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DISSERTAÇÃO_Custos e escala de produção na pecuária leiteira

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CUSTOS E ESCALA DE PRODUÇÃO NA

PECUÁRIA LEITEIRA: UM ESTUDO NOS

PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES DO

BRASIL

PATRICK FERNANDES LOPES

(2)

PATRICK FERNANDES LOPES

CUSTOS E ESCALA DE PRODUÇÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA: UM ESTUDO NOS PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES DO BRASIL

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras como parte das exigências do Curso de Mestrado em Administração, área de concentração em Dinâmica e Gestão de Cadeias Produtivas, para a obtenção do título de “Mestre”.

Orientador

Prof. Dr. Ricardo Pereira Reis

LAVRAS

MINAS GERAIS – BRASIL 2006

(3)

Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA

Lopes, Patrick Fernandes

Custos e escala de produção na pecuária leiteira: um estudo nos principais estados produtores do Brasil. / Patrick Fernandes Lopes. -- Lavras : UFLA, 2006.

86 p. : il.

Orientador: Ricardo Pereira Reis. Dissertação (Mestrado) – UFLA. Bibliografia.

1. Produção de leite. 2. Metodologia de custo. 3. Centro de custo. 4. Escala de produção. 5. Pecuária leiteira. 6. Atividade leiteira. 7. Função de custo. 8. Economia de escala I. Universidade Federal de Lavras. II. Título.

CDD-338.1771 -636.2142

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PATRICK FERNANDES LOPES

CUSTOS E ESCALA DE PRODUÇÃO NA PECUÁRIA LEITEIRA: UM ESTUDO NOS PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES DO BRASIL

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras como parte das exigências do Curso de Mestrado em Administração, área de concentração em Dinâmica e Gestão de Cadeias Produtivas, para a obtenção do título de “Mestre”.

APROVADA em 8 de fevereiro de 2006.

Dr. Luiz Carlos Takao Yamaguchi EMBRAPA-CNPGL Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos UFLA

Prof. Dr. Ricardo Pereira Reis UFLA (Orientador)

LAVRAS

MINAS GERAIS - BRASIL 2006

(5)

A Deus, em nome do nosso senhor Jesus Cristo, e à nossa boa mãe, Santa Maria,

OFEREÇO.

DEDICO

Aos meus pais, Jonosich e Suely, pelo amor, dedicação, apoio e exemplo de vida.

À minha querida e amada esposa, Lidiany, pelo amor, compreensão e apoio incondicional.

À nossa maior esperança e motivação, nossa filha Isabelly. Aos meus irmãos, Frederico, Cássio e Melissa, pelo incentivo e amizade.

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelas oportunidades e pela força que não me deixou faltar. À minha esposa, Lidiany, pela paciência e compreensão.

Aos meus queridos pais, que souberam me conduzir e educar com grande sabedoria, que dedicaram seu amor, incentivo e dedicação, meu eterno agradecimento.

Ao professor Ricardo Pereira Reis, pelo apoio sempre presente, pela confiança, pela sensibilidade, pela amizade e compreensão, pela motivadora orientação nesta dissertação e durante todos os anos de convivência, a minha eterna e sincera gratidão e admiração.

À Universidade Federal de Lavras (UFLA), em especial ao Departamento de Administração e Economia (DAE), pela confiança e oportunidade.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de estudos na fase inicial deste mestrado.

À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelas bolsas de estudo junto aos programas PET e “Graduação Sanduíche”, primordiais para meu aperfeiçoamento profissional e humano.

Ao Dr. Luiz Carlos Takao Yamaguchi, pelo apoio, confiança e co-orientação nesta dissertação.

Ao Prof. Vicente Gualberto, ao Prof. Fabiano Ribeiro do Vale e ao Prof. Renato Paiva, pelo apoio e amizade sempre presentes.

Ao Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (CNPGL-EMBRAPA), pela cessão dos dados utilizados nesta pesquisa.

Aos meus sogros, José Geraldo e Zaira, e às minhas cunhadas, Lívia, Liliany e Rosiane, pela paciência e amizade.

(7)

Aos funcionários do DAE, pelo apoio e disponibilidade, em especial Silvia e Elizabeth.

Aos professores do Departamento de Administração e Economia, pelos ensinamentos transmitidos ao longo do curso.

Ao amigo Anderson Luiz Resende Mól, pelo apoio e confiança.

A todos os colegas e diretores do Banco do Brasil S/A, cujo apoio e visão foram imprescindíveis.

A todos os amigos e colegas de curso, pela agradável convivência, amizade e apoio.

Enfim, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a minha caminhada pessoal e profissional até este momento.

(8)

SUMÁRIO Página RESUMO...i ABSTRACT ...iii 1 INTRODUÇÃO...1 1.1 Objetivos...6 2 REVISÃO DE LITERATURA...7

2.1 Panorama do leite no mundo e no Brasil ...7

2.2 A apuração dos custos na pecuária leiteira ...17

2.3 A escala na pecuária leiteira ...20

3 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO ...25

3.1 Modelo teórico...25

3.1.1 Metodologias de apuração de custos de produção ...34

3.2 Modelo analítico ...39

3.3 Região do estudo e dados básicos...42

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...46

4.1 Resultados econômicos dos produtores de leite em estudo ...46

4.2 Resultados econométricos...56

4.2.1 A função de custo total ...56

4.2.2 As funções de custo total médio e custo marginal ...60

4.2.3 Economias de escala ( EE)...63

5 CONCLUSÕES ...65

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...68

ANEXOS ...73

ANEXO A ...73

(9)

ANEXO C...79

ANEXO D ...80

ANEXO E...81

ANEXO F ...82

(10)

LISTA DE TABELAS

Página

TABELA 1 Evolução da produção nos dez maiores estados produtores de leite e no Brasil, 1991-2004 (milhões de litros)...13 TABELA 2 Freqüência relativa do número de produtores de leite estudados, por

estrato de produção diária e distribuição percentual da produção, agosto de 2000 a julho de 2001...44 TABELA 3 Freqüência das observações, por estado e distribuição percentual da

produção, agosto de 2000 a julho de 2001. ...44 TABELA 4 Custo total médio, por estado produtor, apurado pelas metodologias

“custo da atividade leiteira” e “centro de custo leite”, em R$/litro, agosto de 2000 a julho de 2001...47 TABELA 5 Produção média diária e anual das propriedades estudadas, por

estado produtor, agosto de 2000 a julho de 2001. ...49 TABELA 6 Produtividade média diária por vaca em lactação, por estado

produtor, agosto de 2000 a julho de 2001. ...50 TABELA 7 Volume médio de produção, produtividade, percentual do custo fixo

sobre o custo total e custo total médio, por estado produtor, para a metodologia “custo da atividade leiteira”, agosto de 2000 a julho de 2001...51 TABELA 8 Volume médio de produção, produtividade, percentual do custo fixo

sobre o custo total e custo total médio, por estado produtor, para a metodologia “centro de custo leite”, agosto de 2000 a julho de 2001. ...52

(11)

TABELA 9 Desempenho econômico dos estados produtores de leite pesquisados, agosto de 2000 a julho de 2001...54 TABELA 10 Resultado econômico dos estados produtores de leite pesquisados,

agosto de 2000 a julho de 2001...55 TABELA 11 Estimativas de função de “custo para a atividade leiteira” e para o

“centro de custo leite”, nos estados pesquisados, agosto de 2000 a julho de 2001...57 TABELA 12 Elasticidade custo, retorno à escala e economia de escala para os

estados estudados, considerando o “custo da atividade leiteira” e o “centro de custo leite”, agosto de 2000 a julho de 2001. ...64

(12)

LISTA DE FIGURAS

Página

FIGURA 1 Principais países produtores de leite, 2004. ...7 FIGURA 2 Principais países exportadores de leite em pó integral, 2003...9 FIGURA 3 Principais países importadores de leite em pó integral, 2003. ...10 FIGURA 4 Produção de leite nacional e por regiões, 1990-2004 (milhões de

litros). ...12

FIGURA 5 Curvas de CMeLP, CMaLP, CTMeCP, CMaCP e escala ótima de produção...30

FIGURA 6 Curvas de custo total médio (CTMe), custo variável médio (CVMe), custo marginal (CMa) e oferta da empresa. ...33 FIGURA 7 Centros de custos de produção de leite. ...37 FIGURA 8 Representação da curva de custo total pela metodologia do “custo da

atividade leiteira”, para todos os estados, agosto de 2000 a julho de 2001...59 FIGURA 9 Representação da curva de custo total pela metodologia do “centro

de custos leite”, para todos os estados, agosto de 2000 a julho de 2001...60 FIGURA 10 Representação da curva de custo total médio do “custo da atividade

leiteira”, para todos os estados, agosto de 2000 a julho de 2001. ...62 FIGURA 11 Representação da curva de custo total médio do “centro de custo

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RESUMO

LOPES, P. F. Custos e escala de produção na pecuária leiteira: um estudo nos principais estados produtores do Brasil. 2006. 86 p. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.*

O sistema agroindustrial de leite brasileiro encontra-se inserido em um cenário

econômico em que ocorrem situações de mercado típicas de concorrência

imperfeita. Neste contexto, é exigido do segmento de produção desempenho que resulte na disponibilidade de matéria-prima em grande volume e baixos custos. A determinação dos custos de produção, entretanto, muitas vezes, é questionada, sob a alegação de que o valor calculado não reflete a realidade. As razões para isso são diversas, mas, uma das principais refere-se aos critérios metodológicos utilizados. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo comparar duas metodologias de apuração de custos e identificar escalas de produção na pecuária leiteira dos principais estados produtores de leite no Brasil, ou seja, os estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Além disso, estimaram-se os custos de produção na pecuária leiteira nos referidos estados e as funções de custos de produção da atividade leiteira, considerando-se as duas diferentes metodologias, definidas por “custo da atividade leiteira” e “centro de custos leite”. Para tanto, analisaram-se dados técnicos e econômicos de 162 propriedades rurais localizadas nesses principais estados produtores, abrangendo o período de agosto de 2000 a julho de 2001. Os resultados indicaram que os produtores estudados apresentaram bons índices de produtividade por vaca em lactação, que foram maiores do que as médias de estudos anteriores, bem como a média nacional. A apuração de custos pela metodologia de “centro de custos” possibilitou uma maior precisão em relação às análises do custo total médio na pecuária leiteira, evidenciando que, quando apurados somente os custos relacionados ao subsistema leite, os preços recebidos foram suficientes para remunerar o produtor nos estados avaliados. Ficou evidente a ocorrência de ganhos com a escala de produção, tendo em vista a redução dos custos médios para maiores níveis de produção, bem como os indicadores de rendimentos à escala crescentes e de economias de escala, indicando ganhos com o crescimento da produção. Os resultados evidenciam que o estudo é composto por produtores que buscam maior eficiência produtiva e que ainda possuem possibilidades de ganho no que se refere a melhor combinação, alocação e aproveitamento dos recursos produtivos e gerenciais. A análise dos indicadores de economia de escala apurados por meio das duas diferentes metodologias apontou que a possibilidade de redução dos custos médios é mais significativa para o sistema global de produção, ou seja, para a atividade leiteira, que para o subsistema leite, evidenciando que os demais

(14)

subsistemas da atividade global apresentam um pior aproveitamento dos recursos produtivos e gerenciais que o subsistema de produção de leite.

___________

* Comitê orientador: Ricardo Pereira Reis – UFLA (Orientador), Luiz Carlos Takao Yamaguchi – CNPGL/EMBRAPA (Co-orientador).

(15)

ABSTRACT

LOPES, P. F. Costs and scale of milk production: a study in the major Brazilian States. 2006. 86 p. Dissertation (Master in Management) - Federal University of Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brazil.*

The Brazilian milk system agribusiness is inserted in the economic scenery where market situations, typical of imperfect competition, happen. In this context, the production development segment that results at the availability of raw material in great quantity and low cost is demanded. The production determination cost, although, many times is questioned, under allegation that calculated value doesn't reflect the reality. There are several reasons for this, but one of the main, refers to the criterion used in the methodology. Because of this, the present research had as an objective, to compare two checking cost methodologies and identify the milk production scales in the main states that produce milk in Brazil, that are: Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná and Rio Grande do Sul. Besides the milk production cost in the mentioned states and the function of cost production of milk activity was estimated considering two different methodologies, determined by: “milk activity cost” and “milk center cost”. Therefore the technical and economic results of 162 country estates located in those main states were analyzed from August 2000 to July 2001. The results indicated that the producers that were studied, presented a good productivity. The cost investigation by the methodology of "milk center cost" made possible a bigger accuracy related to the analysis of the total medium cost in the milk production, making clear that when accurate, only the cost related to the milk subsystem, the price received was enough to remunerate the producer in the states evaluated. It was clear that earnings occurrence with the production scale, having in mind the medium cost reduction to bigger production averages, as well the profits that indicates the growing scales and economics scale indicating profits with the production development. The results make clear that the study is formed by producers that look for greater productive efficiency and that there is an even profit possibility when talking about better combination, allocation and improvement of the productive and management resources. The indicators analysis of scale economy selected through two different methodologies pointed that the reduction possibility of medium cost is more significant for the production global system, that is, to the milk activity, than to the milk subsystem making clear that the other subsystems of the global activity presented a worse use of the resources than the milk production subsystem. ___________

* Guidance Committee: Ricardo Pereira Reis – UFLA (Adviser), Luiz Carlos Takao Yamaguchi – CNPGL/EMBRAPA (Co-adviser).

(16)

1 INTRODUÇÃO

O leite é um dos alimentos mais nutritivos e completos encontrados na natureza. Tanto ele quanto seus derivados podem constituir uma poderosa fonte de calorias, cálcio, fósforo, vitaminas e proteínas de alta qualidade. Em decorrência deste conhecido valor nutricional e do acesso relativamente fácil por parte da população, o leite possui uma importante participação dentro da dieta e da cultura alimentar brasileira.

Como se não bastasse seu valor nutricional, é inegável a sua importância sócio-econômica. A cadeia produtiva do leite pode ser encontrada, mesmo que em diferentes aspectos, em todas as regiões brasileiras, atuando como uma atividade geradora de renda, tributos e empregos.

De acordo com Nogueira Netto et al. (2003), a pecuária leiteira está presente em aproximadamente 40% das propriedades rurais do Brasil, sendo explorada por pequenos, médios e grandes produtores.

Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), realizada em 2004, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram produzidos naquele ano 23,5 bilhões de litros de leite (IBGE, 2006). Este valor representou um aumento de 5,49% sobre 2003 e um recorde para o setor. De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), esta produção contribuiu para uma menor dependência do Brasil em relação às importações do produto (CNA, 2006).

Além disso, de acordo com dados apresentados por Martins & Guilhoto (2001), o setor leiteiro e seus derivados possuem a vantagem de gerar postos de trabalho por um custo relativamente baixo. Os autores concluíram que para cada aumento de R$ 5.080,78 na demanda final de leite e derivados, um emprego permanente é gerado na economia.

(17)

As mudanças econômicas ocorridas no início da década de 1990 contribuíram para torná-la um divisor de águas para a cadeia produtiva do leite. Essas mudanças exigiram rápidos ajustamentos estratégicos e estruturais do setor agroindustrial do leite (Reis et al., 2001). A partir deste período, profundas transformações ocorreram em todo o setor, as quais foram induzidas pela desregulamentação do mercado, pela política de abertura comercial, pela formalização do Mercosul, pela estabilidade macroeconômica, pela nova estrutura de produção e comercialização e também pelo crescente poder e discernimento do mercado consumidor, cada vez mais segmentado e exigente em qualidade, preços e variedade de produtos (Leite & Gomes, 2001; Zoccal, 2001).

Estes fatos trouxeram um aumento da concorrência em todos os elos do agronegócio e os têm forçado a implementar novas estratégias, visando obter ganhos de competitividade (Souza, 2000; Zoccal, 2001), além da necessidade de maiores produtividades e escalas de produção (Reis et al., 2001).

Nesse sentido, novos procedimentos têm sido adotados, visando ao aperfeiçoamento da gestão de custos e o incremento dos níveis de qualidade, desde a matéria-prima até o produto final.

De maneira geral, a produção primária do leite é constituída por produtores heterogêneos, desde os não especializados aos tecnificados, estabelecendo unidades de produção com diferentes níveis de tecnologia e produtividade.

Sendo assim, os reflexos desse novo ambiente manifestaram-se sobre a produção primária por meio de uma maior especialização do setor produtivo, na redução do número de produtores, na melhoria da qualidade do produto, no aumento da escala de produção, no aumento da produtividade e na redução da sazonalidade (Leite & Gomes, 2001).

(18)

Destaca-se que o setor produtivo, por representar o segmento mais vulnerável da cadeia, devido às limitações tecnológicas e gerenciais, é aquele que mais intensamente tem sofrido as conseqüências das novas exigências do mercado. Alencar et al. (2001) afirmam que ocorrem, no agronegócio do leite, situações de mercado típicas de concorrência imperfeita, em que as empresas que atuam nos setores a montante (fornecedores de insumos) e a jusante (indústria de laticínios) do sistema agroindustrial são poucas, organizadas em associações de interesses e interagem com um grupo amplo, heterogêneo e disperso de produtores.

Desta maneira, as relações que se estabelecem entre o setor agropecuário e os segmentos a montante e a jusante assumem, respectivamente, características de oligopólio e oligopsônio. Esta situação leva os produtores rurais a disporem de poucos recursos para negociarem seus interesses no interior da cadeia produtiva do leite, inclusive à menor capacidade de negociação de preços (Alencar et al., 2001).

Por causa desta estrutura de forças, a indústria tem facilidade de estabelecer os preços que irá pagar, levando em consideração a perspectiva de comportamento da demanda e do setor varejista, bem como a facilidade de aquisição de produtos importados, permitindo-lhe a imposição de perdas ao segmento produtor da matéria-prima (Leite & Gomes, 2001 e Martins, 2002).

Uma evidência disso é o fato de que, no período 1990-99, o preço do leite recebido pelos produtores decresceu, em média, 7,5% ao ano. Nesse mesmo período, os dois itens de maior peso na formação do custo de produção do leite, salários e rações, também apresentaram taxas geométricas anuais de crescimento negativas, respectivamente, 6,2% e 0,15%. Além disso, a produtividade, medida em litros de leite/vaca ordenhada/ano, cresceu a uma taxa de 5,4% ao ano (Yamaguchi et al., 2001).

(19)

O resultado da interação destes eventos foi a redução do custo médio de produção, compensando, em parte, o declínio no preço real unitário recebido pelos produtores (Fassio, 2004).

As reduções de preço no varejo acarretaram uma queda de preços bem mais acentuada para os produtores (Leite & Gomes, 2001), o que se comprova contrastando-se os dados apresentados por Yamaguchi et al. (2001). Segundo estes autores, na década de 1990, enquanto o preço recebido pelos produtores decresceu a uma taxa anual de 7,5%, o preço real pago pelos consumidores registrou um decréscimo da ordem de 4,3% ao ano, representando, portanto, uma diferença de 3,2%.

Diante desse cenário, caracterizado por declínio dos preços recebidos e limitado poder de negociação no mercado, ou seja, por não conseguir controlar o preço do produto que vende, o produtor necessita administrar as variáveis que estão sob o seu controle. Sendo assim, de acordo com Fassio (2004), uma das alternativas de que dispunham os produtores de leite para se manterem na atividade foi a redução dos custos de produção, cujo conhecimento é essencial para o efetivo controle da empresa rural e para o processo de tomada de decisão.

Trata-se de uma estratégia para tornar seu produto competitivo. Dessa maneira, o resultado econômico em um mercado caracterizado pela concorrência imperfeita dependerá do gerenciamento dos custos de produção e dos ganhos de escala. O aumento da eficiência produtiva torna-se fator decisivo para a competitividade do setor leiteiro (Reis et al., 2001).

De acordo com Fassio (2004), uma grande questão que surge, porém, é até que ponto os pecuaristas são capazes de modificar a sua estrutura produtiva, alcançando ganhos de produtividade, aumento de escala e a conseqüente redução de custos. Fassio (2004) ainda defende que deve-se indagar, portanto, se os produtores de leite reúnem os recursos financeiros, o conhecimento e as condições necessários para implementar tais mudanças. Em outras palavras, é

(20)

importante que se estime qual o potencial de aproveitamento dos recursos disponíveis por meio de ganhos de escala que permitam ao produtor de leite permanecer produzindo, considerando-se a sua estrutura produtiva, resistindo, desta maneira, à queda dos preços recebidos.

Esse pensamento é ainda mais relevante considerando a grande atomicidade dos produtores por todo o território nacional e a predominância de pequenos e médios produtores. Muitos destes, frente a essas adversidades, tendem, então, a abandonar a atividade ou a ingressar no mercado informal, buscando adequar-se ao preço que lhe é oferecido.

Segundo Martins & Guilhoto (2001), a dificuldade de adaptação a um cenário mais competitivo promoveu a exclusão de 36% dos produtores entre 1996 e 2000. Dessa maneira, de acordo com Marques (1999), a unidade de produção pode ter, na eficiência produtiva, a condição necessária para a sobrevivência e o crescimento dentro da economia de mercado.

Nesse sentido, afirma-se que, consideradas a grande heterogeneidade da cadeia produtiva do leite no Brasil e a sua presença em todo o território nacional, é salutar a identificação de indicadores técnicos e econômicos que possam permitir a utilização da gestão de custos como um instrumento de competitividade da pecuária leiteira nacional, facilitando uma compreensão mais clara das reais capacidades de resistência dos produtores nas diferentes realidades em que se encontram. A determinação das condições de eficiência econômica e dos níveis de escalas de produção na pecuária leiteira pode indicar a correta alocação dos recursos produtivos e auxiliar no estabelecimento de políticas públicas que considerem as diferenças regionais na cadeia produtiva do leite.

(21)

1.1 Objetivos

Por meio deste estudo, buscou-se estimar os custos e as escalas de produção na pecuária leiteira dos estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Especificamente, os objetivos foram:

• estimar os custos de produção da pecuária leiteira nos referidos estados, segundo duas metodologias;

• comparar duas metodologias de estimação de custos de produção; • estimar as funções de custos de produção da pecuária leiteira;

• identificar a ocorrência de escalas de produção nos estados pesquisados, com base nas duas metodologias.

(22)

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Panorama do leite no mundo e no Brasil

A produção mundial de leite está concentrada em alguns poucos países. No ano de 2004, a produção mundial de leite foi de 515,8 bilhões de litros, sendo 70% desse volume produzido na Europa e na América. Os quinze maiores produtores foram, em 2004, responsáveis por 63,4% da produção mundial. O gráfico da Figura 1 mostra que somente seis países responderam por 42,9% de todo o volume produzido. O Estados Unidos da América (EUA) é o maior produtor de leite do mundo, detendo 15% da produção mundial.

15 7,3 6 5,4 4,7 4,5 0 5 10 15 20

EUA Índia Rússia Alemanha França Brasil

%

Fonte: Zoccal (2004), adaptado pelo autor.

(23)

Naquele ano, o Brasil produziu 23,5 bilhões de litros de leite, representando 4,5% da produção mundial e ocupando a sexta posição no ranking dos maiores produtores. A produção brasileira, entretanto, vem crescendo e a participação do país na produção mundial de leite vem se tornando mais significativa. Registra-se que, em 1997, a participação do Brasil era de 3,5% e o país era o oitavo maior produtor (Brandão & Leite, 2002).

Existe uma tendência de redução da produção de leite nos países desenvolvidos e de crescimento nos países em desenvolvimento. Nos últimos 25 anos, a produção brasileira de leite aumentou 119%, passando de 10,2 bilhões de litros, em 1979 para 22,3 bilhões, em 2003. Para o ano de 2005, estima-se que tenham sido produzidos 25 bilhões de litros de leite.

Ao analisar o comércio mundial de leite, percebe-se que há uma concentração das exportações deste produto em poucos países, como ocorre na produção. Os gráficos das Figuras 2 e 3 apresentam os valores de participação nas exportações e importações mundiais dos principais países ou regiões atuantes no comércio internacional de leite em pó integral no ano de 2003. Note-se, na Figura 2, que apenas três países e a União Européia foram responsáveis por 94,4% do valor das exportações mundiais. Deve-se salientar que, dentre os países que compõem a União Européia, apenas Alemanha e França encontram-se entre os principais produtores de leite.

(24)

40,2 11,8 8,1 0,7 0,4 4,5 100,0 34,3 0 40 80 120 Uniao Européia Nova Zelândia

Austrália Argentina Polônia Estados Unidos

Outros Mundo

%

Fonte: Brasil/MAPA (2005), adaptado pelo autor.

FIGURA 2 Principais países exportadores de leite em pó integral, 2003.

Em relação às importações, observa-se, no gráfico da Figura 3 que, ao contrário das exportações, não ocorre grande concentração no mercado. No ano de 2003, o Brasil ocupava a segunda posição entre os maiores importadores.

(25)

8,4 7,5 5,5 4,3 3,6 3,3 67,4 100,0 0 40 80 120

Argélia Brasil Venezuela China Malásia Filipinas Outros Mundo

%

Fonte: Brasil/MAPA (2005), adaptado pelo autor.

FIGURA 3 Principais países importadores de leite em pó integral, 2003.

Os países em desenvolvimento têm aumentado sua participação na produção mundial de 24% para 32%, entre 1983 e 1993, conforme dados apresentados por Delgado et al. (1999). Segundo Brandão (2001), o Brasil tem acompanhado esta tendência, apresentando um contínuo aumento de participação na produção mundial.

A produção de leite no Brasil, entretanto, vem crescendo, nas últimas décadas, a taxas superiores às do incremento da população, o que significa que a produção per capita tem aumentado nos últimos anos. No período de 1970-1999, a produção brasileira cresceu, em média, 3,8% ao ano, valor superior, portanto, à taxa anual de crescimento da população, que foi de 1,9% (Yamaguchi et al., 2001). Em 2005, estima-se que o aumento da produção tenha sido de 6,5% em relação ao ano anterior.

Apesar do menor crescimento populacional na década de 1990, a partir de 1994, com a implantação do Plano Real, o consumo de leite e derivados

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aumentou significativamente. Isso ocorreu, principalmente, devido à redistribuição de renda promovida pelo controle da inflação. Em 2005, o consumo per capita está estimado em 137,1 litros de leite por habitante, ou seja, um aumento de 23,74% em relação ao ano de 1994.

Devido a esta tendência de aumento de consumo, Galan (2002) avalia que ainda existem boas oportunidades para o crescimento das vendas no mercado interno, haja vista os elevados índices de consumo em países, como os da Europa, por exemplo. Entretanto, esta tendência só se confirmará na presença de condições favoráveis à elevação da demanda interna, em que se destacam o crescimento econômico e o aumento do poder aquisitivo da população e à permanência do produtor como agente profissional e estruturado.

De acordo com Martins (2002), o segmento produtivo do sistema agroindustrial do leite sofreu profundas transformações após o período de desregulamentação. Além do aumento na produção nacional em 62,1%, desde a década de 1990, conforme mostra o gráfico da Figura 4, houve uma mudança na geografia da produção.

Em virtude da forte concentração no segmento de industrialização do leite, causada pela entrada de novas indústrias de processamento e pelas ocorrências de fusões e aquisições, as estratégias de produção e comercialização adotadas pela indústria de processamento levaram à intensa competição por matéria-prima, resultando no deslocamento geográfico da indústria de lácteos em função de condições mais favoráveis para aquisição de leite “in natura”. Em conseqüência deste deslocamento, o segmento industrial tem provocado incrementos de produção e produtividade para além das bacias leiteiras tradicionais (Jank & Galan, 1999; Rufino, 1994). As facilidades no armazenamento e transporte, causadas principalmente pela implantação do tanque de resfriamento e da coleta a granel, pelo lado da unidade de produção e pela popularização do leite longa vida, pelo lado do consumidor, também

(27)

viabilizaram uma expansão da produção em áreas distantes dos grandes centros consumidores, notadamente no estado de Goiás (Meireles & Alves, 2001).

Enquanto as regiões Centro-Oeste e Sul aumentaram a produção em 113,2% e 91,5%, respectivamente, a região Sudeste, principal produtora no país, registrou um crescimento de apenas 33,5%. Também merece destaque a região Norte. Embora com pequena participação na produção nacional, esta aumentou a sua produção em 199,6%. O pior desempenho foi obtido pela região Nordeste, cujo crescimento atingiu apenas 32,3%.

0 5000 10000 15000 20000 25000

Sudeste Sul

Centro-Oeste

Nordeste Norte Brasil

P roduç ã o (m il hõe s de L ) 1990 2004

Fonte: Brasil/MAPA (2005), adaptado pelo autor.

FIGURA 4 Produção de leite nacional e por regiões, 1990-2004 (milhões de litros).

De acordo com os dados da Tabela 1, observa-se que a produção está se expandindo de forma mais acelerada em estados do Norte e Centro-Oeste, notadamente Goiás, Rondônia e Pará. As áreas de maior concentração da

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produção de leite não são distribuídas de forma homogênea no país. No ano de 2004, cerca de 73% do volume produzido concentraram-se nos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. Contudo, percebe-se que os maiores produtores de leite ainda são os estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo que, juntos, totalizam 66,7% da produção nacional. Dessa maneira, ainda é latente a importância destes estados como referência no sistema agroindustrial do leite.

TABELA 1 Evolução da produção nos dez maiores estados produtores de leite e no Brasil, 1991-2004 (milhões de litros).

1991 2004

Minas Gerais 4.319 6.629 53,48

Goiás 1.166 2.538 117,67

Paraná 1.240 2.395 93,15

Rio Grande do Sul 1.488 2.365 58,94

São Paulo 1.980 1.739 -12,17

Santa Catarina 661 1.487 124,96

Bahia 795 843 6,04

Rondônia 252 646 156,35

Pará 245 639 160,82

Mato Grosso do Sul 421 491 16,63

Total 15.079 23.500 55,85

Estados

Produção

Evolução %

Fonte: Brasil/MAPA (2005), adaptado pelo autor.

Apesar disso, há de se ressaltar que, segundo Gomes (2003), os estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, entre os quais se pode incluir também o estado do Pará, são novas fronteiras que se abrem com grande potencial de produção, em razão do clima quente e úmido, apropriado para a produção de forragens e, portanto, para a produção de leite a pasto e de baixo custo. Estas características demonstram, pois, o grande potencial de crescimento desses estados e o elevado poder de competição com outras regiões do país.

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Estes fatos levam à compreensão de que os estados que atualmente lideram a produção devem estar atentos aos diferenciais competitivos das novas fronteiras agrícolas, procurando buscar uma eficiência produtiva que continue diferenciando-os.

Além disso, o significativo crescimento da produção de leite na região de cerrado, especialmente em Goiás e nas regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, é também decorrente da prioridade ao pasto como alimento volumoso do rebanho, durante o verão. Os sistemas de produção nestas regiões podem suportar um menor preço do leite para sua sobrevivência e são menos vulneráveis às crises do mercado de lácteos, em razão da maior flexibilidade para serem conduzidos, com forte predominância para o gado mestiço Europeu-Zebu e utilização de pasto como alimento principal.

Nesse sentido, a análise da Tabela 1 destaca claramente o desempenho de Goiás que, no período de 1991-2004, registrou o segundo maior crescimento em termos absolutos (1,37 bilhão de litros). De acordo com Gomes (2003) e Paula e Carvalho Júnior (2003), os principais fatores que promoveram o avanço da produção de leite na região Centro-Oeste foram: 1) menor custo da suplementação alimentar do rebanho, em função do menor preço do concentrado nas regiões produtoras de grãos; 2) aumento do consumo de leite longa vida; 3) incentivos governamentais por meio de programas especiais de crédito rural, principalmente por meio do Fundo Constitucional do Centro-Oeste; 4) perda de competitividade da pecuária de corte extensiva e 5) amplo programa de difusão de tecnologia patrocinado pela indústria laticinista, pela Federação da Agricultura e por órgãos de extensão rural.

Gomes (2003) afirma que os sistemas de produção instalados em Goiás e no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, que são regiões dominadas pelo cerrado, têm no pasto a base da alimentação do rebanho. Logo, são sistemas caracterizados por baixo custo de produção e elevado poder de competição em

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relação a regiões tradicionais na produção de leite, como São Paulo e Sul de Minas.

Em conseqüência disso, observa-se uma retração na produção de São Paulo em 12,17%. Segundo Fassio (2004), essa retração em São Paulo se deve, principalmente, aos elevados custos de produção verificados no estado. Por outro lado, apesar do seu menor crescimento relativo em comparação a Goiás, Minas Gerais apresentou a maior expansão do volume produzido, 2,3 bilhões de litros, sustentando a posição de maior produtor no Brasil (Tabela 1).

No período 1990-99, a produção brasileira cresceu, enquanto o preço recebido pelos produtores, conforme destacaram Souza (2000) e Yamaguchi et al. (2001), decresceu. Este comportamento, aparentemente contraditório, de elevação da produção frente à queda dos preços recebidos pode ser explicado pela redução do custo médio de produção. Esta redução foi obtida graças ao aumento da produtividade do rebanho, à queda dos preços de importantes insumos e à elevação da escala de produção (Souza, 2000; Yamaguchi et al., 2001). Martins (2002) aponta também, como causas do aumento da produtividade, a difusão e o incentivo à adoção de tecnologias mais eficazes, além da sensível redução do imposto inflacionário.

Como citado anteriormente, observa-se, atualmente, uma tendência à concentração de mercado no segmento da indústria de laticínios, com a predominância de empresas multinacionais. Registra-se, portanto, a ocorrência de um grande número de incorporações, fusões e fechamento de empresas (Martins, 2002; Primo, 2001). Outra tendência verificada no setor refere-se ao fato das indústrias laticinistas estarem buscando aumentar o volume de captação e, ao mesmo tempo, reduzir o número de fornecedores de matéria-prima.

Neste processo, muitos produtores deixam de produzir leite comercialmente, enquanto outros passam a entregá-lo conjuntamente ao laticínio. Entretanto, parcela significativa dos produtores excluídos acaba

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migrando para a informalidade, originando não apenas um problema sócio-econômico, mas também de saúde pública. Segundo Jank & Galan (2000), os produtos não inspecionados respondem por 40% de toda a produção nacional.

Dentro desta conjuntura, pode-se considerar que os estados de Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, pelas suas importâncias na produção de leite nacional, representam um benchmark para as demais bacias leiteiras do país.

Apesar do expressivo crescimento na década de 1990, tendo alcançado a produção de 1.096 litros/vaca em 1999, a produtividade brasileira ainda se encontra muito distante daquela verificada em países como os Estados Unidos, com 7.953 kg/vaca/ano, União Européia, com 5.692 kg, Argentina, com 3.824 kg e Nova Zelândia, com 3.489 kg/vaca/ano, em 1999 (Yamaguchi et al., 2001).

Entre as principais causas da baixa produtividade da exploração leiteira está a intervenção do governo nos mercados, principalmente por meio do tabelamento de preços iniciado em 1945. Segundo Martins (2002), a regulamentação do mercado de leite e derivados foi responsável, em grande parte, pela perpetuação de baixas taxas de crescimento da produção, baixos índices zootécnicos, pouca especialização do rebanho e restrita adoção de práticas higiênico-sanitárias.

O desenvolvimento da atividade leiteira também foi inibido pela baixa remuneração do produto, causada em decorrência de metodologias de custo operacional utilizadas para balizar reajustes. Esta prática contribuiu para a descapitalização da pecuária leiteira nacional.

Adicionalmente, houve elevada instabilidade de preços recebidos pelos produtores, inibindo a realização de investimentos em modernização tecnológica. Entretanto, a partir da desregulamentação do setor, ocorrida em 1991, verificou-se uma significativa evolução de todo o sistema agroindustrial do leite, que se tornou mais dinâmico e eficiente.

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2.2 A apuração dos custos na pecuária leiteira

O custo de produção constitui-se na soma dos pagamentos efetuados pelo uso dos recursos e serviços, incluindo o custo alternativo do emprego dos fatores produtivos. Entretanto, na pecuária leiteira, o leite é produzido simultaneamente com outros produtos, como bezerros, animais de descarte e esterco, o que a caracteriza como uma exploração típica de produtos conjuntos (Reis et al., 2001).

Esta característica influencia para que a determinação dos custos da pecuária leiteira seja complexa. Em face disso, muitas vezes, quando é feita, o resultado da determinação destes custos é questionado, sob a alegação de que o valor calculado por uma instituição é menor ou maior que aquele de outra instituição. As razões para tais diferenças são diversas. Uma das principais refere-se aos critérios metodológicos utilizados e ao fato do cálculo do custo de produção de leite exigir cuidados que, se não forem observados, conduzem a resultados que não refletem o que está acontecendo no campo.

Tradicionalmente, o custo de produção do leite é estimado a partir do “custo total da atividade leiteira” (que inclui as atividades de produção de leite e de criação de animais de reposição), utilizando-se de algum critério ou artifício arbitrário. Em alguns casos, tem-se adotado o critério de deduzir o valor dos animais descartados do custo total da atividade para se obter o custo do leite, pressupondo que o valor do descarte é exatamente igual ao valor gasto na criação dos animais descartados. Outro procedimento utilizado é o artifício de considerar como custo do leite o percentual de participação da renda do leite na renda bruta da atividade, pressupondo rebanho estabilizado ou promovendo ajustes no rebanho quando não estabilizado. A preocupação com a estabilidade do rebanho é justificada para garantir as mesmas condições nos custos e nas rendas, visto que, se isso não for observado, pode acontecer super ou subvalorização do custo de produção de leite. Ambos os critérios induziriam a

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erros na estimativa do custo de produção do leite. Por causa disso, alguns autores alegam que o custo de produção de leite, estimado de forma tradicional, tem pouco sentido e utilidade como instrumento referencial na tomada de decisão.

Entretanto, um novo enfoque se refere aos chamados “centros de custos” da atividade leiteira, que podem ser analisados separadamente ou em conjunto. Dessa maneira, para efeitos de cálculo e análise de custos, o sistema global de produção de leite poderia ser segmentado em diversos subsistemas interligados entre si.

Acredita-se que a forma de apuração e análise de custos por meio dos “centros de custos” traz grandes vantagens em relação à forma tradicional de estimação do custo total de produção do leite. O procedimento permitiria estudar os processos de transformação ocorridos nos vários setores que compõem o sistema global e apropriar os custos incorridos em cada um deles especificamente. Outra vantagem desse procedimento é que permitiria ao administrador conhecer o custo real do litro de leite produzido, sem a necessidade de recorrer a artifícios subjetivos, como ocorre na forma tradicional. Além disso, com o conhecimento deste custo real, os estudos de escalas de produção e de fronteiras de eficiência econômica podem ser melhores visualizados e direcionados, tornando-se, assim, mais precisos.

Nesse sentido, torna-se fácil perceber que o custo para produzir um litro de leite com eficiência econômica depende da eficiência de como é organizada cada uma das atividades que compõem o sistema global de produção de leite, ou seja, a “atividade leiteira”, principalmente ao considerar-se o atual cenário econômico, no qual a sobrevivência e a sustentabilidade de qualquer empreendimento requerem a busca constante de eficiência econômica e de vantagens competitivas.

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Sendo assim, para cálculo e análise de custos, como instrumento de decisão e gestão, a “atividade leiteira”, que se refere ao sistema global de produção, pode ser segmentada em setores ou “centros de custos”, que podem ser, por exemplo, produção de leite, produção de animais para reposição e produção de alimentos volumosos. A metodologia adotada para a segmentação do sistema global de produção de leite baseia-se em Yamaguchi (2000).

Dessa maneira, no segmento de produção de leite, são apropriados os custos de capital imobilizado neste setor e as despesas operacionais incorridas com as vacas em lactação e as vacas secas. No segmento de produção de animais para reposição, são apurados os custos decorrentes da criação de fêmeas a partir do nascimento até a data do primeiro parto, acrescidos do custo do capital imobilizado nesse setor. Por fim, no segmento de produção de alimentos volumosos, são computados os custos devidos à formação, manutenção, colheita e armazenamento de forrageiras anuais e de sua distribuição no cocho. Computam-se também o custo do capital imobilizado e as despesas de manutenção de forrageiras perenes, na forma de pastagens ou forrageiras de corte. Neste último caso, podem ser computadas ainda as despesas com a colheita, armazenamento, se for o caso e distribuição nos cochos.

Estes são exemplos de como um estudo de segmentos e subsistemas do sistema global de produção de leite poderia ser conduzido de forma a identificar “centros de custos”, que podem ser tantos quantas forem as necessidades de detalhamento.

Finalmente, os custos apurados constituiriam importante instrumento de gestão da pecuária leiteira, fornecendo indicadores que permitiriam ajustes e organização do processo produtivo em cada centro de custos considerado, de tal forma que a otimização do sistema global poderia ser alcançada à medida que se obtém a otimização em cada um deles.

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2.3 A escala na pecuária leiteira

A economia de escala surge a partir da divisão e da especialização do trabalho e dos fatores tecnológicos (Ferguson, 1989). Com a divisão e a especialização do trabalho na execução das tarefas, criam-se condições para o aperfeiçoamento na execução das mesmas. Diminuem-se, desta maneira, erros e desperdícios de tempo e de recursos produtivos.

No entanto, para a obtenção destas diminuições, pressupõe-se a existência de pessoal treinado e capacitado, de modo a obter maior produtividade da mão-de-obra e, conseqüentemente, menores custos. Além disso, os fatores de natureza tecnológica propiciam a ocorrência de economias de escala, tanto pelo emprego de equipamentos de maior capacidade, quanto de equipamentos e técnicas mais avançadas.

Com a divisão e especialização das tarefas, a administração e o trabalho qualificado podem apresentar maior eficiência à medida que há o crescimento do tamanho de uma empresa. Apesar disso, segundo Marques (1999), a partir de determinado tamanho, cresce a dificuldade de coordenação e controle gerencial, bem como os custos da administração, o que pode anular os ganhos de escala obtidos. Originam-se, neste contexto, as deseconomias de escala, ou seja, a perda da eficiência econômica, devido à expansão do volume de produção.

Apesar da importância do conhecimento das relações entre a produção e o custo, bem como de sua aplicação à administração da empresa, seu domínio no setor agropecuário é restrito, conforme constatou Barni (1991). Por meio do estudo da relação entre o volume de operação e os custos médios de comercialização de leite, aves, suínos, frutas, cereais e hortaliças, o autor obteve resultados indicadores de que 50% das cooperativas que estudou operavam em escala superior àquela que geraria o menor custo médio.

Silva (1983), ao analisar aspectos da produção de milho, feijão e arroz em pequenas propriedades em Minas Gerais, constatou custos médios altos e

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decrescentes em relação ao volume de produção. Outro aspecto significativo observado foi a relação entre os altos valores de custos unitários com o manejo inadequado de tecnologias e as baixas produtividades observadas no estudo.

Segundo Marques (1999), apesar de as grandes produções agropecuárias possibilitarem ganhos pela economia pecuniária, ao se estudar a eficiência do uso dos recursos, deve-se considerar também que as pequenas explorações têm, na administração de menores volumes de recursos e produtos, condições mais propícias para evitar a ineficiência causada por falhas administrativas.

Nesse sentido, analisando-se aspectos relativos à administração de grandes propriedades, Fialho (1981) identificou que a coordenação de diversas tarefas e a supervisão de grande número de trabalhadores, pouco acostumados à rigidez da organização do trabalho, aliadas à dispersão das atividades por áreas extensas, constituíam as principais dificuldades da administração de grandes propriedades. Nesse sentido, pode-se ponderar que os estudos de economias de escala abrangem a consideração de uma ampla gama de variáveis, além do tamanho da propriedade.

Utilizando dados do Censo Agropecuário, Lemos et al. (1984) estudaram as elasticidades parciais da produção e os retornos à escala dos fatores terra, capital e trabalho. Foi observada economia de escala nas atividades agrícolas dos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, enquanto nas demais ocorreram retornos constantes ou decrescentes.

Dias (1982) procurou estabelecer combinações de terra, capital e trabalho no processo de inovação tecnológica, por meio de estimativas das elasticidades de substituição e de demanda destes fatores. Verificou-se, em termos agregados para o País, que o capital é um substituto de terra e trabalho e que mudanças nos preços relativos de um fator influem significativamente nos demais. A combinação economicamente eficiente dos recursos produtivos

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envolve, portanto, o conhecimento de complementaridade e de substitutibilidade entre insumos, em termos de redução de custos.

Garcia & Filho (2005) por meio da estimativa de parâmetros de uma função de custos translog, identificaram que o tamanho ótimo para uma unidade de produção de frangos de corte é menor que o sugerido por algumas empresas do setor. Estas propriedades com produções superiores estariam operando com deseconomias, o que poderia ocasionar uma certa pressão dos produtores por uma melhor remuneração da atividade.

Estudando a evolução dos sistemas de produção de leite na Zona da Mata de Minas Gerais, Carneiro (1995) buscou determinar o comportamento dos custos operacionais, segundo estratos de produtividade do rebanho. A modernização da atividade, refletida no uso de insumos modernos e no acréscimo de produtividade dos fatores, foi apontada como a principal variável de indução à redução dos custos. Evidenciou-se, portanto, o papel do capital na combinação dos recursos.

Por outro lado, uma vez que as economias de escala relacionam-se ou são atribuídas a pelo menos um fator fixo, cujo custo é diluído em unidades adicionais de produto, é oportuna a observação do sistema de produção empregado. Considerando a distinção entre os chamados sistemas tradicionais e modernos, advêm algumas implicações relevantes quanto ao emprego de fatores de produção e a ocorrência de economias de escala. Fialho (1981) observa que, no sistema tradicional, predomina o uso de equipamentos de pequeno porte, não havendo ganhos significativos de escala com o incremento do emprego de insumos. Aumentando a complexidade das operações e a escala do empreendimento, as deseconomias de escala serão o resultado mais provável. Na exploração mais intensiva, a expectativa é de que ocorram ganhos de escala com o emprego intensivo da mecanização, o que envolve uma área mínima para que o sistema seja economicamente eficaz.

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Em pesquisa realizada pelo SEBRAE-FAEMG (1996), junto a produtores de leite no estado de Minas Gerais, constataram-se maiores investimentos em capital nos estratos de maior produção, nos quais também foram verificados os menores custos operacionais, incluída a depreciação. De acordo com estes dados, observam-se fortes indicadores de investimento em mecanização, manejo e qualidade do rebanho, como fator de indução à obtenção de economias de escala.

Entretanto, segundo Fialho (1981), o emprego de tecnologias, tais como variedades melhoradas, fertilizantes, concentrados e técnicas de manejo mais eficientes, ao mesmo tempo em que podem ser empregadas independentemente do volume da produção, proporcionam retornos à escala sem diferenciação de tamanho da exploração.

Gomes (1996) aponta a produtividade como fator de condução à economia de escala. O autor constatou relação direta entre maiores ganhos e sistemas de exploração mais produtivos e relacionou os níveis de produtividade aos custos médios de produção de leite. Esta relação indicou que, com o crescimento da produtividade das vacas ordenhadas, houve resposta significativa na redução do custo por litro de leite.

Nesse sentido, Yamaguchi (1990) analisou a interdependência entre produção, custo e demanda de fatores na economia leiteira, utilizando dados de cortes seccionais de produtores da Zona da Mata de Minas Gerais. Para tanto, foram relacionadas com as variáveis explicativas para a produção os níveis de insumo e a tecnologia e, para os custos, os preços dos fatores e o nível de produção. O estudo indicou a ocorrência de retornos crescentes à escala e, portanto, economia de escala.

Estudos dirigidos à pequena exploração procuraram identificar variáveis de obtenção de melhores níveis de eficiência. Analisando o emprego de tecnologias e as perspectivas da pecuária leiteira na pequena propriedade, Kreuz

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(1985) concluiu ser a produtividade um condicionante da melhoria do nível de renda do produtor.

Tendo em vista a predominância de unidades de produção em pequena escala, Rufino (1994) estudou os determinantes do investimento na atividade. Como incentivo ao crescimento da produtividade, foi apontado o incremento dos recursos terra e trabalho, com posterior incremento dos investimentos. O investimento desencadeia a produção e a produtividade ao compatibilizar o desempenho da atividade com os benefícios da economia de escala.

Considerando que a redução no custo com o aumento da produção resulta, em grande parte, da redução do custo fixo por unidade de produto, os níveis de investimento limitam, pela base, a obtenção de níveis de produção economicamente eficientes. De acordo com Gomes (1996), em média, nas empresas que produzem em torno de 50 litros por dia, os custos fixos constituem 40% a 50% do custo total. Por outro lado, nas empresas com produção diária em torno de 600 litros, esta participação cai para 20% a 25% do custo total.

Segundo Marques (1999), a pecuária leiteira tem por pressupostos ao seu desenvolvimento e competitividade, além da busca de maiores níveis de produtividade, o investimento em capacidade produtiva com vistas a alcançar níveis de produção que conduzam à redução do custo por unidade produzida.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO

3.1 Modelo teórico

Um empresário, no processo produtivo, diante de ampla variedade de possíveis combinações, procura coordenar os fatores de produção de acordo com determinada tecnologia, com o objetivo de alcançar um certo nível de produção que proporcione a máxima eficiência econômica, ou seja, maximizar o lucro ou minimizar os custos.

Nesse sentido, este trabalho se baseia nos princípios da teoria da empresa, a qual fornece explicações sobre como as empresas tomam decisões buscando atingir a eficiência econômica pela otimização na alocação dos recursos produtivos.

A teoria da empresa pode ser compreendida pelas teorias da produção e do custo. A teoria da produção apresenta-se como a teoria da escolha entre alternativas, uma vez que a empresa procura maximizar a produção que se pode obter com dado custo ao adquirir e combinar fatores. Desta maneira, a quantidade de produção dependerá das quantidades dos insumos utilizados. A relação entre os insumos do processo produtivo e o produto resultante é descrita como uma função de produção e indica o produto máximo que uma empresa produz para cada combinação específica de insumos, dada a tecnologia disponível ou o custo relacionado a esta tecnologia.

Nesse sentido, os princípios da produção fornecem os fundamentos para as análises de custos. As condições físicas do processo produtivo, o preço dos fatores e a busca de eficiência econômica pelo empresário estabelecem os fundamentos teóricos do custo de produção da empresa e de sua relação com o nível de produção, o que proporciona a obtenção de eficiência-técnica e de eficiência-preço.

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Com base na teoria da produção e do custo, segundo a qual existe dualidade entre as funções de produção e de custo, o processo produtivo pode ser estudado empiricamente, utilizando-se uma função de produção ou uma de custo.

Este conceito de dualidade refere-se à relação ou correspondência biunívoca existente entre funções que surgem no problema da otimização. De acordo com esta teoria, existem funções de custo e de lucro que são duais da função de produção, de forma que, conhecendo-se uma, é possível derivar a outra e vice-versa (Reis, 1992).

Como a teoria da dualidade fundamenta-se na proposição de que existe mais de uma forma de se representar a tecnologia de produção, a sua aplicação permite recuperar toda a informação relevante sobre esta tecnologia. Para tanto, não há necessidade de se conhecer diretamente a função de produção, bastando, apenas, estimar modelos econômicos, como a função de custo (Reis, 1992).

Dessa maneira, em relação à função de custo, têm-se dois procedimentos para sua estimativa. Isto é, pode-se estimá-la diretamente a partir da análise de custos e dados de produção, desenvolvendo-se, assim, a relação típica entre os custos e a produção ou estimar a função de custo diretamente da função de produção.

É importante ressaltar que as possíveis combinações dos insumos necessários à produção são representadas pelas isoquantas, que fornecem as restrições tecnológicas para estas combinações. Entretanto, dados os preços dos insumos empregados no processo produtivo e seus níveis, podem ser estabelecidas as linhas de isocusto, representativas das combinações de insumos que resultam no mesmo nível de custo.

Um nível de produção economicamente eficiente se dará no ponto de tangência entre a curva de isoquanta e a linha de isocusto mais baixa possível, o qual se refere ao ponto de igualdade entre a taxa marginal de substituição dos

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insumos e a razão de preços dos fatores, condição esta para que a empresa apresente comportamento economicamente eficiente. Esta eficiência é alcançada uma vez que neste ponto ocorre tanto a eficiência-técnica, o máximo de produto com o mesmo fluxo de fatores fornecido pela isoquanta, quanto a eficiência-preço, dado o menor custo expresso pelas linhas de isocusto. Para níveis maiores de produção, novos pontos de custo mínimo são definidos. Os sucessivos pontos de tangência formam o denominado caminho de expansão da empresa, o qual expressa as despesas com os fatores à medida que se expande a produção.

Neste sentido, pode-se definir economicamente que a capacidade de produção da empresa refere-se ao nível que reduz ao mínimo os custos unitários ou eleva ao máximo os lucros Esta definição implica na determinação de uma escala ou tamanho ótimo que proporcione, por meio da combinação dos recursos, a maior diferença entre custo e receitas.

O custo total da produção constitui-se da soma de todos os pagamentos efetuados pelo uso dos recursos e serviços, incluindo o custo de oportunidade. Entretanto, ao se analisar os custos, é importante fazer a distinção entre curto e longo prazo. A teoria do custo distingue os custos segundo o período de tempo considerado. No curto prazo, é limitada a flexibilidade para alterações no uso dos fatores de produção e a empresa não é capaz de variar as quantidades de alguns recursos utilizados, o que leva à classificação dos recursos em fixos e variáveis. Os custos variáveis referem-se aos gastos com recursos cuja duração é igual ou inferior ao ciclo de produção, ou seja, incorporam-se totalmente ao produto neste período. Alterações nos recursos desta natureza provocam variações na quantidade e na qualidade do produto até certo limite.

Já os recursos fixos têm duração superior ao ciclo de produção e, por não serem facilmente alteráveis no curto prazo, determinam a capacidade produtiva da empresa, estabelecendo o limite máximo da quantidade do produto, por unidade de tempo, que se poderá produzir. Dessa maneira, limitam o tamanho da

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produção em curto prazo, uma vez que não são passíveis de serem alterados durante o ciclo de produção. O longo prazo é o período de tempo em que a empresa pode variar as quantidades de todos os recursos utilizados, de forma a obter a combinação mais eficiente.

Foi considerado, neste trabalho, que a empresa opera num mercado competitivo, não podendo, portanto, influenciar o preço de qualquer produto ou recurso utilizado no processo produtivo. Por definição, a única variação possível no custo total é a mudança no custo variável, devido ao custo fixo não variar com o aumento da produção.

Nesse sentido, considerando o comportamento dos fatores no processo produtivo, o custo total (CT), pode, então, ser representado pela expressão:

CT= CFT + CVT, (1)

Em que CFT representa o custo fixo total e CVT indica o custo variável total, ou seja, os custos fixos totais e os custos variáveis totais para diferentes quantidades de produto são as partes componentes dos custos totais. Assim, estes podem ser obtidos somando-se os custos fixos e variáveis para qualquer nível de produto.

O custo total médio (CTMe) refere-se ao custo unitário da produção, ou seja, o custo de se produzir uma unidade do produto, e é obtido dividindo-se o custo total (CT) pela quantidade produzida. Já o custo fixo médio (CFMe) e o custo variável médio (CVMe) são obtidos dividindo-se, respectivamente, o custo fixo total (CFT) e o custo variável total (CVT) pela quantidade produzida. O custo total médio também pode ser encontrado somando-se os custos fixo médio e variável médio.

Outro indicador econômico de interesse neste trabalho é o custo marginal (CMa). Este é definido como a mudança no custo total resultante da

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mudança de uma unidade na produção, isto é, o custo de se produzir uma unidade a mais. Sua representação gráfica pode ser expressa tanto pela inclinação da curva de custo variável total como da de custo total.

Uma característica importante da curva de custo marginal é que esta intercepta as curvas de custo total médio e custo variável médio em seus respectivos pontos mínimos. Isto equivale a dizer que o custo marginal iguala-se ao custo total médio e ao custo variável médio para os níveis de produção em que estes são mínimos.

De acordo com Nicholson (1998), o tipo de função a ser ajustada para o comportamento do custo total somente pode ser determinado a partir do estudo de dados empíricos. O custo total médio e o custo marginal terão a sua representação funcional e gráfica definida a partir da função de custo total.

Ao se estudar o comportamento dos custos no longo prazo, considera-se período de tempo longo o bastante para que todos os recursos sejam passíveis de alterações. Embora a produção se dê no curto prazo, o longo prazo relaciona-se ao planejamento e às escolhas futuras de alternativas de produção, inclusive quanto ao tamanho do empreendimento. Assim, o conjunto das curvas de custo total médio no curto prazo (CTMeCP) determina a curva de custo médio no longo prazo (CMeLP), ou seja, a curva envelope ou a curva envoltória.

A conformação da curva de CMeLP é de interesse na medida que fornece informações sobre o processo de produção em um período específico. Sendo, por exemplo, a função de custo total cúbica, a curva de custo médio apresentará formato em “U” e o ponto de mínimo nesta curva indica a escala de eficiência técnica naquele período. Nas sucessivas situações de custos mínimos no curto prazo, um nível de produto, q, indica o tamanho de instalação ou escala de operação em que os custos médios mínimos em curto prazo e em longo prazo coincidem, ou seja, a escala ótima de produção (Figura 5). Este ponto se expressa pela igualdade:

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CMeLP = CMaLP = CTMeCP = CMaCP, (2) sendo o custo médio mínimo, conforme Figura 5.

Fonte: Marques (1999), adaptado pelo autor.

FIGURA 5 Curvas de CMeLP, CMaLP, CTMeCP, CMaCP e escala ótima de produção.

Portanto, os pontos onde os custos médios no curto prazo tangenciam a curva envelope indicam os vários níveis de produção com custos mínimos em situações de curto prazo, mas, não a escala ótima de produção ou de dimensão da planta. CTMeCP CTMeCP CMaLP CMeLP CMaCP q Quantidade Custos

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O nível de produção em que o custo total médio é mínimo é indicado com a derivação da função de custo total em relação à quantidade produzida, devendo ser observadas duas condições: a condição necessária, em que:

dCT = O, (3)

dq

e a condição suficiente:

d2CT > O. (4)

dq2

Tomando-se a curva de CMeLP, a eficiência é crescente para tamanhos maiores, à medida que as curvas do custo médio de curto prazo situam-se em níveis cada vez mais baixos, para a direita, indicando declínios sucessivos de custos com a expansão da empresa.

A escala ótima é indicada pelo volume de produção q, em que se satisfaz a condição de associação da expansão da produção com eficiência econômica crescente. Ou seja, com a obtenção de custos médios mínimos, o valor dos investimentos é mínimo para os respectivos tamanhos. A partir de q, os custos médios começam a crescer, havendo, portanto, perda de eficiência. Assim, à esquerda do custo médio mínimo da curva de custo médio de longo prazo, praticam-se níveis de produção que levam à economia de escala ou economia interna, e à direita, as deseconomias de escala (Ferguson, 1989; Leftwich, 1991; Varian, 1994).

A função de custo médio de longo prazo (CMeLP) pode ser estabelecida diretamente de uma função de produção (Ferguson, 1989), tendo por referência a

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condição de eficiência econômica: a igualdade entre a taxa marginal de substituição dos insumos e a razão entre os preços destes.

O formato em U da curva de custo médio a longo prazo é atribuído, pela teoria dos custos, aos rendimentos crescentes ou decrescentes de escala na função de produção, ao comportamento do produto médio, o qual atinge um máximo e cai e às economias e deseconomias de escala. Entretanto, Ferguson (1989) aponta outros formatos da curva de custo médio de longo prazo, os quais se apresentam conforme o comportamento da empresa.

Para este trabalho, a definição do conceito de lucro também se faz necessária. Lucro é a diferença entre as receitas e os custos de produção, incluindo-se os custos de oportunidade. Só ocorrerá lucro econômico, ou supernormal, se o bem produzido propiciar um retorno que supere o custo alternativo, que é a remuneração normal do capital e do trabalho empregados (Reis, 2002).

Economicamente, a maximização dos lucros ocorre em um nível de produção tal que o custo marginal (CMa) iguala-se à receita marginal (RMa), sendo esta definida como o acréscimo na receita total devido ao aumento de uma unidade nas vendas. Devido ao fato de a empresa operar em um mercado competitivo, o preço do seu produto (p) é uma constante. Isto faz com que cada unidade adicional vendida acrescente exatamente o mesmo valor, p, à receita total. Logo, nesse mercado, a receita marginal é igual ao próprio preço do produto (RMa = p). Portanto, em competição perfeita, a empresa atinge o seu equilíbrio e o lucro máximo no curto prazo, produzindo o nível de produção para o qual o custo marginal se iguala ao preço de mercado (CMa = p).

O ponto de equilíbrio, desse modo, é encontrado quando a linha de preço corta a curva do custo marginal. Considerando-se desta maneira, o produtor conduzirá o processo produtivo enquanto o preço do produto for igual ou superior ao custo variável médio. Quando a linha de preço cai abaixo do custo

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variável médio, o empresário está perdendo todos os custos fixos e parte dos variáveis.

Nesse sentido, o ponto mínimo da curva de custo variável médio representa o menor preço do produto em que a empresa poderia continuar produzindo (Fassio, 2004). Isso significa que a oferta cairá a zero para qualquer preço abaixo do custo variável médio, ou seja, abaixo do preço mínimo aceitável pelo produtor, para que este se sinta estimulado a produzir. Esse preço ou limite é o preço mínimo de resistência (PMR), ou shut down point e determina a produção de sobrevivência (PS) do produtor em relação ao declínio dos preços recebidos (Figura 6).

Fonte: Nicholson (1998), adaptado pelo autor.

FIGURA 6 Curvas de custo total médio (CTMe), custo variável médio (CVMe), custo marginal (CMa) e oferta da empresa.

No curto prazo, o produtor irá produzir enquanto for possível recuperar os custos variáveis. Desse modo, a curva de oferta da empresa em curto prazo

CMa CVMe PMR

$

PS Y (Quant.) CTMe

Referências

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