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CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: REPENSANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOSSORÓ (RN)

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CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: REPENSANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOSSORÓ (RN)

Érica Priscilla Carvalho de Lima – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – E-mail: ericapriscillaufrn@hotmail.com

Ariana Cericatto da Silva – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – E-mail: ariana_cericatto@hotmail.com

Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Resumo

O presente estudo parte da relevância de compatibilizar o desenvolvimento do semiárido nordestino com suas potencialidades, através da destinação de políticas públicas eficazes a fomentar a região. A área de estudo escolhida foi o município de Mossoró, objetivando analisar o desenvolvimento socioeconômico da cidade e seu rebatimento na dimensão ambiental. O objetivo geral é construir os delineamentos necessários para que essa área alcance um elevado patamar de desenvolvimento, corroborando assim o conceito de convivência com o semiárido. Desta forma, esta pesquisa irá focar nas áreas prioritárias para o desenvolvimento sustentável do semiárido e, especificamente, em Mossoró, ressaltando a problemática vivenciada nessa área: desertificação, degradação das terras, desigualdades sociais, pobreza e a questão política. Os resultados ressaltaram a importância de se pensar estratégias voltadas para equilibrar a relação meio ambiente e o aspecto socioeconômico, incentivando uma maior organização socioeconômica da população local, promovendo cadeias produtivas locais e infraestrutura hídrica, além de estimular a dinamização econômica, gerando melhorias para a população por meio da criação de emprego e renda.

Palavras-chave: Convivência com o Semiárido, desenvolvimento sustentável, Mossoró.

Abstract

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supply chains, and stimulate economic dynamism, creating improvements for the population through the creation of jobs and income.

Key words: Living with the Semi-Arid, sustainable development, Mossoró.

1. Introdução

A delimitação do que hoje é a região Nordeste foi resultado da divisão territorial político-administrativa segundo o critério de diferenciações espaciais. A definição da região foi alicerçada em questões de cunho político, visto que foi influenciada pela postura das elites regionais que utilizavam a problemática da seca para auferir uma série de benefícios e vantagens (CARVALHO, 2008).

O discurso da seca foi amplamente utilizado e atribuiu ao Nordeste o estigma de “região problema”. Soma-se a isso a própria imagem de pobreza relacionada à região e o etnocentrismo das demais regiões com o Nordeste, em especial o Sudeste. Esse processo implicou no que se denomina de “indústria da seca”, que refere-se à vitimização da região pelas elites dominantes para receber recursos públicos.

Diante disso, a área do semiárido emerge como espaço potencialmente vulnerável e central para o combate às secas. No Nordeste, mediante medidas estatais como a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), foram implantadas políticas para programas hídricos, priorizando o acúmulo das águas das chuvas em açudes para o consumo e a continuidade das atividades produtivas (BEZERRA, 2004).

Todavia, o foco das políticas centrou-se na questão da irrigação, não sendo articulado com um projeto amplo para o desenvolvimento sustentável da região e com pouco efeito para reverter o atraso socioeconômico. A necessidade de ações mais abrangentes condicionou um novo ideário para a construção de políticas públicas mais eficazes no semiárido, criando assim a proposta de convivência com o semiárido.

A partir desse enunciado, o presente estudo partirá da pertinência de compatibilizar o desenvolvimento do semiárido nordestino com suas potencialidades, através da destinação de políticas públicas eficazes à fomentar a região. Sendo assim, o recorte espacial do presente estudo será o município de Mossoró, no período de 2000 a 2014. O objetivo geral é analisar o desenvolvimento socioeconômico de Mossoró e seu rebatimento na dimensão ambiental no período recente, a partir da compreensão do conceito de convivência sustentável.

Este trabalho, portanto, parte da ideia defendida por Furtado (1959; 1974; 1984), o qual ressalta que o problema central do semiárido não se encontra no ano de seca, mas no ano bom, visto que nesse ano se formaria a “Indústria da seca”, que consistiria no enriquecimento dos coronéis nordestinos. Ademais, o autor tira o enfoque no combate à seca para a prioridade de fomentar a economia no semiárido.

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Diante deste questionamento, esta pesquisa justifica-se pela pertinência de se pensar políticas públicas voltadas para atenuar a problemática vivenciada no semiárido, a qual envolve não só a questão ambiental, mas também a social, a econômica e a política.

A construção desse trabalho foi embasada pelos seguintes procedimentos metodológicos: revisão da bibliografia sobre a temática e levantamento de dados que pudessem corroborar na análise do semiárido brasileiro. Em relação às fontes de pesquisa, foram utilizadas fontes secundárias obtidas em base de dados de órgãos nacionais, principalmente os fornecidos pelo Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCTI, 2014).

O trabalho é composto por três seções: a primeira expõe o referencial teórico acerca do semiárido brasileiro, contextualizando e caracterizando esse espaço. Na segunda seção, descreve-se sobre a questão do desenvolvimento em Mossoró, indicando os principais desafios e potencialidades do município, através do conceito de convivência com o semiárido. E, por último, seguem as considerações finais do trabalho.

2. CARACTERIZANDO O SEMIÁRIDO BRASILEIRO

O semiárido brasileiro é predominante na região nordestina, caracterizado por um extenso período seco e chuvas escassas. A elevada abrangência territorial do semiárido intensifica a relevância de compreender como seus elementos naturais são constituídos. Geologicamente, o semiárido é caracterizado por acentuada heterogeneidade de rochas, devido aos denominados fatores endógenos passivos. Tais fatores “[...] representam a maneira como as rochas estão distribuídas pela superfície e como elas exercem resistência contra os efeitos dos processos de intemperismo e erosão” (BASTOS; CORDEIRO, 2012, p. 467).

De acordo com os dados do Ministério da Integração (2014), o Semiárido brasileiro compreende uma área de 969.589,4 km², abrangendo 1.133 municípios de nove unidades federativas: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o extremo norte de Minas Gerais (Figura 1).

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Fonte: Agência Nacional de Águas (ANA); Ministério da Integração (2014).

A área do semiárido tornou-se uma das mais fragilizadas no Brasil, tendo em vista que atravessou um processo de exploração e ocupação desenfreada que resultou no uso indiscriminado dos seus recursos naturais. Ademais, a ação humana impactou para o aprofundamento da problemática no semiárido, considerando-se que as atividades ali implantadas não levaram em conta as características internas e resultaram em elevados impactos ambientais, tais como: desmatamento, erosão, empobrecimento do solo e da vegetação (SILVA, 2003).

Segundo Brasileiro (2009), a caatinga é predominante no semiárido nordestino e apresenta o clima tropical semiárido, ou seja, caracterizado pela ocorrência de um período chuvoso curto e extensos períodos sem chuva.

A vulnerabilidade do bioma é assunto recorrente nos estudos atuais, principalmente, pela questão da desertificação atravessada na região, que de acordo com Costa et al. (2009, p. 962) pode ser definida como “[...] a degradação dos solos, dos recursos hídricos e da biodiversidade, nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultantes de fatores climáticos e atividades humanas”. Algumas práticas corroboram à intensificação da fragilidade ambiental da caatinga, com destaque para: a condução da atividade agrícola inadequada; o processo de desmatamento; infertilidade do solo; erosão, salinização e processo de compactação do solo (BRASILEIRO, 2009).

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voltadas para atenuar a problemática deste espaço. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007), 67% das famílias rurais dos estados do semiárido não têm acesso à rede geral de abastecimento de água, pois 43% utilizam poços ou nascentes e 24% utilizam outras formas de acesso à água. Quando se analisa a estrutura fundiária, verifica-se a elevada concentração da terra, que justifica o elevado êxodo na região, que segundo dados mais de 520 mil pessoas deixaram de viver nesse território nos últimos dez anos (IBGE, 2010).

Com vistas a entender a realidade atual do semiárido brasileiro, o próximo tópico abordará alguns dados relevantes para a análise no período recente. Pretende-se com isso mostrar o panorama socioeconômico do semiárido e indicar as fragilidades de tal espaço. 2.1 PANORAMA SOCIOECONÔMICO DO SEMIÁRIDO NO PERÍODO RECENTE

Segundo dados do INSA, em 2014 a população estimada no semiárido atingiu 23.846.982 habitantes, representando 42,44% da população do Nordeste e 11,76% da população brasileira. Além disso, entre 2010 e 2014 a população semiárida cresceu 5,24%, sendo esse incremento populacional maior que o crescimento alcançado por alguns estados no mesmo período, tais como: Ceará (4,05%); Paraíba (3,6%) e Piauí (2,06%).

A Figura 2 mostra a distribuição dos municípios do semiárido segundo o critério do número de população. De acordo com a figura, pode-se notar que grande parcela dos municípios se encontra em cidades de pequeno porte, haja vista que mais de 90% dos mesmos apresentam até 50.000 habitantes. A faixa mais representativa são os municípios com 10.001 a 20.000 habitantes, que compreenderam 32,69% dos municípios.

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15,95% 22,64% 32,69% 21,50% 5,55% 1,59% 0,09% Até 5.000 5.001 - 10.000 10.001 - 20.000 20.001 - 50.000 50.001 - 100.000 100.001 - 500.000 500.001 - 900.000

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do INSA (2014).

Analisando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Semiárido brasileiro, em 2010, 59, 47% dos municípios apresentaram IDH baixo e 39,21% médio. Além disso, todos os municípios apresentaram IDH menor que o encontrado no Brasil (0,727). Os dados do IDH, por compreenderem as dimensões de longevidade, educação e renda, reforçam a problemática socioeconômica do Semiárido.

A elevada representação da caatinga no território brasileiro, bem como a problemática ambiental enfrentada atualmente, acentuam a relevância de pensar políticas mitigadoras. Além da crescente importância da educação ambiental, verifica-se a busca por práticas que contribuam para o desenvolvimento rural sustentável. Entre essas estratégias, tem-se a agroecologia como alternativa centrada em uma agricultura inclusiva que equilibra a relação meio ambiente x sociedade. Outras alternativas são o turismo ecológico e o manejo sustentável de algumas matérias-primas.

2.2 O CONCEITO DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

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A convivência com o Semiárido pode ser compreendida como estratégias voltadas para promover o desenvolvimento sustentável dessas áreas. Um ponto essencial é que se almeja uma nova relação entre o meio ambiente e a sociedade, visto que as melhorias sociais só serão alcançadas mediante a redução das fragilidades dos ecossistemas locais. Desta forma, a convivência com o Semiárido objetiva não só as melhorias nas condições de vida da sociedade, mas uma maior participação social através da promoção da cidadania, ações socioeconômicas adequadas, em consonância com a preservação dos recursos naturais (LIMA; WEHRMANN, 2012).

Quando se falam sobre as áreas semiáridas, os fatores externos centrais são um bioma predominantemente baseado na escassez do solo e com pouca chuva. A compreensão dessas características é fundamental para a condução de políticas públicas destinadas a essas áreas. Como salienta Filho e Souza (2006, p. 1), o grande desafio que permeia o semiárido é a heterogeneidade existente, referindo a diferença no solo, relevo, fauna e flora. Assim, “[...] devido à falta de informações e critérios universais não é fácil definir precisamente o conceito e abrangência das zonas semiáridas”.

Atualmente, a problemática ambiental no semiárido refere-se ao uso de técnicas ineficazes e atividades produtivas que comprometem as condições do solo, verificando a erosão, desmatamento, queimadas e perdas na biodiversidade nessas áreas (MAGALHÃES et al., 2012).

A partir da compreensão do semiárido, bem como de suas potencialidades e desafios, emergiram algumas estratégias para um melhor aproveitamento dos recursos naturais, entre os quais se destaca o Sistema Mandala. O projeto Mandala tem como objetivo dinamizar a agricultura familiar de forma sustentável. Esse sistema baseia-se em uma produção organizada em círculos concêntricos, com vistas a atenuar o uso de insumos produzidos externamente, racionalizar os recursos hídricos e alcançar uma produção diversificada e sustentável.

O grande desafio ao se pensar em como reverter o quadro da problemática ambiental centra-se em encontrar políticas públicas que possibilitem compatibilizar as potencialidades locais com um modelo que não comprometa as condições do meio ambiente, ou seja, uma proposta sustentável e que equilibre a relação disponibilidade de recursos naturais X dinamização do município.

Em suma, é essencial perceber que as consequências da acentuação da questão ambiental manifestam-se não só através dos processos de desertificação, erosão, elevação da temperatura, redução da disponibilidade de água, que já são visíveis no território estadual, mas ocasionam também malefícios para a vida social, visto que causam doenças e elevação da pobreza. Assim, as sugestões para a convivência no semiárido permeiam pela necessidade de uma educação ambiental cada vez mais inclusiva e exploração equilibrada dos recursos naturais através de práticas sustentáveis, a exemplo da agroecologia.

O Rio Grande do Norte se insere neste contexto pela acentuação da problemática que envolve o semiárido. A problemática central reside no processo de desertificação verificado no estado que eleva a necessidade de pensar políticas públicas que possam reverter esse problema. Verifica-se, também, uma série de problemas ambientais constatados.

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ambiental verificada no município. Além das ocupações irregulares, sejam moradias ou de empreendimentos de pequenas atividades comerciais, nas margens do rio, a poluição e a destruição da mata ciliar são impactos ambientais que agravam ainda mais o problema.

3 REFLEXÕES ACERCA DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO EM MOSSORÓ

O município de Mossoró localiza-se, político-administrativamente, na Mesorregião Oeste Potiguar, no estado do Rio Grande do Norte. Possui uma localização estratégica por estar centrada entre as capitais do Rio Grande do Norte e Ceará (Figura 3), na área semiárida do estado. Mossoró é a segunda cidade mais populosa do RN, contando com mais de 250 mil habitantes segundo censo do IBGE de 2010, que na época apresentou uma densidade demográfica de 123,76 (hab/Km²). Segundo o Censo do IBGE (2010), a população rural do município foi estimada em 22.574 (9%) e a urbana em 237.241 (91%).

Figura 3: Localização geográfica de Mossoró (A), Natal (B) e Fortaleza (C)

Fonte: Google Maps (2014).

A intensificação do desenvolvimento econômico de Mossoró ocorreu a partir dos anos de 1980, quando o município se tornou palco de grandes investimentos estatais, principalmente, com a instalação da PETROBRÁS, que aliado com o desenvolvimento da sua atividade salineira e do seu distrito industrial, garantiu à cidade um crescimento industrial diversificado. Além disso, nesse período ocorreu, também, a consolidação da agricultura irrigada, constituída pelo polo Açu/Mossoró, que além de favorecer a formação do setor agroindustrial na região, possibilitou a instalação de novas atividades e atraiu novos habitantes para a cidade.

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menores para o produto final do que para a matéria-prima, atraindo a indústria para a proximidade da base de recursos naturais” (TORRES, 1993, p. 53).

O número de empregos industriais era de 4.702, em 1990 e eleva-se para 17.724, em 2010 (Tabela 1). Um dado importante é a redução persistente da participação da atividade de alimentos e bebidas, a qual era a mais importante em 1990, representando 50,6% dos empregos industriais, reduzindo sua participação para 15,5%, em 2010. Em contrapartida, verificou-se a elevação da atividade extrativa mineral no município, a qual representou 8,27% do emprego industrial, em 1990, e passou a 21,43%, em 2010, sendo a segunda atividade com maior participação nesse ano.

Tabela 1 - Distribuição do emprego industrial por segmento em Mossoró: 1990, 2000 e 2010*

1990 % 2000 % 2010 %

Extrativa mineral 389 8,27 2042 23,78 3.799 21,43 Mineral não metálico 493 10,48 398 4,63 863 4,87 Indústria Metalúrgica 41 0,87 171 1,99 1.897 10,70 Indústria Mecânica 4 0,09 225 2,62 419 2,36 Elétrico e comunicação 1 0,02 0 0,00 47 0,27 Material de transporte 2 0,04 26 0,30 174 0,98 Madeira e Mobiliário 171 3,64 188 2,19 358 2,02 Papel e gráfica 58 1,23 196 2,28 452 2,55 Borracha, fumo e couros 16 0,34 50 0,58 151 0,85 Indústria química 227 4,83 511 5,95 656 3,70 Indústria têxtil 176 3,74 225 2,62 185 1,04 Indústria de calçados 11 0,23 10 0,12 1 0,01 Alimentos e bebidas 2379 50,60 2942 34,26 2.751 15,52 Serviço de Utilidade pública 259 5,51 182 2,12 230 1,30 Construção civil 475 10,10 1421 16,55 5.741 32,39

Total 4.702 100 8.587 100 17.724 100

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, 2014). (Adaptado pela autora)*

O extrativismo mineral elevou-se pela descoberta de petróleo na localidade do Canto do Amaro, em 1986, que consolida a atividade petrolífera no município, tornando-o o maior campo produtor de petróleo, em terra, do Brasil. Com isso, Mossoró consolidou o Rio Grande do Norte como o segundo maior produtor de petróleo do país. Devido a instalação da PETROBRÁS, Mossoró recebeu outras empresas responsáveis pela prestação de serviços petrolíferos, aumentando a população e a pressão de oferta de trabalhos.

Outra atividade industrial importante em Mossoró é o parque salineiro que contribui, aproximadamente, com 95% da produção brasileira de sal marinho. Essa posição de destaque da produção de sal em Mossoró deve-se, sobretudo, a uma série de fenômenos naturais que são ideais para a indústria salineira: solo impermeável, que garante condições propícias para a cristalização e colheita do sal.

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distribuição setorial do emprego em Mossoró, foi a perda da participação da atividade de alimentos e bebidas. Essa atividade era a maior responsável pela geração de emprego no município em 1990 (50,6%) e vem perdendo drasticamente sua participação, atingindo 15,5%, em 2010. Verifica-se, também, a crescente participação da indústria metalúrgica, a qual representava apenas 0,87%, em 1990, e passou a 10,7%, em 2010 (RAIS, 2014).

3.1 PERFIL AMBIENTAL DE MOSSORÓ

O IBGE, conjuntamente, com o Ministério do Meio Ambiente, realizou uma pesquisa junto às prefeituras brasileiras para indicar o perfil da questão ambiental no território nacional. De acordo com os dados, no Rio Grande do Norte, os problemas ambientais mais presentes nos municípios e que afetam as condições de vida social são: presença de esgoto a céu aberto, ocorrência de doença endêmica ou epidemia, desmatamento, presença de lixão na proximidade de área de ocupação humana, presença de vetor de doença, contaminação de rio, escassez de água e ocupação irregular e desordenada do território (IBGE, 2002).

A rápida urbanização de Mossoró condicionada sem a devida preocupação em critérios ambientais resultou numa série de problemas ao município. Os dados do IBGE (2002) reafirmam o impacto ambiental na sociedade e indicam que as alterações mais significativas no município foram: contaminação de rio, escassez de água, doença endêmica, presença de lixão, presença de vetor e esgoto a céu aberto. Tais resultados ratificam a relevância de relacionar como as questões ambientais afetam a dinâmica social, pois é sobre a população de baixa renda que incide as consequências citadas.

Quando se examina a poluição da água em Mossoró, as principais justificativas são: criação de animais, além de despejos de esgotos doméstico e resíduos sólidos. A poluição do rio Apodi-Mossoró representa o elevado nível da problemática ambiental no município, visto que, além dos pontos citados, o rio está sofrendo um processo de assoreamento, diminuição da sua mata ciliar e contaminação no perímetro urbano da cidade, ou seja, espaço habitado por uma parte da população de Mossoró. Oliveira e Queiroz (2008, p. 9) sintetizam as principais fontes da poluição do rio:

[...] as principais causas da poluição e degradação ambiental desse manancial, são o desmatamento da mata ciliar e a retirada de areia para a construção civil; lavagem de veículos e banho de animais; lixo depositado nas margens do rio; lançamento de esgotos domésticos e de oficinas. O desmatamento da mata ciliar deixa as margens do rio desprotegidas sendo causa do assoreamento. A retirada de areia, insumo utilizado em larga escala na construção civil, provoca a redução de diversas espécies da fauna e flora aquática, reduzindo a biodiversidade aquática do rio.

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lançamento de esgotos, são alguns fatores irregulares presentes no município e que contribuem para o cenário caótico visível em Mossoró.

As questões ambientais em Mossoró estão ganhando grandes proporções devido a intensa deterioração dos recursos naturais e a existência de atividades de grande impacto, como a indústria petrolífera, que, em conjunto, geram o assoreamento e poluição dos cursos e espelhos d'água já observados na cidade (SILVA, 1993). O desenvolvimento de uma série de atividades industriais em Mossoró resultou num crescimento econômico, refletido nos crescentes PIB e empregos industriais. Entretanto, as administrações públicas estaduais e municipais não têm levado em conta os danos ambientais que se multiplicam no espaço geográfico do município (OLIVEIRA; QUEIRÓZ, 2008).

Mossoró é, atualmente, uma das principais cidades do interior nordestino, atraindo grandes investimentos nacionais. Ademais, o município apresenta um grande potencial econômico, tendo como uma tríade: o sal, a fruticultura e o petróleo, que são os alicerces da economia municipal. Contudo, as atividades econômicas desenvolvidas na região vêm acarretando mudanças na paisagem ambiental. Como afirma Petta et al. (2007, p. 1-2):

Os mangues, definidos como área de preservação permanente por legislação ambiental nacional, após a implantação das salinas há mais de 50 anos, foram devastados, e hoje grande parte dessas áreas encontram-se ocupadas pelos viveiros de camarão. A área de caatinga, começa a ser ocupada também pela atividade da carcinicultura e principalmente pelo petróleo. Consequentemente a utilização de agrotóxicos nas áreas agricultáveis de fruticultura e o comprometimento do aquífero pelo uso descontrolado da água; a exploração intensiva pela Petrobrás com desmatamento indiscriminado, vazamentos de óleo, enterro de refugos sem o menor cuidado ambiental e lançamento de dejetos no Rio Mossoró, vêm contaminando vastas áreas e degradando o ambiente estuarino e favorecendo o processo de desertificação.

O comprometimento das águas do Rio Mossoró, segundo maior rio do Rio Grande do Norte, é um exemplo da vulnerabilidade ambiental verificada no município. Além das ocupações irregulares, sejam moradias ou de empreendimentos de pequenas atividades comerciais, nas margens do rio, as poluições e a destruição da mata ciliar são agravantes dessa situação.

A construção civil, segunda maior atividade industrial do município e requerido pela administração municipal, serve como indicador para o desenvolvimento urbano, gerando uma série de impactos ambientais, em especial, devido a verticalização urbana de algumas áreas elitizadas de Mossoró. O forte e contínuo movimento de construções de novos conjuntos habitacionais, fruto do crescimento urbano, vem impermeabilizando o solo local, promovendo o desaparecimento da vegetação, além do elevado desperdício de água (PETTA, 2007).

Assim, as fragilidades institucionais aliadas a um conjunto de indústrias, baseadas na exploração desenfreada dos recursos naturais, criam um contexto de elevada vulnerabilidade em Mossoró. As consequências não se limitam à mudança da paisagem já verificada no município, mas abrange a diversidade ambiental e as condições de vida da sociedade.

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O desenvolvimento da região semiárida deve ocorrer em paralelo com a afirmação da sua capacidade endógena de crescimento econômico, ou seja, tal área deve ser vista como um espaço potencialmente viável. Sintetizando, “[...] do ponto de vista da dimensão econômica, a convivência é a capacidade de aproveitamento sustentável das potencialidades naturais, em atividades produtivas, apropriadas ao meio ambiente” (SILVA, 2006, p. 234).

Com vistas a alcançar uma relação harmônica no semiárido, uma série de estratégias podem ser adotadas. Inicialmente, deve-se priorizar a educação ambiental, pois esta funciona como elemento que moldará ações conscientes da sociedade no meio ambiente. Um ponto essencial é que essa relação de ensino e aprendizagem envolve condicionantes culturais e historicamente constituídos, assim seus efeitos serão visíveis gradualmente.

Dessa forma, o conhecimento previamente constituído precisa ser complementado pelas novas tecnologias que favorecem a descoberta de novas formas para o aproveitamento do solo e dos recursos naturais. Sendo assim, a complementaridade do conhecimento tradicional e do moderno possibilita um aprofundamento dos estudos sobre as práticas mais adequadas para o semiárido.

No caso de Mossoró, a convivência sustentável envolve a superação dos desafios ambientais e a adoção de métodos produtivos que promovam maior equilíbrio no acesso aos recursos naturais. Silva (2006) cita alguns exemplos práticos, tais como: agroecologia; uso sustentável da Caatinga; ações associativas e cooperativas; criação de pequenos animais.

Para promover o uso sustentável dos recursos naturais no município é necessário, primeiramente, encontrar uma relação que compatibilize os ecossistemas naturais com o aspecto socioeconômico. É fundamental entender que a convivência sustentável com o semiárido perpassa por esse ponto, ou seja, não pode-se dissociar o aspecto ambiental dos demais, tais como: socioeconômico, político, cultural, entre outros. Um exemplo desse ponto é adoção de programas voltados para ampliar a educação ambiental, objetivando o disciplinamento da dimensão ambiental na sociedade. Outro ponto central que surge é a relevância de ações voltadas para a gestão dos recursos hídricos com vistas a aumentar o acesso à água para a população.

Outro ponto essencial é a prioridade à organização social que favorece a inserção da população no processo decisório. Deste ponto surge a relevância de incentivar o associativismo e o cooperativismo, que favorecem a melhoria do bem-estar social e contribuem para que a população seja vista como parte integrante do processo.

Em suma, as ações devem ser centradas no manejo sustentável do ecossistema, priorizando modelos produtivos de convivência com o semiárido. Um ponto central é que as políticas públicas criadas para o semiárido devem ser focadas em estratégias de gerir bem os recursos naturais, promovendo uma maior eficiência no uso e criando condições sustentáveis para o seu manejo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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com o semiárido. Esse conceito refere-se a ações que visam uma maior dinamização de cadeias produtivas, interligadas por programas que ampliem a infraestrutura hídrica.

Diante desse discurso, o presente trabalho descreveu como o cenário econômico impactou o meio ambiente, em Mossoró. Além disso, baseando-se no conceito de convivência com o semiárido, foram elencadas algumas estratégias voltadas para conviver com as particularidades do município, através da adoção de ações tradicionais e o desenvolvimento de novos modelos produtivos através de métodos mais adequados, com vistas a melhorar as condições de vida da sociedade.

Em suma, devem-se priorizar ações voltadas para equilibrar a relação meio ambiente e aspecto socioeconômico, mediante estratégias que reduzam as deficiências trazidas pelas condições climáticas internas à região semiárida, incentivando uma maior organização socioeconômica da população local, promovendo cadeias produtivas locais e infraestrutura hídrica, além de estimular a dinamização econômica, gerando melhorias para a população por meio da criação de emprego e renda.

REFERÊNCIAS

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