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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP WENDELL LESSA VILELA XAVIER

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

WENDELLLESSAVILELAXAVIER

DE O MEU IDIOMA À CHAVE DA LÍNGUA:

A PEREGRINAÇÃO HISTÓRICO-GRAMATICAL DE OTHONIEL MOTTA

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

WENDELLLESSAVILELAXAVIER

DE O MEU IDIOMA À CHAVE DA LÍNGUA:

A PEREGRINAÇÃO HISTÓRICO-GRAMATICAL DE OTHONIEL MOTTA

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Língua Portuguesa, sob orientação do Professor Doutor Jarbas Vargas Nascimento.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, Todo Poderoso, que traz à existência o visível e o invisível, autor e consumador de nossa fé, fôlego de existência e de sentido à realidade e que dirige os nossos passos.

Ao meu estimado e mui querido orientador, Professor Doutor Jarbas Vargas Nascimento, por estes anos de amizade e companheirismo acadêmico, pela paciência que exercitou comigo, e pela competência com que tratou nosso compromisso. Qualquer palavra empobrecerá o significado pleno do nível deste relacionamento.

Ao Professor Doutor João Hilton Sayeg de Siqueira e ao Professor Doutor Inácio Rodrigues de Oliveira, pelas valiosas contribuições propostas no Exame de Qualificação.

Aos diletos professores do Programa de Estudos Pós-graduados em Língua Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por estes anos de companheirismo e pelo excelente nível de competência acadêmica e respeito.

À Primeira Igreja Presbiteriana de Pirapora – MG, pela compreensão e pelo incentivo ao longo destes anos de pesquisa e estudo.

À Faculdade de Direito Santo Agostinho, pelo ambiente profissional e fraterno ao longo deste processo de aperfeiçoamento.

À Sra. Heloisa Archêro de Araújo, que há mais de 30 anos cuida carinhosamente do Arquivo Histórico da Catedral Evangélica de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, e que disponibilizou todo o material existente sobre Othoniel Motta para esta pesquisa.

À minha mãe, Leda Lessa Vilela Marques, e ao meu pai de coração, Ademir Marques, por entenderem as minhas escolhas. E aos meus irmãos Filippe e Sarah, pela amizade e carinho.

À Ana Paula e Maria Fernanda, tão importantes em minha trajetória, por sonharem juntamente comigo.

À minha amada e companheira de sonhos, Fernanda Cristiane Silva Pereira Lessa, por suportar-me ao longo destes anos, perdendo-me para as horas de trabalho, ao longo do dia e nas madrugadas, nas alegrias e nas tristezas, na abundância e na falta. Sinceramente, toda expressão de gratidão a você esmaecerá o verdadeiro sentido do que você representa para mim.

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A todos os meus demais familiares, de perto e de longe, cujo anonimato nesta página não visa diminuir o brilho que trouxeram e trazem à minha vida; mas, ao contrário, preserva nos recantos do meu coração a lembrança e o incentivo de cada um deles.

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RESUMO

Esta tese apresenta um estudo historiográfico da Língua Portuguesa, a partir da análise dos trabalhos gramaticais de Othoniel de Campos Motta, gramático do início do século XX no Brasil. O fundamento teórico utilizado foi o da Historiografia Linguística, que considera que a produção gramatical é um documento histórico-linguístico-discursivo.

Objetivou-se examinar a cientificidade da gramatização produzida por Othoniel Motta; identificando as principais e fundamentais concepções linguísticas adotadas pelo autor, verificando a relação existente entre elas e as fontes teóricas e textuais primárias utilizadas na sua gramatização. Buscou-se também identificar algumas das pressuposições gramaticais de Othoniel Motta com a normatização linguística do período inicial do século XX no Brasil, examinando o caráter normativo-pedagógico-político de sua produção, identificando a construção de uma identidade linguística como parte do processo de constituição de nacionalidade brasileira.

Nossa tese defende que as mudanças na estrutura social se constituem no fruto do estudo da História, cujo objetivo é interpretar tais mudanças e direcioná-las ao real. Em outro sentido, mas na mesma direção, aquilo que é mutável e mutante na língua, segundo a perspectiva assumida neste trabalho, pode ser lido a partir da Historiografia Linguística, disciplina orientada por Konrad Köerner, na tentativa de descrever e explicar o modo pelo qual o conhecimento linguístico foi adquirido, formulado, comunicado e como se desenvolveu ao longo das épocas.

As obras gramaticais utilizadas na análise foram O Meu Idioma, Lições de Português e Chave da Língua, seus respectivos prefácios, além de alguns artigos que também foram usados nas comprovações de ocorrências histórico-linguísticas.

A hipótese comprovada é que Othoniel Motta foi não somente divulgador de um modelo já estabelecido, mas participou de um contexto transitório que, por assim dizer, trouxe consigo conflitos e modificações próprias das gêneses teóricas. A defesa de um modelo didático-pedagógico e a instauração de um novo método, o analítico, em contraposição ao sintético, representou um avanço nos estudos da língua portuguesa no Brasil, tendo seus trabalhos como importantes contribuições.

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ABSTRACT

This thesis presents a historiographical study of the Portuguese idiom, from the analysis of grammatical works of Othoniel de Campos Motta, a grammarian of the beginning of the XX Century in Brazil. The theoretical foundation used was that of Linguistic Historiography, which considers grammar production as a historical-linguistic-discursive document.

The objective was to examine the scientific character of grammatisation produced by Othoniel Motta; identifying the main and fundamental linguistic conceptions adopted by the author, verifying the existing relation between them and the primary theoretical and textual sources utilized in his grammatisation, as well as to indicate how some of Othoniel Motta’s grammatical presuppositions are identified with the linguistic normatization of the initial period of the XX Century in Brazil by examining the normative-pedagogical-political character of his production and identifying the construction of a linguistic identity as part of the process of the Brazilian identity constitution.

This thesis proposes that changes in the social structure constitute the product of the study of History whose aim is to interpret such changes and direct them to reality. In another sense, but in the same direction, what is variant and mutant in the idiom, according to the perspective adopted in this work, can be read from Linguistic Historiography (LH), a discipline oriented by Konrad Köerner, in an attempt to describe and explain how linguistic knowledge was acquired, formulated, communicated and developed through the ages.

The grammatical works utilized in the analysis were O meu Idioma, Lições de Português e Chave da Língua, the respective prefaces, besides some articles which were also used in the demonstration of historical-linguistic instances.

The demonstrated hypothesis is that Othoniel Motta was not only disseminator of a previously established model, but also participated in a transitional context which, so to speak, brought up conflicts and changes that are peculiar to the genesis of theories. The defense of a didactic-pedagogical model and the instauration of a new method – the analytical, as opposed to the synthetical – represented an advance in the studies of the Portuguese idiom in Brazil, taking his works into account as important contribution.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...ERRO!INDICADOR NÃO DEFINIDO. CAPÍTULO I: OTHONIEL MOTTA: VIDA, OBRAS E DIÁLOGOS...ERRO!INDICADOR NÃO DEFINIDO. 1.1. História e língua: vida e produção gramatical...Erro! Indicador não definido.

1.2. Lá e cá: diálogos e debates...Erro! Indicador não definido.

A. Com Said Ali em “O Pronome Se”...Erro! Indicador não definido. CAPÍTULO II: A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL DOS SÉCULOS XIX E XXERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

2.1. Pensar do Brasil: contextualização histórica dos séculos XIX e XX ...Erro! Indicador não  definido.

2.2. Falar do Brasil: a gramatização brasileira no início do século XX, os principais gramáticos  no Brasil e suas influências...Erro! Indicador não definido. CAPÍTULO III: BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA A INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE HISTORIOGRAFIA LINGUÍSTICA E ANÁLISE DO DISCURSO...ERRO!INDICADOR NÃO DEFINIDO.

3.1. As questões educacionais nos séculos XIX e XX ...Erro! Indicador não definido.

3.2. Problemas relativos à historicidade e à discursividade ...Erro! Indicador não definido.

3.3. Historiografia Linguística e Análise do Discurso: princípios e metodologias ...Erro!  Indicador não definido.

CAPÍTULO IV: OTHONIEL MOTTA: APROXIMAÇÕES HISTÓRICO-DISCURSIVASERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.1. A adaptação linguística: o discurso gramatical de Othoniel Motta ...Erro! Indicador não  definido.

4.2. Gramatização e História: discurso e contexto...Erro! Indicador não definido.

4.2.1. O modelo gramatical em O meu Idioma...Erro! Indicador não definido.

4.2.2. O modelo gramatical em Lições de Portuguez...Erro! Indicador não definido.

4.2.3. O modelo gramatical em Chave da Língua...Erro! Indicador não definido.

4.2.4. O modelo historiográfico‐analítico em O Ensino do Vernaculo...Erro! Indicador não  definido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS...ERRO!INDICADOR NÃO DEFINIDO. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...ERRO!INDICADOR NÃO DEFINIDO.

ANEXOS...ERRO!INDICADOR NÃO DEFINIDO.

Anexo A – O Ensino do Vernaculo...Erro! Indicador não definido. 

Anexo B – Capa de O Meu Idioma, 2ª edição, de 1917...Erro! Indicador não definido. 

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Anexo D – Capa de Chave da Língua, 3ª edição, de 1933...Erro! Indicador não definido. 

Anexo E – Modelo de Diagrama em Lições de Português, de 1941 ..Erro! Indicador não definido. 

Anexo F – Capa de O Estandarte, de 15 ago. 1951, dedicado integralmente à memória de  Othoniel Motta...Erro! Indicador não definido. 

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INTRODUÇÃO

Tendo em vista a publicação da primeira edição de “O Meu Idioma”, “Lições de Portuguez” e “Chave da Língua”, na segunda década do século XX, obras de maior importância no cenário gramatical de Othoniel Motta, esta tese se dedica ao problema de saber até que ponto Othoniel Motta contribuiu para a perpetuação da proposta de uma cientificidade gramatical e para a manutenção dos elementos propulsores do ideal de uma identidade nacionalista.

Os objetivos da tese, portanto, se constituem no exame da cientificidade da gramatização produzida por Othoniel Motta, identificando as principais concepções linguísticas adotadas pelo autor, a fim de verificar a relação existente entre elas e as fontes teóricas e textuais primárias utilizadas na sua gramatização. Pretende-se também identificar as pressuposições gramaticais de Othoniel Motta com a normatização linguística do período inicial do século XX no Brasil, de forma a examinar o caráter normativo-pedagógico-político de sua produção e revelar a construção de uma identidade linguística como parte do processo de constituição de nacionalidade brasileira.

A construção linguística de um povo não está alienada da História nem esta se constrói à margem da língua. Na verdade, conforme afirmam Cardoso & Vainfas, o pressuposto tradicional não pode mais ser sustentado – de que a interpretação do texto se dá de maneira imediatamente perceptível ao lê-lo ou ainda de que a estrutura interna de um texto não pode ser analisada com um olhar histórico – considerando, especialmente, os avanços promovidos pelo encontro das ciências sociais com a Linguística.

O pressuposto contrário à visão histórica da imanência textual é considerado agora como uma transcendência, visão capaz de identificar no texto uma característica discursiva que aponta para uma variedade de aspectos sócio-históricos, sem desprezar as formas fixas

– vocabulário, enunciado, tempos verbais etc., – do documento. A tarefa do historiógrafo, para a Historiografia Linguística (HL), é, portanto, relacionar o texto ao social.

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portador de um contexto histórico-cultural, que pode ser aberto à análise, e que cabe na metodologia de estudo de textos, que alia um conteúdo sócio-histórico às formas textuais.

Defendemos, então, que as mudanças na estrutura social se constituem no fruto do estudo da História, cujo objetivo é interpretar tais mudanças e direcioná-las ao real. Num outro sentido, mas na mesma direção, aquilo que é mutável e mutante na língua, segundo a perspectiva assumida neste trabalho, pode ser lido a partir da Historiografia Linguística (HL), disciplina orientada por Konrad Köerner, na tentativa de descrever e explicar o modo pelo qual o conhecimento linguístico foi adquirido, formulado, comunicado e como se desenvolveu ao longo das épocas.

Constitui-se, portanto, justificativa deste trabalho, a relevância teórico-metodológica proposta pelos defensores da HL de ler os fatos textuais e linguísticos com os óculos do discurso histórico, proporcionando uma aplicação social extremamente relevante, uma vez que a língua passa a ser vista como fenômeno de construção de identidade e como símbolo de nacionalidade cultural.

Somada a esta justificativa, apresentamos também a possibilidade de relacionar a produção gramaticológica de Othoniel Motta com as suas implicações na sociedade em geral e, particularmente, nas áreas da educação e da igreja, mantenedoras da ordem e do imaginário social.

Além destes fatores, sublinhamos também que Othoniel Motta foi não somente divulgador de um modelo já estabelecido, mas participou de um contexto transitório que, por assim dizer, trouxe consigo conflitos e modificações próprias das gêneses teóricas. A defesa de um modelo didático-pedagógico e a instauração de um novo método, o analítico, em contraposição ao sintético, representou um avanço nos estudos da língua portuguesa no Brasil.

A fim de alcançar tais objetivos, a presente tese se divide em quatro capítulos. No Capítulo I, apresentaremos “Othoniel Motta: vida, obras e diálogo”. Trata-se de apresentar uma análise biográfica do autor, demonstrando, principalmente, sua vida e produção gramatical, bem como o diálogo com Said Ali, um dos discursos mais importantes para a constituição de um ethos polêmico do autor, bem como para constituí-lo como gramático.

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peregrinação histórico-gramatical de Othoniel Motta, refletindo suas aproximações e seus distanciamentos em relação ao que se fazia no país neste período mencionado.

No Capítulo III, apresentaremos as “Bases teórico-metodológicas para a interdisciplinaridade entre a Historiografia Linguística e a Análise do Discurso”. Trata-se de uma proposta que vem sendo desenvolvida por alguns teóricos, mas que ainda carece de ampliação, especialmente quanto à conjugação das metodologias de análise. Não se pretende afirmar que as disciplinas não se distinguem quanto aos pressupostos e à metodologia. Na verdade, o caminho é apontar a possibilidade de ler os documentos históricos sob ambas as perspectivas, com o objetivo de ampliar a visão do documento analisado, apresentando melhor conclusão sobre sua tessitura.

No Capítulo IV, “Othoniel Motta: aproximações histórico-discursivas”, último desta tese, nosso objetivo é apresentar os modelos gramaticais em O Meu Idioma, Lições de Portuguez e Chave da Língua, além de analisar o discurso gramatical de Othoniel Motta, a partir dos prefácios de suas obras. Pretende-se também considerar o artigo O Ensino do Vernáculo, que tem muito a revelar acerca da perspectiva gramático-discursiva do autor.

De modo geral, optamos construir o trabalho a partir de uma fluidez histórico-discursiva, de modo que as teorias e análises, nalguns casos, serão apresentadas paralela e conjuntamente, e não tão rigidamente separados, a fim de tentar caracterizar melhor a interdisciplinaridade acima proposta.

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Capítulo I: OTHONIEL MOTTA: VIDA, OBRAS E DIÁLOGOS

Nasce o sol, astro jocundo, iluminando o infinito; claridade dá ao mundo; seus raios deixam escrito, em letra de linda côr, o nome do Criador.

Zoraide R. Freitas, em Diário da Manhã.1

1.1. História e língua: vida e produção gramatical

Othoniel de Campos Motta2 nasceu em 16 de abril de 1878, em Porto Feliz, Estado de São Paulo. Filho de José Rodrigues Paes e Bernardina Deocleciana da Mota Paes,3 cursou em São Paulo os preparatórios para a Faculdade de Direito. Iniciou seus estudos de Teologia no Seminário Teológico Presbiteriano em 1897. Foi licenciado4 pelo Presbitério Oeste de São Paulo no dia 25 de julho de 1900, na Primeira Igreja de São Paulo, tendo sido moderador da cerimônia o Rev. Lino da Costa. Neste período de licenciatura ao sagrado

1 Publicado no Diário da Manhã, de Ribeiro Preto, por Zoraide R. Freitas, em 23/04/1957. Trata-se de um

pequeno poema de Othoniel Motta quando tinha 11 anos de idade.

2 Os documentos oficiais trazem a grafia Othoniel Motta e Otoniel Mota. No caso deste trabalho, preferimos

o uso de Othoniel Motta, exceto em citações ou referências a nomes de logradouros públicos ou instituições. A maior parte dos dados biográficos de Othoniel Motta que apresentamos neste capítulo foi extraída de O Estandarte de 30 de abril de 1978. Outras referências importantes são: O Estado de São Paulo, de 29/04/1978; Diário da Manhã, de Ribeirão Preto, de 16/01/1957; Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, de 16/08/1951 e Folha da Manhã, de 18/08/1951. Somos informados por Zoraide R. Freitas, em Diário da Manhã, de Ribeirão Preto, de 23/04/1957, que “Vem êle para São Paulo. Chama-se então Otoniel de Campos Mota, nome que conservaria sempre, oficialmente. Por motivos interessantes e de um modo original, José

Rodrigues Paes mudou, com a devida declaração pública, o sobrenome de seus dois filhos – de Mota Paes,

para Campos Mota”.

3 No Diário da Manhã, de Ribeirão Preto, de 21/04/1957, em memória a Othoniel Motta, Zoraide R. Freitas,

que coordenou as homenagens póstumas a Othoniel Motta na cidade, publicou detalhes importantes da biografia de Othoniel Motta: “A 172 quilômetros de São Paulo, vive a pacata cidade de Pôrto Feliz, à margem esquerda do rio Tietê, diante do antigo Porto das Monções, com tanta beleza imortalizado históricamente na tela de Almeida Junior. Naquela cidade, no Largo da Matriz, casa antigo no. 15, que ainda existe ao lado da Igreja, nascêra, em 16 de abril de 1878, Otoniel da Mota Paes, nome recebido na pia batismal. De culta e fina estirpe vinha êle. Eram seus progenitores – José Rodrigues Paes e d. Bernardina Deoclécia da Mota Paes, ambos de grande cultura, inteligência e rígido caráter. O pai era profundo latinista e matemático. A mãe escrevia com finura e elegância de estilo. Vinha de longe a grandeza interior de Otoniel”. Na publicação de 24/04/1957, Zoraide R. Freitas nos informa: “Chegara a Pôrto Feliz um professor de nome Mota Paes, cujo caráter não agradou a José Rodrigues Paes. Resolveu, por isso, mudar o sobrenome dos filhos para Mota Campos. Notou, porém, que essa combinação não era muito eufônica e mudou-o pra Campos Mota. O avô paterno de Otoniel Mota foi Antonio Rodrigues de Campos Leite”.

4 Licenciatura é um estágio que o bacharel em Teologia da Igreja Presbiteriana do Brasil realiza antes de ser

ordenado Pastor da Denominação e que compreende, em geral, um ano. Os Princípios de Liturgia aprovados

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ministério, residiu em Santa Cruz do Rio Pardo, a partir de onde atendia às cidades de Piraju, Taquari, Fartura e Anhumas, esta no Paraná, onde mais tarde ergueu-se a cidade de Ribeirão Claro.

No dia 14 de julho de 1901, foi ordenado5 ministro do evangelho, em Brotas, pelo mesmo Presbitério, tendo sido presidente da cerimônia o Rev. Laudelino Oliveira Lima. A parênese foi proferida pelo Rev. Herculano de Gouvêa.

As questões políticas sempre estiveram no cenário da vida de Othoniel Motta. No âmbito eclesiástico, por exemplo, Othoniel Motta esteve no grupo que participou do grande cisma da Igreja Presbiteriana do Brasil, em 1903. Desde os tempos do Seminário, Othoniel Motta tomou parte da discussão relativa às questões maçônicas, que culminaram, finalmente, com a criação do Presbitério Independente, em 14 de julho de 1903, que deu origem à Igreja Presbiteriana Independente do Brasil – IPIB, à qual Othoniel Motta se vinculou por um tempo.

Em razão de seus trabalhos eclesiásticos, viajou o interior paulista, especialmente: Sorocaba, Tietê, Itapetininga, Bela Vista, Torre de Pedra, Bebedouro e Iacanga. Residiu por um tempo em Jaú. Nesta cidade, ajudou na construção do templo. Daí transferiu-se para Ribeirão Preto. Nesta cidade, colaborou com a Igreja Metodista, realizando conferências. Foi professor de português no Ginásio de Ribeiro Preto, fundado em 1o de abril de 1907. Este foi o primeiro ginásio do interior paulista e o terceiro do Estado, criado por decreto legislativo em 27 de dezembro de 1906. Hoje, o nome do Ginásio é Escola Estadual Prof. Otoniel Mota.

O posicionamento político de Othoniel Motta no Ginásio é descrito por um modo ambíguo por Cunha (2000:65):

Posicionar Otoniel Mota no quadro político do Ginásio é difícil porque o lente de Português era seguidor de Eduardo Carlos Pereira, fundador do presbiterianismo independente, homem que se manifestava contrariamente à Maçonaria. Tal referência pode servir para que não o

5 Ordenar é investir de autoridade eclesiástica, concedendo o privilégio para o exercício do ministério

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coloquemos como integrante do agrupamento formado por Loyola e Bittencourt, que eram maçons.

A presença de Othoniel Motta no Ginásio significava um elogio à sua competência, subsidiada pelo relacionamento com Eduardo Carlos Pereira, reconhecido mestre de Língua Portuguesa, no início do século XX. Othoniel Motta lecionou em Ribeirão Preto de abril de 1907 a outubro de 1913, sendo também diretor substituto.6

Othoniel Motta viajou ainda para Guaxupé, pela região do Triângulo Mineiro, e foi co-pastor na Igreja de Grama. Depois foi para Campinas, onde se tornou pastor da Igreja nesta cidade, assumindo também aulas no Ginásio de Campinas. Finalmente, foi eleito pastor da Primeira Igreja de São Paulo, até que, em razão de questões doutrinárias, transferiu-se para a Igreja Cristã de São Paulo.

Exerceu, durante algum tempo, o cargo de Diretor da Biblioteca Pública de São Paulo – SP, e foi também professor de Filologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo – USP. Fez parte da Sociedade de Estudos Filológicos de São Paulo e foi membro da Academia Paulista de Letras, ocupando a Cadeira 17, cujo patrono fora Júlio Ribeiro e seu fundador Silvio de Almeida.

Othoniel Motta casou-se com Rosalina de Barros Motta (filha do Senador Antonio Paes de Barros e Maria Paes de Barros, primeira mulher a ingressar como membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo).7 O casal teve os seguintes filhos e filhas: Maria Mota Pirotelli, casada com João Pirotelli; Adelina Mota de Cerqueira Leite, casada com José Cândido de Cerqueira Leite; José de Barros Mota, casado com Isabel Madureira Mota; Emília Mota de Cerqueira Leite, casada com Eragio de Cerqueira Leite; Antônio de Barros Motta, casado com Iolanda Palmeira Mota; e Gerty Fink, casada com Egmont Gerd Fink.8

De sua grande influência no projeto linguístico da gramática brasileira, destacam-se suas publicações teológicas nos órgãos da Imprensa Oficial Protestante do Brasil, como O

6 Dados de O Jornal do Centenário (s/d: p.3).

7 Diário da Manhã, de Ribeirão Preto, de 25/04/1957. No sítio eletrônico da Igreja Presbiteriana

Independente do Brasil, lemos: 21/01/1940 – Organização do Departamento de Senhoras. Realizou-se o “1º

Congresso das Senhoras Presbiterianas Independentes”, nesta data, sendo eleita a sua primeira presidente

Rosalina Barros Motta, mas apenas em 1967 se criou oficialmente a Confederação de Senhoras da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, sendo sua 1ª presidente Dra. Maria Clemência Cintra Damião. http://www.ipib.org/index.asp?inc=articlessub&articlescat=Fam%EDlia&articlesdbid=304 – Acesso em 25/06/2011.

8 Dados de O Estado de São Paulo, de 15/08/1951 e do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, de

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Estandarte, A Semana Evangélica, O Cooperador Cristão, Cristianismo, revistas A Reforma, Cultura Religiosa, além de Lucerna e Unitas.

Além de suas publicações teológicas, Othoniel Motta publicou ainda várias outras obras, das quais se destacam: Ensaio linguístico – Lições de português (1918); O meu Idioma (1918); Algum riso, muito siso (1918); Comentário aos Lusíadas; Comentários às Geórgicas, de Virgílio; Seleta moderna (s/d); Lirismo grego (1934); A Origem do lirismo português (1936); Horas filológicas (1937); Chave da língua – primeiras lições de gramática (1930); Do rancho ao palácio – Evolução da civilização paulista (1941); Através do Inventário (1944); O negro Tapanhuno (1944); Historietas (1946); Um pouco de folclore (1946); Cesário Mota – um estudo biográfico (1946); Livro de admissão, escrito em parceria (1950). O adorável bilhete ou a resposta à epístola a Filemon (s/d); O pronome “se” (1905); A evolução do gerúndio; Comentários ao livro de Atos dos Apóstolos; Evangelho de S. Mateus; Israel, sua terra e seu livro (1930); Questões Philologicas.

Othoniel Motta ofereceu contribuição às Letras, ainda, encontrando tempo para realizar traduções para o idioma português, como os livros Valor (1946), Temas espirituais para pequenos e grandes, bem como O amigo, todos de Charles Wagner.

De suas séries teológicas polêmicas, publicou, em 1933, os opúsculos: Lutero e o Pe. Leonel Franca, Lutero, a Bíblia e o Pe. Leonel Franca, A defesa do Pe. Leonel Franca, O papado e o Pe. Leonel Franca. E em 1938, publicou a série: Uma passagem interessante, Novas luzes, Paraíso e o Céu, A pregação além túmulo e Meu credo escatológico. Especialmente nos escritos contra o Pe. Leonel Franca, Othoniel Motta utilizou o pseudônimo Frederico Hansen.9

Além das diversas obras publicadas, Othoniel Motta ainda notabilizou-se pela publicação de inúmeras colunas nos principais jornais da época, como o Folha da Manhã e O Estado de São Paulo. Dentre as séries mais significativas estão Seara Filológica, publicada no Folha da Manhã, e Nugas Filológicas, publicada em O Estado de São Paulo. Além destas séries, destacam-se também as séries relacionadas aos temas e palavras bíblicas, como A Bíblia e as Plantas, A Bíblia e os Bichos, nas quais Othoniel Motta articula os sentidos etimológicos das palavras e sua passagem do grego, especialmente, ao português.

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Othoniel Motta cultivava um caráter polêmico, apreciava a fama de sisudo e austero, e seus escritos sempre se apresentavam com certo grau de provocação, tanto pessoal quanto científico. É possível que esta formação polêmica tenha se originado, especialmente, de suas relações eclesiásticas, em função de participar do grupo protestante presbiteriano que contrariava, na época, as perspectivas positivistas, que influenciavam o pensamento do final do século XIX e início do século XX, bem como as tendências políticas ligadas à maçonaria.

Lemos, por exemplo, num dos artigos da série Seara Filológica, no Folha da Manhã, de 6 de setembro de 1945, a seguinte provocação:

Quero avisar aos amigos que me honram com suas perguntas, que não trarei a público os seus nomes. Tomei esta resolução por várias razões. A primeira é que, assim fazendo, fico em absoluta liberdade de ação, podendo usar de franqueza, que reputo conveniente e que de outra maneira não usaria. A segunda razão é que ponho em ampla liberdade, por sua vez, aos consulentes, que dêsse modo nunca ficarão humilhados perante o público com o teor de algumas respostas. A terceira é que, em tais circunstâncias, só consultarão os que, de fato, querem saber, e não os que perguntam o que já sabem somente para verem os seus nomes no jornal...

Em Erros Inveterados, no Folha da Manhã (s/d), escreveu: “O rádio está-se tornando um corrutor da língua tão funesto com certos repórteres e noticiaristas”. Neste artigo, ele tratou de como as questões ortográficas podem interferir na pronúncia das

palavras. E mais à frente, concluiu: “Casam-se então rádio e imprensa na obra demolidora

do idioma”.

Em Os Tradutores e a Língua, no Folha da Manhã (s/d), escreveu:

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divulgação científica, o mal é dobrado. Vão-se espalhando erros de nomenclatura, que se fixam nos compêndios uns após outros e que tarde ou nunca se extirparão.

Além destas críticas às próprias obras e traduções, Othoniel Motta também denuncia a falta de ética de alguns intérpretes que, segundo ele, “emprestam seus nomes a traduções que êles nunca fizeram, de maneira que saem a lume, acobertados com o seu prestígio, disparates de todos os calibres, viciando a língua dos escolares, se é que ainda há

o que viciar”.

Ainda em Erros Inveterados, no Folha da Manhã (s/d), noutra ocasião, escreveu:

Conforme prometi no artigo anterior subordinado ao mesmo título, vou continuar na faina de apontar erros que, se nem sempre são cabeludos, são, pelo menos, barbados. Vêm de longe e aparecem não só nos noticiários dos jornais, mas em artigos alentados e até eruditos, bem como em livros escritos por nomes respeitáveis na literatura pátria.

Othoniel Motta tratou também de alguns assuntos políticos bem de perto, como o caso do tema do reflorestamento. Em Carta aos Prefeitos, por exemplo, um artigo publicado no Folha da Manhã (s/d), escreveu, num estilo leve e com retórica amplificada:

– Quem é você para nos escrever cartas? – perguntarão talvez os prefeitos admirados.

– Sou um brasileiro e um paulista que ama a sua terra e respeita a memória dos antepassados.

– Com que autoridade nos fala?

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coração, e o assunto é o que me vem empolgando há muitos anos e que não poderá deixar de vos empolgar também: o reflorestamento do nosso Estado.

Mesmo com seu caráter polêmico e crítico, Othoniel Motta recebeu diversas honras em razão de seus escritos serem revolucionários para o estudo gramatical da época. Numa correspondência, por exemplo, recebida de Wilhelm Meyer-Lübke10 e citada pelo próprio Othoniel Motta, lemos:

Monsieur, jê vous remercie de votre article Questões philologicas. La question que vous traitez est très difficile et pour cela très intéressante. Je

suis disposé à accepter votre point de vue, contre l‟opinion de Mr. Leite

et de feu Moreira. –C‟est um grand mérite de poursuivre ces études dans

une région qui est aussi éloignée dês centres scientifiques que Le Brésil,

et jê vous felicite de votre zele. J‟espére bien que vouz continuerez. Bien

à vous (MOTTA, 1917:247).11

Sobre O meu Idioma, Osorio Duque Estrada afirmou: É dispensável encarecer o valor e a utilidade deste trabalho (MOTTA, 1917:246). De Afrânio Peixoto, da Academia de Letras, Othoniel Motta recebeu também elogios ao seu trabalho Lições de Portuguez.

As suas Lições de Portuguez têm novidade didactica de alto valor, que deve permitir facilidade enorme ao ensino e à aprendizagem da língua: partir do concreto para o abstracto é regra natural de conhecimento e constitue o melhor merito das doutrinas pedagógicas de Pestalozzi.

Por isso, e creio que não me engano, o seu livro terá, e cada vez mais, um merecido bom exito (MOTTA, 1917:247).

10 Meyer-Lübke foi, de acordo com Cavaliere (2000:109), dentre os gramáticos indo-europeus, um dos que

mais se detiveram sobre a etimologia das línguas românicas. Ele foi uma das referências teóricas nos estudos gramaticais brasileiros, especialmente no que se refere às questões filológicas.

11Senhor, agradeço-lhe a remessa de seu artigo Questões philologicas. O tema que o senhor desenvolve é

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Othoniel Motta recebeu, também, de dois outros grandes gramáticos, referências importantes sobre suas obras. Eduardo Carlos Pereira e João Ribeiro se manifestaram sobre os trabalhos de Othoniel Motta. Sobre a sua obra Ensaio Linguistico, Pereira admite a utilização da hipótese de Othoniel Motta em sua Gramática Expositiva. Assim afirmou: A hypothese aventada pelo intelligente cathedratico Othoniel Motta, em seu interessante opúsculo Ensaio Linguistico, é altamente plausível, e, por assim consideral-a, partilhei-a na Grammatica Expositiva.

João Ribeiro, sobre a mesma obra Ensaio Linguistico, afirmou: Provera a Deus que todas as contribuições, estudos e tentativas feitas no assumpto fossem da alta valia da sua obrinha, tão bem pensada e escripta, em estylo tão agradável e tão claro. E ainda sobre um opúsculo teológico, intitulado Amor que santifica, Ribeiro elogiou: O livro é ao mesmo tempo encantador e instructivo em muitas das suas paginas, sem laivos de pedantismo e sempre ameno, agradavel e cheio de pensamentos nobilissimos (MOTTA, 1917:248).

Othoniel Motta faleceu no dia 14 de agosto de 1951. O enterro se deu no dia 15 de agosto, às 15 horas, com o féretro saindo da Capela Cristã, na rua Baronesa de Itu, 48, na capital paulista.12

As referências póstumas em memória de Othoniel Motta foram inúmeras. O Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, de 16 de agosto de 1951, registrou:

Em sua residência, na capital paulista, faleceu, às primeiras horas de ante-ontem, o Sr. Othoniel Motta, ilustre escritor e filólogo e figura de merecido realce nos meios culturais do país. Poucos estudiosos de nossa língua terão contribuído tanto quanto esse estudioso infatigável da ciência filológica e competente mestre brasileiro, a quem muitas gerações devem assinalados serviços ao lhe receberem preciosos ensinamentos, os colégios e academias em que Othoniel Motta prontificou como um valor inconteste.

O Jornal O Estado de São Paulo, na sexta-feira, 17 de agosto de 1951, publicou nota oficial da ata da Assembleia Legislativa Estadual, na qual se constava voto de pesar, proposto pelos deputados Gilberto Chaves e Camillo Ashcar, nos seguintes termos:

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Requeremos se consigne em ata um voto de profundo pesar pelo falecimento do professor Otoniel Mota, filólogo, romancista, jornalista, ensaísta, sociólogo e orador, cuja vida construtiva e eminentemente cristã significou a expressão plena da harmonia existente entre a Ciência e a Fé.

No Folha da Manhã, de 18 de agosto de 1951, publicou-se nota da Câmara dos Deputados nos seguintes termos:

Pela palavra do deputado Lauro Cruz, repercutiu no plenario da Camara o passamento do professor Otoniel Mota, falecido há dias nessa capital. Em comovida oração, o deputado udenista ressaltou as qualidades de homem de letras e ministro do evangelho, do extinto, funções que, como nenhum outro, soube honrar a dignificar. Alude ao vasto acervo literário que o extinto lega às gerações futuras, tanto no campo da filologia, como da religião, e fixa os seus esforços o campo da assistência social, fundando e dirigindo numerosas instituições filantropicas.

Na seccional de O Estado de São Paulo em Campinas, de 18 de agosto de 1951, lemos:

Teve à mais profunda repercussão nesta cidade, a noticia da morte do professor Otoniel Motta, que durante algum tempo foi catedratico de

português do antigo Ginasio Estadual “Culto à Ciencia”. A Congregação

desse tradicional estabelecimento de ensino, reunida ontem, deliberou oficiar à família do extinto, apresentando-lhe os pesames dos corpos administrativo e docente da referida casa de ensino. Por proposta do prof. Francisco Ribeiro Sampaio, unanimemente aprovada, será dado o nome do Prof. Otoniel Mota, à sala dos professores a ser inaugurada ainda este ano. Ficou deliberado, de acordo com o sugerido pelo prof. Livio Tomas Pereira, que será procedida à inauguração do retrato do saudoso extinto, a sala da Congregação.

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portuguesa no Brasil, especialmente no âmbito da filologia, destacando a fidelidade com que trabalhou no despertamento de uma cultura linguística brasileira, como também na Europa e nos demais países da América. Referindo-se à relevância de suas obras, Silveira Bueno afirmou: Os dois Evangelhos de que foi grande ministro, o de Cristo e o de Camões, o eternizarão na face da terra assim como as suas obras já o eternizaram na presença de Deus.

No dia 29 de dezembro de 1951, realizou-se, às 20 horas e 30 minutos, cerimônia oficial na Biblioteca Municipal, com a presença dos membros da Sociedade de Estudos Filológicos de São Paulo, para homenagearem a memória de Othoniel Motta.

Foi também em 1951 que amigos e ex-alunos de Othoniel Motta solicitaram a mudança de nome do Colégio Estadual e Escola Normal de Ribeirão Preto. O documento pode ser lido em Cione (s/d:241), a saber:

Ribeirão Preto, 30 de outubro de 1951

Exmo. Sr. Prof. e Deputado Arnaldo Laurindo.

Os abaixo assinados da Sociedade de Ribeirão Preto, grandes e sinceros admiradores, amigos e ex-alunos do Professor Otoniel Mota, o eminente filólogo há pouco falecido e que fora o primeiro professor de português do antigo Ginásio do Estado desta cidade, e marco inicial de sua investidura no magistério e onde pela grandeza do exercício de suas

funções, bem pode merecer hoje o título de “Mestre por Excelência” de

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As homenagens a Othoniel Motta foram encabeçadas por Alcides Palma Guião, Sebastião Fernandes Palma e Zoraide Rocha Freitas.13

No Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, de 16/08/1951, Osni Silveira, escreveu sobre Othoniel Motta o seguinte:

O Brasil atual não é muito rico em personalidades eminentes. Talvez a preocupação obsessiva dos ganhos materiais tenha absorvido de tal modo a atenções dos nossos homens que pouco tempo lhes restou para atender às atividades que realmente elevam a criatura humana no conceito de seus contemporaneos... Assim, é com imensa tristeza que se tem noticia do falecimento de homens que deram a sua vida em holocausto à inteligencia e que ajudaram a projetar lá fora o nome da nossa patria... Otoniel Mota foi um desses homens. Inteligente, culto, estudioso, reto, impôs-se sem restrições à estima e admiração dos seus patricios...

Outras homenagens invadiram o âmbito eclesiástico. De acordo com nota oficial

“em memória do rev. prof. Otoniel Mota”, do Jornal A Gazeta, de São Paulo, de 31 de outubro de 1951, uma cerimônia religiosa seria realizada naquela noite, às 20 horas e 30 minutos, na Igreja Metodista Central, na rua Liberdade, 659, um culto em memória de Othoniel Motta. Nesta cerimônia religiosa, foi presidente o Rev. Epaminondas Melo do Amaral, pastor da Igreja Cristã de São Paulo. Acerca do programa de culto, lemos:

Falará o prof. Albertino Pinheiro sobre a vida inspiradora do grande mestre desaparecido, que não só foi um grande cultor das letras como tambem um exemplar e piedoso cristão... Na ocasião serão cantados alguns hinos da lavra do rev. Otoniel Mota e o organista, dr. Darcy Prado, executará o programa musical.

Das homenagens pessoais eclesiásticas, destacamos a de Almeida Martins que, publicando em O Estandarte, de 15 de setembro de 1951, referiu-se a Othoniel Motta, como aquele que semeou com profusão as sementes benditas da instrução. E resume, então, o momento da perda de Othoniel Motta para a Igreja e cultura brasileiras:

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Foi por essa razão que, ao ver o corpo do rev. Otoniel Mota baixar ao túmulo naquela tarde de 15 de agôsto, tive impressão, a qual, creio eu, foi a mesma de todos quantos lá se encontravam na tarde daquele dia: a de que naquele instante desaparecia com Otoniel Mota mais uma das glórias do evangelismo nacional.

Destaca-se, também, a referência póstuma do prof. Luís Gonzaga Pereira Campos que, comparando a morte de Othoniel Motta à de Euclides da Cunha (20/01/1866 –

15/08/1909), no mesmo O Estandarte, de 15 de setembro de 1951, registrou:

15 de agôsto!

Ao encerrar as justas homenagens a um dos maiores gênios da língua, Euclides da Cunha, chega-nos a triste notícia da morte de outro gigante das letras pátrias: Prof. Otoniel Mota.

Cobrem-se de luto as letras e o Evangelismo pátrios!

Cobrem-se de luto as inúmeras instituições idealizadas e protegidas por êle!

Na sua fecunda e benéfica trajetória, Otoniel Mota revelou-se sempre o paladino das causas justas e foi durante sua vida, a permanente esperança para todos os brasileiros, como lídimo defensor que era dos altos interêsses do Senhor e da nacionalidade.

1.2. Lá e cá: diálogos e debates

Uma briga de grammaticos é, em geral, um sport como a rinha de gallos: não instrue, mas diverte... Mas o caso do sr. Motta é uma excepção a essa regra. Em primeiro lugar, elle não tem a empáfia habitual do grammatico, que é um sujeito que se tem quase por divino; depois, não aggride, não magoa, não offende a João Ribeiro: raciocina, argumenta e – oh! prodígio – convence.

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A. Com Said Ali em “O Pronome Se”.

Othoniel Motta e Said Ali são gramáticos do período histórico-linguístico

considerado o período da “gramática científica”, caracterizado pela descrição e análise dos

fatos da língua a partir, geralmente, de métodos funcionais, distribucional, gerativo e de valências. Esse período se caracterizou, mundialmente, e em todas as ciências humanas, pela passagem do idealismo ao cientificismo, no qual as ciências passaram por profundas transformações, especialmente na definição de seus objetos e métodos.

A razão para tal mudança foi especialmente o nascimento do estatuto de ciência empreendido pelo positivismo de Comte, segundo o qual a metafísica era uma impossibilidade e a apreensão do conhecimento só era possível a partir dos fatos da experiência objetiva, de modo que são muito bem consideradas as relações de causa e efeito, puramente matemáticas.

Como afirmou Kuhn (2006:116),

A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de estudos a partir de novos princípios, reconstrução que altera algumas das generalizações teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e aplicações.

Parece ter sido esta mesma a forma de mudança promovida pelas tendências historiográfica e linguística a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX. Esse espírito científico e antimetafísico passou a dominar o funcionamento das ciências humanas. As investigações passaram a ser finitas, limitadas e relativas a um dado específico. Perdeu-se a noção da universalidade ontológica e exigiu-se do pesquisador uma postura objetiva, técnica e descritiva.

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Segundo Cavaliere (2000:52), coube a Júlio Ribeiro inaugurar entre nós o uso do método histórico-comparativo, e científico, por assim dizer, cuja abordagem dos fatos da linguagem tornou-se descritiva e purificada da metalinguística. Cavaliere (2000:54) afirma que tal fato é absolutamente relevante se considerarmos que filólogos posteriores e igualmente afinados com as diretrizes da nova ciência linguística que chegava da Europa nem sempre conseguiam desvencilhar-se do conceptismo herdado da tradição greco-latina.

Com esse mesmo objetivo científico-descritivo, Othoniel Motta pretende rechaçar o

argumento do “se” como sujeito, ao qual ele mesmo denomina de estapafurdia theoria, uma heresia grammatical (p.21), respondendo às teses de Said Ali.

Apresentaremos, daqui em diante, o opúsculo escrito por Othoniel Motta, no qual

ele apresenta oito réplicas à teoria do pronome “se”, defendida por Said Ali. Faremos uma

descrição objetiva, isto é, o mais fiel possível à posição assumida, sem interpolar comentários de novas tendências ou nossas próprias interpretações, a fim de permitir que o leitor se aprofunde no próprio argumento de Othoniel Motta e valide ou não suas considerações.

a. A teoria do “se” apassivante é um mito.

Para Othoniel Motta, todas as autoridades linguísticas em torno do mundo se genuflexaram diante deste ídolo infantil. (p.6). Dos ilustres, Othoniel Motta cita Bopp, Diez, Meyer-Lübke, Brugmann, Bréal, Chassang, Ayer, Darmesteter, Riemann, Morandi, Petrocchi, Bello, Moraes, Adolpho Coelho, Julio Ribeiro, em summa, além de estudiosos da França, da Itália, da Espanha, de Portugal e do Brasil.

Em relação à teoria do pronome, ironicamente, Othoniel Motta afirma o seguinte: Esses homens nos mostram que até nas línguas escandinavas (Bréal) e eslavas (Brugmann) o verbo activo com o reflexivo faz as vezes da passiva: só aqui, no português, é mytho! (p.6).

Ao final do tópico primeiro, o autor promete mostrar que o fato da passiva do se é impossível de ser negado na língua portuguesa.

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Said Ali argumenta que o plural “Comem-se” é necessário para fazer a concordância com o plural do objeto “pães”. Diante dessa tese, Othoniel Motta contraria, afirmando ser “descabida e violenta” a hipótese da concordância formulada pelo professor.

O descabido da hipótese está no fato de que a passiva explica perfeitamente um e outro caso, sem ser preciso recorrer a nenhuma hipótese. É também violenta, porque não há no domínio árico – e em nenhum outro – um caso de falsa concordância com o objeto, a não ser nessa hipótese.

Othoniel Motta apresenta a tese de que as formas “come-se-o” e “vende-se-a”, por

exemplo, são barbarismos não existentes nos clássicos. Para ele, a língua não aceita a construção porque é impossível (3) logicamente encaixar um acusativo ao lado de outro, que é o reflexivo „se‟. (p.9).

Para fundamentar teoricamente sua tese, cita Rufino Cuervo: Además, en el sentido impersonal, la tradicion sintáctica, a que el instinto popular es tan fiel, hacia sentir siempre um acusativo em el pronombre reflejo, y no fue possible introducir outro acusativo (p.9).

O deslize de Said Ali, portanto, está no fato de querer à fina força fazer [o substantivo] objecto de uma voz activa, [sendo que ele] é o sujeito de uma voz passiva (p.9).

Diante do exemplo de Garção: Queremos restaurar a eloquência e não podemos sofrer que se exercite, o sentido está suspenso, porque falta ao verbo exercite um objeto, se a voz é ativa, ou um sujeito, se é passiva. Neste caso, acrescentando uma forma

pronominal, teríamos “que se exercite ela” ou “que ela seja exercitada”, mostrando, dessa

maneira, que a forma se-a seria possível.

Entretanto, a tese proposta por Othoniel Motta é a de que Said Ali teria achado uma válvula para respirar. A questão é mais complexa. O problema está no fato de que ela seria, no exemplo dado, objeto e não sujeito. A razão disso é que nas expressões verbaes com o pronome se só apparecem como objecto directo, necessariamente, fatalmente, os pronomes no caso nominativo, com exclusão systematica, irremediavel, absoluta, das fórmas o e a, as unicas genuinamente accusativas e objectivas (p.10).

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a) ... e sobre todas as virtudes accender nos corações dos súbditos um fogo ardente do divino amor, por meio da oração e contemplação, que são as escadas por onde elle se busca e traz do Céo (p.9).

b) Porque tanto o que pelejou, como o que ficou guardando a bagagem, terão igual parte na presa, e ella se dividirá igualmente (p.9).

Numa certa ironia, Othoniel Motta propõe assumir que ele (elle) e ela (ella) sejam objetos diretos para concordar, inicial e metodicamente, com a tese de Said Ali. Nesse caso, para Said Ali, ele e ela são objetos diretos. Entretanto, Othoniel Motta utiliza outras línguas para argumentar que o professor se equivocou novamente, sustentando-se numa teoria falsa.

Segundo Othoniel Motta, é necessário que se analisem outras línguas, pois só os espiritos tacanhos e ignorantes isolam uma lingua do convivio de suas irmãs para lhe estudar os phenomenos (p.10). Para reforçar sua tese, oferece três exemplos retirados do francês, do italiano e do espanhol:

a) Ces modifications étant inévitables, qu‟elles se fassent avec systéme. b) Cercate il Signore, mentre egli si trova.

c) ... el mismo dia que ella se me quitó, me quitaran tambien uma bacia.

Nesses casos, elles, egli e ella são sujeitos e não objetos. Utiliza, ainda, outro

exemplo do francês: J‟ai du bien, je suis jeune, et sors d‟une maison qui se peut dire noble avec quelque raison, em que o qui é uma forma nominativa subjetiva e não acusativa (p.11).

c. Mesmo estando claro o complemento regido de “per”, ainda a frase pode ser ativa.

Com essa tese, Said Ali contrariou o entendimento do gramático francês Bréal, segundo o qual o reflexivo se apassiva em certas expressões, como, por exemplo, em “Les

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Entretanto, considerando “sophistica e evasiva”, Othoniel Motta argumenta: Vamos de vagar. Se o professor concede que a expressão pode ter um sentido passivo,com o complemento de causa efficiente claro, que razões, que lógica o impedirá de ver ainda um sentido passivo, quando o complemento estiver oculto? (p.12).

De acordo com Othoniel Motta, portanto, o sentido é sempre passivo, e não ativo. Os exemplos são muitos e cita, dentre outros, Racine, Cervant e Gil Vicente, respectivamente, para ilustrar sua tese:

a) “Tout se fit par les prêtres” b) “Por mi se recibian los criados” c) “Outra mais alta pastora

Anda na serra preciosa, Imperatriz gloriosa, Principal, minha Senhora. Esta dos anjos se adora.”

d. “Vendem-se casas” não corresponde a “Casas são vendidas”

Para Othoniel Motta, a explanação exposta acima, também defendida por Julio Ribeiro, atesta sua tese. A questão, em seu entendimento, pode ser esclarecida nos modos sintético e analítico do latim. Nesse caso, em exemplo extraído de Cícero, lemos: Gallia est omnis divisa in partes tres, no qual divisa est foi privilegiada em vez de divitur.

A explicação de Othoniel Motta é que divisa est se refere a uma ação instantânea, feita uma vez no passado – como no perfeito grego – ao passo que divitur é uma ação vaga, realizável ou continuada. Nesse caso, divitur não seria passiva. O problema está no aspecto verbal e não na sintaxe de dependência entre sujeito e objeto.

Fundamentando ainda sua tese, apóia-se em Darmsteter, ao explicar o uso no francês: A la voix passive, les trasitifs se divisent em deux classes, suivant qu‟ils expriment une action momentanée, comme battre, frapper manger, tuer, ou une action plus ou moins durable, come aimer, haïr, louer etc (p.14).

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De fato, os intransitivos não têm passiva, afirmavam os gramáticos, entre os quais estavam Said Ali. Todavia, Othoniel Motta entendia que ambas as classificações não são necessariamente dependentes uma da outra. Assim sendo esclarecido, por exemplo, com o statur, no latim, o qual não se pode decompor em status est, pois é intransitivo, mas nem por isso deixa de ser passivo.

Nessa discussão, Othoniel Motta contrariou também a tese de Américo de Moura que havia prescrito: Estes (os factos) e o bom senso claramente nos mostram que é inteiramente vazio o nome de PASSIVO dado a verbos como itur, vivitur, etc. cujo sentido impessoal a sciencia da linguagem explica razoavelmente (p.16). Segundo Othoniel Motta, Américo de Moura se apoiou em Brugmann e Riemann, mas o fez erradamente.

A perspectiva de Othoniel Motta está fundamentada em Diez, que afirmou: Il faut – diz elle – distinguer deux cas. 1. Expression impersonnelle. a) Avec des verbs transitifs: ital. si dice (dicitur), si é delto (dictum est)... b) Avec des verbes INTRANSITIFS: ital. si va (itur) etc (p.16).

Assim sendo, a questão sintática primordial é saber se itur é ou não passiva. Diez afirma que sim. Assevera que, em italiano, é possível transformar a passiva impessoal e pronominal andasi na correspondente fu andato. L‟impersonnel passif dês verbes NEUTRES est rendu em romain par l‟actif: itur, vivitur, ital: si va, si vive. Em italien toutefois l‟impersonnel est souvent traité comme passif: da tutti FU ANDATO, ce que le français ne rendrait pas par il fut allé de tous (p.18).

f. O fato de vir habitualmente posposto o substantivo ao verbo é prova de que ele é objeto, não sujeito.

Quando não há ambiguidade possível, a língua permite a anteposição do substantivo ao verbo. Por esse motivo, não se pode dar razão ao ponto defendido. Othoniel Motta, nesta seção, cita alguns outros exemplos:

a) “... inculcar os meios por onde o amor se conserve e se augmente a opinião” (D.

Francisco Manoel).

b) “... aquel portillo se guarde, aquella puerta se cierre, aquellas escalas se tranquen, ... trincéense las calles com colchones” (Cervantes).

Othoniel Motta justifica a teoria da posposição por uma necessidade de clareza –

estilística, portanto – e não por uma questão puramente sintática. Assim, exemplifica:

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cavallo, correndo, esbaforiu-se e morreu; ao contrario, quando dizemos: „Matou-se o

cavallo na carreira‟, a primeira idéa é que o cavallo ia correndo e alguem o matou. Isto é patente” (p.19).

Nesse caso, o critério do sentido prevalece sobre o critério puramente sintático ou mecânico de análise. No caso do francês, por exemplo, exceto quando o complemento atrai

o verbo, a anteposição é o critério: “Les livres se lisent” (p.19). E assim conclui: “Por esse

caminho, tinhamos que dar como objectos os substantivos que habitualmente se pospõem aos verbos apparecer, bastar, faltar, e outros...” (p.19).

g. As expressões populares “Vende-se casas”, “Ferra-se cavalos” mostram que o povo não considera sujeito os substantivos “casas” e “cavalos”.

Segundo Othoniel Motta, esta é a objeção mais forte. Entretanto, só aparentemente.

Citando novamente Diez, argumenta o seguinte: Diez nos ensina que na „linguagem archaica, ou popular‟, era tendencia geral dar um sujeito PLURAL a um verbo no singular,

todas as vezes que o verbo PRECEDESSE o sujeito. Assim, o italiano: „Vi mori molti Christiani‟; „Ora cominció in Roma divisioni molti‟; „... soperchiava di um peccatore i piedi‟ (Dante); o hespanhol: „Legó grandes poderes (p.20).

Outra razão apresentada por Othoniel Motta é a “psicológica”. Afirma, citando

Meyer Lubke: O singular, diz elle, tem a preeminencia no espirito: fica estereotypado no verbo. Em seguida o espirito esbarra com o sujeito plural: não volta a desfazer o que está feito; prefere perpetrar um solecismo e chegar depressa ao fim proposto (p.20).

Esta parece ser ainda hoje a razão da falta de concordância sintática no caso de

“aluga-se casas”, por exemplo, fenômeno tão comumente percebido. Continua ainda mais seu esclarecimento:

Quando a voz é passiva e se trata da accomodação do participio com o sujeito, a discrepancia é de genero, às vezes: visto que o masculino tem a primazia, eis que elle apparece no participio anteposto, quando o sujeito, posposto, é feminino: „É PROHIBIDO a entrada‟, lemos constantemente

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A fim de objetar completamente a teoria do se com função de sujeito, Othoniel Motta apresenta ainda as razões de modo sucinto, a saber:

a) O reflexivo se, chamado entre os estudantes de latim – rabo sem cabeça, é uma fórma accusativa, não nominativa. Para Othoniel Motta, este fenômeno acontece puramente por uma razão psicológica, de fazer o espírito humano depender uma coisa da

outra, como causa e efeito. Entretanto, “semelhante usurpação só se dá quando a fórma nominativa é átona, como o je, e perde-se, por isso, na fórma verbal ou não póde sustentar-se, vibrando sozinha, no corpo do discurso; ao passo que a fórma usurpadora é tónica,

independente, realçada” (p.23).

b) A teoria não analisa a expressão “Vendem-se ovos”, a não ser pela violenta

hipótese de uma concordância com o objeto.

c) É obrigada a conceder o sentido passivo à frase de Camões: “mar que dos feios phocas se navega”, o que é ceder o terreno ao adversário.

d) Capitula ante as expressões: “Eu me chamo João”, “Elle baptizou-se alli”,

“Vende-se ella”.

e) O pretenso se sujeito recua e evapora-se ante os verbos reflexivos. f) Um simples possessivo escorraça-o do discurso.

g) Produz disparates ideológicos de fazer arrepiar os cabelos. “O juízo do Senhor não se EXECUTA arbitrariamente” (Vieira). “Substitua-se o se por gente ou por qualquer

outro indefinido, e digam se não resalta um absurdo e uma irreverencia” (p.25).

h) Contradiz flagrantemente a história da língua. Na expressão “Sabe-se que o

gatuno fugiu”, a cláusula “que o gatuno fugiu”, considerada sempre sujeito de uma voz passiva, passará a ser objeto de uma voz ativa.

Nesta discussão, Othoniel Motta encerra sua defesa ao se não-sujeito, apresentando as seguintes considerações: Cumpre-nos declarar que esses barbarismos estão-se impondo na literatura hodierna, entre os rabiscadores que desconhecem o fundo puro da lingua. No hespanhol e no italiano também não é rara a combinação. Mas, lá como aqui, ella encontra uma tremenda opposição nos espiritos afeitos aos dizeres classicos (p.25).

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Capítulo II: ALÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL DOS SÉCULOS XIX E XX

No aprendizado da sentença simples, deve evitar-se, em absoluto, o methodo synthetico, methodo archaico e irracional, e entrar impavidamente pelo methodo analytico. O methodo synthetico, absurdo, parte das definições, as mais das vezes abstrusas, impenetráveis á mente juvenil. Parte do desconhecido para o conhecido, do geral para o particular. O methodo analytico parte do facto concreto, particular, pra os factos geraes; vae do conhecido para o desconhecido. Antes de definir a preposição, o professor faz que o alumno veja a preposição funccionando; forma sentenças e que entrem preposições; aponta palavras que elles estão ligando; diz as relações que estas expressam. Magnifica gymnastica mental!

Othoniel Motta, em O Ensino do Vernaculo.

2.1.Pensar do Brasil: contextualização histórica dos séculos XIX e XX

A origem das instituições escolares no Brasil data de 1549 com a chegada dos jesuítas que criara, na até então colônia portuguesa, a “primeira escola brasileira”

(SAVIANI, 2008). A partir daqui se inicia o processo de institucionalização da educação no Brasil.

Saviani (2008) esboça uma periodização na educação brasileira nos seguintes termos: o primeiro período, de 1549 a 1759, é dominado pelos jesuítas; o segundo vai de

1759 a 1827, que se constituiu pelas “aulas régias” criadas pela reforma pombalina, numa

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educação nacional, abrangendo as escolas públicas e privadas, a partir de uma ideia produtivista de escola.

O século XVIII presenciou uma reviravolta nos estudos linguísticos. No Brasil, não havia ainda imprensa, universidades, tipografias, nem bibliotecas. Mas, o ensino era bem estruturado por consequência dos jesuítas.

A presença francesa foi grande no século XVIII no Brasil, influenciando a elite intelectual. A primeira tipografia no Brasil surgiu em 1747, no Rio de Janeiro, mas foi extinta por ordem do governo português. O primeiro jornal foi o Diário do Rio de Janeiro, em 1808. Mas, eram controlados pelo governo português e não interessavam aos ideais de liberdade que o Brasil já começava cultivar nesse período. Foi grande também a influência do Barroco, especialmente com o preciosismo vocabular, na construção frasal perfeita, presente também o cultismo e o conceptismo.

O sistema educacional teve dois momentos significativos após a expulsão dos jesuítas: o Colégio dos Nobres, em Portugal, em 1761, e a institucionalização do Seminário de Olinda, em Pernambuco, em 1798.

Do ponto de vista político, a aristocracia dominava no Brasil. Em razão do isolamento e da estratificação social, a Companhia de Jesus acabou servindo aos interesses de uma minoria que dominava o país. Duas questões principais têm a ver com os avanços da língua: a necessidade de domínio e a língua trazida à Colônia como mecanismo de controle e de poder (ROMANELLI, 2002).

A influência da gramática geral e filosófica também foi grande, especialmente pelo espírito iluminista e racionalista que grassava forte. A influência do racionalismo veio de, especialmente, duas obras: A Grammaire générale et raisonnée e a Encyclopédie, que são obras de cunho lógico-analítico e seguem a teoria racionalista na descrição dos fenômenos linguísticos. Elas são as principais obras classificadas como Gramática Geral e Filosófica. Essa corrente de estudo da língua, sob a influência da lógica analítica, encontrará vários seguidores que adotarão em suas gramáticas essa base teórica.

A Grammaire générale et raisonnée, de Claude Lancelot e Antoine Arnauld, publicada em 1660, representou uma nova postura do estudo da gramática e da língua, especialmente porque se distanciou do modelo medieval para assumir o racionalismo do século XVII. A obra foi considerada como fruto do cartesianismo de Descartes, que teve o Discurso do Método publicado 23 anos antes.

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do signo e a distinção entre as partes do discurso. Na Grammaire, os signos são representações das idéias, ou seja, significantes.

O princípio geral que fundamenta a teoria da Gramática Filosófica assume a língua como expressão do pensamento. Considerando que o pensamento, segundo a lógica racional, é regido por leis, cabe admitir que a língua também deve ser governada por leis. Nesta fundamentação teórica, se assume o rigor científico em vez da simples continuidade do sistema anteriormente defendido que propunha uma relação de dependência de todas as línguas à língua latina.

Não se pode desconsiderar, contudo, que anteriormente à Gramática de Port-Royal, autores como Escaligero (1540), Ramus (1562) e Sanchez (1587) já propuseram bases lógicas e humanistas às suas análises gramaticais. Este último, com sua Minerva, ultrapassou o trabalho teórico que já se apresentava em Prisciano, embora de modo obscuro. A fundamentação teórica de Sanchez era alinhar a gramática e a lógica e descobrir as estruturas lógicas (causae) bem como as regras internas e os primeiros princípios (rationis vera principia) da língua latina (FÁVERO, 1996:89).

A influência da gramática geral e filosófica é bem percebida nos estudos modernos da linguística. A lógica também fundamenta a estrutura das análises modernas, uma vez que o princípio do Racionalismo é bastante presente nas concepções de análise modernas. Para Fávero (1996:133), a Grammaire de Port-Royal é importante, especialmente por aproximar a gramática descritiva da lógica analítica.

Essa tendência de aproximação da análise linguística da lógica é seguida pelos Enciclopedistas. A Encyclopédie foi publicada entre 1751 e 1772, em 17 volumes de texto e 11 de quadros, por M. Diderot e M. D‟Alembert. Apresentava dois objetivos: expor a

ordem e a sequência dos conhecimentos humanos e apresentar os princípios gerais que são a base desses conhecimentos. Acompanhando a visão racionalista, rompeu com o teocentrismo e assumiu o antropocentrismo, dando ênfase a três áreas do conhecimento humano: a memória (História), a razão (Filosofia) e a imaginação (Poesia).

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Além de vários autores que assumiram a tendência da Gramática Geral e Filosófica, citamos a Grammatica Philosophica da Lingua Portugueza, de Jerônimo Soares Barbosa, publicada em 1822, em Lisboa, que assumiu fortemente a teoria defendida por Port-Royal. Sua metodologia de análise defende a relação da gramática com a lógica e apresenta dois objetivos: elucidar teoricamente a origem e a natureza da linguagem, explicando os fatos com a universalidade da razão, e instituir uma norma prescritiva, segundo interesses políticos e religiosos.

Para Soares Barbosa, o pensamento é lógico; os princípios universais são adquiridos; a gramática é um quadro ou painel do pensamento, em que a palavra deve exprimir a análise do pensamento. A influência de Soares Barbosa estava presente também na obra de Antônio Pereira Coruja, Compendio da Grammatica da Língua Nacional, publicada em 1835. A obra de Coruja é iniciada com a afirmação de que a gramática é uma arte que ensina a declarar bem os nossos pensamentos por meio de palavras (FÁVERO, 2006:82). A proposta da Gramática Geral e Filosófica só será rompida no Brasil com a chegada do método histórico-comparativo.

Segundo Elia (2003:121), na fase colonial, havia três ocupações linguísticas: a língua portuguesa, a indígena e as línguas africanas. Já no final do século XVIII, prevaleceu a língua portuguesa sobre as demais. E, então, Pombal promulgou em 1757 o Diretório que impunha a língua portuguesa ao uso geral.

O século XIX é descrito como o século imperial da política brasileira, que começa em 1822 com D. Pedro I e termina com a proclamação da República, em 1889.

Segundo Elia (2003), os principais acontecimentos desse período foram a abdicação do imperador, em 1831; o período regencial (1831-1840); a maioridade de D. Pedro de Alcântara, como D. Pedro II, aos 14 anos idade (1840-1889); Caxias e a unidade do Império; a Guerra dos Farrapos; guerras no Sul: Oribe, Rosas e Aguirre; a Guerra do Paraguai (1865-1870); a Questão Religiosa; a Abolição; Política e Economia.

D. Pedro I enfrentou resistências no Norte do país daqueles que eram contrários ao ato do Ipiranga, como o general Madeira, na Bahia. A Independência só seria reconhecida por Portugal em 1825. Em 1824, entretanto, D. Pedro outorgou a primeira constituição brasileira. Esse ato não foi consenso no Brasil: houve algumas sublevações, como, por exemplo, a de Pernambuco, liderada por Pais de Andrade.

Referências

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