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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA/PPGG CURSO DE DOUTORADO LUCAS ATANÁSIO CATSOSSA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA/PPGG CURSO DE DOUTORADO

LUCAS ATANÁSIO CATSOSSA

DOURADOS, MS 2020

DISPUTAS TERRITORIAIS ENTRE O CAMPESINATO E O AGRONEGÓCIO NO

CORREDOR DE NACALA EM MOÇAMBIQUE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA/PPGG CURSO DE DOUTORADO

LUCAS ATANÁSIO CATSOSSA

DISPUTAS TERRITORIAIS ENTRE O CAMPESINATO E O AGRONEGÓCIO NO CORREDOR DE NACALA EM MOÇAMBIQUE

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação – Doutorado em Geografia, da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Geografia.

Área de concentração: Produção do espaço regional e fronteira

Orientador: Prof. Dr. João Edmilson Fabrini

Dourados-MS

2020

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DISPUTAS TERRITORIAIS ENTRE O CAMPESINATO E O AGRONEGÓCIO NO CORREDOR DE NACALA EM MOÇAMBIQUE

BANCA EXAMINADORA

TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR

Presidente/Orientador Prof. Dr. João Edmilson Fabrini

________________________________________________

1º Examinador

Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho

________________________________________________

2ª Examinadora

Profª. Drª. Marcia Yukari Mizusaki

________________________________________________

3º Examinador

Prof. Dr. Bernardo Mançano Fernandes

_________________________________________________

4º Examinador Prof. Dr. João Cleps Júnior

(Participação remota)

_________________________________________________

Dourados, 14 de Fevereiro de 2020

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i Às seguintes mulheres guerreiras e herroínas da minha vida:

Albertina Capalamula, a razão da minha re-existência e das minhas lutas quotidianas;

Beatriz Capalamula (In memoriam),minha fonte inspiração, sobretudo, por ter sido uma excelente educadora e uma mãe maravilhosa;

Amélia Catsossa (In memoriam), uma biblioteca viva.

Aos:

Camponeses e camponesas do Corredor de Nacala que dia-pós-dia, lutam e resistem

contra a classe dominante e opressora que invadem os seus territórios para

continuarem sendo os mesmos sujeitos de sempre.

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ii AGRADECIMENTO

Desde do início da minha jornada acadêmica, sempre quis dar a minha contribuição a ciência geográfica. Essa pretensão surge numa altura, por exemplo, em que a Geografia moçambicana era criticada por estudiosos de outras áreas do conhecimento científico por alegadamente estar ausente (e/ou por causa do suposto silêncio) no debate nacional. No entanto, a ideia era trazer uma contribuição que dismistificasse a ideia segundo a qual, a contribuição da Geografia moçambicana ao debate nacional não ia além da elaboração de mapas temáticos. Também queria contribuir na desmistificação da ideia segundo a qual, a Geografia feita em Moçambique é uma Geografia enciclopédica, aquela que supostamente se interessa em saber as capitais províncias, os principais rios e solos que ocorre em Moçambique, etc.

Através desta tese, queria demonstrar que a Geografia moçambicana vai além da elaboração de mapas temáticos e da suposta Geografia enciclopédica ao tratar questões mais complexas que outras áreas do conhecimento científico não enchergam. Que só a Geografia é capaz de enchergar e mostrar os dramas, os traumas, as perversidades, as ambivalências, as contradições, os conflitos e as tensões geradas pela atual globalização neoliberal num determinado contexto geográfico –, territorial. Outrossim, queria registrar a trajetória secular dos camponeses moçambicanos e, sobretudo, do Corredor de Nacala na luta histórica pela terra/território, pela vida e pelo trabalho livre. Pela abordagem seguida nesta tese, arrisco-me afirmar que em termos dos assuntos tratados, ela não tem apenas a dimensão nacional, mas sim, global. Esta tese procura inserir a Geografia moçambicana (e Moçambique, no geral) no debate global sobre a produção capitalista do espaço e as suas contradições. Para dizer que esta tese vai além minha realização pessoal em termos acadêmicos, embora inicialmente fosse este o objetivo principal.

Durante o meu percurso acadêmico na pós-graduação, sobretudo, no Doutorado (tal como aconteceu durante o mestrado), necessitei do apoio e estímulo de muitas pessoas

“dentro” e “fora” do convívio familiar, por isso, considero-as como sendo também

responsáveis por este mérito e reconhecimento. Quero deixar registrado algo que se calhar

não é comum nas pessoas nos disa de hoje, o saber agradecer. Vivemos num mundo em

que agradecer virou virtude nas pessoas. Para dizer que no mundo em que vivemos, há

poucas pessoas que agradecem pelo que os outros fazem por elas e/ou que recebem dos

outros. Tenho certeza que, quem será chamado “Doutor” e/ou “Professor Doutor” pelo

mundo não serão as pessoas que estiveram por de trás das minhas realizações e do meu

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iii sucesso acadêmico, mas sim, serei eu a partir do momento que for lida a ata de defesa, dando conta de que fui aprovado pela banca examinadora.

Essa tem sido a regra. Já vi (e presenciei) várias situações em que as pessoas que estiveram por de trás das realizações e do sucesso na vida de outrem a serem tornadas invisíveis. Esquece-se, no entanto, as pessoas que as ajudaram a alcançar os sonhos e sucessos na vida. No meu caso, o reconhecimento e o mérito desta conquista é extensivo a todas as pessoas que estiveram comigo incondicionalmente nesta caminhada e, em última instância, a universidade a qual frequentei o doutorado, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e de forma particular, o Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG). Durante período que frequentei o doutorado, conversei com muitas pessoas, tanto formalmente assim como informalmente e essas conversas decorreram em eventos científicos, nas salas de aulas, durante a banca de qualificação, no grupo de pesquisa, espaços de lazer, etc.

Os argumentos de certas pessoas, obrigram-me a (re)pensar, sobretudo, no tratamento tema em alusão, fato que me levou até um dado momento a mudar a abordagem de determinados assuntos. Para dizer que, esta tese é uma construção coletiva e não individual, muitas pessoas que participaram em todo o processo de construção das ideias aqui transformadas em ciência. Mas, vale realçar que, de um momento para outro, a minha formação pós-graduada, acabou se tornando num projeto para determinadas pessoas, sobretudo, do lado brasileiro. Houve uma mobilização de muitas pessoas solidárias e de alto nível de humanismo para que o meu sonho de ser «Doutor em Geografia» fosse materializado com sucesso. As pessoas que me apoiaram nesta caminhada tão delicada e desafiante não são poucas. São muitas e não haverá espaço para trazer a lista de todas elas. Para as pessoas, cujos nomes não farão parte da lista, vai o meu muito obrigado por terem dado o seu contribuito mesmo de forma indireta.

Primeiro, agradeço ao meu orientador, o Prof°. Dr°. João Edmilson Fabrini por ter

abraçado o desafio de orientar-me no doutorado. Não pretendo trazer aqui todas as suas

qualidades enquanto ser humano, pois levaria muito tempo e ocuparia muitas páginas para

descrevê-las. Apenas, quero destacar que me orgulho tanto por (e/ou de) ter sido orientado

por ele no doutorado, pois dele, aprendi muito. Foi a única pessoa que leu tudo quanto

esccrevi com ou sem sentido, mas ele não deixou de ler, foi até ao fim na tentaiva de

acompanhar o meu raciocínio e entender o que pretendia (e/ou queria) dizer ao (d)escrever

determinados assuntos. Agradeço-lhe também pela sua generosidade e pelo seu alto nível

de humanismo, pois foi graças ao seu esforço, aos seus ensinamentos, conselhos

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iv motivacionais, incentivo, apoio moral e material incondicional que foi possível realizar a pesquisa que resultou nesta tese.

Um agradecimento especial vai para o Prof°. Dr°. Edvaldo Moretti. Quero registrar que foi ele o arquiteto da minha formação pós-graduada (mestrado e doutorado) no Brasil, por isso, merece todo o reconhecimento e mérito do mundo. Se não fosse ele, esta tese não existiria. A ideia que mais tarde se tornou numa realidade de fazer o doutorado, surgiu dele minutos depois da minha qualificação no mestrado em Dezembro de 2015 e nessa altura, ele era o meu orientador. Foi ele quem me incentivou a começar a pensar num projeto para o doutorado. A ele, vai o meu agradecimento pelo seu apoio incondicional, material e moral em todo o meu percurso acadêmico na UFGD.

Nesta lista de pessoas que me incentivaram e me deram o apoio material e moral incondicional, adiciona-se também a Profª. Drª. Silvana Moretti, uma pessoa generosa, solidária e humilde. A ela, vai o meu muito obrigado por tudo, sobretudo, o amor, afeto, carinho que me proporcionou durante a minha formação pós-graduada (mestrado e doutorado) na UFGD. O meu agradecimento é extensivo a Profª. Drª. Marisa de Fátima Lomba de Farias, pois de tanto ser uma pessoa generosa, humilde e com alto nível de humanismo, não mediu esforços para me apoiar moral e materialmente durante o meu percurso acadêmico na UFGD. Um agradecimento especial vai também ao Prof°. Dr°.

Douglas Santos pela amizade durante este percurso acadêmico no Brasil.

De igual modo, agradeço também ao Prof°. Dr°. Guilhermo Johnson e sua esposa, Gorete de Souza. Além de incentivos, conselhos, apoio material e moral, este casal foi solidário pela minha causa. Igualmente, tive também o incentivo e apoio moral de muitos membros do Grupo de Pesquisa Território (GTA), o qual, faço parte desde 2014. Por isso, o meu agradecimento é extensivo a todos os membros do GTA e de forma particular agradeço a Karol(ine), Ângelo, Bruno, João Batista, Cecília, Vera, Cristina, por estarem sempre presentes e disponíveis quando precisei de alguma ajuda.

Agradeço também aos/as professoras/as do Programa de Pós-Graduação em

Geografia (PPGG) e o destaque vai para o Jones Goetrert, Silava de Abreu, Márcia

Mizusaki, Maria José, Lisandra Lamoso, Flaviana Nunes; Juliana Motta; Charlei da Sila,

Adáuto Souza, Adeir Archanjo, André Berezuk. Marco Mondardo. Aos professores/as

convidados/as com distaque para Maria Laura Silveira, Eduardo Salinas. Maristela

Ferrari, Anne-Laure Amilhat-Szary. De igual modo, agradeço o corpo administrativo da

FCH, sobretudo, a secretária do PPGG, Érica e os/as funcionários/as que cuidam das

chaves dos laboratórios e das sala de estudos, com distaque para a Jussara. O meu

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v agradecimento vai também para a banca de qualificação, sobretudo, a Profª. Drª.

Rosemeire Aparecida de Almeida e ao Prof. Dr. Rodigo Simão Camacho pelas importantes contruibuições e sugestões que culminaram com a eleboração desta tese.

Agradeço igualmente a banca de defesa, sobretudo, ao Prof. Dr. Rodigo Simão Camacho e a Profª. Drª. Márcia Yukari Mizusaki, ambos do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGG/UFGD), ao Prof. Dr.

Bernardo Mançano Fernandes do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho” (PPGG/UNESP)/Campus Presidente Prudente e ao Prof. Dr. João Cleps Júnior do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (IG/UFU) pelas ricas contribuições e sugestões que culminaram com o esclarecimento de alguns equívocos que haviam sido cometidos.

Em Moçambique, agradeço a Profª. Drª. Inês Macamo Raimundo pela sua presença durante a minha formação pós-graduada. Não se faz um percurso deste sem o apoio e incentivo familiar, por isso, agradeço também a minha família e de forma particular, ao meu irmão mais velho, Eusébio Artur, por ter sabido guiar-me em todo o meu processo de formação acadêmica (licenciatura, mestrado e no doutorado). Nesta lista de irmãos/ãs, agradeço ao Paito, Benito, Beatriz, Êfelo, Edina, Manucha, Ester, Rita, Rosa, e entre outros. Aos meus sobrinhos e sobrinhas: Artur, Helena, Aristóteles, Eusébio Jr, Regina, Inês e entre outros. Aos tios Mariano e Salamo. Às cunhadas Carolina e Gina.

Quero realçar que, é quase impossível fazer ciência sem o estímulos de grandes amigos/as. De Moçambique, o meu agradecimento vai para Régio Conrado com que discuti vários assuntos contidos nesta tese, mesmo um distante do outro, eu no Brasil e ele na França. O agradecimento é extensivo para Valério, Jonas Matope, Clemente Ntauazi; Aníbal Colher, Luís, Machamba, Pedgod, Milênio, António Gaveta, Faruk e entre outros. No Brasil, o meu agradecimento vai para Bruno Campos com que várias vezes partilhei a minha produção acadêmica e a sua esposa, Milena; ao Wagner Goulart e a Daiane Alencar, Gilson, Sandra Procópio, Cristiano Almeida; Alex, Elâine Ladeia, Bárbara; Ana Cristina, João Paulo Marin; Fábio Lima, Renata; Augusto; Cleiton Messias.

Em nome destes, também quero agradecer os colegas do mestrado e doutorado

com quem partilhei a mesma sala de aulas. Agradeço também às instituições públicas e

privadas, entidades, organizações da sociedade civil e os camponeses que aceitaram dar

entrevistas ou informações relevantes para a pesquisa que resultou nesta tese. E

finalmente, o meu agradecimento especial vai para a CAPES por ter financiado a minha

formação acadêmica neste grau acadêmico específico.

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vi

«Anteriormente, as grandes nações mandavam seus exércitos par conquista territórios e o nome disto era colonização. Hoje, as grandes nações mandam suas multinacionais conquistar mercados e o nome disto é globalização»

In: Milton Santos

«A questão agrária é, antes de outras coisas, um problema [de soberania] territorial. A procura de novos territórios para a expansão da agricultura tem hoje uma nova característica. Empresas e governos de diversos países [...] riscos em capital, mas pobres em alimentos [...] estão arrendando e comprando [...] gigantescas áreas de terras. [...]. Este processo de exploração não é novo, o que é novidade é que além de empresas, os governos estão mais envolvidos nos acordos que reforçam o neocolonialismo [...]».

In: Fernandes (2009)

«Quando os missionários chegaram [à África], os africanos tinham a terra e os missionários a bíblia. Ensinaram-nos a orar com olhos fechados. Quando os abrimos eles [os missionários] tinham a terra e nós [os africanos] a bíblia».

In: Jomo Kenyatta

«Eu sou o preto da senzala a morar numa favela, Sou dono da terra sem ter mandado nela, Com os amigos quero paz, Com os irmãos faço guerra, Por isso sou explorado na minha própria terra, Eu sou único rico que vivo na miséria, Vivo da pena que sente de mim, Vivo da miséria, Enteado do mundo civilizado filho da miséria, Sonho para ver se acordo livre da miséria, Expulsei colonos e nunca o colonialismo [...]».

(Extrato da letra da música intitulada Cães de Raça do rapper moçambicano, Edson da Luz, conhecido no

“mundo artístico” com o nome de Azagia.

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vii RESUMO

Esta tese procura analisar a questão agrária moçambicana e, empiricamente, discute o processo de expansão do agronegócio no Corredor de Nacala. A introdução de políticas neoliberais no contexto do desenvolvimento rural, está a trazer uma nova configuração territorial, na medida em que se verifica uma forte presença de monoculturas para exportação. A forte presença de corporações agrícolas ligadas ao agronegócio, está a ocasionar a “colonização” do Corredor de Nacala, na medida em que tem sido transformado num campo de produção de commodities, permitindo assim, a reprodução ampliada do capital em escala global. A constituição e o estabelecimento de políticas neoliberais de desenvolvimento rural, além de gerar disputas territoriais entre modelos agrários distintos, de um lado, o agronegócio e do outro, agricultura camponesa, tem trazido significativas mudanças no espaço agrário, na medida em que nota-se a emergência de novos usos do território. A tentativa acirrada de incorporação, às vezes, forçada das “técnicas modernas” nos territórios camponeses para serem usados por estes, além de ser uma ação imperial, é ao mesmo tempo, uma ameaça à soberania popular. O modelo agrário do agronegócio que tem sido promovido pelo Estado no âmbito da modernização da agricultura, ao usar apenas o discurso produtivista e desenvolvimentista, esconde o seu caráter rentista, explorador, expropriador, predador dos recursos naturais e entre outras barbáries no campo, em que o latifúndio sustenta o seu poder hegemônico.

A concentração de terras, a expropriação e, posteriormente, a expulsão dos povos nativos dos seus territórios e o cercamento destes; a destruição do tecido social preexistente, estão entre as contradições da expansão do agronegócio. Inevitavelmente, o processo de expansão do agronegócio no Corredor de Nacala tem desembocado em fortes conflitos sociais caracterizados por disputas territoriais. Maior parte dos conflitos sociais que ocorrem no Corredor de Nacala, estão relacionados com a terra e nalguns casos, com a destruição da produção camponesa pelos agrotóxicos usados nas empresas do agronegócio. As consultas comunitárias têm sido as principais fontes de conflitos sociais, pois nem sempre a Lei de Terras é cumprida e muito menos os preceitos constitucionais são respeitados pelo capital. O incumprimento destes instrumentos legais, deve-se em grande medida, por causa da fragilização e conivência do Estado ao capital, do clientelismo e da corrupção, na qual está envolvida a elite e a burocracia estatal em quase todos os níveis ou escalas de exercício do poder. Por via de concessões, às vezes, de forma corrupta, criminosa e sem nenhum respeito com autodeterminação dos camponeses, grandes extensões de terras são concessionadas aos capitalistas estrangeiros. Diante da ofensiva neoliberal no campo, na contramão, surgem os movimentos sociais em contestação ao modelo hegemônico do agronegócio, a introdução de sementes transgênicas e a apropriação de terras pelo capital para a expansão de commodities, exigindo a reforma agrária e um modelo alternativo de produção, neste caso, agricultura camponesa. Contudo, apesar das condições adversas a sua reprodução social, os camponeses têm procurado romper com a estrutura rentista e conservadora imposta pelo capital. Tal fato tem sido feita por meio de lutas e resistências contra a expansão do capital sobre os seus territórios. Inseridos na dinâmica dos movimentos sociais, os camponeses têm lutado e resistido contra o capital, tanto para permanecer nas suas terras como também para defender e proteger o seu “modo de vida”.

Palavras-Chave: Conflitos socioterritoriais; Movimentos sociais; Machamba; Corredor

de Nacala; Moçambique.

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viii ABSTRACT

This thesis seeks to analyze the Mozambican agrarian question and, empirically, examines the process of agribusiness expansion in the Nacala corridor. The introduction of neoliberal policies in the context of rural development brings a new territorial configuration, as there is a strong presence of monocultures for export. The strong presence of agricultural companies linked to agribusiness leads to the "colonization" of the Nacala corridor, because it has been transformed into a field of production of raw materials, thus allowing an enlarged reproduction of capital on a global scale. The constitution and implementation of neoliberal rural development policies, in addition to generating territorial conflicts between different agrarian models, on the one hand, agro- industry and on the other hand, peasant agriculture, have brought important changes in the agrarian space, as it is noted the emergence of new uses of the territory. The fierce attempt at sometimes forced incorporation of "modern techniques" into the peasant territories for their use, in addition to being an imperial action, is at the same time a threat to popular sovereignty. The agrarian model promoted by the state in the context of the modernization of agriculture, using only productivist and developmental discourse, hides its rentier, exploitative, expropriating, predatory nature and among others the character of barbarism in the countryside, in which the owner supports his hegemonic power.

Concentration of land, expropriation and, subsequently, expulsion of natives from their territories and their precincts. The destruction of the pre-existing social fabric is part of the contradictions of agribusiness expansion. Inevitably, the process of agribusiness expansion in the Nacala Corridor has led to strong social conflicts characterized by territorial conflicts. Most of the social conflicts that occur in the Nacala Corridor are related to land and in some cases to the destruction of peasant production by pesticides used in agro-industrial enterprises. Community consultations have been the main source of social conflict, as land law is not always enforced, let alone constitutional precepts are respected by capital. Non-compliance with these legal instruments is largely due to the weakening and connivance of the state to capital, favoritism and corruption, in which the elite and state bureaucracy are involved in almost all levels or scales of exercise of the State. Power. Thanks to concessions, sometimes corrupt, criminal and without respect for the self-determination of peasants, large tracts of land are granted to foreign capitalists.

Faced with the neoliberal offensive in the countryside, in the opposite direction, social movements emerge, challenging the hegemonic model of agro-industry, the introduction of transgenic seeds and the appropriation of land by capital for expansion goods, demanding agrarian reform and an alternative production model. In this case, peasant agriculture. However, despite the unfavorable conditions for their social reproduction, the peasants sought to break with the rentier and conservative structure imposed by capital.

This attempt to break the peasants was made through struggles and resistance against the expansion of capital on their territories. Inserted into the dynamics of social movements, peasants fought and resisted capital, both to stay on their land and to defend and protect their “way of life”.

Keywords: Socioterritorial conflicts, Social movement, Machamba; Nacala Corridor;

Mozambique.

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ix LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação social do “Xiconhoca” no ideário da FRELIMO...105 Figura 2. Classificação das transações de terras rurais em Moçamique...261 Figura 3. Principais atores envolvidos no mercado de terras rurais em Moçambique...272 Figura 4. Estratégia de Desenvolvimento Integrado para o Corredor de Nacala...403 Figura 5. Pragas nas bananeiras da Matanuska em Monapo...505 Figura 6. Logomarca da Campanha Não ao ProSAVANA em Moçambique...655

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Registro e distribuição de DUATs por gênero no âmbito do programa Terra Segura em Moçambique (2015-2017)...244 Grafico 2. Distribuição das comunidades rurais delimitadas por província...244 Gráfico 3. Número de explorações, área e produção da soja (tons) por província ...335 Gráfico 4. Níveis de desmatamento decorrentes da atividade agrícola por província....355 Gráfico 5. Quantidade de milho (tons) produzido na empresa Murrimo Macadámia Ltda (2014-2015)...473 Gráfico 6. Quantidade de soja (tons) produzida pela AgroMoz (2013, 2014 e 2015)...477

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Número de explorações agrícolas segundo a área cultivada (ha) por

província...63

Quadro 2. Distritibuição de aldeias cominais por província (%) em Moçambique ...122

Quadro 3. Ocupação de terra na dácada de 1970...131

Quadro 4. Indicadores macroeconômicos da economia moçambicana na década de

1980...151

Quadro 5. Empresas estatais privatizadas no âmbito das reformas econômicas na década

de 1980 ...162

Quadro 6. Principais mudanças na estrutura agrária moçambicana na dácada de 1980..165

Quadro 7. Parcelas registradas e entregues por província (2015 a 2017)………..243

Quadro 8. Valores mínimos e máximos por hectare praticados na transação de títulos de

terra (DUATs) no Corredor da Beira……….262

Quadro 9. Explorações agrícolas de acordo com tamanho por província……….328

Quadro 10. Áreas cultivadas por culturas alimentares segundo o tamanho de explorações

agrícolas em Moçambique………...………329

Quadro 11. Número de explorações com culturas alimentares básicas, segundo o tamanho

de explorações agrícolas em Moçambique……….…………329

Quadro 12. Área com culturas de rendimentos por ptovíncia (ha)………334

Quadro 13. Áreas cultivadas e não cultivadas nas grandes explorações por província.347

Quadro 14. Número de parcelas de terras fiscalizadas por província……….348

Quadro 15. Incumprimento de plano de exploração por finalidade em Moçambique...348

Quadro 16. Grau de cumprimento de plano de exploração por província………….…..349

Quadro 17. Alguns monopólios do agronegócio existentes no Corredor de Nacala…..431

Quadro 17. Comparação entre áreas concessionadas e áreas exploradas pelas empresas

agrícolas no Corredor de Nacala………432

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x

Quadro 18. Promoção do ProSAVANA no Brasil………..……457

Quadro 19. Distritos onde opera a Green Resources Moçambique……….495

Quadro 20. Relação entre áreas concessionadas e plantadas pela Green Resources por província………495

LISTA DE MAPAS Mapa 1.Localização da área de estudo no Corredor de Nacala...5

Mapa 2. Distribuição dos projetos tramitados pelo Estado no período entre 2013 a 2017 por província...344

Mapa 3. Área de terra alocada aos projetos do agronegócio por província...345

Mapa 4. Uso de sementes melhoradas na produção agrícola por província...361

Mapa 5. Corredor de Desenvolvimento de Nacala...387

Mapa 6. Área de implementação do ProSAVANA e do Sustenta no Corredor de Nacala...391

Mapa 7. Área de implementação do ProSAVANA no Corredor de Nacala………..…448

Mapa 8. Rotas de transporte de mercadorias via marítima do PRODECER (1979-1999) e do ProSAVANA (2010-2030) ………...462

Mapa 9. Espacialização da UNAC em Moçambique ………..……….597

Mapa 10. Espacialização da ORAM em Moçambique ………..……...621

LISTA DE FOTOGRAFIAS Foto 1. Carroça pertencente a uma família camponesa na Comunidade de Ma´khoma/Tsangano...59

Foto 2. Comercialização da produção camponesa no mercado “38” na cidade de Chimoio/Manica...64

Foto 3. Mulher camponesa trabalhando a terra junto dos seus filhos na localidade de Mavonde/Bárue...67

Foto 4. Construções de casas na área abandonada pela empresa agrícola Sun Biofuls na cidade de Chimoio/Manica...333

Foto 5. Camihão transportando cirveja da marca Impala...336

Foto 6. Algumas empresas produtoras de sementes em Moçambique...356

Foto 7. Algumas sementes melhoradas e certificadas usadas pelos camponeses em Moçambique...359

Foto 8. Comboio da mineradora brasileira Vale Moçambique transportando carvão mineral da vila de Moatize/Tete para porto de Nacala/Nampula...392

Foto 9. Casas construídas pela mineradora brasileira Vale Moçambique para às famílias camponesas afetadas pela linha-férrea em Ribaué/Nampula...396

Foto 10. Casas em zonas de risco em Meconta/Nampula...397

Foto 11. Camponês expropriado pela no âmbito da passagem da ferrovia em Meconta/Nampula...398

Foto 12. Machamba de uma família camponesa em Malema/Nampula...412

Foto 13. Uma família trabalhando a terra na sua machamba, Malema/Nampula...413

Foto 14. Cultura de milho numa machamba no distrito de Gurué/Zambézia...416

Foto 15. Diversificação da produção de culturas alimentares numa machamba camponesa

no distrito de Gurué/Zambézia...417

(15)

xi

Foto 16. Instalações da LongAgro (subsidária da John Dire) na cidade de Nampula....433

Foto 17. Pesquisas de leguminosas (soja e Feijão Nhemba) realizadas pelo ITTA e IIAM no distrito de Gurué/Zambézia...436

Foto 18. Camponesa semeando a cultura de soja na sua machamba em Lioma/Gurué...443

Foto 19. Instalações da empresa agrícola Murrimo Macadámias Ltda no distrito de Gurué/Zambéiza...470

Foto 20. Plantação de macadámias na propriedade da Murrimo Macadámias Ltd no distrito de Gurué/Zambézia...472

Foto 21. Pivot de irrigação da empresa agrícola Murrimo Macadâmias Ltd no distrito de Gurué/Zambézia...473

Foto 22. Cerca montada pela empresa Murrimo Macadâmia Ltd no distrito de Gurué/Zambézia...474

Foto 23. Placa indicativa da presença da AgroMoz em Lioma/Gurué...475

Foto 24. Plantação de soja na empresa agrícola AgroMoz em Lioma/Gurué...477

Foto 25. Famílias camponesas resistindo contra a agrícola AgroMoz em Lioma/Gurué...478

Foto 26. Instalações da empresa agrícola Hoyo-Hoyo Agribusiness em Ruace/Gurué..481

Foto 27. Parte das terras usadas pela empresa agrícola Hoyo-Hoyo Agribusiness em Ruace/Gurué...483

Foto 28. Trabladores da empresa agrícola Hoyo-Hoyo Agribusiness embalando soja para colocar nos silos em Ruace/Gurué...486

Foto 29. Instalações da empresa agrícola MOZACO em Natuto/Malema...488

Foto 30. Parte das terras “pertencentes” a empresa agrícola MOZACO em Natuto/Malema...489

Foto 31. Plantio da cultura de algodão em terras da MOZACO, Natuto/Malema...490

Foto 32. Trabalhadores sem material de trabalho na empresa agrícola MOZACO...492

Foto 33. Alimentação fornecida pela MOZACO aos seus trabalhadores...493

Foto 34. Trabalhador da empresa agrícola MOZACO exibindo ferrimento que contraiu durante a realização de atividades...494

Foto 35. Plantação de eucalipto da LGR em Namina/Mecuburi...497

Foto 36. Machamba camponesa cercada de eucaliptos da LGR em Namina/Mecuburi.498 Foto 37. Alguns camponeses expropriados pela LGR na comunidade de Lancheque/Ribaué...500

Foto 38. Escola construída por material precário em Namina/Mecuburi...501

Foto 39. Residências de famílias camponesas cercadas pelos eucaliptos da LGR em Namina/Mecuburi...502

Foto 40. Limite entre terras camponesas e propriedade da empresa agrícola Matanuska em Nacololo/Monapo...506

Foto 41. Plantação de sisal na propriedade da sisaleira em Itoculo/Monapo...511

Foto 42. Divisão entre a machamba camponesa e a propriedade da sisaleira em Itoculo/Monapo...511

Foto 43. Instalações da sisaleira em Itoculo/Monapo...412

Foto 44. Trabalhador desfiando sisal na sisaleira em Itoculo/Monapo...513

Foto 45. Processo de secagem e empacotamento do sisal em Itoculo/Monapo...514

Foto 46. Trabalhador carrgado cordas produzidos a partir de sisal em Itoculo/Monapo.514

Foto 47. Alguns trabalhadores sem material de trabalaho em

Itoculo/Monapo...515

(16)

xii

Foto 48. Sistema de bombardeamento de água para o abastecimento da empresa...516

Foto 49. Mulheres camponesas protestando contra a implementação do ProSAVANA.528

Foto 50. Movimentos sociais em defesa da soberania alimentar em Moçambique...574

Foto 51. Mulheres camponesas da UNAC protestando contra a entrada de OGM´s em

Moçambique...603

Foto 52. Sementes nativas apresentadas pela UNAC na Conferência Internacional...606

Foto 53. Membros da UNAC durante a III Conferência Internacional sobre

Terras...610

Foto 54. Diálogo entre a ORAM e as comunidades...620

Foto 55. Mulher camponesa indicando uma (possível) área a ser usada para atrair

investimento...625

Foto 56. Amostra de sementes nativas feita pela ORAM...628

Foto 57. ADECRU junto das suas bases no distrito de Ile/Zambézia...641

Foto 58. Liderança Nacional da ADECRU discursando durante a IV Conferência

Intwernacional Triangular dos Povos/Tóquio...642

Foto 59. Reunião de militantes da ADECRU e do MST...643

Foto 60. Membros da Campanha Não ao ProSAVANA durante a IV Conferência

Internacional Triangular dos Povos/Tóquio...670

Foto 61. Integrante da FASE/Brasil discursando durante a III Conferência Internacional

Triangular dos Povos/Maputo...672

(17)

xiii LISTA DE ABREVIATURAS

ABC – Agência Brasileira de Cooperação ACB – African Center of Biodiversity

ADECRU – Ação Acadêmica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais ASCUT – Aliança da Sociedade Civil contra a Usurpação de Terras em Moçambique BM – Banco Mundial

CaJuPaNa – Comissão Arquidiocesana de Justiça, Paz de Nacala CASP – Conferência Anual do Setor Privado

CDN – Corredor de Desenvolvimento do Norte CLIN – Cadeia Logística Integrada de Nacala CPJN – Comissão de Paz e Justiça de Nampula

CTA – Confederação das Associações Econômicas de Moçambique CTV – Centro Terra Viva

DINAT – Direção Nacional de Terras

DPASAN – Direção Provincial de Agricultura e Segurança Alimentar DUAT – Direito de Uso e Aproveitamento de Terras

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FCH – Faculdade de Ciências Humana

FDA – Fundo de Desenvolvimento Agrário FDD – Fundo de Desenvolvimento Distrital FMI – Fundo Monetário Mundial

FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique GRM – Green Resources Moçambique

GTA – Grupo de Pesquisa Território e Ambiente IBW – Instituições de Breeton Woods

IDE – Investimento Direto Externo

IIAM – Instituto de Investigação Agrária de Moçambique IITA – Instituto Internacional da Agricultura Topical iTC-F - Fundação Iniciativas de Terras Comunitárias JÁ – Justiça Ambiental

JICA – Agência Japonesa de Cooperação Internacional

JVC – Centro de Voluntariado Internacional do Japão

LDH – Liga Moçambicana dos Direitos Humanos

(18)

xiv LGR – Lúrio Green Resources

MASA – Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar

MCTESTP – Ministério da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional MDM – Movimento de Democrático de Moçambique

MITADER – Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra OGM – Organismos Geneticamente Modificados

OMR – Observatório do Meio Rural ONG – Organização Não Governamental ORAM – Associação Rural de Ajuda Mútua PARP – Plano de Ação para a Redução da Pobreza

PEDEC – Programa Estratégico de Desenvolvimento do Corredor de Nacala PEDSA – Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Setor Agrário PIAR – Princípios de Investimentos Agrários Responsáveis

PNDS – Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável PNISA – Plano Nacional de Investimento do Setor Agrário PPGG – Programa de Pós-Graduação em Geografia

ProSAVANA – Programa de Cooperação Triliteral de Desenvolvimento Agrário das Savanas Tropicais em Moçambique

RENAMO – Resistência Nacional Moçambicana UDCM – União Distrital dos Camponeses de Monapo UDCM – União Distrital dos Camponeses de Malema UEM – Universidade Eduardo Mondlane

UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados UFU – Universidade Federal de Uberlândia

UNESP – Universidade Estadual Paulista UNAC – União Nacional de Camponeses

UPCN – União Provincial de Camponeses de Nampula

USAID – Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional ZEE – Zonas Econômicas Espaciais

ZEEN – Zona Econômica Especial de Nacala

(19)

xv SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 1 ... 15

QUESTÃO AGRÁRIA E CAMPESINATO EM MOÇAMBIQUE ... 15

1.1- O campesinato no modo capitalista de produção ... 15

1.2- A questão camponesa em Moçambique ... 56

CAPÍTULO 2 ... 82

ESTADO, TERRITÓRIO E FORMAÇÃO DE CLASSES SOCIAIS EM MOÇAMBIQUE ... 82

2.1 – Independência política, produção socialista do espaço e suas contradições ... 82

2.2- Programa de socialização do campo: do discurso produtivista e desenvolvimentista à modernização autoritária no Moçambique socialista... 114

2.3-Lutas e resistências camponesas contra a socialização do campo ... 135

2.4– Crise do projeto socialista, reformas econômicas e seus impactos sobre o campesinato ... 149

2.5. Fim do projeto socialista, formação da “burguesia nacional” e patrimonialização do Estado ... 168

3-CAPÍTULO ... 202

POLÍTICA FUNDIÁRIA E CAPITALISMO NA AGRICULTUTA MOÇAMBICANA ... 202

3.1 – Ação do Estado para a expansão das relações capitalistas de produção na agricultura moçambicana ... 203

3.2. Lei de terras de 1997 e suas contradições... 209

3.3. A questão de terras na atualidade em Moçambique ... 231

3.5. Mercado de terras em contexto da propriedade estatal de terras em Moçambique ... 255

3.6. Renda da terra: aliança terra e capital em Moçambique ... 272

3.6.1. Do pacto de classes à acumulação rentista da “burguesia nacional” em Moçambique ... 282

CAPÍTULO 4 ... 303

ESTADO, MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E NOVAS DINÂMICAS PRODUTIVAS EM MOÇAMBIQUE ... 303

4.1- Modernização da agricultura e a emergência de novas relações produtivas no campo ... 304

4.2- Estado e o ideário de modernização da agricultura em Moçambique ... 315

4.3. Organismos Geneticamente Modificados (OGM): uma solução para os problemas agrários em Moçambique?... 367

CAPÍTULO 5 ... 385

EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO SOBRE AS MACHAMBAS CAMPONESAS E NOVAS DINÂMICAS PRODUTIVAS NO CORREDOR DE NACALA ... 385

5.1. Reordenamento produtivo do Corredor de Nacala: contexto, propósitos e

contradições ... 385

(20)

xvi 5.2. As machambas camponesas na rota de ocupação pelo capital monopolista para a

produção de commodities no Corredor de Nacala... 406

5.3. Apropriação capitalista do território, velhas práticas e novas configurações do espaço agrário corredor-nacalaense ... 419

5.3.1-ProSAVANA ... 445

5.3.2. Murrimo Macadamias Ltd ... 470

5.3.3. Agribusiness de Moçambique (AgroMoz) ... 475

5.3.4. Hoyo-Hoyo Agribusiness ... 481

5.3.5- Mozambique Agriculture Corporation (MOZACO) ... 487

5.3.6. Green Resources Moçambique (GRM) ... 494

5.3.7. Matanuska Mozambique Limited ... 503

5.3.8. Sisaleira em Monapo ... 509

5.4. Conflitos sociais e lutas camponesas por terras/território no Corredor de Nacala ... 517

CAPÍTULO 6 ... 545

MOVIMENTOS SOCIAIS E RESISTÊNCIAS CAMPONESAS NO CORREDOR DE NACALA ... 545

5.1. Movimentos sociais: uma contribuição conceitual à pesquisa geográfica ... 546

6.2. Da concepção classista à abordagem territorial dos movimento sociais ... 562

6.3. Movimentos sociais e lutas camponesas no Corredor de Nacala ... 572

6.3.1. União Nacional de Camponeses (UNAC) ... 592

6.3.2. A Associação Rural de Ajuda Mútua (ORAM)... 619

6.3.3. Ação Acadêmica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU) ... 633

6.3.4. Campanha Não ao ProSAVANA: uma luta anticapitalista para além do ProSAVANA ... 645

6.4. Relação entre o governo e os movimentos sociais: conflitualidade em questão 687 CONCLUSÃO ... 701

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 715

(21)

1 INTRODUÇÃO

O espaço agrário moçambicano está passando por profundas transformações em resultado da entrada massiva do capital no campo e tais transformações, são cada vez mais evidentes no Corredor de Nacala. A estrutura agrária moçambicana e do Corredor de Nacala, em particular, tende a estar cada vez mais concentrada, dificultando assim, o processo de democratização da posse de terra. Por causa da concentração da estrutura fundiária no país e, principalmente, no Corredor de Nacala, os movimentos sociais no âmbito das suas ações coletivas, têm exigido a realização da reforma agrária como forma de promoção da justiça social no campo.

Neste sentido, para os movimentos sociais a reforma agrária tem dois significados no contexto das suas lutas e resistências, sendo que o primeiro é contra o latifúndio e o segundo, é contra a expansão do agronegócio no campo, por entenderem que a permanência desta estrutura, destrói e coloca em risco a reprodução social do campesinato no campo. Embora seja um país onde vigora o regime de propriedade estatal de terra, isto não impede que o campo moçambicano seja conflitado e apropriado privadamente pela classe dominante com vista a garantir a sua reprodução social.

Nota-se um elevado nível de concentração de terras nas mãos de poucos, sobretudo, das grandes corporações capitalistas e alguma elite política e econômica nacional interessada também em extrair a renda (diferencial) da terra, mas, de forma subordinada ao capital estrangeiro. Para dizer que, não é apenas a classe latifundiária estrangeira que está em consolidação no campo moçambicano. Verifica-se também a consolidação da classe latifiundiária nacional constituída majoritariamente pelas elites políticas e econômicas nacionais ligadas ao partido FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), no poder desde 1975.

Só que essa classe latifundiária nacional em consolidação no campo moçambicano e de forma particular, no Corredor de Nacala, depende do capital estrangeiro para a sua capitalização. Significa que no Corredor de Nacala nota-se o estabelecimento de alianças entre os capitalistas nacionais e estrangeiros para a exploração capitalizada da terra. Os capitalistas nacionais, na maioria das vezes, por serem descapitalizados, entram no negócio com a terra e os capitalistas estrangeiros, com o capital financeiro, capital cognitivo, conhecimento, tecnologia, etc. Desta aliança entre os capitalistas nacionais e capitalistas estrangeiros, surgem empresas globais que atuam no mercado financeiro.

A aliança do capital rentista nacional baseado na terra e o capital estrangeiro torna-

se num componente nuclear da questão agrária em Moçambique. Sob o ponto de vista

(22)

2 territorial, o Corredor de Nacala está numa disputa paradigmática, onde diversos grupos sociais procuram apropriar-se de uma porção de terra para viabilizar os seus interesses.

Nesta disputa, os camponeses querem a terra para a sua reprodução social, usando-a para a como um instrumento de trabalho e para a instalação das suas habitações.

Já o capital, ao apropriar-se da terra, o objetivo é transformá-la num negócios, a base para a sua reprodução ampliada. Além do capital estrangeiro, outros grupos sociais e entidades que estão numa disputa com os camponeses por terras, estão o Estado, o governo e os capitalistas nacionais, na sua maioria, membros e grupos sociais próximos ao partido FRELIMO. Na maioria das vezes, os interesses do Estado, do governo, das elites frelimistas e do capital multinacional, se sobrepõem aos dos camponeses do Corredor de Nacala. Esta sobreposição dos interesses da classe dominante aos dos camponeses, tem gerado fortes conflitos sociais caracterizados por disputas territoriais.

Mas, vale realçar que, o capital multinacional não está a disputar apenas a terra com os camponeses. A água transformou-se também num dos elementos naturais disputados no Corredor de Nacala. Enquanto os camponeses querem a água para a sobrevivência, o capital quer maté-la sob seu domínio e usá-la para fins de irrigação das lavouras como também para a lavagem de mercadorias no processo de processamento das mesmas. Compreender a produção sócio-espacial do Corredor de Nacala no atual contexto da mundialização da agricultura capitalista e com ela, a natureza das transformações em curso neste espaço agrário, torna-se, portanto, num dos grandes desafios da atualidade da questão agrária em Moçambique. Para compreender essas transformações, passa necessariamente por entender as lutas e resistências seculares travadas pelos camponeses contra a classe dominante no campo.

O espaço agrário corredor-nacalaense tem demonstrado sinais de profundas transformações sócio-espaciais típicas da era da globalização neoliberal que o mundo vive atualmente. Globalização neoliberal porque trata-se de um processo de radicalização sem precedentes da estrutura capitalista a escala global, na medida que se verifica a implantação de uma nova (des)ordem sobre o (e/ou no) espaço geográfico. Além de estar a ser fracionado e/ou fragmentado, o conteúdo do espaço agrário corredor-nacalaense está mudando significativamente, na medida em que passa a ser produzido e organizado em função dos interesses do capital em escala global.

Desde finais da década de 1980, houve interesse por parte do Estado em organizar

e reorganizar este espaço para atender o mercado internacional. Para dizer que, agricultura

do Corredor de Nacala tem sido organizada e orientada para atender os interesses

(23)

3 (exclusivos) do mercado global através da ocupação de extensas áreas de terras para a produção de commodities para a exportação. Destas monoculturas, o destaque vai para cana-de-açúcar, soja, milho, algodão, chá, sisal, macadámias, eucaliptos, cajueiros, girassol, etc. Por isso, o entendimento das mudanças em curso no campo espaço agrário corredor-nacalaense, requer que se considere a interação dos processos produtivos locais e as dinâmicas do mercado global de commodities.

Trata-se de mudanças profundas não apenas nas relações sociais e produtivas, mas também, nos usos do(s) território(s). Nota-se, portanto, a emergência de novos usos do(s) território(s) caracterizados pela exploração permanente da terra e uso intensivo do capital e da “técnica moderna”. Além disso, existe uma exploração capitalista rentista da terra sem produção, medida pelo Estado/FRELIMO, é também o núcleo duro da questão agrária em Moçambique, pois é geradora de conflitos sociais no campo. Estas transformações que vêm ocorrendo no Corredor de Nacala, começa a ganhar notoriedade a partir da primeira década do início do século XXI, pois este período é marcado pela emergência de “novos” ajustes espaço-temporais do agronegócio em machambas camponesas.

A machamba é a unidade de produção camponesa e, é a via pela qual o campesinato se territorializa no campo. Embora sejam “novos”, estes ajustes espaço- temporais, os seus conteúdos são “velhos”, típicos da agricultura capitalista. Trata-se da consolidação de um modelo agro-exportador, agro-expropriador e agro-explorador e latifundiário. No Corredor de Nacala, o auge deste processo transformacional, começa a ganhar notoriedade a partir dos anos que sucederam a recente crise econômico-financeira de 2007/8, pois foi a partir deste período que a corrida de terras agrícolas torna-se mais evidente. É a partir deste período que se verifica a maior pressão sobre a terra no país, dado que, os interesses sobre ela, aumentaram duma forma vertiginosa.

Os países ricos (e/ou poderosos financeiramente), sobretudo, do Norte Global

começaram a capturar terras agrícolas em Moçambique. De igual modo, os países do Sul

Global, passaram também a disputar terras em Moçambique para a produção de

mercadorias. Além de corrida por terras desencadeada pelos empresários estrangeiros

individuais e coletivos, nota-se também neste mesmo período, o deslocamento de

fronteiras agrícolas outrora implementadas em outros países a se implantar em

Moçambique, com a objetivo de expandir commodities. Essas fronteiras agrícolas, visam

necessariamente, garantir a continuidade da acumulação ampliada do capital em escala

global e o ProSAVANA é apenas um dos exemplos clássicos deste processo.

(24)

4 O ProSAVANA se insere numa nova fase de expansão mais rápida do capital financeiro que visa empreender a exploração capitalista da terra no Corredor de Nacala para a produção de commodities. Por isso, para a compreensão das transformações em curso no espaço agrário corredor-nacalaense nesta era da globalização neoliberal, acaba sendo um desafio. Não se trata de transformações simples, muito pelo contrário, no Corredor de Nacala verifica-se a consolidação de um “novo” modelo agrário/agrícola ancorrado ao agronegócio, típico dos países ocidentais e alguns da América Latina, mas, mascarado pelo discurso produtivista e desenvolvimentista.

O agronegócio é visto pelas autoridades governamentais como o único modelo agrário/agrícola possível para agricultura moçambicana e ao mesmo tempo, como parte de um projeto de “desenvolvimento” o qual deve ser “acarinhado” pelos camponeses no campo. Além de atrair o Investimento Direito Externo (IDE) para o setor agrário, por meio do Estado, as oligarquias nacionais têm concessionado grandes extensões de terras e mais tarde, as entrega aos capitalistas estrangeiros. Na maioria dos casos, essas concessões têm sido feitas em terras comunitárias e sem autodeterminação dos camponesas. Em outras palavras, estas concessões são feitas sem nenhum debate público e muito menos, a realização de consultas comunitárias prévias como determina a legislação de terras –, Lei nº. 19/97. Essa situação, tem gerado revolta dos camponeses e dos movimentos sociais.

Ao entregar grandes extensões de terras às corporações capitalistas (e ao capital financeiro global) a expectativa do governo moçambicano tem sido a de ter o acesso fácil ao investimento estrangeiro e tecnologias por forma a avançar com a modernização da agricultura no país e de forma particular, no Corredor de Nacala. Além de perspectivar uma possível elevação da produção agrícola, superávit da balança comercial, o governo olha para o agronegócio como a solução para “estancar” a fome, a miséria e o desemprego. Embora se diga que a intenção é promover o desenvolvimento econômico socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável, as evidências deste novo paradigma em consolidação no Corredor de Nacala, revelam a combinação contraditória e desigual da expansão das relações capitalistas de produção no campo.

Estas contradições que se verificam no Corredor de Nacala ocorre em outros

países do mundo onde este modelo de desenvolvimento agrário já foi experimentado e o

Brasil é exemplo classíco. Além de ter altos custos ambientais, concentra também terra,

riqueza e a renda nas mãos de pequenos grupos. Significa que, por onde se territorializa

este modelo agrário/agrícola, gera fome, miséria, desemprego estrutural e níveis elevados

(25)

5 de desigualdades sociais. Igualmente, esse modelo agrário/agrícola, controla quase toda a cadeia produtiva e subalterniza/sujeita os camponeses à lógica do modo capitalista de produção, na medida em que são transformados em produtores de mercadorias de interesse do mercado global.

Por sua vez, esse modelo de desenvplvimento agrário/agrícola tem colocado em confronto o conhecimento patrimonial, coletivo e comunitário secularmente acumulado e transmitido de geração em geração. Tem ameçado ainda a soberania alimentar (e nutricional) dos povos nativos. Enfim, trata-se de um modelo agrário/agrícola que se baseia na comodititização da natureza local e da produção agropecuária. Através deste modelo agrário/agrícola, nota-se a mercantilização das relações produtivas, a superexploração do trabalho, a emergência de conflitos agrários, perseguição, intimidação, repressão e criminalização das lutas populares, destruição dos traços campesinos locais pela incorporação do “novo”, contaminação dos alimentos, biomas, solos, água, etc.

No caso do Corredor de Nacala, lugar identificado para a realização desta pesquisa, a questão agrária, mostra-se ainda mais complexa, dada a forma multi-escalar de como os interesses se inter-conectam. O Corredor de Nacala, é apenas um exemplo de um território que está sendo disputado pelas corporações capitalistas ligadas ao capital financeiro, cujo objetivo, passa por transformá-lo em campos de produção de commodities agrícolas exportáveis para o mercado global.

Mapa 1. Localização da área de estudo no Corredor de Nacala

(26)

6 A escolha destes oito (8) distritos dentro do Corredor de Nacala, deve-se pelo fato de serem alvos do capital financeiro. É nestes distritos onde nota-se a elevação dos níveis de conflitos sociais e disputas territoriais envolvendo os camponeses e as corporações do agronegócio. Embora num estágio avançado de transformação por conta da presença massiva de corporações agrícolas, no Corredor as questões de natureza socioculturais e étnico-linguísticos, ainda são muito fortes e as mesmas, estão intrinsecamente ligadas com a questão camponesa. A terra e alimentação, ambos os elementos, estão ligados com a cultura dos povos locais.

Trata-se de povos que têm acesso à terra com base em normas e práticas costumeiras e, nalguns casos, por boa-fé. O acesso à terra com base nas normas e práticas costumeiras, está intrinsecamente ligada com a herança. É aqui onde essa ligação torna- se mais afetiva. A herança tem permitido a transferência não apenas do poder linhageiro, mas também os saberes e valores seculares acumulados pelos povos locais. Neste sentido, a herança da terra acaba se tornando num meio de reprodução do campesinato no campo moçambicano, uma vez que ela permite garantir a continuidade da vida camponesa.

As lutas e resistências travadas pelos camponeses, sobretudo, quando os seus territórios são invadidos pelo capital, fazem no sentido de salvaguardar, não apenas as suas terras enquanto a base material e simbólica de existência enquanto povos, mas também todos os saberes e valores, enfim, o seu “modo de vida” secular acumulado e transmitido de geração em geração. Neste contexto, o entendimento da questão agrária no Corredor de Nacala, passa necessariamente por compreender as formas de acesso e controle da terra por parte dos camponeses como também as relações sociais que aí se estabelecem. A não compreensão dos aspectos acima arrolados, corre-se o risco de fazer uma interpretação e/ou análise simplista sobre os camponeses.

Metodologicamente, a pesquisa é de caráter qualitativa, pois visa trazer a história oral de lutas e resistências travadas pelos camponeses no campo contra a expansão do capital em seus territórios. Preconiza também trazer as historicidades produzidas em diferentes temporalidades. Por ser um estudo de caráter qualitativo, pressupõe um trabalho de campo intenso junto ao chão (o território) onde vivem e trabalham os sujeitos estudados. Significa que o pesquisador além de fazer observações in loco dos fenômenos em análise, participa, interage e vivencia alguns momentos marcantes junto dos sujeitos enfocados.

Outra metodologia adoptada durante a pesquisa de campo foi dialógica, às vezes,

feita de forma informal com os informantes chaves. Esta metodologia permitiu a

(27)

7 compreensão das contradições, ambivalências, tensões, conflitos e negociações envolvendo vários grupos sociais com interesses na terra no Corredor de Nacala, sobretudo, capitalistas, o governo, os camponeses e as organizações camponesas. Foram efetuadas também algumas ligações via celular para confirmar determinadas informações junto as lideranças de algumas organizações camponesas.

De realçar que grande parte das entrevistas foi gravada a partir do celular e, nalgumas vezes, eram feitas anotações em blocos de notas, agendas e cadernos. Além dos camponeses, a recolha de dados/informações, envolveu também as instituições do Estado, Organizações da Sociedade Civil (OSC) e organizações camponesas. Das organizações camponesas, o destaque na metodologia vai para a União Nacional de Camponeses (UNAC), e os seus núcleos provinciais e distritais, a começar pela União Provincial de Camponeses de Nampula (UPCN), a União Distrital de Camponeses de Monapo (UDCM), União Distrital de Camponeses de Malema (UDCM); União Distrital de Camponeses de Ribaué (UDCR).

Foi entrevistada também a Associação Rural de Ajuda Mútua (ORAM) e o seu núcleo provincial de Nampula, neste caso, Associação Rural de Ajuda Mútua de Nampula (ORAM/Nampula). Igualmente, foi entrevistada a Livanigo e a «Campanha Não ao ProSAVANA». Foram entrevistadas também instituições do Estado e o destaque vai para o Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), sobretudo, a Coordenação do ProSAVANA; o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) nos seguintes setores: Direção Nacional de Desenvolvimento Rural (DNDR); Direção Nacional de Terras (DINAT), a Direção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar de Nampula (DPASA-N), a Direção Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural de Nampula (DPTADR-N), o Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional (MCTESTP), sobretudo, o Centro de Investigação e Transferência de Tecnologia para o Desenvolvimento Comunitário (CITT).

Nas instituições do Estado, a burocracia no acesso à informação, foi um

característica comum. Em relação as instituições do Estado, há setores que para cederem

informações foi necessário insistir várias vezes. Por sua vez, há setores que declararam

terem perdido as credenciais, sugerindo que se remetesse novamente. Esta situação

dificultou obter informações relevantes para a pesquisa em algumas instituições do

Estado. Em relação as ONG, OSC e organizações camponesas, não foi diferente.É

verdade que algumas cederam informações relevantes para a pesquisa, mas outras,

(28)

8 infelizmente, apenas ficaram no silêncio, ignorando como se não tivessem recebido credenciais. Outras mesmo tendo exigido que fosse-lhes enviado o questionário via e- mail, mas não se dignaram a responder.

A pesquisa de campo, envolveu também a participação em alguns eventos (conferências nacionais e internacionais) organizados pelos movimentos sociais onde se discutia problemas que afetam a classe camponesa no campo. Nestas conferências, por exemplo, foi possível tirar algumas fotografias inseridas no corpo do trabalho. Por sua vez, nestes eventos foi possível gravar algumas declarações feitas pelas lideranças dos movimento sociais inseridas também no corpo do trabalho. Dentro do corpo do trabalho, existem algumas entrevistas realizadas durante o mestrado, sobretudo, em 2016 e foram incorporadas por entender-se que são importantes para explicar determinadas situações.

Igualmente, foram entrevistados alguns pesquisadores nacionais e brasileiros por considerar-se informantes chaves para compreensão do programa ProSAVANA. Essas entrevistas foram realizados em 2016, sobretudo, durante o mestrado e por serem importantes, foram inseridas no corpo do trabalho. Os nomes dos camponeses que aperecem identificados no corpo desta tese não são verdadeiros, mas sim, fictícios e foram colocados desta forma para proteger a integridade (física e psicológica) dos mesmos.

Como técnica de recolha de dados, foram usadas entrevistas semi-estruturadas. Neste âmbito, foram entrevistados camponeses ao longo do Corredor de Nacala, lideranças das organizações camponesas e algumas instituições do Estado.

No total foram entrevistadas 84 pessoas. Neste conjunto, foram entrevistados 31 camponeses, sendo 10 no distrito de Gurué, 5 em Malema, 14 em Ribaué, 16 em Monapo, 4 em Mecuburi, 3 Meconta, 3 em Alto-Molócuè e 2 Rapale. Nos movimentos sociais, foram entevistadas 14 lideranças, sendo 6 na UNAC, 4 na ORAM, 1 na Livaningo, 3 na

«Campanha Não ao ProSAVANA». Foram também entrevistadas 9 pessoas nas instituições do Estado, sendo 6 no MITADER sendo 5 DINAT e 2 na DNDR, 2 no MASA, 1 no CITT/MCTESTP; 1 DPTADR-N e 1 DPASA-N.

Qualquer pesquisa de natureza acadêmica, confere ao/a pesquisador/a grandes

desafios, e pesquisar as transformações em curso no campo agrário moçambicano,

sobretudo, no Corredor de Nacala, é um grande desafio. Torna-se num desafio por trata-

se de uma das temáticas pouco discutidas na Geografia moçambicana embora se verifica

um intenso processo de expansão das relações capitalistas no campo. Por causa disto,

custou a Geografia moçambicana duras críticas por parte do economista e professor

catedrático, João Mosca que também é Diretor do Observatório do Meio Rural (OMR),

(29)

9 uma instituição de pesquisa com sede na cidade de Maputo. João Mosca criticou severamente o silêncio dos geógrafos moçambicanos no debate em torno da questão agrária. Criticando, João Mosca referiu que:

Em Moçambique existe uma lacuna muito forte, ninguém trabalha sobre isso [Geografia Agrária], talvez alguém trabalhe sobre cidade, migrações, mas, sobre a questão agrária e território, acho que ninguém trabalha. Há mais geógrafos que apareceram também formados no Brasil. Grande parte chega aqui, mete-se na UEM [Universidade Eduardo Mondlane]. A UEM está partidarizada, não podem fazer os trabalhos que querem, tem controlo daquilo que [...] fazem [...] depois ficam membros do partido FRELIMO, começam a levantar o braço. [...]. É assim que são capturados pela FRELIMO [...]1

Embora João Mosca tenha apontado apenas a UEM, a verdade é que, um número considerável de instituições do ensino superior, está sob alçada do poder político vigente no país, sendo elas, públicas e privadas. Nas instituições do ensino superior, na maioria das vezes, a territorialidade da FRELIMO, se dá a partir da instalação de células do partido e isto, tem minado a construção/produção de um conhecimento baseado num pensamento crítico, emancipador e libertador, na medida em que há um controle políticos das mentes críticas.

Temáticas que questionam ou criticam o modus operandi das elites frelimistas, como, por exemplo, os seus interesses sobre a terra, o seu envolvimento no negócio fundiário, no agronegócio, no saque ou pilhagem dos recursos naturais do solo e do subsolo, são pouco discutidas na academia moçambicana, sobretudo, na ciência geográfica. Igualmente, as temáticas que questionam e critiam os interesses das elites frelimistas e a sua artculação com o capitalismo global, são quase inexistentes na Geografia moçambicana. Politicamente falando, dentro das universidades, abordar temáticas que questionam e criticam o modus operandi das elites frelimistas na academia moçambicana, sobretudo, na Geografia é, por si só, um ato revolucionário.

A produção geográfica do conhecimento crítico sobre temáticas relacionadas com campo, infelizmente, começou pouco tarde em Moçambique. A maior parte dos estudos que analisam o campo sob perspectiva da transformação do espaço agrário moçambicano por causa da sua incorporação às dinâmicas do modo capitalista de produção, são de autores que realizaram a sua pós-graduação (mestrado e doutorado) no Brasil. Estes estudos, por exemplo, começam a surgir a sensivelmente, a partir da primeira década do século XXI. O que quer dizer que, há uma forte influência brasileira no debate em torno de temáticas relacionadas com o campo em Moçambique. Mesmo o campo moçambicano

1 Entrevista realizada no dia em Junho de 2016.

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10 estando diante da expansão do capital, na geografia moçambicana é díficil encontrar estudos que analisam a questão agrária (e/ou camponesa) ou mesmo estudos relacionados com os movimentos sociais, daí que os geógrafos são desafiados a entrar numa baralha teórica com outros campos do saber. Partindo do pressuposto de que a questão agrária, é ao mesmo tempo, um problema de ordem territorial, o desafio para a compreensão das transformações em curso no espaço agrário moçambicano, sobretudo, no Corredor de Nacala, são cada vez maiores para os geógrafos.

A geografia tem suas particularidades no meio de outras ciências. Além de estar possibilitada e capacitada a mergulhar nas entrelinhas do modo capitalista de produção no campo por forma a demonstrar os dramas, os traumas, as contradições, as ambivalências, as tensões e os conflitos que se dão num determinado lugar, a geografia procura trazer também o significado das lutas resistências pela terra travadas pelos camponeses e os movimentos sociais contra o capital. Por de trás das lutas e resistências travadas pelos camponeses no campo, há uma utopia camponesa, a de querer organizar- se e reproduzir-se socialmente de acordo com o seu “modo de vida”.

Através das lutas e resistências, os camponeses querem romper com a hegemonia da estrutura capitalista no campo. Por meio destas lutas e resistências, os camponeses têm procurado se livrar das cercas implantadas pelo capital no âmbito da sua expansão no campo. Este enfrentamento dos camponeses contra a expansão do capital no campo, precisa ser analisado criticamente pelos geógrafos, pois por de trás dele, existem várias contradições, os quais a geografia é a única área do saber capaz de desvendar. Essas contradições, por exemplo, são nítidas no campo moçambicano e, algumas delas, são visíveis a olho nu.

No entanto, as lutas e resistências camponesas não são “populistas” e muito menos visam atrapalhar e/ou retrair o “desenvolvimento” como a classe dominante afirma quando é confrontada e contestada pelos camponeses e os movimentos sociais. Em parte, essas lutas são contra o “atraso” reproduzido pela sociedade capitalista e esse aspecto contraditório do modo capitalista de produção na agriciltura não é discutido na sua plenitude geografia moçambicana. Por exemplo, para fundamentar as análises que estavam sendo feitas na elaboração desta tese, foi necessário recorrer autores de deterninadas áreas do conhecimento.

Um dos maiores momentos mais desafiantes, foi o de recolha de dados junto dos

camponeses. De um modo geral, os camponeses e as camponesas do Corredor de Nacala,

foram abertas em me receber e falaram um pouco daquilo que lhes apoquentam no seu

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