Procº de Insolvência n.º 1053/14.0 T8AVR
Insolvente: ANA CRISTINA DE JESUS
1.ª Secção do Tribunal de Comércio de
AVEIRO (ANADIA) – Juiz 3
RELATÓRIO
O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas – CIRE.
A – NOTA INTRODUTÓRIA:
Para a elaboração do presente relatório foram efectuados trabalhos de pesquisa informativa nos serviços públicos: finanças, segurança social e conservatórias, tendo sido efectuada uma deslocação à Rua Eng.º Agnelo Prazeres, n.º 83, 1.º Frt., freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro, morada fixada à insolvente na douta sentença.
Pela parte da insolvente, que nos recebeu aquando das diligências relativas ao arrolamento e apreensão de bens, foi prestada a colaboração solicitada e necessária à elaboração do presente Relatório, sendo certo que grande parte dessa informação já constava dos autos.
Foram inventariados os parcos elementos patrimoniais conhecidos e já constantes dos autos e ali devidamente documentados, tudo de acordo com as disposições legais na matéria. Estes elementos estão devidamente identificados no anexo 1 do presente Relatório.
O objectivo do presente Relatório, segundo o disposto no artigo 155º do CIRE, é apenas o de servir de ponto de partida para uma apreciação do estado económico-financeiro da insolvente. In casu, os dados obtidos permitem-nos cumprir o desiderato legal, sem restrições.
O presente processo teve início com a apresentação de requerimento por parte da ora insolvente, a qual, reconhecendo a sua frágil situação económica, requereu a declaração da sua insolvência, tendo sido esta decretada por douta sentença proferida em 05 de Janeiro de 2015, entretanto já transitada em julgado.
A insolvente é divorciada e tem dois filhos, um com 18 anos e outro com 12 anos, ambos a estudar, recebendo a título de pensão de alimentos por parte do progenitor pai o montante mensal de 100,00 €.
A insolvente presentemente vive na morada fixada na douta sentença, que é habitação arrendada ao Sr. João Conceição, pagando a renda mensal de 260,00 €.
Actualmente a insolvente trabalha na Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, auferindo o salário mensal ilíquido de 518,35 €.
Pelo que nos é dado a conhecer a insolvente não possui quaisquer activos, nomeadamente PPR´s, saldos bancários, participações sociais ou outros activos, à excepção do veículo automóvel inventariado sob a verba n.º 1 do auto de arrolamento e apreensão de bens, sendo que os bens móveis existentes na habitação são pertença do senhorio, conforme contrato de arrendamento que foi exibido à signatária.
Ponto um – Análise dos elementos incluídos no documento referido na alínea c) do nº 1,
do artigo 24º do CIRE:
Os documentos conhecidos são os que se encontram nos autos, a que acrescem as declarações anuais de rendimentos dos anos de 2011, 2012 e 2013, que nos foram entregues pela insolvente, bem como as reclamações de créditos apresentadas e respectiva documentação.
Ora, em face dos documentos juntos, verifica-se o montante das obrigações vencidas e a situação de incumprimento generalizado com que se depara, actualmente, a insolvente.
As obrigações relacionadas pela insolvente mais relevantes provêm da falta de pagamento de créditos contraídos junto de particulares e junto de instituições de associação pública – Caixa de Previdência do Ministério da Educação -, existindo ainda uma dívida junto da Autoridade Tributária e Aduaneira.
Como causa da sua situação económica a insolvente alega que, face aos parcos rendimentos auferidos para um agregado familiar de três pessoas, a insolvente e os seus dois filhos, aquando da penhora do seu vencimento em sede de acção executiva, se viu sem quaisquer meios para continuar a fazer face ao pagamento das dívidas existentes, entrando em incumprimento e gerando a situação deficitária que hoje vive, não conseguindo presentemente custear os custos diários do normal dia-a-dia e do respectivo agregado familiar.
Deste modo, e dado o supra exposto, a situação descrita determinou a incapacidade e impossibilidade da própria sustentabilidade económica, o que gerou o incumprimento das obrigações contratuais estabelecidas, e a situação de insolvência que hoje atravessa.
Por conseguinte,
Existem dívidas reclamadas e reconhecidas no montante total de 6.703,43 €, tendo já terminado o prazo para apresentação de reclamações de créditos.
Relativamente a credores públicos, existe uma dívida reclamada pela Autoridade Tributária e Aduaneira, no valor global de 22,10 €, referente a Custas e Coimas.
Por outro lado, não são conhecidas quaisquer dívidas ao INSTITUTO DE SEGURANÇA SOCIAL.
De salientar que não foram reclamados todos os créditos relacionados, logo, é expectável que o passivo venha a ser superior ao ora reconhecido, em sede de resposta a eventuais impugnações à lista de créditos reconhecidos e não reconhecidos a juntar aos presentes autos.
Ora,
Analisado o auto de arrolamento de bens, é mister concluir que o passivo acima referido é manifestamente superior ao activo, pelo que a situação de insolvência é, em nossa opinião, irreversível.
No momento, como nos foi informado, a insolvente trabalha na Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, mediante a retribuição mensal ilíquida de 518,35,00 €.
Ponto dois – Análise do estado da contabilidade da devedora e opinião sobre os
documentos de prestação de contas da insolvente:
Trata-se da insolvência de pessoa singular, que não estava obrigada a prestação de contas de acordo com o exigido para as sociedades comerciais, pelo que parte do disposto no presente artigo não é aplicável.
A insolvente juntou aos autos os documentos necessários e comprovativos da sua situação económica.
Requeridos elementos complementares ao Serviço de Finanças de Oliveira do Bairro, até à data ainda não foram recebidas as informações solicitadas.
Por outro lado, requeridos elementos complementares junto do ISS, I.P. - Centro Distrital de Aveiro, foram recebidas as informações solicitadas, que confirmam os dados já existentes no processo e os fornecidos à signatária pela insolvente, no que concerne aos rendimentos auferidos pela mesma.
Analisadas as declarações de rendimentos de 2011, 2012 e 2013, constata-se o seguinte:
• Em 2011 a insolvente apresentou um rendimento bruto de 7.274,18 €; • Em 2012 a insolvente apresentou um rendimento bruto de 7.239,62 €; • Em 2013 a insolvente obteve um rendimento anual de 7.015,05 €.
Verifica-se que os rendimentos da insolvente não sofreram alterações significativas ao longo dos anos assinalados, sendo, não obstante, manifestamente insuficientes para prover a um agregado familiar de três pessoas, e, simultaneamente solver as dívidas contraídas, pelo que, é mister concluir que o passivo indicado é inadequado à débil situação económica em que actualmente se encontra a insolvente.
A insolvente apresentou pedido de exoneração do passivo restante, tendo junto aos autos e ou entregue à signatária todos os documentos necessários à avaliação do seu pedido, nomeadamente o seu certificado de registo criminal.
Ponto três – Indicação das perspectivas de manutenção da empresa devedora, no todo
ou em parte, e da conveniência de se aprovar um plano de insolvência:
De acordo com o acima exposto, não é de aplicar a primeira parte deste normativo, pois inexiste qualquer estabelecimento comercial ou industrial.
Por outro lado, não é de propor qualquer plano de insolvência, já que a insolvente não apresenta rendimentos actuais que permitam a elaboração de Plano e o nível de endividamento existente não se compadece com um qualquer Plano de Insolvência.
Assim, a proposta de Plano de Insolvência é desajustada à realidade e inviável.
A única solução que nos parece adequada será o encerramento do processo, nos termos e ao abrigo do disposto nos artigos 39º e 232º do CIRE.
B – DA EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE:
DÁ-SE PARECER FAVORÁVEL À EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE, com os
seguintes fundamentos:
1. Do vencimento dos créditos:
Identificação do credor Proveniência do Crédito Data de Constituição da Dívida Montante do Crédito Data de início do incumprimento Autoridade Tributária e Aduaneira
Coimas e Custas Ano de 2013 22,10 € 12-12-2013 1º incumprimento
Caixa de Previdência do Ministério da Educação
Contrato de Mútuo 01-06-2009 873,72 € 01-03-2013
Maria Amélia Ferreira de Almeida
Sentença Condenatória (Titulo Executivo)
10-01-2005 5.807,61 € 06-07-2009
2. Das condições exigíveis para a concessão da exoneração:
- Dos documentos analisados, incluindo reclamações de crédito, declarações de rendimentos dos anos de 2011 a 2013, nada existe que nos permita concluir que a
falta de apresentação mais atempada foi praticada com dolo, em qualquer das suas vertentes, ou que tenha agravado a situação dos credores (à excepção dos juros, sendo já abundante a jurisprudência dos tribunais superiores que desconsideram esta vertente);
- A insolvente não alienou património, colaborou em tudo que lhe foi solicitado e do seu registo criminal nada consta;
- Pelo que, face ao exposto, e em nossa opinião, a eventual falta de apresentação nos ditos seis meses, não deve relevar nesta sede.
3. Das condições pessoais da insolvente:
- A insolvente apresentou-se ao processo em 26 de Novembro de 2014; - Têm os seguintes rendimentos mensais:
Trabalha na Câmara Municipal de Oliveira do Bairro e aufere o salário mensal ilíquido de 518,35 €.
- Alega ter as seguintes despesas:
Renda mensal da habitação no montante de 270,00 €; Tem dois filhos a estudar.
4. Do montante do rendimento disponível:
- Entendemos também que, tendo em conta o agregado familiar da insolvente, composto por si e por dois filhos, um maior com dezoito anos de idade e um menor com doze anos de idade, estudantes, por esta devem ser entregues, ao futuro fiduciário, todas as quantias que excedam, em cada mês, o montante correspondente a dois salários mínimos nacionais, devendo este montante ser reduzido para um salário mínimo nacional e meio, assim que o filho maior se torne economicamente independente.
C – SOLUÇÃO PROPOSTA:
Face ao exposto, propõe-se:
⇒ Não haver lugar à proposta ou apresentação de qualquer plano de insolvência;
⇒ O encerramento do presente processo, nos termos do disposto nos artigos 39º e 232.º do CIRE, sem prejuízo da apreciação do
pedido de exoneração do passivo restante apresentado, sobre
o qual a signatária se pronunciou nos termos supra expostos, e
sem prejuízo também da sentença de graduação de créditos,
caso venha a ser deferido o requerimento de exoneração do passivo restante.
D – ANEXOS JUNTOS:
Um – Inventário.
Dois – Lista de créditos reconhecidos e não reconhecidos.
P.D.