• Nenhum resultado encontrado

[Recensão a] Baptista, Virgínia (2016). Proteção e direitos das mulheres trabalhadoras em Portugal URI:

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "[Recensão a] Baptista, Virgínia (2016). Proteção e direitos das mulheres trabalhadoras em Portugal URI:"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso.

[Recensão a] Baptista, Virgínia (2016). Proteção e direitos das mulheres

trabalhadoras em Portugal 1880-1943

Autor(es):

Vaquinhas, Irene

Publicado por:

Imprensa da Universidade de Coimbra

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/40973

DOI:

DOI:https://doi.org/10.14195/1645-2259_16_23

Accessed :

22-Jan-2017 08:37:04

digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

(2)
(3)

521

RECENSÕES

Baptista, Virgínia (2016). Proteção e direitos das mulheres

tra-balhadoras em Portugal 1880-1943. Lisboa: ICS, 507 pp., ISBN

978-972-671-365-4.

A investigadora Virgínia Baptista tem-nos habituado a estudos de grande rigor histórico e cientificamente modelares. Continua a ser uma referência incontornável o seu livro As mulheres no mercado de trabalho em Portugal: representações e quotidianos (1890-1940) (Lisboa: Comissão para a Igualdade

e para os Direitos das Mulheres, 1999), e que reproduz a sua dissertação de mestrado. Acrescem outros trabalhos no campo da história das mulheres bem como no da assistência em Portugal, todos ancorados em preocupações teóricas e no tratamento meticuloso de fontes historiográficas.

Nesse quadro se inscreve o livro Proteção e direitos das mulheres trabalha-doras em Portugal 1880-1943 (Lisboa: ICS, 2016), recentemente publicado,

versão abreviada da sua tese de doutoramento em História Moderna e Con-temporânea, elaborada no ISCTE, sob orientação da Doutora Fátima Sá, e que foi galardoada, no ano de 2014, com o prémio Silva Leal.

Nesta obra em que se aborda um tema central da história da condição feminina – a maternidade – a Autora dá-nos uma visão panorâmica das associações mutualistas, em especial das primeiras formas de assistência materno-infantis em Portugal, dimensão que era desconhecida, como bem observam as prefaciadoras do volume, as Doutoras Miriam Halpern Pereira e Fátima Sá. Como pano de fundo, a preocupação com a chamada “questão social”, expressa nos níveis elevados de mortalidade infantil nos principais bairros operários ou no receio do “abastardamento da raça portuguesa”, a par dos avanços no campo da medicina preventiva e do progresso das ciências biomédicas, numa estreita articulação entre ciência, religião e propaganda natalista.

Uma das singularidades deste livro reside no modo como a Autora se relaciona com a sua própria obra, ou seja, o modo como constrói a sua genealogia historiográfica, encadeando-a com os resultados de investigações anteriores. “A presença das mulheres no mercado de trabalho em Portugal – escreve Virgínia Baptista (p. 315) – era uma realidade, tanto para as solteiras como para as casadas, com filhos pequenos”, esclarecendo (p. 32) que “as mulheres estavam integradas no mercado de trabalho, sendo 36,4% dos tra-balhadores em 1890 e 22,8% em 1940, apesar das oscilações decenais”.

(4)

As taxas de feminização mencionadas e que refletem o peso da população ativa feminina são o ponto de partida para esta obra, considerando-as como momento fundacional para novos caminhos, em particular para responder a questões centrais: existia discriminação relativamente às mulheres trabalha-doras nas associações profissionais? Foram promulgadas medidas destinadas a apoiarem as mães trabalhadoras? Como é que a discriminação de género afetou a previdência social?

A reconstituição histórica tem por base um leque alargado de fontes, manuscritas e impressas, recolhidas sobretudo em arquivos públicos e pri-vados, nacionais, municipais ou de instituições associativas e que incluem, entre outro tipo de documentos, papeletas dos expostos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, registos clínicos de maternidades e de enfermarias de partos, estatísticas médicas, estatutos, atas e relatórios de associações.

A heterogeneidade da documentação coligida permitiu problematizar o tema, conhecer as associações de classe que existiam no país, entre 1890 e 1940, definir os contornos e as resistências da política interventiva do Estado para o setor, dando visibilidade a um universo de instituições e de associa-ções que estariam apenas reservadas a quem se aventurasse a mergulhar nesse mare magnum documental.

O livro estrutura-se em cinco capítulos, sendo completado por uma introdução, em que procede ao enquadramento geral do tema e define con-ceitos e metodologias, e uma conclusão, a que se segue a listagem das fontes e da bibliografia consultadas. Remata o livro um corpo significativo de anexos, constituídos, em grande parte, por quadros estatísticos que foram concebi-dos como suporte material e explicativo do texto. Listagens das associações, datas de fundação, distribuição geográfica, idades de admissão das sócias, são alguns dos elementos postos à disposição dos leitores. Trata-se de um instrumento de trabalho muito útil para futuras investigações, por permitir comparações com outros casos, nacionais ou estrangeiros.

No primeiro capítulo, Virgínia Baptista, atenta às tendências historiográ-ficas europeias e americanas, procede à elaboração do estado da arte do seu objeto de estudo. Faz o ponto da situação do debate sobre o trabalho femi-nino, a maternidade e a génese do Estado-providência. Interpela as diversas modalidades que este assume e enquadra-as nas polémicas político-ideológi-cas que o tema suscitou, em especial, nos meios feministas.

Convém a este propósito recordar que a maternidade reveste um lugar central na história dos feminismos de primeira vaga, tendo sido considerada uma função social que o Estado devia apoiar e, nessa medida, foi estrategi-camente utilizada como meio de pressão sobre o poder político, ao

(5)

reclama-523

RECENSÕES

rem-se direitos para as mães trabalhadoras. As feministas portuguesas (Ana de Castro Osório, Adelaide Cabete, Aurora de Castro, Elina Guimarães, entre outras) também se pronunciaram sobre o assunto, não lhes tendo sido indi-ferente a situação da operária.

No segundo capítulo a autora aprofunda o caso português, analisando a legislação promulgada desde finais do século XIX, seus principais interve-nientes, objetivos e divergências. Detém-se na evolução do corpo legislativo que se dirigia às mães trabalhadoras – a carta de lei de 14 de abril de 1891, as leis de 24 de junho de 1911, de 10 de maio de 1919 e de 29 de outubro de 1927 –, culminando na criação do abono de família, no ano de 1942.

Porém, como bem salienta Virgínia Baptista (p. 80), ao procurarem pro-teger a mãe trabalhadora, “proibindo algumas atividades e estipulando um horário específico para o trabalho feminino”, contribuíram para “agudizar a pobreza”. Inclusive, o abono de família “só era pago à mulher casada se o marido estivesse nas situações de invalidez, desempregado ou impedido de sustentar a família, não sendo atribuído às mães solteiras”. Só a partir de 1962 a maternidade se tornaria numa modalidade autónoma de seguro.

A identificação das instituições que prestavam assistência às mulheres tra-balhadoras no parto ou na infância dos seus filhos constitui o tema principal do terceiro capítulo. Ora com minúcia, ora com distanciamento crítico, mas sempre com sensibilidade e emoção, a Autora reconstitui o caleidoscópio de maternidades, de dispensários, de creches, de lactários, de parques infantis, de albergues noturnos, entre tantas outras instituições, algumas efémeras, outras mais duradouras.

Pela sua mão entramos nas enfermarias das paridas, acompanhamos os horários das mamadas nas maternidades da Companhia Portuguesa de Tabacos, sabemos quem foram as “mulheres parturientes, mães infelizes” que pernoitaram nos albergues da capital ou aquelas que, secretamente, se refugiaram na Maternidade Abraão Bensaúde, de Lisboa, a única instituição nacional que acolhia mães solteiras. Reconstitui igualmente a génese das primeiras maternidades e esboça pequenas biografias dos médicos que as dirigiram.

Porém, esclarece a Autora, a única instituição em que se cumpria a lei do repouso após o parto (serviços médicos, cuidados às crianças, subsídios e licença de maternidade) era a Maternidade da Companhia Portuguesa de Tabacos, permitindo que as tabaqueiras encarassem essa proteção como uma melhoria nas suas condições de vida.

No quarto capítulo, basilar no tema, a autora centra-se nas associações mistas e femininas, seus objectivos, condicionalismos, deveres e benefícios.

(6)

O desenvolvimento desta problemática assenta na leitura crítica dos respeti-vos estatutos, demonstrando que se considerava que as mulheres, por pade-cerem de patologias próprias do seu sexo, causavam prejuízos às associações, pelo que só algumas concediam subsídios em caso de doenças decorrentes do parto. Existia, por conseguinte, uma política de exclusão relativamente às mulheres nas associações operárias. A Autora igualmente revela as suas resistências, organizando-se autonomamente e defendendo os seus próprios interesses. Assim, só as associações femininas, em número muito escasso, inscreveram nas modalidades de previdência o apoio da maternidade com subsídio.

No quinto capítulo analisa-se o tecido social e humano de um dos núcleos duros da industrialização lisboeta, o sítio de Xabregas, designação de Ange-lina Vidal, “essa vermelha a cheirar a canalha”, como a definiu Oliveira Mar-tins. Avalia o impacto da industrialização, a distribuição no espaço de fábricas e oficinas, interroga as normas masculinas do léxico fabril e mostra como o género teve um papel importante na definição da categoria de operária.

Trata-se, pois, de um livro denso de informação, assente em escolhas cri-teriosas, de leitura agradável, com objetivos claramente alcançados, a ler com prazer e proveito. Abre numerosas pistas de reflexão, constituindo também uma boa porta de entrada para os últimos desenvolvimentos historiográfi-cos em matéria de estudos de género, muito em particular de temas como a articulação da medicina com a história das mulheres; a medicalização dos nascimentos, ou seja, a passagem do parto feito em casa para as instituições hospitalares; a história da maternidade; a história do associativismo ou do Estado providência em Portugal... Pelos problemas que levanta, pelas respos-tas que dá, mas também por aquelas que deixa em aberto, o conhecimento histórico fortaleceu-se com este estudo.

Irene Vaquinhas

FLUC / CHSC – UC irenemcv@fl.uc.pt

Referências

Documentos relacionados

Logo chegarão no mercado também, segundo Da Roz (2003), polímeros feitos à partir de amido de milho, arroz e até de mandioca, o denominado amido termoplástico. Estes novos

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

One of the main strengths in this library is that the system designer has a great flexibility to specify the controller architecture that best fits the design goals, ranging from

Para entender o supermercado como possível espaço de exercício cidadão, ainda, é importante retomar alguns pontos tratados anteriormente: (a) as compras entendidas como

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Considerando que o MeHg é um poluente ambiental altamente neurotóxico, tanto para animais quanto para seres humanos, e que a disfunção mitocondrial é um

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial