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ANÁLISE DA PAISAGEM DA REGIÃO DE SÃO CARLOS-SP COM BASE NA ESPÉCIE MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA

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Academic year: 2021

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EIXO TEMÁTICO: Ciências Ambientais e da Terra

ANÁLISE DA PAISAGEM DA REGIÃO DE SÃO CARLOS-SP

COM BASE NA ESPÉCIE MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA

Emilene Frazão Capoia 1 Daniele Toyama 2 Luciano Elsinor Lopes3

RESUMO: O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) é uma espécie considerada

vulnerável a extinção. Este estudo apresenta uma análise da paisagem na região de São Carlos-SP, baseado no Inventário Florestal do Estado de São Paulo e áreas preferenciais de vida do animal, considerando dados da literatura, a fim de verificar se a paisagem está adequada ou inadequada à espécie. Verificou-se que a paisagem está inadequada à espécie, devido ao tamanho dos fragmentos, forçando os indivíduos a transpor ambientes e sujeitar-se a riscos. Algumas propostas para a conservação da espécie são: aumentar o tamanho dos fragmentos reflorestando as bordas, criar corredores ecológicos, instalar radares, placas e passagens de fauna nas estradas.

Palavras-chave: Ecologia da Paisagem. Conservação. Tamanduá-Bandeira.

1.

INTRODUÇÃO

O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)é uma das espécies mais ameaçadas do cerrado (WWF, 2016), sendo considerada vulnerável pela lista vermelha apresentada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, 2016). As principais causas do declínio da espécie são a perda de habitat (principalmente pela urbanização e atividades agroindustriais), os atropelamentos, a caça, os incêndios e o ataque de cães ferozes (DINIZ e BRITO, 2013).

O tamanduá-bandeira é o maior tamanduá existente e um dos maiores mamíferos do cerrado. O animal é lento e sua visão e audição são pouco desenvolvidas, permitindo a fácil aproximação (MIRANDA, 2004). Sua alimentação é restrita a formigas e cupins, e usa seu olfato aguçado para encontrar suas presas, passando grande parte do tempo forrageando (BRAGA, 2010). Analisando sua distribuição na região estudada através de registros de atropelamentos, foram encontrados indivíduos na Rodovia dos Bandeirantes (SP-330), em frente à Área de Relevante Interesse Ecológico Cerrado Pé de Gigante, no município de Santa Rita do Passa Quatro - SP, e na região do município de Descalvado - SP (PRADA, 2004). Além disso, foram

1 Discente – Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. UFSCar. <emilenefrazao@gmail.com>. 2 Discente – Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. UFSCar.

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registrados indivíduos na reserva de cerrado da Universidade Federal de São Carlos, no município de São Carlos, por meio de armadilha fotográfica.

Braga (2010) afirma que o tamanduá-bandeira é uma espécie bastante popular pelas suas características, porém existe pouco conhecimento científico sobre seu comportamento e ecologia. Portanto, esse estudo tem como objetivo realizar a análise da paisagem na região do município de São Carlos-SP, a fim de verificar se a paisagem está ou não adequada para a espécie e propor medidas para sua conservação.

2.

METODOLOGIA

A área de estudo consiste em catorze municípios localizados na região central do estado de São Paulo: Américo Brasiliense, Analândia, Araraquara, Brotas, Descalvado, Guatapará, Ibaté, Itirapina, Luís Antônio, Ribeirão Bonito, Rincão, Santa Lúcia, Santa Rita do Passa Quatro e São Carlos. A paisagem na região é bastante fragmentada, sendo ocupada por centros urbanos, culturas temporárias e perenes. A vegetação predominante é do tipo vegetacional de cerrado, apresentando também áreas de floresta estacional semidecidual.

Previamente a análise da paisagem realizou-se uma revisão da literatura visando obter fundamentação teórica e científica sobre as características físicas, comportamentais e os habitats preferenciais do tamanduá-bandeira, por meio de bancos de teses e de dissertações e listas de espécies ameaçadas.

Para a realização da análise da paisagem, foram utilizados os softwares ArcGis 10.2.2® e FRAGSTATS. Também se utilizou o Inventário Florestal do Estado de São Paulo, elaborado pelo Instituto Florestal em 2001, para determinar os habitats com base em características comportamentais e preferências de habitat do tamanduá-bandeira. A Figura 1 apresenta a metodologia adotada neste estudo.

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Figura 1. Metodologia adotada para realizar análise da paisagem.

Para interpretar os resultados das métricas de fragmento, foram adotados parâmetros para classificar a distância entre fragmentos e a área de vida, sendo o primeiro baseado no deslocamento diário estabelecidos por Silva (2010) e o segundo baseado na média aritmética dos dados de área máxima e mínima estabelecidas por Silva (2010) e Braga (2010). Os valores estabelecidos para cada parâmetro deste estudo são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Classificação dos habitats quanto à área dos fragmentos e distância do fragmento mais próximo. Classificação Tamanho da área Distância Euclidiana entre Fragmentos

Excelente > 1500 ha < 3.500,00 m

Mediano 300 a 1500 ha 3.500,00 a 7.000,00 m

Inadequado < 300 ha >7.000,00 m

3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tamanduá-bandeira prefere habitats de vegetação mais aberta, como campos e cerrados, mas também pode ser encontrado em habitats mais florestados. Assim, o restante da paisagem torna-se a matriz (não habitat) (Figura 2). A partir da subdivisão dos dados analisou-se a paisagem.

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Figura 2. Classificação dos habitats para o tamanduá-bandeira.

A paisagem possui 7.242 fragmentos de vegetação natural remanescente, desconsiderando a matriz (Tabela 2). Considerando os resultados da área média dos fragmentos por classe, nota-se que estão abaixo da área necessária para sobrevivência de ao menos um tamanduá-bandeira, considerando que a área de vida mínima para um indivíduo registrada na literatura é de 190 ha (SILVA, 2010).

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Tabela 2. Classificação da paisagem de acordo com os habitats do tamanduá-bandeira. Tipo Área Total (ha) Nº de Fragmentos Tamanho médio dos fragmentos (AT/NF)

Habitat ótimo 99.082,35 5.592 17,71

Habitat intermediário 15.520,23 1.650 9,4

Realizando a análise com base nos parâmetros estabelecidos (Tabela 1), foram obtidos 7.185 fragmentos com área inadequada, 56 com área mediana, e dois com área excelente para comportar ao menos um indivíduo da espécie. Considerando a relação do tamanho de cada fragmento com o tipo vegetacional (habitat ótimo e habitat intermediário), apenas 4,9% (39.282 ha) da área total são propícias para a ocorrência do tamanduá-bandeira; 9,39% da área são inviáveis, por possuir área inferior ao necessário para sobrevivência de ao menos um indivíduo da espécie e a matriz compõe 85,71% da paisagem.

Analisando a conectividade dos fragmentos através da distância média euclidiana, obteve-se que, entre os fragmentos de habitat ótimo, a distância varia num intervalo de 60 m a 2.857,73 m, valores inferiores a capacidade de deslocamento máximo diário da espécie, enquadrando-se no parâmetro excelente. Para os habitats intermediários, um fragmento possui distância considerada como inadequado para a espécie (13.573,57 m), dois fragmentos possuem distância mediana (3.764,50 m e 5.112,78 m) e 1.647 fragmentos possuem distância considerada excelente (variando entre 60 m e 3.067,20 m).

A paisagem estudada não é adequada ao animal. Apresenta alta conectividade, porém os fragmentos são de tamanho insuficiente para comportar um indivíduo, tornando necessário o deslocamento do animal entre fragmentos, expondo-o a riscos. Esses riscos podem estar relacionados com a vulnerabilidade de extinção da espécie na área de estudo. Por fim, apenas um fragmento de habitat ótimo da área de estudo possui área grande o suficiente para que um animal sobreviva sem necessidade de deslocamento entre fragmentos.

Como proposta de conservação, destaca-se a necessidade de aumentar o tamanho dos fragmentos, de criar corredores ecológicos, instalar radares, placas e passagens de fauna nas estradas, bem como medidas de educação ambiental. Por meio, do reflorestamento e restauração das áreas de borda dos fragmentos, o tamanho destes seria aumentado, melhorando sua qualidade, e disponibilidade dos recursos necessários ao tamanduá-bandeira. A criação de corredores ecológicos diminuiria as ocorrências de morte por caça e ataques de cães domésticos e facilitaria ainda mais seu deslocamento entre fragmentos. A educação ambiental dos moradores da área rural elucidaria a importância do tamanduá-bandeira no controle de pragas que afetam a produção agrícola, e como um ser vivo componente da paisagem natural, que deve ser respeitado e preservado. A instalação de radares levaria a redução da velocidade dos veículos nas áreas de maior ocorrência do animal, e a criação de passagens de fauna proporcionaria a transposição do animal com menor risco de ser atropelado. Por fim, a instalação de placas indicativas da existência do animal nas rodovias da área de estudo teria caráter informativo sobre a espécie.

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4.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante os resultados, concluísse que a paisagem está inadequada para o animal, uma vez que o tamanho dos fragmentos é inferior ao necessário para comportar uma população viável. As ameaças à espécie são reveladas na necessidade de transpor ambientes para forrageio, sujeitando o animal ao atropelamento, caça e ataque por animais domésticos.

Por fim, pesquisas em ecologia da paisagem para tamanduás-bandeira mostram-se importantes, uma vez que o conhecimento científico sobre a espécie é escasso, permitindo melhor compreensão de seu comportamento e relação com o meio ambiente e a proposição de medidas para sua conservação. Essas medidas são fundamentais para melhorar os aspectos que estão levando essa espécie ao declínio, buscando diminuir sua categoria de ameaça à extinção.

REFERÊNCIAS

BRAGA, F. B. Ecologia e comportamento de tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla

Linnaeus, 1758 no município de Jaguariaíva, Paraná. 2010. 119 F. Tese (Doutorado em

Engenharia Florestal). Centro de Ciências Florestais e da Madeira. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010.

DINIZ, M. F. BRITO, D. Threats to and viability of the giant anteater, Myrmecophaga tridactyla

(Pilosa: Myrmecophagidae), in a protected Cerrado remnant encroached by urban expansion in

central Brazil. Zoologia v. 30 n.2 Curitiba, 2013.

IUCN. Red List. Myrmecophaga tridactyla. Disponível em:

<http://www.iucnredlist.org/details/14224/0>. Acesso em: 10 mai. 2016.

MIRANDA, G. H. B. Ecologia e Conservação do Tamanduá-Bandeira (Myrmecophaga

tridactyla, Linnaeus, 1758) no Parque Nacional das Emas. Tese de Doutorado. 81 p.

Universidade de Brasília, Brasília – DF, 2004.

PRADA, C. S. Atropelamento de vertebrados silvestres em uma região fragmentada do

nordeste do Estado de São Paulo: quantificação do impacto e análise de fatores envolvidos. Dissertação. Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e

da Saúde - Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. São Carlos, SP, 2004.

SILVA, A. B. Avaliação da relação entre distância média diária percorrida, área de vida, e disponibilidade de energia para tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) em Savanas Neotropicais. Dissertação (Mestrado em Ecologia). 80 f. Centro de Ciências biológicas e da Saúde. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS, 2010.

WWF. Como estão os “Big Five” do Cerrado. Disponível em:

Referências

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