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Open Representação Social da Pessoa com Deficiência frente à exclusão inclusão.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO

SANDRA MARIA CORDEIRO ROCHA DE CARVALHO

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA FRENTE À EXCLUSÃO / INCLUSÃO

JOÃO PESSOA/PB 2007

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SANDRA MARIA CORDEIRO ROCHA DE CARVALHO

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

FRENTE À EXCLUSÃO/ INCLUSÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós - Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, como um requisito final para obtenção do título de mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita

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SANDRA MARIA CORDEIRO ROCHA DE CARVALHO

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

FRENTE À EXCLUSÃO / INCLUSÃO

Dissertação aprovada em 08 de novembro de 2008

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita PPGE / UFPB

(orientadora)

________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Doziat Barbosa de Melo PPGE / UFPB

(examinadora)

_______________________________________________________

Profa. Dra. Janine Marta Coelho Rodrigues PPGE / UFPB

(examinadora)

________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Aparecida Ramos de Meneses - PPGSS / UFPB

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DEDICO

A DEUS, pela constante proteção, força e coragem na minha humilde existência e a Nossa Senhora da

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AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos pais, Alódio Onofre Rocha (in memória) e Marly Cordeiro Rocha pelo

amor, exemplo e presença firme em toda minha vida.

Ao meu tio, Professor Dr. Airton Cordeiro (in memória), quando, em julho de 2000, ainda no

seu leito de morte, ter me incentivado a procurar outras possibilidades na minha vida profissional, estimulando-me a seguir o caminho da docência. E hoje o tenho como grande referência na minha vida.

Aos meus queridos sogros, Elba Coelho Rodrigues de Carvalho e Manoel Carvalho, por compartilharem comigo o filho amado e me fazerem sentir amada também.

Ao meu bem amado Elmano, companheiro em tudo, pelo amor incondicional, por relevar minhas ausências, por entender e aceitar minha essência, por partilhar comigo meus sonhos.

As minhas filhas amadas, Brenda Cássia e Bruna Carla, por serem o motivo maior de tudo o que faço, penso e sou. Por elas não existe luta vã.

Aos meus irmãos Rita de Cássia, Joaquim Cordeiro e Marcone Cordeiro, pelo aconchego da família, pelos sobrinhos (as) amados (as), por me fazerem sentir feliz quando estamos juntos.

A minha orientadora muito estimada, Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita, pela forma generosa com que me acolheu em sua vida e pelo esmero e afinco na orientação de meus passos nessa dissertação, fazendo-me sentir totalmente amparada em sua competência e sabedoria.

As professoras Dra. Janine Marta Coelho Rodrigues e Dra. Ana Doziart B. Melo, pela tão nobre acolhida e significativa contribuição à minha pesquisa, com competência e oportunas intervenções.

À professora Dra. Maria Aparecida Ramos de Meneses, quando no tempo de graduação nesta universidade, testemunhei suas mobilizações, empenho e participação nas atividades políticas e sociais nos primórdios dos anos 80/90 até os dias atuais. Agradeço de coração e sinto-me honrada com a vossa presença nesse grande momento que a academia me proporciona.

Ao professor Dr. Roberto Jarry Richardson, nome forte da metodologia cientifica , agradeço de coração, os questionamentos oportunos, as provocações angustiantes e pertinentes, que me levaram às inquietações e enfrentamentos na busca de um maior aprofundamento teórico - metodológico que respaldasse e alicerçasse a pesquisa ora apresentada.

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À coordenação do PPGE/UFPB, representada pela professora Dra. Adelaide e o professor Dr. Antonio Carlos, a todos os professores e professoras do mestrado e aos funcionários na pessoa Sra. Roselene.

À FUNAD, onde dos meus 42 anos de existência, 15 foram dedicados a ela com amor à causa das pessoas com deficiência. Onde tive a honra de implantar serviços em prol dessa grande causa.

As colegas do mestrado Isabelle, Cristiane, Cris Olinda, Valeria, entre outros, por ter estado no lugar exato nas horas em que mais precisei, fazendo-me sentir mais tranqüila e confiante. E a todos da 26ª. Turma do PPGE/UFPB, pelos bons e emocionantes momentos que ficamos juntos.

Aos usuários que tão gentilmente contribuíram para minha dissertação, através das suas falas, resgatando e compartilhando seus sentimentos, momentos de angustias e de esperanças por dias melhores ou vendo nos seus olhos a ingenuidade do que nada podia ser feito para que esses dias melhores pudessem vir.

Á Coordenadora da CODAFI, representada por Dra. Leila Mônica Gonçalves, os meus mais sinceros agradecimentos pela paciência, amizade e confiança depositada durante os anos que convivemos na FUNAD.

A caríssima e muito estimada amiga, a fisioterapeuta Maria Filomena Spinelle, incentivando-me e estimulando-incentivando-me a vencer os desafios e por sempre se fazer presente às minhas solicitações.

Aos colegas docentes da Clínica Escola de Fisioterapia do UNIPÊ, Profa. Carla Fechine, Aldeide Rocha, Socorro Gadelha, que respaldaram minhas ausências de maneira tão carinhosa.

À coordenação do Curso de Fisioterapia do UNIPÊ, professoras Mariana Brito Barbosa e Ana Margarida Trigueiro do Vale, pela confiança, respeito e disponibilidade em ajudar-me nessa importante fase da minha vida.

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CARVALHO, Sandra Maria Cordeiro Rocha. Representação Social da Pessoa com Deficiência frente à exclusão / inclusão. João Pessoa, 2007, p. 127. Dissertação do Curso de Mestrado em Educação do Programa de Pós Graduação em Educação - PPGE, da Universidade Federal da Paraíba UFPB.

RESUMO

A presente pesquisa reservou-se a investigar as representações sociais das pessoas com deficiência frente à exclusão / inclusão que participam das atividades da Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência - FUNAD, localizada no município de João Pessoa, PB. Parte dos aspectos sobre a pessoa com deficiência, no contexto da exclusão e inclusão, na busca da cidadania. Têm o objetivo de dar voz as pessoas com deficiência, para que, através de suas falas, pudessem explicitar os sentimentos, significados e as representações que emergem no seu cotidiano. Compreendendo suas atitudes podem-se desvelar as contradições existentes que permeiam as propostas de inclusão e cidadania. Para a análise desse estudo, optou-se pela Teoria da Representação Social de Moscovici, como aporte teórico metodológico de uma pesquisa do tipo qualitativa, a partir do procedimento de entrevista com pessoas com deficiência, que freqüentam a referida instituição. Para análise dos dados foi selecionada a técnica da Análise de Conteúdo proposta por Bardin, a partir da seleção das categorias teóricas exclusão, inclusão e cidadania, em que buscamos identificar as representações sociais que essas pessoas têm a respeito do processo de exclusão / inclusão e cidadania. As análises das entrevistas com os sujeitos envolvidos na pesquisa revelaram que estes se sentem acolhidos no contexto institucional que freqüentam, mas a maioria dos sujeitos da pesquisa não compreende o significado da proposta inclusiva, da cidadania e dos seus direitos enquanto cidadãos no contexto social em que estão inseridos. O estudo aponta ainda que as pessoas com deficiência trazem consigo o senso comum acerca de sentimentos diversos, dentre os quais se destacam: estigmatização, a acomodação e a resignação, sentimentos que, por sua vez remetem, ao meu entender, uma postura de subordinação, alienação e desconhecimento acerca dos seus direitos como cidadão e cidadã dentro da perspectiva de inclusão que a sociedade do capital, produtora da exclusão social, lhes oferece.

Palavras-chave: representação social; pessoa com deficiência; cidadania; inclusão.

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CARVALHO, Sandra Maria Cordeiro Rocha. Handicapped Person Social Representation Facing Inclusion/Exclusion. João Pessoa, 2007, p.127. Education Mastership Course Dissertation in Education Post Graduation Program EPGP Universidade Federal da Paraíba - UFPB

ABSTRACT

The actual research had been reserved to investigate handicapped social representations facing exclusion / inclusion who participate in Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência FUNAD activities, located in João Pessoa, PB. It comes from aspects about handicapped person exclusion/inclusion context, searching for citizenship. The aim of this study was to give voice to these persons in order to, through their words; they could turn explicit the feelings, meanings and representations that rise out of the quotidian. Understanding one can attitudes and unveil the existing contradictions in inclusion and citizenship proposal. Form study analyses we chose Moscovici Social Representation Theory as theoretical- methodological as a support of a qualitative research. Seven persons were interviewed, who attended the institution previously referred, between the months of September and October of the current year. For data analysis it was selected the content analysis proposed by Bardin, from the theoretical categories exclusion, inclusion and citizenship, where they search to identify the social representations that these persons have about the exclusion/inclusion process and citizenship. The interviews analysis with the subjects involved in the research showed that those feel welcome in the institutional context that attend to, but the majority of the research subjects doesn t understand the inclusion, citizenship and rights proposal meaning, while citizens in the social context that are inserted. The study indicates that handicapped persons still bring with them the common sense about various feelings, among them we detach: the stigmatization and accommodation feelings that, in turn, remit, to my understanding, to a subordination alienation and ignorance attitude, about their rights as citizens in this inclusion perspective that the capital society, promoter of social exclusion, gives to them.

Key-words: social representation, handicapped person, inclusion.

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SUMÁRIO

vi

RESUMO ...

ABSTRACT ... vii 11

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INTRODUÇÃO...

CAPITULO 1: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL COMO APORTE TEÓRICO METODOLÓGICO DA PESQUISA ...

1.1 O Caminho metodológico e aspectos éticos da pesquisa ... 18 1.2 A teoria da representação Social ... 22 36 1.3 O significado das Representações Sociais no campo da deficiência ...

CAPITULO 2: CONTEXTUALIZAÇÃO DA DEFICIÊNCIA E CIDADANIA

42 2.1 Aspectos histórico-conceituais da deficiência e da pessoa com deficiência .... 43 2.2 A cidadania e os movimentos sociais na perspectiva de inclusão ... 55

CAPITULO 3: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS PROCESSOS DE EXCLUSÃO ... 68 3.1 Aspectos históricos da produção da exclusão e inclusão ... 69 3.2 Histórico das campanhas institucionais e um breve resgate das políticas

inclusivas ... 80 3.3 Processos de inclusão no município de João Pessoa ... 83 3.4 À FUNAD como lócus da pesquisa ... 89

CAPÍTULO 4: PERFIL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FRENTE AO LÓCUS DA PESQUISA E SUAS REPRESENTAÇÕES FRENTE À EXCLUSÃO, INCLUSÃO E CIDADANIA... 93 4.1 Perfil da pessoa com deficiência frente ao lócus da pesquisa... 95 4.2 A representação Social da Pessoa com deficiência frente à exclusão/ inclusão

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...

REFERÊNCIAS...

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APÊNDICE...

ANEXO...

121 127

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A expansão das desigualdades sociais e a exclusão marcam o período histórico vivenciado no capitalismo do século XX e nos tempos atuais de globalização, em que as pessoas são reduzidas à condição de objeto, consideradas parte do processo apenas quando se encontram em perfeitas condições físicas e psicológicas. No contexto dos processos de produção capitalista produzem-se discriminações e preconceitos que marcam a sociedade do capital em que vivemos, uma vez que separam as pessoas produtivas das improdutivas.

Nesse processo de exclusão, incluem-se na categoria improdutiva, as chamadas pessoas com deficiência, que, pelas dificuldades na condição de autonomia, tornam-se absolutamente dependentes e subordinados ao contexto familiar e social.

A temática em estudo merece ser considerada no sentido de analisar o processo que se destina a incluir a pessoa com deficiência em contextos educacionais e sociais fortemente excludentes. Observamos, a partir da vivência profissional, que as dificuldades para a inclusão se intensificam junto aos mais carentes, pois a falta de recursos econômicos diminui as chances de um atendimento de qualidade, ante ao agravante de que o potencial e as habilidades dessas pessoas são pouco valorizados nas suas comunidades de origem, supomos, também, em virtude do pouco esclarecimento a respeito do potencial da pessoa com deficiência, em que se sobrepõe os estigmas que são criados pela própria sociedade, quando rotula ou ignora o que, segundo seus padrões de normalização, diferem dos ditos normais pelos mesmos.

No contexto social da exclusão, torna-se, então, evidente a necessidade de se estudar e discutir as Representações Sociais que mediatizam as relações interpessoais e possibilitam a construção do vínculo, como estrutura dinâmica da sociedade que engloba tanto os sujeitos quanto os fenômenos da inclusão e seus contextos, pois entendemos que a forma como estes são concebidos neste momento histórico possibilitará conhecer as representações sociais, que são pensamentos compartilhados, construídos e desenvolvidos na vida cotidiana. Defrontam-se, então, dois grandes desafios à pesquisa: compreender o ser a partir de suas reflexão envoltas de significados e sentidos elaborados na sua história, desvelando as manifestações e ocorrências com foco no fenômeno de deficiência, exclusão e inclusão, no processo de desenvolvimento educacional e social.

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diferenças se estabeleceram? Como o cidadão ou a cidadã com deficiência se vê nesse processo? Questionamentos tantos, de natureza tão diversas, mas que aos poucos fomos percebendo não estarem dentro somente das nossas inquietações; então presentes também entre outros profissionais que, direta ou indiretamente, interagem com esses cidadãos que estão inseridos nesse segmento social.

A prática profissional, há quinze anos no lócus desta pesquisa, impulsionou e

estimulou a buscar um olhar interdisciplinar sobre a problemática da deficiência, como possibilidade de superação das dificuldades que ora se apresentavam no cotidiano profissional.

No espaço aberto pela oportunidade dada a nós, como profissional da saúde, de ingressar num programa de Mestrado em Educação, optamos por tentar encontrar respostas que diminuíssem as lacunas existentes dos profissionais de formação na área da Saúde, que têm como rotina profissional o convívio com pessoas com deficiências e a constante observação dos processos de exclusão por que passam essas pessoas, na defesa dos seus direitos sociais.

Em 1992, iniciaram-se minhas atividades na Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência - FUNAD, como fisioterapeuta. Nesse mesmo ano, participava de encontros ligados à área da educação especial, nos quais, a expressão inclusão se fazia presente nas discussões em grupo, instigando-nos à curiosidade e a necessidade de nos interarmos sobre o referido tema no nosso serviço e cotidiano institucional.

Mas a inclusão que se discutia na época não mencionava os tais espaços vazios, apenas referia-se a necessidades de se colocar mais alguma coisa, ou alguém, em espaços muitas vezes já cheios, como se a mágica da dilatação de todos os espaços, os físicos e os mentais, pudesse ser feita facilmente. Famílias iam em busca de uma escola para todos, na qual a proposta pedagógica fosse concebida à luz das diferenças de todos e os professores fossem formados para ensinar e aprender com a diversidade. Ideais inspiradores, mas ainda distantes da realidade brasileira, e, em particular, do nosso estado. Como atingí-los? Perguntávamos-nos de certa forma indignados e esperançosos.

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Observamos, de uma maneira geral, nas suas queixas diárias o desinteresse, a despolitização e a falta de perspectivas diante da causa da pessoa com deficiência.

Sem querer negar a importância dessas questões, sentíamos o interesse por outro aspecto que a nosso ver se fazia mais urgente conhecer: o que imaginavam esses cidadãos sobre o contexto da exclusão/inclusão em que estavam envolvidos. Dento dessa compreensão Bicudo e Espósito (1997, p. 76) enfatizam que o pesquisador em educação defronta a tarefa de desvelar e tornar explicita a constituição dos acontecimentos da vida diária. Para tanto, procura situar-se diante dos fenômenos de forma que estes possam mostrar-se na sua própria linguagem, ou seja, nas várias formas pelas quais eles podem aparecer tipicamente.

Assim, partindo dos próprios questionamentos e diante das indagações já elencadas, buscamos um método que fosse capaz de revelar não apenas possíveis respostas, mas indícios do contexto da construção destas. Uns métodos que nos possibilitasse entender como as pessoas com deficiência se situam nessa sociedade de histórico excludente e sob perspectivas inclusivistas, em que se parte do princípio geral que essas pessoas são sujeitos historicamente contextualizados, mesmo com rótulos e estigmas agregados por esta sociedade, possuem potencialidades, têm seus direitos e deveres enquanto pessoa, cidadão pela sua própria condição de ser humano.

Historicamente, essas pessoas têm sido relegadas aos mais esdrúxulos processos de exclusão, desde os manicômios até prisões domiciliares, por se acreditar serem incapazes de processos socializadores. Essa situação, embora venha sendo revista desde o final do século passado, através de significativos avanços legais de promoção da inclusão, ainda é grave, perdurando a um senso comum da discriminação arraigado há séculos. Neste sentido, investigar a concepção das pessoas com deficiência acerca das práticas inclusivistas, vivenciadas no contexto social e educacional em que estão inseridos, poderá possibilitar um novo olhar sobre sua condição de existência na sociedade e as potencialidades de organização e de lutas em busca da sua cidadania no contexto social que estão envolvidos.

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preconceitos é a desinformação existente acerca das potencialidades, anseios e dificuldades dessas pessoas.

O objetivo deste estudo é dar voz às pessoas com deficiência, para que, por meio de suas falas, possam explicitar os sentimentos, significados e as representações que emergem no seu cotidiano, buscando compreender as atitudes e desvelar as contradições existentes nos conceitos de inclusão que influenciam e expressam as ações do seu cotidiano. Assim, pretendemos investigar como a pessoa com deficiência se vê nesse processo de exclusão/inclusão e qual é a sua representação social acerca da inclusão.

Portanto, sensíveis a esta questão, tomamos aqui como objeto de investigação a

Representação Social da pessoa com deficiência frente à exclusão / inclusão, no sentido de analisar as representações sociais do referido grupo, acerca da suas percepções, opiniões, do contexto em que estão inseridos, dito inclusivista pela sociedade. De forma mais especifica, buscaremos: identificar a caracterização do contexto inclusivista em que está inserido, analisar a percepção do grupo acerca deste contexto, as representações que fazem das inter-relações, das relações com os atores externos implicados (o social) e da instituição que os acolhe (educacional e reabilitacional) e a atitude frente ao exercício da cidadania.

A Teoria das Representações Sociais configura-se em um referencial teórico metodológico que apresenta possibilidades concretas de alcançar o objetivo proposto nesta pesquisa, qual seja analisar as representações sociais da pessoa com deficiência.

Estudos que se fundamentam na Teoria das Representações Sociais apresentam um grau de importância relevante neste país. Na educação, podemos encontrar uma diversidade de estudos sob o enfoque de representações sociais. Teóricos e pesquisadores como Souto (1995), Rangel (1999), Madeira (2000), Costa e Almeida (2000), Oliveira e Siqueria (2000), dentre outros. Também em outras áreas como saúde, encontram-se pesquisas relevantes envolvendo a Teoria das Representações Sociais, dentre as quais destacamos as desenvolvidas por Oliveira (2000), Trindade (2003), Souza Filho (1992), e Reigota (2002). No percurso de nossa busca de literatura para esta pesquisa, foi possível perceber a preocupação desses pesquisadores, em encontrar, analisar e discutir as representações sociais que envolvem a área educacional, preocupação essa decorrente da necessidade de conhecer melhor o contexto social que envolve os sujeitos da pesquisa.

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que nos encaminham para a escolha dos sujeitos e do local da pesquisa, na busca de documentos oficiais.

Foi apresentado o Termo de Consentimento livre e esclarecido aos sete entrevistados, que freqüentam a Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência FUNAD, entre os meses de setembro e outubro do corrente ano. Conforme solicitação prévia junto ao Comitê de Ética do Centro de Ciência da Saúde (CCS), no que rege os aspectos éticos referentes à pesquisa em seres humanos, preconizados pela Resolução Nº. 196 de 10 de outubro 1996 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde capítulo II, sendo asseguradas aos participantes do estudo, informações sobre os objetivos da mesma, a privacidade, o livre consentimento, após terem sido convenientemente esclarecidos, bem como a liberdade de desistir da participação em qualquer momento sem prejuízo para a sua assistência.

A pesquisa teve um caráter qualitativo, visto que este tipo de pesquisa, por se tratar da necessidade de compreensão do pensamento, é entendido por Richardson (1999, p. 90) como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi à entrevista individual, captada por um gravador digital e depois transcrita e digitalizada. A entrevista é uma técnica importante que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas. [...] o termo

entrevista é construído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter

preocupação de algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas

pessoas ou coisas. Portanto o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas (RICHARDSON, 1999, p. 207).

A técnica metodológica que foi utilizada para a interpretação dos dados das entrevistas foi o da Análise de Conteúdo proposta por Bardin. A referida autora a define como [...] um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção /recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1988, p. 42).

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também como referência para a elaboração do processo desses sujeitos, diante da trajetória de inclusão desse segmento e dos movimentos sociais de que os mesmos fazem parte.

Com base nas argumentações até agora elencadas para a construção dessa pesquisa, a dissertação foi estruturada em quatro capítulos distintos, que foram de grande relevância para o entendimento e suporte teórico do fenômeno pesquisado. No primeiro capítulo desta pesquisa, encontra-se a Representação Social como aporte teórico-metodológico da pesquisa, seguido pelo caminho metodológico e aspectos éticos da pesquisa. Encontramos na Teoria da Representação Social de Serge Moscovici, que norte para o processo de compreensão deste estudo, e finalizamos este capítulo, com o significado das representações Sociais no campo da deficiência. O segundo capítulo tratou da contextualização da questão da deficiência e cidadania, demonstrou os aspectos históricos e conceituais da deficiência e da pessoa com deficiência e a cidadania e os movimentos sociais na perspectiva da inclusão.

O terceiro capítulo delineia o contexto histórico dos processos de exclusão e inclusão, abordando aspectos históricos da produção da exclusão e inclusão, e um breve histórico das campanhas institucionais e políticas inclusivas, além do processo de inclusão no município de João Pessoa e a FUNAD como lócus da pesquisa. O quarto capítulo, intitulado Perfil da

pessoa com deficiência frente ao lócus da pesquisa e sua representação social frente á inclusão

/exclusão e cidadania, tem como subtítulos O perfil da pessoa com deficiência frente à FUNAD e A representação da pessoa com deficiência frente à exclusão/inclusão e cidadania. Tais análises têm como base teórica autores como Serge Moscovici e colaboradores como Denise Jodelet, Marcos Reigota, Laurence Bardin, dentre outros já citados. E no campo temático da exclusão / inclusão da pessoa com deficiência, autores como Mittler (2003), Sassaki (2006), Mazzotta (1996), Rodrigues (2006), Santos e Paulino, Freire (1980) dentre outros.

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CAPÍTULO 1

A REPRESENTAÇÃO SOCIAL COMO APORTE

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Neste capítulo, abordaremos o caminho metodológico e os aspectos éticos da pesquisa, sobre a Teoria da Representação Social de Serge Moscovici, como aporte teórico-metodológico da pesquisa. Abordar-se-á também o significado das Representações Sociais no campo da deficiência. Consideradas essas imprescindíveis e elementares para a construção e direcionamento da pesquisa em foco.

Concordamos com o pensamento de Moysés e Collares (1997, p. 17) no sentido de que a pesquisa é o caminho de procura do conhecer, de acesso à apreensão, decomposição e reconstrução dialética da totalidade de um objeto de estudo, processo possível pela superação do aparente, que por vezes é enganoso; pelo enfrentamento de enigmas a serem decifrados, e de jogos de aparências e sombras, que ocultam o próprio objeto que se procura conhecer .

1.1 Caminho metodológico e aspectos éticos da pesquisa

De acordo com Martins e Bicudo (1989, p. 76), a pesquisa na abordagem fenomenológica que se inicia com uma interrogação. Inicialmente, esta interrogação não está muito bem delineada para o pesquisador. Ela corresponde a uma insatisfação do pesquisador em relação aquilo que ele pensa saber sobre algo. Sente-se pouco à vontade em relação a isto. Algo o incomoda. Cria-se uma tensão que acompanha e alimenta o pesquisador na busca da intuição da essência do fenômeno interrogado.

Os procedimentos metodológicos desta pesquisa partem da necessidade de articulação entre o processo e o produto da mesma como sendo elementos indissociáveis, o que não nos permite estabelecer uma falsa dicotomia entre o processo de elaboração das representações, tanto na sua elaboração e estruturação quanto no pensamento constituído. Nesses termos, as intenções foram de estabelecer uma metodologia de caráter dinâmico durante o processo de construção da referida pesquisa.

Dessa forma, é imprescindível entender a escolha do caminho a trilhar, que, a priori,

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Dentro de um largo espectro de possibilidades de investigação do nosso fenômeno, optou-se por uma linha teórico-metodológica que nos permita ver a essência dos fatos, na verdade, os fatos, os dados, não se revelam gratuito e diretamente aos olhos do pesquisador (LUDKE; ANDRE, 1986, p. 04).

Sendo assim, o propósito deste estudo foi o de procurar adotar uma perspectiva metodológica que melhor respondesse aos questionamentos e que estivesse articulada com a teoria. Então, assumindo uma metodologia que contemplasse essas aspirações, no trato com o objeto em estudo, enveredou-se por um caminho que tivesse relação com o campo das representações sociais, que devem ser construídas e posteriormente reveladas pelas pessoas com deficiência frente ao processo de exclusão e inclusão.

Em síntese, podemos dizer que as partes dessa metodologia estão entrelaçadas ao referencial teórico-metodológico, portanto em nível do simbólico. O campo das representações socias está articulado, neste caso em particular, com a realidade das pessoas com deficiência que freqüentam a Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência localizado no município de João Pessoa, Paraíba.

Seguindo esta abordagem, a pesquisa foi conduzida desenvolvendo-se um estudo qualitativo, uma vez que o estudo das representações está voltado para o conteúdo das comunicações. De acordo com Lakatos e Marconi (1982, p. 18) as metodologias qualitativas são capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais. Sendo estas últimas construções humanas significativas, tendo como foco de atenção o específico e o particular, como parte da compreensão do fenômeno estudado .

Segundo Spink (1995, p. 28) as representações sociais se definem por um conteúdo, composto de atitudes, imagens, opiniões e informações. Elas têm um caráter icônico (imagem) e simbólico (significado). Tais aspectos não podem ser separados, pois toda imagem está associada a um sentido e vice-versa. Este conteúdo se refere a algo (o objeto) e foi elaborado por alguém (o sujeito) .

Os sujeitos da pesquisa foram sete pessoas, seis com deficiência motora e uma com deficiência visual. Justifica-se a exclusão das pessoas com deficiência mental e auditiva, tendo em vista a escolha do instrumento para obtenção dos dados serem necessário uma compreensão verbalizada e uma coerência de entendimento cognitivo expressado pelo sujeito a ser submetido às entrevistas elaboradas de acordo com os objetivos propostos neste estudo.

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e especificidade de que são portadoras as pessoas com deficiência. A referida instituição está localizada no município de João Pessoa/PB, atende em média, segundo estatística fornecida pela diretoria técnica.

Os usuários1 escolhidos para aentrevista foram determinados conforme marcação de visitas às coordenadorias e disponibilidades de horário. Portanto foram visitadas na Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência FUNAD, as coordenadorias de atendimento ao deficiente físico e de atendimento ao deficiente visual, entre os meses de setembro e meados de outubro do corrente ano.

As entrevistas foram individuais, em que a pesquisadora apresentou-se ao entrevistado (a), munida de uma pasta com as entrevistas, termo de consentimento e um gravador digital para armazenamento das falas dos respondentes. Primeiramente, foi apresentado aos mesmos o propósito da pesquisa e indagado sobre a disponibilidade de sua contribuição na referida pesquisa. Com o consentimento dos participantes, procedeu-se à gravação das entrevistas, que foram transcritas posteriormente, respeitando-se com exatidão a maneira como cada um se expressou.

De acordo com os aspectos éticos referentes à pesquisa em seres humanos, preconizados na Resolução no. 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde capítulo II, foram assegurados aos participantes deste estudo, informações sobre os objetivos do mesmo, a privacidade, o livre consentimento, após terem sido convenientemente esclarecido, bem como a liberdade de desistir da participação em qualquer momento sem prejuízo para a sua assistência. Estes aspectos serão observados através do termo de Consentimento Livre e Esclarecidos elaborado pela pesquisadora e adotado nesta pesquisa.

Como técnica de coleta dos dados desta pesquisa, recorreu-se à técnica de entrevista semi estruturada, com o intuito de favorecer a livre expressão dos sujeitos e estimular a abordagem da temática em estudo uma vez que, esta nos permite apreender o significado dado pelos respondentes. Para tanto, utilizou-se um roteiro abrangendo os seguintes eixos: sobre a identificação dos usuários, os serviços da FUNAD e sobre o tema objeto da pesquisa a inclusão, exclusão e a cidadania.

Os itens contidos no roteiro das entrevistas seguiram uma seqüência levando em consideração os seus objetivos, com o cuidado de não induzir às respostas. Ou seja, foram divididos em partes distintas. De início, colhemos algumas informações visando

1 Conforme estatuto da Instituição FUNAD/1989, designação dada a todas as pessoas que se submetem a um

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caracterização dos sujeitos entrevistados quanto a sua idade, grau de instrução, tipo de escola que estudou profissão e dificuldades escolares. Em seguida, colhemos dados sobre a FUNAD e, por último, enfocamos o objeto do estudo propriamente dito, que são as categorias inclusão, exclusão e cidadania, conforme o roteiro de entrevista contido no apêndice dessa pesquisa.

O método para análise dos dados e para a caracterização dos sujeitos foi o de análise de conteúdo, comumente utilizado em pesquisas qualitativas, cujos dados foram planilhados e analisados. O conjunto destas informações veio compor o perfil dos entrevistados, bem como o cenário em que foram construídas as suas representações. O material obtido nas entrevistas foi analisado, segundo a técnica elencada pelo referido método.

De acordo com Bardin (1988, p. 109) a análise de conteúdo é aplicável a qualquer comunicação e é definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e percepção (variáveis inferidas) destas mensagens .

Entre as diversas técnicas de análise de conteúdo, optamos pela análise por categoria visto que a mesma se baseia na decodificação de um texto em diversos elementos, os quais são classificados e formam agrupamentos analógicos. Entre as possibilidades de categorização, a mais utilizada, mais rápida e eficaz, sempre que se aplica aos conteúdos diretos (manifestos) e simples, é a análise por temas ou análise temática; uma vez que é habitualmente empregada nos estudos sobre motivações de opiniões, atitudes, valores, crenças (BARDIN, 1988; FRANCO, 1986; RICHARDSON, 1999).

Para análise dos conteúdos das entrevistas, partiu-se para a classificação que denominamos categorização. De acordo com Bardin (1988, p.118), a etapa de categorização não é obrigatória na análise de conteúdo, mas a maioria dos procedimentos inclui a categorização, pois facilita a análise da informação .

1.1 A Teoria da Representação Social.

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Conforme a definição oferecida por Jodelet (2001), as representações sociais "constituem modalidades de pensamento prático, orientadas em direção à comunicação, compreensão e domínio do meio social, material e ideal (imaginário) . Isto é, as representações têm como propósito transformar algo estranho em familiar.

Partiu-se da compreensão de que as representações humanas configuram-se como os meios através dos quais os sujeitos sociais expressam as apreensões que fazem dos acontecimentos do cotidiano, das características do ambiente, das informações que circulam, das relações sociais. Constituem ainda um tipo de saber elaborado a partir do senso comum, das idéias, das imagens, das concepções e das visões de mundo que os atores sociais possuem da realidade.

É a realidade introjetada, manifestada concretamente. Neste sentido, as representações sociais são abordadas concomitantemente como produto e processo de uma atividade de apropriação da realidade exterior ao pensamento e de elaboração psicológica e social dessa realidade. Em outras palavras, uma representação social corresponde a uma forma de expressão social do conhecimento, que concorre para uma vivência prática. Ou seja, [...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (JODELET, 2001 p.22).

A representação social está diretamente relacionada com o senso comum, com as ideologias, com os preconceitos, com a realidade cotidiana. Dessa maneira, Uma representação social é o senso comum que se tem sobre determinado tema, onde se incluem também os preconceitos, ideologias e características específicas das atividades cotidianas sociais e profissionais (sociais e profissionais) das pessoas (MOSCOVICI, 2003, p. 12).

As expressões representacionais estão relacionadas com percepção, crenças e imagens dos atores sociais em relação a um contexto ou a um fenômeno cotidiano. São meios de se construir aquilo que se imagina. São formas através das quais os indivíduos exteriorizam pensamentos, sentimentos e aspirações sobre si mesmos, sobre outros indivíduos, sobre relações, sobre objetos, sobre o meio mais imediato e também sobre o mundo.

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É a interação social, sustentada na comunicação, no meio que possibilita a circulação do conhecimento, seja este proveniente do senso comum ou da ciência, servindo de cerne para a elaboração das representações sociais. As representações são produtos da interação e comunicação, e elas tornam sua forma e configuração específica a qualquer momento, como uma conseqüência do equilíbrio específico desses processos de influência social

(MOSCOVICI, 1991, p.21).

Portanto, surge uma nova possibilidade de análise no contexto das Ciências Sociais, centrada na perspectiva de percepção e compreensão dos fenômenos. Observa-se a emergência de um novo campo epistemológico para interpretação e conseqüente explicação da realidade, pleiteando a construção de um conceito, observada pelas ciências contemporâneas como ainda inacabado, que confere dinamicidade aos processos imersos aos contextos, em que o sujeito interfere no objeto, e vice-versa, ao mesmo tempo em que ambos são produtos de uma totalidade.

É exatamente nesse contexto hitórico e complexo que vem se consolidando a teoria das representações sociais como um conceito dinâmico e explicativo, tanto da realidade social, como física e cultural, que possui uma dimensão histórica e transformadora; juntamente aos aspectos culturais, cognitivo e valorativo, isto é, ideológicos, que estão presentes nos meios e nas mentes, isto é, ele se constitui numa realidade presente no objeto e nos sujeitos; é um conceito sempre relacional, e por isso mesmo social.

No entanto, conforme Moscovici (1991) a teoria da representação social representa um sistema de valores, de noções, e de práticas tendo uma dupla tendência: antes de tudo, instaurar uma ordem que permite aos indivíduos a possibilidade de se orientar no meio ambiente social, material e de dominá-lo. Em seguida, de assegurar a comunicação entre os membros de uma comunidade propondo-lhes um código para suas trocas e um código para nomear e classificar de maneira unívoca as partes de seu mundo, de sua história individual ou coletiva.

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sociedades modernas e seriam as causas fundamentais do fenômeno) (REIGOTA, 2002, p.66).

Seguindo essa linha de raciocínio, mesmo havendo uma predisposição psicológica para o fenômeno (suicídio), em última instância, este é originado das representações. Nesse sentido, respaldado em Durkheim, Reigota acrescenta: [...] nada ou quase nada escapa das configurações sociais, ou seja, as sociedades agem sobre seus indivíduos independentemente da vontade destes (REIGOTA, 2002, p.66). Continuando, o ator citado (p. 67), destaca que Durkhaim trata ainda de uma diferenciação entre representações e conceitos científicos.

De acordo com este entendimento, ele coloca que os conceitos científicos tendem a generalizações e ao rigor, enquanto que as representações coletivas se associam a um tipo de conhecimento que, podemos eventualmente possuir um aspecto de cientificidade, se pauta pela compreensão descompromissada do real, situando-se fora de um padrão inflexível de formulação do saber. Entretanto, isto não diminui o valor e a pertinência social do conhecimento gerado a partir das representações:

[...] como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este devido a sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais (JODELET, 1990, p. 22).

Subseqüentemente a Durkheim, surge outra corrente sociológica que influencia a teoria das representações sociais, precisamente na década de 20 e 30, chamada Sociologia do Conhecimento (Mannhein).

Tomando como base a tese da sociologia do conhecimento, diríamos que, na realidade somente o indivíduo é capaz de pensar. Porém, seria falso pensar que todas as idéias e sentimentos que motivam o indivíduo tenham origem apenas nele, e que possam ser adequadamente explicados tomando-se unicamente por batomando-se sua experiência de vida (REIGOTA, 2002, p.68).

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A Sociologia do Conhecimento se situa dentro do paradigma da contradição, marcado pelo materialismo histórico, enquanto o pensamento de Durkheim se origina para o consenso, uma busca de equilíbrio que se processa também através de representações (REIGOTA, 2002, p.68).

Todavia, o conceito de representação tem em Durkheim o seu fundamento original enquanto fenômeno de expressão dos sujeitos a partir de forças que emanam da sociedade, opondo-se, com isso, a posição de que as representações têm origem apenas no indivíduo.

Portanto segundo Moscovici, (1978, p.47), o verdadeiro inventor do conceito é Durkheim, na medida em que fixa os contornos e lhe reconhece o direito de explicar os fenômenos mais variados na sociedade. Ele define por uma dupla separação. Primeiramente, as representações coletivas se separam das representações individuais, como conceito das percepções ou das imagens. Estas últimas, próprias a cada indivíduo, são variáveis e trazidas numa ordem ininterrupta. Em seguida, as representações individuais têm por substrato a consciência de cada um; as representações coletivas, a sociedade em sua totalidade. Assim, estas não são o denominador comum daquele, mas antes sua origem, correspondendo à maneira pelo qual esse ser especial, que é a sociedade, pensa as coisas de sua própria experiência.

Para Durkheim, as representações resultam de forças que emanam das instituições sociais, de forma coercitiva e homogenizadora sobre os indivíduos ou grupos de indivíduos, que passam a representar valores, noções, conhecimentos e condutas. Estas servem ainda para:

[...] preservar o vínculo entre eles, prepará-los para pensar e agir de modo uniforme. Ela é coercitiva por isso e também porque perdura pelas gerações e exerce uma coerção sobre os indivíduos, traço comum a todos os fatos sociais (MOSCOVICI, 1978, p.47).

Para Andrade (2000, p. 148), na visão de Moscovici, a perspectiva européia, especificamente a francesa, a psicologia social vem questionar a dissociação do indivíduo e do coletivo no cotidiano humano, desde então, vive-se a expectativa de que estes elementos, necessariamente, não se contradizem, mas ao contrário, acham-se próximos.

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de se preencher uma falta: de uma parte, preencher o sujeito social de um mundo interior; de outra parte restituir o sujeito individual ao mundo exterior, isto é, social (MOSCOVICI, 1991, p.9).

No entanto, Andrade (2000, p.78) esclarece que Moscovici parte do princípio de Durkheim que explica a irredutibilidade do pensamento coletivo e dos princípios que regem o pensamento individual, como também, a ligação dos conteúdos e da estrutura do pensamento coletivo às formas de organização social . Contudo, detecta-se que Durkheim não aprofunda nem explica a pluridade dos modos de organização do pensamento, em suas reflexões, as representações configuram um tipo bem geral de fenômenos psíquicos e sociais que incorporam a ciência, a ideologia, o mito dentre outros.

Ao empreender a tarefa de distinguir todos os fenômenos como o mito, a ideologia e as lendas. Moscovici, com o conceito de representações sociais, dá um passo à frente, em relação à noção de representação social , mais ligada à análise das sociedades tradicionais. O autor considera o conceito de representações sociais mais adequados à análise das sociedades modernas (ANDRADE, 2000).

Para Jodelet (2001, p. 22) diz que Moscovici renovou a análise, quando insiste sobre a especificidade dos fenômenos representativos nas sociedades contemporâneas, caracterizada por: intensidade e fluidez das trocas e comunicações; desenvolvimento da ciência; pluralidade e mobilidade sociais.

Esse pensamento vem, num sentido mais amplo, justificar a mudança adjetiva de coletiva a social, empreendida por Moscovici, na compreensão da concepção de representação. Em outras palavras, o caráter social das representações transparece, segundo Moscovici, na função específica que elas desempenham na sociedade, qual seja, a de contribuir para os processos de formação de condutas e de orientação das comunicações sociais (REIGOTA, 2002, p.69).

O trabalho de Moscovici surgiu com sua tese de doutoramento, La Psychanalise, Son Image Public , transfigurando-se como um marco referencial no campo de pesquisas e

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apresentaria três dimensões possíveis: a atitude, a informação e o campo de representação (ANDRADE, 2000, p.83). .

Tendo-se como base a leitura das três dimensões tem-se um panorama geral do conteúdo e do sentido do objeto representado pelo sujeito ou pelo grupo. Porém, segundo Moscovici (1978, p.73), essa tridimensionalidade pode não se manifestar plenamente num universo representado. Numa pesquisa de opinião, por exemplo, em virtude do acesso ao conhecimento que não contempla a todos, como acontece nas sociedades desiguais, podemos encontrar bem a dimensão conhecimento em uma parte da população e não em outra. Assim como, nesta ultima, a dimensão atitude pode ser mais contundente do que naquela em que o conhecimento foi mais evidente. Isto nos permite refletir que, dependendo do objeto representado e de seus representantes, em relação a este objeto, podemos encontrar atitudes determinadas, porém, em parte, representações sociais completas. Pois quase sempre,

[...] a atitude é mais freqüente das três dimensões e, talvez, geneticamente primordial. Por conseguinte, é razoável concluir que uma pessoa se informa e se representa alguma coisa unicamente depois de ter adotado uma posição, e em função da posição tomada (MOSCOVICI, 1978, p.74) ·.

Baseando-se na sua pesquisa, Moscovici pôde concluir que os parisienses evidenciavam através de suas atitudes, valores tanto positivos como negativos em relação ao objeto estudado, mesmo sem ter antes conhecimento daquilo que poderia ser psicanálise, evidenciando claramente que indivíduos constroem suas representações sobre os objetos, mesmo antes de conhecê-los.

Em suma, talvez possamos situar a história evolutiva da compreensão da noção de representações sociais a partir das seguintes contribuições: Durkheim, pondo o caráter coletivo das representações em contraposição ao seu caráter meramente individual; e Moscovici que, com o adjetivo social , busca imprimir a dinamicidade e diversidade das formas representacionais em contextos societários dinâmicos, estruturados a partir de muitos centros, marcados pela difusão das mais diversas formas de conhecimentos em tempos de comunicação, em contraposição à noção estática das representações coletivas de Durkheim.

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Pelo fato de tratar-se de um tipo de saber, as representações sociais são possuidoras de modos de elaboração e funções específicas. Isto não implica em absoluto uma negação do saber científico ou de qualquer outra forma de saber, mas tão somente, o reconhecimento da especificidade de saberes que têm métodos e funções próprias, que foram historicamente construídos e que necessariamente não estão superpostos.

Para caracterização, estrutura e função, segundo Jodelet (1990, p. 360 -5), destacam-se cinco caracteres fundamentais ao fato de representar: ela é sempre representação de um objeto; têm um caráter imaginante e a propriedade de tornar intercambiável o sensível e a idéia, o percebido e o conceito; tem um caráter simbólico e significante; tem um caráter construtivo e tem um caráter autônomo criativo.

Evidencia-se ainda que:

[...], representar ou se representar corresponde a um ato do pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto. Não há representação sem objeto. [...], conteúdo concreto do ato de pensamento, a representação mental traz a marca do sujeito e de sua atividade. Este último aspecto remete às características de construção, criatividade e autonomia da representação, que comportam uma parte de reconstrução, de interpretação do objeto e de expressão do sujeito (JODELET, 2001, p.22-23).

Entendendo ainda que as representações sociais possam ser como entidades vivas , a partir da compreensão de que se caracterizam como tais, pois se movimentam, circulam e se cristalizam no universo cotidiano através de uma fala, de um encontro e de um gesto nas comunicações que se estabelecem; ao mesmo tempo em que são capazes de propor e provocar transformações em todos os elementos envolvidos: os sujeitos, os objetos representados e as relações. E mais, [...] as representações sociais correspondem, por um lado, a substancia simbólica que entra na elaboração e, por outro, à prática que produz a dita substância . [...] (MOSCOVICI, 1978, p.41).

Enquanto fenômeno da dimensão psicossocial, Moscovici nos fala da complexidade, não de apreensão das representações sociais em si, mas, sobretudo, da sua conceituação. E nessa perspectiva complementa: [...] se a realidade das representações sociais é fácil de apreender, não o é o conceito (MOSCOVICI, 1978, p.41).

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um corpus semelhante aos que a antropologia, a história, a etnologia e a psicologia da criança têm à sua disposição. Somente com a ajuda de tal acumulação de fatos e interpretações pode uma ciência progredir e formular uma teoria geral (MOSOCVICI, 2003, p.43).

Dentre os elementos constitutivos, o sujeito e sua objetivação, descrevem-se os elementos constitutivos da representação social da seguinte forma: atitudes, opinião, crenças, imagens, noções, estereótipos, percepções, práticas, história, meio ambiente, comunicação entre outros. Tendo como referencia às formulações conceituais de Moscovici, define-se as noções como sendo a forma em que cada sujeito dá nome aos objetos sociais, ou melhor, é a atribuição significativa aos objetos sociais; a comunicação apresenta-se como um fenômeno onde os indivíduos articulam e veiculam valores, constituindo uma rede de múltiplas e mutuas interações propiciando ao individuo a aquisição do caráter de social e o social subverte-se em individual, repercutindo nos processos de mudanças sociais, ao mesmo tempo em que participa na construção das representações sociais.

Quais são as formas de apreensão do espaço, das condições físicas e sociais, das vinculações, das relações e das interações que o sujeito faz na construção das representações sociais, como por exemplo, a classe social a que pertence? A noção de ambiente, entendido como elemento constitutivo do processo, traduzido no contexto das representações sociais, emprega sentido aos comportamentos e incorpora-os em um complexo de caracteres móveis e socialmente estabelecidos.

As imagens são resultantes dos processos de internalização dos fenômenos dados, dos acontecimentos cotidianos e das relações que se estabelecem. A imagem é a reprodução do objeto à maneira em que foi concebida, não necessariamente à maneira de cópia, tal qual o objeto se apresenta. Ou ainda,

[...], esta é concebida como reflexo interno de uma realidade externa. Por conseguinte, é a reprodução passiva de um dado imediato. O indivíduo foi escrito carrega em sua memória uma coleção de imagens do mundo sob seus diferentes aspectos . Essas imagens são construções combinatórias, análogas às experiências visuais. São independentes, em grupos diversos (MOSCOVICI, 1978, p.47).

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resultam de uma filtragem de informações possuídas ou recebidas pelo sujeito a respeito do prazer que ele busca ou da coerência que lhe é necessária (MOSCOVICI, 1978, p.47-48).

Desta forma, a imagem exerce uma função de duplo sentido: seleciona o que vem do interior, sobretudo, o que vem do exterior; porém se faz oportuno entender que, ao se falar de representações sociais, esses corte dado entre o universo exterior e o universo interior do individuo ou do grupo, não deve existir.

Na realidade, é preciso considerar a capacidade e o poder criativo das atividades representativas. Na fascinante qualidade de representar, o ser humano se mostra capaz de relacionar novas imagens às já existentes combiná-las e separá-las, e ao mesmo tempo recombiná-las, engendrá-las diversificando assim, tanto em qualidade quanto em qualidade o seu universo ou reservatório de imagens e a sua capacidade.

De uma forma ampla, o que imprime peso, autenticidade, valor e importância às representações sociais é o fato de se tratar de uma forma de conhecimento produzido ou elaborado, sobretudo no seio das relações sociais e interações entre pessoas, fenômenos e mobilidade, mutabilidade, dinamicidade e, sobretudo, o seu caráter criador e re-criador; porém o mesmo não se observa particularmente aos conceitos de imagem, atitude, opinião. Nesse sentido, Moscovici (1978) destaca:

Os conceitos de imagem, de opinião e de atitude não levam em conta esses vínculos, a abertura que os acompanha. Os grupos são encarados a posteriori de maneira estática, não na medida em que criam e se comunicam, mas enquanto utilizam e selecionam uma informação que circula na sociedade (MOSCOVICI, 1991, p.50).

Para Moscovici (1978, p. 50), as representações sociais são conjuntos dinâmicos, seu

status é o de uma produção de comportamentos e de relações com o meio ambiente, de

uma ação que modifica aqueles e estas, e não de uma reprodução desses comportamentos ou dessas relações, de uma ação a um dado estímulo exterior.

De acordo com a exposição, podemos concluir que as representações sociais não podem ser resumidas a opiniões sobre ou imagens de , mas como um corpo teórico, uma ciência coletiva sui generes , que objetiva interpretar, elaborar e reelaborar a realidade. Não

se pretende, com isso, rebaixar ou obscurecer a valia ou significância dos conceitos de imagem, de opinião e de atitude. Pelo contrário, deve-se reconhecer a pertinência destes como elementos constitutivos das representações sociais.

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representação social em si, pois que a centralidade deste conceito último são as relações sociais e interações que os produzem. Daí que os primeiros devem ser reconhecidos pela sua importância, mas como elementos constitutivos deste último, ou seja, as atitudes, as imagens e as opiniões como elementos constitutivos das representações sociais.

O sujeito é sua representação nesse universo, sendo que o sujeito apresenta-se distante do objeto. É ele que torna o objeto ausente, determina o caráter estranho do objeto é o indivíduo ou o grupo. Se há de se estranhar à ciência, a filosofia ou a política é porque, como se sabe, estas foram forjadas, desenvolvendo grandes esforços para nos excluir, para não permitir um reconhecimento nelas. Nesse sentido, Moscovici reforça:

Um povo, uma instituição, uma descoberta, etc. parecem-nos distantes, bizarros, porque não estamos neles, porque se formaram e evoluíram como se não existíssemos , sem relação alguma conosco. Representa-los conduz a repensar-lhos, a reexperimentá-los, a refazê-los à nossa maneira, em nosso contexto, como se aí estivéssemos ; em suma, introduzir-nos numa região do pensamento ou do real de que fomos eliminados e, de fato, a intervir-nos nela e a torná-la como própria (MOSCOVICI, 1978, p.64).

A representação não surge do vazio, do nada. Ela é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito). As características do sujeito e do objeto nela se manifestam Também se origina aí a tensão no âmago de cada representação entre o pólo passivo da estampagem do objeto a figura e pólo ativo da escolha do sujeito - a significação que lhe dá e de que ele está investido (MOSCOVICI, 1978; JODELET, 2001).

Trata-se de figura e não de imagem pelo fato de que o segundo nos traz muito a idéia de reflexo, de reprodução, enquanto que o primeiro termo figura dá-nos a impressão de mais liberdade no sentido mais de produção do sujeito, o que é próprio da representação.

Na estrutura de cada representação tem-se o desdobramento de duas faces indissociáveis, ou que não devem ser jamais interpretadas separadas, pois que se complementa no universo do sujeito que a construiu: a face figurativa e a face simbólica . Neste sentido, apresenta-se, em síntese, Moscovici (2003, p.46) diz: a representação iguala toda imagem a uma idéia e toda idéia a uma imagem .

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Em âmbito psíquico, apreende-se do exterior, cercado de conotações políticas, religiosas, ideológicas etc., reelabora-se e representa-se em uma figura carregada de sentido próprio, inscrevendo o objeto em nosso universo, ou seja, naturalizando-o e, ao mesmo tempo, fornecendo um contexto inteligível.

Ao penetrar no universo do indivíduo ou do grupo, o objeto entra numa série de relacionamentos, interações e articulações com outros objetos aí presentes, onde se dá o intercâmbio de propriedades em sentido duplo, ou seja, o objeto novo toma propriedades do existente e a este acrescenta as dele. Sendo assim, o objeto ao tornar-se próprio e familiar, é transformado e transforma também. Daí se depreende que a tarefa de representar não se limita a simples reprodução fiel do lado dado, pelo contrário, destina-se a redefini-lo de acordo com a sua adaptação ao contexto pretendido.

Ao ser representado, o objeto adquire um novo status, um novo perfil a partir das

relações e da adaptação de acordo com o significado que adquire e exerce no contexto representado. Nesse sentido, resumidamente, [...] representar um objeto é, ao mesmo tempo, conferir-lhe o status de um signo, é conhecê-lo, tornando-o significante (MOSCOVICI,

1978, p. 63).

A objetivação, amarração ou ancoragem são os dois processos fundamentais inerentes à elaboração das representações sociais. A ancoragem está diretamente relacionada ao investimento do objeto da representação pelo corpo social, como também a influência dos valores de referência sobre sua evolução. Ao passo que a objetivação se faz na perspectiva de tornar real um esquema conceptual, ou ainda, de dar uma imagem, uma contrapartida material.

A objetivação corresponde ao trabalho onde o dado (de uma ciência, por exemplo) é tomado, não necessariamente em incorporação do objeto. Pode-se dizer ainda, que corresponde à naturalização autônoma das idéias ou dos objetos no seio do senso comum.

Isso é possível de acontecer, segundo Moscovici (1991), primeiramente, pela flexibilidade cognitiva:

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Segundo Moscovici (2003, p. 71), objetivar é reabsorver um excesso de significações materializando-as (e adotando assim certa distância a seu respeito). É também transplantar para o nível da observação o que era apenas inferência ou símbolo. Noutras palavras, Objetivando une a idéia de não familiaridade com a de realidade, torna-se a verdadeira essência da realidade. [...] objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma idéia, ou ser impreciso; é reproduzir um conceito em uma imagem.

O fato de objetivar incide sob três eixos: a naturalização, a classificação e a esquematização estruturante. O primeiro consiste nas possibilidades do fluxo dos elementos objetivos para o meio cognitivo, preparando-os para uma mudança essencial de status e

funcionalidade. Uma vez naturalizado, compreendendo que o objeto reproduz a fisionomia de uma realidade quase física. Assim como o seu caráter intelectual perde importância. E, em relação ao segundo a classificação tem-se que: [...] coloca e organiza as partes do meio e, mediante certos cortes, introduz uma ordem que se adapta à ordem preexistente, atenuando assim o choque de toda e qualquer nova concepção (MOSCOVICI, 1978, p.113).

A tarefa classificatória cumpre a função de situar e fixar os comportamentos individuais e organizá-los em sintonia com o núcleo do objeto naturalizado em representação. Complementando, Ela completa o quadro das instâncias principais do psiquismo, indica quais as que estão presentes, as que deveriam ou não figurar no lugar em que figuram (MOSCOVICI, 1978, p. 130).

No que se refere à esquematização estruturante, o modelo figurativo resultante daí acaba por preencher algumas importantes funções:

[...] é um ponto comumente a teoria cientifica e sua representação; [...]; a mudança do indireto em direto encontra-se aí realizada; [...], o que na teoria é expressão geral, abstrata, de uma série de fenômenos, converte-se, na representação, em tradução imediata do real; o modelo associa os elementos indicados numa seqüência autônoma, dotada de uma dinâmica própria (MOSCOVICI, 1978, p. 126-127).

Pode-se dizer ainda que objetivar é tornar o conceptual prático, concreto, vivenciável materializá-lo, torná-lo natural, ao corrente. É fazê-lo circulante nas relações sociais, influenciando-as e sofrendo influências destas.

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ainda, [...] designa a firme inserção de uma ciência na hierarquia de valores e entre as operações realizadas pela sociedade (MOSCOVICI, 1978, p. 13).

É através da ancoragem que um saber torna-se útil a todas. Diz-se que tal nível foi atingido quando a maioria na coletividade toma para si o conhecimento a ponto de vivenciá-lo, e, por conseguinte, mobiliza as relações sociais, noutras palavras Jodelet (2001) reforça:

[...], a ancoragem enraíza a representação e seu objeto numa rede de significações que permite situá-los em relação aos valores sociais e dar-lhes coerência, nesse nível, a ancoragem desempenha um papel decisivo, essencialmente no que se refere à realização de sua inscrição num sistema de acolhimento, um já pensado. Por um trabalho de memória, o pensamento constituinte apóia-se sobre o pensamento constituído para enquadrar-se a novidade a esquemas antigos, ao já conhecido (JODELET, 2001, p.38-39).

O sentido do social na representação, dentre as várias interrogações a respeito da dimensão do social na representação, ou seja, o fato de que a representação ser ou não social, Moscovici (1978, p75) coloca-nos: Que representação não seria social? .

Em toda representação implícita ou explicitamente, existe um vínculo com algo, seja este pré-existente ou presente, seja vivenciado ou até mesmo imaginado, até porque mesmo a imaginação está relacionada a algo de real. Este vínculo materializa-se na e pela comunicação, principalmente através da linguagem, possibilitando a emergência e ao mesmo tempo a circulação das representações.

Jodelet (2001) ressalta que elas circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas em condutas e em organizações materiais e espaciais. Complementando Moscovici, diz:

Foi fundamental, desde o inicio, estabelecer a relação entre comunicação e representações sociais. Uma condiciona a outra, porque nós não podemos comunicar, sem que partilhemos determinadas representações e uma representação é compartilhada e entra na nossa herança social, quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicação (MOSCOVICI, 1991, p.17-18).

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ainda pela sua propensão à expansividade pelo corpo social. A representação surge no corpo social e a ele se reverte, mediada ou engendrada pela comunicação. Sendo assim, pode se encontrar a dimensão social das representações.

Em outras palavras,

[...] a representação é social por três aspectos correlatos, isolados e postos à prova por Moscovici (1961) o primeiro critério, quantitativo, define sua extensão numa coletividade; os outros dois são qualitativos, a partir do momento em que se trata de considerá-la expressão (ou produção) de uma formação social, ou de analisar sua própria contribuição (ou função) no processo de formação e de orientação das condutas e das comunicações sociais (JODELET, 2001, p. 80).

Para Moscovici (1978 p. 76-77) qualificar uma representação de social não basta para definir o agente que a produz. Saber quem produz esses sistemas é menos instrutivos do que saber por que se produz. Para se poder apreender o sentido do qualitativo social é preferível enfatizar a função a que ele corresponde do que as circunstancias e as entidades que reflete. Esta lhe é própria, na medida em que a representação contribui exclusivamente para os processos de formação de condutas e de orientação das comunicações sociais.

Enquanto as representações sociais cumprem a função de formação de condutas e orientação das comunicações sociais, Moscovici, a respeito das funções da ciência e da ideologia, nos diz: A primeira visa o controle da natureza e tem por finalidade contar a verdade sobre ela; a segunda esforça-se antes por fornecer um sistema geral de metas ou em justificar os atos de um grupo humano (MOSCOVICI, 1978, p. 77).

1.2. O significado das Representações Sociais no campo da deficiência

Como já abordado e embasado a Teoria da Representação Social originou-se no trabalho de Moscovici, com uma abordagem sociológica da Psicologia Social, no qual pontuam as relações dialéticas entre o homem e a sociedade, capazes de explicitar a pluralidade dos modos de pensar e de se comunicar.

Referências

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