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Estrutura de custos rígida e seus reflexos nos sticky costs sob a ótica dos contratos

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE

Flávia Renata de Souza

ESTRUTURA DE CUSTOS RÍGIDA E SEUS REFLEXOS NOS STICKY COSTS SOB A ÓTICA DOS CONTRATOS

Florianópolis 2019

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Flávia Renata de Souza

ESTRUTURA DE CUSTOS RÍGIDA E SEUS REFLEXOS NOS STICKY COSTS SOB A ÓTICA DOS CONTRATOS

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em Contabilidade.

Orientador: Prof. Altair Borgert, Dr.

Florianópolis 2019

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ESTRUTURA DE CUSTOS RÍGIDA E SEUS REFLEXOS NOS STICKY COSTS SOB A ÓTICA DOS CONTRATOS Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do grau de Doutora em

Contabilidade pelo Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina, em sua forma final, em 28 de

junho de 2019.

___________________________________________ Ilse Maria Beuren, Dra.

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade Apresentada a comissão examinadora composta pelos professores:

__________________________________________ Prof. Altair Borgert, Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina __________________________________________ Prof. Aldo Leonardo Cunha Callado, Dr. - videoconferência

Universidade Federal da Paraíba

__________________________________________ Prof. Carlos Alberto Grespan Bonacim, Dr. - videoconferência

Universidade de São Paulo

__________________________________________ Prof. Valdirene Gasparetto, Dra.

Universidade Federal de Santa Catarina __________________________________________

Prof. Sérgio Murilo Petri, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

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É chegado o momento de agradecer, nunca esse ato fez tanto sentido na minha vida. Os quatro anos meio de duração do doutorado foram uma desafiante jornada de desenvolvimento e amadurecimento. Além de todo o conhecimento acadêmico e profissional adquirido, fui também desenvolvendo e exercitando o ato de agradecer, mesmo quando tudo parecia perder o sentido. A gratidão é um sentimento que preenche e nos aquece por dentro.

O primeiro e maior agradecimento é a Deus que, nessa existência, me conduziu até esse momento, e me permitiu conhecer as pessoas certas, na hora certa e no lugar certo ao longo dessa caminhada.

Agradeço de todo o coração ao meu marido Francisco, que esteve ao meu lado em todos os momentos, desde a graduação, com apoio, incentivo, muito amor e compreensão. Essa conquista também é sua, muito obrigada por existir na minha vida, me acalmar e ajudar a enxergar o lado positivo em muitos momentos de ansiedade e angústia.

Agradeço à minha família, a base de tudo que sou e sei. Pai e Mãe, muito obrigada pela oportunidade de estudar, por todo o incentivo, por ter crescido em um ambiente que sempre estimulou a busca pelo conhecimento, com disciplina, foco, persistência. À minha irmã Fernanda, minha amiga, minha alegria, minha sócia, muito obrigada por fazer parte da minha vida, você é muito especial e essencial em tudo.

Agradeço ao meu orientador, professor Altair Borgert. Muito obrigada por acreditar no meu potencial, por ter me orientado desde a graduação, o mestrado e o doutorado. Muito obrigada por acreditar em mim até mesmo quando eu duvidei, o professor tem o dom de despertar e desenvolver o melhor de cada um que trabalha com o senhor.

Grupo de Gestão de Custos, o nosso querido GGC. Não consigo encontrar palavras para agradecer a essa família especial. Muita gratidão por fazer parte desse grupo, e ganhar amigos para uma vida. Aline, Natália, Luiza, Thayse, Manu, Rafa, Letícia, queridas amigas, muito obrigada por todo o apoio, pelo ouvido, pelo abraço e pelo incentivo. Deste grupo, faço um agradecimento especial ao Fernando, meu mentor em toda essa trilha acadêmica. O seu apoio e orientação foi fundamental em toda a minha trajetória, você é uma inspiração e um exemplo de propósito e humildade para todos nós.

Aos professores Valdirene Gasparetto, Sergio Murilo Petri, Aldo Leonardo Cunha Callado e Carlos Alberto Grespan Bonacim, que fazem parte da banca de avaliação deste trabalho, muito obrigada por aceitarem o convite e por todas as contribuições que enriqueceram a minha

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pesquisa. Ser professor é um grande desafio que exige muito amor, dedicação e disciplina. Meu mais profundo respeito e admiração por vocês e por todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da UFSC, que dedicam seu tempo para compartilhar conhecimento com todos nós do PPGC da UFSC.

Muito obrigada aos meus colegas do doutorado, por todo apoio, motivação e compreensão nos momentos difíceis que só quem está passando junto entende! Os nossos cafés da tarde já deixaram saudades!

Agradeço também aos meus colegas de trabalho, que acompanharam de perto as etapas finais do doutorado. Minha gratidão a todos na pessoa do meu chefe, Luis Alberto Kallenberger, que se revelou um amigo, um pai, muito além de apenas um chefe. Agradeço a todos pelo apoio e incentivo.

Este período foi de muitas mudanças, muita transformação. Afirmo que entrei no doutorado uma pessoa e saio outra, com muito crescimento pessoal e espiritual, que vai muito além do conhecimento acadêmico. Muita gratidão a cada um que passou pelo meu caminho e compartilhou algo de si. Sozinhos vamos mais rápido, juntos vamos mais longe (autor desconhecido).

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“Não existem sonhos impossíveis para aqueles que realmente acreditam que o poder realizador reside no interior de cada ser humano, sempre que alguém descobre esse poder, algo antes considerado impossível se torna realidade. ” Albert Einstein

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O termo sticky costs refere-se à variação assimétrica dos custos em relação à variação das receitas. Neste âmbito, o objetivo da pesquisa é investigar fatores explicativos da estrutura de custos rígida, provenientes de contratos, e seus reflexos nos sticky costs. Realiza-se um estudo sob a ótica dos contratos firmados na empresa objeto de estudo, que consiste em uma distribuidora de energia elétrica listada no subsetor de atuação Energia Elétrica na B3. A pesquisa caracteriza-se como descritiva, com abordagem predominantemente qualitativa do problema, a coleta de dados ocorre por meio de documentos, observação, entrevista não estruturada e questionário. Elaboram-se dois construtos (contratos e fatores explicativos), estruturados em oito categorias de análise (especificidade dos ativos, frequência das transações, incerteza da execução, desenho de um contrato, flexibilidade contratual, ativos e passivos, mão de obra e ambiente regulatório), de acordo com os objetivos específicos da pesquisa. Por meio dos dados quantitativos, identifica-se o comportamento sticky no ambiente da pesquisa, na média dos anos de 2006 a 2017, para 1% de aumento da RLV o CPV aumenta 1,14%. No entanto, quando há 1% de queda da RLV, o CPV diminui 0,062%, o que abre a possibilidade de investigação dos dados qualitativos. Os resultados do estudo apresentam evidências empíricas das proposições teóricas da pesquisa, ao confirmar que a rigidez dos custos na empresa estudada está associada a compromissos contratuais que, por sua vez, se relacionam aos fatores explicativos: ambiente regulatório, ativos e passivos e mão de obra. Esses fatores explicativos, na empresa estudada, apresentam relacionação de intensidade forte a muito forte com a ocorrência de sticky cots ao longo dos anos de 2006 a 2017. Ainda, os gestores relatam novos fatores passíveis de investigação em estrutura de custos rígida e reflexos nos sticky costs, como a força política, que pode criar a necessidade de atendimento a uma regulamentação que não é benéfica para a empresa, e a implantação de normas IFRS/CPC que pode implicar em mudanças na forma de reconhecimento e registro de informações contábeis. Os resultados da pesquisa contribuem para a literatura de sticky costs ao apresentar evidências empíricas de que sticky costs são reflexo da estrutura de custos rígida que, por sua vez, também decorre dos contratos firmados pela organização.

Palavras-chave: Sticky costs. Comportamento dos custos. Fatores explicativos. Rigidez dos custos. Contratos. Setor elétrico.

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The term sticky costs refers to the asymmetric variation of costs in relation to the change in revenues. In this context, the objective of the research is to investigate explanatory factors of the rigid cost structure, coming from contracts, and its reflexes in sticky costs. A study is carried out from the perspective of the contracts signed in the company object of study, which consists of an electric energy distributor listed in the Electric Energy subsector in B3. The research is characterized as descriptive, with predominantly qualitative approach of the problem, data collection occurs through documents, observation, unstructured interview and questionnaire. Two constructs (contracts and explanatory factors) are elaborated, structured into eight categories of analysis (asset specificity, transaction frequency, execution uncertainty, contract design, contractual flexibility, assets and liabilities, labor and regulatory environment), according to the specific objectives of the research. By means of the quantitative data, the sticky behavior in the research environment is identified, in the mean of the years 2006 to 2017, for 1% increase in RLV and CPV increases 1.14%. However, when there is a 1% fall in the RLV, the CPV decreases 0.062%, which opens the possibility of investigating the qualitative data. The results of the study present empirical evidence of the theoretical propositions of the research, confirming that the rigidity of costs in the company is associated to contractual commitments that, in turn, are related to the explanatory factors: regulatory environment, assets and liabilities and labor. These explanatory factors in the company show a strong to strong relationship with the occurrence of sticky cots over the years 2006 to 2017. Still, managers report new researchable factors in rigid cost structure and reflexes in sticky costs, such as political strength, which may create a need to comply with regulations that are not beneficial to the company, and the implementation of IFRS / CPC standards that may imply changes in the way accounting information is recognized and recorded. The results of the research contribute to the literature of sticky costs by presenting empirical evidence that sticky costs are a reflection of the rigid cost structure that, in turn, stems from the contracts signed by the organization.

Key words: Sticky costs. Costs behavior. Explanatory factors. Stiffness of costs. Contracts. Electrical sector.

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Figura 1 - Modelo teórico da tese ... 35

Figura 2 - Mapa da literatura ... 62

Figura 3 - Exemplo do instrumento de pesquisa ... 84

Figura 4 - Organograma da empresa ... 96

Figura 5 - Normalidade dos dados ... 98

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Quadro 1 - Trajetória da Teoria dos Contratos ... 36

Quadro 2 - Construto - Contratos ... 71

Quadro 3 - Construto - Estrutura de custos rígida ... 72

Quadro 4 - Fontes de dados ... 76

Quadro 5 - Gestores participantes da pesquisa na empresa ... 79

Quadro 6 - Características dos instrumentos contratuais ... 81

Quadro 7 - Instrumentos contratuais identificados na empresa ... 81

Quadro 8 - Triangulação de dados ... 88

Quadro 9 - Triangulação das fontes de dados com objetivos e categorias de análise ... 89

Quadro 10 - Trajetória da pesquisa ... 92

Quadro 11 - Teste de White para heterocedasticidade ... 99

Quadro 12 - Aspectos do fact sheet e release relacionados ao tema da tese ... 103

Quadro 13 - Itens do Relatório anual da administração relacionados ao tema da tese ... 103

Quadro 14 - Cláusulas do ACT relacionadas ao tema da tese ... 105

Quadro 15 - Cláusulas do Contrato de concessão relacionadas ao tema da tese ... 106

Quadro 16 - Instituições que compõem o SEB 2006-2017 ... 108

Quadro 17 - Relação entre evento relevante de 2007 e instrumentos contratuais ... 111

Quadro 18 - Relação entre evento relevante de 2009 e instrumentos contratuais ... 113

Quadro 19 - Relação entre evento relevante de 2012 e instrumentos contratuais ... 115

Quadro 20 - Você identifica algum outro evento ocorrido no âmbito da empresa que possa ter ocasionado a variação nos custos/despesas e receitas de 2012? ... 118

Quadro 21 - Relação entre evento relevante de 2015 e instrumentos contratuais ... 120

Quadro 22 - Confirmação dos ativos e passivos como fator explicativo para os sticky costs ... 123

Quadro 23 - Confirmação da mão de obra como fator explicativo para os sticky costs ... 127

Quadro 24 - Confirmação do ambiente regulatório como fator explicativo para os sticky costs ... 131

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Tabela 1 - Teste de multicolinearidade ... 98 Tabela 2 - Assimetria do setor elétrico para os Custos Totais... 99 Tabela 3 - Variações das receitas e custos da empresa objeto de estudo - 2006 a 2017 ... 100 Tabela 4 - Variação segmentada em aumentos e reduções ... 101 Tabela 5 - Cálculo da assimetria média dos custos de 2006 - 2017 .... 101 Tabela 6 - Cálculo da assimetria dos custos de 2006 - 2017 ... 102

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ACT – Acordo Coletivo de Trabalho

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica B3 – Brasil, Bolsa, Balcão

CDE – Conta de Desenvolvimento Energético CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CPV – Custo dos produtos vendidos CT – Custo total

CVA – Conta de compensação e variação de valores de itens da parcela A

DA – Despesas administrativas DV – Despesas com vendas

FIDC – Fundos de Investimento em Direitos Creditórios GT – Grupo de Trabalho

IPCA – Índice nacional de preços ao consumidor amplo PCS – Plano de Cargos e Salários

PDV – Plano de Demissão Voluntária P&D – Pesquisa e desenvolvimento PEE – Programa de Eficiência Energética PMSO – Pessoal, Material, Serviço e Outros RLV – Receita Líquida de Vendas

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1 INTRODUÇÃO ... 27 1.1 OBJETIVOS ... 30 1.1.1 Geral ... 30 1.1.2 Específicos ... 30 1.2 A TESE ... 30 1.3 JUSTIFICATIVA ... 31 1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ... 34 2 BASE TEÓRICA ... 35 2.1 TRAJETÓRIA EPISTEMOLÓGICA E ANTECEDENTES DA TEORIA DOS CONTRATOS ... 36 2.2 TEORIA DOS CONTRATOS ... 40 2.2.1 Especificidade dos ativos ... 43 2.2.2 Frequência das transações ... 44 2.2.3 Incerteza da execução ... 45 2.2.4 Desenho de um contrato ... 46 2.2.5 Flexibilidade contratual ... 47 2.3 ESTRUTURA DE CUSTOS RÍGIDA ... 48 2.3.1 Elementos da estrutura de custos rígida ... 50 2.3.2 Pesquisas anteriores ... 55 2.4 POSICIONAMENTO TEÓRICO ... 63 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ... 67

3.1 POSICIONAMENTO METODOLÓGICO E

DELINEAMENTO ... 67 3.2 PROPOSIÇÕES E CONSTRUTOS ... 68 3.3 OBJETO DE ESTUDO E PROCEDIMENTOS DE COLETA

DOS DADOS ... 74 3.4 INSTRUMENTO DE PESQUISA ... 80 3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ... 85 3.6 DESENHO E LIMITAÇÕES DA PESQUISA ... 92 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 95 4.1 CASO DE PESQUISA ... 95 4.2 OCORRÊNCIA DE STICKY COSTS EM UMA ESTRUTURA

DE CUSTOS RÍGIDA ... 97 4.2.1 Comportamento assimétrico dos custos nas empresas

do setor elétrico ... 97 4.2.2 Comportamento assimétrico dos custos na empresa

estudada ... 100 4.3 EVIDÊNCIAS DOCUMENTAIS ... 102

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4.3.1 Ativos e passivos ... 104 4.3.2 Mão de obra ... 105 4.3.3 Ambiente regulatório ... 106 4.4 CONTRATOS E ESTRUTURA DE CUSTOS RÍGIDA ... 110 4.4.1 Contratos e características – 2006/2007 ... 110 4.4.2 Contratos e características – 2008/2009 ... 112 4.4.3 Contratos e características – 2011/2012 ... 114 4.4.4 Contratos e características – 2014/2015 ... 119 4.5 FATORES EXPLICATIVOS PARA OS STICKY COSTS NA

EMPRESA ESTUDADA ... 122 4.5.1 Ativos e passivos ... 122 4.5.2 Mão de obra ... 126 4.5.3 Ambiente regulatório ... 130 4.6 DISCUSSÃO DAS PROPOSIÇÕES ... 136 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 147 5.1 CONCLUSÕES ... 147 5.2 RECOMENDAÇÕES ... 150 REFERÊNCIAS ... 153 APÊNDICE A - Itens de custo da empresa objeto de estudo ... 165 APÊNDICE B - Empresas do subsetor energia elétrica, listadas na B3...167 APÊNDICE C - Carta de apresentação e convite aos gestores especialistas ... 169 APÊNDICE D - Protocolo de campo ... 171 APÊNDICE E - Termo de consentimento livre e esclarecido ... 175 APÊNDICE F - Instrumento de pesquisa aplicado aos gestores... 179 APÊNDICE G - Descrição das estruturas do organograma ... 189

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A gestão e análise dos custos envolvidos nas atividades das organizações consistem em uma área de pesquisa já consolidada na literatura contábil. Tradicionalmente, observa-se o foco dos estudos na determinação do custo de produtos e serviços e na utilização do modelo de custeio mais adequado (HOLZER; NORREKLIT, 1991; UY, 2014; VENIERIS; NAOUM; VLISMAS, 2015). O desenvolvimento das pesquisas desta temática resultou na utilização de diferentes óticas para a análise dos custos envolvidos na estrutura operacional das organizações. Para fins de determinação dos custos, é recorrente o entendimento de linearidade na variação de custos em relação à variação das receitas, forma de análise amplamente difundida e aceita (BENSTON, 1966; HOLZER; NORREKLIT, 1991; NOREEN; SODERSTROM, 1994). No entanto, ainda que o entendimento de linearidade na variação dos custos seja utilizado em pesquisas, estudos como Benston (1966) e Norren e Soderstrom (1994) iniciaram os questionamentos à linearidade no comportamento dos custos observados nas operações das organizações, porém, sem evidenciação científica.

Na busca pela redução do distanciamento entre o entendimento do comportamento linear dos custos e a realidade observada nas organizações, o estudo publicado em 2003, pelos autores Anderson, Banker e Janakiraman constatou, por meio de um modelo econométrico voltado ao comportamento dos custos, que os custos variam de forma não linear em relação aos aumentos e reduções das receitas das organizações. A partir do estudo de Anderson, Banker e Janakiraman (2003) despertou-se o interesse acadêmico pelo tema, com a definição do termo sticky costs. O termo refere-se à variação assimétrica dos custos em relação à variação das receitas, no sentido de que quando as receitas aumentam, os custos aumentam em determinado montante, mas quando as receitas diminuem, os custos diminuem em um montante menor, se comparados ao montante do aumento da receita. Em função dessa dinâmica caracteriza-se o comportamento assimétrico dos custos

(ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003;

BALAKRISHNAN; GRUCA, 2008; GUENTHER; RIEHL; RÖßLER, 2014).

Além de identificar a existência de sticky costs no comportamento dos custos, Anderson, Banker e Janakiraman (2003) destacam a necessidade de investigação da origem da assimetria nos custos. Neste sentido, os estudos na área estão classificados em três etapas de desenvolvimento, segundo o estudo de Malik (2012):

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evidências, determinantes e consequências. A etapa de evidenciação do comportamento assimétrico dos custos mostra-se consolidada na literatura por meio dos estudos iniciados nos anos 2000, que apresentam evidências comprobatórias da ocorrência dos sticky costs (MALIK, 2012). As etapas de identificação dos fatores explicativos e das consequências dos sticky costs para as empresas e seus stakeholders se encontram em estágio de desenvolvimento (MALIK, 2012). Algumas prováveis causas para o comportamento assimétrico dos custos nas empresas já foram apontadas na literatura por meio de modelos de estimações estatísticas com dados financeiros de companhias abertas, com a necessidade de investigações adicionais (ANDERSON; LANEN, 2009; BALAKRISHNAN; LABRO; SODERSTROM, 2014; BANKER; BYZALOV, 2014).

As pesquisas identificam também que as causas, denominadas na literatura como fatores explicativos para o comportamento assimétrico dos custos nas organizações, podem ser classificadas em dois conjuntos: decisões dos gestores e estrutura de custos (ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003; CALLEJA; STELIAROS; THOMAS, 2006; BALAKRISHNAN; LABRO; SODERSTROM, 2014; GUENTHER; RIEHL; RÖßLER, 2014). Por meio desta classificação, os fatores relacionados ao decisor correspondem a características da tomada de decisão diante de determinados contextos, e os fatores relacionados a estrutura de custos correspondem aos ativos da empresa, aspectos legais da mão de obra e ambiente regulatório da atividade exercida. As pesquisas na área, subsequentes ao estudo seminal de Anderson, Banker e Janakiraman (2003), já comprovaram a existência do comportamento assimétrico dos custos em diferentes contextos econômicos, porém, sem investigar as particularidades das empresas (BALAKRISHNAN; LABRO; SODERSTROM, 2014).

Neste sentido, com ênfase na estrutura de custos, os fatores explicativos relacionados à estrutura da organização e que originam o comportamento assimétrico dos custos são descritos como fatores que conduzem à rigidez dos custos (BALAKRISHNAN; PETERSEN; SODERSTROM, 2004; ANDERSON et al., 2007; BOSCH; BLANDÓM, 2009; BANKER; BYZALOV; CHEN, 2013; HOLZHACKER; KRISHNAN; MAHLENDORF, 2015a; CIFTI; MASHRUWALA; WEISS, 2016). A rigidez dos custos apresenta relação com as condições econômicas e as características da forma de atuação da organização (ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003; SUBRAMANIAM; WEIDENMIER, 2003). Neste contexto, a estrutura de custos rígida advém também de contratos (formais e

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informais) para aquisição de recursos cuja renegociação ou rompimento são dispendiosos (CALLEJA; STELIAROS; THOMAS, 2006). Por exemplo, custos fixos como edifícios e equipamentos (ativos imobilizados) não são facilmente ajustáveis em curto prazo (BANKER; BYZALOV, 2014).

Em situações de rigidez nos custos, há dificuldades/restrições contratuais em se desfazer facilmente dos recursos para redução dos custos em resposta a quedas na receita (CHEN; LU; SOUGIANNIS, 2012; HOLZHACKER; KRISHNAN; MAHLENDORF, 2015a; VENIERIS; NAOUM; VLISMAS, 2015). Esta dificuldade que origina a rigidez dos custos e consequente assimetria está relacionada a características advindas de limitações inerentes aos contratos da organização no tocante a: aquisição, aluguel e venda de máquinas e instalações; contratações, demissões e direitos trabalhistas; e marco regulatório que norteia as atividades da organização (PICHETKUN; PANMANEE, 2012; BANKER; BYZALOV; PLEHN-DUJOWICH, 2014; RICHARTZ; BORGERT, 2014; HOLZHACKER; KRISHNAN; MAHLENDORF, 2015a).

Nas organizações, segundo Coase (1937), existem custos associados à alocação de recursos e ao seu funcionamento, e os problemas advindos da alocação de recursos originaram as “firmas”. Desta forma, as empresas, entendidas como uma ou mais “firmas” são estruturadas para a atuação dos agentes econômicos no mercado e o gerenciamento dos custos de transação, que consistem nos custos de negociar, redigir e manter os acordos firmados por meio de contratos, além dos custos de produção (COASE, 1937; WILLIAMSON, 1975). Ao compreender a estrutura da organização por meio desta ótica, abre-se a possibilidade de investigar fatores explicativos para a estrutura de custos rígida, por meio dos contratos formais e informais firmados no âmbito da organização que se refletem em comportamento assimétrico dos custos.

Com o entendimento de que sticky costs podem guardar relação com os contratos firmados no âmbito da organização e se relacionam à estrutura de custos rígida, a Teoria dos Contratos apresenta capacidade de fornecer uma compreensão das características contratuais. As características contratuais, conforme Arrow (1985) e Tirole (1999) consistem em objeto de análise relacionado aos custos das organizações. No contexto explicitado, busca-se resposta ao seguinte problema de pesquisa: como fatores explicativos da estrutura de custos rígida, provenientes de contratos, se refletem nos sticky costs?

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1.1 OBJETIVOS

Os objetivos têm a função de auxiliar na busca de respostas à pergunta de pesquisa. Desta forma, os objetivos se dividem em geral e específicos.

1.1.1 Geral

Investigar fatores explicativos da estrutura de custos rígida, provenientes de contratos, e seus reflexos nos sticky costs.

1.1.2 Específicos

Para atingir o objetivo geral e responder à pergunta de pesquisa, os objetivos específicos auxiliam na definição da sequência de desenvolvimento do estudo, quais sejam:

a) Caracterizar a ocorrência de sticky costs em uma estrutura de custos rígida;

b) Examinar como os contratos se refletem na estrutura de custos rígida;

c) Apontar a ocorrência de fatores explicativos para os sticky costs em uma estrutura de custos rígida proveniente de contratos.

1.2 A TESE

A Teoria dos Contratos aduz que as transações são regidas por contratos, os quais incorrem em custos para a sua realização (COASE, 1937). A existência de custos associados à alocação de recursos, o funcionamento das organizações, bem como os problemas advindos da alocação de recursos originaram as “firmas” (COASE, 1937). As organizações, entendidas como uma ou mais “firmas”, estruturam-se para a atuação no mercado e o gerenciamento dos custos de negociar, redigir e manter os acordos firmados por meio de contratos formais e informais (COASE, 1937; WILLIAMSON, 1975). Estes custos envolvidos na realização de contratos no contexto organizacional diferem em função do tipo de contrato e do modo como este é organizado (WILLIAMSON, 1989). As operações ocorridas em organizações podem ser compreendidas como resultantes de contratos firmados, que possuem uma série de características intrínsecas ao modo de atuação e o ambiente em que a organização se insere (HART;

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HOLMSTRON, 1987).

Neste sentido, a Teoria dos Contratos subsidia a análise do comportamento dos custos envolvidos nas operações da empresa, uma vez que os contratos que regem as transações ocorridas na empresa podem ser analisados por meio dos elementos desta Teoria. Especificamente, para a tese, o foco está em analisar o comportamento assimétrico, reconhecido na literatura internacional como sticky costs.

Os sticky costs são compreendidos como reflexo da estrutura de custos rígida, decorrente dos contratos firmados pela organização, enquanto que a estrutura de custos rígida é compreendida como resultante do conjunto de fatores explicativos relacionados à estrutura da organização (BALAKRISHNAN; PETERSEN; SODERSTROM, 2004; ANDERSON et al., 2007; BOSCH; BLANDÓM, 2009; CHEN; LU; SOUGIANNIS, 2012; PERVAN; PERVAN, 2012; BANKER; BYZALOV; CHEN, 2013; DALLA VIA; PEREGO, 2013; BANKER et al., 2014; CANNON, 2014; RICHARTZ; BORGERT, 2014; UY, 2014; HOLZHACKER; KRISHNAN; MAHLENDORF, 2015a; CIFTI; MASHRUWALA; WEISS, 2016).

Estudos fundamentados na Teoria dos Contratos denotam que as características compreendidas como especificidade dos ativos, frequência da transação e incerteza podem ser identificadas nos contratos das organizações (WILLIAMSON, 1975). Tais características consistem em elementos contratuais que, por sua vez, se refletem na estrutura de custos das organizações, ao passo que a estrutura de custos das organizações também se reflete em características contratuais, que podem ser definidas dentro dos limites impostos pela estrutura.

Desta forma, declara-se que a estrutura de custos rígida, observada por meio dos contratos firmados, se reflete nos sticky costs. A tese se estabelece com base na percepção de que a estrutura de custos rígida não permite flexibilidade às operações da empresa. Assim, a empresa compreendida como um conjunto de contratos que resultam em uma estrutura de custos rígida, onde não há possibilidade de se desfazer rapidamente dos recursos em resposta à queda nas receitas, resulta em comportamento assimétrico dos custos (WILLIAMSON, 1975; ANDERSON; LANEN, 2009; HOLZHACKER; KRISHNAN; MAHLENDORF, 2015a).

1.3 JUSTIFICATIVA

Nas pesquisas em Contabilidade Gerencial com foco na Contabilidade de Custos observa-se ao longo do tempo uma evolução

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técnica desacompanhada de uma evolução teórica. Ranjani Krishnan descreve no editorial de uma edição de 2015 do Journal of Management Accounting Research, sobre a carência de valorização acadêmica da área gerencial, apesar do crescimento da literatura na área. Observa-se, em geral, a verificação empírica das técnicas em custos, sem uma proposição teórica precedente, diferente de outras áreas do conhecimento.

Ao longo do tempo os contadores gerenciais contribuíram para a prática, pesquisa e ensino de negócios, e economistas como Holmstrom (1979), Hart e Holmstron (1987) e Holmstrom e Milgrom (1991) identificaram problemas de agência e de custos de transação, e discutiram também o gerenciamento destes problemas para os contratos firmados pelas organizações (KRISHNAN, 2015). Alinhadas a essa área, as pesquisas em comportamento dos custos ganharam espaço na literatura nos últimos anos, com destaque para a assimetria dos custos. Para Krishnan (2015), o tema comportamento dos custos, em especial a assimetria dos custos, se apresenta como promissora para futuras pesquisas na área contábil.

Neste âmbito, evidencia-se a possibilidade de estudar os contratos como objeto de análise relacionado aos custos das organizações, Arrow (1985) destaca que a identificação dos custos de transação, por meio dos contratos, em diferentes contextos e sob diferentes sistemas de alocação de recursos devem ser um item importante na agenda de pesquisa em teorias da alocação de recursos em geral.

O estudo de Anderson, Banker e Janakiraman (2003) abriu uma nova perspectiva para os estudos na área. Além da verificação de assimetria dos custos, estudos como os desenvolvidos por Anderson et al. (2007), Chen, Lu e Sougiannis (2012), Banker, Byzalov e Chen (2013) e Banker et al. (2014) propuseram adaptações ao modelo de Anderson, Banker e Janakiraman (2003), com o objetivo de incluir variáveis ainda não testadas, na busca por fatores explicativos da ocorrência de assimetria nos custos. Neste sentido, a tese apresenta originalidade por utilizar uma nova abordagem para investigar um fenômeno já identificado na literatura. Na aplicação dos instrumentos de pesquisa podem ser apontados novos fatores explicativos para pesquisas futuras.

O foco na pesquisa em estrutura de custos é apresentado como promissor para futuras pesquisas no editorial de Krishnan (2015), uma vez que a estrutura de custos tem implicações para o desempenho das empresas. Estudos na área exploraram os fatores e os resultados de diferentes estruturas de custos. Banker, Byzalov e Plehn-Dujowich

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(2014), por exemplo, evidenciam de forma analítica e empírica que maior incerteza da demanda está associada a uma estrutura de custos de curto prazo mais rígida. Holzhacker, Krishnan e Mahlendorf (2015b) mostram que as empresas tendem a gerenciar a aquisição de recursos relacionados à compra de ativos, leasing de equipamentos e contratação de mão de obra terceirizada, na busca por reduzir a rigidez dos custos em resposta à incerteza da demanda e ao risco financeiro. No contexto brasileiro, análises em relação à mão de obra mostram-se relevantes, diante das mudanças na CLT, propostas pela Lei 13.467, de 13 de julho de 2017.

Outra área destacada por Krishnan (2015) como tendência de pesquisas futuras em comportamento dos custos são os reflexos da regulamentação de atividades. Observa-se que os custos de atender a um marco regulatório podem estar ocultos nas contas da empresa, e não aparecem de forma explícita nas demonstrações contábeis (JOSHI; KRISHNAN; LAVE, 2001). Pesquisas também demonstram que as organizações procuram mudar a estrutura de custos em resposta a uma regulamentação imposta. Por exemplo, Kallapur e Eldenburg (2005) constataram, em uma amostra de 59 hospitais nos Estados Unidos, que os hospitais buscaram ampliar o montante de custos variáveis em resposta ao aumento do risco operacional decorrente de mudanças na regulamentação da remuneração pelos serviços prestados. Holzhacker et al. (2015a) relatam que a regulamentação de preços fixos influencia os hospitais alemães a reduzir a rigidez dos custos com o objetivo de reduzir a assimetria dos custos em suas estruturas. Richartz (2016) concluiu que o setor de Energia Elétrica é o mais assimétrico dos setores listados na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão – nova razão social da BM&FBOVESPA), à frente dos setores de Papel e Celulose, Transporte e Construção. Em tais setores os custos não reduzem na mesma proporção que aumentam, assim, diferentes setores apresentam características que atribuem rigidez aos custos.

No tocante aos usuários da informação contábil e gerencial, o trabalho apresenta contribuições à qualidade das informações relacionadas ao comportamento dos custos decorrente da estrutura de custos das organizações. O conhecimento de possíveis implicações de contratos firmados pela organização nas variações dos custos consiste em subsídio para análise de gestores, analistas e outros usuários das informações no âmbito da gestão estratégica de custos. Acredita-se que, diante de um novo instrumento contratual, uma nova situação na empresa, os gestores terão conhecimento prévio para categorizar a situação em termos de fatores explicativos e prever possíveis reflexos

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nos custos da empresa. Gerencialmente, com o conhecimento do perfil de comportamento dos custos de uma empresa conforme características contratuais e da estrutura de custos, podem ser tomadas decisões mais assertivas, subsidiadas pelo conhecimento do comportamento assimétrico dos custos no âmbito da empresa.

Registra-se, também, que a pesquisa contribui para o desenvolvimento dos estudos sobre o comportamento dos custos do Grupo de Gestão de Custos, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina. O grupo possui uma linha de pesquisa ligada ao tema comportamento dos custos que iniciou com os trabalhos de Rabelo, Borgert e Medeiros (2009) e Crispim, Borgert e Almeida (2010). Estas pesquisas iniciais se desenvolveram com atenção às informações internas das empresas, coletadas por meio de entrevistas, de forma introdutória ao tema. A partir do trabalho de Richartz et al. (2011) passou-se a utilizar o conceito de sticky costs no desenvolvimento das análises em comportamento dos custos. Destacam-se também as dissertações de mestrado de Kremer (2015) e Reis (2016), dentre outros estudos apresentados em congressos e publicados em periódicos. Recentemente, a tese de doutorado de Richartz (2016) abriu oportunidades de pesquisa para o grupo, o que justifica a realização deste trabalho como contribuição a uma linha de pesquisa em comportamento dos custos com análise dos sticky costs.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho se organiza em capítulos. O primeiro capítulo, denominado Introdução, apresenta a contextualização do problema de pesquisa, os objetivos, as proposições da tese, a justificativa e organização para a realização da pesquisa.

O segundo capítulo aborda a base teórica do estudo. Inicialmente apresenta elementos e estudos que envolvem a trajetória da Teoria dos Contratos, e a revisão bibliográfica do comportamento dos custos e os sticky costs. Na sequência, apresenta-se o posicionamento teórico do estudo.

O terceiro capítulo apresenta o delineamento metodológico do estudo e os procedimentos que se empregam na coleta e análise dos dados. O capítulo quatro corresponde à apresentação dos dados e o desenvolvimento das análises. Por fim, no capítulo cinco apresentam-se as conclusões do estudo e sugestões para futuros trabalhos sobre o tema investigado.

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Este capítulo apresenta fragmentos da literatura que possuem relação com o estudo. O processo de revisão da literatura é importante para compreender a evolução do tema. Portanto, exploram-se pesquisas já realizadas com o objetivo de sustentar e direcionar a solução do problema de pesquisa, bem como, embasar as conclusões. Para orientar a base teórica de sustentação da pesquisa, na Figura 1 apresenta-se o modelo teórico da tese.

Figura 1 - Modelo teórico da tese

Fonte: Elaborada pela autora (2019).

Na pesquisa em comportamento dos custos, os fatores explicativos se dividem em dois conjuntos: decisões dos gestores e estrutura de custos (ANDERSON; BANKER; JANAKIRAMAN, 2003; CALLEJA; STELIAROS; THOMAS, 2006; BALAKRISHNAN; LABRO; SODERSTROM, 2014; GUENTHER; RIEHL; RÖßLER, 2014). As pesquisas já realizadas analisam a estrutura de custos com base em dados publicados nos demonstrativos contábeis, que consistem na situação patrimonial da empresa em uma determinada data. Desta forma, o comportamento assimétrico dos custos é captado por meio das informações contábeis, que consistem em proxies dos fatores explicativos (RICHARTZ, 2016).

As lacunas de pesquisa apontadas por estudos anteriores seguem no sentido de investigar a assimetria além dos demonstrativos contábeis, a fim de aprofundar o conhecimento dos fatores explicativos, seja na busca por novos fatores ou para corroborar comportamentos já identificados (ANDERSON; LANEN, 2009; HOLZHACKER; KRISHNAN; MAHLENDORF, 2015b). Para o conjunto de fatores ligados à estrutura da organização, viabiliza-se a tese com a análise dos contratos firmados pelas empresas, que orientam as transações e que resultam na assimetria já captada por modelos estatísticos com base em informações contábeis.

Características contratuais

Estrutura de

custos rígida Sticky costs

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Ao analisar os contratos, as características contratuais evidenciadas pela Teoria dos Contratos (especificidade dos ativos, frequência da transação, incerteza, desenho de um contrato e flexibilidade) permitem analisar a estrutura de custos da empresa. Tais características, bem como a estrutura de custos rígida (que pode causar ou ser causada pelos elementos dos contratos) se refletem no comportamento assimétrico dos custos, os sticky costs. Analisa-se a estrutura de custos rígida sob a ótica dos contratos ligados a três fatores: ativos e passivos da organização (imobilizado, patrimônio, obrigações), mão de obra (legislação e contratos de trabalho, relações sindicais) e ambiente regulatório (marco regulatório da atividade desenvolvida pela empresa). Assim, o modelo teórico da tese tem como ponto de partida as características contratuais elencadas pela Teoria dos Contratos, que sustentam a investigação dos fatores explicativos para a assimetria dos custos relacionados à estrutura de custos rígida, que se refletem nos sticky costs.

2.1 TRAJETÓRIA EPISTEMOLÓGICA E ANTECEDENTES DA TEORIA DOS CONTRATOS

A trajetória epistemológica da teoria que sustenta a tese possui uma linha de desenvolvimento ao longo do tempo e escolas econômicas, conforme descrito no Quadro 1.

Quadro 1 - Trajetória da Teoria dos Contratos

Autor Aspecto ligado à teoria

Veblen (1898) Importância das instituições no comportamento econômico

Pigou (1920) Apresenta os “custos de transação” voltados ao ambiente macroeconômico

Knight (1924) Críticas às ideias de Pigou de que o Estado deveria regular todas as transações

Commons (1934) Economia compreendida como uma rede de relações entre pessoas com interesses divergentes Coase (1937) Abordou o conceito de firma

Hayek (1945) Remete à relevância do estudo das transações e contratos para além da quantificação estatística Coase (1960)

Contratos de longo prazo e restrições de externalidades (tributação e legislação, por exemplo)

Arrow (1969) Análise de externalidades e conceito de incerteza Williamson (1975) Economia dos custos de transação

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Autor Aspecto ligado à teoria Klein, Crawford e

Alchian (1978) Especificidade de ativos

Macneil (1978) Formalidades dos contratos na economia Williamson (1979) Manutenção de contratos

North (1984) Desenvolvimento da Economia dos Custos de Transação com evidenciação dos contratos Hart e Holmstron

(1987) Teoria dos Contratos

Eisenhardt (1989a) Esclarece a diferença entre Teoria da Agência e Teoria dos Contratos

Hart (1995) Contratos incompletos

Williamson (1998) Aborda o funcionamento da Teoria dos Contratos no ambiente organizacional

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Pigou (1920) e Knight (1924) foram precursores de Coase na Escola de Chicago, no âmbito da Economia Neoclássica, em que a ideia predominante era o alcance da estabilidade econômica por meio do livre mercado. Esta ideia foi rompida por Coase (1937), ao abrir a caixa preta das organizações para o estudo na economia. Como influência a Coase (1937), Knight (1924) introduziu a distinção entre risco e incerteza. Veblen (1898) e Commons (1934) influenciaram Coase (1937) por meio da Escola Institucionalista, que destacava importância ao papel das instituições como reguladoras do ambiente econômico.

Em meio às escolas antecedentes aos conceitos propostos por Coase (1937), a Economia Neoclássica possuía limitações que impediam a evolução de conceitos como o surgimento das firmas. No arcabouço teórico do neoclassicismo não havia explicações para a existência das firmas e seu papel no funcionamento dos mercados (WILLIAMSON, 1975). Por meio de dois questionamentos principais: “Por que existem firmas”? e “do que depende o tamanho delas”?, Coase (1937) trouxe para a academia a noção de custos de transação, que é uma característica intrínseca aos contratos nas organizações.

De forma objetiva, Coase (1937) situou a firma em um ambiente institucional, com atenção à existência de custos para firmar e romper contratos. Neste sentido, a firma é compreendida como um conjunto de contratos, que se relaciona com agentes exteriores à firma por meio de outros contratos. Assim, a firma assume uma distribuição de direitos e obrigações (COASE, 1937). A obra de Coase The Nature of the Firm (1937) faz referências a estudos empíricos realizados na Inglaterra e Estados Unidos, sobre o desempenho prático de setores específicos

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(têxtil, aço etc) que, por vezes, caracterizam os aspectos teóricos já publicados.

Hayek (1945) colabora com a evolução da Teoria dos Contratos por meio de seus escritos sobre a ciência e o conhecimento, com ênfase no estudo das transações e contratos para além da quantificação estatística. Em sequência ao desenvolvimento da área, Coase (1960) estabelece a relação entre o macroambiente (instituições) e o microambiente (organizações) com a percepção de que quando a realização de uma transação apresenta custos positivos, as instituições exercem papel de destaque. Assim, a decisão a ser tomada na firma consiste em verificar se as transações devem ocorrer dentro da firma (hierarquicamente) ou entre firmas autônomas (por meio do mercado).

O trabalho de Arrow (1969), que foi professor de Oliver Williamson, contribuiu para a Teoria dos Contratos com a análise e formatação do conceito de incerteza advinda de fatores externos à organização. Em sequência à evolução da Teoria dos Contratos, Williamson contribuiu para a Teoria da Firma e das organizações, por meio da formalização da Economia dos Custos de Transação, sobretudo com sua obra publicada em 1975. O desenvolvimento das pesquisas contribui para a quebra do paradigma da organização vista como uma função de produção, a qual passa a ser analisada como uma estrutura de governança (WILLIAMSON, 1989).

Com o entendimento da interdiciplinaridade do estudo das transações e contratos, Klein, Crawford e Alchian (1978) e Macneil (1978) abordaram características dos contratos e aspectos legais da formalização de contratos na organização. Klein, Crawford e Alchian (1978) tratam, sobretudo, da especificidade de ativos, e Macneil (1978) faz uma ligação entre as formalidades dos contratos no âmbito do direito e a ligação com os conceitos da economia.

Os conceitos e teorias desenvolvidos subsidiaram North (1984) no estudo da Economia dos Custos de Transação no âmbito dos contratos, cuja teoria foi formalmente descrita em 1987 por Hart e Holmstron, com a obra Theory of Contracts. Entende-se a Teoria dos Contratos como uma ramificação da Teoria da Firma. Eisenhardt (1989a) estabelece a diferenciação entre a Teoria dos Contratos e a Teoria da Agência, que também deriva da Teoria da Firma, por outra vertente de análise, com foco na assimetria das informações.

Em 1995, Oliver Hart publicou um livro que trata de forma mais específica dos contratos entendidos como incompletos, mais próximos à realidade das organizações. Williamson (1998) dá continuidade ao desenvolvimento da teoria com uma análise da literatura e o

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desenvolvimento de uma agenda de pesquisa no tema, que prioriza a abordagem do funcionamento da Teoria dos Contratos no ambiente organizacional. Hart e Holmstron (1987) deram continuidade ao desenvolvimento da Teoria dos Contratos inclusive com uma premiação do Nobel de Economia em 2016, como reconhecimento à contribuição na área (SMIRNOV; WAIT, 2017).

Em decorrência da trajetória epistemológica do tema, Coase (1937) dissertou acerca da razão para a existência das firmas, uma vez que a abordagem Neoclássica predominante à época era de um mercado capaz de atender as relações comerciais de forma perfeita. Os novos pensamentos de que as organizações são importantes para as relações comerciais e podem ser objetos de análise pela economia, conforme proposto inicialmente por Coase em 1937, não foram aceitas e exploradas de imediato pela comunidade acadêmica (WILLIAMSON, 2002).

Autores precursores de Ronald Coase, como Knight (1924) e Commons (1934), já apontavam sinais em seus trabalhos da possível relação entre a economia e o estudo das organizações, no sentido de investigar os custos de transação. Os economistas Veblen (1898) e Pigou (1920) também antecedem à Teoria dos Contratos, no sentido de mencionar que as organizações exercem importante papel no comportamento econômico (WILLIAMSON, 2002).

A Teoria da Firma precede à Teoria dos Contratos, e contribui com aporte teórico para o desenvolvimento da Economia dos Custos de Transação em paralelo à Teoria dos Contratos (SCHMITZ, 2001). Friedrich Hayek, em 1945, publicou estudos sobre o conhecimento, no qual remete à relevância do estudo das transações e dos contratos das organizações para além da quantificação estatística. Os estudos de Hayek (1945) subsidiaram Oliver Williamson no desenvolvimento dos estudos no âmbito da caracterização das transações e contratos firmados nas organizações (WILLIAMSON, 2002).

Houve um período latente entre o trabalho de Coase (1937), Williamson (1975) e Hart e Holmstron (1987), estudos seminais da Teoria dos Contratos, relativos ao entendimento de contratos completos (Economia Neoclássica) e contratos incompletos (Nova Economia Institucional) (WILLIAMSON, 1998). A Teoria dos Contratos é um dos campos de pesquisa mais ativos em microeconomia contemporânea, visto que os economistas entendem que a abordagem dos contratos incompletos pode auxiliar na resposta a questões importantes sobre as firmas, colocadas por Coase em 1937 (SCHMITZ, 2001). No entanto, somente em 1987 Hart e Holmstron publicaram o estudo intitulado

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Theory of Contracts. Um dos motivos que justificam o desenvolvimento lento do tema ao longo do tempo é que se mostra mais fácil afirmar que a organização é importante do que demonstrar como e por que é importante (WILLIAMSON, 2002).

2.2 TEORIA DOS CONTRATOS

No âmbito dos contratos os estudos iniciais se pautaram em decisões de produzir ou comprar, em relação à integração da empresa na cadeia de produção, que levou aos estudos em economia dos custos de transação (COASE,1937; WILLIAMSON, 1975; KLEIN; CRAWFORD; ALCHIAN, 1978; GROSSMAN; HART, 1986). Em paralelo, as questões contratuais que permeiam as transações, como contratos de trabalho, contratos com clientes e fornecedores, ou contratos de aquisições de ativos também são objeto da Teoria dos Contratos (HART; HOLMSTRON, 1987).

Na Teoria Econômica, os contratos são compreendidos como instrumentos que viabilizam trocas eficientes entre as partes, com o gerenciamento dos riscos e ganhos. Por sua vez, a economia de custos de transação, a noção econômica dos contratos e as teorias relacionadas acompanham um processo de evolução ao longo dos anos (NORTH, 1984). Em questionamento à visão Neoclássica, em que são possíveis contratos ótimos e não há imperfeição nas informações, Coase (1937) escreveu sobre ‘A natureza da firma’ com ênfase na necessidade de considerar a realidade das organizações nas análises econômicas. Coase (1937) argumentou a respeito da existência dos custos para a negociação e assinatura de contratos e as dificuldades de prever e especificar contingências em contratos de longo prazo. De modo geral, mostra-se impossível estabelecer as obrigações de cada parte de forma completa e inequívoca com antecedência, assim, os contratos reais se constituem de forma incompleta (HART; HOLMSTRON, 1987).

Com a linha teórica de Coase (1937) abrem-se possibilidades para a compreensão da organização interna das firmas e dos mercados. A Teoria dos Contratos avança para uma maior compreensão das relações contratuais entre as firmas, relações identificadas como formais ou informais, intra ou entre as firmas, que caracterizam a Nova Economia Institucional (HOLMSTRON, 1999; TIROLE, 1999). O entendimento dos contratos no âmbito da Nova Economia Institucional conduz também à ligação dos contratos a um conjunto de questões para além da economia, como as questões legais e organizacionais do contexto onde o contrato é firmado (HART; HOLMSTRON, 1987;

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TIROLE, 1999). Leva, ainda, ao entendimento da firma como um conjunto de contratos entre os diversos atores (clientes, fornecedores, governo, empregados) (COASE, 1960).

Uma das razões pelas quais o interesse acadêmico e prático se ampliou nos últimos anos é o fato de que muitos economistas entendem que os contratos incompletos, que se aproximam aos explorados por autores de impacto como Grossman e Hart (1986); Hart e Holmstron (1987) e Hart e Moore (1990), podem auxiliar em questões importantes sobre os limites da organização. Tais limites foram enunciados por Coase (1937) e posteriormente por Williamson (1985). No escopo da tese, a análise dos elementos dos contratos faz uma interface com a estrutura de custos rígida das organizações, que se reflete no comportamento assimétrico dos custos. Toma-se o entendimento de que as características dos contratos estão ligadas à estrutura das organizações, que diferem em composição de custos e competências (WILLIAMSON, 1998).

A Teoria dos Contratos desenvolve-se por meio de diferentes abordagens. O texto seminal, Theory of Contracts publicado por Hart e Holmstrom em 1987, reúne elementos da teoria em três âmbitos: Teoria da Agência, contratos de trabalho e contratos incompletos. A Teoria da Agência envolve os aspectos da relação principal-agente, com foco na organização interna da empresa e conflitos de interesse (interesses do agente versus interesses do principal). No âmbito da Teoria da Agência incluem-se também a implementação de estruturas de incentivos adequadas, bem como análise e definição de regras para tomada de decisão (HART; HOLMSTRON, 1987). Ainda em relação à Teoria da Agência e Teoria dos Contratos, observa-se que compartilham uma filiação em economia e variáveis dependentes semelhantes. No entanto, possuem origens diferentes: na Teoria dos Contratos, há preocupação com os limites organizacionais, enquanto na Teoria da Agência o contrato entre partes cooperantes independe dos limites organizacionais (EISENHARDT, 1989a).

O estudo dos contratos de trabalho destaca-se com a linha de análise de que as reivindicações contingentes para os contratos de trabalho são limitadas por razões de oportunismo. Os autores sugerem o estabelecimento de diferentes tipos de contratos, que possam substituir contratos enviesados. Neste âmbito, a pesquisa centrou-se na estrutura de contratos laborais bilaterais ótimos, sobre as características de possíveis equilíbrios contratuais, e se os equilíbrios auxiliarão efetivamente as ineficiências associadas aos contratos de trabalho do mundo real (HART; HOLMSTRON, 1987).

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Os contratos incompletos, por sua vez, encontram-se em um estágio inicial de reconhecimento, e ao passo que o campo de estudos progride, torna-se mais difícil categorizar modelos de análise. Inicialmente, os modelos de design organizacional tratavam superficialmente ou ignoravam as forças do mercado. Por outro lado, o estudo dos contratos de trabalho começou sem a consideração dos incentivos organizacionais. Os modelos mais recentes, no entanto, tratam simultaneamente os problemas de incentivo e de mercado. Nesta linha, contratos são incompletos uma vez que há limitações em prever todas as possíveis contingências decorrentes de uma relação contratual no momento do estabelecimento de um contrato (HART, 1995; HART; MOORE, 1999).

A Teoria dos Contratos se desenvolve em paralelo ao estudo da Economia dos Custos de Transação, e nesse sentido a abordagem da Teoria dos Contratos, com base nos trabalhos de Coase (1937), Williamson (1975), Hart e Holmstron (1987) é a vertente abordada nesta tese. A racionalidade limitada e o oportunismo são também elementos presentes na Teoria dos Custos de Transação relacionados aos contratos incompletos, que decorrem do comportamento oportunista dos decisores, cuja análise não é o foco da tese.

O estudo de contratos incompletos se mostra importante por considerar características do mundo real que são omitidas ao se considerar que os contratos são completos. Os aspectos que conferem aproximação da realidade por parte dos contratos incompletos são o entendimento de que existem contingências que não são passíveis de previsão e, ainda que seja possível prever todas as contingências, estas podem ser tão numerosas que os custos do contrato sejam inviáveis. Os contratos incompletos também consideram a possibilidade de uma análise por parte da justiça, que viabilize o cumprimento do contrato (TIROLE, 1999). Assim, as características enumeradas na Teoria dos Contratos são passíveis de investigação no caso estudado, uma vez que as características dos contratos descritas na literatura estão presentes no ambiente estudado e norteiam a definição dos elementos a serem observados para o alcance dos objetivos da pesquisa.

Para a realização do estudo, há a necessidade de conhecer as características das transações regidas pelos contratos, a especificidade dos ativos, a frequência da transação e a incerteza, descritas pela Teoria dos Contratos. Coase (1937) identifica a situação em que o estabelecimento de uma firma é importante, como no caso de relações em que um contrato de curto prazo não é suficiente, mas atenta para a possibilidade da existência de contratos com termos de longo prazo, que

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podem orientar transações ao longo do tempo.

Ainda, as características contratuais são identificadas na literatura em diferentes níveis de análise. Williamson (1981) cita três níveis, relevantes para o desenvolvimento da tese: estrutura da empresa, atividades operacionais e ativos humanos. A análise destes níveis se adequa ao estudo do comportamento assimétrico dos custos, observado por meio do desenho e flexibilidade intrínsecos aos contratos no âmbito da organização.

Na estrutura das empresas, a atenção se volta ao objetivo da organização e questiona-se qual a melhor interação entre as atividades operacionais para atingir o objetivo pretendido. No âmbito das atividades operacionais o questionamento diz respeito a quais atividades deveriam ser desempenhadas dentro da empresa, quais atividades deveriam ocorrer fora, e os motivos de tais decisões. Por fim, a organização dos ativos humanos se relaciona com os atributos dos grupos de trabalho, qual a organização interna destes ativos humanos, e a que regulamentações estão submetidos (WILLIAMSON, 1981). Busca-se, assim, ‘traduzir’ a realidade da empresa em elementos dos contratos existentes em suas operações, para que se observe a assimetria dos custos por meio das características dos contratos existentes na organização. As características dos contratos evidenciadas por Williamson (1975) e Hart e Holmstron (1975) são descritas em maior detalhamento nos tópicos 2.2.1 a 2.2.5.

2.2.1 Especificidade dos ativos

O conceito de especificidade dos ativos, segundo Williamson (1989) guarda relação com o custo de oportunidade de contratos de longo prazo que se realizam em apoio a transações particulares e a previsão de usos alternativos em caso de rompimento do contrato. A questão central nesta característica é se a transação observada é viabilizada por investimentos em ativos específicos. Os investimentos especializados podem ocorrer, por exemplo, na forma de recursos físicos especializados (como um equipamento de alta tecnologia para desenvolver uma determinada tarefa); recursos humanos especializados (empregados capacitados para desenvolver atividades específicas, por meio de treinamento ou experiência); especificidade geográfica (localização estratégica de uma planta fabril de acordo com a cadeia produtiva da atividade); ativos dedicados (grandes investimentos na expectativa de negócios contínuos no futuro, cujo rompimento do negócio resultaria em venda de produtos a preços abaixo do mercado)

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ou capital investido na consolidação de uma marca (WILLIAMSON, 2002).

De acordo com os custos de transação, as fronteiras verticais das firmas (até que ponto a transação ocorre dentro da firma ou há negociações com agentes externos) são influenciadas, em primeiro lugar, pela especificidade dos ativos (WILLIAMSON, 1975). Por meio deste raciocínio, as transações que envolvem ativos específicos tendem a acontecer dentro da organização, ao passo que as transações que envolvem baixa especificidade dos ativos tendem a ser contratadas no mercado. Pode-se compreender a internalização e a contratação no mercado, entendida como terceirização, como os extremos de um continuum de possibilidades de integração vertical. Estas possibilidades podem incluir outras modalidades como a subcontratação, a contratação de empregados por tempo limitado, a formação de parcerias em projetos com fornecedores, licenciamentos, acordos de coprodução, concessões e consórcios, gama de transações reconhecida por Williamson (1975) como estruturas híbridas.

Ainda, apreende-se a especificidade do ativo negociado quando não há alternativa de adquirir ativo similar, uma vez que as partes da transação não podem simplesmente recorrer a fontes alternativas de fornecimento (KLEIN; CRAWFORD; ALCHIAN, 1978). No desenho dos contratos há dificuldade em estimar todas as possíveis contingências, pois mostra-se extremamente caro especificar e aplicar todas as regras contratuais que estão subjacentes às organizações (NORTH,1984).

Assim, a especificidade dos ativos atua como determinante para o estabelecimento de contratos que regem as transações. Em uma situação de custos de contratação iguais a zero, as partes podem escrever um contrato que rege sua relação com a especificação das obrigações de todas as partes em todos os eventos, o que consiste em um contrato completo e não condizente com a realidade. Entendidos os contratos como incompletos e abrangentes, uma relação de compra e venda, contratação, fornecimento de bens, serviços ou direitos implica nos custos de produção e transação existentes nas organizações (HART, 1995).

2.2.2 Frequência das transações

A frequência das transações que resultam em contratos é uma importante característica, determinante da estrutura da organização (WILLIAMSON, 1975). Em transações com elevado grau de frequência

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há maior probabilidade de retorno dos investimentos associados a estruturas com elevado nível de especificidade de ativos. Por outro lado, o incentivo do mercado é satisfatório para a realização de uma transação em ocorrências eventuais e com baixo grau de especificidade dos ativos envolvidos (WILLIAMSON, 1985).

A freqüência com a qual determinada transação ocorre mostra-se importante para a determinação da possibilidade de internalizar a transação no processo produtivo sem perder eficiência que se relaciona à escala, e também à importância de determinar a identidade das partes envolvidas na transação. Toma-se, por exemplo, uma transação simples (unitária e esporádica) de compra e venda de um ativo não diferenciado e à vista, que pode ser formalizada com menores custos na esfera do mercado (um exemplo é uma compra em uma feira). Por sua vez, transações complexas e ininterruptas (que sugerem o cumprimento de um conjunto de obrigações entre as partes para que a relação permaneça efetiva, como um contrato de concessão) que tratam de ativos específicos com dispositivos de liquidação em longo prazo, indicam a celebração de um contrato, visto que os custos de transação se relacionam à procura, identificação, barganha, entrega, liquidação e verificação do cumprimento de tais obrigações (COASE, 1960).

2.2.3 Incerteza da execução

O interesse por organizações econômicas surge em conjuntura de problemas advindos da incerteza: o problema econômico da sociedade e das organizações é, principalmente, uma questão de adaptação às mudanças, de acordo com circunstâncias específicas de tempo e lugar (HAYEK, 1945). A incerteza não é plenamente explorada no livro The Economic Institutions of Capitalism escrito por Williamson em 1985. Assim, existe uma lacuna para o maior aprofundamento teórico desta característica, que pode ser analisada de diferentes modos, por exemplo, ao considerar os diferentes aspectos do ambiente que não estão sob o controle dos agentes, como por exemplo, a estrutura das organizações (ZYLBERSZTAJN, 1995).

Desta forma, o cumprimento de contratos exige o establelecimento de controles. Coase (1937), Klein, Crawford e Alchian (1978) e Williamson (1979) ressaltam os benefícios do controle em resposta às situações nas quais se apresentam dificuldades para especificação e cumprimento de contratos completos. Por meio deste raciocínio, na ausência de contratos completos, a incerteza traz a necessidade de se ampliarem os controles, que geram os custos de

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controle advindos da incerteza. Nesta linha, alguns contratos são declaradamente incompletos por gerarem ambiguidades que dificultam a análise de tais contratos (HART; MOORE, 1999).

Ao longo do tempo, a incerteza (antes e após contrato) pode resultar em avaliações e revisões dos contratos que resultam em custos adicionais à organização após o contrato, que podem depender das condições do investimento e da incerteza antes do contrato (SCHMITZ; 2001). Tirole (1999) afirma que os economistas concordam que contratos reais são ou parecem bastante incompletos, com atenção vaga ou silenciosa a uma série de recursos estratégicos. Por outro lado, há também o entendimento de que a influência da incerteza sobre a organização econômica é condicional, uma vez que o aumento da incerteza não é relevante para as transações que não envolvem ativos específicos. Nestes casos, o fácil arranjo de novas relações comerciais reduz a importância da continuidade e a incerteza não ocorre. Assim, as trocas comerciais continuam e as contratações se concretizam por meio de transações padronizadas de todos os tipos, sem grande atenção ao grau de incerteza (WILLIAMSON, 1985).

2.2.4 Desenho de um contrato

O desenho de um contrato envolve os aspectos formais. Por exemplo, um contrato de longo prazo pode prever um planejamento da produção de cada uma das partes (contrato para fornecimento de uma matéria-prima), e pode ser possível compartilhar os riscos do compromisso firmado (MACNEIL, 1978). Entende-se que contratos possuem um perfil intertemporal, em que as partes acordam no momento presente o que se realizará no futuro. E, neste intervalo de tempo, o contrato é autoimpositivo, uma vez que a execução por força de lei, com sanções não previstas no contrato, não são necessárias neste período.

Ainda, pode-se afirmar que um contrato é incompleto na medida em que as partes tem a possibilidade de acrescentar cláusulas contingentes, porém, não o fazem pelo fato de que a situação contingente não pode ser prevista com clareza (ou o custo da previsão contratual da contingência é muito alto para uma descrição ex ante) (HART; MOORE, 1999). No mesmo sentido, North (1984) afirma que contratos são imperfeitos em si, uma vez que é caro medir o que constitui o cumprimento do contrato, e as partes podem argumentar de forma convincente que, de fato, cumprem o contrato. Como por exemplo, em contratos dentro da organização, onde os funcionários

Referências

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