se tornou o modo predominante de comunicação, um meio novo caracterizado pela estimulação sensorial. A imagem da TV exige que, a cada instante, “fechemos” os espaços da trama por meio de uma participação convulsiva e sensorial que é profundamente cinética e tátil, envolvendo todos os nossos sentidos em profunda inter-relação. Dessa forma, ao incentivar a criação de estruturas em profundidade no mundo da arte e do entretenimento, criando, ao mesmo tempo um profundo envolvimento da audiência, a TV mudou nossa vida sensória e nossos processos mentais. (BARBOSA, 2005, p. 38)
Ia. Jornada Científica da Fatec de Botucatu, 25 e 26 de outubro de 2012, Botucatu – São Paulo, Brasil. manifestação sequencial, a nova tecnologia
elétrica exige o processamento instantâneo do conhecimento mediante uma interação, em que todas as espécies de impressões e experiências se intercambiam e se traduzem, permitindo-nos reagir ao mundo como um todo.
Atingindo todas as técnicas de comunicação e de processamento de informações até então desenvolvidas, a digitalização conecta o cinema, o radio, a televisão, o jornalismo, a música, as telecomunicações e a informática, tornando-se determinante para a evolução cultural e as atividades cognitivas. A gradual convergência da tecnologia de informação e comunicação para um sistema digital comum de transmissão, processamento e armazenamento está criando um novo cenário técnico em que a informação pode se converter rapidamente e com relativa facilidade em diferentes formas, com maior flexibilidade, tanto no seu manuseio quanto na sua transmissão.
Com a evolução das formas eletrônicas de transmissão de sinais, o acesso à informação por meios informáticos torna-se cada vez mais natural ao homem comum. A interação perdeu seu caráter imediato e se libertou do ambiente físico. Cada vez mais, os indivíduos preferem buscar informação em outras fontes a solicitar a pessoas com quem interagem diretamente no dia a dia. Conectado a outras novas técnicas de telecomunicação, a Internet permite a criação, a circulação e a estocagem de uma imensa massa de informações, antes monopolizadas por uma pequena elite de trabalhadores intelectuais.
Acompanhando toda transformação tecnológica, a possibilidade de leitura passa a ser mais ampla e atingir maior número de leitores. Isso se dá com a invenção da imprensa, acentuadamente com o aparecimento de jornais; posteriormente, com o desenvolvimento do rádio e da televisão, muda-se o foco do leitor para o ouvinte ou espectador; porém, recentemente, com o advento da Internet, a combinação de leitor-ouvinte-espectador se estabeleceu com grande intensidade a
ponto de alterar profundamente o perfil de leitor tal qual o se conhecia.
Chartier acredita que “o efeito que o texto é capaz de produzir em seus receptores não é independente das formas materiais que o texto suporta” (apud SANTAELLA, 2004, p. 21). Isso significa que a materialidade do suporte oferecido pelo texto irá influenciar na construção de sentido desse texto, ou seja, o suporte está intimamente associado a uma legibilidade do texto. Assim, em diferentes momentos históricos, com o surgimento de tecnologias revolucionárias, tais como a imprensa, os meios de comunicação de um modo geral e a Internet, surgem leitores de diferentes perfis.
Para uma classificação de perfil dos leitores, utilizou-se o estudo de Santaella (2005), no qual se define três tipos de leitores associados a mudanças dos meios de comunicação.
O primeiro é o chamado leitor contemplativo, meditativo da idade pré-industrial, o leitor da era do livro impresso e da imagem expositiva, fixa. Esse tipo de leitor aparece no Renascimento e permanece de modo dominante até meados do século XIX.
O leitor movente, um segundo tipo, é o leitor do mundo em movimento, dinâmico, mundo híbrido, de misturas sígnicas, um leitor que é filho da revolução industrial e do aparecimento dos grandes centros urbanos: o homem na multidão. Esse leitor, que nasce com a explosão do jornal e com o universo reprodutivo da fotografia e cinema, atravessa não só a era industrial, mas mantém suas características básicas quando se dá o advento da revolução eletrônica, era do apogeu da televisão.
O leitor imersivo é aquele que começa a emergir nos novos espaços incorpóreos da virtualidade. O chamado navegador é também um leitor, na medida em que desenvolve determinadas disposições e competências que o habilitam a navegar através de fluxos informacionais – sonoros, visuais e textuais – que são próprios da hipermídia.
Ia. Jornada Científica da Fatec de Botucatu, 25 e 26 de outubro de 2012, Botucatu – São Paulo, Brasil. ao desaparecimento do outro, podendo
existir uma convivência e reciprocidade entre os três tipos de leitor.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi feita uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos, documentos sobre o tema, bem como em textos da Internet durante o período de 2006 a 2011. Foi realizado também um levantamento de dados a partir da divulgação de resultados de institutos de pesquisas.
Para ilustração deste trabalho, serão reproduzidos gráficos estatísticos segundo pesquisas realizadas pelo IBGE no período de 2006 a 2011 relativos à evolução dos meios de comunicação, especialmente a Internet.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atualmente somos 79,9 milhões de internautas brasileiros, sendo o Brasil o 5º país mais conectado do mundo. De acordo com o Fecomércio – RJ/Ipsos, o percentual de brasileiros conectados aumentou de 27% para 48%, entre 2006 e 2011. O principal local de acesso é a lan house (31%), seguido da própria casa (27%) e da casa de parente de amigos, com 25% (abril/2010). O Brasil é o 5º país no mundo com o maior número de conexões à Internet.
Aproximadamente 46,3 milhões de usuários acessam regularmente a Internet. 38% das pessoas acessam a web diariamente; 10%, de quatro a seis vezes por semana; 21%, de duas a três vezes por semana; 18%, uma vez por semana.
O tempo médio de navegação no Brasil, sempre obteve excelentes marcas, estando constantemente na liderança mundial. Em julho de 2009, o tempo foi de 20 horas e 26 minutos, considerando apenas a navegação em sites. A última marca aferida foi de 32 horas por pessoa em dezembro de 2011, conforme a Figura 1 a seguir.
Também é possível observar na Figura 1 a progressão de horas por pessoas ao longo da última década. Isso
confirma a afirmação de que, a cada ano, o navegador passa mais tempo utilizando a Internet como meio de comunicação.
Figura 1. Tempo médio de navegação de internautas ativos
Fonte: www.cetic.br/usuarios/ibope, 2012.
A desigualdade social também se reflete no mundo digital: entre os 10% mais pobres, apenas 0,6% tem acesso à Internet; entre os 10% mais ricos esse número é de 56,3%. Somente 13,3% dos negros usam a Internet, mais de duas vezes menos que os de raça branca (28,3%). Os índices de acesso à Internet das Regiões Sul (25,6%) e Sudeste (26,6%) contrastam com os das Regiões Norte (12%) e Nordeste (11,9%).
No mundo todo, a cada dia, 500 mil pessoas entram pela primeira vez na Internet e são publicados 200 milhões de twiters; a cada minuto são disponibilizadas 48 horas de vídeo no YouTube; e cada segundo um novo blog é criado 70% das pessoas consideram a Internet indispensável. Em 1982, havia 315 sites na Internet. Hoje, existem 174 milhões.
A Figura 2 apresenta a evolução do número de pessoas que lê jornal impresso no Brasil.
Figura 2. População que lê jornal impresso.
Ia. Jornada Científica da Fatec de Botucatu, 25 e 26 de outubro de 2012, Botucatu – São Paulo, Brasil. Ao longo dos últimos 10 anos, esse
número teve uma queda, em média, de 10%, o que não significa exatamente uma diminuição do hábito da leitura, mas uma possível substituição do jornal impresso pelo jornal online ou a leitura das principais notícias do dia a dia em sites de notícias, principalmente ao levar em conta a ampliação do número de internautas durante o mesmo período.
Figura 3. Evolução do número de internautas no Brasil em milhões nos últimos anos.
Fonte: www.tobeguaray.com.br, 2012.
A Figura 3 demonstra um aumento de mais de 24 milhões de internautas em cinco anos no Brasil. A significativa ampliação do número de internautas retrata o aumento de número de leitores, especificamente, os considerados como imersivos por Santaella.
Figura 4. Usuários de Internet por grau de instrução.
Fonte: www.tobeguaray.com.br, 2012.
Na Figura 4, o maior crescimento de usuários de Internet ocorreu nos usuários com grau de instrução equivalente ao Ensino Médio, com aumento de 27%, o menor crescimento por grau de instrução ocorreu entre os analfabetos e os alunos da Educação Infantil.
Figura 4. Usuários de Internet por faixa salarial.
Fonte: www.tobeguaray.com.br, 2012.
A Figura 4 demonstra a evolução dos usuários da Internet por faixa de renda, sendo que entre os usuários que recebem acima de 10 salários mínimos o aumento foi o mais significativo entre todos os usuários, alcançando uma taxa de aumento de 67% em cinco anos.
CONCLUSÕES
O acúmulo de ideias, de informações e, principalmente, de conhecimento de uma sociedade é algo que deve ser compartilhado. Para tanto, os meios tecnológicos desenvolvidos ao longo dos séculos permitem, com maior facilidade, o acesso à informação e a divulgação do conhecimento desenvolvido pela sociedade.
Na atualidade, o armazenamento e a velocidade com que as informações são disponibilizadas pela Internet é muito alto se comparados com outras épocas em que se tinha apenas disponível o meio impresso, por exemplo.
Não se observou, com o estudo feito, significativa alteração no número de leitores de jornal impresso, porém a crescente demanda de leitores se deu em
0 20 40 60
Internautas (em milhões)
Ia. Jornada Científica da Fatec de Botucatu, 25 e 26 de outubro de 2012, Botucatu – São Paulo, Brasil. relação à Internet, o que sugere a
ampliação do acesso à informação.
Diante do levantamento realizado, constatou-se que o perfil do crescimento de internautas ocorreu principalmente entre usuários com faixa etária de 16 a 24 anos, com nível de instrução equivalente ao Ensino Médio, e entre os de renda familiar acima de 10 salários mínimos. Esses dados sugerem que a geração denominada como nativos digitais (os que nasceram após o advento da Internet) é aquela que mais utiliza esse meio de comunicação. Além disso, verificou-se que aqueles que têm mais facilidade econômica são, proporcionalmente, os que mais cresceram em número de usuários nos últimos anos.
Assim, este novo contexto tecnológico em que se tem à disposição diversas ferramentas para o acesso à informação em tempo real, propicia o aparecimento de um novo perfil de leitor o qual emerge da cibercultura. Esse é o leitor imersivo, navegador ou virtual.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, A.C.L.S. Leitura e escrita na web.
Revista Linguagem em (Dis)curso, v. 5, n. 1, 2005.
RIBEIRO, G.M.; CHAGAS, R.L.; PINTO, S.L. O Renascimento cultural a partir da imprensa: o livro e sua nova dimensão no contexto social do século XV.
Akrópolis, Umuarama, v.15, n. 1 e 2, p 29-36, jan./jun., 2007.
ROBERTO, L.M. A influência das redes sociais na
comunicação organizacional. Trabalho de Conclusão de Curso, São Paulo: UNINOVE, 2009. SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004. ______. Os espaços líquidos da cibermídia. Revista
da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, e-compos, Abril de
2005.