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Análise das traduções dos contos "Os desastres de Sofia", "Tentação" e "A legião estrangeira" de Clarice Lispector para o espanhol

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Academic year: 2021

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Rosangela Fernandes Eleutério

ANÁLISE DAS TRADUÇÕES DOS CONTOS “OS DESASTRES DE SOFIA”, “TENTAÇÃO” E “A LEGIÃO ESTRANGEIRA” DE

CLARICE LISPECTOR PARA O ESPANHOL

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de mestrado em Estudos da Tradução. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Meritxell Hernando Marsal

Florianópolis 2018

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Rosangela Fernandes Eleutério

ANÁLISE DAS TRADUÇÕES DOS CONTOS “OS DESASTRESDE SOFIA”, “TENTAÇÃO” E “A LEGIÃO ESTRANGEIRA” DE

CLARICE LISPECTOR PARA O ESPANHOL

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de “Mestra” e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução na Universidade Federal de Santa

Catarina

Florianópolis, 09 de julho de 2018.

___________________________________ Prof.ª Dr.ª Dirce Waltrick do Amarante

Coordenadora do Curso

___________________________________ Prof.ª Dr.ª Meritxell Hernando Marsal Orientadora – Universidade Federal de Santa Catarina

Banca Examinadora:

___________________________________ Prof.ª Dr.ª Andrea Cesco

Universidade Federal de Santa Catarina ___________________________________

Prof.ª Dr. ª Karine Simoni Universidade Federal de Santa Catarina ___________________________________

Tânia Regina de Oliveira Ramos Universidade Federal de Santa Catarina

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Este trabalho é dedicado às minhas amigas Ana Carolina Rodrigues Herrera e Luciana Raimundo por terem me ensinado nessa vida a tornar possível aquilo que ainda está no campo das ideias.

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AGRADECIMENTOS

À Meritxell Hernando Marsal, minha orientadora, que desde a graduação contribui com minhas pesquisas, leituras e formação acadêmica com paciência e carinho. A ela por estar sempre me apoiando e me guiando através de suas incansáveis leituras e aconselhamentos. Minha gratidão por minha orientadora seguirá por toda minha vida.

À Dirce Waltrick do Amarante, Karine Simoni e Andrea Cesco por estarem presentes em minha banca de qualificação, lerem a pesquisa e contribuírem com instruções preciosas para a realização deste trabalho.

Às minhas amigas Marina Boll e Marina Giosa que tantas vezes colocaram seus próprios problemas de lado para ouvirem pacientes minhas dúvidas e atribulações emocionais. Agradeço a elas por acreditarem em mim mesmo (principalmente) quando eu mesma duvidei.

Às professoras e amigas Carolina Parrini e Leandra Cristina de Oliveira por generosamente compartilharem comigo suas próprias trajetórias acadêmicas e me mostrando que os melhores resultados vêm depois de muita dedicação e esforço.

Ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução por oferecer sempre oportunidades de cursar ótimas disciplinas com excelentes professores, por ter eventos enriquecedores e um excelente espaço de crescimento intelectual e desenvolvimento acadêmico.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por financiar essa pesquisa desde o início ao fim, me proporcionando estabilidade e segurança para desenvolver uma pesquisa de qualidade.

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RESUMO

Esta dissertação apresenta uma análise das traduções de três contos (“Os desastres de Sofia”, “Tentação” e “A legião estrangeira”) de Clarice Lispector para a língua espanhola, publicados no livro A legião estrangeira em 1964. A obra foi traduzida pela primeira vez em 1971 em Caracas, Venezuela, pela Editora Monte Ávila, posteriormente foi reeditada em 2001 sob o título Cuentos Reunidos pela Editora Alfaguara no México, asua segunda edição foi lançada em Madrid, Espanha, pela mesma editora em 2002. Em 2008, o mesmo livro foi lançado pela editora Siruela com um novo formato, capa e publicidade. Em 2011 foi lançada a tradução argentina sob o título La legión extranjera, em Buenos Aires pela Editora Corregidor. Os tradutores dessa edição são os argentinos Juan García Gayó e Paloma Vidal. Embora o objeto da pesquisa sejam quatro livros diferentes, temos apenas duas traduções (1971 e 2001). Este trabalho visa analisar as duas traduções para evidenciar como o particular estilo da autora é traduzido para o espanhol. Para isso, serão analisados seis fatores que se entendem como conformadores da escrita clariceana: infância; olhar feminino; animalidade; metamorfose; metáforas e paradoxos adjetivações; repetições e expressões linguísticas. Além disso, se analisará as escolhas a que esses seis fatores dão lugar. os tradutores trabalharão nas entrelinhas dos contos, no espaço onde colocarão suas interpretações e inferências que darão novas formas à reescrita dos contos. Para pensar as estratégias extratextuais da tradução, essa pesquisa está apoiada na teoria funcionalista de Christiane Nord (2016) e para a reflexão intratextual das traduções, apoia-se ainda na teoria de André Lefevere (2007) que defende que toda tradução é um processo de reescrita que resulta em uma nova obra sempre que relida, interpretada e traduzida por um novo (a) tradutor(a).

Palavras chave: Clarice Lispector. A legião estrangeira. Tradução Literária. Literatura Brasileira em Língua Espanhola.

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ABSTRACT

This master's thesis presents the analysis of three short stories published in the book "A legião estrangeira" in 1964. These stories (“Os desastres de Sofia”, “Tentação” and “A legião estrangeira”) were written by Clarice Lispector and they were translated from Portuguese to Spanish. The book “A legião estrangeira” was translated for the first time in 1971 by Editora Monte Ávila in Caracas, Venezuela. However, it was only reprinted in 2001 under the title “Cuentos Reunidos” by Editora Alfaguara in Mexico and the second edition of it was released in Madrid, Spain by the same publisher in 2002. The same book, “Cuentos Reunidos” was released in 2008 by Siruela with a new configuration on its format, cover and advertising. Although the objective of the research is to analyze four different books, there are only two translations (1971 and 2001). The second translation was translated by two Argentinean Juan Garcia Gayo and Paloma Vidal and was released in 2011 under the title “La legión extranjera” in Buenos Aires by Editora Corregidor. Furthermore, this thesis will analyze the two translations focusing on how the author's particular style was translated as well as the translators’choices. So, six determining factors will be part of the study, including: childhood, feminine view, animality, metamorphosis, metaphors and paradoxes, adjectives, repetitions and idiomatic expressions. Especially, because it is beneath the tales surface where the translators work, putting their interpretations and inferences where it comes to translate stories and give a new format for it. So, the functionalist theory developed by Christianne Nord (2016) will be used in order to describe the extratextual factors in translated texts and André Lefevere's (2007) theory will be used to explain the intratextual factors in translated texts because it supports the idea that all the translation is a rewriting process. In addition to it, each translation is a new work every time it is read, interpreted and translated by a new translator.

Keywords: Clarice Lispector. A legião estrangeira. Literary translation. Brazilian Literature in Spanish Language.

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RESUMEN

En esta disertación se presenta un análisis de las traducciones a la lengua española de tres cuentos de Clarice Lispector (“Os desastres de Sofia”, “Tentação” e “A legião estrangeira”) publicados en el libro A legião estrangeira em 1964. La obra fue traducida por primera vez en 1971 en Caracas, Venezuela, por la Editorial Monte Ávila y reeditado en 2001 bajo el título Cuentos Reunidos por la Editorial Alfaguara en México, y recibió la segunda edición en Madrid, España, por la misma editorial en 2002. En 2008 el libro fue publicado por la Editorial Siruela en una nueva configuración de formatos, capa y publicidad. En 2011 fue lanzada la traducción argentina bajo el título La legión extranjera, en Buenos Aires por la Editorial Corregidor. Los traductores son los argentinos Juan García Gayó y Paloma Vidal. Aunque el objeto de la investigación sean cuatro libros distintos, contamos solamente con dos traducciones (1971 e 2001). En este trabajo se van a analizar las dos traducciones para evidenciar como el particular estilo de la autora es traducido al español. Para eso, serán analizados seis factores que se entienden como conformadores de la escritura clariceana (infancia, la mirada femenina, la animalidad, metamorfosis y paradojas, adjetivaciones y repeticiones y expresiones idiomáticas) y las elecciones a que dan lugar. El espacio entre las entrelíneas es el lugar donde los traductores van a trabajar, donde van a poner sus interpretaciones e inferencias que han de dar nuevas formas a la reescritura de los cuentos. Para pensar las estrategias extratextuales de la traducción, esa investigación está apoyada en la teoría funcionalista de Christianne Nord (2016), y para reflexión intratextual de las traducciones se apoya en la teoría de Andre Lefevere (2007), que defiende que toda traducción es un proceso de reescritura, que resulta en una nueva obra siempre que releída, interpretada y traducida por un nuevo (a) traductor (a).

Palabras clave: Clarice Lispector. La legión extranjera. Traducción literaria. Literatura brasileña en lengua española.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Capa e contracapa ... 123

Figura 2: Capa e contracapa ... 124

Figura 3: Capa e contracapa ... 129

Figura 4: Capa ... 132

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 ... 40 Quadro 2 ... 40 Quadro 3 ... 42 Quadro 4 ... 141 Quadro 5 ... 142 Quadro 6 ... 143 Quadro 7 ... 145 Quadro 8 ... 147 Quadro 9 ... 148 Quadro 10 ... 150 Quadro 11 ... 152 Quadro 12 ... 153 Quadro 13 ... 155 Quadro 14 ... 158 Quadro 15 ... 160 Quadro 16 ... 163 Quadro 17 ... 165 Quadro 18 ... 167 Quadro 19 ... 170 Quadro 20 ... 171 Quadro 21 ... 174 Quadro 22 ... 176 Quadro 23 ... 176 Quadro 24 ... 177 Quadro 25 ... 179 Quadro 26 ... 180 Quadro 27 ... 180 Quadro 28 ... 181 Quadro 29 ... 182 Quadro 30 ... 183 Quadro 31 ... 184 Quadro 32 ... 185 Quadro 33 ... 186 Quadro 34 ... 186 Quadro 35 ... 187

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 27

1 CLARICE LISPECTOR, OBRAS E SUAS TRADUÇÕES PARA A AMÉRICA LATINA E A ESPANHA ... 31

1.1 CLARICE LISPECTOR TRADUZIDA E TRADUTORA .. 34

1.2 AS TRADUÇÕES DAS OBRAS DE CLARICE LISPECTOR PARA “O MUNDO” ... 39

1.3 AS TRADUÇÕES DAS OBRAS DE CLARICE LISPECTOR PARA A AMÉRICA LATINA E ESPANHA ... 41

1.4 A DIFUSÃO DA LITERATURA BRASILEIRA NOS PAÍSES HISPÂNICOS ... 52

1.5 AS EDITORAS E AGÊNCIAS LITERÁRIAS COMO SISTEMAS FUNDAMENTAIS PARA A DIFUSÃO LITERÁRIA DAS OBRAS DE CLARICE LISPECTOR EM PAÍSES DE LÍNGUA ESPANHOLA ... 61

1.6 A LITERATURA CONTEMPORÂNEA COMO HERANÇA: POR QUE E COMO TRADUZI-LA? ... 66

2 AS FORMAS LITERÁRIAS DE CLARICE LISPECTOR E OS DESAFIOS PARA A TRADUÇÃO ... 75

2.1 A ESCRITA FEMININA COMO DESEJO DE ESCRITURA: PERSPECTIVAS DE VIRGINIA WOOLF, J.M. COETZEE, JULIA KRISTEVA E HÉLÈNE CIXOUS ... 76

2.2 CONSIDERAÇÕES DE TRADUTORES SOBRE A EXPERIÊNCIA DE TRADUZIR CLARICE LISPECTOR ... 85

2.3 A OBRA A LEGIÃO ESTRANGEIRA (1964) ... 93

2.4 ELEMENTOS DA LITERATURA CLARICEANA A SEREM ANALISADOS NAS TRADUÇÕES ... 96

2.4.1 A tradução da infância por Clarice Lispector ... 99

2.4.2 O olhar feminino ... 101

2.4.3 A animalidade ... 105

2.4.4 As metamorfoses ... 110

2.4.5 As figuras de linguagem: metáforas e paradoxos ... 113

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2.4.7 Expressões linguísticas ... 116 2.5 ANÁLISE DAS TRADUÇÕES ... 117

3 ANÁLISE DAS TRADUÇÕES DOS CONTOS: OS ECOS

DE CLARICE LISPECTOR NA VOZ DOS TRADUTORES ... 119 3.1 OS FATORES EXTRATEXTUAIS DA ANÁLISE ... 120 3.1.1 Edição Monte Ávila Editores: Caracas, Venezuela. Tradução de Juan García Gayó, 1971 ... 122 3.1.2 Edição Alfaguara: México, 2001, Espanha (2002). Tradução de Juan García Gayó ... 124 3.1.3 Edição por Ediciones Siruela: Madrid, Espanha. Tradução de Juan García Gayó, 2008 ... 129 3.1.4 Edição por Editora Corregidor: Buenos Aires, Argentina. Tradução de Paloma Vidal, 2011 ... 133 3.1.5 As edições traduzidas dos livros e os contextos nos quais foram publicadas ... 136 3.1.6 Exemplos sobre as diferenças entre as traduções: Panorama geral ... 140 3.2 OS FATORES INTRATEXTUAIS DA ANÁLISE: ANÁLISE DAS TRADUÇÕES “OS DESASTRES DE SOFIA”; “TENTAÇÃO”; “A LEGIÃO ESTRANGEIRA” ... 143 3.2.1 A tradução da infância ou a perspectiva infantil das personagens ... 144 3.2.2 O olhar feminino ... 149 3.2.3 A Animalidade... 157 3.2.4 As Metamorfoses ... 164 3.3 AS FIGURAS DE LINGUAGEM, ADJETIVAÇÕES, REPETIÇÕES, EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS E POPULARES: O “NOVELO” CLARICEANO E ALGUMAS REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS RECORRENTES NOS CONTOS ... 173 3.3.1 Adjetivações ... 174 3.3.2 Repetições ... 178 3.3.3 Expressões linguísticas ... 181 3.3.4 As metáforas e paradoxos ... 185

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3.4 REFLEXÕES SOBRE AS ANÁLISES ... 188 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 191 REFERÊNCIAS ... 195

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação é uma pesquisa sobre as traduções de três contos de Clarice Lispector para a língua espanhola. Esses contos fazem parte do livro A legião1 estrangeira, publicado pela primeira vez em 1964 pela Editora do Autor. Os contos escolhidos para análise foram: “Os desastres de Sofia”, “Tentação” e “A legião estrangeira”. O motivo da escolha desses contos entre os treze que compõem a obra são as protagonistas, todas meninas entre oito a dez anos, “dura idade como o talo não quebrado de uma begônia” (LISPECTOR, 1999, p. 11). A motivação pessoal para a escolha dessas personagens é por acreditar ser na infância o período onde as emoções e impressões do mundo são mais intensas. As três personagens infantis que serão analisadas experimentam emoções totalmente novas a elas e que moldarão (ou não) o futuro de suas personalidades na idade adulta.

Nas narrativas, todas escritas sob a perspectiva das lembranças infantis das personagens, a narradora revisita um espaço da própria infância ou da infância de outrem e a analisa essas recordações com um olhar microscópico. A proposta da pesquisa é analisar como esses contos foram traduzidos para o espanhol, tanto em suas formas paratextuais, que visam à divulgação da obra clariceana para o público hispano falante quanto às traduções dos contos em si, ou seja, as escolhas dos tradutores, as soluções encontradas, as discrepâncias entre uma tradução e outra. Mais que apontar as diferenças deve-se refletir em como e por que elas acontecem.

Para atingir as proposições acima, é realizada uma pesquisa que começa no capítulo 1, com um estudo sobre a escrita e estilo literário de Clarice Lispector, sua importância para a literatura brasileira, sua profissão como tradutora e as reflexões que ela fez das obras que traduziu e das traduções que fizeram de suas obras. Se fará ainda um breve levantamento de algumas traduções que foram feitas de seus livros em línguas e culturas distantes do português brasileiro para seguir um levantamento em ordem cronológica sobre as traduções realizadas para o espanhol, desde as primeiras traduções realizadas no fim da década de sessenta até os dias atuais. Com esses dados é possível observar desde o início da pesquisa que o interesse das editoras e pelo público hispânico pela a autora brasileira foi contínua e crescente ao passar dos anos. Realizou-se também uma breve contextualização do momento literário

1 Multidão [figurado]. Em Clarice Lispector o termo faz referência aos muitos “seres” que habitam dentro de uma única pessoa.

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em que a obra de Lispector é publicada para perceber a recepção que suas intervenções na linguagem produziram no próprio sistema literário em que surgiram.

No segundo capítulo o enfoque está no estudo da literatura de Clarice Lispector, pois considera-se importante analisar o estilo literário da autora para perceber como os tradutores apreenderam elementos de seus textos nas traduções. Neste capítulo, traçam-se reflexões sobre a escrita feminina, revisam-se considerações de alguns tradutores sobre a experiência de traduzir textos da autora e insere-se um breve resumo da obra e dos contos a serem analisados. Cada elemento, infância; olhar feminino; animalidade; metamorfose; metáforas e paradoxos adjetivações; repetições e expressões linguísticas; foi escolhido a partir de uma interpretação particular das leituras feitas dos contos e das pesquisas feitas sobre a autora. Esses elementos literários parecem apresentar um maior desafio para a tradução por tratarem de conceitos abstratos descritos em uma linguagem peculiar de Lispector que deixa lacunas a serem preenchidas com as interpretações dos tradutores e também dos leitores.

No terceiro capítulo apresenta-se a análise das traduções dos três contos em questão. Neste espaço é discutido como cada um dos elementos acima citados foram traduzidos a partir de fragmentos retirados dos contos, tanto do texto fonte quanto das traduções. Os trechos expostos em quadros servirão para comparação e observação dos movimentos linguísticos e culturais que cada uma das traduções apresenta. Através dessa comparação é possível discutir as interpretações feitas pelos tradutores, as soluções encontradas para traduzir uma linguagem que trata de concepções abstratas e subjetivas, as diferenças culturais entre os países hispânicos e o Brasil. Antes de adentrar nas questões da tradução intratextual, começa-se por discutir os elementos extratextuais da obra, apresentam-se os paratextos, os países de publicação e a forma como Clarice Lispector foi representada em cada uma dessas edições.

A pesquisa justifica-se pelo fato de Clarice Lispector ter tido todas as suas obras traduzidas para o espanhol. Esse Interesse pela tradução das obras de Clarice é iniciado na década de 1970 e se tornou crescente ao longo do tempo e se intensificou em 2010. É curioso investigar como a popularidade da autora foi crescente culminando em publicações de coleções completas de seus livros na Espanha e Argentina, com editoras que exportam essas traduções para os demais países de língua espanhola. Nesta dissertação coloca-se em questão esse interesse pela autora brasileira, mulher de família exilada, naturalizada brasileira

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(latino-americana), de escrita insólita, mas que ganhou fama internacional entre pesquisadores, intelectuais e editores estrangeiros.

Justifica-se também por haver duas traduções do mesmo livro para o espanhol, publicadas em países diferentes. Pode se levantar algumas questões, primeiro pelos fatores extratextuais: Como Lispector está sendo vendida nesses países? Como sua figura como escritora brasileira é recebida nos países hispânicos? E segundo pelos fatores intratextuais, como interpretação, escolhas lexicais, variantes linguísticas diferentes e o resultado final dessas traduções para o espanhol. Outras questões surgem como: Alterou-se a forma da escrita clariceana? As interpretações dos tradutores foram diferentes em que sentido? Como os pesquisadores, com acesso às quatro edições hispânicas e também à obra em português, podem perceber nessas traduções os movimentos dos tradutores para alcançar resultados específicos? E quais foram as perdas e os ganhos dessas traduções?

Essas perguntas estão embasadas pela teoria funcionalista de Christiane Nord quando aplicadas às análises extratextuais, pois leva-se em conta quem são os tradutores, quais as editoras, qual o público de recepção, qual a agência literária da qual Lispector faz parte e as implicações de todo esse sistema no resultado final do livro como produto. Para a análise intratextual leva-se em conta o estilo literário de Clarice Lispector, que é discutido no capítulo 2, nas análises vesse como os tradutores recriaram esse estilo em espanhol. Esse aspecto da análise será apoiado nas teorias de André Lefevere e como resultado espera-se evidenciar que toda tradução é um trabalho de coautoria entre escritor e tradutor, no qual a voz do primeiro será ressoada através das palavras do segundo que procura da melhor maneira possível transmitir o sentido e a força do texto inicial (fonte) para um novo público de outra língua e cultura.

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1 CLARICE LISPECTOR, OBRAS E SUAS TRADUÇÕES PARA A AMÉRICA LATINA E A ESPANHA

Neste capítulo, inicialmente será feito um levantamento das traduções realizadas das obras de Clarice Lispector para o espanhol. A seguir, com o conhecimento de quais obras foram traduzidas, por quais editoras, em quais anos, quais países e tradutores lançaram a autora na América Latina e Espanha; será possível realizar uma reflexão sobre as hipóteses que tornaram o nome da escritora, já reconhecida no Brasil, uma das principais referências sobre literatura brasileira no exterior. Com isso também buscamos explicar como se deu a difusão de sua literatura em território estrangeiro, quais foram os veículos de divulgação que fizeram circular traduções e/ou artigos críticos sobre a escritora, a importância das editoras e agentes literários dentro do mercado editorial, a época e o público para quem essas traduções foram dirigidas e quais foram as circunstâncias históricas em que elas foram produzidas.

O objetivo desse capítulo é mapear como Clarice Lispector foi traduzida no mundo hispânico. Os teóricos que auxiliarão no desenvolvimento dessa pesquisa são principalmente André Lefevere e Christiane Nord. Outros teóricos da tradução mencionados, justificam, complementam e/ou sustentam as teorias de Lefevere e Nord que são a base do pensamento científico da análise das traduções escolhidas para realizar essa pesquisa.

Pesquisar as traduções de Clarice Lispector é um procedimento relativamente novo na área dos Estudos da Tradução quando se parte da perspectiva da análise prática aliada aos estudos teóricos que a tarefa do tradutor exige. A pesquisa nas traduções de Clarice é sustentada principalmente por se tratar de uma escritora que é mundialmente conhecida por suas obras, tanto em português quanto em suas traduções, mas principalmente pela quantidade de traduções que foram feitas de seus livros ao longo dos anos. Sua tradução constitui um desafio também pelas temáticas existencialistas, atração pela narrativa intimista, pela vida privada, pela miséria humana e, sobretudo, por ser uma mulher escritora em meio ao século XX cujos problemas políticos como ditadura, censura e opressão se instalaram na atmosfera cotidiana do período. O clima era repressor, a situação econômica do país era instável, ser divorciada acarretava sobre a mulher uma enormidade de preconceitos e a autora corajosamente se dedicou ao trabalho como jornalista, escritora, tradutora e pensadora da condição humana.

O impacto que as obras de Clarice Lispector geraram em seus leitores foi tão complexo quanto o teor de suas narrativas. Anos após a

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morte da autora ainda foram publicados onze livros que reúnem seleções de contos inéditos, crônicas, entrevistas e correspondências. Algumas dessas obras são constituídas de textos que apareceram em jornais e revistas, mas também outros garimpados por seus pesquisadores, familiares e amigos. Rascunhos que nunca haviam sido enviados pela autora para publicação foram transformados em publicações póstumas e auxiliam pesquisadores e leitores a conhecerem melhor a autora que em vida foi tão enigmática e reservada, justamente por essa aura de mistério que Lispector emitia, o interesse pelos seus rascunhos foi crescente, incluindo aqueles que revelam sua intimidade como mulher, como mãe e como amante.

Os títulos desses livros póstumos são: A Bela e a Fera (1979), reunião de contos inéditos escritos em épocas diferentes; A Descoberta do Mundo (1984), seleção de crônicas publicadas em jornais entre agosto de 1967 e dezembro de 1973; Cartas Perto do Coração (2001), cartas trocadas com Fernando Sabino; Correspondências (2002); Aprendendo a Viver (2004); Outros Escritos (2005), reunião de textos de natureza diversa; Correio Feminino (2006), reunião de textos publicados em suplementos femininos de jornais, nas décadas de 1950 e 1960; Entrevistas (2007), seleção de entrevistas realizadas nas décadas de 1960 e 1970; Minhas Queridas (2007), correspondências que trocou com as irmãs enquanto morou no exterior; Só para Mulheres (2008), reunião de textos publicados em suplementos femininos de jornais, nas décadas de 1950 e 1960.

Para contextualizar a história de Lispector como escritora apresenta-se agora um pouco do cenário social e como e quando se deram suas primeiras publicações. O primeiro livro publicado da autora foi o romance Perto do coração selvagem (1943), a obra foi lançada em meio a Segunda Guerra Mundial quando o Brasil era governado pelo presidente Getúlio Vargas. Neste período e também nos anos que se seguiram, o país passou por tensas transformações no meio político que impactaram nos âmbitos sociais, econômicos, culturais e artísticos daquele período. Recém-formada em direito, Clarice Lispector começou a trabalhar no jornal A Noite, ali passou a ter contato direto com uma rede de intelectuais que fizeram parte dos acontecimentos que marcaram a história do Brasil (FRANKLIN, 2010, p. 112).

Entre as décadas de 1930 e 1940 o jornal era um dos mais importantes órgãos de comunicação da capital carioca e a relação de Clarice Lispector com a rede de intelectuais que circulavam pelo ambiente contribuiu bastante para as primeiras publicações de seus contos e livros. Outros fatores que contribuíram para a divulgação de suas

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publicações literárias foram “a modernização das condições de produção do livro e do crescente interesse da sociedade pelos bens culturais em geral e pela literatura em particular”, mas principalmente “sua maneira de escrever e singularidade autoral. As revistas literárias foram os principais veículos para publicações de seus primeiros contos e traduções, contribuindo para dar visibilidade ao seu nome. Entre as mais famosas estão as revistas Pan, Época e Vamos Ler!” (FRANKLIN, 2010, p. 117). O romance Perto do coração selvagem foi um livro que passou por diversas recusas de várias editoras até que, por influência de Lúcio Cardoso, editor da Editora José Olympio, teve sua primeira edição em 1943 publicada, porém demorou vinte anos até ser reeditado, o que aconteceu somente em 1963. O círculo de amigos que Clarice Lispector criou durante seus anos como jornalista, aliada a um estilo peculiar de narrar histórias sobre a intimidade humana, colaboraram para sua crescente popularidade.

Em meio ao caos político, a autora conseguiu se afastar da consciência de nacionalidade e assuntos relacionados ao governo, abrindo um novo momento para a literatura brasileira. Suas narrativas traziam para a reflexão “uma outra compreensão das diversas identidades então em debate”, traçando uma “conexão com os valores de liberdade, cidadania e ética” (FRANKLIN, 2010, p. 120). O reconhecimento e inclusão de mulheres em suas histórias como protagonistas não afrontava as limitações impostas pela “herança autoritária e patriarcal”, mas elevava seu espaço marginal e silencioso em “relação ao outro, de poder e dominação, entendido como território masculino” (FRANKLIN, 2010, p. 120). Sem sair do espaço doméstico relegado às mulheres, a autora tratava de assuntos filosóficos relacionados à existência humana, voltando seu olhar para detalhes do comportamento diário que para a maioria das pessoas passam despercebidos.

Clarice Lispector também foi tradutora e assinou várias traduções de obras e escritores famosos da literatura ocidental como: A carga (1974) e Cai o pano; O último caso de Hercule Poirot (s.d) de Ágatha Christie; Luzes acesas (1975) de Bela Chagall; A Receita Natural para Ser Bonita (1975) de Mary Ann Crenshaw; A Rendeira (1975) de Pascal Lainé; A segunda aurora (s.d) de Alistair Maclean e O pecado de nossa época (1975) de Karl Menninger. Outros nomes da literatura que tiveram obras traduzidas para o português por Clarice Lispector foram: Claude Ferrère, Anya Selton, Jorge Luis Borges, René Barjavel, Margaret Craven, Mary Westmacott, Iris Murdoch, Raymond Bernard, Victor Marchetti, Jean Herbert, Emmanuelle Arsan, Doris Lessing, Anne Rice, Georges Barr, George Elgozy, Jean-Jacques Abrahams, John Farris, Gordon M.

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Williams e Lilian Hellman (FERREIRA, 2013, p. 182). Além das traduções de livros dos autores citados, Clarice Lispector trouxe para o público infanto-juvenil adaptações de clássicos como: O gato preto e outras histórias (s.d) de Edgar Allan Poe; O retrato de Dorian Gray (1891), de Oscar Wilde; Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift; Chamado Selvagem, de Jack London; O talismã, de Walter Scott, e Tom Jones, de Henry Fielding. (QUEIROGA, 2014, p. 01). Esses trabalhos que exigiram dedicação e exploração dos seus talentos como escritora e dotaram as obras traduzidas e adaptadas com grande credibilidade. 1.1 CLARICE LISPECTOR TRADUZIDA E TRADUTORA

A tradução foi um dos trabalhos que a autora exerceu devido aos seus conhecimentos linguísticos da língua portuguesa e também devido sua fluência em idiomas como inglês, francês e espanhol. Lispector através de suas traduções e adaptações refletiu também sobre sua prática tradutória, é o caso, por exemplo, do texto que escreveu em 1968 a crônica “Traduzir procurando não trair”, publicada pela primeira vez na Revista Joia, n. 177 e posteriormente publicada no livro Outros Escritos (2005), em que a autora fala sobre seu posicionamento perante o texto que será traduzido. Nessa crônica Clarice expõe algumas de suas percepções sobre sua experiência e os desafios que enfrentou como tradutora. O primeiro deles é a questão da “fidelidade”, em suas palavras, no processo tradutório “quanto mais se revê (o texto fonte), mas se tem que mexer e remexer nos diálogos. Sem falar na necessária fidelidade ao texto do autor [...]” (2005, p. 115). A autora demonstrou um grande interesse pela tradução, não “só” traduziu porque conhecia os idiomas. Para a autora, a tradução foi uma fonte de inspiração, imitação e conhecimento.

Observa-se a questão de “ser fiel” ao texto fonte para Clarice Lispector é uma árdua tarefa, pois exige que o tradutor encontre uma solução no entre espaço de “mexer e remexer nos diálogos” enquanto ao mesmo tempo se mantêm “fiel” ao texto do autor. Lispector ainda menciona “a exaustiva leitura” como uma exigência para se traduzir e fazer escolhas lexicais e semânticas de “acordo com as circunstâncias”, ou seja, não seguir um rigor absoluto e saber fazer concessões de acordo com a necessidade que o texto exige “ora mais ou menos cerimoniosos, ora mais ou menos relaxados” (2005, p. 115).

Em sua crônica, Clarice Lispector fala sobre a entonação própria de cada personagem que deve ser sentida pelo tradutor e da dificuldade que encontrou ao traduzir uma peça de Anton Tchecov, A gaivota, supostamente traduzida do inglês, pois Clarice não sabia russo. Essa

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tradução, segundo Lispector, passou por várias interferências do diretor, tolhendo assim sua liberdade de traduzir (2005, p. 116).

Sobre as traduções que foram feitas de suas obras, Clarice faz comentários muito contundentes sobre sua posição perante elas. Clarice explicou que não gostava de “se reler”, para ela, ler as traduções de suas obras era uma tarefa pesada, mas que não deixou de executar (2005, p. 117). A autora afirma ter muito medo de ler as traduções que foram feitas de seus livros, em suas palavras, confessa: “Traduzo, sim, mas fico cheia de medo de ler traduções que fazem dos livros meus. Além de ter bastante enjoo de ler coisas minhas, fico também com medo do que o tradutor possa ter feito com texto meu” (LISPECTOR, 2005, 117). Por essa razão ela quase não se relia, nem seus próprios textos, nem suas traduções, considerava o processo de releitura com sentimento de náusea.

A autora conta que ao receber a tradução de dois de seus livros que fizeram para o alemão, sentiu um grande alívio por não conhecer nenhuma palavra do dito idioma. Nem mesmo a crítica sobre sua obra pôde ler, mas sobre a tradução de A maçã no escuro para o inglês ela diz: [...] o livro saiu fisicamente lindo, bom até de se tocar com as mãos –, então o problema foi outro. Eu sabia que o tradutor, Gregory Rabassa, era de primeira água – ganhou o National Book Award do ano, nos Estados Unidos –, e inglês eu podia ler. Chamei-me então severamente à ordem, e comecei a cumprir meu dever de ler a mim mesma. A tradução me parece muito boa. Mas parei, pois, o que venceu mesmo foi a náusea de me reler. O tradutor, professor de literatura portuguesa e brasileira numa universidade, fez um longo prefácio ao livro sobre literatura brasileira. Chegou à conclusão estranha de que eu era ainda mais difícil de traduzir que Guimarães Rosa, por causa de minha sintaxe. (LISPECTOR, 2005, p. 117)

Clarice Lispector complementa e diz não entender o que é sintaxe, mas que tinha imenso respeito pela gramática. Sobre sua “agramaticalidade”, a autora diz não pensar na gramática de forma consciente, seus escritos foram feitos pela intuição, como lhe parecia certo dizer tal ou qual coisa (LISPECTOR, 2005, 117). Podemos supor, a partir dessas palavras, que traduzir Clarice Lispector é uma tarefa que requer extrema intimidade com a autora, pois o tradutor deverá mergulhar numa linguagem muito particular e individual. Isso, torna-se perceptível,

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por exemplo, no modo como a autora metaforiza parte de sua própria percepção de mundo e de sua sensibilidade.

O tradutor deve dotar-se de empatia para aprender a ver o mundo sob uma nova perspectiva e render-se ao feminino de sua voz impregnada em seus textos. Quando essa empatia entre tradutor e o autor que se traduz não acontece, a tradução pode ser limitada e empobrecida.

No livro Minhas queridas (2007) são reunidas cartas que Clarice Lispector trocou com as irmãs enquanto morava no exterior. Numa linguagem totalmente honesta, impudica e realista, como aquela que somente usa-se com as pessoas mais próximas e de confiança (como o caso das irmãs), Clarice confessa sobre seus sentimentos quando recebeu as “provas da tradução de Perto do Coração Selvagem” para o francês. Sua indignação e insatisfação com a má qualidade da tradução como essa era entendida pela autora foi tão grande, que cito diretamente as palavras de Clarice para não minimizar o desabafo que ela faz à sua irmã Elisa:

Estou muito atrasada com a correspondência com vocês porque estive muito ocupada. Recebi as provas da tradução de P.C.S. [Perto do coração selvagem foi traduzido pela E. Plon, em 1954.], já em certo tipo de papel que Érico reconheceu como sendo papel definitivo: isto quer dizer, minhas correções devem ter ido tarde demais. E foram tantas correções que eles teriam que refazer toda a paginação etc. etc. Se já chegaram tarde demais, é melhor eu esquecer o caso, se não quiser me aborrecer seriamente. A conselho de Érico, mandei uma carta dizendo que a “tradução era escandalosamente má” etc. que preferia que o livro nunca fosse publicado na França a sair como está, sem correções. E mandei exemplos dos erros de tradução. Esse trabalho me levou cerca de dez dias, trabalhando muitas vezes até duas e tanto da madrugada, pois fui obrigada até a escrever em francês. Para vocês terem uma ideia da tradução, eis alguns exemplos: em português, “ao fim de alguns instantes, as chamas subitamente reanimadas”, foi traduzido: “ao fim de alguns instantes, tudo o que nela o chamava, se acordou” (com certeza a tradutora vendo “chamas” achou que se tratava do verbo chamar). Onde ponho: “o pai estava despenteado”, a tradutora põe: “o pai estava sem fôlego”. Onde ponho: “ela temia

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continuar ao lado de Fulana”, a tradutora pôs: “repugnava-lhe estar” etc. Eu escrevi no original: “Fiquei tonta, disse ela”. A tradutora traduziu: “Fiquei estúpida, disse ela”. (A tradutora deve conhecer melhor o espanhol e tonto em espanhol quer dizer mais ou menos estúpido). Escrevi: com suas olheiras negras... Ela traduziu: com seus óculos escuros... O livro está todo assim, e em muitos trechos perde totalmente o sentido. Uma noite, à meia-noite mais ou menos, eu estava tentando ler e corrigir, quando deparei com uma brutalidade de tradução, tão forte, tão inesperada, que, sozinha, mesmo, ri a ponto de chorar. Imaginem que escrevi, em má hora, no original: “a boca em forma de muchocho”. E sabem como ela, toda engraçadinha, traduziu: Assim: “la bouche en cul-de-poule”. Que tal? Quando escrevo a palavra “porcaria”, ela traduz por “excrementos”, mesmo quando não é o caso. Sem falar em liberdades engraçadas que ela tomou. Eu escrevo “a criada” e ela traduz: “a criada preta” - sendo que em nenhum pedaço do livro se fala em nenhum criado negro. Enfim, estou procurando passar por cima desse aborrecimento e esquecer. Parece que é tarde demais, que não vão poder fazer nada. Então vou procurar esquecer que o livro foi traduzido (LISPECTOR, 2007, p. 274 – 275).

O mesmo rigor que Clarice Lispector exigia nas traduções de seus textos, algumas vezes foi negligenciado por ela nas traduções de outros autores que ela mesma traduziu. Um exemplo é citado por Rony Márcio Cardoso Ferreira em sua tese Clarice Lispector: uma tradutora em fios de seda (teoria, crítica e tradução literária), o pesquisador fala sobre a tradução que a autora fez para o português do conto “Historia de los dos que soñaron” de Jorge Luis Borges, em 1969 e que foi publicado em sua coluna semanal do Jornal do Brasil (FERREIRA, 2016, p. 23). Essa tradução abriu margens para algumas reflexões apontadas pelo pesquisador Ferreira, como o fato da tradução publicada na sua coluna de jornal, onde habitualmente se publicava crônicas, esse texto tenha passado despercebido como tradução, “pois na página do jornal não consta logo no início do conto que o texto em língua portuguesa trata-se, na realidade, de uma tradução feita a partir do espanhol” (2016, p. 239).

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A referência sobre a origem do texto se apresentava no final em uma nota onde lia-se: “Do livro História universal da infância” o que causava muita estranheza, pois Borges não tem nenhum livro com esse título. Segundo Ferreira, o erro só foi corrigido em 2001, quando Jorge Schwartz republica a versão do conto traduzido por Clarice Lispector em seu livro Borges no Brasil e informa que o conto procede do livro História universal da infâmia (2016, p. 239). Ferreira faz uma análise sobre a tradução realizada por Clarice Lispector comparando-a com o conto escrito por Borges.

Ferreira pode constatar algumas semelhanças entre os dois autores, como por exemplo, o ato de entregar-se a escrita imergindo em suas narrativas e por algumas vezes fugindo do tema inicial (2016, p. 248). Sendo a tradução um processo de reescrita, a publicação da tradução realizada por Clarice Lispector, sem a referência direta à Borges, não foi questionada na época, ainda que atualmente seria considerado um delito sobre direitos autorais. Porém, se colocado em perspectiva que tanto o autor do conto quanto sua tradutora são escritores de grande conhecimento linguístico, cultural e possuem um alto potencial para a escrita criativa, o erro não foi tão grave na época. E podendo ser corrigido como foi em 2001 pode-se considerar o fato como apenas um equívoco de interpretação feito pela autora pela urgência que a tradução do texto exigia no momento.

Essa hipótese pode ser comprovada pela tese do pesquisador Marcílio Garcia de Queiroga, defendida em 2014, na Universidade Federal de Santa Catarina pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, Queiroga se dedicou a investigar meticulosamente todas as faces de Lispector como tradutora e realizou uma pesquisa que explorou essa voz múltipla de Clarice Lispector como escritora e que se estende em seus trabalhos como tradutora.

A autora teve a possibilidade de transitar entre diversas línguas em suas experiências como esposa de diplomata. Morou em diversos países e adquiriu um conhecimento linguístico quase “babélico”2 que a qualificou como uma tradutora (e escritora) capaz de pensar o mundo sob diferentes perspectivas (2014, p. 76). A autora partindo de espaços culturais e linguísticos distantes, da sua posição de estrangeira que analisa criteriosamente o lugar do outro sem sair do seu próprio espaço, que era para a autora o seu “entre-espaço”, Lispector pôde ao mesmo tempo traduzir e refletir sobre sua prática.

2 Conceito de Jacques Derrida: JACQUES, Derrida. Torres de Babel. Tradução Junia Barreto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

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As muitas traduções realizadas por Clarice aconteceram paralelamente à escrita de seus próprios livros e a conexão que a autora estabelecia entre suas emoções e a expressão escrita eram intensas (QUEIROGA, 2014, p. 75). A autora viveu fora do Brasil entre os anos de 1944 e 1959, nesse período passou pela Suíça, Itália Inglaterra e Estados Unidos, aprendeu os idiomas italiano, espanhol, francês e inglês com a facilidade e talento para línguas que adquiriu na infância, quando ouvia o iídiche falado em casa além do português que é sua língua materna (QUEIROGA, 2014, p. 90). A combinação entre seu talento para línguas aliado à sua performance como escritora rendeu à Lispector uma relativamente grande lista de obras traduzidas e adaptadas.

Embora haja uma extensa fortuna crítica sobre as obras de Lispector, pouca atenção foi dada a sua profissão como tradutora. Atualmente a tese de Rony Márcio Cardoso Ferreira, intitulada: Clarice Lispector: uma tradutora em fios de seda (teoria, crítica e tradução literária), defendida em 2016 na Universidade de Brasília é o trabalho mais completo realizado da atuação de Clarice Lispector como tradutora. O pesquisador em sua tese reúne um compêndio de todas as traduções realizadas por Lispector. Segundo o levantamento de dados do pesquisador, soma-se 46 traduções assinadas pela autora (FERREIRA, 2016, p. 59). Dado que se subdivide em traduções reconhecidas ou não pela crítica, adaptações de obras clássicas e traduções assinadas em revistas.

1.2 AS TRADUÇÕES DAS OBRAS DE CLARICE LISPECTOR PARA “O MUNDO”

Os livros de Clarice Lispector foram recebendo traduções para vários idiomas desde os lançamentos das obras no Brasil. Realizar um mapeamento preciso sobre todas as obras em todos os países e línguas diferentes exige uma pesquisa específica e concentrada pela busca desses dados, pois podem haver traduções não autorizadas ou publicadas por editoras pequenas. Esses fatores exigem uma atenção exclusiva do pesquisador, algo que foi feito ao mapear as traduções para o espanhol. Aqui apenas ilustro as traduções dos livros mais famosos de Lispector. A primeira obra mais traduzida foi A hora da estrela (1977). Segue uma breve relação de línguas e países de línguas e culturas distantes que leram a autora em seus respectivos idiomas:

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Quadro 1

Título Ano País

A hora da estrela 1977 Brasil

1981 República Tcheca 1984 França 2ª edição 1985 França 1985 Alemanha 1986 Estados Unidos 1987 Polônia 1988 Holanda 1989 Espanha 1989 Argentina 2ª edição 1992 Alemanha 2ª edição 1992 Espanha 1996 Finlândia 3ª edição 2000 Espanha 4ª edição 2011 Espanha

2ª edição 2011 Estados Unidos

Fonte: Site Oficial do Instituto Moreira Salles: https://claricelispectorims.com.br/

O segundo livro mais traduzido foi A paixão segundo G. H (1964). Veja-se a relação de datas e países onde sua obra chegou ao público: Quadro 2

Título Ano País

A paixão segundo G. H 1964 Brasil

1969 Venezuela 1977 Estados Unidos 1978 França 1982 Itália 1984 Japão 1988 Estados Unidos 1988 Espanha 1989 Noruega 1990 Alemanha 2ª edição 1992 Alemanha 1992 Dinamarca 2000 Espanha

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2ª edição 2001 Espanha

Nova tradução 2006 Espanha

2010 Argentina

2012 Estados Unidos

Fonte: Site Oficial do Instituto Moreira Salles: https://claricelispectorims.com.br/

Outros livros de Clarice Lispector também foram traduzidos em países diferentes: Água Viva (1973) foi traduzido para sete idiomas: espanhol (1975), italiano (1980), francês (1980), alemão (1987), inglês (1989), tcheco (2000) e sueco (2007). Laços de família (1960) em seguida com as traduções para o sueco (1963), inglês (1972), italiano (1986), inglês, francês e holandês (1989), espanhol na Argentina em 1973 e na Espanha em 1988. A maçã no escuro (1961) foi traduzida pela primeira vez para o inglês em 1961 e recebeu aproximadamente cinco novas edições, a segunda tradução foi para o alemão em 1964, seguindo o francês em 1970 e italiano em 1988. Também tiveram traduções para o inglês de Perto do coração selvagem (1943) em 1990 e A via crucis do corpo (1974) traduzido em 1995, a primeira tradução para língua espanhola foi realizada Juan García Gayó do livro A paixão segundo G. H. em 1969, na Venezuela pela editora Monte Ávila.

As informações sobre essas traduções citadas se encontram no site do Instituto Moreira Salles, porém não constam todas as traduções que já foram feitas das obras de Clarice Lispector, contudo, pela relação das obras traduzidas de Clarice Lispector ali mencionadas, pode-se verificar que houve uma grande demanda pelas traduções das obras da autora na Europa e em outros diversos países, sendo o idioma que recebeu mais traduções das obras de Clarice Lispector foi o espanhol, como está exposto no quadro 3.

1.3 AS TRADUÇÕES DAS OBRAS DE CLARICE LISPECTOR PARA A AMÉRICA LATINA E ESPANHA

As principais editoras situadas tanto na América Latina quanto Espanha publicaram traduções, retraduções e reedições da grande maioria dos títulos de Clarice Lispector. Contam-se mais de setenta traduções destinadas a países latino-americanos e a Espanha por diferentes editoras. Segue-se o quadro que situa os títulos, os tradutores, as cidades, as editoras e o ano, das traduções de Clarice Lispector para o espanhol por ordem de publicação:

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Quadro 3 Títulos Originais Títulos Traduzidos Tradutore

s Cidade Editora Ano

A paixão segundo G. H. La pasion segun G. H.: novela (sic) Juan García Gayó Caracas Monte Ávila Editores 1969 A legião estrangeira La legión extranjera: cuentos y crónicas Juan García Gayó Caracas Monte Ávila Editores 1971 Laços de familia Lazos de familia: cuentos Haydée M. Yofre Barroso Buenos Aires Editorial Sudameri-cana 1973 A maçã no escuro La manzana en la oscuridad Juan García Gayó Buenos Aires Editorial Sudameri-cana 1974 O mistério do coelho pensante El misterio del conejo que sabía pensar: cuento policial para chicos Mario Trejo Buenos Aires Ediciones de la flor 1974

Água viva Agua viva

Haydée M. Yofre Barroso Buenos Aires Editorial Sudameri-cana 1975 A via crucis do corpo El via crucis del cuerpo Haydée M. Yofre Barroso Buenos Aires Santiago Rueda 1975 Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres Un aprendizaje o el libro de los placeres Juan García Gayó Buenos Aires Editorial Sudameri cana 1975 Perto do coração selvagem Cerca del corazón salvaje Basílio

Losada Madrid Alfaguara 1977

O mistério do coelho pensante El misterio del conejo que sabía pensar. 2. ed. Mario Trejo Buenos Aires Ediciones de la flor 1985 Felicidade clandestina Felicidad clandestina Marcelo Cohen Barcelon a Grijalbo Mondador i 1988

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Laços de família Lazos de familia Cristina Peri Rossi Barcelon a Montesin os 1988 Dónde estuviste de noche Silencio Cristina Peri Rossi Barcelon a Grijalbo Mondador i 1988 A hora da estrela La hora de la

estrella Ana Poljak Madrid

Editorial Siruela 1989 A hora da estrela La hora de la estrella Irene Silva e Mônica Serra Buenos Aires Biblos 1989 Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres Un aprendizaje o el libro de los placeres Cristina Sáenz de Tejada e Juan García Gayó Madrid Editorial Siruela 1990 A hora da estrela La hora de la

estrella 2.ed. Ana Poljak Madrid

Editorial Siruela 1992 Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres Un aprendizaje o el libro de los placeres 2.ed. Cristina Sáenz de Tejada e Juan García Gayó Madrid Editorial Siruela 1994 Felicidade clandestina Felicidad clandestina 2. ed. Marcelo Cohen Barcelon a Grijalbo Mondador i 1994 A via crucis do corpo Viacrucis: cuentos y reflexiones Rubén Mejía Chihuah ua, México Raza 1994 Dónde estuviste

de noche Silencio 2.ed.

Cristina Peri Rossi Barcelon a Grijalbo Mondado-ri 1995 Laços de familia Lazos de familia. 2. ed Cristina Peri Rossi Barcelon a Montesin os 1999 Como nasceram as estrelas Como nacieron las estrellas Elena

Losada Madrid Sabina 2000

A hora da estrela

La hora de la

estrella. 3. ed. Ana Poljak Madrid

Editorial Siruela 2000 A paixão segundo G. H. La pasión según G.H. Alberto Villalba Rodríguez Buenos Aires Muchnik 2001

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Um sopro de vida Un soplo de vida: pulsaciones Mario Merlino Madrid Editorial Siruela 2001 A vida íntima de Laura La vida íntima de Laura Paola Monti Santiago de Chile LOM 2001 Contos Reunidos Cuentos Reunidos Vários

Tradutores Madrid Alfaguara 2001

Perto do coração selvagem Cerca del corazón salvaje Basilio Losada Madrid Editorial Siruela 2002 Perto do coração selvagem Cerca del corazón salvaje 2. ed. Basilio Losada Madrid Editorial Siruela 2003 A maçã no escuro La manzana en la oscuridad Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2003

Água viva Agua viva Elena

Losada Madrid Editorial Siruela 2004 A descoberta do mundo Revelación de un mundo Amalia Sato Buenos Aires Adriana Hidalgo 2004 O mistério do coelho pensante El misterio del conejo que sabía pensar. 3. ed. Mario Trejo Buenos Aires Ediciones de la flor 2005 A descoberta do mundo Revelación de un mundo. 2. ed. Amalia Sato Buenos Aires Adriana Hidalgo 2005

O lustre La lámpara Elena

Losada Madrid Editorial Siruela 2006 Aprendendo a viver Aprendiendo a Vivir Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2007 Para não esquecer Para no olvidar: crónicas y otros textos Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2007 Correio feminino Correo femenino Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2008 Contos Reunidos Cuentos Reunidos Vários tradutores Madrid Editorial Siruela 2008 O mistério do coelho pensante El misterio del conejo que sabía pensar Elena

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A mulher que matou os peixes La mujer que mató a los peces Elena

Losada Madrid Sabina 2008

A vida íntima de Laura

La vida íntima de Laura

Elena

Losada Madrid Sabina 2008

Quase de

verdade Casi verdad

Elena

Losada Madrid Sabina 2008

Como nascem as estrelas

Cómo nacieron las estrellas

Elena

Losada Madrid Sabina 2009

Água viva Agua viva Florencia

Garramuño Buenos Aires El Cuenco de Plata 2010 Perto do coração selvagem Cerca del corazón salvaje. 5. ed. Basilio Losada Madrid Editorial Siruela 2010 A descoberta do mundo Descubrimiento s Claudia Solans Buenos Aires Adriana Hidalgo 2010 O lustre La araña Haydeé M. Joffré Barroso Buenos Aires Corregido r 2010 A hora da estrela La hora de la estrella Gonzalo Aguilar Buenos Aires Corregido r 2010 Para não

esquecer Para no olvidar

Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2010 A paixão segundo G. H. La pasión según G.H. Mario Cámara Buenos Aires El Cuenco de Plata 2010 Laços de familia Lazos de familia Mario Cámara e Edgardo Russo Buenos Aires El Cuenco de Plata 2010 A legião estrangeira La legión extranjera Paloma Vidal Buenos Aires Corregido r 2011 Um sopro de vida Un soplo de vida Paloma Vidal Buenos Aires Corregido r 2011 Perto do coração selvagem Cerca del corazón salvaje Teresa Arijón e Bárbara Belloc Buenos Aires El Cuenco de Plata 2011 Felicidade clandestina Felicidad clandestina Teresa Arijón e Bárbara Belloc Buenos Aires El Cuenco de Plata 2011

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A via crucis do corpo El via crucis del cuerpo Gonzalo Aguilar Buenos Aires Corregido r 2011 A hora da estrela La hora de la

estrella. 6. ed. Ana Poljak Madrid

Editorial

Siruela 2011

Para não

esquecer Para no olvidar

Edgar Stanko Buenos Aires El Cuenco de Plata 2011 Só para mulheres Sólo para mujeres Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2011 Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres Un aprendizaje o el libro de los placeres Rosario Hubert Buenos Aires Corregido r 2011 Onde estivestes de noite Dónde estuviste de noche Teresa Arijón e Bárbara Belloc Buenos Aires El Cuenco de Plata 2012 A maçã no escuro La manzana en lo oscuro Teresa Arijón e Bárbara Belloc Buenos Aires El Cuenco de Plata 2012 Laços de familia Lazos de Familia Mario Cámara e Edgardo Russo Buenos Aires El Cuenco de Plata 2012 Para não esquecer Para no olvidar 2. ed. Edgar Stanko Buenos Aires El Cuenco de Plata 2012

A bela e a fera La bella y la bestia Gonzalo Aguilar Buenos Aires Corregido r 2013 Contos Reunidos Cuentos Reunidos Vários Tradutores Madrid Editorial Siruela 2013 A paixão segundo G. H. La pasión según G. H. Alberto Villalba Rodríguez Madrid Editorial Siruela 2013

Água viva Agua Viva Elena

Losada Madrid

Editorial

Siruela 2013

Água viva Agua Viva 2. ed. Florencia Garramuño Buenos Aires El Cuenco de Plata 2013

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O tempo El tiempo Teresa Arijón e Bárbara Belloc Buenos Aires El Cuenco de Plata 2013

As palavras Las palabras

Teresa Arijón e Bárbara Belloc Buenos Aires El Cuenco de Plata 2013 A paixão segundo G. H. La pasión según G. H. 2.ed Mario Cámara Buenos Aires El Cuenco de Plata 2013 A cidade sitiada La ciudad sitiada Florencia Garramuño Buenos Aires Corregido r 2013 A hora da estrela La hora de la

estrella Ana Poljak Madrid

Editorial Siruela 2014 Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres Aprendizaje o el libro de los placeres Cristina Sáenz de Tejada e Juan García Gayó Madrid Editorial Siruela 2014 A maçã no escuro La manzana en la oscuridad Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2014 Perto do coração selvagem Cerca del corazón salvaje Basilio Losada Madrid Editorial Siruela 2015 A cidade sitiada La ciudad sitiada Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2016 Outros escritos Donde se enseñará a ser feliz Elena Losada Madrid Editorial Siruela 2016 Um sopro de vida Un soplo de vida Mario Merlino Madrid Editorial Siruela 2016

O lustre La lámpara Elena

Losada Madrid

Editorial

Siruela 2017

Minhas

queridas Queridas mías

Elena

Losada Madrid

Editorial Siruela s/d

No quadro três pode-se comprovar que todas as obras de Lispector foram traduzidas para o espanhol, tanto na América Latina quanto na Espanha. Traça-se uma linha histórica das traduções dos livros de Lispector que começou desde o início da década de setenta, quando a maioria dos livros foi publicados em Caracas, na Venezuela e em Buenos

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Aires, na Argentina. A primeira publicação de um livro traduzido de Clarice Lispector na Espanha só aconteceu em 1977 com a publicação de Cerca del corazón salvaje (Perto do coração selvagem) por Basilio Losada, o tradutor é um pesquisador e intelectual reconhecido em seu país que dedicou boa parte das suas pesquisas às obras de Clarice Lispector e à literatura brasileira.

É possível notar que na década de oitenta o interesse pelas traduções das obras de Lispector diminuiu significantemente. Em 1985 saiu em Buenos Aires uma segunda edição do livro infantil El misterio del conejo que sabía pensar (O mistério do coelho pensante), para somente em 1989 ser lançada a primeira tradução de La hora de la estrella (A hora da estrela), livro mais conhecido e traduzido fora do território brasileiro. Em contrapartida, na Espanha foram traduzidas quatro obras diferentes da autora, sendo três em Barcelona, Felicidad clandestina; Lazos de família; Silencio e uma em Madrid. As editoras catalãs responsáveis pelas traduções em espanhol das obras citadas foram a Grijalbo Mondadori e a Editorial Montesinos. A edição madrilena é a do livro A hora da estrella, publicado pela editora Siruela no mesmo ano de publicação pela editora Biblos de Buenos Aires. Esse foi o primeiro livro traduzido e publicado pela editora que atualmente tem em seu catálogo uma seção completa dedicada às traduções das obras clariceanas.

Nos anos 90 a expressão latino-americana foi ainda menor nas traduções das obras de Lispector. Apenas em 1994 surgiu no México a tradução de A via crucis do corpo, livro que a própria autora não gostava por tratar-se de uma história feita por encomenda, que ela afirma ter escrito em um único final de semana, apenas para corresponder a uma exigência feita pela editora, mas que não lhe proporcionou nenhum prazer de escritura. Clarice se considerava uma “escritora amadora” por escrever somente quando sentia a necessidade e dentro do seu próprio espaço de tempo que levava para amadurecer uma história (LISPECTOR, 1998, p. 12). Dando continuidade à descrição das obras publicadas, em 1990 a Editora Siruela lançou mais uma tradução de uma das obras da autora, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, que já havia sido traduzida e publicada em 1975 em Buenos Aires, mas ainda era inédita na Espanha. A tradução desse livro foi elaborada com a parceria entre Juan García Gayó, argentino, tradutor da obra na versão argentina de 1975, e da tradutora espanhola Cristina Saénz de Tejada. Os dados mostram que essa obra foi muito bem aceita pelo público espanhol, pois em 1994, apenas quatro anos desde seu lançamento no país, saiu a segunda edição do livro reeditado pela mesma editora.

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Nessas duas primeiras décadas, as de oitenta e noventa, as publicações de obras traduzidas de Clarice Lispector na América Latina foram bem menos expressivas quando comparadas às edições espanholas. Esse fato não é por acaso, deve-se considerar que depois da Editora Monte Ávila, outras editoras ainda em crescimento estavam descobrindo a autora brasileira pelas publicações venezuelanas e espanholas. Outro problema seria para as novas editoras conseguirem os direitos autorais para realizar essas traduções. As primeiras traduções das obras de Clarice Lispector que foram feitas na Argentina eram traduções não autorizadas. Em uma visita a Buenos Aires, em 1976, Lispector se surpreendeu com o fato de ser conhecida no país.

Clarice Lispector soube nessa viagem que na Argentina traduziam seus livros em espanhol sem seu consentimento. Em depoimento gravado no dia 20 de outubro de 1976, na sede do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, na entrevista concedida a Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’anna, Clarice Lispector fala sobre as traduções de seus livros para o espanhol (LISPECTOR, 2015, p. 117). Afirma já ter conhecimento de que A legião estrangeira e A paixão segundo G. H. terem sidos traduzidos em Caracas, mas que ficou muito surpresa ao descobrir as traduções argentinas (LISPECTOR, 2015, p. 117). Nessa mesma entrevista, Affonso Romano de Sant’anna pergunta se a autora foi paga por essas traduções e em resposta Clarice Lispector afirma:

Não, nada. Às vezes pergunto, mas é tão inútil, porque eles não pagam mesmo. É outro país, é outra coisa, se aqui me pagam mal! Quanto mais quando é em outro país. A Argentina publicou muita coisa minha, eu fiquei boba. Quando cheguei lá, não sabia que eles me conheciam. Fizeram um coquetel, trinta jornalistas, eu falei pela rádio, tudo meio teleguiada, porque era tudo tão estranho, tão inesperado, que eu ia agindo assim sem saber. Nem notei que estava falando para rádio... Sei lá... Uma mulher lá me beijou a mão (LISPECTOR, 2015, p. 117).

Entre os anos 2000 a 2010, o interesse espanhol pelas traduções das obras clariceanas cresceu consideravelmente. Em 2000 a Editora Siruela lançou a terceira edição de La hora de la estrella e traduções de mais quatro livros: Cerca del corazón salvaje em 2002, que já em 2003 tinha sido publicada sua segunda edição; La manzana en la oscuridad em 2003 e Agua viva em 2004. O primeiro livro traduzido por Basilio Losada

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e os outros dois por Elena Losada, filha de Basilio e seguidora do pai nos estudos literários, sobretudo relacionados à literatura latino-americana.

Elena Losada também traduziu entre os anos 2006 a 2009: La lámpara, Aprendiendo a Vivir, Para no olvidar: crónicas y otros textos e Correo feminino, todos pela Editora Siruela. Nos anos 2008 e 2009 a tradutora verteu para o espanhol todos os livros infantis escritos por Clarice Lispector. Esses livros foram publicados pela Sabina Editorial, uma editora espanhola fundada em 2007 por três mulheres: Mª Milagros Montoya Ramos, Carmen Oliart Delgado de Torres e Ana Mañeru Méndez. A editora ainda está em crescimento, mas já domina o mercado sobre as traduções dos livros infantis de Lispector na Espanha.

Nesse mesmo período as publicações das obras traduzidas na América Latina continuam reduzidas. Os livros traduzidos foram publicados no Chile e na Argentina por editoras pequenas e somente títulos específicos. A LOM Ediciones no Chile publicou um único livro de Lispector, o infantil La vida íntima de Laura em 2001. No mesmo ano na Argentina houve uma nova tradução de La pasión según G.H, a terceira edição de El misterio del conejo que sabía pensar e duas edições de Revelación de un mundo, a primeira edição em 2004 e a segunda em 2005.

Em 2002 a Editora Alfaguara lança no México uma edição intitulada Cuentos Reunidos, uma antologia de todos os contos de Lispector traduzidos para o espanhol. Essa edição foi publicada em Madrid no ano seguinte, e foi reeditada em 2008 pela Editora Siruela, que atualmente possui licença para publicar traduções das obras clariceanas no país.

A partir de 2010 as editoras Argentinas começam a tomar seus lugares no mercado editorial e publicar traduções de vários autores canônicos, entre eles Clarice Lispector. Na Argentina a Editora El Cuenco de Plata e a Corregidor traduziram a maioria dos títulos das obras de Clarice Lispector. El Cuenco de Plata, além das obras traduzidas, em seu site oficial3 inclui textos que contextualizam a literatura clariceana no espaço literário brasileiro, apresenta dados biográficos e algumas referências bibliográficas para aqueles que querem conhecer a autora e lê-la em língua espanholê-la. Esses textos que compõem o site são um compêndio de artigos publicados em alguns jornais e revistas famosos no país, como La Nación, El litoral e Revista Ñ. Essas referências disponibilizadas pela editora são fundamentais para que leitores e

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