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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Academic year: 2021

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0000.19.078135-1/001

Número do Númeração

5005027-Des.(a) Judimar Biber Relator:

Des.(a) Judimar Biber Relator do Acordão:

31/10/2019 Data do Julgamento:

01/11/2019 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL QUEDA DECORRENTE DA MÁ CONSERVAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS -COMPLICAÇÕES NA CIRURGIA E RETROCESSO EM PROCESSOS TERAPÊUTICOS ANTERIORMENTE INICIADOS QUANTUM IMPOSTO P E L O D A N O E X T R A P A T R I M O N I A L - R A Z O A B I L I D A D E E PROPORCIONALIDADE - MAJORAÇÃO. O valor da indenização por danos morais deve ser determinado com razoabilidade, sem permitir o enriquecimento absoluto do lesado, ou que o valor seja irrisório, prevalecendo o duplo aspecto retributivo e preventivo, havendo espaço para a majoração parcial do montante fixado em sentença. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS - SENTENÇA CONDENATÓRIA - CRITÉRIO OBJETIVO - MANUTENÇÃO DA FORMA DE ARBITRAMENTO DA PARCELA. O Código de Processo Civil, em seu art. 85, §§3º e 4º, delimita critérios objetivos para definição dos honorários, estabelecendo, para a hipótese em que houver condenação, que seu valor seja considerado como base de cálculo da parcela, prescrevendo, adicionalmente, quais serão as alíquotas incidentes sobre ela. Recurso parcialmente provido.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.19.078135-1/001 - COMARCA DE DIVINÓPOLIS APELANTE(S): MARCIONILIA NETA DE SOUZA -APELADO(A)(S): MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em dar parcial provimento ao recurso.

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

RELATOR.

DES. JUDIMAR BIBER (RELATOR)

V O T O

Trata-se de recurso de apelação interposto por Marcionilia Neta de Souza em face da sentença de Primeiro Grau que, nos autos de ação de indenização ajuizada pela apelante, julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, para condenar o Município de Divinópolis 1) "a pagar à parte autora, Marcionilia Neta de Souza, a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de dano moral, corrigida monetariamente pela TR a partir da data desta sentença, nos termos da súmula nº 362 do Superior Tribunal de Justiça, acrescida de juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança, consoante o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, desde o evento danoso (24/5/2017), conforme a súmula nº 54 do STJ; 2) a pagar à parte autora a quantia de R$ 750,19 (setecentos e cinquenta reais e dezenove centavos) a título de dano material, corrigida monetariamente pela TR a partir da data desta sentença, nos termos da súmula nº 362 do Superior Tribunal de Justiça, acrescida de juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança, consoante o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, desde o efetivo custeio do tratamento (23/6/2017 - doc. 27957299), conforme a súmula nº 54 do STJ". Em suas razões recursais, a apelante alega que foram desconsideradas particularidades do caso, suficientes de justificar a majoração do valor da indenização. Argumenta que esteve sob risco de vida durante a cirurgia a que teve de se submeter para tratar as consequências da queda. Afirma que retrocedeu em todos os seus tratamentos ortopédicos, com lesões no ombro, braço e joelho

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direitos. Defende que o valor arbitrado não repara os danos em toda a extensão sofrida. Sustenta que a indenização deve atingir fins repressivos e pedagógicos. Cumulativamente, requer sejam majorados os honorários sucumbenciais arbitrados em favor do advogado que o representou em juízo. Apesar de devidamente intimado, o Município de Divinópolis não apresentou resposta ao recurso.

É o relatório. Passo ao voto.

Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade.

Do que se colhe dos autos, Marcionilia Neta de Souza ajuizou ação de indenização contra o Município de Divinópolis pretendendo que ele fosse condenado a indenizá-la pelos danos morais e materiais suportados em razão de queda ocorrida em uma das vias locais, após ela cair em buraco não sinalizado.

Examinando a prova dos autos, o juízo de Primeiro Grau reconheceu o dever de indenizar, diante da omissão na conservação e manutenção das vias públicas, condenando o Município de Divinópolis ao pagamento de danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e de danos materiais no valor de R$ 750,19 (setecentos e cinquenta reais e dezenove centavos). Da sentença de parcial procedência, apenas a autora recorreu, pleiteando a majoração do valor dos danos morais e, cumulativamente, dos honorários de sucumbências devidos em favor do advogado que a representou.

Logo, a controvérsia recursal limita-se a averiguar um valor que, de modo proporcional e razoável, indenize a autora pelos danos morais suportados em razão da queda derivada da conduta omissiva

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do Município. Pois bem.

A decisão tal como produzida, a meu ver, se afastou da dúplice ideia do caráter punitivo e compensatório da indenização por dano moral, mesmo ciente de que a indenização não deve ser fonte de enriquecimento ao pleiteante.

Na verdade, verifica-se que o valor arbitrado não levou em conta algumas disposições de ordem subjetivas, tais como as consequências negativas da queda para o tratamento ortopédico que a apelante estava em vias de encerrar. Acerca deste ponto, o relatório médico de fls. 67, expressamente declinou que ela havia "se submetido a tratamento cirúrgico de síndrome do impacto em ombro direito no dia 20/03/2017" e que, diante da queda, "evoluiu com perda da cirurgia. Realizado novo procedimento no dia 19/06/2017, previsto mais 90 dias de reabilitação".

Além da regressão gerada para tratamento médico anterior, certo é que o novo tratamento cirúrgico envolveu diversas complicações, com a necessidade de a apelante ser transferida para o Centro de Tratamento Intensivo, com quadro de "insuficiência respiratória aguda grave" (fls. 62). Sobretudo estes dois fatores concorrem para demonstrar a insuficiência da indenização, no patamar arbitrado na sentença, para reparar em toda extensão as violações sofridas pela apelante em seu patrimônio moral. Não seria demais beber dos ensinamentos de Kazuo Watanabe, ao argumentar:

A justiça precisa ser rente à realidade social. Essa aderência à vida somente se consegue com o aguçamento da sensibilidade humanística e social dos juízes, o que necessariamente requer preparação e atualização. (Da Cognição no Processo Civil, Ed. CEBEPEJ - Centro

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Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas, São Paulo, 1999, p. 64).

Também não será demais lembrar o Des. Ênio Santarelli Zuliani, do Tribunal de Justiça de São Paulo e Professor de Direito Civil da UNIP, Campus de Ribeirão Preto/SP:

Praticamente todo o sistema social encontra-se ameaçado pela desordem e pelo desrespeito, reflexo da crise de valores, que teima em devastar a uniformidade e a paz; da família, fragilizada por alteração de costumes antes impensáveis como admissíveis ou toleráveis; até crise das grandes empresas, que sofrem com a instabilidade econômica; com destaque para a violência urbana incontrolável e a degradação do meio ambiente. Tudo ou quase tudo (e até o futebol - pasmem! - é questionado por duas CPIs no Congresso Nacional) sofreu um choque pela globalização e tecnologia de ponta (Da Cognição no Processo Civil, Ed. CEBEPEJ - Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas, São Paulo, 1999, p. 64).

E remata:

Avalia-se a têmpera de um homem pela sua conduta no clima de pressão; cabe ao Judiciário revelar a sua grandeza naquilo que chamo de segundo round do desafio pela moral. Se os marinheiros são capazes de esvaziar, manualmente, o excesso de água que ameaça o convés, um êxito consumado pela integração solidária, todo e qualquer julgamento de uma ação de dano moral, com causa petendi simples ou polêmica, protagonizado por ricos ou pobres, traduzindo modestas ou significativas verbas indenitárias, é vital para a hegemonia da corrente jurisprudencial que vai impedir a frustração popular com o serviço prestado por conta do art. 5º, XXXV, da CF (a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito). (In, Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil nº 13 - SET-OUT/2001, pág. 20).

Logo, o que vejo é que a imposição indenizatória no patamar declinado não seria condizente com a extensão dos danos sofridos, sobretudo diante das consequências geradas para tratamento

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cirúrgico já iniciado e das complicações experimentadas durante a nova cirurgia, realizada para tratar os machucados decorrentes da queda. Por isso, e atento aos balizas referentes ao caráter repressivo e pedagógico da indenização, julgo proporcional e razoável majorar o montante da condenação para R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Além da indenização, a apelante pretende a majoração dos honorários arbitrados em favor do advogado que a representou em juízo. No caso, eles foram fixados no patamar de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.

Sobre este aspecto, sem razão a apelante.

Com efeito, a majoração da indenização já implica, automaticamente, o acréscimo do valor dos honorários, considerando que eles foram arbitrados por meio de alíquota "ad valorem", em um modo onde o aumento da base de cálculo, simetricamente, importa no aumento do produto final do cálculo. O aumento da base de cálculo (montante indenizatório) e suas consequências sobre o valor dos honorários não significa, entretanto, que a porcentagem estipulada em Primeiro Grau deva ser majorada.

Nesse tocante, é oportuno registrar que o Código de Processo Civil, em seu art. 85, §§3º e 4º, delimita critérios objetivos para definição dos honorários, estabelecendo, para a hipótese em que houver condenação, que seu valor seja considerado como base de cálculo da parcela, prescrevendo, adicionalmente, quais serão as alíquotas incidentes sobre ela.

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução,

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resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.

§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

§ 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

Logo, no caso que se tratar de sentença condenatória, a margem de discricionariedade do magistrado fica condicionada, devendo o montante da condenação servir necessariamente como base de cálculo da operação, observadas as alíquotas predefinidas na legislação.

É, a propósito, o que se verifica nos autos, com a sentença prescrevendo o valor da condenação, restando ao magistrado apenas aplicar a alíquota correspondente ao montante indenizatório, que, no caso, alcança o patamar máximo de 10% (dez por cento).

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cálculo.

Diante do exposto, e sem maiores delongas, dou parcial provimento ao recurso para majorar a indenização por danos morais em R$ 10.000,00 (dez mil reais), mantidos os encargos acessórios definidos na sentença.

Custas recursais pelo apelado, observada a isenção concedida pelo art. 10, inc. I, da Lei nº 14.939/03.

DES. JAIR VARÃO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. MAURÍCIO SOARES - De acordo com o(a) Relator(a).

Referências

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