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Academic year: 2021

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Alterações refrativas induzidas

pelo

óleo de silicone intra-ocular

Refractive change from use of intraocular silicone oil

Márcio Bittar Nehemyl11 Ana Luiza Galeti Nehemyl21 Álvaro Haverroth Hilgertl31

Gregório Federico Gabela Garcial31

(1) Do Depanomelllo de RetinD e V(treo do IlUtituto HiJIon Rocha. Doutor em

OftaJmologia pela Facu/dQde de MedicinD da Urriver3idDde Federal de Minas Gerais (2) Do Depanomelllo de Lentes de Contato do

IIUtituto HiJIon Rocha. Doutora em Oftalmologia pela Facu/dQde de MedicinD da U� Federal de Minas Gerais (3) Ex "FeIIowr' do Depanome1ll0 de RetinD e

vrtreo do IlUtituto Hilton Rocha

Endereço pi c:orrespond�nda: Dr. MÁRCIO BrITAR NEHEMY R. Estevão Pinto, 1494

-12'! andlu - 30210 - BeIoHorizo1lle - MG.

ARQ. BRAS. OFT AL. 53(4), 1 990

RESUMO

Os

autores determinaram as variações refracionais induzidas pelo

óleo

de silicone intra-ocular em onze olhos fácicos e em treze olhos

afácicos. Nos olhos fácicos houve um aumento na hipermetropia de

6,4

D,

em mfdia, e nos afácicos houve uma redução

na

hipermefro.

pia de

7,4

D,

em mfdia.

Essas

variações refracionais

são

devidas,

fundamentalmente, ao maior índice de refração do silicone, quando

comparado com os índices de refração dos meios di6ptricos

ocula-res.

Palavrae-chave: Óleo de sllicone -Refração - Vltrectomia - Resultado funcional

INTRODUÇÃO

o uso do 6leo de silicone para

o tratamento de descolamentos de

retina

(DR)

complexos e do prog­ n6stico reservado

é

tema de grande interesse na atualidade

(1.3).

O 6leo de silicone

é

uma substân­ cia transparente e inerte, com índice de refração

(1 ,405)

pouco maior que o do vítreo ( 1 ,336)

(4).

Essa diferença no índice de refração obviamente in­ duz alterações 6pticas nos olhos que o contêm.

O

objetivo desse trabalho

é

mostrar, do ponto de vista clínico, essas alterações.

MATERIAL

E

MÉTODOS

Foram incluídos nesse estudo pa­ cientes portadores de

DR

complexos tratados por um de n6s (MBN).

O

tratamento cirúrgico consistiu basi­ camente de introflexão escleral

(360")

com implante episcleral largo, vitrectomia, remoção ("peeling") de membranas, retinotomia eventual, injeção de 6leo de silicone e foto­ coagulação ao término da cirurgia.

Foram incluídos pacientes que apresentavam acuidade visual melhor que ou igual a

20/400

após a cirur­ gia e para os quais se dispunha de informações confiáveis sobre a cor­ reção 6ptica antes da injeção do sili­ cone, com o 6leo de silicone intra­ ocular e após a remoção do mesmo. Não foram incluídos pacientes em que a facectomia foi associada ou

à

vitrectomia ou

à

remoção do silico­ ne, e pseudofácicos.

RESULTADOS

A

correção 6ptica utilizada pelos pacientes antes de apresentarem o

DR

que necessitou ser tratado com o 6leo de silicone, a refração com 6leo

de silicone

intra-ocular, bem como a

refração determinada após a remoção

do

mesmo, estão expressos

nas

tabe­

las

1

e

2.

A tabela

3

mostra a distri­ buição de valores máximos e míni­ mos, médias e desvios padrões nas refratometrias dos pacientes antes do

procedimento cirúrgico, após

este

e colocação do 6leo de silicone, e após sua remoção, assim como as

1 75

http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19900022

(2)

Alterações refrativas induzidas pelo 6leo de siJicone intra-ocu/or

TABELA 1

Correção refraclonal (equivalente esf"rlco - em dioptrias) e acuidade visual com e sem 61eo de slllcone em olhos fáclcos

Paciente Antes do 61eo Com 61eo de Após a remoção do de slllcone slllcone 61eo de sUlcone

1 + 1 , 75 (MM) + 7,25 (20/200) + 0, 75 (20/400) 2 + 1 , 75 (MM) + 8, 00 (20/ 1 00) + 3, 00 (201 1 00) 3 + 0,50 (MM) + 6,00 (20/200) - 1 , 00 (2011 00) 4 + 0,25 (MM) + 5,50 (20/200) - 0, 50 (201200) 5 - 0, 50 (CD) + 5,25 (20140) - 2,00 (20125) 6 - 3, 00 (MM) + 2,00 (2011 00) - 4,00 (20/200) 7 - 5, 25 (CD) - 0,25 (201300) - 5,00 (201200) 8 - 8,00 (MM) - 3,50 (20/200) - 7,50 (201400) 9 - 1 0,00 (MM) + 1 , 50 (2011 00) - 1 3, 00 (20/400) 1 0 - 1 1 ,00 (MM) - 4,00 (20180) - 1 1 ,50 (201200) 1 1 - 1 9,50 (MM) - 1 0, 25 (20/400) - 20,00 (20/400)

MM - movimentos de mão CD - conta dedos

TABELA 2

Correção refracional (equivalente esférico - em dioptrias) e acuidade visual com e sem óleo de slllcone em olhos afáclcos

Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 1 1 2 1 3 Antes do óleo de silcone + 7,50 (CD) + 8,25 (MM) + 9,00 (MM) + 1 0,00 (CD) + 1 0, 50 (MM) + 1 1 ,00 (MM) + 1 1 ,00 (CD) + 1 1 ,25 (MM) + 1 1 , 50 (MM) + 1 2,00 (CD) + 1 2,25 (CD) + 1 2,50 (CD) + 1 3,00 (MM) MM - movimentos de mão

distribuições das respectivas diferen­ ças.

As figuras

1

e

2

mostram, grafi­ camente, as variações refracionais nos olhos fácicos e afácicos respec­ tivamente.

Observa-se que, ap6s a introdução do 61eo de silicone, os pacientes fá­ cicos apresentaram uma alteração re­ fracional de +

6

,

4 D,

em média (va­ riação de +

4

,

50 D

a +

1 1 ,50 D).

Tornaram-se portanto mais hiperme­ tIópicos. Os pacientes afácicos, in­ versamente, apresentaram uma alte­ ração refracional de

-7,30 D

em mé­ dia (variação de

-5,00

a

-10,00 D).

Tomaram-se, portanto, menos hi­ permetIópicos.

176

Com 61eo de Após a remoção do

silicone 61eo de silicone

PLANO (2011 00) + 9,00 (20/ 1 00) - 1 ,25 (201400) +, 8,75 (20/300) + 1 , 75 (20/300) + 8, 75 (201400) + 4, 75 (20140) + 1 1 , 25 (20160) + 5, 50 (201200) + 9,25 (20/100) + 3, 50 (20/1 00) + 1 1 ,50 (20170) + 4,00 (20/300) + 1 0,25 (201200) + 3,00 (20/400) + 1 0,00 (201400) + 4,00 (20/100) + 1 0,75 (20180) + 2,00 (20/200) + 1 0, 50 (20/ 1 00) + 6,00 (201200) + 1 2, 75 (20180) + 4,00 (20/400) + 1 1 , 75 (201400) + 7,50 (20/400) + 1 2, 50 (201300) CD - conta dedos

COMENTÁRIOS

A introdução do 61eo de silicone no interior do globo . ocular resulta e

m importantes alterações 6pticas.

Olhos afácicos apresentam uma re­ dução na sua hipermetropia de

7,3 D

em média, enquanto olhos fácicos tomam-se mais hipermetIópicos, de

6,4 D

em média. Tais alterações são explicadas pela 6ptica geométrica

aplicada ao olho esquemático

de

Gull

s

trand(4,

6

) •

O índice de refração do gel vítreo

( 1 ,336)

é menor do que o índice de refração do cristalino

( 1 ,386).

O ín­ dice de refração do silicone

( 1 ,405),

entretanto, é um pouco maior que o do cristalino. Dessa forma, a substi­ tuição do vítreo pelo 61eo de silicone transforma a superfície posterior do cristalino de lente positiva

fraca

em lente negativa fraca. Essa nova lente negativa fraca dentro do olho toma a sua refração mais hipermetIópica. Cálculos baseados no olho esquemá­ tico de Gullstrand indicam um au­ mento de hipermetropia de

8,0 D,

quando a cavidade vítrea de um olho

fácico é preenchida pelo 61eo de sili­ cone (4,5), valor esse próximo ao en­ contrado no presente trabalho.

O

índice de refração da c6rnea

( 1 ,376)

é maior que o índice de re­ fração do humor aquoso

( 1 ,336)

mas

é menor que o índice de refração do silicone. Dessa forma, quando o olho afácico é preenchido com o 61eo de silicone, a superfície posterior da c6rnea sofre uma mudança no seu poder refracional, de lente negativa fraca para lente positiva fraca. Essa nova lente positiva

reduz

a correção hipermetr6pica de que os olhos afá­ cicos necessitam. Cálculos baseados no olho esquemático de Gullstrand

indicam uma redução

na hipennetro­

pia

de 6,9

1)14,5) que

se aproxima

do

observado no presente trabalho.

Ste­

f

ánsson et alii(5),

em oito olhos afáci­

cos, encontraram uma redução

média de

7,4 D

e em dois olhos fácicos ob­

se

rv

aram aumento

da

hipe

nnetropia

de

5,25 D

e

10,00 D,

respectiva­

mente.

De uma forma simplificada, no olho afácico, a superfície anterior do 61eo de silicone forma uma superfí­ cie convexa, seja junto ao endotélio corneano ou um pouco posterior ao mesmo. Por ter um índice de refra­

ção

maior

do

que

o índice

de

refração

do humor aquoso ou da c6rnea, essa superfície atua como uma lente posi­ tiva e assim toma o olho menos hi­ permetIópico. Se o silicone está em contato com o endotélio corneano, ele também elimina o efeito de lente negativa da interface c6rnea - humor aquoso. No olho fácico o 61eo de si­ licone forma uma superfície cônca­ va, atrás do cristalino que, analoga­ mente, atua como uma lente negativa

(3)

Alterações refrativas induzidDs

pejo

6leo de siJicone intra-ocular Correção refracional ( Dioptrias ) 4 - 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7 - 8 - 9 - 1 0 - 11 - 1 2 - 2 0 Antes do sil icone

Com silicone Após remoção

do s i l icone 1 4 1 3 1 2 1 1 1 0 Correção refracional 6 ( Dioptrias ) - 1 - 2 Antes do silicone

Com s ilicone Após remoção

do sili cone

Fig. 1- Correç4o refracional (equivalente

esférico)

em onze olhos fácicos, antes da injeção do 61eo de silicone,

com

o 61eo de silicone intra-ocular e após a remoç4o do mesmo

Fig. 2 - Correção refracional (equivalente esférico) em treze olhos afáci­ cos, antes da injeção do 61eo de silicone,

com

61eo de silicone Intra-ocular e após a remoção do mesmo.

no interior do olho

e

assim

toma-o

mais hipermetnSpicO<5-7).

Alguns fatores podem interferir com as alterações 6pticas teorica­ mente esperadas. Entre esses fatores devem ser n

o

t

ad

os a forma da super­ fície do 61eo de silicone, altas ame­ tropias, introflexão escleral pelo im­ plante episcleral com conseqüente modificação do diâmetro -anteropos­ terior e alterações de índice do cris­ talino. Acreditamos que os dois úl­ tiUrMJs fatores foram os principais responsáveis pelas pequenas diferen­ ças na refração dos olhos antes da injeção do silicone e após sua remo­ ção (fabela

3).

Em resumo, o 6leo de silicone in­ traocular reduz a hipennetropia nos olhos afácicos em aproximadamente

7 D

e aumenta a hipennetropia nos

olhos fácicos

de

aproximadamente

ARQ. BRAS. OFTAL. 53(4), 1990

TABELA 3

Distribuição de valores máximos (V), e m(nlmos (v), m4dlas (m) e desvios-padrões (s) nas refretometrlas de pacientes antes do procedimento cirúrgico (A), após este e colocação do óleo de "lcone (B), depois da remoçio deste liquido (C) e distribuições das respectivas

diferenças, no grupo de pacientes com cr1staUno

(I)

e

sem

ele (I).

GRUPO A B C B-A B-C CoA

(I)

m - 4,82 1 ,59 - 5,52 6,41 7, 1 1 - 0, 70 s 6, 73 5, 68 6, 9 1 2, 1 3 2,90 1 , 1 4 V + 1 , 75 +8,00 +3, 00 1 1 , 50 1 4, 50 1 ,25 v - 1 9, 50 - 1 0,25 - 20,00 4, 50 4, 00 - 3,00 m 1 0, 75 3,44 1 0, 54 - 7,3 1 - 7, 1 0 - 0, 2 1 (O) s 1 , 67 2,40 1 ,37 1 , 54 1 ,64 0,97 V + 1 3,00 +7, 50 + 1 2, 75 - 5, 00 - 3,75 + 1 , 50 v +7,50 - 1 , 25

60.

Dessa

fo

rma

, olhos previamente amétropes, fácicos ou afácicos, ten­ dem a apresentar uma refração entre

+4,0

D e

+8,0 D

quando preenchi­ dos com 61eo de silicone.

+8, 75 - 1 0,00 - 1 0, 00 - 1 , 50

Agradecemos ao Dr. Harley E. A. Bicas pela revisão deste trabalho e pelas suges­ tões apresentadas, inclusive a confecção da

Tabela 3.

Agradecemos a Carla A. Coscarelli pela confecção dos desenhos.

(4)

Alterações refrativas induzidas pelo 6/eo de silicone intra-ocular

SUMMARY

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

We studied the refractive ehanges due to the use of intraocular silieone oi! in phakie (11) and aphakic (13) eyes.

Phakic eyes beeame more hipero­ pie

(6,4

D in average) and aphakie eyes beeame less hiperopic

(7,4

in average). These refractive ehanges oceur beeause the silicone oil has a refractive index higher than those of the ocular media.

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intraocular injections

of silicone combined

with

vitrec1Dmy.

OphthDJmologica, 180: 29-35, 1 980.

Referências

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