PRÁTICA ASSISTIDA
UM RELATO DO CAU/RS SOBRE A PRÁTICA
PROFISSONAL ASSISTIDA NAS
INSTITUIÇÕES DE ENSINO DE
ARQUITETURA E URBANISMO NO RIO
GRANDE DO SUL
Inicialmente as duas Comissões Permanentes receberam do plenário
do CAU/RS a incumbência de preparar uma plenária extraordinária
temática para tratar das instituições de ensino superior que prestam
serviços de Arquitetura e Urbanismo. Esta solicitação partiu de
inquietações que vinham por parte das duas comissões.
Há invasão do campo profissional por parte das instituições de ensino?
A prestação de serviços por parte das unidades acadêmicas configura-se como
concorrência desleal, tendo em vista que esta detém de um respaldo perante
a sociedade por ser uma instituição de ensino?
As atividades de prestação de serviços desenvolvidas por docentes, técnico
administrativos
e
discentes
devem
ser
anotadas
em
Registros
de
Responsabilidade Técnica - RRT.
Está ocorrendo a prática assistida?
Ela atinge a totalidade dos alunos?
A prática assistida é a forma da universidade vincular-se à realidade
profissional?
Foi realizada pesquisa quantitativa a partir dos dados coletados
no SICCAU e IGEO;
Foram realizadas entrevistas alguns com informantes qualificados
das
Instituições
de
ensino
superior(diretores
das
escolas,
coordenadores de curso, coordenadores de escritórios modelos,
núcleos de pesquisa e extensão).
Foram analisados aspectos legais referentes às universidades
sobre o tema de prestação de serviços;
O estudo usa como base a divisão do estado em 9 regiões
funcionais
estabelecidas
pela
Secretaria
Estadual
de
Planejamento – SEP;
Foram analisados mapas temáticos do estado do Rio Grande do
A lei 12.378 de 31 de Dezembro de 2010 que no Art. 2° estabelece as
atividades e atribuições do arquiteto e urbanista, sendo que em seu item
VIII especifica as atividades vinculadas ao ensino formal: “...treinamento,
ensino, pesquisa e extensão universitária”.
O texto torna claro que as ações desenvolvidas por arquitetos e urbanistas
que exercem sua profissão como professores são parte das atribuições do
arquiteto e urbanista. Estas atividades, portanto, deveriam ser registradas
por meio de RRT, pois conforme o Art. 45 da mesma lei: “Toda realização
de trabalho de competência privativa ou de atuação compartilhada com
outras
profissões
regulamentadas
será
objeto
de
Registro
de
Responsabilidade Técnica RRT”.
Porém esta obrigatoriedade é questionada pelo decreto presidencial n°
5.773 de 9 de maio de 2006, que em seu artigo 69 declara que “...o
exercício de atividade docente na educação superior não se sujeita a
ANÁLISE GERAL DO RIO GRANDE DO SUL
27 Instituições de Ensino Superior ministram o curso de Arquitetura e
Urbanismo;
Subdivididas em 04 Instituições Públicas e 23 Instituições Privadas;
As Instituições de Ensino ofertam um total de 2.281 vagas;
O número total de egressos no ano de 2013 foi de 776;
No ano de 2013, havia 9.277 profissionais liberais ativos no estado e
1.573 empresas registradas no conselho.
INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
-CATEGORIAS
Públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e
administradas pelo Poder Público;
Privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas
físicas ou jurídicas de direito privado, podendo enquadrar-se nas
seguintes categorias: particulares em sentido estrito, comunitárias,
confessionais e filantrópicas.
VAGAS OFERTADAS E EGRESSO EM 2013
A Região 1 - Metropolitana concentra 40,0% das vagas e 45,3 % dos
egressos;
A Região 3 serra concentra 15,3 % das vagas e 7,4 % dos egressos;
A Região 9 – Norte - concentra 14,0 % das vagas e 14,3 % dos egressos.
Uma pesquisa sobre as atividades e serviços relacionados à arquitetura e
urbanismo no âmbito das Instituições de Ensino Superior e suas relações
com a comunidade onde se inserem, foi realizada através de uma consulta
formal, sobre forma de questionário, a todos os cursos de Arquitetura e
Urbanismo do RS. Como o percentual de respostas foi muito baixo,
decidiu-se, como forma complementar, realizar uma busca nos sites e consulta por
telefone. Desta forma, obtivemos o seguinte levantamento das seções
técnicas:
11 universidades possuem Escritório Modelo;
01 possui Empresa Júnior;
04 possuem Institutos;
03 intermediam a relação com a sociedade através de Fundações
(Universidades Públicas);
02 possuem laboratórios;
03 possuem núcleos.
Art. 20. A pessoa jurídica que, na forma de seus atos constitutivos ou em razão
do objeto social ou das atividades efetivamente desenvolvidas, mantenha
seção técnica por meio da qual preste ou execute, para si ou para terceiros,
obras ou serviços técnicos que se enquadrem nas atividades, atribuições ou
campos de atuação profissional da Arquitetura e Urbanismo, está obrigada ao
registro da referida seção no CAU/UF da localidade da sua sede.
§ 1° Enquadram-se na situação deste artigo as seções técnicas das pessoas
jurídicas de direito privado e das de direito público, dos órgãos da
administração direta, das autarquias e das fundações que desenvolvam
atividades privativas de arquitetos e urbanistas ou compartilhadas entre estes
e outras profissões regulamentadas, no caso de terem entre seus responsáveis
técnicos arquitetos e urbanistas.
SEÇÕES TÉCNICAS
CRONOGRAMA DE VISITAS ÀS IES
Até o momento foram realizadas visitas nas oito Instituições de Ensino
Superior que ministram curso de Arquitetura e Urbanismo da região
metropolitana (Região 1).
RELAÇÃO DAS DISCIPLINAS DE LEGISLAÇÃO E
ÉTICA PROFISSIONAL COM AS NOTIFICAÇÕES
OFERTA EXTERNA DE PRÁTICA ASSITIDA
Como ofertas externas de prática assistida, analisando o Estado como
um todo, foram pesquisadas possíveis ofertas em empresas de
Arquitetura e Urbanismo e profissionais liberais registrados no CAU.
O estudo buscou levantar o número de profissionais registrados por
região da SEP e que se encontram próximo às Instituições de ensino e
que, igualmente, podem ser locais onde os estudantes realizarão sua
prática assistida, seja sobre a forma de estágios formais ou por
estágios não regulamentados.
PROFISSIONAIS E EMPRESAS
Números obtidos pela estimativa de 1 profissional por empresa, subtraindo o número de empresas do total de profissionais cadastrados por região.
Grande concentração de profissionais na região metropolitana de
Porto Alegre com 5706 profissionais, ou seja, 61,5% do total de
arquitetos e urbanistas registrados no Estado;
Aparecendo como o segundo número mais elevado, a região da Serra
com 1106 profissionais, 11,9% do total de arquitetos e urbanistas
registrados no Estado;
Nas demais regiões, o número cai consideravelmente, chegando a até
115 profissionais na região Noroeste.
Quanto as empresas, novamente a região Metropolitana aparece em
destaque com 794 empresas registradas, ou seja, 50% do total, sendo
reduzido, de forma abrupta, o número de empresas nas outras regiões,
chegando a 22 empresas ou 1,5% do total da região da Campanha.
NÚMERO DE VAGAS E DE EGRESSOS EM
RELAÇÃO AO NÚMERO DE EMPRESAS E DE
PROFISSIONAIS DE ARQUITETURA E
URBANISMO
X
ANÁLISE DAS MICRORREGIÕES
Nesta região encontramos 02 Instituições de Ensino: UCS e FSG.
Número de vagas oferecidas nos cursos de Arquitetura e Urbanismo: 350 vagas por ano;
Número de alunos Egressos em 2013: 57 egressos;
Número de Empresas Privadas registradas no CAU/RS num raio de até 60km: 152 empresas;
Formandos por oportunidade de estágio em empresa: 0,37
Quanto a realidade dos formandos de 2013, temos um índice de 0,37 formandos por empresa, ou seja quase 3 oportunidades de vaga por egresso . E o futuro próximo?
Novas vagas por oportunidade de estágio em empresa: 2,3
Na região da Serra verificou-se um número reduzido de empresas em relação ao número de alunos que ingressam nas Universidades, constatando-se um índice de 2,3 alunos para cada empresa registrada a 60 Km, o que poderá significar dificuldades de ofertas futuras de vagas para estágio.
POSSÍVEIS ANÁLISES UTILIZANDO IGEO E
SICCAU
ARQUITETOS E URBANISTAS EM PREFEITURAS
Prefeituras com Arquitetos e Urbanistas: 142. Profissionais Arquitetos e Urbanistas vinculados à prefeituras: 431.
Estagiários de Arquitetura e Urbanismo através do CIEE/RS: Órgãos Públicos -178
Empresas Privadas e Prof. Liberais -288
Obs.1: Estágios duração dois anos. Muitos efetivam antes de completar um ano. Obs.2: Lei do Estágio de estudante LEI 11.788 , 25/09/2008.
Dados Parciais da Quantidade de Órgãos públicos com Arquitetos e Urbanistas atuantes no RS em três Níveis de Governo:
Municípios - 142 prefeituras com 431 Arquitetos e Urbanistas; Porto Alegre - 16 Órgãos Públicos e 145 Arquitetos e Urbanistas; Estado - 36 Órgãos Públicos e 126 Arquitetos e Urbanistas;
União - 12 Órgãos Públicos e 22 Arquitetos e Urbanistas (dados iniciais do levantamento).
No filtro utilizado cruzou-se os dados de Arquitetos ativos com as IES de formação dos mesmos - dados disponíveis no SICCAU dos profissionais registrados a partir de 2012.
A partir dos mapas temáticos é possível ter uma ideia geral de onde os profissionais estão localizados de acordo com o endereço de residência.
Entretanto entende-se por registro 'Ativo' os Arquitetos e Urbanistas que estão com a sua situação regularizada com o conselho, bem como anuidades pagas.
CRUZAMENTO ENTRE ENDEREÇO DE RESIDÊNCIA
ENTRE IES DE FORMAÇÃO
Concluindo a apresentação do trabalho realizado pelas comissões de
Ensino e Formação e Exercício Profissional, entende-se que a prática
assistida no ambiente universitário é necessária para que o estudante
adquira as competências para exercer sua profissão e que há várias formas
de proporcionar essa prática e a escolha entre elas cabe à Universidade e
ao Curso evidenciá-las no Projeto Pedagógico.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo coloca à disposição das
Instituições de Ensino Superior suas ferramentas, as quais possuem grande
potencial e podem auxiliar, através de consultas, em levantamento da
dados e pesquisas.
CONCLUSõES SOBRE A PRÁTICA
ASSISTIDA - RS
Aspectos positivos da prestação de serviços a terceiros pelas faculdades
de arquitetura e urbanismo:
1.
O ganho acadêmico- Aprendizado através de prática assistida
De modo geral os currículos dos cursos privilegiam as disciplinas de arquitetura e arq. de interiores em detrimento do urbanismo. No exemplo da UFSM foi aumentada a carga horária de urbanismo e proporcionado um relacionamento com outros cursos (direito, geografia, sociologia, economia, engenharia, agronomia) para treinar os alunos na coordenação de equipes multidisciplinares.
Os alunos que têm a oportunidade de trabalhar em um projeto concreto tem mais possibilidades de despertar o gosto por aquele trabalho – a UFSM constatou que seus egressos procuraram trabalhar com urbanismo.
2. A prestação de serviços à comunidade que não interessam à iniciativa
privada - geralmente de cunho social.
Os ministérios abrem editais para determinados projetos que só podem ser feitos pelas universidades federais. Envolvem altos valores que, se as universidades não participarem, serão perdidos (ex. o TeleSaúde, do Ministério da Saúde, tem dotação de 20 milhões por ano, mais 14 milhões do estado-inform. FAURGS). Na questão urbana o governo federal sempre tem programas para isso - através do Ministério das Cidades- e se as universidades federais não fizerem o recurso é perdido.
Os municípios também precisam de serviços diversos que podem ser feitos pelas universidades sem invadir as áreas que podem ser atendidas pelos profissionais e empresas privadas.
3. A abertura de campos de trabalho
Depois do plano diretor o município precisa implementá-lo dentro da prefeitura e é muito comum que as prefeituras contratem ex-alunos que trabalharam no plano – portanto há uma abertura de campo de trabalho para os arquitetos e urbanistas.
Aspectos negativos da Prestação de serviços a terceiros pelas faculdades
de arquitetura e urbanismo:
1. Concorrência desleal com profissionais e empresas privadas porque:
Algumas universidades se beneficiam da dispensa de licitação possibilitada pela Lei 8.666, artigos 24 e 25 e com isso excluem profissionais e empresas privadas de concorrer por contratos junto aos órgãos públicos- especialmente nos serviços de planejamento urbano;
- A universidade, colocando-se como uma empresa prestadora de serviços, tem a seu favor o prestígio de uma instituição detentora do saber com a qual nenhum profissional ou empresa privada poderá competir, embora esse saber seja na verdade de alguns professores e não da instituição – ou seja, há uma “propaganda enganosa” que prejudica os privados porque um professor doutor, que na verdade não tem a prática porque é preparado para a docência, mas ele é considerado pelo mercado como possuidor de um alto saber, muito mais do que um profissional qualquer do mercado.
O contratante não tem a dimensão real de quem faz o serviço. Muitas vezes, como no caso dos planos diretores realizados pelo Prof. Benamy da UFRGS, são
envolvidos apenas um professor e poucos alunos, mas o argumento para a
contratação é por ser a universidade. 2. Redução do campo de trabalho
Se as instituição de ensino suprem as necessidades do mercado – especialmente nas questões urbanas – podem inibir a atuação dos profissionais e empresas privadas nestas áreas.
3. Pequena abrangência em relação ao conjunto dos estudantes
O ganho acadêmico em muitos casos é mínimo porque poucos alunos são envolvidos. Alguns projetos contam com alguns estagiários, alguns profissionais contratados e poucos estudantes. O resultado para o ensino é pífio.
4. Nos casos em que o professor tem dedicação exclusiva mas ocupa seu tempo com esses projetos externos, recebendo valores bem consideráveis por isso, ocorre um afastamento do professor da sala de aula, e motiva uma certa voracidade na busca de trabalhos.
SUGESTÃO DE CRITERIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA PRÁTICA ASSISTIDA
1. Abrangência: envolvimento de grande número de alunos nos trabalhos e com alto nível de aprendizado.
2. Não invasão do território das áreas de atuação dos profissionais- realizar projetos que não possam ser feitos pelos profissionais ou empresas privadas- por exemplo, fazendo pesquisa de campo e diagnóstico e deixando o plano diretor para os profissionais. Não entregar o projeto executivo, apenas o norteador. ???
3. Que os projetos contem com responsável técnico registrado no CAU e com os RRTs correspondentes aos trabalhos realizados.
CONCLUSÕES
Volta da Prática para dentro das escolas
Esclarecer ao aluno , como o de medicina, que o estágio é um ganho real, sem requerer pagamento. Se estabeleceu um modo de ensino em outra área de conhecimento em que a prática é inerente, tem que ter um paciente real porque aquilo é o cotidiano e a prática, e nós há muito tempo nos afastamos disso, porque na idade média o aprendiz estava praticando, e causa uma preocupação muito grande esse afastamento, e é uma discussão para o CAU, para a ABEA, para o MEC.
A questão dos oportunistas, que se aproveitam para burlar a lei de licitações, é preciso estar atento e tomar medidas para que isso não aconteça.