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Urbanização e dinâmica econômica na rede urbana do Estado da Bahia (1940-2010) : o caso de Vitória da Conquista (BA)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LEONARDO RODRIGUES PORTO

Urbanização e dinâmica econômica da rede urbana no estado da

Bahia (1940-2010): o caso de Vitória da Conquista-BA

Campinas

Dezembro de 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LEONARDO RODRIGUES PORTO

Urbanização e dinâmica econômica da rede urbana no estado da

Bahia (1940-2010): o caso de Vitória da Conquista-BA

Prof. Dr. Humberto Miranda do Nascimento – orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Econômico, área de concentração: Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO LEONARDO RODRIGUES PORTO E ORIENTADO PELO PROF. DR. HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO.

Campinas

Dezembro de 2016

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INSTITUTO DE ECONOMIA

LEONARDO RODRIGUES PORTO

Urbanização e dinâmica econômica da rede urbana no estado da

Bahia (1940-2010): o caso de Vitória da Conquista-BA

Defendida em 14/12/2016

COMISSÃO JULGADORA

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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De imediato, reconheço o meu débito para com os membros dos estratos populares da sociedade brasileira – a verdadeira base material de sustentação deste país – e que, por vias indiretas, permitiram a possibilidade de estudar em uma universidade pública (até quando?), sem que eles próprios tivessem a mesma oportunidade. A estes, o meu reconhecimento, gratidão e o compromisso de dedicar os meus esforços para retribuição.

Agradeço aos meus pais, Genésio e Vânia, pelos sacrifícios vividos e a educação que moldou o caráter além do amor dispensado aos seus filhos. À minha mãe, obrigado pelo carinho e as preces, que não foram poucas. Ao meu pai, obrigado pelo exemplo e o suporte material de sempre, tendo em ti o exemplo mais próximo de trabalho e de perseverança.

Agradeço à minha esposa, Ariany, pelo amor e companheirismo no difícil convívio ao traçarmos este caminho juntos. Obrigado, Any, por permitir que os desafios e conquistas deixassem de ser apenas de um, passando a ser expressos pelos nós e o nosso.

Aos meus irmãos, familiares e amigos, agradeço pela enorme torcida e a compreensão com a distância.

Ao professor Humberto Miranda, pelas orientações sempre muito precisas e preciosas, permitindo aprofundar conhecimentos e enriquecendo o debate de forma bela e críticas serenas.

Aos professores e colaboradores do Instituto de Economia da Unicamp.

Aos membros da banca examinadora, Fernando Macedo e Edgard Porto, que muito contribuíram com o debate. De igual modo, a Beatriz Mioto e Cláudio Maciel por seus comentários na banca de qualificação.

Ao professor Gildásio Santana Júnior, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, com enorme contribuição em minha trajetória acadêmica e na forma de pensar a economia e a sociedade.

Aos companheiros do CEDE, em especial a Thiago Noronha, pela parceria em sala de aula e por tantas caronas no decorrer do curso! Daniel Sampaio, pela aula com os mapas! A Ronie e tantos outros, pelas conversas esclarecedoras e edificantes!

À CNPq pela bolsa de pesquisa.

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Esta pesquisa insere-se no tema das novas determinações da problemática regional e urbana, em face dos processos econômicos e sociais que se instalaram no país, a partir da década de 1980. Entendemos que alguns aspectos da urbanização brasileira modificaram-se nesse período, com o reforço do papel das metrópoles e com o fortalecimento de determinadas cidades médias. Esse quadro deu continuidade a um padrão de urbanização mais disperso, mas apresentando mudanças importantes nas hierarquias urbanas. Partimos da análise do sistema urbano do estado da Bahia, cuja rede de cidades apresenta relativo adensamento populacional no litoral e na Região Metropolitana de Salvador e poucas cidades de porte médio no interior do estado. A estruturação desse sistema urbano acompanha o movimento da urbanização brasileira, embora guarde características regionais específicas. Inserida no contexto sócio-espacial do Semiárido Baiano, está a cidade de Vitória da Conquista, que articula uma área de 96 municípios e mais de dois milhões de pessoas, atuando como entreposto comercial e fornecedora de serviços mais complexos, como os de saúde e de educação superior. Seu crescimento beneficia-se do pequeno número de centros intermediários, por onde os fluxos econômicos e sociais possam se direcionar. Diante desta problemática, temos como objetivo geral conhecer o papel desempenhado por Vitória da Conquista (BA) e sua área de influência ao longo do processo histórico de mudanças econômicas e espaciais, que foram consolidando o atual sistema urbano baiano, e do processo de urbanização brasileira. Nossa hipótese sugere que a rede urbana consolidada a partir de Vitória da Conquista tem o Estado como principal agente dinamizador, sendo sua economia fundada em termos das atividades administrativas públicas e do setor de serviços. Nesse sentido, apesar de sua importância, Vitória da Conquista não dá conta de solucionar os desequilíbrios estruturais, provenientes de uma conformação regional subdesenvolvida, na sua própria área de atuação. Em termos metodológicos, podemos afirmar que a classificação de determinadas cidades numa rede urbana com características específicas e de alcance nacional muitas vezes incorre na excessiva valorização da posição em detrimento do papel que tais cidades realmente exercem, deduzindo-se uma hierarquização mais formal que real. Pelo exposto, buscamos efetuar a análise considerando o processo de desenvolvimento econômico, a evolução da rede urbana e o relativo alcance da integração nacional (SINGER, 1977) e realizar um estudo de caso duma cidade média espacialmente isolada, cujos principais vínculos são externos à região. Para tanto, adotamos como procedimentos a pesquisa documental e bibliográfica, trabalhando com dados secundários, fornecidos por órgãos de pesquisa do país.Consideramos criticamente as contribuições da Regic-2007 (IBGE, 2008), que apresenta as principais conexões entre os municípios brasileiros, mas tratados de forma muito ampla, pouco se atentando para aspectos locais e regionais na composição de seu quadro hierárquico. Dentre os principais resultados, destacamos a fragilidade de Vitória da Conquista quanto ao papel de fato exercido na rede urbana em detrimento da posição hierárquica formal que lhe é atribuída. Portanto, a capacidade de cumprir um papel mais dinâmico no desenvolvimento urbano-regional como cidade média é mais limitada do que, frequentemente, se deduz.

PALAVRAS-CHAVE: Rede Urbana. Dinâmica urbano-regional. Cidade média. Economia

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This research discusses the theme of the new determinations of regional and urban problems, in the face of economic and social processes that have settled in the country, from the 1980s. We understand that some aspects of the Brazilian urbanization have changed in this period, strengthening the role of metropolis and the strengthening of certain medium cities. This picture continued a more dispersed pattern of urbanization, but made important changes in urban hierarchies. We start from the analysis of the urban system of the state of Bahia, whose urban network shows population density on the coast and in the metropolitan area of Salvador and a few medium-sized cities in the state. The structure of this urban system tracks the movement of the Brazilian urbanization, although keep specific regional characteristics. Inserted in the socio-spatial context of semiarid region from Bahia is the city of Vitoria da Conquista, combining an area of 96 municipalities and more than two million people, acting as a trading post and supplier of complex services, such as health and higher education. Its growth benefits from the small number of intermediate centers, where economic and social flows can be directed. Faced with this problem, we have as a general objective to know the role of Vitoria da Conquista (BA) and its area of influence along the historical process of economic and spatial changes that were consolidating the current Bahia urban system, and the Brazilian urbanization process. Our hypothesis suggests that the consolidated urban network from Vitoria da Conquista has the State as the main driving force agent, and its economy based of public administrative activities and the service sector. In this sense, despite its importance, Vitoria da Conquista not realize solve structural imbalances, from an underdeveloped regional conformation in its own area of expertise. In methodological terms, we can say that the classification of certain cities in an urban network with specific and nationwide characteristics often incurs the excessive appreciation of the position to the detriment of the role that these cities really exercise, deducing a more formal hierarchy than real. For these reasons, we seek to make the analysis considering the process of economic development, the evolution of the urban network and the relative scope of national integration (SINGER, 1977) and conduct a case study of a medium city spatially isolated, which the main links are external to the region. Therefore, we adopted the procedures to document and literature, working with secondary data provided by research agencies in the country. We consider critically the contributions of REGIC 2007 (IBGE, 2008), which presents the main connections between the municipalities, but treated very broadly, just paying attention to local and regional aspects in the composition of their hierarchical framework. Among the main results, we highlight the fragility of Vitoria da Conquista as to whether the role played in the urban network at the expense of formal hierarchical position assigned to it. Therefore, the ability to meet a more dynamic role in urban and regional development as the medium city is more limited than often it follows.

KEYWORDS: Urban Network. Urban-regional dynamics. Medium city. Regional and urban

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Quadro 1.1 - Evolução da estrutura do sistema urbano baiano (1822-1920) --- 35 Quadro 2.1 - Bahia e Área de Influência de Vitória da Conquista: classificação dos

centros urbanos conforme a Regic, 2008 --- 68 Quadro 2.2 - Constituição dos núcleos urbanos na área de influência de Vitória da

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Tabela 1.1 - Bahia, número de cidades por classes de tamanho da população (1950-2010) --- 51 Tabela 1.2 - Bahia: população total e urbana, taxa de urbanização e crescimento da

população, por classes de tamanho dos municípios (1991-2010) --- 54 Tabela 1.3 - Região Metropolitana de Salvador: Produto Interno Bruto, Valor

Adicionado e participação no Brasil e em sua área de influência (RAAU-SSA), 1999 a 2012 --- 59 Tabela 2.1 - Bahia e municípios selecionados: Taxa de crescimento populacional,

1872-1920 --- 77 Tabela 2.2 - Municípios da Bahia selecionados: alguns aspectos demográficos e

econômicos, 1956 --- 83 Tabela 2.3 - Municípios da Bahia selecionados: número de estabelecimentos, área média

por hectares e bovinos (mil cabeças), 1940, 1950 e 1960 --- 85 Tabela 2.4 - Vitória da Conquista: número de tratores entre 1970 e 1995 --- 87 Tabela 2.5 Vitória da Conquista: crescimento e estrutura setorial do Produto Interno

Bruto Municipal, 1970-1996 --- 88 Tabela 2.6 - Vitória da Conquista: População total, urbana e rural, taxas de crescimento

e de urbanização (1940-2010) --- 91 Tabela 2.7 - Área de Influência de Vitória da Conquista: Grau de urbanização e taxas de crescimento da população total e urbana por grupos de cidades, 1991-2010 --- 92 Tabela 2.8 - Vitória da Conquista: Produto Interno Bruto, Valor Adicionado e

participação na RAAU-SSA e em sua rede urbana (1999-2012) --- 94 Tabela 2.9 - Área de Influência de Vitória da Conquista: valor adicionado por setores

(1999-2012) --- 97 Tabela 2.10 - Área de Influência de Vitória da Conquista: valor adicionado por setores e

participação por classificação de cidades (1999-2012) --- 98 Tabela 2.11 - Vitória da Conquista: valor adicionado por setores (1999-2012) --- 99 Tabela 2.12 - Área de Influência de Vitória da Conquista: População ocupada, segundo

a seção de atividade econômica e participação relativa dos grupos de cidades, 2010 --- 101 Tabela 3.1 - Nordeste: grau de diversidade da oferta de comércio e serviços e

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Tabela 3.3 - Número de matriculas, tipos de curso e área geral dos cursos de graduação presencial, ofertados nos municípios da Área de Influência de Vitória da Conquista, nos anos de 2004 e 2014 --- 139

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Gráfico 1.1 - Bahia: número de cidades por classes de tamanho da população (1950-2010) ________________________________________________________________ 53 Gráfico 2.1 - Produção de café em Vitória da Conquista, entre 1973 e 1977 (em

Toneladas) ___________________________________________________________ 86 Gráfico 2.2 - Taxa de urbanização por diferentes escalas geográficas ______________ 91

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Figura 2.1 - Localização da Área de Influência de Vitória da Conquista --- 69 Figura 2.2 - Classificação dos centros urbanos da Área de Influência de Vitória da

Conquista --- 70 Figura 2.3 - Grande Sertão e Alto Sertão da Ressaca, 2012 --- 73 Figura 3.1 - Área de influência de Vitória da Conquista: classificação dos centros

urbanos, conforme as Regic’s de 1966, 1978 e 1993 --- 107 Figura 3.2 - Área de Influência de Vitória da Conquista: grau de diversidade da oferta

de comércio e serviços, 2014 --- 126 Figura 3.3 - Área de Influência de Vitória da Conquista: aumento do grau de

diversidade da oferta de comércio e serviços, 2006 a 2014 --- 128 Figura 3.4 - Área de Influência de Vitória da Conquista: volume de ativos financeiros,

2014 --- 131 Figura 3.5 - Área de Influência de Vitória da Conquista: taxa de crescimento do volume

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ACP – Área de Concentração de População AM – Amazonas

BA – Bahia

BANEB – Banco do Estado da Bahia BCB – Banco Central do Brasil BR – Brasil

CE – Ceará

CEFET – Centro Federal de Tecnologia CEMPRE – Cadastro Central das Empresas CF – Constituição Federal

CIA – Centro Industrial de Aratu

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

CNAE – Classificação Nacional das Atividades Econômicas COPEC – Complexo Petroquímico de Camaçari

DF – Distrito Federal

DIRUR – Diretoria de Estudos e Políticas Urbanas, Regionais e Ambientais, do IPEA

ESTBAN – Estatística Bancárias dos municípios FPM – Fundo de Participação dos Municípios GO – Goiás

GTDN – Grupo de Trabalhos de Desenvolvimento do Nordeste IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas MG – Minas Gerais

NESUR – Núcleo de Economia Social, Urbana e Regional PA – Pará

PB – Paraíba PE – Pernambuco

PIA – População em Idade Ativa PIB – Produto Interno Bruto

PLANDEB – Plano de Desenvolvimento do Estado da Bahia PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PNE – Plano Nacional de Educação PR – Paraná

RAAU-SSA – Rede Ampliada de Articulação Urbana de Salvador REGIC – Regiões de Influência das Cidades

REGIC VCA – Área de Influência de Vitória da Conquista RMS – Região Metropolitana de Salvador

RMSP – Região Metropolitana de São Paulo RS – Rio Grande do Sul

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UAB – Universidade Aberta do Brasil

UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UF – Unidade da Federação

UFBA – Universidade Federal da Bahia UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul UFOB – Universidade Federal do Oeste da Bahia UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-americana

UNILAB – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira VCA – Vitória da Conquista

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INTRODUÇÃO --- 19 CAPÍTULO 1. O SISTEMA URBANO BAIANO NO CONTEXTO DA

URBANIZAÇÃO BRASILEIRA (1940-2010) --- 27 1.1.ANTECEDENTES HISTÓRICOS: CONDICIONANTES DA URBANIZAÇÃO BAIANA--- 27 1.1.1 A Bahia --- 32

1.2.MUDANÇAS NO CENTRO DINÂMICO DA ECONOMIA NACIONAL: NOVO PADRÃO DE ACUMULAÇÃO, SOCIEDADE URBANA E INDUSTRIAL --- 35

1.3.CONSIDERAÇÕES SOBRE OS NOVOS DETERMINANTES DA QUESTÃO REGIONAL E

URBANA PÓS-1980 --- 42 1.4.QUADRO GERAL DO RITMO DE CRESCIMENTO DAS CIDADES BAIANAS --- 50

1.5.REDES DE CIDADES DA BAHIA:REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR (RMS) E OS

(SUB)SISTEMAS URBANOS DO INTERIOR --- 56

1.6.CONSIDERAÇÕES PARCIAIS--- 62

CAPÍTULO 2. A REDE URBANA DE VITÓRIA DA CONQUISTA: EVOLUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO --- 64

2.1.CARACTERÍSTICAS DA REDE URBANA E INSTRUMENTOS DE ANÁLISE --- 64

2.2.ORIGENS E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO: ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DA REGIÃO --- 71

2.3.O PERÍODO DAS GRANDES TRANSFORMAÇÕES URBANO-INDUSTRIAIS NO BRASIL E OS SEUS IMPACTOS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DE VITÓRIA DA CONQUISTA --- 78

2.4.AS "NOVAS DETERMINAÇÕES" DA HIERARQUIA REGIONAL E URBANA DE VITÓRIA DA

CONQUISTA --- 89

2.5.CARACTERÍSTICAS RECENTES DA DINÂMICA URBANA E ATIVIDADE ECONÔMICA ---- 90 2.5.1 Análise do desempenho populacional --- 90 2.5.2 Análise do desempenho por setores econômicos --- 93

2.6.CONSIDERAÇÕES PARCIAIS--- 102

CAPÍTULO 3. TRANSFORMAÇÕES NA HIERARQUIA URBANO-REGIONAL: O CASO DE VITÓRIA DA CONQUISTA --- 104

3.1.AS ANÁLISES DA REDE URBANA BRASILEIRA E BAIANA, UMA CRÍTICA --- 104 3.1.1 O que mostram as Regic’s --- 105

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3.3.O QUE HÁ DE NOVO: FORMA DE ANÁLISE DOS DADOS --- 118

3.4.OS CONDICIONANTES DA HIERARQUIA URBANO-REGIONAL: ANÁLISE DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DE VITÓRIA DA CONQUISTA --- 121

3.4.1 Comércio e Serviços --- 122

3.4.2 Instituições Financeiras --- 129

3.4.3 Ensino Superior --- 136

3.5.OESTADO, A REDE URBANA E AS ESCALAS DE ANÁLISE --- 141

CONSIDERAÇÕES FINAIS --- 146

REFERÊNCIAS --- 151

APÊNDICE A --- 158

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INTRODUÇÃO

Pensar num sistema urbano é investigá-lo pelo conjunto e pelas suas partes, tendo sempre em vista um sistema social subjacente. O sistema urbano que se consolidou no estado da Bahia apresenta uma rede dispersa de cidades, com relativo adensamento populacional e econômico no litoral e na Região Metropolitana de Salvador (RMS), e um número pouco expressivo de cidades de porte médio no interior do estado. Reflete com menor intensidade o processo de urbanização brasileira, isto é, a mesma lógica urbana de reprodução da sociedade, própria do avanço das relações capitalistas de produção que foram se instalando no país.

A estruturação desse sistema urbano, contudo, guarda características regionais específicas, referentes ao processo histórico de formação das diferentes regiões de um país continental como o Brasil e à forma como cada região se inseria na divisão interna do trabalho, à medida que se dava o processo de industrialização e a integração do seu mercado nacional. Desse modo, podemos dizer que o estado da Bahia se caracterizou pela constituição de uma rede urbana verticalizada, com dinâmica econômica e populacional concentrada em poucos municípios. Isto também reflete na maior dependência que os municípios de menor porte têm do setor público em suas dinâmicas urbana e econômica. Configura-se, portanto, como reflexo de uma urbanização subdesenvolvida1 que, por suas características, reclama soluções próprias.

O quadro que ora se apresenta vem sendo discutido e apresentado por diversos pesquisadores do estado da Bahia2. Embora façam a discussão a partir de diferentes pontos de vista, os autores se ativeram ao mesmo fenômeno, com resultados muito semelhantes. O que também acontece com os órgãos de pesquisa nacionais e/ou estaduais que estudam a rede urbana do país, no que tange a caracterização das cidades situadas no território baiano3. Verifica-se na grande maioria desses trabalhos que, a despeito das diferenças de abordagens, o conjunto de cidades principais da Bahia é sempre o mesmo.

Entretanto, é importante considerar que a configuração do sistema urbano atual da Bahia conserva muito de suas origens na "herança colonial", ainda que vá modificando-se à medida que o processo de industrialização e urbanização no Brasil e na Bahia avança. Este

1 Ver Pereira (1973).

2 Poucos estados do país possuem tantos estudos sobre a sua rede urbana como o estado da Bahia. Entre os

trabalhos mais importantes, destacamos os estudos realizados por Silva e Silva (1989; 2006); J. Santos (2010; 2012); Porto (2003); Dias e Araújo (2011; 2013); Dias e Vidal (2012); Bahia (2001) e Alban (2005).

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quadro ganha novas determinações com as transformações recentes da economia mundial e nacional, mas ainda se caracteriza pelos entraves estruturais do subdesenvolvimento.

Inserida neste contexto sócio-espacial está a cidade de Vitória da Conquista, localizada na região sudoeste do estado da Bahia, semiárido nordestino, com população superior aos 300 mil habitantes e taxa de urbanização de aproximadamente 90%4, bem acima do que os demais municípios de seu entorno. Em termos populacionais, a cidade é a terceira maior do estado da Bahia e ocupava, no ano de 2013, a quinta posição em termos de contribuição ao PIB estadual. Atualmente, pelas funções que desempenha em seu contexto regional, Vitória da Conquista representa um importante entreposto comercial e fornecedor de serviços de saúde e de educação superior, levando-a a exercer um papel essencial no processo de circulação (e de apropriação) de riquezas em sua região. A cidade atua como elo de uma rede urbana, na medida em que articula pequenas cidades do interior do estado da Bahia e norte de Minas Gerais com o estrato superior das cidades brasileiras, com destaque para Salvador (BA), São Paulo (SP) e Brasília (DF).

Seu crescimento beneficia-se da existência de poucos centros urbanos de maior porte no interior do estado da Bahia, de forma que os fluxos econômicos e sociais tenham poucos destinos dentro do território baiano. Por este motivo, Vitória da Conquista costuma ser tratada, nos meios acadêmico, político e midiático, como polo regional de serviços, polo

educacional, capital regional etc. Contudo, estas terminologias sugerem um certo

protagonismo das cidades médias brasileiras que precisa ser melhor compreendido. De forma mais direta, é preciso compreender qual o real papel de Vitória da Conquista em sua área de influência e a posição que ocupa na divisão regional do trabalho.

Com base nestes aspectos mais gerais, o objetivo geral desta dissertação é conhecer o papel desempenhado pela cidade de Vitória da Conquista (BA) e de sua área de influência ao longo do processo histórico de mudanças econômicas e espaciais, que foram consolidando o atual sistema urbano brasileiro. Neste sentido, tem como tema as novas determinações da problemática regional e urbana, em face dos processos econômicos e sociais que se instalaram no país, a partir da década de 1980, dando continuidade ao processo de urbanização dispersa5, porém, mais recentemente, também concentrada em determinadas cidades médias. Estas cidades estão aqui compreendidas a partir de sua real capacidade de intermediação. Buscamos tratá-las dentro de uma perspectiva mais crítica, evitando a sua

4 De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2010.

5

Referimos-nos à emergência de cidades fora das áreas metropolitanas tradicionais, que lideram o crescimento urbano no pós-1980, sobretudo nas áreas de expansão de maior interesse capitalista, redefinindo o padrão de urbanização brasileiro.

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supervalorização, como entes exclusivos ou tipos ideais, objetos que pairam sobre a sociedade e o espaço.

Tomamos como fundamento teórico e metodológico o trabalho de Singer (1977), que buscou efetivar a sua análise do ponto de vista dos processos de desenvolvimento econômico, da evolução urbana e da integração nacional. Esse autor discorre, primeiro, sobre o sistema urbano no período colonial, chamando a atenção para suas características singulares: pouca integração econômica, existência de um núcleo urbano central de áreas autônomas e o vínculo com a metrópole portuguesa. Em segundo, já no período de formação do polo industrial, verifica uma maior integração nacional, com certa divisão regional do trabalho, expresso na existência de um polo industrial e uma enorme região tributária, a concentração espacial e a especialização da agricultura, efeitos diretos do processo de acumulação capitalista.

O fato é que as economias urbanas não são autossuficientes. Logo, como objeto de análise, consideramos uma área mais vasta e certa divisão do trabalho do tipo campo-cidade (SINGER, 1977). De um lado, as funções urbanas levam ao consumo de parte do excedente do campo e, de outro, à oferta de seus bens e serviços ao homem do campo. Trata-se, portanto, de investigar as cidades e suas hinterlândias e, com isto, a rede de cidades que foi, historicamente, se instalando no estado da Bahia.

Para a construção do nosso texto, nos movemos em torno da noção de

subdesenvolvimento e do tipo de urbanização que lhe é peculiar. Queremos dizer que, no

Brasil, assim como outros processos distinguíveis, a urbanização é parte integrante e “funcional” do processo mais geral de desenvolvimento capitalista que se deu aqui, durante o século XX. A urbanização representou um movimento de difusão cultural para contingentes populacionais cada vez maiores, de padrões de vida mais elevados do que os previamente existentes, e a consequente adesão desses contingentes a estes novos padrões, ainda que para muitos o seu acesso fosse bloqueado (PEREIRA, 1973). Criou-se, então, um profundo desequilíbrio entre o crescimento das necessidades de consumo e a insuficiência da oferta dada pela estrutura produtiva heterogênea, incapaz de absorver uma urbanização tão acelerada.

Furtado (1983) definiu bem o problema do subdesenvolvimento, tratando-o como um processo histórico autônomo, em vez de etapa para um grau superior de desenvolvimento. A peculiaridade do subdesenvolvimento está na forma como o setor capitalista exótico a determinadas formações econômicas, se amálgama ao sistema antigo, bem como a importância relativa da renda gerada nos dois setores. Como parte dessa renda será destinada

(22)

ao setor externo, os efeitos dinâmicos sobre a economia subdesenvolvida serão reduzidos, caracterizando a dependência externa e a estrutura dual ou heterogênea (conforme a extensão desses efeitos em cada economia nacional).

Embora as raízes da heterogeneidade sejam de ordem econômica, são os fatores tecnológicos que o aprofundam. Uma economia subdesenvolvida não pode ser considerada em separado da divisão internacional do trabalho, isto é, da existência de um setor dinâmico integrado funcionalmente à economia internacional e a forma como este setor interage com o setor de subsistência. Assim, chegamos a um padrão periférico de desenvolvimento dessas economias, onde uma parcela reduzida da população tem acesso à ampliação e diversificação do consumo, cujo estilo de vida é “copiado” dos países avançados.

Por este motivo, importa considerarmos o fenômeno da perspectiva da formação

socioespacial6. Encontramos nesta definição, elaborada por Santos (2005), o designativo para

se tomar a região como uma sociedade dada, concreta e historicamente determinada. Isto porque, nos estudos sociais, não nos deparamos com uma sociedade em geral, in abstrato, mas com tipos históricos definidos de sociedades (BREITBACH, 1988). Reconhecemos que os fenômenos regionais e urbanos estão relacionados e subordinados no espaço em diversas escalas (BRANDÃO, 2006; 2007), ou seja, têm vários níveis de determinação além do local, em especial, a escala nacional. Portanto, apesar da hinterlândia explicar parte da evolução do conjunto de cidades investigada, o sistema urbano exige maior complexidade na análise, pois a industrialização induz as regiões e as cidades a estabelecerem novas relações entre si, gera um novo ordenamento territorial e isso cria e/ou afeta as hierarquias urbanas. Deste modo, o uso da categoria formação socioespacial permite alcançar diferentes níveis de determinação do fenômeno urbano e de sua manifestação no espaço concreto, admitindo dizer que as cidades não estão isoladas e condenadas a viverem presas à sua própria hinterlândia.

Isto não quer dizer, contudo, que a área escolhida para a análise constitua uma formação socioespacial específica. Ao contrário. Mas que, ao investiga-la, reconhecemos o tipo de formação socioespacial em que está inserida7. A importância em demarcar tais complexidades analíticas visa evitar que tomemos as cidades como se dependessem apenas de si mesmas para evoluir e crescer, sobretudo, as de pequeno ou médio porte. Tais cidades, tanto por suas características como pelo tipo de urbanização que se deu no Brasil, em grande

6

De acordo com Aruto (2015), Milton Santos teria utilizado a noção de formação socioespacial para demonstrar a especificidade do espaço dentro das diferentes formações econômicas e sociais. A formação socioespacial “fornece o sentido geral da produção social, inclusive nas diferentes partes constituintes” (ARUTO, 2015, p. 70) e permite o estudo de sociedades concretas dentro de uma teoria geral da história.

7 Em sua elaboração sobre a formação socioespacial latino-americana, caracterizada como dependente, Aruto

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medida, não se destacam por possuírem uma dinâmica econômica suficientemente forte a ponto de fazerem frente ao movimento de saturação dos grandes centros urbanos do país, como se levou a crer nos anos 1970.

Especialmente nas regiões mais periféricas do país, as cidades não conseguem ser explicadas exclusivamente por seus fatores internos ou virtudes intrínsecas, nem tampouco por teorias que enfatizem esse tipo de abordagem, tais como as teorias de base de exportação,

dos polos de crescimento, dos lugares centrais8, dentre outras. A dinâmica de tais cidades é

fortemente dependente de fatores que extrapolam o seu raio de ação, ainda que possuam um terciário relativamente grande9. Neste sentido, a caracterização de suas atividades e a configuração do espaço urbano (interno) e da rede urbana ou hinterlândia destas cidades guardam consigo a herança do seu processo histórico de formação, em que se registram "marcas" das diversas etapas pelas quais passou – algumas até de difícil superação –, bem como refletem os movimentos gerais que acabam provocando maiores rebatimentos sobre o território no qual estão inseridas.

O quadro ganha maior complexidade com o padrão de crescimento que opera no país desde os anos 1980, resultante em novas formas de determinação da questão regional e urbana brasileira (CANO, 2011a). Modificaram-se alguns aspectos do processo de urbanização, outrora centrados no avanço da industrialização e nas políticas de desenvolvimento regionais. De um lado, tivemos o reforço do papel das metrópoles e, de outro, o fortalecimento de determinadas cidades médias e um processo de urbanização mais disperso. Com isto, uma questão de ordem mais geral esteve sempre conectada à construção do texto, que consiste em saber que papel estas cidades realmente cumprem na hierarquia urbana e de que modo contribuem para o desenvolvimento urbano-regional. Ilustramos a discussão com o estudo de caso de Vitória da Conquista e de sua região de influência.

Pelo exposto, estabelecemos como eixos específicos de análise os seguintes: i) uma discussão sobre as linhas gerais da evolução do sistema urbano baiano e as transformações ocorridas no processo de urbanização do estado da Bahia, entre os anos de 1940 e 2010, encarados sob o prisma do processo histórico de avanço das forças produtivas capitalistas no Brasil; ii) um exame profundo sobre o caso da cidade de Vitória da Conquista, com base no contexto mais amplo do eixo anterior, tratando mais especificamente da sua

8

Estas teorias adotam uma abordagem mais localista dos fenômenos investigados, no sentido de que enfatizam aspectos mais endógenos e locais no crescimento das cidades. Brandão (2007) faz uma síntese das contribuições que utilizam desse tipo de abordagem, bem como aponta para suas limitações e a necessidade de se pensar o fenômeno em diferentes níveis escalares de determinação.

9 O setor de serviços acaba sendo a variável preferida dos pesquisadores, tanto pelo seu peso na atividade

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relação com as demais cidades em seu entorno e, sobretudo, da formação de uma rede de cidades no interior do estado da Bahia; e iii) uma reflexão sobre o processo de transformações na hierarquia urbano-regional brasileira, em face de uma profunda heterogeneidade espacial, tomando por base a região de influência de Vitória da Conquista.

Para tanto, adotamos como procedimentos a pesquisa documental e bibliográfica, em que trabalhamos com os dados coletados nos principais órgãos estatísticos do país e da região (dados secundários), além de informações coletadas em instituições que atuam na esfera dos municípios selecionados. O trabalho se deu no âmbito da pesquisa explicativa, constituindo-se como elemento importante para a discussão inicial as contribuições da Regic-2007, que aponta as principais conexões existentes entre os municípios brasileiros (IBGE, 2008).

Diante desta problemática, buscamos responder aos seguintes questionamentos: Qual é de fato a importância da cidade de Vitória da Conquista na hierarquia urbano-regional baiana/nordestina? De que maneira a dinâmica econômica de Vitória da Conquista consolidou sua rede urbana? Que agentes dinamizadores foram fundamentais nesta consolidação?

A hipótese aqui trabalhada é que esta rede urbana que se consolida a partir de Vitória da Conquista tem o Estado como principal agente dinamizador e a sua economia fundada em termos das atividades administrativas públicas e do setor de serviços principalmente. Foi isso que, em última instância, favoreceu seu crescimento como uma importante cidade média do interior do Estado da Bahia, fortalecendo o papel relativo de Vitória da Conquista, ainda que tal processo de consolidação não contribuísse para solucionar certas debilidades do conjunto de cidades que compõem a sua rede urbana. Isto nos permite considerar o caso da rede urbana de Vitória da Conquista como resultado da lógica da estrutura hierárquica dos espaços em uma economia periférica e subdesenvolvida, consolidada na relação entre as escalas estadual, regional ou nacional, e que responde a um processo mais amplo cuja dinâmica econômica regional se concentra efetivamente em pouquíssimos centros urbanos. Nesse sentido, o desenvolvimento de uma cidade média, por si só, não dá conta de um processo maior de diversificação econômica requerida para o conjunto das cidades que ela comanda em seu território ou área de influência.

Sob a perspectiva histórica adotada, ficam claras três fases distintas. A primeira envolve as origens do processo de ocupação do território e constituição da hinterlândia de Vitória da Conquista, até o pós-Segunda Guerra, quando se intensifica o movimento de inflexão no processo de urbanização brasileira. A segunda fase refere-se ao período do desenvolvimento urbano-industrial no Brasil, ajustado às especificidades do caso de Vitória

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da Conquista (1945-1980), em que a cidade se insere no processo de formação e consolidação da rede urbana brasileira, através da integração do mercado nacional pela circulação de mercadorias. Por fim, o pós-1980 caracteriza-se por uma rede urbana bastante consolidada, dentro de uma problemática de uma urbanização subdesenvolvida que reclama soluções próprias, com destaque para os fenômenos que tiveram e têm um papel importante nas transformações do espaço urbano-regional.

Em nossa estratégia metodológica, a investigação do caso de Vitória da Conquista torna-se importante pela necessidade de se especificar melhor o tipo de relação que esta cidade estabelece com os núcleos urbanos situados nas escalas inferiores da sua hierarquia urbana. Neste passo, destacamos a influência que tem o Estado (em suas três esferas de governo) na dinamização de sua economia, sem o qual, a intensidade das interações entre aquelas pequenas municipalidades e Vitória da Conquista estariam drasticamente comprometidas. Por outro lado, a relação de Vitória da Conquista com os centros urbanos de mesma escala hierárquica ou em níveis superiores – situados em outras regiões e/ou planos escalares – requer melhor especificação das variáveis mais importantes para a análise, bem como das categorias a serem adotadas, para que comprovemos nossa hipótese. Neste sentido, preocupamo-nos em investigar dois caminhos principais: 1) se a cidade de Vitória da Conquista funciona preponderantemente como um ponto no território que articula os fluxos econômicos desse circuito superior de cidades ou 2) se, pelo contrário, atua mais fortemente sobre a sua hinterlândia, atendendo exclusivamente à sua região (IPEA, 2002).

Para proceder com a análise da Área de Influência de Vitória da Conquista, utilizamos as informações apresentadas pela Regic-2007, que identificou 95 municípios pertencentes à região tributária daquela cidade. Trata-se de uma área com mais de dois milhões de habitantes e mais de 145 mil km². A escolha por este recorte geográfico faz-se justificado porque, depois de sua publicação, em 2007, a Regic tem sido predominantemente utilizada pelos pesquisadores da área regional e urbana no momento de definição e caracterização das redes urbanas regionais. Isto levanta o questionamento sobre o uso de seus dados e resultados sem crítica metodológica devida e, até certo ponto, fazendo suposições sobre as principais transformações ocorridas com base nesses mesmos dados e resultados. Evidentemente, isso não é um problema da Regic, mas da difusão de seu uso. Nesse sentido, consideramos a necessidade de se fazer alguns contrapontos à hierarquização feita pela Regic, a fim de revelar as mudanças ocorridas na rede urbana, captando mais claramente sua dinâmica, ainda que o façamos utilizando-nos do mesmo recorte territorial.

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Todavia, para efeito da pesquisa, a utilização desse tipo de regionalização justifica-se apenas como critério de recorte territorial a orientar a coleta de dados, permitindo a conformação objetiva do espaço investigado nesta dissertação. Portanto, a adoção da Regic estará sujeita às seguintes considerações: a) a demonstração do sentido da regionalização da Regic é positiva, pois permite a utilização abrangente dos dados existentes; b) a problematização do critério estritamente centrado nos "lugares centrais", de natureza

christalleriana, pode apresentar limitações; c) a confrontação entre o caráter estático dos

dados/resultados da Regic e o caráter dinâmico das relações intra e interurbanas se faz necessário; e d) a indicação de novas hierarquias urbanas ou de alterações na participação relativa das cidades dentro da rede, que modificam o sentido das articulações existentes, podem não ser captadas pela metodologia do IBGE, em função de defasagens significativas. Estas considerações serão tratadas em capítulo apropriado.

A dissertação, além desta introdução, está dividida em três capítulos mais as considerações finais. Cada capítulo busca investigar um dos eixos de análise que foram estabelecidos. No primeiro, analisamos o processo histórico de evolução do sistema urbano baiano e dos fatores histórico-estruturais que o foram definindo, além de discutir as características atuais deste sistema de cidades. No segundo capítulo, discutimos o caso da cidade de Vitória da Conquista e a relação com sua área de influência, dentro do contexto que foi analisado no capítulo anterior. A abordagem busca captar os processos específicos que foram definindo as características daquela região, bem como discute os aspectos demográficos, econômicos e ocupacionais atuais. Por último, o terceiro capítulo toma como base o caso específico da área de influência de Vitória da Conquista para ilustrar questões mais gerais a respeito dos mecanismos que marcam as transformações na hierarquia urbano-regional do país. Nas considerações finais, sem a preocupação de resgatar todas as conclusões tiradas ao longo do texto, fazemos uma reflexão sobre os principais aspectos envolvidos em estudos específicos sobre a rede urbana em regiões com maior heterogeneidade social e econômica, como é o caso do Nordeste.

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CAPÍTULO 1. O SISTEMA URBANO BAIANO NO CONTEXTO DA

URBANIZAÇÃO BRASILEIRA (1940-2010)

Este capítulo tem como objetivo discutir as linhas gerais da evolução do sistema urbano baiano e as transformações ocorridas no processo de urbanização do estado da Bahia, entre os anos de 1940 e 2010, encarados sob o prisma do processo histórico de avanço das forças produtivas capitalistas no Brasil, que definiram um tipo específico de desenvolvimento econômico e de urbanização, com impactos diferenciados em cada região do país. Com isto, buscamos captar o processo de desenvolvimento econômico mediante seus efeitos sobre o conjunto das cidades do território baiano. O recorte temporal justifica-se pelos impactos sobre a dinâmica econômica e urbana do Brasil e, por conseguinte, da Bahia, que tiveram lugar a partir da Segunda Guerra Mundial com o processo de integração do mercado nacional.

1.1. Antecedentes históricos: condicionantes da urbanização baiana

O final do período de três séculos de colonização portuguesa no Brasil traz consigo, em termos da questão demográfica e urbana, uma mudança significativa na lógica de reprodução da sociedade. O primeiro fato a revelar essa mudança consiste no aumento expressivo da população no país já durante o século XVIII. De um total de trezentos mil habitantes, no início do século, para cerca de três milhões ao final. De acordo com Azevedo (1956), o século XVIII registrou modificações substanciais no quadro urbano brasileiro, libertando-se do predomínio litorâneo1011.

Até então, o sentido da ocupação portuguesa no Brasil dava-se conforme os interesses da metrópole. Reis Filho (2000) lembra que, pelas peculiaridades do tipo de urbanização que se formou aqui no Brasil é preciso levar em consideração a escala

intercontinental, pois, a colônia era uma extensão do processo de urbanização europeu,

envolvendo tanto o mercado português quanto o das nações sócias. A colônia operava como uma "retaguarda rural" do sistema urbano que se estruturava na Europa, o que implicava

10

De acordo com Azevedo (1956, p. 38), "a análise do mapa das vilas e cidades do século XVIII demonstra, de maneira evidente, a penetração do Bandeirismo, o povoamento da Chapada Diamantina e do vale médio do rio São Francisco, a expansão pastoril do Nordeste, a obra dos missionários na Amazônia e, em menor escala, a influência do chamado 'ciclo do muar' e da conquista de caráter militar levada a efeito no extremo sul".

11 Lobato Corrêa (2001) chama a atenção para as características espaciais desse processo, com a formação de

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numa organização do território brasileiro com baixíssimos índices de urbanização, cujo poder de comando dava-se a partir da metrópole europeia.

Para Buarque de Holanda (1995), noutra perspectiva de análise, a estrutura da sociedade colonial teve suas bases fora do meio urbano, embora não fosse necessariamente agrícola. Já Furtado (2003) lembra que a constituição da economia açucareira nordestina12, por exemplo, apesar de ter vivenciado um largo período de prosperidade, decorreu da necessidade de ocupação e proteção do território brasileiro por Portugal. Sua existência deveria atender às necessidades de acumulação primitiva da sociedade europeia, em franco processo de expansão. Com base nessa premissa é que se depreende o tipo de ocupação do território brasileiro e o seu significado "antiurbanista", isto é, da forte dependência que as cidades possuíam do meio rural.

De acordo com Buarque de Holanda (1995), ao menos nos primeiros séculos da ocupação portuguesa no Brasil, ocorreu o que ele chama de uma "tradicional situação de dependência" das cidades em relação ao domínio agrícola. Deste modo, enquanto a 'regra geral' do desenvolvimento histórico – sobretudo o europeu – costuma ser o da prosperidade do meio urbano à custa dos centros de produção agrícola, no Brasil, ao contrário, eram os centros urbanos que se ressentiam dos domínios rurais13. A consciência desse fato ajuda-nos a reconhecer as peculiaridades das cidades no período da colônia, cujas funções mais elevadas eram desempenhadas pelos senhores de terras (latifundiários).

O significado sociológico do fenômeno urbano em fins do período colonial está bastante registrado em autores como Aroldo de Azevedo, Sérgio Buarque de Holanda, Vitor Nunes Leal, Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, dentre outros. Para estes autores14, a ascensão dos centros urbanos no Brasil não viria sem que a "mentalidade rural" permeasse o novo ambiente urbano, especialmente porque o poder e as novas funções foram aí desempenhados pelos membros influentes das tradicionais famílias rurais (BUARQUE DE HOLANDA, 1995).

Conforme Azevedo (1956), o Brasil fecha esse período de três séculos com a configuração de duas regiões importantes à sua dinâmica econômica e urbana, em virtude de

12

A empresa agrícola açucareira foi o primeiro empreendimento econômico de sucesso por Portugal em terras brasileiras (FURTADO, 2003).

13 A exceção à regra, lembra o autor, seria Recife, em Pernambuco, cujo processo de urbanização teve forte

influência da ocupação holandesa (BUARQUE DE HOLANDA, 1995).

14 Sobre estes autores, consultar Azevedo (1956), Buarque de Holanda (1995), Leal (1948), Oliveira Vianna

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serem as áreas de urbanização mais intensa. São elas a região baiano-nordestina15 e a região mineiro-paulista-fluminense16, que juntas articulavam boa parte de uma hinterlândia do território brasileiro, dada sua relativa continuidade17. A primeira, em função do seu passado açucareiro e, a segunda, em virtude do Ciclo do Ouro, o que lhes conferiu formas diferentes de urbanização.

As demais áreas de urbanização apareceriam como se fossem "ilhas", sendo numerosos e expressivos os exemplos, tanto na orla marítima, como no Planalto Brasileiro e na Planície Amazônica (AZEVEDO, 1956, s/p.).

Tinha-se, como um todo, ritmos bastante diferenciados de urbanização. Só posteriormente, com o complexo cafeeiro (primeiro o escravista, depois o capitalista), e o avanço das forças capitalistas no país após 1930, é que este processo ganharia maior complexidade, constituindo hierarquias18.

A ocupação do território nordestino, por exemplo, tinha por mérito a exploração por meio de uma atividade complementar ao que era produzido na Europa. As bases da atividade açucareira eram o latifúndio (produção em larga escala, realizada em unidades autárquicas, com baixa monetização e com o domínio de grandes extensões territoriais) e a mão de obra escrava. Tais relações não viriam a dar condições posteriores ao desenvolvimento da indústria e guarda uma herança negativa19 até os dias de hoje.

As atividades complementares ao açúcar no Nordeste eram a pecuária e a economia de subsistência, o que fez com que o fim da escravidão fosse marcado por uma fuga de mão de obra para essas atividades, não criando um mercado de trabalho assalariado, condição necessária ainda que insuficiente para o desenvolvimento das relações capitalistas de uma sociedade urbana e industrial. Futuramente, o Nordeste conviveria com graves problemas referentes às secas e à estrutura de poder locais. A interpretação de Furtado (1989) é emblemática das relações que eram guardadas ali: o Nordeste não formou uma economia ecologicamente mais adaptada porque sua ocupação não foi um "projeto autônomo". Já o

15 "Estendendo-se desde a Baixada Maranhense até o baixo Mucuri, com maior penetração no sertão do

Nordeste Oriental e no trecho situado ao norte do Recôncavo baiano" (AZEVEDO, 1956).

16 "Estendendo-se desde a foz do rio Doce até a ilha de São Francisco, com maior penetração na área

áureo-diamantífera de Minas Gerais e no planalto paulista paranaense" (AZEVEDO, 1956).

17 Entretanto, embora houvesse nesse período um deslocamento do eixo econômico, social e demográfico para a

região mineiro-paulista-fluminense, não é possível falar ainda em relações de hierarquia entre essas duas regiões. É mais plausível a noção de "isolamento relativo" ou de "arquipélagos" regionais, proposta por Oliveira (2008), para caracterizar o reduzido grau de interação entre estas áreas.

18 Para Cano (2011b, p. 50 – grifo nosso), "a economia cafeeira paulista em São Paulo foi a única célula

exportadora capaz de gerar uma importante e precoce urbanização [...], onde as bases técnicas e econômicas do café exigiam sólida base urbana, gerando uma formidável rede de cidades de médio e pequeno porte".

19 Por "herança negativa", entendemos os impactos sobre a estrutura social e econômica que acumularam

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algodão nordestino, tinha como princípio ordenador a propriedade da terra, cujas relações formadas guardam as seguintes características: "a sociedade da região semiárida formou-se no âmbito das fazendas. Poder econômico e poder político eram duas faces de uma mesma moeda" (FURTADO, 1989, p. 22).

A seu turno, o ciclo do ouro e das pedras preciosas permitiu um deslocamento do eixo econômico, social e demográfico brasileiro para o Leste brasileiro, com a ascensão do Rio de Janeiro como centro da vida colonial, em detrimento da Cidade do Salvador. Sabe-se que a atividade de mineração é essencialmente urbana, em face de uma série de serviços a ela vinculados. Por esta razão, assevera Azevedo (1956), a indústria mineradora foi a atividade econômica que "teve maior influência na criação e no desenvolvimento das cidades do interior e, portanto, na produção do fenômeno urbano", repercutindo tanto na região das 'minas gerais' como no Rio de Janeiro, enquanto centro comercial e político do país.

Entretanto, conforme chamamos a atenção no início do texto, é no crepúsculo do período colonial que se acena para os fatos mais significativos ao crescimento de importância da vida urbana no país. A vinda da Coroa Portuguesa ao Brasil, em 1808, e a Declaração da Independência, em 1822, foram eventos decisivos para a ascensão dos centros urbanos. Para Azevedo (1956), as duas primeiras décadas do século XIX tiveram maior impacto sobre o processo de urbanização brasileira do que todo o século XVII.

Tais mudanças se intensificariam a partir de meados do século XIX, sobretudo, com uma série de reformas que foram implantadas entre os anos de 1851 e 1855, e a expansão do crédito bancário daí decorrente. Com isto, a sociedade brasileira vivenciaria uma relativa superação da herança rural e colonial. Um dos primeiros passos neste sentido foi a promulgação da Lei Eusébio de Queiroz, em 1850, que inibia o tráfico negreiro nos portos do país. Esta medida disponibilizou, de uma hora para outra, uma quantidade enorme de capitais para todo o tipo de especulação. A partir de então, puseram-se frente a frente a riqueza imobiliária – fundada na terra e na mão de obra escrava – com as inesperadas e instantâneas riquezas mobiliárias, advindas da especulação e movimentação de títulos, o que provocava a reação conservadora daqueles que desconfiavam da instabilidade da fortuna financeira.

O segundo passo no sentido da eliminação definitiva da mão de obra escrava só ocorreria no ano de 188820. Nesse interregno, dava-se a plena incompatibilidade de um país escravocrata em se adequar aos modernos padrões da "democracia burguesa". O meio urbano se desenvolvia, porém, sem que a autoridade do proprietário de terras sofresse réplicas. Isto se

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dava porque, de um lado, suas propriedades rurais eram quase que autossuficientes, de outro, porque daí emanava uma estrutura de poder patriarcal extremamente conservadora e tradicionalista, que impregnava a sociedade, a vida pública e os costumes em todas as atividades. A ética reinante era a de que a "entidade privada precedia sempre a entidade pública" (BUARQUE DE HOLANDA, 1995).

No Brasil, o sentido da ocupação portuguesa deixaria marcas também no desenho das cidades coloniais, pois tendo a colônia como mero lugar de passagem, a Coroa priorizou apenas a ocupação das regiões litorâneas ou próximas a rios navegáveis. A exceção cabe à descoberta do ouro nas Gerais e a iniciativa das bandeiras paulistas. Em todos os casos, a preocupação maior era a de extrair riquezas, não de edificar algo. Desse modo, a "fisionomia mercantil" da colonização portuguesa expressa o desequilíbrio entre a riqueza rural e a mesquinhez urbana21.

Estes foram elementos que permitiram a mudança de uma característica de um tipo de urbano outrora centrado exclusivamente na Corte. Alterava-se, então, o padrão de urbanização de algumas cidades importantes22. Com o encarecimento do custo de vida e de uma parte dos salários, passa a ocorrer uma nova dinâmica em função da diferenciação social pelo consumo das elites ali presentes, em relação aos demais grupos sociais.

Esses acontecimentos tiveram desdobramentos importantes para se entender as mudanças mais substanciais que vieram a ocorrer em seguida. A lei de Terras (também em 1850) e a Abolição da Escravidão ajudariam a completar essa transição. A questão do uso e da propriedade da terra e a do trabalho modificam-se a partir daí. Criou-se um mercado de terras e as condições para o surgimento de um mercado de trabalho. Por fim, a Proclamação da República, no ano de 1889, alterando a forma do Estado, daria ensejo a novos acontecimentos importantes. É no período republicano que temos as leis de terras estaduais, mexendo substancialmente na questão agrária.

De uma maneira geral, o período que antecede ao das grandes transformações urbano-industriais no Brasil, marca-se pelas mudanças gradativas do ponto de vista político-institucional. E, do ponto de vista econômico, foram mudanças que ocorreram de forma mais lenta, porém, cruciais para os desdobramentos posteriores.

21 Em Prado Júnior (1970), encontramos algumas passagens que confirmam esta afirmação. Segundo o autor, as

atenções fixavam-se nas lavouras de exportação, cujas margens de lucro ocupavam a atenção dos proprietários rurais. Quanto aos gêneros alimentícios, aquilo que não fosse produzido internamente – os latifúndios eram quase autárquicos – poderiam ser obtidos via importação. Os centros urbanos, por isso, iriam se ressentir até da falta dos gêneros básicos de abastecimento, apesar dos esforços das autoridades em adotar medidas para atender os núcleos em crescimento. O problema, no entanto, também se fazia sentir no meio rural, entre os grupos menos favorecidos.

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1.1.1 A Bahia

Na Bahia, chama a atenção o intenso esforço de urbanização registrado no século XVIII, com 27 novas vilas criadas somente nesse século, o que correspondia a 27% do total de vilas criadas no país durante aquele período23 (AZEVEDO, 1956; LEÃO, 1989). Para efeitos de comparação, Minas Gerais despontava em segundo lugar com 14 novas vilas criadas no período, as províncias de São Paulo e do Ceará vinham, em seguida, com 13 novas vilas cada. Já o Pará e a Amazônia apareciam ambos com oito vilas. No oposto, estava a província de Pernambuco, cuja única vila criada durante todo o século foi o Recife.

Nesse movimento, a Bahia chegaria ao ano de 1822 como a província com o maior número de aglomerações urbanas do país, com suas 40 vilas (18% do total do país), além da cidade do Salvador. Fenômeno que parece razoável, face à evolução do povoamento e da economia regionais (AZEVEDO, 1956), sendo a Bahia uma das regiões de povoação europeia mais antiga e tendo a cidade do Salvador, por quase trezentos anos, como a capital da Colônia. Salvador foi, por esse largo período, a "verdadeira metrópole" (sic) do Brasil, figurando, em 1730, com uma população em torno de 28 mil habitantes. Contudo, entra em declínio a partir da segunda metade do século XVIII, com a mudança da capital da colônia para o Rio de Janeiro e a crise do complexo açucareiro, fechando o século com cerca de 50 mil habitantes.

Para Leão (1989), a expansão do sistema urbano colonial na Bahia, no século XVIII, marca a consolidação do empreendimento colonial português. As atividades açucareira e mineradora, produzidas em solo baiano, foram as que mais tiveram impacto sobre o processo de povoamento do estado.

Descobertas as minas de Jacobina e do Rio de Contas nas primeiras décadas do século XVII, a nova atividade não só iria atrair população para o sertão, como também forçaria a abertura de estradas e o incremento das relações entre Salvador e as novas fronteiras do povoamento (LEÃO, 1989, p. 74).

Todavia, a distribuição da população era bastante desequilibrada, estando a maior parte (75%) concentrada na Comarca da Bahia, com base na média registrada nos três anos censitários do século XVIII, em que se destacam Salvador (31%), Cachoeira (13%), Santo Amaro (8%), Jaguaripe (6%) e Maragogipe (4%). A Comarca de Jacobina aparecia em segundo lugar, com 9% da população do estado, devido à força de atração das minas de ouro sobre as populações de outras regiões da colônia (LEÃO, 1989).

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O conjunto de aglomerações urbanas (as vilas) que se articulava na Bahia caracterizava-se pela concentração no Recôncavo e ao longo do litoral, de forma linear. Ou seja, sem adentrar muito para o interior, em virtude do uso do transporte marítimo. Uma relativa formação de vilas mais a nordeste, seguindo a rota das boiadas e uma grande dispersão de vilas e povoados no interior (LEÃO, 1989). Estes são os elementos básicos originais do sistema urbano baiano, que foram se modificando em virtude do desenvolvimento e diversificação da economia e das vias de penetração, que integravam o território.

Segundo Leão (1989), no ano de 1823, a população da província da Bahia foi estimada em 592.908 habitantes, sendo que destes, 29,3% eram escravos. O sistema de cidades que se desponta aí era composto por: uma cidade (Salvador), capital da província e "metrópole regional" (sic); 40 vilas, sendo Jacobina, Ilhéus e Porto Seguro sedes de comarca; e uma diversidade de povoados, dos quais alguns eram sedes de freguesias e outros apenas começavam a despontar como arraiais, como é o caso de Vitória da Conquista.

Para a autora, os elementos desse sistema de cidades herdados do período colonial, apesar da espoliação econômica da Metrópole portuguesa, conformam uma organização espacial com aspectos favoráveis ao posterior desenvolvimento do sistema urbano baiano (LEÃO, 1989). Consideramos, entretanto, que esta hipótese é válida apenas quando se observa o quadro regional, sem olhar o todo. A nosso ver, é importante levar em consideração a existência no período colonial de entraves ao desenvolvimento urbano no interior do estado, especialmente em sua porção semiárida, como podemos verificar a partir de Geiger (1963).

Para Geiger (1963), a Bahia adentraria o século XX com um sistema de cidades cujas características gerais eram, basicamente, a concentração econômica e demográfica em Salvador, ante a ausência de cidades “grandes” no interior, que atuassem como verdadeiras “capitais regionais”. Para se ter ideia, em 1950, já na fase desenvolvimentista, o segundo maior núcleo urbano do estado, Feira de Santana, teria menos de 30 mil habitantes. Desse modo, tínhamos um conjunto de cidades com centralidades semelhantes, em que nenhuma exercia maior domínio sobre a outra. Não existiam centros industriais no interior. Existiam apenas certa quantidade de centros urbanos que refletiam a manutenção das velhas estruturas econômicas e traços da antiga organização urbana, como as feiras de gado, centros artesanais e as áreas de mineração.

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Já no período pós-colonial (1823-1930)24, apesar da estrutura econômica isolada e dependente do mercado externo, a Província da Bahia expandia-se em virtude da independência política brasileira e o avanço da urbanização europeia e norte-americana. Destacam-se, nesse quesito, a redução dos fretes intercontinentais, o rápido crescimento demográfico europeu e estadunidense e o avanço do liberalismo econômico nas relações comerciais. Estes fenômenos permitiriam o aumento da demanda pelos produtos que faziam parte da pauta de exportação baiana (LEÃO, 1989; ALMEIDA, 2009).

De acordo com Cruz (1999, p. 130), "até meados do século XVII, a Bahia dividia com Pernambuco uma certa hegemonia econômica em relação ao Nordeste [...]. Mas essa posição foi se modificando, na medida em que a economia do açúcar começava a declinar [...], e observava-se o boom da mineração”. Entretanto, tanto a Província da Bahia como a cidade de Salvador sofreram o declínio de sua posição política e hegemônica, em face da estagnação secular da economia colonial25. A economia baiana sobreviveria dos breves momentos de recuperação da atividade açucareira e da diversificação das culturas de exportação26, tais como o fumo, o cacau etc. Neste interregno, contudo, Salvador manteria sua função de centro de prestação de serviços e de comércio.

Para Cruz (1999), o caráter agrário-mercantil da economia baiana, fortemente dependente das oscilações do mercado externo e sujeito à decadência secular das suas principais culturas comerciais, dificultaram a emergência e diversificação das atividades produtivas, reduzindo a possibilidade de expansão das relações capitalistas nestas atividades. É claro que houve esforços no sentido de avançar a atividade industrial do estado, a partir do século XIX27. Todavia, a Bahia adentrara o século XX com a mesma quantidade de estabelecimentos fabris do setor têxtil que possuía no início do último quartel do século anterior – 8,6% do total do país, no ano de 1905 (CRUZ, 1999).

De acordo com Cruz (1999), a Bahia padecia do mal comum ao Nordeste. Tratava-se de uma economia colonial estruturada na base agrário-mercantil, voltada para o setor externo, sujeita às oscilações no mercado internacional e dependente de uma única cultura. Deste modo,

24 De fato, o Brasil deixou de ser colônia no ano de 1808, com a vinda da família Real e a subsequente ascensão

à condição de Vice-Reino. Contudo, os principais estudos sobre o sistema de cidades para o período, tratam o recorte temporal desta maneira, razão pela qual a mantemos aqui.

25

O declínio e estagnação da economia açucareira e posterior desenvolvimento do complexo cafeeiro paulista é bem desenvolvido por Cano (2007) e por Furtado (2003).

26 Ver também (ALMEIDA, 2009).

27

De acordo com Cruz (1999, p. 132): "Em 1875, a Bahia possuía tantos estabelecimentos têxteis (11) quanto os existentes na cidade do Rio de Janeiro (5) e na província de São Paulo (6), juntas. E, em 1885 (12), tantos quantos existiam no conjunto das províncias de São Paulo (9), Pernambuco (1), Maranhão (1) e Alagoas (1)".

(35)

Somada à insuficiente acumulação interna, a estrutura extremamente concentrada da renda e a consequente estreiteza do mercado interno agravavam ainda mais a situação econômica provincial e as condições sociais de sua população urbana e rural. A precária e quase inexistente infraestrutura para escoamento da produção e a própria atuação do Estado, refém e protetor dos interesses do setor agroexportador, constituíam obstáculos às transformações produtivas que alavancassem a economia baiana (CRUZ, 1999, p. 132).

Houve, com isto, o decrescimento da atividade produtiva e estagnação econômica baiana até os anos 1940, uma vez que o seu desenvolvimento industrial não acompanhou o mesmo ritmo que o do Centro-sul do país (ALMEIDA, 2009).

Destes fenômenos, verificou-se o crescimento estrutural do sistema urbano baiano, que evoluiu conforme o especificado no Quadro 1.1.

Quadro 1.1 - Evolução da estrutura do sistema urbano baiano (1822-1920)

Ano Cidades Vilas

1822 1 40

1875 5 61

1899 43 80

1920 136 -

Fonte: Extraído de Leão (1989).

Da posição inicial em 1822, a Bahia saltou para um conjunto de cinco cidades e 61 vilas no ano de 1875. Este total passaria para 43 cidades e 80 vilas na virada do século e, em 1920, temos um conjunto de 136 cidades. Sobre este último ano, destacamos as modificações incorporadas pelo novo ordenamento jurídico criado pela Constituição republicana de 1891, que definia como cidade toda sede de município e vila toda sede de distrito ao extinguir a freguesia como unidade administrativa principal. Neste caso, considera-se que, entre 1899 e 1920, o crescimento do número de cidades na Bahia decorreu de mero ato formal – isto é, da nova estrutura político-administrativa do país –, sem que houvesse, necessariamente, uma mudança de fundo, decorrente de transformações estruturais.

1.2. Mudanças no centro dinâmico da economia nacional: novo padrão de

acumulação, sociedade urbana e industrial

Na seção anterior buscamos discutir como as características assimétricas e irregulares do processo de ocupação do território brasileiro refletiram na distribuição espacial de sua população e nos sistemas urbanos daí decorrentes, com especial atenção ao caso

Referências

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