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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE CRUZEIRO DO OESTE VARA CÍVEL DE CRUZEIRO DO OESTE - PROJUDI

Avenida Brasil, 4156 Praça Agenor Bortolon Centro Cruzeiro do Oeste/PR CEP: 87.400000 -Fone: 4436768550

Autos nº. 0000359-96.2017.8.16.0077

I - Relatório

Trata-se da recuperação judicial da Latco Beverages Indústria e Comércio de Bebidas e Alimentos Importação e Exportação EIRELLI, objetivando a concessão da recuperação judicial na forma do plano aprovado em Assembleia Geral de Credores.

A recuperanda apresentou em 27/04/2017, o plano de recuperação judicial, acompanhado de Laudo Econômico Financeiro e de Avaliação dos Bens e Ativos do Devedor (mov. 106.4), observando, pois, o disposto no art. 53 da LRF e no item 13 da decisão de mov. 21.1, a qual deferiu o processamento da recuperação judicial, manifestando a Administradora Judicial ciência do mesmo.

O Ministério Público do Estado do Paraná concordou com o plano de recuperação judicial apresentado (seq. 113).

A administradora judicial requereu a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o plano de recuperação judicial, na forma dos art. 7º, §2º, e 53, parágrafo único, da LRF (seq. 122).

Apresentado o quadro geral de credores à seq. 196.1.

Pedido de retificação deduzido pela Administradora Judicial (seq. 208). Minuta do edital de intimação de credores (seq. 196.4).

O Ministério Público não impugnou o plano de recuperação judicial (seq. 22.1). Publicação do edital à seq. 228.2.

A credora Raízen Paraguaçu LTDA impugnou o plano de recuperação judicial (seq. 229).

Uma vez havendo objeção ao plano de recuperação judicial, a administradora judicial opinou pela convocação judicial da assembleia-geral de credores, conforme preconiza o art. 56, da LRF.

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Na sequência, o Banco Bradesco S/A e Banco do Brasil S/A apresentaram objeção ao plano de recuperação judicial (seq. 253 e 254).

A administradora judicial pugnou a convocação de assembleia geral de credores mediante expedição de editais (seq. 290).

Juntada aos autos dos comprovantes de publicação do edital de convocação da assembleia geral de credores (seq. 377).

À seq. 543 a empresa recuperanda apresentou novo aditivo, estabelecendo novas condições de pagamento e alterações da cláusula 10.1 do plano de recuperação judicial (seq. 453.1).

A recuperanda apresentou o segundo aditivo do plano de recuperação judicial (seq. 491).

A Assembleia Geral de Credores aprovou o plano de recuperação judicial e seus aditivos, nos termos do art. 45, §§1º e 2º, da LRF (seq. 529).

Os autos vieram conclusos. É o relatório. Decido. II - Fundamentos

Na homologação do plano de recuperação judicial cabe ao Poder Judiciário aferir a regularidade formal do processo decisório da Assembleia de Credores, se foi realizada de forma adequada e se foram atendidos os requisitos legais necessários para tanto, levando-se em consideração a viabilidade econômica da empresa de cumprir o plano aprovado, bem como se há a imposição de sacrifício maior aos credores, para só então proferir decisão que homologue o plano de recuperação.

Ab initio, saliente-se que, uma vez determinado o processamento da recuperação

judicial, o juiz ordenará a publicação de edital, no órgão oficial, o qual, dentre outas informações, dará publicação da decisão (§1º do art. 152, LRF).

A partir dessa publicação ficará o devedor obrigado, no prazo de sessenta dias, a apresentar o plano de recuperação judicial em juízo, sob pena de convolação do seu pedido em falência (art. 53, LRF).

À luz da legislação que rege a matéria, o plano de recuperação judicial deve conter: (a) a discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados, bem como um

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resumo de cada ato que o compõe; (b) a demonstração analítica da viabilidade econômica; (c) e, por fim, o laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada (art. 53, incisos I a II, da LRF).

Com o recebimento do plano, o juiz ordenará a publicação de novo edital contendo aviso aos credores de seu conteúdo, bem como fixará o prazo para a manifestação de eventuais objeções, consoante preconizado no art. 55, da LRF.

Havendo impugnação por qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará assembleia-geral de credores para sobre ele deliberar, que será integrada por três classes de credores: (1) titularidades de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; (2) titulares de créditos com garantia real; (3) titulares de créditos quirografários, com privilégio especial ou subordinados.

Juntado aos autos do processo de recuperação judicial o plano de recuperação aprovada pela assembleia-geral de credores ou decorrido o prazo para que eles formalizassem suas eventuais objeções, prevê o art. 57 que o devedor deverá apresentar, antes da apreciação judicial, as certidões negativas de débitos fiscais, com a observância dos artigos 151, 205 e 206 do CTB.

Exibidas as certidões negativas dos débitos tributários ou, superadas a questão nos termos acima deduzidos, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor, cujo plano não tenha sofrido restrições pelo credor ou, caso impugnado, que tenha logrado aprovação na deliberação pela assembleia-geral de credores.

Por sua vez, rejeitado, contudo, o plano de recuperação pela assembleia-geral de credores, será a falência decretada pelo juiz.

Lado outro, a decisão judicial que conceder a recuperação constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 59, §1º, da LRF.

Assim, verificada a legalidade, limitar-se-á o juiz a chancelar o plano de recuperação, o qual possui natureza de um contrato judicial.

Do controle de legalidade do plano de recuperação

A recuperação judicial é um meio de evitar que a crise na empresa acarrete sua falência, preservando-se, assim, a atividade econômica e os postos de trabalho, saneando-se os problemas econômico-financeiros da empresa.

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Oportuno relembrar que o propósito principal do plano de recuperação judicial é convencer a coletividade de credores da adoção de determinadas medidas que permitam a reorganização e a continuidade das atividades empresariais.

Com efeito, o Plano de Recuperação Judicial, previsto nos artigos 53 e 54 da Lei nº 11.101/05, constitui uma das etapas mais relevantes para o sucesso da recuperação judicial, lecionando a respeito FÁBIO ULHO COELHO: A mais importante peça do processo de

recuperação judicial é, sem sombra de dúvidas, o plano de recuperação judicial (ou de "reorganização da empresa"). Depende exclusivamente dele a realização ou não dos objetivos associados ao instituto, quais sejam, a preservação da atividade econômica e cumprimento de sua função social. Se o plano de recuperação é consistente, há chances de a empresa se reestruturar e superar a crise em que mergulhara. Terá, nesse caso, valido a pena o sacrifício imposto diretamente aos credores e, indiretamente, a toda a sociedade brasileira. Mas se o plano for inconsistente, limitar-se a um papelatório destinado a cumprir mera formalidade processual, então o futuro do instituto é a completa desmoralização

("Comentários à Lei de Falências e de recuperação de empresas", 9ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2013 - p. 219/220).

Nos termos da legislação, uma vez fixado os termos do Plano de Recuperação Judicial pela empresa, caberá à Assembleia Geral de Credores a sua aprovação, rejeição ou modificação (artigo 35, I, a, LRF).

Desse modo, o credor passa da condição passiva, que lhe era imposta na lei antiga de concordata, a ter voz ativa, participando do processo, concordando ou reprovando as condições avençadas no plano se recuperação apresentado pelo devedor.

Nesse sentido, Manoel Justino Bezerra Filho ensina que: “Esta lei pretende trazer para

o instituto da falência e da recuperação judicial nova visão, que leva em conta não mais o direito dos credores, de forma primordial, como ocorrera na anterior. A lei anterior, de 1945, privilegiava sempre o interesse dos credores, de tal forma que um exame sistemático daqueles artigos demonstra a ausência de preocupação com a manutenção da empresa como unidade produtiva, criadora de empregos e produtora de bens e serviço, enfim, como atividade de

” (Nova Lei

profundo interesse sócia, cuja manutenção de ser procurada sempre que possível

de Recuperação e Falência comentada, 3 ed, São Paulo, RT, 2005, pág. 129)

Sendo aprovado por todas as classes de credores - credores trabalhistas, credores com garantia real, credores quirografários, com privilégio especial, geral ou subordinados, e os

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credores micro ou pequena empresa (artigos 41 c/c 45, caput), ao Juiz cabe a homologação do Plano e a concessão da recuperação judicial ao devedor (artigo 58), limitando-se a apreciar os aspectos legais, ou seja, quanto a adequação ou não do plano às exigências da Lei.

Na realidade, conforme salienta a eminente Ministra NANCY ANDRIGHI, no julgamento do Recurso Especial nº 1.314.209/SP, "a vontade dos credores, ao aprovarem o plano, deve ser respeitada nos limites da Lei. A soberania da assembleia para avaliar as condições em que se dará a recuperação econômica da sociedade em dificuldades não pode se sobrepujar às condições legais da manifestação de vontade representada pelo Plano" (DJe 01/06/2012).

A propósito, o colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu que:

RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. APROVAÇÃO DO PLANO. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. CONCESSÃO DE PRAZOS E DESCONTOS. POSSIBILIDADE. 1. Recuperação judicial requerida em 4/4/2011. Recurso especial interposto em 31/7/2015. 2. O propósito recursal é verificar se o plano de recuperação judicial apresentado pelas recorrentes - aprovado pela assembleia geral de credores e homologado pelo juízo de primeiro grau - apresenta ilegalidade passível de ensejar a decretação de sua nulidade e, consequentemente, autorizar a convolação do processo de soerguimento em falência. 3. O plano de recuperação judicial, aprovado em assembleia pela vontade dos credores nos termos exigidos pela legislação de regência, possui índole marcadamente contratual. Como corolário, ao juízo competente não é dado imiscuir-se nas especificidades do conteúdo econômico do acordo estipulado entre devedor e credores. 4. Para a validade das deliberações tomadas em assembleia acerca do plano de soerguimento apresentado, o que se exige é que todas as classes de credores aprovem a proposta enviada, observados os quóruns fixados nos incisos do art. 45 da LFRE. 5. A concessão de prazos e descontos para pagamento dos créditos novados insere-se dentre as tratativas negociais passíveis de deliberação pelo devedor e pelos credores quando da discussão assemblear sobre o plano de recuperação apresentado, respeitado o disposto no art. 54 da LFRE quanto aos créditos trabalhistas. 6. Cuidando-se de hipótese em que houve a aprovação do plano pela assembleia de credores e não tendo sido apontadas, no acórdão recorrido, quaisquer ilegalidades decorrentes da inobservância de disposições específicas da LFRE (sobretudo quanto às regras dos arts. 45 e 54), deve ser acolhida a pretensão recursal das empresas recuperandas. 7. Recurso especial provido.(REsp 1631762/SP, Rel. Ministra

NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/06/2018, DJe 25/06/2018 -destaquei).

No presente caso a recuperanda apresentou seu plano de recuperação judicial à mov.

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106.2, acompanhado dos documentos de mov. 106.2 e 106.3, bem como do laudo econômico financeiro (mov. 106.4).

Foram apresentadas objeções ao plano por Raízen Paraguaçu Ltda (mov. 229.1), pelo Banco Bradesco S/A à mov. 253.1 e pelo Banco do Brasil S/A à mov. 254.1.

Na assembleia realizada em 14/03/2018 (mov. 423.2), por aprovação unânime dos credores, foi concedido prazo para oferecimento de aditivo ao plano de recuperação judicial.

O aditivo então foi apresentado à mov. 453.

Na continuação da assembleia realizada em 18/05/2018 (mov. 470.2), os credores concordaram em suspender o ato e retomá-la em 26/06/2018, a fim de permitir a manifestação de credores determinados a respeito do aditivo ao plano apresentado nos autos pela recuperanda.

Por sua vez, na assembleia de credores realizada em 26/06/2018 os credores deliberaram em sua expressiva maioria no sentido de conceder prazo à recuperanda até 17/07/2018 para oferecimento de novo aditivo ao plano de recuperação judicial.

O aditivo II ao plano de recuperação judicial foi apresentado à mov. 491 pela recuperanda.

A assembleia realizada em 22/08/2018 (mov. 529.2) resultou na aprovação do plano de recuperação judicial, com ressalvas por parte do credor Banco do Brasil S/A e do credor Bebafruta Indústria e Comércio de Alimentos Ltda EPP.

A ressalva formalizada em ata pelo Banco do Brasil S.A foi no sentido de que: “

discorda de qualquer tipo de novação e a não exigibilidade de seus créditos perante os coobrigados/fiadores/avalistas e consequente extinção das obrigações perante estes com o cumprimento do Plano de Recuperação Judicial e reserva-se o direito de ajuizar a cobrança judicial dos créditos em face dos coobrigados e garantidores para cumprimento de seu

”.

crédito em seu valor integral, conforme previsto no art. 49, §1°, da Lei 11.101/2005

Em primeiro lugar, certo é que vige no direito brasileiro o princípio da soberania da decisão assemblear, a qual, em regra, não deve ser alterada, exceto em casos excepcionais descritos em lei, como o disposto no §1º do art. 58 da LRF.

Assim, passa-se ao exame da legalidade da cláusula impugnada pelo credor que consignou a ressalva na ata da assembleia.

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Dispõe o art. 59 da LRF: O plano de recuperação judicial implica novação dos

créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem

).

prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1o do art. 50 desta Lei

Por sua vez, o art. 49, §1º, prevê o seguinte: Estão sujeitos à recuperação judicial todos

os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. § 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados,

.

fiadores e obrigados de regresso

Sob essa perspectiva, de acordo com a legislação aplicável, as garantias do crédito são preservadas, de modo que a homologação do plano de recuperação judicial não afeta o direito conferido ao credor de executar os devedores solidários.

Aliás, como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “à luz do disposto nos arts. 6º e

49, § 1º c/c art. 59, caput, da Lei n. 11.101/2005, é relevante consignar que, evidentemente, a submissão limita-se à relação jurídica material existente entre o credor e o empresário ou sociedade empresária em recuperação, além do sócio solidário, não resultando, conforme expressa ressalva do caput do art. 59 da Lei 11.101/2005 em "prejuízo das garantias", de modo que, se na relação há coobrigados, fiadores e obrigados de regresso, os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra aqueles, não impedindo a recuperação judicial o curso das execuções, no tocante aos coobrigados, fiadores e obrigados de regresso (REsp 1374534/PE, Rel. Ministro LUIS FELIPE

SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 05/05/2014) .

Nesse sentido, o aditivo II ao plano de recuperação (mov. 453.2) previu que os créditos inscritos no processo de recuperação judicial conservarão seus direitos e garantias em face de coobrigados e fiadores, na forma do art. 49, §1º, da LRF. Prosseguiu indicando que a garantia em face de terceiros coobrigados e fiadores, de qualquer natureza, permanecerão suspensas enquanto a recuperanda vier honrando com seus pagamentos.

Assim, preservadas estão as garantias do crédito mesmo após a homologação do plano, conforme previsão do próprio aditivo ao plano, mantendo-se a responsabilidade

. dos coobrigados, conforme previsão do próprio aditivo ao plano

Por sua vez, com relação à parte da ressalva ao termo aditivo II (mov. 491) no sentido de que: “as garantias em face de terceiros coobrigados e fiadores, de qualquer natureza

(reais e fidejussórias), permanecerão suspensas enquanto a recuperanda vier honrando pontualmente o plano recuperacional e poderão ser exigidas na hipótese do art. 61,

impõe-se adequação à legalidade a fim de garantir ao

parágrafo 2º da Lei n. 11.101/2005”,

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credor: “reservar-se o credor no direito de ajuizar a cobrança judicial dos créditos em face

dos coobrigados e garantidores ainda que homologado o plano, sem a suspensão, no tocante ao disposto”.

Isso porque o processamento da recuperação judicial de empresa ou mesmo a aprovação do plano de recuperação não suspende ações de execução contra fiadores e avalistas do devedor principal recuperando.

A questão inclusive foi definida em sede de recurso repetitivo no Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. DIREITO EMPRESARIAL E CIVIL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCESSAMENTO E CONCESSÃO. GARANTIAS PRESTADAS POR TERCEIROS. MANUTENÇÃO. SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO DE AÇÕES AJUIZADAS CONTRA DEVEDORES SOLIDÁRIOS E COOBRIGADOS EM GERAL. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 6º, CAPUT, 49, § 1º, 52, INCISO III, E 59, CAPUT, DA LEI N. 11.101/2005. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: "A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005". 2. Recurso especial não provido. (REsp

1333349/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/11/2014, DJe 02/02/2015)

Nesse sentido, prospera a ressalva neste ponto específico.

Por outro lado, no tocante à ressalva relacionada à discordância do credor com , certo é que, após a aprovação do plano de recuperação judicial pela eventual novação

assembleia de credores e homologação pelo juízo competente, devem ser extintas e não apenas suspensas, as execuções individuais até então propostas contra a recuperanda, consoante precedentes jurisprudenciais oriundos do Superior Tribunal de Justiça, sobre o tema:

DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE. DECISÃO MONOCRÁTICA. POSSIBILIDADE. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO DO PLANO. EXECUÇÕES INDIVIDUAIS CONTRA A RECUPERANDA. EXTINÇÃO. DECISÃO MANTIDA. 1. Conforme a Súmula n. 568/STJ e os arts. 34, XVIII, "c", e 255, § 4º, III, do RISTJ, o relator está autorizado a julgar monocraticamente recurso,

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quando houver jurisprudência consolidada sobre o tema. 2. Após a aprovação do plano de recuperação judicial pela assembléia de credores e posterior homologação pelo juízo competente, devem ser extintas -e não ap-enas susp-ensas - as -ex-ecuçõ-es individuais até -então propostas contra a r-ecup-eranda, s-em . Precedentes. 3. nenhum tipo de condicionante à novação de que trata o art. 59 da Lei n. 11.101/2005

(AgInt no REsp 1367848/SP, Rel. Ministro ANTONIO Agravo interno a que se nega provimento.

CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 19/04/2018, DJe 26/04/2018) (sem grifo no original).

Dessa forma, no ponto a ressalva não se sustenta.

Prosseguindo-se o exame da legalidade do plano (106.2) e seus aditivos I e II apresentados, denota-se que a empresa em recuperação atendeu aos requisitos exigidos pelo art. 53 e incisos da Lei 11.101/2005: a) apresentou os meios de recuperação empregados no soerguimento da empresa; b) a demonstração de sua viabilidade econômica e b) exibiu o laudo econômico-financeiro (106.4).

Além disso, o Ministério Público Estadual não apresentou qualquer objeção ao plano de recuperação judicial.

As demais objeções apresentadas no evento 229. 253 e 254, respectivamente, por Raízen Paraguaçu LTDA, Banco do Brasil S/A, Banco Bradesco S.A, dizem respeito aos , os quais não podem ser apreciados pelo Poder aspectos econômicos do plano aprovado

Judiciário, haja vista que os credores da recuperada entenderam pela sua viabilidade.

Assim, não cabe a juízo de primeiro grau avaliar a adequação das formas e prazos de pagamento propostas pela recuperanda, se o sacrifício dos credores será excessivo ou mesmo se será possível ou não, da maneira como articulada, a efetiva recuperação da empresa.

Em outras palavras, se os credores, inequivocamente os mais interessados na superação da crise e os que estão efetivamente envolvidos no projeto, entendem pela viabilidade econômico-financeira do Plano, não cabe ao Judiciário entender de forma antagônica.

Nesse sentido, dispôs o acórdão proferido no julgamento do recurso divulgado no Informativo nº 549 do Superior Tribunal de Justiça:

DIREITO EMPRESARIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO

EM ASSEMBLEIA. CONTROLE DE LEGALIDADE. VIABILIDADE

ECONÔMICO-FINANCEIRA. CONTROLE JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. Cumpridas as exigências legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo plano tenha sido aprovado em assembleia (art. 58, caput, da Lei n. 11.101/2005), não lhe sendo dado se imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa, uma vez que tal questão é de

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exclusiva apreciação assemblear. 2. O magistrado deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação - no que se insere o repúdio à fraude e ao abuso de direito -, mas não o controle de sua viabilidade econômica. Nesse sentido, Enunciados n. 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ. 3. Recurso especial não provido. (REsp 1359311/SP, Rel.

Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/09/2014, DJe 30/09/2014)

Além disso, na I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ, foram aprovados os Enunciados n. 44 e 46, que refletem com precisão esse entendimento:

44. A homologação de plano de recuperação judicial aprovado pelos credores está sujeita ao controle de legalidade.

46. Não compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a extrajudicial com fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos credores.

A Ata da assembleia geral de credores acostada à seq. 529.2 revela que a expressiva maioria dos credores concorda e acredita que o plano apresentado irá soerguer a empresa, a qual exerce papel relevantíssimo para a economia da sociedade de Cruzeiro do Oeste e seus distritos.

Na situação em foco, os interesses dos credores são claros em aprovar o plano apresentado pela devedora, amplamente discutido e negociado, não cabendo ao juiz interferir na vontade manifestada no conclave, que é soberana.

Assim, conclui-se que a vontade dos credores há de ser respeitada, a fim de viabilizar o cumprimento do plano de recuperação aprovado na forma da lei.

Da comprovação de regularidade fiscal como pressuposto ao deferimento da recuperação judicial – análise dos arts. 57, da Lei 11.101/05.

No caso concreto, a recuperanda não juntou aos autos as certidões negativas de débitos fiscais, conforme preconiza o art. 57 da Lei 11.101/2005

Entretanto, registra-se que em recente decisão a 17ª Câmara do Tribunal de Justiça do Paraná considerou dispensável a exigência da apresentação das certidões negativas de débitos tributários como condição para a concessão da recuperação judicial, conforme o acórdão proferido no âmbito do AI 13800098-1:

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DO PLANO E

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CONCESSIVA DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. POSSIBILIDADE DE O JUDICIÁRIO AVALIAR AS CONDIÇÕES CONSTANTES DO PLANO SOB O ASPECTO DA LEGALIDADE. ENUNCIADO Nº 44 DA 1ª JORNADA DE DIREITO COMERCIAL. DESÁGIO DE 50%, CARÊNCIA DE 12 MESES E COEFICIENTE DE CORREÇÃO MONETÁRIA. PARCELAMENTO E CONCESSÃO DE PRAZOS E CONDIÇÕES QUE ESTÃO EXPRESSAMENTE PREVISTAS NA LEI Nº 11.101/05 COMO MEIO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (ART. 50, I). DIREITOS PATRIMONIAIS DISPONÍ- VEIS. IMPOSSIBILIDADE DE O JUDICIÁRIO INTERVIR EM CONDIÇÕES LIVREMENTE ESTIPULADAS E, SOBRETUDO, APROVADAS POR 69,23% NO CRITÉRIO VALOR DOS CRÉDITOS NA CLASSE III E 100% NAS CLASSES I, II E IV, OU SEJA, OBSERVADO O DISPOSTO NO ART. 58, §1º, I A III DA LEI Nº 11.101/05. NÃO-APRESENTAÇÃO DA CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS DE TRIBUTOS FEDERAIS, ILEGITIMIDADE DO AGRAVANTE PARA REQUERER DIREITO ALHEIO (ART. 18 DO NCPC), NO CASO, DA FAZENDA NACIONAL. RECENTE DECISÃO DA CÂMARA CONSIDERANDO INCONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DA APRESENTAÇÃO DAS CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS COMO CONDIÇÃO PARA A CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL(AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1380098-1)(TJPR - 17ª

C.Cível - 0011379-87.2018.8.16.0000 - Cascavel - Rel.: Fernando Paulino da Silva Wolff Filho - J. 12.07.2018).

Dessa forma, adota-se idêntica posição neste feito, em conformidade com o posicionamento adotado em precedente do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná firmado no AI 13800098-1, no sentido de flexibilizar a regra disposta no art. 57 da Lei 11.101/2005, a fim de facilitar a pretendida recuperação.

III – Dispositivo

Ante o exposto, cumpridas as exigências legais e considerando a aprovação do plano pela maioria expressiva dos credores da recuperanda, na Assembleia Geral de Credores realizada em 22 de agosto de 2018 e as que sucederam, CONCEDO A RECUPERAÇÃO JUDICIAL e HOMOLOGO O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SEUS

(seq. 106, 453, 491), apresentados por

ADITIVOS Latco Beverages Indústria e Comércio

de Bebidas e Alimentos Importação e Exportação EIRELLI, com fulcro no art. 58, da Lei 11.101/2005, ressalvado aos credores o direito de ajuizar a cobrança judicial dos créditos em face dos coobrigados e garantidores ainda que homologado o plano, sem suspensão dos feitos respectivos, observadas ainda as seguintes determinações:

a) esta decisão valerá como título executivo judicial, nos termos do art. 59, §1º Lei 11.101/2005.

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b) O devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial (art. 61 da Lei 11.101/2005)

Dispenso as certidões exigidas no art. 57 da LRF, na forma das razões acima expostas. Diante da omissão da lei, não há que se falar em incidência de despesas processuais e honorários advocatícios.

Dê-se ciência ao MP e aos demais órgãos com a mesma prerrogativa, ao administrador judicial, bem como aos credores.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Cumpra-se, conforme solicitado à mov. 478.1.

Cruzeiro do Oeste, nesta data.

ANEÍZA VANÊSSA COSTA DO NASCIMENTO Juíza de Direito

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