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Área central de Florianópolis: implicações das propostas de revitalização urbana no espaço e na paisagem do setor leste

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Academic year: 2021

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André Michels Chibiaqui

ÁREA CENTRAL DE FLORIANÓPOLIS:

IMPLICAÇÕES DAS PROPOSTAS DE REVITALIZAÇÃO URBANA NO ESPAÇO E NA PAISAGEM DO SETOR LESTE

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Profa. Dra. Soraya Nór

Florianópolis 2018

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André Michels Chibiaqui

ÁREA CENTRAL DE FLORIANÓPOLIS:

IMPLICAÇÕES DAS PROPOSTAS DE REVITALIZAÇÃO URBANA NO ESPAÇO E NA PAISAGEM DO SETOR LESTE

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação

em Arquitetura e Urbanismo Florianópolis, 07 de junho de 2018.

________________________ Prof. Dr. Fernando Simon Westphal

Coordenador do Curso Banca Examinadora:

________________________ Prof.ª Dra. Soraya Nór

Orientadora

Universidade Federal de Santa Catarina ________________________ Prof.ª Dra. Adriana Marques Rosseto Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Prof. Dr. Lino Fernando Bragança Peres

Universidade Federal de Santa Catarina ________________________

Prof. Dr. Nelson Popini Vaz Universidade Federal de Santa Catarina

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Lara, a inesperada razão de tudo

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AGRADECIMENTOS

Ao longo desta caminhada em que estive envolvido com o mestrado não foram poucas as pessoas que acompanharam as minhas incertezas e se disponibilizaram, pacientemente, a me ouvir. Uma trajetória construída com muito esforço, dedicação, surpresas, alegrias e angústias (bastante por sinal). Contudo, o legado vai além do título. É a confirmação de que devemos sempre desconfiar das certezas absolutas. Da lei máxima "de que tudo já foi feito" ou "é assim e pronto" ou mesmo "é obra divina". Manter-se em constante aprendizado é também um exercício de renovação de nossa humildade. Nesses momentos você se depara com a sua própria ignorância e é preciso superá-la, abdicando, por muitas vezes, de momentos e pessoas que você ama, ou mesmo, reconhecendo suas limitações.

Diante disso, agradeço muitíssimo a todos os meus familiares mais presentes, em especial, a minha esposa Vanessa, parceira e incentivadora em todos os melhores e piores momentos, e a minha inspiração cotidiana, Lara.

Aos incontáveis amigos, antigos, novos ou passageiros, que em diversos momentos colaboraram com textos, livros, dicas, ou mesmo com palavras de incentivo. Agradecimento especial aos “irmãos” que a vida lhe dá, Tueilon e Caetano, pela paciência e atenção incondicional em diversos momentos dessa trajetória.

Agradeço também aos colegas de trabalho do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) - campus Dib Mussi, em especial aos professores Alexandre, Luiz Antônio, Eliane, Raquel, Wilson, Rudi, Roberto, Fernanda, Maurício, Silas, Arlis, Cristiano, Maria Cristina, Silvio, Rogério, Suely, Luciano, Ana Alice, Maria da Graça, Estela, Jacinta, Alcemir, Verediana e Rogério. Estendo também os meus agradecimentos aos colegas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), especialmente aos professores Alberto, Eduardo, Rafael, Leandro, Gabriela e Adriana, pelo apoio prestado em diferentes momentos dessa trajetória.

Agradeço ao Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) - campus Criciúma pelo incentivo e valorização constante na capacitação do corpo docente, assim como, ao esforço e companheirismo de meus colegas da área da Construção Civil durante a fase de conclusão desta dissertação.

Agradeço a minha orientadora Soraya Nór por toda experiência oportunizada nessa caminhada e, sobretudo, pela sua paciência e

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compreensão em todos os momentos pessoais e profissionais convividos.

Agradeço aos professores - Adriana Marques Rosseto, Nelson Popini Vaz e Lino Peres pelo conhecimento e experiência compartilhados até os últimos instantes dessa caminhada. Por fim, estendo meus agradecimentos a Adriana, Mariany e demais colaboradores da secretaria, assim como, a todos os professores do Programa de Pós Graduação (PósArq) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em especial aos professores Almir Francisco Reis e Renato Saboya que cotidianamente se dedicam a manter um ensino público brasileiro de excelência e gratuito.

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RESUMO

O centro fundador de Florianópolis, situado na parte insular da capital de Santa Catarina, desde 2013 vem recebendo investimentos públicos e privados voltados à revitalização urbana. Localizado na área central da cidade, a porção leste da Praça XV de Novembro, denominado como Setor Leste, foi pioneira na constituição de uma malha urbana adensada e diversificada carregando consigo não apenas a memória e os valores simbólicos de sua formação, mas uma série de interesses políticos, econômicos e sociais que delinearam ao longo do tempo a configuração espacial e a paisagem urbana atual. A gradativa descentralização dos serviços públicos e o fortalecimento de novas centralidades na ilha contribuíram para o Setor Leste vivenciar ao longo dos últimos anos um deflagrado processo de degradação do espaço urbano. Atividades e serviços deixaram de ser desempenhados e a presença de edificações ociosas ou descuidadas, pessoas em situação de rua e a sensação de insegurança tornaram-se características marcantes no local. A hipótese levantada é que as propostas de revitalização urbana, de caráter público-privado – a saber, Projeto Viva a Cidade e o Projeto Centro Sapiens – estejam voltadas prioritariamente à valorização econômica e imobiliária do lugar, não contemplando preocupações com a vida urbana e social remanescentes na área, assim como a manutenção dos atributos espaciais característicos da forma urbana e paisagem local. O Projeto Viva a Cidade implementa ações sociais e culturais todos os sábados, visando atrair o interesse das pessoas à área e mantê-la economicamente ativa. O Projeto Centro Sapiens prevê o desenvolvimento territorial e tecnológico voltado à promoção da economia criativa – com foco em turismo, gastronomia, artes, design e tecnologia, com vistas a transformar o Setor Leste em espaço de inovação e incentivo ao empreendedorismo. O objetivo desta pesquisa é avaliar as implicações sobre a urbanidade e a paisagem do Setor Leste da área central de Florianópolis em relação às propostas urbanas para sua revitalização – Projeto Viva a Cidade e Projeto Centro Sapiens. Esta pesquisa contempla um estudo com abordagem qualitativa do tipo histórica utilizando leituras urbanas, mapas de análise morfológica, entrevistas consubstanciado pela interpretação do referencial teórico conceitual e legislações pertinentes. A pesquisa demonstrou que os projetos de revitalização visam reestabelecer a vida urbana em escalas distintas seja por investimentos na identidade histórica e comercial da área como forma de atrair pessoas e valorizar economicamente os estabelecimentos locais, ou pela promoção econômica da área a partir da recuperação,

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especialmente de edificações históricas, e de incentivos fiscais às empresas ligadas à economia criativa. Contudo, mesmo na expectativa de incentivos fiscais, o enfraquecimento das atividades terciárias, observadas na subutilização e ociosidade de edificações, sinaliza para processos de remembramento resultantes da demolição de edificações desocupadas, gerando efeitos morfológicos e sugerindo alterações significativas na urbanidade e paisagem local.

Palavras-chave: Revitalização urbana. Planejamento Estratégico. Urbanidade. Paisagem Urbana.

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ABSTRACT

The founding center of Florianópolis, located at the insular territory of Santa Catarina's island, since 2013 gathers public and private investment aiming to the urban revitalization. Located at the city center, the east section of XV de Novembro square, currently known as Setor Leste, it pioneered at the constitution of a dense and diversified urban area that carries within itself not only the memory and symbolic values of its formation, but also a series of political, economical and social interests that in a long-term defined the current spatial configuration and urban landscape. The gradual decentralization of public services alongside the reinforcement of new centralities at the island collaborated to a degradation process of urban space that has been set to the Setor Leste under the last few years. Services and activities are no longer engaged, leading to the presence of idle or careless buildings, homeless people and the feeling of insecurity became remarkable characteristics of the neighborhood. The raised hypothesis is that the proposals of urban revitalization, of public-private character - namely Viva a Cidade Project and the Centro Sapiens Project - to be primarily targeted at real estate and economic valuation of the area, not concerning the urban and social life remanent at the sector, as well as the maintenance of spatial attributes related to the urban form and local landscape. The Viva a Cidade Project implements social and cultural actions every saturdays, seeking to attract the people's interests to the area and keep it economically active. The Centro Sapiens Project foresees territorial and technological development seeking to promote the creative economy - focusing at tourism, gastronomy, arts, design and technology, aiming to convert the Setor Leste into a innovation space and stimulus to entrepreneurship. The goal of this research it is to evaluate implications over urbanity and landscape of the Setor Leste from the central area of Florianópolis related to the urbanistic proposals for its revitalization – Viva a Cidade Project and Centro Sapiens Project. This research comprises a study with a qualitative and historical type approach, utilizing urban readings, morphological analysis maps, interviews based on the interpretation of the theoretical conceptual references and applicable legislation. The research outlined that the revitalization projects seek to establish urban life at distinct scales, either through investments at historical and commercial identity of the area as an attempt to attract people and economically valorization local establishments, economic promotion of the area based at the spatial recovery, spatially of historical buildings, and from tax incentives to

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companies attached to creative economy. However, even in the expectation of tax incentives, the weakening of tertiary activities, observed at the underutilization and idleness of buildings, signals to processes of remembrance resulting from the demolition of unoccupied buildings,producing morphological effects and suggesting changes at the local urbanity and landscape.

Keywords: Urban revitalization. Strategic planning. Urbanity. Urban landscape

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Centro fundador de Florianópolis com a demarcação da área

de estudo... 8

Figura 2 - Setor Leste e principais referências. ... 9

Figura 3 - Esquema de ocupação de Desterro. ... 45

Figura 4 – Planta topográfica de Desterro em 1777. ... 47

Figura 5 – Mapa de ocupação do núcleo fundador de Florianópolis entre 1675 a 1819. ... 49

Figura 6 – Planta topográfica da cidade de Desterro em 1876. ... 53

Figura 7 – Mapa de ocupação do núcleo fundador de Florianópolis entre 1819 a 1876. ... 54

Figura 8 – Canalização do Rio da Bulha no centro da cidade. ... 57

Figura 9 – Transformação da paisagem urbana do Setor Leste, adjacente à Avenida Hercílio Luz. ... 58

Figura 10 – Vista aérea do Setor Leste na década de 40. ... 59

Figura 11 – Novos edifícios institucionais no Setor Leste. ... 61

Figura 12 – Vista da baía sul em 1947. ... 62

Figura 13 – Mapa de ocupação do núcleo fundador de Florianópolis até os anos 40. ... 63

Figura 14 – Esquema gráfico da avenida–tronco e localização dos equipamentos urbanos. ... 67

Figura 15 – Vista panorâmica da baía sul no final da década de 50. ... 69

Figura 16 – Vista panorâmica do centro de Florianópolis em meados anos 60. ... 70

Figura 17 – Mapa de ocupação do núcleo fundador de Florianópolis até os anos 60. ... 71

Figura 18 – Vista panorâmica da baía sul no final da década de 60 (1) e 70 (2). ... 75

Figura 19 – Mapa de ocupação do núcleo fundador de Florianópolis até os anos 80. ... 81

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Figura 20 – Mapa de ocupação do núcleo fundador de Florianópolis

atualmente. ... 82

Figura 21- Descrição da área pelos entrevistados. ... 83

Figura 22 – Comparativo morfológico do Setor Leste – 1876 e atual (recorte em destaque). ... 84

Figura 23 - Mapa de ocupação do solo. ... 86

Figura 24 - Mapa de gabaritos. ... 87

Figura 25 – Edifícios com diferentes gabaritos e tipologias. ... 88

Figura 26 – Edifícios marcantes no Setor Leste ... 89

Figura 27 - Mapa de edificações tombadas conforme Decreto Municipal 270/86. ... 90

Figura 28 – Edifícios remanescentes do período colonial. ... 91

Figura 29 – Edifícios com arquitetura Art Déco. ... 92

Figura 30 – Edifícios da arquitetura Moderna. ... 93

Figura 31 - Mapa de usos. ... 94

Figura 32 - Mapa de atividades comerciais e culturais. Nas fotos (1) e (2): a diversidade de atividades presentes no Setor Leste. ... 95

Figura 33 - Mapa de horário das atividades. ... 96

Figura 34 – Motivo da ida (1) e horário de que frequenta o Centro (2). 97 Figura 35 – Rua Victor Meirelles fechados (foto 1) e Travessa Ratcliff: perfil exclusivamente noturno e pouca vitalidade durante o restante do dia. ... 98

Figura 36 – Edificações residenciais no Setor Leste ... 98

Figura 37 – Antigo Hotel Royal: exemplo de edifícios desocupados no Setor Leste. ... 99

Figura 38- Vantagens (1) e desvantagens de morar no Centro apontados pelos entrevistados. ... 100

Figura 39- Locais mais atrativos (1) para os entrevistados e suas respectivas características (2). ... 101

Figura 40 – Travessa Ratcliff durante a realização dos eventos do Projeto Viva a Cidade. ... 102

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Figura 41 – Praça XV de Novembro e entorno. ... 103

Figura 42 - Mapa do sistema viário. Nas fotos (1) e (2): tráfego intenso e conflito entre veículos e pedestres observados na Rua Tiradentes. ... 104

Figura 43 – Rua João Pinto: em horário normal de atendimento (foto 1) e durante os eventos do Projeto Viva a Cidade. ... 105

Figura 44 – Rua João Pinto próximo à Avenida Hercílio Luz. ... 106

Figura 45- Locais menos atrativos (1) para os entrevistados e suas respectivas características (2). ... 107

Figura 46 – Terminal Cidade de Florianópolis, contíguo a Rua Antônio Luz: barreira visual e pouca presença de pessoas. ... 108

Figura 47 – Avenida Hercílio Luz em 2005 (foto 1) e após o tamponamento do canal, em 2018 (foto 2). ... 109

Figura 48 – Apropriação da Avenida Hercílio Luz em diferentes momentos do dia ... 109

Figura 49 – Rua Victor Meirelles e Nunes Machado, próximas a Avenida Hercílio Luz. ... 110

Figura 50 - Mapa de edifícios ociosos, subutilizados ou desocupados. ... 111

Figura 51 - Vista área parcial do Setor Leste em diferentes momentos. ... 112

Figura 52 – Espaços ociosos no Setor Leste. ... 113

Figura 53 – Vias ... 115

Figura 54 – Limites ... 116

Figura 55 – Características de Bairro. ... 117

Figura 56 – Pontos Nodais ... 118

Figura 57 – Marcos ... 119

Figura 58 – Mapa conceitual representativo da imagem do Setor Leste de acordo com as observações empíricas e percepção dos usuários. .. 121

Figura 59 – Organização dos eventos e feiras nas ruas contempladas no programa. ... 124

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Figura 61 – Feiras e encontros gastronômicos. ... 125

Figura 62 – Apresentações e exposição de produtos ao ar livre. ... 125

Figura 63 - Rua Victor Meirelles. ... 126

Figura 64 – Localização do Sapiens Parque e Centro Sapiens na região metropolitana de Florianópolis. ... 127

Figura 65 – Museu da Escola Catarinense. ... 131

Figura 66 – Linhas de atuação do Centro Sapiens. ... 132

Figura 67 – Ruas contempladas no Projeto Viva a Cidade e as quadras efetivamente ocupadas durante a realização do evento. ... 135

Figura 68 – Barreiras arquitetônicas na Rua Antônio Luz, próximo ao Forte Santa Bárbara (foto 1) e na Rua General Bittencourt (foto 2). .. 136

Figura 69 - Comparativo de ocupação na Rua Victor Meirelles e Travessa Ratcliff. ... 137

Figura 70 – Edificações acima de quatro pavimentos identificadas conforme período de vigência dos Planos Diretores de 1952, 1976 e 1997. ... 145

Figura 71 - Altura máxima (número de andares) para bairros e vias. . 148

Figura 72 – Dois cenários de ocupação de lotes em uma mesma quadra. ... 151

Figura 73 – Edifício Mussi, antes e depois. ... 154

Figura 74 – Propriedades passíveis de remembramento. ... 155

Figura 75 – Edifícios comerciais no Setor Leste. ... 156

Figura 76 – Simulações hipotéticas de ocupação de algumas quadras do Setor Leste. ... 158

Figura 77 – Área remembrada na Avenida Hercílio Luz. ... 159

Figura 78 – Modelo de Entrevista ... 192

Figura 79 – Planta Topográfica da cidade de Desterro elaborada em 1777. ... 193

Figura 80 - Vista da Cidade do Desterro em 1785 ilustrada por Duché de Vancy. ... 194

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Figura 81 - Vista da Cidade do Desterro em 1819 ilustrada por Fischer ... 194 Figura 82 – Planta Topográfica da cidade de Desterro elaborada em 1876. ... 195 Figura 83 – Mapa de Zoneamento do Distrito Sede da Lei

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 5

1.1.1. Objetivo Geral ... 12

1.1.2. Objetivos específicos ... 12

2 REVITALIZAÇÃO DE CENTROS URBANOS: O QUE DE FATO ESTÁ EM JOGO? ... 19

2.3.1. A diversidade urbana ... 31

2.3.2. Os espaços de transição ... 32

2.3.3. A espacialidade urbana ... 34

2.3.4. A imageabilidade ... 36

2.3.5. A epiderme urbana ... 39

3 O CENTRO FUNDADOR DE FLORIANÓPOLIS ... 43

3.1.1. Período Colonial da Vila do Desterro ... 43

3.1.2. Do Império à República ... 51

3.1.3. Virada do século XX: a modernização de Florianópolis ... 55

3.1.4. Décadas de 50 e 60: a modernidade acelerada e o primeiro Plano Diretor ... 65

3.1.5. Anos 70 ao final do século XX: a transformação da cidade 73 4 A IMAGEM DO SETOR LESTE ... 83

5 SETOR LESTE: ENTRE O HOJE E AMANHÃ ... 123

5.1.1. Projeto Viva a Cidade ... 123

5.1.2. Projeto Centro Sapiens ... 126

5.1.3. Um olhar crítico acerca das propostas urbanísticas... 132

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 163

REFERÊNCIAS ... 169

APÊNDICE A – Processo de aprovação do Plano Diretor Participativo (PDP) de 2014 ... 184

ANEXO A - Modelo de Entrevista utilizado pela UFSC LabUrb/ AMA (2016) ... 192

ANEXO B - Planta Topográfica da cidade de Desterro elaborada em 1777. ... 193

ANEXO C - Ilustrações realizadas durante a visita de viajantes à ilha de Santa Catarina. ... 194

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ANEXOD-Planta Topográfica da cidade de Desterro elaborada em 1876. ... 195 ANEXO E - Mapa de Zoneamento do Distrito Sede da Lei

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1 INTRODUÇÃO

De tempos em tempos é recorrente observar determinada cidade colocar em pauta a necessidade de revitalização de seu centro urbano como resposta ao declínio de investimentos econômicos, degradação ou subutilização das construções, abandono pela população local e perda das funções de centralidade.

Identificados como lugares com vida urbana dinâmica, os centros urbanos reúnem consigo uma série de relações históricas, sociais, culturais e econômicas que qualificam as características espaciais destas áreas a ponto de gerar interesse do poder público e da iniciativa privada em promover ações visando algum tipo de intervenção urbana.

Vargas e Castilho (2009) destacam que invariavelmente são utilizadas diversas adjetivações para definir o centro urbano: centro histórico, centro de negócios, centro tradicional, centro de mercado, centro principal, ou simplesmente, centro. Entre outras palavras, a noção de centro urbano poderia ser atribuída a partir das atividades e relações urbanas, funcionais, econômicas, sociais e regionais que são ou foram desempenhadas ao longo do tempo sobre um determinado espaço. Por exemplo, um centro historicamente definido com um lugar de abastecimento e trocas comerciais, conduziria ao conceito de centro de mercado, e quando agregados atividades urbanas – religiosa, lazer, política, cultural, financeira e de comando – conduziria ao conceito de centro de negócios, ou quando associado à origem do núcleo urbano, denominado de centro histórico. Atualmente melhor identificado como centro fundador, uma vez que não apenas o centro expressa a história da cidade.

Para as autoras, apoiadas no conceito defendido por Carrion (1998 apud VARGAS e CASTILHO, 2009, p.3), na definição de centro urbano soma-se ainda a presença de uma cidade de diversidade étnica, portadora de processos históricos conflituosos, com anos de existência em contradição.

Em suma, os centros urbanos concentram uma grande parcela do patrimônio histórico, artístico e arquitetônico, conformando áreas com importante papel simbólico para as cidades. Em razão disso, quando as áreas centrais apresentam sinais de degradação, as consequências destes processos não se resumem aos aspectos econômicos e financeiros de uma gestão urbana deficitária, seus efeitos também acabam sendo percebidos sobre a identidade e cultura da sociedade e da cidade como um todo (ULTRAMARI, 2007).

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6 Ao longo do século XX, as experiências urbanas na revitalização de áreas portuárias de Baltimore e Boston, respectivamente, nas décadas de 50 e 60, Londres, na década de 80, e mais recentemente, a partir da década de 90, em áreas históricas e populares de Barcelona, Berlim, Nova York e São Francisco passaram a representar modelos internacionais a diversas outras cidades do mundo na expectativa de revitalizar áreas degradadas.

Conduzidos pelo poder público municipal em parceria com a iniciativa privada os processos de revitalização urbana que se tem registro a partir de então vem apresentando um modus operandis semelhante, adotando um planejamento urbano pautado no modelo de gestão empresarial, denominado planejamento estratégico.

No bojo das críticas ao planejamento estratégico, questiona-se que a adoção de princípios e técnicas da gestão empresarial em um modelo de política urbana associado à introdução e modificações de legislações urbanísticas favorece a autonomia de atores privados nas definições e execução de projetos em parceria com o poder público. Como efeito dessa nova forma de gestão urbana, uma maior penetração do capital financeiro público-privado associado a uma postura conivente de gestores públicos acarreta em transformações da paisagem e espaço urbano, assim como enfraquece a participação popular nas decisões aprofundando, ao longo do tempo, processos de segregação socioespacial (ROLNIK et. al, 2018).

Na América Latina, D’Arc (2012, p.19) destaca que as intervenções realizadas pautadas nos conceitos de planejamento estratégico são relativamente novas quando comparado às experiências europeias, e que os possíveis fracassos ou sucessos destes projetos “oferecem novos instrumentos de reflexão e de aplicação (em termos positivos ou negativos), não apenas aos responsáveis políticos locais, mas também aos formadores de ideias e de opiniões”.

No Brasil, alguns exemplos de revitalizações urbanas de destaque, tanto pela mídia como por pesquisadores urbanos, adotaram estratégias semelhantes de parcerias público-privada, tais como, as intervenções realizadas na área central da cidade de São Paulo, no Pelourinho, em Salvador, no programa Corredor Cultural e projeto Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, projeto Reviver, em Recife, projeto Cores da Cidade, em Curitiba entre outras (ULTRAMARI, 2007).

Geralmente estas intervenções são caracterizadas pelo discurso de preservação do patrimônio urbano e cultural do lugar associado a investimentos públicos e privados visando à recuperação econômica e

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7 financeira do centro urbano degradado. Mesmo quando as peculiaridades territoriais, políticas e socioeconômicas específicas de qualquer cidade, por si só demandariam ações contextualizadas muitas destas experiências:

[...] ocorreram sob a ótica de ações de embelezamento ou de grandes projetos de renovação urbana. Essas intervenções se caracterizaram por sobrepor os aspectos funcionais e os interesses imobiliários a outros fatores de caráter mais social, como por exemplo, a proposta de se requalificar os centros urbanos como locais de moradia (ULTRAMARI, 2017, p.25).

Para Moreira (2005 p. 73) os centros históricos são “revitalizados”, usos e população se modificam e todo o discurso de preservação da memória, história e identidade que atravessa o século é, finalmente, posto em xeque pela forma de apropriação desses espaços. A autora enfatiza:

O desejo de preservação, a serviço dos mesmos princípios básicos da lógica econômica e financeira resulta na destruição de urbanidades pela alteração de modos de vida e na manutenção apenas da materialidade da cidade em áreas consideradas patrimônio histórico (MOREIRA, 2005 p. 73).

Em Florianópolis, as iniciativas de revitalização urbana1 vêm ao longo dos últimos anos se manifestando por meio de um conjunto de ações aparentemente isoladas entre si – programas em parceira com a

1

Os termos “revitalização urbana” e “vitalidade urbana” utilizados nessa dissertação devem ser relativizados, considerando que as linhas de atuação das parcerias público-privadas, tanto em curso como aquelas supostamente indicadas no discurso dos projetos urbanísticos para a área de estudo, seguem uma tendência a favorecer ações de ordem financeira e formal, a partir da valorização econômica local e da reestruturação das formas espaciais urbanas em detrimento as transformações no modo de vida existente. Costumeiramente responsáveis pela expulsão de moradores e comerciantes locais que acentuam processos de segregação socioespacial nas cidades, acredita-se que estas propostas estão negligenciando dinâmicas sociais e urbanas preocupantes do Setor Leste, tais como, a presença de pessoas em situação de rua e a baixa quantidade de residências, sugerindo, no entendimento desta pesquisa, uma "revitalização" unilateral e uma “vitalidade urbana” saneadora e voltada, preferencialmente, à lógica de uma política de mercado.

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8 iniciativa privada, atualizações e alterações na regulação urbanística, investimentos públicos na melhoria de infraestrutura e obras de preservação de edifícios históricos - concentradas principalmente no centro fundador da cidade, incluindo a porção leste da Praça XV de Novembro.

O bairro Pedreira, a leste da Praça XV de Novembro, também denominado Setor Leste, foi marcado por processos históricos de abandono e declínio decorrentes dos fluxos migratórios de investimentos para outras áreas da cidade (Figura 1). Pioneiro na constituição de uma malha urbana adensada e diversificada, o Setor Leste carrega consigo não apenas a memória e os valores simbólicos de sua formação, mas uma série de interesses políticos, econômicos e sociais que delinearam ao longo do tempo a configuração espacial e a paisagem urbana atual.

Estrategicamente localizada dentro da área central da cidade e com considerável oferta de infraestrutura urbana, esta porção do centro da cidade apresenta uma dinâmica urbana contraditória. A gradativa descentralização de serviços públicos da área central de Florianópolis, e o fortalecimento de outras centralidades pela ilha, contribuíram para o Setor Leste vivenciar, nas últimas décadas, um deflagrado e contínuo Figura 1- Centro fundador de Florianópolis com a demarcação da área de estudo.

Fonte: Geoprocessamento da Prefeitura de Florianópolis (2017) adaptada pelo autor.

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9 processo de degradação do espaço público e privado. Atividades e serviços deixaram de ser desempenhados nesta parte do centro, e a presença de edificações ociosas, subutilizadas ou descuidadas, moradores em situação de rua e a sensação de insegurança tornaram-se características marcantes nas calçadas e ruas locais.

Os edifícios históricos mais emblemáticos, tais como a Palácio Cruz e Souza (antigo Palácio do Governo), a Igreja Matriz e a Casa de Câmara e Cadeia, encontram-se ao redor da Praça XV de Novembro, adjacente ao recorte de estudo (Figura 2).

Na Avenida Hercílio Luz, a área faz limite com o Instituto Estadual de Educação (IEE), e uma série de edifícios comerciais e alguns mistos também com uso residencial. Edifícios públicos, institucionais e recreativos também se localizam nessa porção do centro, com destaque para a Secretaria Estadual de Educação, o Museu da Escola Catarinense e a sede recreativa do Clube Doze de Agosto. Figura 2 - Setor Leste e principais referências.

Fonte: Geoprocessamento da Prefeitura de Florianópolis (2017) adaptada pelo autor.

Um pouco mais distante, ao sul, tem-se a presença dos edifícios públicos da administração estadual e federal, tais como, o Tribunal de Contas do Estado, Assembleia Legislativa e o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, todos locados sobre o aterro da baía sul. Ainda ao sul, a área é limítrofe com o Forte Santa Bárbara e o Terminal Cidade de

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10 Florianópolis, com demanda reduzida de passageiros desde a transferência de linhas de ônibus urbanos para o Terminal de Integração do Centro (Ticen), em 2003.

Embora não seja uma característica constante nos finais de semana, em alguns horários do dia o Setor Leste apresenta relativa vitalidade, potencializado, em particular, pelo movimento do público que usufrui do comércio e serviços locais, tais como, “sebos”, lojas populares, bares, lanchonetes, restaurantes, escolas, entre outros.

Considerado pela Prefeitura como “ponto vital da cidade” (FLORIANÓPOLIS, 2014, p. 61) o Setor Leste demonstra estar recebendo a atenção do poder público não apenas pela necessidade da preservação urbana, como garantia da manutenção da identidade histórica e cultural da cidade, mas também pelo potencial econômico que oferece.

Dentre as propostas urbanas anunciadas nos últimos anos para a área central da cidade destacam-se o Projeto Viva a Cidade, lançado em 2013, e o Projeto Centro Sapiens, anunciado em 2015. Ambos os projetos, de caráter público-privado, apresentam linhas de atuação distintas tanto no perfil do público-alvo pretendido como no alcance de seus objetivos, contudo, um fator em comum é observado no discurso destes projetos: a expectativa de revalorizar economicamente a área. E nesse contexto, ambas as parcerias sugerem um comportamento similar à iniciativas de revitalização baseadas em planejamento estratégico empreendido em outas cidades no mundo.

Outro fator que chama a atenção é a regulação urbanística atual, principalmente as atualizações e alterações ocorridas no último Plano Diretor de 20142.

Em 2014, em meio a muitas discussões entre segmentos da sociedade civil e instituições públicas, entrou em vigor o novo Plano Diretor de Florianópolis. Passado alguns anos após a sanção da lei, o plano atual ainda tem sua legalidade questionada na justiça motivada, sobretudo, pela decisão unilateral da Prefeitura de destituir o Núcleo Gestor (NG) e os Núcleos Distritais (NDs), instâncias de participação popular, das decisões finais de sua elaboração, em 2013 (APÊNDICE A).

Embora não esteja diretamente contido dentre as trezes principais diretrizes do Plano Diretor de 2014, nas discussões de aprovação do

2

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11 atual documento, a Prefeitura adotou um discurso para a revitalização da área central da cidade bastante ambicioso:

O processo de decadência do centro vem sendo revertido por um programa urbano de requalificação sem equivalentes no Brasil. Projetos e obras estratégicos, conexão com o mar, valorização de monumentos, animação urbana e incremento de habitações, são iniciativas em curso (FLORIANÓPOLIS, 2014, p. 58).

Para a área central, o Plano Diretor de 2014 prevê diretrizes de uso e ocupação do solo que apresentam medidas de incentivo para espaço térreo destinado ao uso comercial ou serviços associados à moradia em novas edificações. O atual Plano Diretor de 2014 adotou pela primeira vez instrumentos urbanísticos previstos no Estatuto da Cidade3, tais como Outorga Onerosa do Direito de Construir e a Transferência do Direito de Construir, que associados potencializam o direito de construir sobre a propriedade.

Se por um lado, a presença de comércio e moradias em determinado local, somados a outros atributos de urbanidade presentes no lugar favorecem a geração de vitalidade urbana e o convívio das pessoas no espaço urbano, contraditoriamente, a manutenção de índices urbanísticos com vistas à verticalização associados à eventual ação da especulação imobiliária, demonstra que o poder público não se preocupa com o próprio discurso preservacionista da área central e com os possíveis efeitos deste processo sobre a paisagem e o espaço urbano, a exemplo do que já ocorreu em décadas passadas.

Diante deste contexto, questiona-se a existência de aproximações entre os processos de revitalização de centros urbanos pautados nas bases ideológicas e conceituais do planejamento estratégico com as propostas de revitalização em curso na cidade de Florianópolis.

A hipótese formulada foi que, a exemplo do que ocorreu em outros momentos da evolução urbana da cidade, tais propostas urbanas de revitalização da área central de Florianópolis, consubstanciado pelo Plano Diretor de 2014, iniciaram uma nova fase de transformações espaciais na cidade, especificamente no Setor Leste, as quais vêm produzindo efeitos sobre os modos de vida existente, assim como, nas urbanidades presentes e na própria forma e paisagem urbana. E nesse sentido, refletir sobre estas transformações, em curso ou supostamente

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12 presentes no discurso destas propostas de revitalização, torna-se fundamental para compreensão das dinâmicas urbanas atuais e futuras. 1.1. OBJETIVOS

A seguir, são listados os objetivos geral e específicos desta pesquisa.

1.1.1. Objetivo Geral

Avaliar as implicações sobre a urbanidade e a paisagem do Setor Leste da área central de Florianópolis advindas das propostas urbanas para sua revitalização – Projeto Viva a Cidade e Projeto Centro Sapiens. 1.1.2. Objetivos específicos

A. Estudar as concepções e as críticas sobre o planejamento estratégico como referência ideológica de processos de revitalização em centros urbanos;

B. Analisar as especificidades técnicas e conceituais das propostas de revitalização urbana do Centro de Florianópolis - Projeto Viva a Cidade e Projeto Centro Sapiens.

C. Refletir sobre as consequentes implicações futuras das propostas sobre o espaço urbano e a paisagem local do Setor Leste.

1.2. METODOLOGIA

Esta pesquisa contempla um estudo com abordagem qualitativa do tipo histórica. A realização das etapas não se deu de forma linear e contínua, como aparentemente possa demonstrar a estruturação do trabalho. Em razão de o tema apresentar diversas variáveis, o desenvolvimento da pesquisa se deu de forma a considerar várias vertentes, por vezes, concorrendo para o processo de delimitar o problema central da pesquisa, gerando uma gama de informações que exigiram seleção e classificação.

A pesquisa tratou o processo de revitalização do Setor Leste a partir de três abordagens específicas: (1) o planejamento estratégico como catalisador dos processos de revitalização de centros urbanos; (2)

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13 a caracterização da evolução urbana do núcleo fundador da cidade de Florianópolis e (3) o estudo de atributos espaciais que influenciam na qualidade da vida urbana e na identificação da estrutura formal da cidade.

O levantamento bibliográfico utilizado para a compreensão do planejamento estratégico e seu conteúdo ideológico teve por base as contribuições relevantes formuladas por autores do tema, a saber, Castells e Borja (1996), Arantes, Vainer e Maricato (2002), Moreira (2005), Guerra (2005), Carlos (2007), Ultramari (2007), Vargas e Castilho (2009), D’Arc (2012), Silva (2012) e Crestani (2014) que contribuíram para o entendimento acerca das concepções e críticas do planejamento estratégico, desde à origem aos meios utilizados para torná-lo um instrumento de planejamento urbano catalisador de processos de revitalização urbana no cenário internacional e nacional.

É neste contexto que o fenômeno de city marketing4 torna-se claramente visível nas cidades e os meios para sua promoção são observados em diversas cidades do mundo. Em razão disso, algumas cidades foram citadas como referências com vistas a elucidar os efeitos destas políticas na vida urbana e nos desdobramentos socioeconômicos.

A análise do processo de evolução urbana de Florianópolis a partir da formação inicial do núcleo fundador até o século XXI, com ênfase no Setor Leste, procurou atender aos anseios do segundo questionamento da pesquisa. Esta linha de investigação buscou relacionar como o processo de transformação espacial da cidade, especialmente o núcleo fundador, foi ao longo das últimas décadas sofrendo influência contínua de regulações urbanísticas, afetando decisivamente na configuração espacial e na paisagem urbana. Esta variável certamente não atua isoladamente sobre espaço urbano e, concomitantemente, as leituras sobre o processo histórico buscaram demonstrar como os agentes políticos, econômicos e sociais influíram ao longo do tempo na configuração da forma e da paisagem urbana do recorte estudado.

Sem pretensão de encerrar as discussões acerca do papel individual e coletivo de cada agente envolvido no processo de formação da cidade a abordagem consubstanciada na bibliografia historicista de Peluso Junior (1991) e Veiga (2010) e complementada por pesquisas relacionadas à área central de Florianópolis cujos autores, a saber, Vaz

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Vargas e Castilho (2009) tratam o termo com a denominação “city marketing”. Contudo, nesta pesquisa será o utilizado o termo “marketing urbano” por ser mais recorrente nas literaturas pesquisadas.

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14 (1991), Rizzo (1993), Faccio (1997), Adams (2002) Sugai (2002), Siqueira (2008), Teixeira (2009 e 2015), Souza (2010), Rocha (2014), Wolff (2015) e Monteiro (2016) demonstraram importantes aspectos para compreender essa relação, especialmente no sentido de elucidar como os planos urbanos, a partir da década de 50, foram utilizados como instrumentos de legitimação dos processos de transformação espacial no núcleo fundador de Florianópolis.

Como suporte iconográfico, mapas tridimensionais periodizados de evolução urbana demonstram o processo gradativo de ocupação urbana insular de Florianópolis, destacando elementos naturais e referenciais urbanos mais relevantes para a configuração morfológica e da paisagem urbana do Setor Leste, até o presente momento. Para o desenvolvimento destes mapas foi utilizado o arquivo Cadastral Planialtimétrico da Prefeitura de Florianópolis de 2012, em formato DWG, exportado para o software Sketchup. A identificação da evolução urbana acompanhou a periodização utilizada em cada capítulo, e contou com apoio informacional dos mapas de interpretação da ocupação urbana de Florianópolis desenvolvido por Veiga (2010) e registros aerofotogramétricos nos anos de 1938, 1957, 1977 e 1994 disponibilizados pelo IPUF.

Para desenvolver o questionamento sobre as implicações decorrentes da implantação das propostas estudadas, se fez necessário, em um primeiro momento, aprofundar nos conceitos relacionados à urbanidade com vistas a permitir a utilização destes parâmetros nas análises que foram desenvolvidos no Setor Leste. Para isso, a base conceitual de urbanidade utilizada nesta pesquisa provém da literatura que relaciona a vitalidade urbana com as qualidades físicas e formais que o configuram, referenciadas pelos autores Solà-Morales (2008), Aguiar (2012), Figueiredo (2012), Jacobs (2014) e Gehl (2013). Ao passo disso, o embasamento teórico buscou em Lynch (1999) e Netto (2012) um oportuno entendimento sobre que elementos urbanos que estruturam a imagem de cidade. A reunião destes conceitos de urbanidade foi fundamental para a análise da atual dinâmica físico-espacial da área em estudo, sobretudo no sentido de sintetizar os atributos de identificação do lugar que contribuem na construção da imagem do Setor Leste.

Para Gehl (2013) no planejamento áreas urbanas existentes, um ponto de partida óbvio é estudar a vida na cidade como de fato é e, então, utilizar essa informação para elaborar planos sobre como e onde reforçá-la. Para o autor, “é uma forma simples e econômica de se obter

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15 uma visão relativamente precisa de como os espaços funcionam e de quais atividades ocorrem neles (Gehl 2013, p. 209).

De acordo com a base teórico-conceitual, foram desenvolvidos os estudos dos aspectos qualitativos da estrutura morfológica, física, econômica e funcional do Setor Leste identificando os atributos constitutivos de urbanidade e da paisagem urbana da área. Utilizando como método a análise morfológica e a leitura espacial, os dados levantados foram sintetizados em mapas de representação da forma urbana, da ocupação do solo, da volumetria, das edificações e/ou áreas de valor histórico, dos usos, das atividades e respectivos horários de funcionamento, da hierarquia e perfil das vias e da situação atual das edificações - classificadas em edificações ocupadas, ociosas, subutilizadas e desocupadas.

Os dados foram obtidos de duas maneiras: visitas in loco, realizadas entre os meses de julho de 2017 a março de 2018, em distintos horários e dias da semana, inclusive aos sábados durante a realização do Projeto Viva a Cidade, e a partir de pesquisa documental em teses, dissertações, entrevistas, sites, mapas cartográficos e arquivos municipais, em especial, na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SMDU), Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) e a Casa da Memória.

Primeiramente, foram estudados os atributos que influenciam na diversidade urbana. Além das observações empíricas no local, a leitura espacial ocorreu a partir de levantamentos fotográficos buscando destacar a constituição da massa edificada que contribui para a relação entre as edificações e o espaço público. Embora se admita uma grande variedade de elementos presentes no espaço urbano edificado possível de serem analisados, a leitura focou prioritariamente na interação da edificação com o espaço público na zona de transição.

Interessante ressaltar que a apresentação exclusiva de dados quantitativos, resultantes dos estudos anteriores, poderia levar a generalizações que não resultariam numa compreensão plena das urbanidades presentes no Setor Leste como geradoras de vitalidade urbana. Nesse sentido, a avaliação buscou, por meio do conceito de imageabilidade defendido por Lynch (1999), uma leitura qualitativa mais aprofundada do Setor Leste que incluía, além da descrição empírica do lugar, a percepção de usuários a respeito do local.

Para comprovar a hipótese de imageabilidade, ou seja, identificar a percepção do papel da imagem do meio ambiente na vida dos cidadãos, Lynch (1999) realizou uma série de observações in loco e

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16 entrevistas com citadinos presentes nas áreas centrais das três cidades norte americanas utilizadas em sua pesquisa5. Com objetivo de obter uma ideia aproximada, ainda que imperfeita, da imagem pública destas três cidades para, posteriormente, compará-las com as descobertas obtidas nas observações dos entrevistados, Lynch (1999) propôs duas estratégias: o reconhecimento da área para mapeamento dos principais elementos, sua visibilidade, a força e fragilidade de sua imagem, suas conexões, desconexões e outras inter-relações, registrando vantagens ou dificuldades da estrutura. E, em um segundo momento, por meio de entrevistas com habitantes locais, foram solicitadas descrições, identificações de lugares, desenhos e passeios imaginários com vistas evocar as suas próprias imagens da cidade.

A apropriação parcial da metodologia Lynch (1999) justifica-se no sentido de elucidar uma visão empírica do Setor Leste, a partir da descrição de lugares e atividades cotidianas da área, em paralelo, com as características físicas e formais que contribuem para a construção da imagem local. Assim como Lynch (1999) a construção dessa imagem de cidade foi consubstanciada pelos resultados obtidos nas entrevistas realizadas no projeto de pesquisa6 supervisionado pelo Laboratório de Urbanismo (LabUrb) e pelo Ateliê Modelo de Arquitetura (AMA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2016. Ainda que as entrevistas não tenham adotado as mesmas estratégias metodológicas de Lynch (1999), a importância de analisar os resultados justifica-se uma vez que a avaliação qualitativa do espaço foi realizada com frequentadores da área, e teve como objetivo compreender o espaço e entender as características locais que atraem ou repelem os usuários. As entrevistas foram realizadas em três períodos distintos durante seis dias, entre os meses de setembro e outubro de 2016, com 51 homens e 49 mulheres, perfazendo um total de 100 entrevistados. Composta por 14 perguntas (ANEXO A), cinco destinadas à caracterização do usuário e as demais com o intuito de compreender, dentre outros objetivos, os sentimentos que a área de estudo despertava nos frequentadores, assim como questionar a própria sensação de pertencimento à cidade. Os resultados destas entrevistas foram apresentados em gráficos ao longo das análises desenvolvidas.

Ao final deste capítulo, um conjunto de fotografias fundamentadas nos cinco elementos presentes nas cidades que, segundo

5

Boston; Jersey City e Los Angeles. 6

Projeto de Extensão Valorização cultural e urbana do Instituto Arco Íris (Protocolo UFSC: 2015.8055), sob coordenação da Profa. Dra. Soraya Nór.

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17 Lynch (1999), possuem maior influência na percepção do indivíduo – vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos e um mapa conceitual, baseado nos esboços diagramáticos de Lynch (1999), sintetizam a interpretação dos atributos físico-formais analisados, os dados empíricos obtidos em campo e os resultados das entrevistas realizadas pela pesquisa da UFSC LabUrb (2016).

Por fim, foram apresentadas as duas propostas urbanísticas voltadas à revitalização do Setor Leste, a saber, o Projeto Viva a Cidade e Projeto Centro Sapiens, no sentido de esclarecer os aspectos relevantes da concepção e das linhas de atuação de ambos os projetos.

Foi utilizada como instrumento metodológico a pesquisa documental em sites de divulgação de ambas as propostas de revitalização, bem como a investigação em periódicos, em especial, jornais em circulação na cidade que costumeiramente vêm abordando as ações destes projetos. Foi realizada a caracterização das propostas, contextualizando as ações em curso e os principais aspectos presentes nos discursos que as apresentam, com vistas a embasar as reflexões acerca de suas implicações sobre o espaço urbano do Setor Leste. Esta apresentação é importante para situar as propostas de revitalização no contexto das abordagens teórico-conceituais e nas leituras da dinâmica físico-espacial desenvolvidas nos capítulos seguintes.

Esta apresentação é acompanhada de discussões dos resultados obtidos com os procedimentos metodológicos anteriores, sintetizadas e analisadas buscando compreender dois momentos do processo de revitalização da área central da cidade: uma abordagem voltada às implicações já em curso sobre o espaço urbano, sobretudo aquelas em andamento pelo projeto Viva a Cidade (embora também haja considerações acerca de algumas ações do Projeto Centro Sapiens) e outra abordagem voltada ao que está supostamente presente no discurso sobre os projetos.

Nesse sentido, como aporte teórico às reflexões foram contextualizados alguns aspectos da elaboração, instrumentos e diretrizes urbanísticas do atual Plano Diretor de 2014 as quais são pertinentes para complementar a leitura de algumas linhas de atuação do Projeto Centro Sapiens. As análises e estudos hipotéticos foram embasados em dados levantados junto a SMDU, e também a partir do entendimento acerca da influência dos planos urbanos vigentes entre as décadas de 50 até o século XXI na evolução urbana de Florianópolis consubstanciando argumentos que demonstram transformações espaciais (já em curso) e de construção de uma nova imagem para o Setor Leste.

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18 1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO

Esta pesquisa foi organizada em três etapas distintas: (1) abordagem teórico-conceitual; (2) estudo de evolução urbana do núcleo fundador da cidade de Florianópolis; (3) levantamento da dinâmica urbana físico-espacial da área estudada, Setor Leste, distribuídos conforme ordem de capítulos a seguir:

Capítulo 1 – INTRODUÇÃO: este capítulo apresenta a introdução, justificativa, os objetivos, a metodologia aplicada, assim como apresenta as duas propostas urbanísticas de revitalização da área central de Florianópolis – Projeto Viva a Cidade e o Projeto Centro Sapiens.

Capítulo 2 – REVITALIZAÇÃO DE CENTROS URBANOS: O QUE DE FATO ESTÁ EM JOGO?: aborda os temas relacionados às concepções e críticas acerca do planejamento estratégico e das politicas de marketing urbano e uma abordagem teórico-conceitual sobre urbanidade.

Capítulo 3 – O CENTRO FUNDADOR DE

FLORIANÓPOLIS: apresenta o processo evolução urbana do centro de Florianópolis no sentindo de compreender a formação da morfologia e a paisagem local.

Capítulo 4 – A IMAGEM DO SETOR LESTE: apresenta estudos dos aspectos quanti-qualitativos da estrutura morfológica, física, econômica e funcional do Setor Leste com vistas a identificar os atributos constitutivos de urbanidade e da paisagem urbana da área.

Capítulo 5 – SETOR LESTE: ENTRE O HOJE E AMANHÃ: apresenta os resultados obtidos com as pesquisas das etapas anteriores e reflexões acerca das transformações urbanas em curso e subjacentes no discurso.

Capítulo 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS: traz as conclusões da pesquisa e as perspectivas de estudos que possam ser explorados a partir deste trabalho.

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19

2 REVITALIZAÇÃO DE CENTROS URBANOS: O QUE

DE FATO ESTÁ EM JOGO?

Quando se trata de revitalização em centros urbanos, a intervenção nestes lugares aponta para uma relação complexa entre Estado e o espaço, em ações que costumam gerar muitas contradições.

Conduzidos pelo poder público municipal em parceria com a iniciativa privada os processos de revitalização urbana implementados no final do século XX na Europa e nos Estados Unidos e, mais tarde na América Latina, vêm apresentando similaridades conceituais no modelo de planejamento adotado independente das peculiaridades territoriais, políticas e socioeconômicas específicas de cada centro urbano. O modelo em questão recebeu a denominação de planejamento estratégico, e desde então, suas características, ferramentas e os efeitos sobre as cidades, são alvos de estudos e críticas por parte de pesquisadores e pensadores urbanos.

Diante da multiplicidade de aspectos político-ideológicos e socioeconômicos por trás das experiências urbanas praticadas neste período, se faz necessário uma breve abordagem das origens destas políticas de planejamento no cenário nacional e internacional e dos desdobramentos destas intervenções nos centros urbanos revitalizados a partir dessas premissas. Esta análise pode contribuir para verificar se há alguma aproximação conceitual com os objetivos previstos nas propostas urbanísticas de revitalização para o Setor Leste, consubstanciando reflexões sobre as implicações destas propostas na vida urbana desta porção da área central da cidade de Florianópolis. 2.1. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: CONCEPÇÕES E CRÍTICAS

Nos anos 50, com a crise do movimento moderno, inúmeras correntes se desenvolveram para pensar arquitetura e o urbanismo e, aquelas voltadas à pesquisa dos elementos históricos e tipológicos na arquitetura da cidade pré-moderna foram as que mais se consolidaram na prática urbana. Gradativamente, a noção de preservação patrimonial e material, e posteriormente, imaterial, se tornou uma prática comum entre as cidades europeias.

Acompanhando o crescimento econômico do setor turístico nas cidades, a partir dos anos 70, o culto ao monumento histórico, antes restrito à admiração de poucos instruídos, se tornou um produto de

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20 consumo em massa. A perda do papel da cidade na produção industrial e, mais tarde a sua transformação em centros de serviços e negócios, estreitaram a relação entre turismo e preservação do patrimônio histórico tornando-os um importante instrumento de gestão para as cidades que buscavam a recuperação da vitalidade de seus bairros e centros urbanos diante da crise urbana que se deflagrava (MOREIRA, 2005).

O surgimento de novas experiências urbanas, geralmente, associados à conceitos de “valorização”, “requalificação”, “regeneração”, “reabilitação” ou “revitalização” resultaram, segundo Arantes et. al. (2002) na gestão urbana em atendimento à lógica de uma política de localização e do mercado, segundo critérios econômicos no contexto de competição entre as cidades.

A rejeição às limitações do planejamento urbano tradicional, o reconhecimento das mudanças das cada vez mais aceleradas das cidades e a consolidação do pensamento neoliberal abriram caminhos para o poder público e o capital privado se tornarem grandes parceiros. As preocupações como a geração de emprego e renda, agora sob responsabilidade das cidades, justificaram as alianças com a iniciativa privada, principalmente com os empreendedores imobiliários, na tentativa de recuperar a base econômica ou mesmo reconstruir ou reinventar o ambiente construído (VARGAS; CASTILHO, 2009 p.33).

Neste cenário, o capital imobiliário, ofertando ou induzindo localizações privilegiadas, e o poder público local capitaneando os investimentos introduziram as bases do planejamento voltado ao mercado. Definitivamente, “a cidade passou a ser pensada como um empreendimento a ser gerenciado, mediante a adoção de princípios do planejamento estratégico e o uso de seu mais eficiente instrumento: o marketing urbano (VARGAS; CASTILHO, 2009, p.34).

Entre as décadas de 50 e 60, as cidades americanas de Baltimore e Boston foram as primeiras a experimentar intervenções de revitalização nas áreas portuárias subutilizadas ou em processo de abandono utilizando um modelo de gestão com base nos conceitos de planejamento estratégico. Na década de 80, foi a vez de Londres inaugurar na Europa a adoção de um planejamento semelhante no projeto urbano de revitalização das antigas docas no distrito de Docklands. Estas cidades acabaram estabelecendo procedimentos de planejamento urbano que se tornariam modelos para as outras, demonstrando o alcance dos mecanismos de globalização não só da

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21 economia, mas também do pensamento contemporâneo (GUERRA, 2005).

Segundo os defensores deste modelo, as cidades deveriam adotar o planejamento estratégico “em razão de estarem submetidas às mesmas condições e desafios que as empresas” (ARANTES et.al., 2002, p.76). Essa mudança na postura e no modo de planejar a cidade condicionou administradores municipais de diversas cidades mundo afora a adotarem este discurso, no sentido de estabelecer um planejamento urbano que justificasse a retomada de investimentos em centro urbanos degradados ou desprestigiados.

As concepções formuladas pelos sociólogos espanhóis Jordi Borja e Manuel Castells (1996), pioneiros na sistematização teórica do planejamento estratégico que introduziram a realidade empresarial para as cidades, foram fundamentais para a inserção de Barcelona na lógica de competição entre as cidades. A base conceitual defendida por estes autores, auxilia na compreensão das propostas urbanísticas para a área central de Florianópolis, especialmente, no que diz respeito à participação do poder público local neste processo.

Para Borja e Castells (1996) neste modelo de gestão urbana se faz necessário a associação de diversos atores urbanos públicos e privados em prol da construção das bases de uma cidade competitiva, ao que eles denominam de “Projeto do Futuro”. Para tanto o poder público municipal precisa investir em cinco distintos objetivos: nova base econômica, infraestrutura urbana, qualidade de vida, integração social e governabilidade:

Somente gerando uma capacidade de resposta a estes propósitos poderão, por um lado, ser competitivas para o exterior e inserir-se nos espaços econômicos globais, por outro, dar garantias a sua população de um mínimo de bem-estar para que a convivência democrática possa se consolidar (BORJA; CASTELLS, 1996, p.155). No discurso dos autores, para as cidades saírem da situação de crise urbana, o poder público local precisaria agir como um ator político e econômico, promovendo a iniciativa de autopromoção da cidade no exterior, e garantindo no interior, a aplicação de ações focadas em melhorar a qualidade dos espaços públicos por meio de obras e serviços, monumentais ou não, visando promover um sentimento de pertencimento cívico em seus habitantes e confiança na condução da

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22 gestão, na mesma medida que combate a sensação de crise (BORJA; CASTELLS, 1996,).

Liderada por Jordi Borja, Barcelona tornou-se o exemplo mais emblemático desse tipo de planejamento, e acabou por divulgar esta prática nas Olimpíadas de 1992. As melhorias dos espaços públicos e a construção de equipamentos intrabairros no porto e na área destinado aos jogos agiram como elementos catalisadores do processo de reestruturação urbanística da cidade. A base das intervenções constituiu-se por meio de combinação de diversas ações, como o acesso aos serviços públicos, infraestrutura viária integrando espaços urbanos qualificados e a ênfase nas atividades terciárias e nos espaços públicos (VARGAS; CASTILHO, 2009, p.38).

O planejamento estratégico acabou influenciando o desenvolvimento de planos urbanos de diversas cidades na Europa, como Bilbao, Londres, Berlim, nos Estados Unidos, nas cidades de Nova York e São Francisco. Na América Latina, cidades como Buenos Aires, Bogotá, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras também seguiram linhas semelhantes de gestão urbana.

Com base no modelo catalão, a cidade do Rio de Janeiro foi a primeira a adotar este tipo de gestão urbana no Brasil, a partir da década de 90, e atingiu o seu auge de visibilidade com os investimentos em obras e infraestrutura para realização da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos 2016. A obra mais emblemática ocorreu na antiga área portuária da cidade, no Projeto Porto Maravilha, com a construção do Museu Guggenhein, uma marca registrada da espetacularização arquitetônica incentivada por este modelo de planejamento.

Um exemplo recente de intervenção urbana com vocações mais modestas que as do Rio de Janeiro, mas bastante similar às propostas de revitalização apresentadas para Florianópolis, podem ser encontradas na Rua Riachuelo, em Curitiba. Considerada a primeira rua da cidade, a via apresentava uma identidade fortemente associada aos brechós e lojas de móveis antigos e usados administrados por comerciantes locais e frequentados por uma população bastante diversificada. Em 2008, a prefeitura da cidade lançou o projeto Novo Centro, com objetivo de restaurar monumentos do centro histórico e investir em melhorias na infraestrutura de vias locais. Dentre os parceiros envolvidos a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio PR) foi o que exerceu maior influência sendo responsável pela elaboração de um diagnóstico da área, que serviu de base para o projeto com enfoque no desenvolvimento econômico.

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23 Dentre as intervenções realizadas, o Paço Municipal foi restaurado e fachadas históricas receberam nova pintura, justificada pela intenção de resgatar o valor do patrimônio. Melhorias em calçadas, iluminação pública, câmeras de segurança e obras de infraestrutura completaram o rol dos investimentos.

Comerciantes locais receberam consultorias e treinamentos para melhorar a gestão empresarial de seus negócios e torná-los mais competitivos. Em pouco tempo as intervenções receberam enfoque midiático nos principais jornais de circulação da cidade, difundindo o slogan de viés comercial do projeto: “o projeto pretende revitalizar o deteriorado comércio da região histórica de Curitiba” (GAZETA DO PONTO, 2009, apud CRESTANI, 2014, p. 53).

Aliás, a própria cobertura da imprensa demonstrou que as linhas de atuação do projeto iriam além das melhorias e restauro das edificações históricas, evidenciando processos mais profundos de reconfiguração socioespacial e da microeconomia local. Para Crestani (2014, p. 54), o registro midiático e as declarações presentes nas reportagens auxiliaram no esclarecimento de como o viés econômico permeou a operacionalização da proposta, assim como, associou a Rua Riachuelo a um produto de marketing urbano. Além disso, as reportagens promoveram perante a população uma perspectiva direcionada ao objetivo-fim dos atores privados envolvidos no processo de enobrecimento da rua, desconstruindo o sentido simbólico e histórico, tornando o patrimônio um segmento de mercado.

Em paralelo, a prefeitura de Curitiba, por meio de programas e políticas de uso do solo, propiciou ambiente altamente favorável à expansão do capital imobiliário ao alterar padrões de ocupação da área histórica, permitindo a construção de grandes torres habitacionais. Nesse sentido, não apenas o mercado se interessa na alteração do perfil da via, como o próprio poder púbico, visando “domesticar “e “moralizar” a área (LUCKMAN, ROMAGNOLLI, 2009 apud CRESTANI, 2014).

O perfil populacional também foi alvo das investidas, e para auxiliar na renovação social, o projeto previu investimentos na inserção de novas atividades, como bistrôs, cafés e restaurantes com vistas a incentivar o turismo no local. A expectativa de novos investimentos trouxe consigo o aumento nos aluguéis e no valor imobiliário das propriedades. Para Crestani (2014, p.55) a “maquilagem estratégica” do

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24 caso curitibano traz evidências de gentrificação7 em construção e a busca em disciplinar o uso do espaço público.

As contradições do planejamento estratégico geraram inúmeras críticas ao modelo. Entre os principais críticos do planejamento estratégico, Otília Arantes (2002) destaca que a inserção de um valor de uso civilizatório busca valorizar o que ela denomina de “culturalismo de mercado”, engendrado já no idos de 1960 com a globalização do consumo:

[...] o planejamento estratégico é antes de tudo um empreendimento de comunicação e promoção, compreende-se que tal âncora identitária recaia de preferência na grande quermesse da chamada animação cultural. Inútil frisar nesta altura do debate - quase um lugar comum- que o que está assim em promoção é um produto inédito, a saber, a própria cidade, que não se vende, como disse, se não se fizer acompanhar por uma adequada política de image-making (ARANTES, et.al, 2002, p.16-17).

Nesta mesma linha crítica, Carlos Vainer et.al. (2002), faz uso de três analogias para explicar a leitura da cidade sob a ótica dos defensores do planejamento estratégico empresarial: a cidade é vista como uma mercadoria - deveria ser dotada de atributos e embelezamento para potencializar o seu maior instrumento de venda, o marketing urbano; a cidade é vista como uma empresa – deveria assumir o papel ativo de sujeito/ator econômico, e incorporar métodos similares de gestão e de negócio; e a cidade é vista como uma pátria – precisaria criar um consenso de patriotismo cívico capaz de unificar os cidadãos em torno do projeto.

Para Vainer et.al. (2002), a instauração de um planejamento urbano com subordinação do poder público aos interesses do mercado, sujeitos às exigências do capital internacional “conduz à destruição da cidade como espaço da política, como lugar de construção da cidadania” (VAINER, et.al., 2002, p.98).

Nesse sentido também são as colocações de Silva (2012, p.285) ao destacar os efeitos percebidos nas cidades latinas que implementaram este modelo. Para o autor as principais críticas concentram-se nas

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“Gentrificação é um termo inglês para a elitização de determinada área, apropriada dentro da lógica da indústria cultura desenvolvida ao longo do século XX, de associação entre cultura e comércio” (MOREIRA, 2005, p.60).

Referências

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