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Da possibilidade de relativização do sigilo bancário e o poder investigatório das CPI's federais.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

DELANE IRINEU DUTRA

DA POSSIBILIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DO SIGILO BANCÁRIO E O

PODER INVESTIGATÓRIO DAS CPI’s FEDERAIS

SOUSA - PB

2006

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DA POSSIBILIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DO SIGILO BANCÁRIO E O

PODER INVESTIGATÓRIO DAS CPI’s FEDERAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS

da Universidade Federal de Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharela em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Professora Esp. Aurélia Carla Queiroga da Silva.

SOUSA - PB

2006

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D A P O S S I B I L I D A D E D E R E L A T I V I Z A C A O D O S I G I L O B A N C A R I O E O P O D E R I N V E S T I G A T O R I O D A S C P I ' S F E D E R A I S

Trabalho de Conclusao de Curso aprovado em,

B A N C A E X A M I N A D O R A

Aurelia Carla Queiroga da Silva Orientadora

Examinador (a)

Examinador (a)

Sousa - P B junho-2006

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Seria impossivel a realizacao desse trabalho utilizando-se de um esforco solitario, singular, isolado... Houve, portanto, uma conjugacao de esforcos, de ideias, indispensaveis para a concretizacao desse objetivo, tendo e m vista que a busca do conhecimento se perfaz de maneira dialetica, e m meio as interacoes e dia logos.

C o m efeito, considera-se de extrema relevancia o reconhecimento daqueles que me auxiliaram na feitura desse trabalho, contribuindo, dessa forma, para o meu engrandecimento enquanto profissional do direito.

Inicialmente, agradeco as minhas "maes" D O M E R I N A e RITA e ao meu pai F R A N C I V A L , que s o u b e r a m , de maneira consciente, despertar e m mim a importancia do estudo, do aprendizado.

Aos queridos mestres: a orientadora Aurelia Carla, pelo "notavel saber juridico" na orientacao desse trabalho; a professora Jacyara, pela auxilio na delimitacao do tema; a Dr.a Audrey Kramy e Dr.Raniere, pelo emprestimo de livros.

A minha incomparavel sala do turno diurno, e m especial: a Raquel, pela boa vontade e m me ajudar no emprestimo de u m livro; a Laura, que c o m paciencia sabedoria, e bondade que Ihe sao inerentes me auxiliou na reformulacao do sumario (tao prolixo!), e, principalmente, por ter me ajudado no termino desta pesquisa, apoiando-me no m o m e n t o mais dificil; a Lyssandra, pelo incentivo para que eu nao desistisse desse tema; a Arthur, pelo apoio e carinho de irmao.

Aos A m i g o s : Fernanda, pela "ideia" do livro, a Genivaldo, pela atividade indispensavel de formatacao; a Thiago Marques, pelo emprestimo, s e m tempo determinado, de quatro livros imprescindiveis para a elucidagao do tema.

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Esta pesquisa cientifica se propoe a tratar do instituto juridico-constitucional das Comissoes Parlamentares de Inquerito, que configuram instrumentos auxiliares para o exercicio das funcoes tlpicas inerentes ao Poder Legislativo, quais sejam: legislacao e fiscalizacao. Por intermedio do metodo exegetico-juridico, que utiliza a consulta de codigos, doutrinas e artigos retirados da Internet, abordar-se-a o tema das Comissoes Parlamentares de Inquerito, no tocante a sua evolucao historica, conceito, natureza juridica, pressupostos de validade, fundamento legal, aspectos procedimentais, amplitude de poderes e limitacoes constitucionais. Mediante o estudo das Comissoes Parlamentares de Inquerito, objetivar-se-a contribuir para a elucidacao do tema no ambito da Ciencia Juridica. No que concerne aos poderes atribuidos constitucionalmente as Comissoes Parlamentares de Inquerito apresentar-se-ao as divergencias juridicas suscitadas na doutrina, atinente ao sigilo bancario, no cenario das i n v e s t i g a t e s parlamentares. Tendo e m vista a possibilidade de relativizacao dos direitos individuals, demonstrar-se-a c o m supedaneo nos principios da proporcionalidade e da supremacia do interesse publico sobre o interesse privado, a viabilidade de quebra do sigilo bancario por parte das Comissoes Parlamentares de Inquerito, sem a necessidade, portanto, de autorizacao judicial, desde que apresentada a devida fundamentacao. Em s u m a , com esta pesquisa cientifica afigurar-se-a a relevancia do instituto juridico das Comissoes Parlamentares de Inquerito para a consolidacao do Estado Democratico de Direito.

Palavras-chave: comissoes parlamentares de inquerito. poder investigatorio. sigilo bancario.

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This scientific research if considers to deal with the legal-constitutional institute of the Parliamentary inquiry commissions, that configure instruments auxiliary for the exercise of inherent the typical functions to the Legislative, which are: legislation and inspection. For intermediary of the exegetic-legal method, that if uses of the consultation of codes, doctrines and removed articles of the Internet, the subject of the Parliamentary inquiry commissions will be approached, in regards to its historical evolution, concept, legal nature, estimated of validity, legal grounds, procedural aspects, amplitude of being able and limitations constitutional. By means of the study of the Parliamentary inquiry commissions, it will be objectified to contribute for the briefing of the subject in the scope of Legal Science. With respect to being able attributed t h e m , constitutionally, to the Parliamentary inquiry commissions the excited legal divergences in the doctrine will be presented, concerning to the secrecy banking, in the scene of the parliamentary inquiries. In view of the possibility of relativity of the individual rights, it will be demonstrated with support in the principles of the proportionality and the supremacy of the public interest on the private interest, the viability of in addition the secrecy banking on the part of the Parliamentary inquiry commissions, without the necessity, therefore, of judicial authorization, since that presented the had recital. In short, with this scientific research it will be figured relevance of the legal institute of the Parliamentary inquiry commissions for the consolidation of the Democratic State of Right.

Words-key: parliamentary inquiry commissions, to be able inquiry, secrecy banking.

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I N T R O D U Q A O 07 C A P I T U L O 1 DA S O C I E D A D E E D O E S T A D O 09

1.1 Da o r g a n i z a c a o do E s t a d o Brasileiro 11

1. 2 Da teoria do Poder Estatal 14 1.3 Da o r g a n i z a c a o d a s f u n c o e s estatais: Executivo, Judiciario e 16

Legislativo

1.4 Das c o m i s s o e s 18 C A P I T U L O 2 D A S C O M I S S O E S P A R L A M E N T A R E S DE I N Q U E R I T O 2 0

2.1 Do p a n o r a m a historico no direito c o m p a r a d o e no direito brasileiro 2 0

2.2 Do concerto e natureza juridica 22

2.3 Das m o d a l i d a d e s 2 5 2.4 Dos pressupostos de validade 2 6

2.4.1 Formais 2 6 2.4.2 Materiais 2 9 2.5 Do f u n d a m e n t o d a investigagao parlamentar 30

2.6 Dos aspectos procedimentais 31 2.7 Das l e g i s l a t e s aplicadas as C P I ' S : p o d e r e s e limitacoes 32

C A P i T U L O 3 D O P O D E R I N V E S T I G A T 6 R I O D A S C O M I S S O E S P A R L A M E N T A R E S DE I N Q U E R I T O E A Q U E B R A DE S I G I L O B A N C A R I O 35

3.1 Dos direitos f u n d a m e n t a i s 35 3.2 Dos direitos individuals 3 7 3.3 Do direito a privacidade: sigilo bancario 3 8

3.3.1 Do sigilo bancario no ambito constitucional 3 9 3.3.2 Do sigilo bancario e m lei infraconstitucional 41 3.4 Das divergencias a c e r c a da q u e b r a do sigilo bancario 41

3.4.1 E n t e n d i m e n t o favoravel a d e c i s a o judicial 4 2 3.4.2 E n t e n d i m e n t o favoravel a d e c i s a o pelas CPI's 4 4 3.5 A s C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito e a possibilidade de q u e b r a d e

sigilo bancario 4 6 C O N S I D E R A Q O E S F I N A I S 50

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E m virtude d a efetiva a t u a c a o d a m i d i a , a p r e s e n t a - s e , r e c e n t e m e n t e , e m d i s c u s s a o no cenario juridico, o instituto d a s C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito, e mais p r e c i s a m e n t e , a possibilidade d e relativizagao do sigilo bancaric e o poder investigatorio d a s m e s m a s no ambito federal. E n e s s e contexto q u e se d e s e n v o l v e a pesquisa cientifica, na tentativa de se c o m p r e e n d e r a d i m e n s a o d o s principios da proporcionalidade e d a s u p r e m a c i a d o interesse publico e m f a c e de d e t e r m i n a d o s valores r e c o n h e c i d o s , constitucionalmente, c o m o direitos f u n d a m e n t a i s atribuidos a c a d a individuo.

A pretexto disso, o q u e s e objetiva nao e atribuir as C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, p o d e r e s absolutos e arbitrarios u m a v e z que esses institutos juridicos de carater politico p o s s u e m limites constitucionais ja definidos. Partindo d e s s a p r e m i s s a , buscar-se-a m e d i a n t e o estudo dos inqueritos parlamentares contribuir para e l u c i d a c a o e para o fortalecimento d o t e m a no ambito da Ciencia Juridica.

T e n d o e m vista q u e as C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito c o n s t i t u e m institutos auxiliares d a s fungoes tipicas do Poder L e g i s l a t i v e e x p r e s s a n d o - s e , r e c e n t e m e n t e , c o m muito d e s t a q u e f a c e aos a c o n t e c i m e n t o s politicos ocorridos no Brasil, faz-se pertinente ao estudioso do Direito abordar c o m maior profundidade a s f u n g o e s d e s e m p e n h a d a s pelos inqueritos p a r l a m e n t a r e s .

O d e s e n v o l v i m e n t o d a p e s q u i s a realizar-se-a por meio d o e m p r e g o do m e t o d o exegetico-juridico, utilizando-se de doutrinas, Codigos e artigos d a Internet e a p r e s e n t a n d o - s e jurisprudencia relativa ao t e m a . N e s s e estudo, a p e s q u i s a d e n o t a carater multidisciplinar ao trazer a contribuigao d e varios ramos do direito c o m a finalidade de f o r n e c e r u m a v i s a o sistematizada d a problematica.

No capitulo preliminar abordar-se-a a ligagao existente entre a s o c i e d a d e e o E s t a d o . O u t r o s s i m , analisar-se-ao a estrutura e fungoes d o Estado a luz da Teoria d o Poder Estatal, conferindo especial d e s t a q u e ao instituto das C o m i s s o e s atinentes P o d e r L e g i s l a t i v e

N o capitulo posterior delinear-se-ao os aspectos estruturais d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, visto q u e , propoe-se a tratar da evolugao historica, conceito, natureza J u r i d i c a , pressupostos de validade, f u n d a m e n t o legal, p r o c e d i m e n t o , m o d a l i d a d e s , legislagoes pertinentes c o m a a p r e s e n t a g a o d e

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p o d e r e s e, ainda, as limitagoes d e s s e instituto j u r i d i c o de g r a n d e relevancia para o Poder Legislativo patrio.

No capitulo final d e n o m i n a d o "O poder investigatorio d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito e o sigilo bancario" exibir-se-ao pontos relacionados a o s direitos f u n d a m e n t a i s e individuals, a s s i m c o m o o direito a privacidade no tocante ao sigilo bancario. N e s s e sentido, questionar-se-ao as divergencias doutrinarias a c e r c a da possibilidade de q u e b r a do sigilo bancario por parte d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, f u n d a m e n t a n d o - s e nas legislagoes pertinentes ao tema e m q u e s t a o . A r g u m e n t a r - s e - a , por f i m , a relativizagao do direito de sigilo bancario e m f a c e da atuagao investigativa d o s inqueritos p a r l a m e n t a r e s , c o m f u n d a m e n t o s nos principios d a proporcionalidade e d a s u p r e m a c i a d o interesse publico sobre o interesse privado.

A s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito c o n s u b s t a n c i a m institutos de natureza d e m o c r a t i c a , visto q u e s a o f o r m a d a s por representantes escolhidos pela maioria popular N e s s e sentido, no tocante ao cenario politico brasileiro, t o r n a - s e necessario d e m o n s t r a r a relevancia dos inqueritos parlamentares e n q u a n t o i n s t r u m e n t s de informagao da opiniao popular a c e r c a da situagao e m que se e n c o n t r a o Estado Brasileiro.

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A s consideragoes a p r e s e n t a d a s neste capitulo preliminar p o s s u e m carater introdutorio e r e p r e s e n t a m , por s u a vez, nogoes indispensaveis para u m e n t e n d i m e n t o proficuo d a problematica q u e circunda o t e m a a ser e x p l a n a d o e m m o m e n t o ulterior.

R e p o r t a n d o - s e a historia d a h u m a n i d a d e , e possivel c o m p r o v a r a existencia de u m a ligagao intrinseca existente entre o h o m e m e a s o c i e d a d e . Esta interdependencia e resultado d a propria natureza d o h o m e m , e m i n e n t e m e n t e social, caracterizada por u m a v o c a g a o natural para a vida e m s o c i e d a d e .

Partindo d e s s e p r e s s u p o s t o , o t e r m o s o c i e d a d e p o d e ser avaliado c o m o u m c o n j u n t o d e relagoes estabelecidas pelo o h o m e m c o m s e u s s e m e l h a n t e s , configurado por u m c o m p l e x o de interagoes reciprocas, conscientes e necessarias, e n v o l v e n d o s e n t i m e n t o s , ideias e v o n t a d e s entre os individuos que a c o m p o e m , na b u s c a d e u m interesse c o m u m . A c o n j u g a g a o de esforgos pelos s e u s individuos na b u s c a do interesse coletivo, constitui o f u n d a m e n t o primordial e indispensavel para a f o r m a g a o da s o c i e d a d e , t e n d o e m vista a impossibilidade d e s s e interesse ser c o n s e g u i d o a p e n a s c o m esforgos isolados e individuals.

N e s s e d i a p a s a o , Darcy A z a m b u j a (1998, p. 18; 31) confirma o e n t e n d i m e n t o de q u e "o h o m e m e s t a no centra d a s o c i e d a d e : a s o c i e d a d e esta dentro d o h o m e m " ou ainda "[...] Individuo e s o c i e d a d e s a o t e r m o s de u m binomio indestrutivel, nao e possivel c o n c e b e r u m s e m o outro". D e s s e m o d o , analisando-s e o h o m e m , nao de f o r m a ianalisando-solada e analisando-singular, m a analisando-s c o m o c o m p o n e n t e de u m c o m p l e x o de relagoes c o m outros individuos, p o d e - s e afirmar q u e e s t e ser f u n d a m e n t a l m e n t e social, ao longo da sua evolugao historica, necessitou e ainda necessita d a s o c i e d a d e para viver.

A pretexto disso, c o n s i d e r a n d o - s e c o m o c o n s t a n t e o fato de q u e o h o m e m s e m p r e v i v e u e m s o c i e d a d e , esta, por s u a vez, constitui o p r e c e d e n t e necessario para f o r m a g a o e d e s e n v o l v i m e n t o do Estado. Partindo-se d a s s o c i e d a d e s primitivas ate as s o c i e d a d e s m o d e r n a s d a atualidade, o b s e r v a - s e a presenga de u m a d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e politica o n d e , h o d i e r n a m e n t e , e d e n o m i n a d a de Estado.

O termo Estado, no decorrer d o d e s e n v o l v i m e n t o das s o c i e d a d e s , a p r e s e n t o u - s e de formas variadas. P r e c i p u a m e n t e , na Grecia era utilizado o

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termo poll's - cidade, c o n s i d e r a n d o - s e Estados aqueles q u e nao e x t r a p o l a s s e m os limites das cidades. E m R o m a , f o r a m e m p r e g a d o s os t e r m o s civitas e respublica, c o m o t a m b e m o e m p r e g o f r e q u e n t e d o termo, e m latim, status reipublicae.'.

Na Idade Media as e x p r e s s o e s mais utilizadas para s e referir ao Estado e r a m rich, imperium, land e terrae, significando propriedade d o s e n h o r f e u d a l . A partir do s e c u l o X V , na Inglaterra, e posteriormente, no seculo X V I , c o m a Franca e A l e m a n h a e e m p r e g a d a a e x p r e s s a o 'Estado', referindo-se a u m a o r d e m publica organizada e constituida. N e s s e sentido, a partir d a s obras de Maquiavel, a e x p r e s s a o E s t a d o foi incorporada na literatura cientifica e, paulatinamente, va s e n d o utilizada na terminologia politica de diversos povos: e o c a s o d o Lztat f r a n c e s , Staat a l e m a o , e m ingles State, e m italiano, Stato, e e m portugues e e s p a n h o l Estado.

D e s s e m o d o , faz-se necessario ressaltar q u e nao ha c o n s e n s o entre os e s t u d i o s o s a c e r c a d a origem e definigao do Estado, s e n d o apresentadas i n u m e r a s conjecturas acerca do t e m a . Na teoria d a o r i g e m familiar, o Estado e c o n s i d e r a d o u m a ampliagao d a familia. J a as teorias d a origem violenta c o n s i d e r a m q u e o Estado nasceu da violencia e d a forca, resultante de u m a luta entre individuos, s o b r e v i v e n d o , portanto, os m a i s a p t o s para o exercicio d o poder. A p r e s e n t a m - s e , ainda, as teorias teologico-religiosas o n d e o poder do Estado f u n d o u - s e no direito divino, e n q u a n t o e x p r e s s a o d a v o n t a d e de D e u s . Por c o n s e g u i n t e , nas teorias racionalistas, o Estado tern u m a o r i g e m c o n v e n c i o n a l , isto e, surgiu de u m a c o r d o entre os m e m b r o s d a s o c i e d a d e h u m a n a . Tal teoria adquiriu e x p r e s s a o c o m a obra "Do Contrato S o c i a l " de R o u s s e a u .

Isto posto, diante d a s inumeras e s p e c u l a g o e s vinculadas a origem e definicao do f e n o m e n o estatal, Darcy A z a m b u j a (1998, p.98-99), na b u s c a de apresentar u m a ideia racional a c e r c a d o Estado, proporciona o s e g u i n t e comentario:

Quando as sociedades primitivas, compostas ja de inumeras familias, possuindo uma autoridade propria que as dirigia, se fixaram num territorio, determinado, passaram a constituir um Estado. Este nasce, portanto, com o estabelecimento de relacoes

1 A palavra status, no sentido empregado, significava situacao, condicpao, a ordem permanente da coisa publica nao possuindo, portanto, a significacao utilizada hodiernamente.

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Dermanentes e oraanicas entre os tres elementos: a oooulacao. a

autoridade ou poder politico e o territorio.

Partindo d e s s e e n t e n d i m e n t o , para a caracterizagao d o Estado perfeito, p r e s s u p o e - s e necessaria a c o n j u g a c a o c o n c o m i t a n t e d e d e t e r m i n a d o s e l e m e n t o s constitutivos: populagao, territorio e p o d e r politico (soberania). D e s s e m o d o , e n t e n d e - s e por populagao o e l e m e n t o h u m a n o d e carater h o m o g e n e o , isto e, a n a l i s a d o e m f a c e d e u m a integragao etnico-social q u e , e m b o r a haja tipos raciais diversos, a d e r e m a u m a unidade politica. O territorio, por s u a vez, consiste na b a s e fisica, certa e inalienavel, c o n f i g u r a n d o o limite geografico para o exercicio do p o d e r exercido pelo E s t a d o . No tocante a o poder politico o u soberania inerente ao Estado, trata-se d e u m a autoridade superior, i n d e p e n d e n t e e caracterizada por u m a e v i d e n t e s u p r e m a c i a imposta s o b r e os individuos q u e f o r m a m s u a p o p u l a g a o , p o r meio d a imposigao d e normas tendentes a orientar a s atividades de s e u s individuos, necessarias a m a n u t e n g a o d a o r d e m juridica dentro d a s o c i e d a d e .

A s s i m s e n d o , a partir d o m o m e n t o e m q u e d e t e r m i n a d a s o c i e d a d e t o r n a - s e sedentaria, c o m a fixagao d e s e u p o v o e m u m territorio certo e delimitado, d i s p o n d o d e u m poder politico proprio, i n d e p e n d e n t e estabelecido por intermedio de regras q u e disciplinam a c o n d u t a d e s u a populagao, imperioso para c o n s e r v a g a o d a propria s o c i e d a d e , t e m - s e a ideia clara da estrutura d o E s t a d o . N o t o c a n t e a o s objetivos pretendidos pelo Estado, o b s e r v a q u e este versa sobre a c o n s e c u g a o d o b e m publico, o qual n a o s e c o n f u n d e c o m o b e m particular d e c a d a individuo, m a s u m b e m geral q u e p r o m o v a a o r d e m e a d e f e s a social.

1.1 Da o r g a n i z a g a o d o Estado Brasileiro

E m f a c e dos e s c l a r e c i m e n t o s iniciais a p r e s e n t a d o s s o b r e o f e n o m e n o s o c i e d a d e - E s t a d o , faz-se mister avaliar a o r g a n i z a g a o d o Estado Brasileiro, c o m s u p e d a n e o na Carta M a g n a vigente.

A Constituigao Federal d e 1 9 8 8 , e m s e u artigo 1°, primeira parte, preve a organizagao d o Estado Brasileiro. D e s s e m o d o , "Art 1° A Republica Federativa d o Brasil, f o r m a d a pela uniao indissoluvel d o s Estados e Municipios e d o Distrito Federal, constitui-se e m Estado D e m o c r a t i c o d e Direito [...]".

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O artigo introdutorio supracitado d a Constituigao Federal patria e n u n c i a a f o r m a de Estado, a f o r m a de g o v e r n o e o regime politico-juridico a d o t a d o s no Brasil. No q u e c o n c e r n e a f o r m a de Estado brasileira, adota-se o Federalismo. P r e c i p u a m e n t e , no sentido etimologico, o termo f e d e r a g a o v e m d o latim foedus,

foederis, q u e significa uniao, p a c t o , alianga. A s s i m , no a m b i t o juridico,

utilizando-s e do concerto de A n d r e R a m o utilizando-s T a v a r e utilizando-s (2003, p.795) "o Eutilizando-stado d e n o m i n a d o federal a p r e s e n t a - s e c o m o o c o n j u n t o d e entidades a u t o n o m a s que a d e r e m a u m v i n c u l o indissoluvel, integrando-o". Diante d a ideia e s p o s a d a e m tal e n t e n d i m e n t o , o E s t a d o Federal c o n s i s t e e m u m a a s s o c i a g a o existente entre as e n t i d a d e s federativas d o t a d a s de a u t o n o m i a politico-constitucional, c o m observancia ao

principio da indissolubilidade d o v i n c u l o federativo.

A s s i m , e m c o m p l e m e n t o ao artigo 1° d a Constituigao Federal de 1988, o artigo 18 do m e s m o diploma legal vigente disciplina, d e maneira e x p r e s s a e clara q u e "a organizagao politico administrativa d a Republica Federativa do Brasil c o m p r e e n d e a Uniao, os Estados, o Distrito Federal e os M u n i c i p i o s , t o d o s a u t o n o m o s , nos t e r m o s desta Constituigao". C o m s u p e d a n e o no principio d a indissolubilidade d o v i n c u l o federativo, nao s e admite o direito d e s e c e s s a o , ou seja, e v e d a d o aos entes federativos a possibilidade de s e p a r a r - s e d a Federagao. Ressalte-se, ainda, q u e o Federalismo Brasileiro foi erigido a clausula p e t r e a ' na Carta M a g n a vigente, nao p o d e n d o s e r modificado o u abolido n e m m e s m o por E m e n d a a Constituigao, previsao esta decorrente da rigidez constitucional patria.

Para a caracterizagao do Estado Federal, faz-se mister apresentar alguns e s c l a r e c i m e n t o s indispensaveis. P r e c i p u a m e n t e , a Constituigao determinou a descentralizagao politica c o m o u m d o s pressupostos a s s e g u r a d o r e s d o Estado Federal. No m e s m o sentido, Michel T e m e r ( 2 0 0 1 , p. 61) e n t e n d e q u e "[...] a descentralizagao politica fixada na Constituigao e fator indicativo da existencia d e Estado federal". D e p o s s e d e s s e c o m e n t a r i o , e n t e n d e - s e por descentralizagao a repartigao constitucional das c o m p e t e n c i a s legislativas, administrativas e tributarias entre as entidades federativas: Uniao, E s t a d o s - m e m b r o s , Distrito Federal e M u n i c i p i o s .

2 A Constituigao Federal, no artigo 60, § 4°, estabelece as clausulas petreas, constituindo estas veraaaeiras fimitacoes ao exercicio do Poder Constituinte de reforma.

considerando-se materia constitucional imutavel. Incluem-se, nesta disposigao, alem da forma de Estado. os direitos inerentes ao exercicio da democracia reDresentativa. os direitos individuals e a separacao dos poderes.

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Outro requisito relevante para a i m p l e m e n t a g a o d o Federalismo e a r e p r e s e n t a c a o d a s entidades federativas no P o d e r Legislativo central. Na o r d e m juridica patria, isso ocorre c o m a a d o c a o do sistema bicameral, o n d e o C o n g r e s s o N a c i o n a l e f o r m a d o por d u a s C a s a s : C a m a r a dos D e p u t a d o s , constituida por representantes d o p o v o brasileiro e o S e n a d o Federal q u e p o s s u i representantes d o s Estados e Distrito Federal.

Igualmente, no q u e t a n g e ao ultimo requisito, qual seja, a a u t o n o m i a d o s e n t e s federativos brasileiros, A l e x a n d r e de M o r a e s (2005, p. 2 4 7 ) estabelece q u e s a o "[...] a Uniao, os E s t a d o s , o Distrito Federal e os M u n i c i p i o s , t o d o s a u t o n o m o s e possuidores da triplice c a p a c i d a d e de auto-organizagao e normatizagao propria, a u t o g o v e r n o e auto-admin istragao". Dessa forma, as entidades federativas se a u t o - o r g a n i z a m por intermedio d a edigao de suas respectivas legislagoes, c o m o b s e r v a n c i a a o s principios constitucionais. N o q u e diz respeito a o a u t o g o v e r n o este ocorre c o m a e s c o l h a dos s e u s representantes politicos, m e d i a n t e eleigoes proprias e i n d e p e n d e n t e s . E, por fim, a s e n t i d a d e s federativas s e auto-a d m i n i s t r auto-a m q u auto-a n d o e x e r c e m auto-as c o m p e t e n c i auto-a s auto-administrauto-ativauto-as, legislauto-ativauto-as e tributaries atribuidas por imperativo constitucional.

O artigo 1° d a Constituigao Federal patria t a m b e m e s t a b e l e c e a forma de g o v e r n o adotada pelo Estado Brasileiro: a Republica. R e p o r t a n d o - s e ao sentido etimologico, o t e r m o Republica deriva d o latim res publica, e significa coisa d o p o v o e para o p o v o . E m observancia ao c o n t e x t o historico patrio, a Republica foi instituida pela Constituigao de 1 8 9 1 , tendo, portanto, a Constituigao de 1988, e m s e u art 1°, r e c e p c i o n a d o a f o r m a republicana de g o v e r n o , m a n t e n d o - a c o m o principio f u n d a m e n t a l e norteador da o r d e m constitucional. A Republica caracteriza-se pela eletividade periodica d o s g o v e r n a n t e s na esfera federal, e s t a d u a l e municipal, c o m b a s e na t e m p o r a r i e d a d e d o s m a n d a d o s eletivos, significando, portanto, a nao vitaliciedade d o s c a r g o s politicos.

N o respeitante ao regime politico-juridico brasileiro, a d o t a - s e o Estado D e m o c r a t i c o de Direito, c o n s u b s t a n c i a d o pela reuniao dos principios do Estado D e m o c r a t i c o e d o Estado de Direito. E n t e n d e - s e por Estado Democratico a q u e l e q u e s e f u n d a m e n t a no principio d a soberania popular, o n d e a titularidade d o p o d e r s o b e r a n o e exercida pelo p o v o , visto que na f o r m a de g o v e r n o republicana ha u m a efetiva participagao do p o v o ( g o v e r n a d o s ) no p r o c e s s o de e s c o l h a d o s s e u s representantes politicos (governantes). N e s s e sentido, o paragrafo unico do

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artigo 1° d a Constituigao Federal dispoe q u e "Todo p o d e r e m a n a do povo, que o e x e r c e por meio de representantes eleitos o u diretamente, nos t e r m o s desta Constituigao". E x s u r g e , d e s s e artigo, a s m o d a l i d a d e s d e d e m o c r a c i a : representativa (o povo c o n f e r e o poder de g o v e r n o as representantes politicos), e d e m o c r a c i a semidireta o u participativa (presenga de alguns institutos d a d e m o c r a c i a direta q u e d e v e m s e r utilizados pelo povo: iniciativa popular, referendo, plebiscito, agao popular).

N o q u e c o n c e r n e ao Estado de Direito, e s t e se configura pela c o n j u g a g a o d e d e t e r m i n a d a s caracteristicas: s u b m i s s a o ao imperio d a lei e n q u a n t o e x p r e s s a o d a v o n t a d e d o povo; s u b m i s s a o a lei dos poderes publicos; divisao das fungoes do Estado; r e c o n h e c i m e n t o e garantia constitucional d o s direitos individuals. N e s s e caso, d e p r e e n d e - s e q u e no Estado Direito o regime d e normas juridicas gerais e abstratas autolimitam o poder t a n t o d o s g o v e r n a n t e s q u a n t o dos g o v e r n a d o s . Essa autolimitagao decorre d a lei, e n q u a n t o ato e m a n a d o do Poder L e g i s l a t i v e f o r m a d o por representantes do povo. Na s e p a r a g a o das fungoes do E s t a d o , busca-se uma c o n v i v e n c i a h a r m o n i c a e i n d e p e n d e n t e entre o Legislative, Executivo e Judiciario, c o m o f o r m a d e descentralizagao do poder, c o m a finalidade d e garantir as liberdades individuals contra as arbitrariedades d o g o v e r n o .

D e p o s s e d e s s a s interpretagoes, o b s e r v a - s e q u e o Estado D e m o c r a t i c o d e Direito c o n s a g r a d o no art. 1° d a Constituigao Federal Brasileira b u s c a estabelecer uma c o n e x a o entre o regime d e m o c r a t i c o e a observancia d o principio d a legalidade. F u n d a - s e , o Estado D e m o c r a t i c o de Direito, no binomio legalidade-d e m o c r a t i c a . N e s s e sentilegalidade-do, a s s e g u r a - s e a participagao popular no p r o c e s s o politico d e f o r m a g a o do g o v e r n o e nas d e c i s o e s de interesse da s o c i e d a d e , a o m e s m o t e m p o e m q u e sujeita o E s t a d o a s u p r e m a c i a d a lei, e limita o p o d e r d o s g o v e r n a n t e s por meio de regras j u r i d i c a s , c o m o desiderato principal d e salvaguardar os direitos f u n d a m e n t a i s e as liberdades publicas dos c i d a d a o s .

1.2 Da teoria do Poder Estatal

A p r e s e n t a d a s as informagoes c o n c e r n e n t e s a organizagao d o Estado Brasileiro, t o r n a m - s e f u n d a m e n t a i s alguns esclarecimentos acerca d a disposigao d a s f u n g o e s estatais a luz d a teoria d a Separagao dos P o d e r e s .

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A organizagao das f u n g o e s do Estado Brasileiro e s t a prevista no artigo 2° da Constituigao Federal d e 1988, nos seguintes t e r m o s : "Art. 2 ° S a o poderes da Uniao, i n d e p e n d e n t e s e h a r m o n i c o s entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciario". O citado dispositivo constitucional c o n s a g r o u a divisao dos poderes d o Estado s o b a otica d a a f a m a d a teoria d a S e p a r a g a o dos Poderes.

E m e x a m e ao c o n t e x t o historico, a g e n e s e d a teoria da S e p a r a g a o dos P o d e r e s r e m o n t a ao p e r i o d o g r e g o , s e n d o e s b o g a d a , preliminarmente, na obra "Politica" de Aristoteles, o qual distinguiu a organizagao d o Estado e m tres partes: a a s s e m b l e i a - g e r a l , o c o r p o de m a g i s t r a d o s e o corpo judiciario. Posteriormente, o p e n s a d o r ingles J o h n L o c k e , e m sua obra " S e g u n d o tratado do g o v e r n o civil", a p r e s e n t a u m e n t e n d i m e n t o a c e r c a da divisao d o s poderes assinalando a n e c e s s i d a d e d a s fungoes estatais s e r e m divididas e m e x e c u t i v a , legislativa e federativa.

No entanto, a teoria da " S e p a r a g a o dos P o d e r e s " foi c o n s a g r a d a e mais p r e c i s a m e n t e sistematizada pelo filosofo frances M o n t e s q u i e u , e m s u a obra "O Espirito d a s Leis". A partir do p e n s a m e n t o d e s s e autor, a presente teoria foi elevada a principio politico constitucional d a s e p a r a g a o dos poderes, c o n s i d e r a n d o - s e c e r n e da estrutura organizatoria d o Estado, repercutindo, d e c i s i v a m e n t e , na Filosofia Politica do constitucionalismo m o d e r n o . Ressalte-se q u e a l e m de a p r e s e n t a r uma distingao a c e r c a d o s poderes do Estado, subdividindo-os e m Legislativo, Executivo e Judiciario, d e maneira a observar o equilibrio e c o o p e r a g a o entre eles, o filosofo frances f u n d a m e n t o u a s e p a r a g a o d o s p o d e r e s na n e c e s s i d a d e de s e controlar o poder d o E s t a d o , t e n d e n t e a tornar-se arbitrario, c o m o fim principal de se d e f e n d e r a liberdade d o s c i d a d a o s .

C o m respeito a e x p r e s s a o s e p a r a g a o d o s poderes, faz-se mister apresentar alguns e s c l a r e c i m e n t o s relevantes. A referida e x p r e s s a o nao pode ser interpretada de maneira absoluta. C u m p r e , e m primeiro piano, ressaltar q u e o poder e n q u a n t o e l e m e n t o constitutive f u n d a m e n t a l do Estado caracteriza-se pela u n i d a d e e indivisibilidade, d e n o m i n a n d o - s e poder s o b e r a n o . A utilizagao do t e r m o "separagao dos p o d e r e s " diz respeito a divisao d a s atividades do Estado s e g u n d o o criterio funcional. Distingue-se, portanto, tres fungoes do Estado: legislagao, administragao e jurisdigao que s a o atribuidas a tres orgaos especializados para cumprir c a d a u m a dessas fungoes de maneira exclusiva.

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R e p o r t a n d o - s e ao artigo 2° d a Constituigao Federal d e 1988, o b s e r v a - s e q u e a s e p a r a g a o das f u n g o e s do Estado d e v e respeitar a clausula " i n d e p e n d e n t e s e h a r m o n i c o s entre si". A s s i m , a i n d e p e n d e n c i a reside no fato de inexistirem, entre as fungoes estatais, meios de subordinagao. S e n d o c a d a orgao especializado no e x e r c i c i o de u m a f u n g a o exclusiva, c o m p e t e aos s e u s integrantes se investirem nas atribuigoes que Ihe s a o proprias s e m a n e c e s s i d a d e de autorizagao de outro o r g a o , p o d e n d o livremente organizar os respectivos servigos, o b s e r v a n d o - s e , s o m e n t e , os preceitos constitucionais e legais.

A l e m de i n d e p e n d e n t e s , ha de se buscar entre as fungoes do Estado u m a atuagao h a r m o n i c a , q u e prima, e m primeiro piano, pelo respeito as atribuigoes exclusivas inerentes a c a d a fungao, c o m base na c o o p e r a g a o necessaria para s e realizar os objetivos constitucionais.

Interessante a s p e c t o a s e notar e q u e nao se b u s c a , m e s m o c o m a divisao d a s fungoes d o Estado, a verificagao de uma independencia absoluta entre as d e t e r m i n a d a s fungoes, t e n d o e m vista que a Constituigao Federal a d o t o u a teoria d o s freios e c o n t r a p e s o s . Esta teoria implica no e s t a b e l e c i m e n t o de u m s i s t e m a c o m p l e x o de controles r e c i p r o c o s o b s e r v a d o s entre as tres fungoes do Estado, d e maneira q u e , ao m e s m o t e m p o , u m a f u n g a o exerga u m controle s o b r e as demais f u n g o e s e por elas seja t a m b e m controlada. C o m e s s e m e c a n i s m o de interferencia m u t u o , almeja-se evitar arbitrariedades no exercicio de c a d a fungao estatal, indispensavel para garantia do Estado D e m o c r a t i c o d e Direito.

1.3 Da organizagao das fungoes estatais: Executivo, Judiciario e Legislativo.

De posse d a teoria d a " S e p a r a g a o dos Poderes", a Constituigao Federal e m s e u artigo 2 ° p r e c o n i z o u a divisao dos poderes estatais e m Executivo, Judiciario e Legislativo. Ressalte-se q u e poder, n e s s e c a s o , e utilizado c o m b a s e no criterio d e especializagao funcional, o n d e se d i s t i n g u e m orgaos a u t o n o m o s d e s e m p e n h a n t e s de tres f u n g o e s estatais: administragao, jurisdigao e legislagao. Na especializagao das atividades estatais, a Constituigao Federal nao c o n s a g r o u u m a exclusividade absoluta, visto q u e conferiu fungoes tipicas e atipicas aos p o d e r e s do Estado.

P r e c i p u a m e n t e , o Poder Executivo, e n q u a n t o poder constitucional, p o s s u i a f u n g a o tipica de realizar a A d m i n i s t r a g a o Publica. No tocante a chefia do Poder

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Executivo, a Constituigao Federal, e m s e u artigo 76 d i s p o s q u e "O P o d e r Executivo e exercido pelo Presidente da Republica, auxiliado pelos Ministros de Estado". O Presidente da Republica, no mister de sua fungao tipica, personifica a pratica d o s atos cumulativos de Chefia de Estado e de Chefia de G o v e r n o , caracterizando-se, de forma e x p r e s s a , a a d o g a o d o regime d e g o v e r n o presidencialista.

No ambito d a s atribuigoes atipicas, o Poder Executivo legisla, q u a n d o e x p e d e atos c o m forga de lei, d e n o m i n a d a s de medidas provisorias. A i n d a , e x e r c e uma f u n g a o de natureza politica, no m o m e n t o e m q u e participa do processo legislativo, pela iniciativa, sangao, v e t o e p r o m u l g a g a o das leis p o d e n d o , t a m b e m , propor e m e n d a a Constituigao. C o m p e t e , ao Poder Executivo, a possibilidade de expedir r e g u l a m e n t o s c o m a finalidade d e facilitar a fiel e x e c u g a o das leis. N e s s e d i a p a s a o , ao Poder Executivo e conferido, atipicamente, a fungao de julgar os c a s o s concretos c o n c e r n e n t e s a o r d e m de sua administragao interna, prolatando d e c i s a o de c u n h o a d m i n i s t r a t i v e

Na esfera d a organizagao dos poderes do Estado, encontra-se presente o P o d e r Judiciario. C o m relagao ao exercicio d a fungao tipica, c o m p e t e ao Poder Judiciario o mister d a prestagao jurisdicional, c o n s i s t e n t e na c o m p o s i g a o de interesses, c o m aplicagao d a lei ao c a s o concreto, prolatando, ao final d o processo, u m a d e c i s a o c o m carater d e definitividade, d e s i g n a d a de coisa julgada.

Entretanto, e m q u e p e s e o e x e r c i c i o d a f u n g a o t i p i c a , a Constituigao Federal atribuiu ao Poder Judiciario a possibilidade de executar fungoes atipicas de natureza administrativa e legislativa. D e s s e m o d o , a Constituigao Federal ao dispor no art. 99 que "Ao Poder Judiciario e a s s e g u r a d a a u t o n o m i a administrativa e financeira" conferiu a e s t e poder a possibilidade de organizar a estrutura interna de s e u s o r g a o s , bem c o m o de elaborar s u a s propostas orgamentarias dentro do limite legal. O u t r o s s i m , o Poder Judiciario e c o m p e t e n t e para legislar s o b r e s e u regimento interno, c o m respeito as normas d e p r o c e s s o e garantias processuais.

C o m s u p e d a n e o na divisao tripartite d o s p o d e r e s do Estado, d e c o r r e n t e d a Toria d a S e p a r a g a o d o s Poderes, e n c o n t r a - s e estabelecido o P o d e r Legislativo. E m virtude d a adogao d o Federalismo c o m o forma de E s t a d o , o Poder Legislativo Federal utiliza o s i s t e m a bicameral. N e s s e sentido, o artigo 4 4 d a Constituigao preve q u e "O Poder Legislativo e exercido pelo C o n g r e s s o Nacional, q u e s e c o m p o e da C a m a r a d o s D e p u t a d o s e do S e n a d o Federal". Na utilizagao do citado

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sistema, os m e m b r o s d a C a m a r a d o s D e p u t a d o s c o n s t i t u e m - s e de representantes do p o v o , ao p a s s o que no S e n a d o e n c o n t r a m - s e os representantes dos Estados e do Distrito Federal.

O P o d e r Legislativo e x e r c e d u a s fungoes t i p i c a s : legislar e fiscalizar. No q u e c o n c e r n e a f u n g a o legiferante, c u m p r e , ao P o d e r Legislativo, a atividade de

produzir as leis gerais, g e r a d o r a s d e direitos e d e v e r e s . A i n d a s o b o aspecto funcional t i p i c o , o Poder Legislativo e incumbido d a f u n g a o fiscalizatoria, o u seja, d o mister d e perquirir a c e r c a dos atos de g e s t a o dos interesses publicos, e x e r c i d o s , portanto, pela A d m i n i s t r a g a o Publica.

No que c o n c e r n e as fungoes atipicas, o Poder Legislativo pode administrar e julgar. A atividade administrativa exercida pelo P o d e r Legislativo refere-se a organizagao e f u n c i o n a m e n t o de s u a estrutura interna. Igualmente, c o m p e t e - l h e a fungao de processo e j u l g a m e n t o nos crimes de responsabilidade c o m e t i d o s pelos principals a g e n t e s politicos.

1.4 Das c o m i s s o e s

N o a m b i t o d a o r g a n i z a g a o do Estado, a Constituigao Federal de 1988 a d o t o u a teoria d a " S e p a r a g a o d o s Poderes", distinguindo-os e m Legislativo, Executivo e Judiciario. C o m p e t e , a c a d a poder, o exercicio de fungoes tipicas e atipicas. Especificamente, ao Poder Legislativo f o r a m atribuidas as fungoes p r e c i p u a s de legislar e fiscalizar. Para u m a proficua e x e c u g a o das referidas f u n g o e s , o C o n g r e s s o Nacional estrutura o r g a o s internos c o m o fim de c o o r d e n a r as s u a s respectivas atividades.

Dentre e s s e s orgaos internos do C o n g r e s s o Nacional, d e s t a c a m - s e as C o m i s s o e s . A s s i m , e m c o n f o r m i d a d e c o m previsao do texto constitucional vigente, o "Art. 58 O C o n g r e s s o Nacional e s u a s C a s a s terao c o m i s s o e s p e r m a n e n t e s e temporarias e, constituidas na f o r m a e c o m as atribuigoes previstas no respectivo regimento ou no ato d e q u e resultar s u a criagao". O b s e r v a - s e q u e as C o m i s s o e s parlamentares s a o constituidas por m e m b r o s do C o n g r e s s o Nacional, respeitando-se a representagao partidaria e o regimento interno d a s respectivas Casas. P o d e m ser p e r m a n e n t e s ou temporarias, e, ainda, mistas e representativa.

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E n t e n d e - s e por c o m i s s o e s p e r m a n e n t e s aquelas o r g a n i z a d a s e m razao d a materia e q u e p e r d u r a m ao longo d a s legislaturas. C o n f i g u r a m , portanto, instrumentos d o Poder Legislativo, no ambito de s u a fungao legiferante, visto q u e realizam e s t u d o acerca da legislagao a ser e l a b o r a d a , analisando a constitucionalidade e o c o n t e u d o d o s projetos de lei, c o m o p r o c l a m a d o no §2° inciso I d o art. 58 d a C F , a l e m de a p r e s e n t a r outras atribuigoes constitucionais (§ 2° incisos II, III, IV,V e V I do art. 58). A s C o m i s s o e s T e m p o r a r i a s ou Especiais, por s u a vez, s a o aquelas q u e p o s s u e m prazo pre-fixado, visto q u e s e e x t i n g u e m c o m o t e r m i n o d a legislatura o u , ate m e s m o antes dela, q u a n d o alcangar o objetivo para o qual foi criada. S a o constituidas c o m intuito d e s e posicionarem a c e r c a de u m a s s u n t o e s p e c i f i c o e d e t e r m i n a d o .

A s C o m i s s o e s Mistas s a o f o r m a d a s por m e m b r o s da C a m a r a d o s D e p u t a d o s e do S e n a d o Federal q u a n d o a materia a ser analisada necessita d e s e s s a o conjunta das d u a s C a s a s , e p o d e m ser p e r m a n e n t e s ou t e m p o r a r i a s . Ja a C o m i s s a o R e p r e s e n t a t i v a , de a c o r d o c o m §4° d o artigo 5 8 d a Constituigao Federal e instituida c o m a finalidade d e representar o C o n g r e s s o Nacional d u r a n t e o r e c e s s o parlamentar, s e n d o f o r m a d a por m e m b r o s d a C a m a r a d o s D e p u t a d o s e do S e n a d o Federal, a s s e g u r a n d o - s e as atribuigoes previstas no regimento c o m u m e representagao partidaria.

N o t o c a n t e as C o m i s s o e s T e m p o r a r i a s ou Especiais, faz-se necessario ressaltar q u e estas a b r a n g e m as d e n o m i n a d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito estabelecidas no § 3° do artigo 58 d a Constituigao Federal. D e s s a maneira, as C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito s a o f o r m a d a s por m e m b r o s do C o n g r e s s o Nacional, e constituem instrumentos auxiliares d a s fungoes p r e c i p u a s de fiscalizar e legislar d o Poder Legislativo, c o m o desiderato principal de investigar a s s u n t o s pertinentes a Administragao Publica.

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A s i n f o r m a c o e s e s p o s a d a s no capitulo e m tela s e p r o p o e m a tratar d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, no respeitante a s u a evolugao historica e a o s s e u s a s p e c t o s estruturais e j u r i d i c o s , t e n d o e m vista a relevancia d e s s e instituto para o P o d e r Legislativo nacional.

2.1 Do p a n o r a m a historico no direito c o m p a r a d o e no direito brasileiro

A g e n e s e das C o m i s s o e s Parlamentares c o m fins investigativos, no direito c o m p a r a d o , remonta a Grecia A n t i g a , o n d e na estrutura politica d e A t e n a s c o m p r o v o u - s e a existencia de u m a d e n o m i n a d a Corte de Contas f o r m a d a d e z oficiais, investidos no c a r g o pela eleicao anual d a a s s e m b l e i a - g e r a l d o p o v o . Perante e s s a Corte e r a m obrigados a c o m p a r e c e r os arcontes, s e n a d o r e s , c o m a n d a n t e s d a s g a l e r a s , e m b a i x a d o r e s , s a c e r d o t e s , b e m c o m o t o d o s aqueles q u e e x e r c e s s e m fungoes relacionadas a A d m i n i s t r a g a o , c o m a obrigagao de prestar c o n t a s d o dinheiro publico e d o s atos de g e s t a o , s o b pena de punigao.

O u t r o s s i m , na R o m a A n t i g a , os poderes de investigagao dos atos de g e s t a o praticados pelos a g e n t e s da Alta A d m i n i s t r a g a o r o m a n a c o m p e t i a m aos

Senatus r e p u b l i c a n s p o d e n d o ainda p r o c e s s a r e julgar ilicitos c o m e t i d o s por

e s s e s a g e n t e s . N e s s a e p o c a , ja s e previa a d e l e g a g a o de C o m i s s o e s Especiais c o m a finalidade de se investigar e controlar as finangas publicas e t o m a r contas da magistratura.

S e g u i n d o a s ideias d a Republica R o m a n a , o Parlamento Britanico p a s s o u a r e c o n h e c e r a possibilidade de instituigao, por parte d a s C a m a r a s , de C o m i s s o e s de natureza investigativa, a partir do seculo XIV, nos reinados de E d u a r d o II e E d u a r d o III (1327 a 1377). A significagao m o d e r n a das C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito britanicas s e a p r e s e n t o u nos seculos XVI e X V I I , t e n d o e m vista q u e neste p e r i o d o ocorreram as mais diversas investigagoes que p e r s c r u t a r a m s o b r e c a s o s eleitorais (1571), conflitos a r m a d o s e ate s o b r e q u e s t o e s do Direito de N a v e g a g a o (1644). A maioria d a s c o m i s s o e s de investigagao foi criada pela

House of Commons, isto e, C a m a r a dos C o m u n s . T a m b e m , nessa e p o c a f o r a m

i m p l e m e n t a d a s C o m i s s o e s P a r l a m e n t a r e s , c o m o intuito de acumular informagoes para auxiliar no p r o c e s s o de produgao legislativa d a q u e l e p a i s .

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O s Inqueritos Parlamentares f o r a m r e c e p c i o n a d o s , e m primeiro piano, pelas colonias norte-americanas. A p o s a independencia das colonias e m 1776, os Estados F e d e r a d o s a m e r i c a n o s c o n t i n u a r a m utilizando, por meio d e s u a s a s s e m b l e i a s , o instituto d a s praticas investigativas. O s Estados Unidos, no decorrer d e s u a historia federalista, configurou o p a i s recordista na i m p l e m e n t a c a o de C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito.

C o m efeito, o b s e r v a - s e a p r e s e n c a de c o m i s s a o de carater investigativo na pratica parlamentar da Franga. A pretexto disso, a primeira c o m i s s a o investigativa

- comission de' enquele - surgiu 1828. A i n d a , durante a Revolugao F r a n c e s a , as

C a m a r a s f r a n c e s a s e f e t u a r a m investigagoes, no entanto, de maneira mais timida. C o m a Constituigao francesa de 1958, as C o m i s s o e s Parlamentares f o r a m r e g u l a m e n t a d a s pelo texto legal.

Na A l e m a n h a , no tocante aos inqueritos p a r l a m e n t a r e s , m e r e c e d e s t a q u e a Constituigao de W e i m a r d e 1919 q u e , s e g u i n d o a Constituigao d e 1849, positivou a instalagao das C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito, m e d i a n t e requerimento de u m quinto d o s m e m b r o s d o Parlamento a l e m a o , o b s e r v a n d o - s e as normas p r o c e s s u a i s p e n a i s . A Italia t a m b e m admitia a investigagao pelo Legislativo.

Isto posto, c o m base nas e x p e r i e n c i a s d e m o n s t r a d a s , o constitucionalismo e u r o p e u recepcionou a possibilidade d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito. Jesse contexto, o e x e m p l o a l e m a o foi s e g u i d o pelas Constituigoes da Holanda, Belgica, Austria, Polonia, T u r q u i a , Letonia, Grecia, b e m c o m o e m outros p a i s e s . C o n v e m ressaltar q u e na A m e r i c a do Sul, no seculo XIX, a A r g e n t i n a e Uruguai admitiram a instalagao de c o m i s s o e s parlamentares investigativas.

N o direito patrio, a e v o l u g a o historica d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito s e o b s e r v a no ambito d o s textos constitucionais brasileiros. P r e c i p u a m e n t e , a Constituigao Imperial de 1824 nao previu, e x p r e s s a m e n t e , a r e g u l a m e n t a g a o de C o m i s s o e s Parlamentares de inquerito. Nao o b s t a n t e , e m s e u artigo 15, inciso V I , e s t a b e l e c e u a possibilidade de investigagao, por parte d a A s s e m b l e i a Geral, d a administragao do P o d e r Executivo Central, nas hipoteses de morte do Imperador ou na v a c a n c i a d o t r o n o . Entretanto, o citado dispositivo constitucional nao o b t e v e efeito pratico, e m f a c e do c o n t e x t o historico d a e p o c a .

A Constituigao republicana brasileira d e 1 8 9 1 , por sua vez, nao e s t a b e l e c e u dispositivo s o b r e as C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito. E m q u e p e s e a a u s e n c i a de previsao constitucional s o b r e c o m i s s o e s investigativas,

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o b s e r v o u - s e , nesse periodo, a proposigao, por parte d a C a m a r a , de d e z e n o v e inqueritos p a r l a m e n t a r e s . M e r e c e registro, n e s s e sentido, o requerimento para instalagao d e inquerito parlamentar, no a n o de 1929, c o m a finalidade d e investigar e m p r e s t i m o s irregulares c o n c e d i d o s pelo B a n c o do Brasil a p e s s o a s influentes.

C o m f u n d a m e n t o na Carta alema de W e i m a r , a Constituigao brasileira de 1934, e m seu artigo 36, instituiu, e x p r e s s a m e n t e , as C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito, de criagao privativa d a C a m a r a d o s D e p u t a d o s . Ocorre q u e , a Constituigao d e 1937 foi o m i s s a e m relagao as C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, s e n d o estas restabelecidas no artigo 53 d a Carta M a g n a de 1946. O p r e s e n t e diploma e s t e n d e u a criagao de c o m i s s o e s ao S e n a d o Federal e s o b s u a e g i d e foi p r o m u l g a d a a Lei 1.579/52, primeira a tratar do f u n c i o n a m e n t o das CPI's. E m f a s e ulterior, a Constituigao de 1967, no artigo 39, m a n t e v e as C o m i s s o e s investigativas, permitindo a criagao de c o m i s s o e s mistas, f o r m a d a s por m e m b r o s d a C a m a r a e d o S e n a d o , s u p r i m i n d o , c o n t u d o , representagao partidaria. N e s s e entretempo, c o m a p r o m u l g a g a o d a E m e n d a Constitucional n° 1 de 1969, e m s e u artigo 37, c o n s e r v o u as C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito.

Por fim, a Constituigao da Republica Federativa d o Brasil, p r o m u l g a d a e m 1988, e e m atual vigencia, p r e c o n i z o u a criagao d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito no § 3° do s e u artigo 58, admitindo, e x p r e s s a m e n t e , a relevancia constitucional d e s s e instituto para as fungoes p r e c i p u a s d o P o d e r Legislativo.

2.2 Do conceito e natureza juridica

C o m f u n d a m e n t o na e v o l u g a o historica a p r e s e n t a d a e m capitulo anterior, o b s e r v a - s e que as C o m i s s o e s P a r l a m e n t a r e s de Inquerito f o r a m a m p l a m e n t e utilizadas no a m b i t o do direito c o m p a r a d o , a s s i m c o m o no direito brasileiro. Diante d a importancia q u e o referido instituto adquiriu e m f a c e das instituigoes politicas, h o d i e r n a m e n t e , os inqueritos parlamentares e n c o n t r a m - s e c o n s a g r a d o s nos textos constitucionais de diversos p a i s e s . N o Brasil, as Constituigoes nacionais, a partir d a Carta Politica d e 1934, v e m d e m o n s t r a n d o , e x p r e s s a m e n t e , a relevancia d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, s e n d o dispostas c o m maior e n f a s e na Constituigao Federal d e 1988, no s e u § 3° do artigo 58.

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E m virtude da importancia d a s C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, J o s e Alfredo de O. B a r a c h o ( 2 0 0 1 , p. 150) proporciona o s e g u i n t e conceito:

As Comissoes Parlamentares de Inauerito sao instrumentos essenciais para ampla fiscalizacao das diversas instituigoes do Estado Democratico. principalmente no que concerne as amplas, oportunas e permanentes maneiras de controlar os orgaos do poder.

De p o s s e d e s s a c o n c e i t u a c a o , a d o t a - s e o e n t e n d i m e n t o q u e e m f a c e do E s t a d o D e m o c r a t i c o d e Direito, e n u n c i a d o no artigo 1° d a atual Constituigao Federal, a C o m i s s a o Parlamentar de Inquerito configura u m instrumento j u r i d i c o -politico d e m o c r a t i c o , de carater constitucional. E x e r c e , no ambito d o Poder Legislativo, a f u n g a o tipica de fiscalizagao e controle d o s o r g a o s do p o d e r estatal, principalmente, e m relagao aos orgaos q u e d e s e m p e n h a m os atos de administragao publica e m a n a d o s do Poder Executivo. A l e m disso, b u s c a - s e , c o m tal investigagao, a coleta d e informagoes c o m fins d e produgao legislativa.

N e s s e contexto, a natureza j u r i d i c a d a s C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito e u m a q u e s t a o d e v e r a s c o m p l e x a , t e n d o e m vista a diversidade d e interpretagoes e s p o s a d a s pelos estudiosos d o a s s u n t o . Diante d a c o m p l e x i d a d e q u e rodeia o t e m a e m analise, e salutar q u e se faga r e f e r e n d a a o s diversos e n t e n d i m e n t o s presentes na seara juridica.

Inicialmente, a C o m i s s a o Parlamentar d e Inquerito a p r e s e n t a - s e c o m o u m a figura hibrida. N e s s e sentido, Leo da Silva A l v e s (2005, p.26) d i s p o e q u e : "[...] a C P I e u m instrumento j u r i d i c o hibrido. fz o inquerito d o Parlamento [...]. M a s , ao m e s m o t e m p o , e m que d e s e n v o l v e m trabalhos de investigagao [...] as CPI's c o n t a m c o m poderes d e autoridades judiciais para efeito de coleta de provas." A pretexto disso, p e r c e b e - s e q u e a investigagao parlamentar p o s s u i natureza juridica c o m p l e x a , visto que conjuga caracteristicas presentes tanto no inquerito q u a n t o no p r o c e s s o judicial.

Por c o n s e g u i n t e , m e r e c e registro o e n t e n d i m e n t o do S T F a o dispor s o b r e a natureza juridica do inquerito parlamentar, e m j u l g a m e n t o de M a n d a n d o de S e g u r a n g a presente no Diario d a Justiga. A s s i m :

O inquerito parlamentar realizado por qualquer CPI qualifica-se como procedimento juridico-politico revestido de autonomia e

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dotado de finalidade propria, circunstancia esta que permite a Comissao Legislativa - sempre respeitados os limites inerentes a competencia material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituigao - promover a pertinente investigagao, ainda que os atos investigatorios possam incidir, eventualmente sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inqueritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexao com o evento principal objeto da apuragao congressual.(STF - Pleno -MS n° 23.639-6/DF - Re. Min Celso de Mello - Diario da Justiga Segao I, 16 fev. 2001 p. 91)

O S T F enuncia q u e a C o m i s s a o Parlamentar de Inquerito constitui instrumento de indole constitucional, atribuindo-lhe a caracteristica d a a u t o n o m i a . D e s s a maneira, e m q u e p e s e a instauragao de inquerito policial ou p r o c e s s o penal na esfera judicial, c o m s u p e d a n e o nos m e s m o s f u n d a m e n t o s faticos d a s C o m i s s o e s Parlamentares de c u n h o investigativo, tal situagao n a o prejudica, e n e m t a m p o u c o , anula a instauragao de inquerito parlamentar.

A i n d a , no que c o n c e r n e a natureza juridica, Francisco Rodrigues d a Silva ( 2 0 0 1 , p.59), a o explicitar a s u a opiniao, salientou q u e "As C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito p o s s u e m a natureza juridica de atividade administrativa discricionaria investigativa inquisitorial". Para o autor, a natureza juridica d o inquerito parlamentar a p r e s e n t a a reuniao d e caracteristicas.

P r e c i p u a m e n t e , a investigagao parlamentar c o n s u b s t a n c i a u m a atividade administrativa, t e n d o e m vista q u e a criagao e instauragao d a C o m i s s a o Parlamentar d e Inquerito d e c o r r e m de pratica de atos de c o m p e t e n c i a das respectivas C a s a s Legislativas. N e s s e sentido, possui o requisito d a discricionariedade, e m virtude d a f a c u l d a d e de realizar, portanto, d e t e r m i n a d a investigagao o u diligencia. O carater investigativo decorre d a propria natureza d e s s a c o m i s s a o , visto q u e s e b u s c a perscrutar sobre o fato d e t e r m i n a d o q u e motivou a criagao do inquerito parlamentar.

E m s e g u i d a , o autor o b s e r v a que no inquerito parlamentar utiliza-se do p r o c e d i m e n t o de carater i n q u i s i t i v e nao se e n c o n t r a n d o e s t e s u b o r d i n a d o a q u a l q u e r outro tipo de p r o c e d i m e n t o seja judicial ou a d m i n i s t r a t i v e Neste caso, o inquerito parlamentar nao julga e n e m p r o c e s s a , a p e n a s investiga. A p r e s e n t a , t a m b e m , carater informativo, pois procura reter e l e m e n t o s e indicios informativos inerentes ao fato d e t e r m i n a d o , objeto da investigagao, p o d e n d o tais informagoes,

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s e for o c a s o , e n c a m i n h a d a s para o Ministerio Publico ou para outras instituigoes, d e p e n d e n d o , portanto, d a situacao c o n c r e t a .

A f i g u r a m - s e , ainda, a opiniao d o s autores q u e d e f e n d e m a aplicagao d o artigo 5°, inciso L V da Constituigao Federal de 1988, g a r a n t i n d o - s e , pois, o contraditorio e a a m p l a d e f e s a nos inqueritos parlamentares, t e n d o e m vista tratar-se de p r o c e d i m e n t o judicialiforme, c o m caracteristicas de inquerito e d e p o d e r e s d e autoridades judiciais.

Diante d a d i s c u s s a o sobre a materia, a corrente majoritaria e n t e n d e que o inquerito parlamentar m e s m o possuindo poderes de investigagao proprios d e autoridades judiciais possui natureza inquisitiva, pois, o objetivo e a p e n a s investigar, nao p o d e n d o processar ou julgar. N e s s e sentido, nao se aplicam o s principios constitucionais d o contraditorio e d a ampla d e f e s a .

2.3 Das m o d a l i d a d e s

C o n f o r m e o artigo 1° da Constituigao Federal de 1988, na organizagao da f o r m a d o E s t a d o Brasileiro a d o t o u - s e Federalismo. N e s s a f o r m a de E s t a d o , verifica-se a repartigao d a s c o m p e t e n c i a s legislativas, administrativas e financeiras entre as e n t i d a d e s federativas, Uniao, E s t a d o s - m e m b r o s , Distrito Federal e Municipios, o b s e r v a n d o - s e os preceitos estabelecidos no texto constitucional.

D e s s e m o d o , Francisco Rodrigues d a Silva ( 2 0 0 1 , p.62) a p r e s e n t a o seguinte e n t e n d i m e n t o a c e r c a d a s m o d a l i d a d e s de inqueritos p a r l a m e n t a r e s :

As Comissoes Parlamentares de Inquerito sao criadas e instaladas pelo Congresso Nacional na orbita Federal, pelas Assembleias Legislativas na esfera dos Estados-membros e do Distrito Federal e pelas Camaras Municipals com relagao aos municipios.

D e s s e m o d o , e m razao d o principio federativo, c o m p e t e a Uniao, aos E s t a d o s - m e m b r o s , ao Distrito Federal e a o s M u n i c i p i o s , a criagao e instalagao de C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito por s u a s respectivas C a s a s Legislativas. E v e d a d a a criagao, por parte d e u m a unidade d a federagao, de inqueritos parlamentares c o m b a s e nas atividades privativas dos outros entes federativos.

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No e n t a n t o , tal v e d a g a o nao e absoluta, p o d e n d o , por e x e m p l o , a Uniao, referendado pelo C o n g r e s s o Nacional char C o m i s s a o Parlamentar de Inquerito c o m b a s e na existencia de irregularidades e m repasses de verba publica d a Uniao para os E s t a d o s - m e m b r o s .

C a s o e s t e j a m presentes as c o n d i g o e s legais e os pressupostos d e validade formais e materiais autorizadores d a criagao d o s inqueritos parlamentares, c u m p r e a c a d a entidade federativa, instaurar C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito, de a c o r d o c o m o texto constitucional e a Lei n° 1.579/52 - Lei d a s CPI's.

2.4 Dos pressupostos de validade

A n t e s de se adentrar ao c e r n e d a q u e s t a o , faz-se necessario explicar q u e a criagao das C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito d e p e n d e da c o n j u g a g a o c o n c o m i t a n t e de d e t e r m i n a d o s p r e s s u p o s t o s j u r i d i c o s , q u e s e e n c o n t r a m e s t a b e l e c i d o s , e x p r e s s a m e n t e , na Constituigao Federal de 1988.

N e s s e d i a p a s a o , para q u e o inquerito parlamentar p o s s u a validade legal, tornase imperioso a observancia d e s s e s p r e s s u p o s t o s . N e s s e sentido, a f i g u r a m -se outros d i p l o m a s legais q u e t a m b e m disciplinam a materia e m q u e s t a o : a Lei n° 1.579/52 - Lei das CPI's - e os respectivos regimentos internos das C a s a s Legislativas Inicialmente abordar-se-ao os requisites formais.

2.4.1 Formais

O s pressupostos de validade formais c o n s t i t u e m os requisites legais imprescindiveis para criagao e instalagao d a s C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito, e e s t a o dispostos no artigo 58, § 3° d a Constituigao Federal de 1988:

Art. 58[...]

§ 3° As comissoes parlamentares de inquerito, que terao poderes de investigacao proprios de autoridades judiciais, alem de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serao criadas pela Camara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um tergo de seus membros, para a apuragao de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusoes, se for o caso, encaminhadas ao Ministerio Publico para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

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Deflui-se, portanto, d o texto constitucional supracitado, a p r e s e n c a dos seguintes p r e s s u p o s t o s :

P r e c i p u a m e n t e , a criagao e instalagao das C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito d e p e n d e m d a observancia de quorum qualificado, isto e, do requerimento d e u m tergo (1/3) d o s m e m b r o s da C a m a r a d o s D e p u t a d o s e d o S e n a d o Federal, s e p a r a d a m e n t e ou e m conjunto. Neste ultimo c a s o , t e m - s e as c o m i s s o e s mistas, f o r m a d a s por m e m b r o s do C o n g r e s s o Nacional, ( C a m a r a d o s D e p u t a d o s e S e n a d o r e s e m conjunto). Especificamente, exige-se para a criagao d o s inqueritos p a r l a m e n t a r e s , o requerimento de 171 D e p u t a d o s (1/3 de 513) e 2 7 S e n a d o r e s (1/3 de 81), p o d e n d o s e r e m c o n j u n t o ou s e p a r a d a m e n t e .

A fixagao d o quorum de u m tergo para instalagao de C o m i s s a o Parlamentar de Inquerito d e c o r r e d a o b s e r v a n c i a do principio d a prevalencia d a v o n t a d e da minoria na f a s e de criagao, isto e, o d e n o m i n a d o direito publico subjetivo das minorias. E x c e p c i o n a l m e n t e , o paragrafo unico do artigo 1° da Lei 1.579/52 admite a possibilidade de criagao da c o m i s s a o investigativa por deliberagao plenaria, c a s o nao s e consiga o quorum de u m tergo das C a s a s Legislativas.

P e r c e b e - s e , c o n t u d o , q u e o paragrafo 1°, do artigo 58 d a Constituigao Federal patria, a s s e g u r a o p r e s s u p o s t o , q u a n d o possivel, da proporcionalidade d a representagao partidaria, r e c o m e n d a n d o - s e , pois, q u e na c o m p o s i g a o das C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito efetive-se a participagao dos diferentes partidos politicos, respeitando-se a maioria e minoria d a s correntes partidarias.

Extrai-se, por s u a vez, d o v e r s i c u l o constitucional s u p r a c i t a d o q u e a criagao d e C o m i s s a o Parlamentar de Inquerito d e p e n d e d e u m objeto: a a p u r a g a o d e fato d e t e r m i n a d o . B u s c a - s e , portanto, investigar u m a c o n t e c i m e n t o q u e produziu c o n s e q u e n c i a s no a m b i t o juridico. T a l fato d e v e ser b e m individualizado, definido, especifico, e q u e esteja relacionado ao Poder Publico. N e s s a linha de p e n s a m e n t o , o § 1° do artigo 35 d o R e g i m e n t o Interno d a C a m a r a dos D e p u t a d o s : "Considera-se fato d e t e r m i n a d o o a c o n t e c i m e n t o de relevante interesse para a vida publica e a o r d e m constitucional, legal, e c o n o m i c a e social d o P a i s , que estiver d e v i d a m e n t e caracterizado no r e q u e r i m e n t o de constituigao da c o m i s s a o " N a o s e admite, c o m efeito, a investigagao de fatos imprecisos e genericos. £

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d e f e s o , outrossim, perscrutar fatos d a orbita privada dos individuos, c o m e x c e c a o d o s c a s o s q u e t e n h a m relacao direta c o m o interesse publico.

E m q u e p e s e a exigencia de fato d e t e r m i n a d o , e p o s s i v e l a investigacao de fatos c o n e x o s ao principal. C a s o surjam fatos novos durante a investigagao, antes d e s c o n h e c i d o s , d e s d e q u e e s t e j a m relacionados c o m o fato principal, permite-se

u m a d i t a m e n t o ao objeto originario do inquerito parlamentar, ja e m curso.

Trata-se a C o m i s s a o Parlamentar d e Inquerito de u m a e s p e c i e das c o m i s s o e s t e m p o r a r i a s . N e s s e c a s o , exige-se, no m o m e n t o d e criagao das c o m i s s o e s investigativas, a fixagao de u m prazo c e r t o1 e d e t e r m i n a d o para a c o n s e c u g a o d e s e u s trabalhos, c o m a possibilidade de prorrogagao do prazo, q u e pode ser pedida no ato de criagao d a c o m i s s a o , ou posteriormente, por requerimento de u m tergo de s e u s m e m b r o s ( S e n a d o ) . O s trabalhos das c o m i s s o e s investigativas findam c o m a s e s s a o legislativa (periodo anual de f u n c i o n a m e n t o do C o n g r e s s o ) e m q u e foi criada. N o e n t a n t o , p e r m i t e m - s e prorrogagoes s u c e s s i v a s dentro d a legislatura (periodo d e quatro anos equivalente ao m a n d a t o d o s D e p u t a d o s ) e m curso.(Lei n° 1.579/52, § 2°, art. 5°).

A Constituigao Federal de 1988 conferiu as C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito p o d e r e s de investigagao proprios de autoridades judiciais. Ressalte-se, inicialmente, q u e tais poderes nao s e e q u i p a r a m a q u e l e s inerentes a fungao jurisdicional. Esta clausula constitucional d e v e ser interpretada no sentido d e conferir a o s inqueritos parlamentares p o d e r e s de instrugao probatoria, no m e s m o teor d a q u e l e s atribuidos aos m a g i s t r a d o s na instrugao processual penal, e m c o n s o n a n c i a c o m os preceitos constitucionais. Procurou-se atribuir a prerrogativa de imperatividade as determinagoes a d v i n d a s dos inqueritos p a r l a m e n t a r e s .

Isto posto, c o m p r o v a n d o - s e , ao final d a s investigagoes, indicios d e ilicitos penais ou civis, as c o n c l u s o e s dos inqueritos parlamentares d e v e m ser e n c a m i n h a d a s ao Ministerio Publico, o u as autoridades administrativas ou judiciais, c o n f o r m e o c a s o , visto q u e tais inqueritos nao p o s s u e m c o m p e t e n c i a

para processar, julgar ou impor p e n a l i d a d e s .

' Na criagao das comissoes investigativas, os parlamentares tern seguindo a orientagao para fixar o prazo de noventa e/ou 120 dias. Na fixagao do prazo certo, deve-se, pois considerar a complexidade da investigacao.

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2.4.2 Materials

A p r e s e n t a d o s os p r e s s u p o s t o s de validade formais, c u m p r e , portanto, tratar d o s requisitos d e o r d e m material q u e se c o n s u b s t a n c i a m nos principios constitucionais orientadores da a t u a c a o dos inqueritos parlamentares.

Inicialmente, os principios r e p r e s e n t a m ideias essenciais, n o r m a s - v a l o r e s de carater normativo e geral, q u e p o s s u e m fungao f u n d a m e n t a d o r a , interpretativa, supletiva, integrativa e limitativa do o r d e n a m e n t o juridico. No a m b i t o d a Constituigao Federal, A n d r e R a m o s T a v a r e s (2003, p.92) proclama q u e "os principios constitucionais s a o n o r m a s presentes na Constituigao e q u e se aplicam as d e m a i s n o r m a s constitucionais [...]". D e s s e m o d o , as C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito, no exercicio d e s u a s atribuigoes, d e v e m agir e m c o n f o r m i d a d e c o m os preceitos e limites constitucionais, e v i d e n c i a n d o a s s i m o respeito, e m primeiro piano, ao Principio d a S u p r e m a c i a d a Constituigao.

Especificamente, os inqueritos parlamentares d e v e m observar outros pressupostos materiais. P r e c i p u a m e n t e , no tocante ao principio da s e p a r a g a o dos p o d e r e s , e d e f e s o as C o m i s s o e s Parlamentares d e Inquerito a investigagao de atos inerentes as fungoes tipicas d o Poder Judiciario e Executivo. N e s s e sentido, t e m - s e a impossibilidade de investigagao do merito d a s decisoes judiciais por parte d o s inqueritos p a r l a m e n t a r e s . A i n d a , e m c o n s o n a n c i a c o m o principio federativo, c o m p e t e a Uniao, E s t a d o s - m e m b r o s , Distrito Federal e Municipios a criagao dos inqueritos p a r l a m e n t a r e s , pelas respectivas C a s a s Legislativas. A s c o m i s s o e s investigativas, outrossim, personificam o principio republicano, visto q u e aquelas r e p r e s e n t a m a participagao do p o v o no controle do s i s t e m a politico.

M a l g r a d o a amplitude d o s poderes investigatorios atribuidos as C o m i s s o e s Parlamentares de Inquerito, verifica-se q u e estes nao s a o absolutos, exigindo-se, portanto, respeito ao principio d a d i g n i d a d e d a p e s s o a h u m a n a e aos direitos e garantias f u n d a m e n t a i s . A s decisoes dos inqueritos parlamentares q u e interfiram nos direitos individuals, d e v e observar os principios d a f u n d a m e n t a g a o , publicidade dos atos, legalidade t a m b e m exigidos para as decisoes judiciais.

Referências

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