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A proteção da criança a luz dos direitos humanos: uma análise a partir dos movimentos migratórios do século XXI

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Academic year: 2021

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDO DO SUL

PRISCILA FERNANDA NEHER

A PROTEÇÃO DA CRIANÇA A LUZ DOS DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS DO SÉCULO XXI

IJUI (RS) 2016

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PRISCILA FERNANDA NEHER

A PROTEÇÃO DA CRIANÇA A LUZ DOS DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS DO SÉCULO XXI

Trabalho de conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TC

UNIJUI- Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul DCJS – Departamento de ciência jurídicas e sociais

Orientador: MSc. Anna Paula Bagetti Zeifert

IJUI (RS) 2016

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Dedico este trabalho à minha família, por todo apoio, compreensão e confiança durante toda a minha jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por me permitir chegar até este momento, que tanto almejei e sonhei. A minha orientadora, professora Anna, por toda dedicação, explicação, esclarecimento e ajuda durante todo processo de construção do trabalho, sempre dando dicas, estando sempre disponível para sanar dúvidas.

À minha família, que sempre permaneceu do meu lado nos momentos mais difíceis da caminhada acadêmica, não permitindo que desistisse dos meus sonhos e objetivos, mostrando sempre que nossas lutas são vencidas com perseverança, persistência e confiança de que será possível.

Ao meu namorado, que permaneceu do meu lado, dando o apoio necessário, incentivando com palavras de força, e me estendo os braços para um conforto, quando estava difícil a caminhada.

Aos meus amigos, que demonstraram todo o apoio possível, trazendo sempre uma palavra de conforto, confiança e estendo as mãos sempre que possível.

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“Toda criança tem o direito de sonhar, proporcionar um ambiente de sonhador é dever dos adultos [...]” MilknRoll

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise inicial da situação das crianças refugiadas pelo mundo, e a relação com os direitos humanos. Verificar em que dado momento fala-se em direitos humanos, narrando sua história, as lutas da sociedade para poder alcançar o mínimo de dignidade e direitos para os indivíduos. Analisar-se-á, ainda no contexto dos direitos humanos, a situação das crianças refugiadas, a importância da infância, fragilidade e as necessidades de que as mesmas necessitam, em âmbito internacional e nacional, fazendo com que a comunidade internacional se mobilize para tal assunto, visto que no século XXI, há um número cada vez mais expressivo de pessoas que deixam seus lares, seus territórios, para migrar para países desconhecidos, e uma parcela significativa desses grupos são crianças que muitas vezes possuem seus direitos humanos violados.

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ABSTRACT

This monograph research paper performs an initial analysis of the situation of refugee children around the world, and the relation with the human rights. Verify that, in a certain moment, the subject is human rights, with a narration of its history, the society struggle to be able to reach a minimum dignity and rights for the individuals. Also, in the human rights context, there will be an analysis regarding the situation of refugee children, the childhood importance, fragility and the necessities they have, in an international and national range, arising the mobilization of the international community for such subject since, in the 21st century, there is an increasing number of people who leave their homes, their territories, to migrate to unknown countries, and a significant part of these groups is children who, several times, have their human rights violated.

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SUMÁRIO

1 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS ... 11

1.1 Possíveis conceituações para expressão Direitos Humanos ... 11

1.2 Gerações dos Direitos Humanos ... 14

1.3 Os Direitos Humanos e a proteção internacional da criança ... 16

2 OS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E A PROTEÇÃO DA CRIANÇA ... 23

2.1 Os Movimentos Migratórios do século XXI ... 23

2.2 A situação da criança refugiada no Brasil ... 30

2.3 Perspectiva para a proteção da criança refugiada segundo a legislação brasileira ... 35

CONCLUSÃO ... 44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa monográfica traz como tema a proteção da criança a luz dos direitos humanos, uma análise a partir dos movimentos migratórios do século XXI, um assunto crescente e preocupante, pois a cada momento pessoas migram de um território a outro, ou então dentro do próprio território do país, procurando paz, trabalho, uma melhor condição de vida para suas famílias, fugindo da intolerância religiosa, de perseguições em razão de raça, de problemas econômicos e de guerras que assolam seus países. Com estes movimentos cada vez mais crescente acenderam-se sinais de alerta para o assunto, chamando a atenção de toda a comunidade internacional, principalmente para os problemas que afetam os grupos mais vulneráveis, especificamente as crianças.

Com este problema de números cada vez mais expressivo, viu-se a necessidade de um olhar da comunidade internacional, pois trata-se de um problema de todos. A necessidade de políticas internacionais e nacionais específicas para este grupo, pois os mesmos não possuem a capacidade de se gerir e se protegerem sozinhos, políticas estas que sejam capazes de proporcionar uma melhor condição de vida a esse grupo, uma oportunidade de crescer com dignidade, com escolas, saúde, e até mesmo quem sabe, possibilitando estas crianças terem uma nova família, pois nestas trajetórias por muitas vezes acabam por ficarem desacompanhadas.

Com este intuído, a Organização das Nações Unidas ONU, tenta mobilizar suas entidades para uma solução a este problema, como exemplo O Fundo das Nações Unidas para Infância UNICEF, o Alto Comissariado das Nações Unidas para

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os Refugiados ACNUR, órgãos específicos para cuidar das crianças e dos refugiados, respectivamente. São entidades capazes de tomarem medidas, fazerem as devidas fiscalizações para garantir que realmente haja um movimento, um esforço, no sentido de tentar solucionar, ou ao menos, minimizar estes problemas em relação as crianças refugiadas.

Nesse sentido, para uma melhor compreensão do tema, tratamos incialmente da história dos Direitos Humanos, uma análise de sua evolução, pois menciona-se direitos aos indivíduos datados desde a antiguidade, direitos estes que sempre foram conquistados através de muita luta, e que gradativamente foram sendo ampliados. Somente após várias discussões e tentativas de se ampliar tais direitos, que hoje podemos dizer que são direitos fundamentais, e que durante esta construção, entendeu-se a importância de criar institutos específicos para as crianças, seres merecedores de proteção e direitos como os demais, pois inicialmente as mesmas eram tidas como seres sem importância, e que com o passar dos tempos viu-se a necessidade de proteção destas.

E é com base nos Direitos Humanos que verificamos a situação dos movimentos migratórios do século XXI e a proteção que as crianças possuem, pois partimos do princípio que todo ser humano merece proteção e cuidado. Desta forma verificamos que os refugiados têm se tornado uma questão de grandes proporções, principalmente em razões de guerras que destroem seus países, tornando o número de pessoas refugiadas cada vez mais expressivos. E dentro destes números encontramos uma situação ainda pior, já que, o número de crianças é mais que a metade de pessoas refugiadas, criando assim uma grande dificuldade para a proteção das mesmas, que muitas vezes se encontram em situações difíceis, já que no meio deste percurso todo, acabam por perderem seus familiares, ficam sem escolas, sem um cuidado com a saúde em razão dos precários campos de refugiados, principalmente pelo grande número de pessoas e, não existir a capacidade de outros países acolherem todos.

Quanto aos objetivos gerais, a pesquisa será do tipo exploratória. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios

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físicos e na rede de computadores. Na sua realização será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo.

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1 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS

Neste primeiro capítulo será abordado os aspectos históricos dos Direitos Humanos, tecendo uma caminhada e discussões sobre o tema, apontando os fatos, as lutas mais relevantes da história da humanidade relativa à temática.

Analisaremos quais são as conceituações de Direitos Humanos, se existe fundamento, ou até mesmo outro nome para tais direitos. Passando desta forma por gerações, para melhor conceituar e definir. Para então chegar na esfera da proteção internacional da criança, foco central do trabalho.

1.1 Possíveis conceituações para expressão Direitos Humanos

A história dos direitos humanos foi marcada por lutas e conflitos, uma longa caminhada e discussões sobre o tema, até mesmo pela sua terminologia, que pode ser alvo de diversos tipos de entendimento, por esta razão, deve-se fazer uma análise desde os primórdios, onde começa-se a falar em Direitos Humanos, direitos dos indivíduos.

Olhando e refletindo sobre os tempos antigos, onde já havia lutas e defesas por direitos e liberdade contra velhos poderes, nota-se que isto ocorreu de modo gradual e lento. Passando pela Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e algumas revoluções, onde pouco a pouco construiu-se uma noção de direitos fundamentais, que hoje passamos a chamar de Direitos Humanos.

O surgimento destes direitos, se dá principalmente por meio de afronta contra o poder, pela opressão em que a sociedade civil vivia.

Para Noberto Bobbio (1909, p. 5) na obra A Era dos Direitos:

[...] os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caraterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.

Esta evolução histórica, pode- se começar a mencionar, a partir do rei Hamurábi, há cerca de 3.700 anos, quando o mesmo mandou redigir e gravar, em um bloco de diorito, um código de leis, o código de Hamurábi, onde continham 282

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parágrafos para limitar o poder.

É possível se fazer uma menção a outros códigos mais antigos que de Hamurábi, que também serviam para limitar o poder, que são os de Lipit-Istar, de Bilalama e de Ur-Namur (ALMEIDA, 1996).

Segundo Fernando Barcelos de Almeida (1996, p. 45):

A evolução histórica dos Direitos Humanos pode ser resumida em algumas fases básicas pelas quais passou:

1) Na primeira fase eles seriam essencialmente concessões espontâneas de um monarca com poderes absolutos, mas justos e inteligentes, como o rei Hamurábi, da Babilônia, há cerca de 3.700 anos[...];

2) Na segunda fase, os direitos e liberdade seriam conquistas de elites, do alto clero ou da aristocracia, contra o monarca, como foi o caso do rei João Sem Terra que outorgou, aos seus súditos, [...], a Magna Carta, em 1215, na Inglaterra;

3) Na terceira fase, já com a denominação de Direitos do Homem (mulher fora), eles são uma conquista de uma classe emergente como dona do poder econômico e que se torna dona também do poder político, como ocorreu mais significativamente com a classe burguesa, na revolução Francesa de 1789;

4) Na quarta fase, os direitos Humanos, já em segunda geração, são conquistas de classes dominadas, que não tem o poder político, mas lutam por ele, pressionam os donos do poder e obtém direitos sociais, econômicos e culturais;

5) Na quinta fase, os Direitos Humanos, em terceira geração, se internacionalizam, recebem uma proteção supranacional e alguns desses direitos são impostos pela comunidade internacional, como na repressão à escravatura, ao genocídio [...]

Após está lenta e gradual evolução, por mais que separada em fases, não se pode dizer que são isoladas, e sim ligadas uma a outra ao longo do tempo. Percebe-se que existe Percebe-sempre uma luta na tentativa de melhorar a condição de vida, garantido direitos básicos. Começando na Babilônia com o rei Hamurábi, passando também pelo monarca João Sem Terra, que outorgou aos seus súditos a Magna Carta, percorrendo ainda por outros momentos históricos, até a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ALMEIDA, 1996).

Esta proclamação ocorreu em 1948, e foi o primeiro documento a fixar internacionalmente os direitos e garantias, tanto a homens quanto a mulheres, com o objetivo principal de consolidar uma afirmação de ética universal, e se fez necessário criá-lo em uma atitude universal, principalmente em razão da Segunda Guerra Mundial, em meados do século XX, pelas atrocidades e monstruosas violações de direito da era Hitler.

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Como coloca Flavia Piovesan (2009, p. 6):

A Declaração de 1948 introduz a concepção contemporânea de direitos humanos marcada pela universalidade e indivisibilidade desses direitos. Universalidade porque a condução de pessoa é o requisito único e exclusivo para a titularidade de direitos, sendo a dignidade humana o fundamento dos direitos humanos. Indivisibilidade porque, ineditamente o catalogo dos direitos civis e políticos é conjugado ao catalogo dos direitos econômicos, sociais, e culturais, a Declaração ineditamente combina o discurso liberal e o discurso social da cidadania, conjugado o valor da liberdade ao valor da igualdade.

Ainda para melhor compreender sobre o tema, seria necessário talvez uma diferenciação entre direitos humanos e direitos fundamentais, que embora possam parecer sinônimos, alguns autores entendem que existe diferença entre os termos.

Doutrinadores com tendências jusnaturalitas entendem que, os direitos humanos podem ser fruto da qualidade humana, por pertencer a esta espécie. Porém, esta afirmação exclui os direitos oriundos da evolução histórica, social, político e econômico.

Portanto, para não se correr o risco de perder toda a evolução pela qual a humanidade passou, e tem passado, deve-se fazer uma conceituação considerando-se as evoluções.

Como mostra Dirceu Pereira Siqueira (2016) no artigo: Direitos fundamentais: a evolução histórica dos direitos humanos, um longo caminho:

Um conceito de direitos humanos deve, portanto, reconhecer sua dimensão histórica deve reconhecer o fato que eles não foram revelados para a humanidade em um momento de luz, mas sim que foram construídos ao longo da história humana, através das evoluções, das modificações na realidade social, na realidade, política, na realidade industrial, na realidade econômica, enfim em todos os campos da atuação humana.

[...] embora os direitos humanos sejam inerentes a própria condição humana seu reconhecimento, sua proteção é fruto de todo um processo histórico de luta contra o poder e de busca de um sentido para a humanidade.

Já os direitos fundamentais, nascem no momento de positivação dos Direitos Humanos, quando do reconhecimento, pelas legislações positivas de direitos inerentes a pessoa humana.

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[...] o termo direitos fundamentais se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão direitos humanos guardaria relação com o documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoca caráter supranacional.

Embora haja esta diferenciação em conceitos, os direitos conferidos a todos os sujeitos, com o objetivo de proteger sua dignidade, onde a sociedade política tem o dever de proteger e garantir, como nos diz (NUNES, 2016), todos decorrentes de alterações no pensamento filosófico, jurídico e político da humanidade, e que, positivados, convencionou-se designar por “direitos fundamentais”.

1.2 Gerações dos Direitos Humanos

Como já vem sendo demonstrado pouco a pouco a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 trouxe consigo uma extraordinária inovação, principalmente com sua linguagem. Pois traz um discurso abrangente e liberal, tratando tanto de direitos civis e políticos, como direitos sociais, econômicos e culturais, direitos estes que vinham sendo de modo mais brando tratados nas magnas Cartas.

Em razão de sua história, interessante seria falar em gerações de direitos humanos, porém não falando que exista uma hierarquia desses valores, mas tão somente se reconheça o seu momento histórico.

Quando se fala em gerações de direitos, podemos dividi-los em quatro. Sendo esta primeira resultante da Declaração Francesa dos direitos do homem e do cidadão e da Constituição dos Estados Unidos da América de 1787, em razão dos conflitos que havia entre governados e governantes, pois havia uma insatisfação da maioria com as questões políticas, econômica e social. O que acabou por gerar afirmações dos direitos dos indivíduos em face do poder Soberano do Estado absolutista. (NUNES, 2016)

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Como aduz Nunes (apud COMPARATO, 2006, p. 51):

[...] representam a emancipação histórica do indivíduo perante os grupos sociais aos quais ele sempre se submeteu: a família, o clã, o estamento, as organizações religiosas. Mas em contrapartida, a perda da proteção familiar estamental ou religiosa tornou o indivíduo muito mais vulnerável às vicissitudes da vida. A sociedade liberal ofereceu-lhe, em troca, a segurança da legalidade, com a garantia da igualdade de todos perante a lei. Esses direitos, visando a proteção das liberdades individuais ao impor limites ao Estado, recebem a denominação, por alguns autores de direitos humanos de primeira geração ou primeira dimensão.

A segunda geração é marcada pela transição do constitucionalismo liberal para o constitucionalismo social, onde os principais direitos são os direitos ao trabalho, à saúde, à educação, direitos que são obrigações do Estado prestar aos cidadãos. Estes direitos foram positivados na Constituição Francesa liberal de 1971 e 1973, sendo ampliados e reafirmados em 1948 pela mesma Constituição francesa. (NUNES, 2016)

Quanto os Direitos Humanos de terceira geração começa-se a discutir posteriormente ao final da Segunda Guerra mundial, em 1945. Após as dificuldades, e as incessantes lutas pelos direitos civis, políticos de primeira geração, e dos direitos econômicos, sociais e culturais de segunda geração, discute-se outros valores, até então não tratados como prioridade. Porém, estes valores para serem efetivados, aclamavam por novas soluções. Solução esta, que somente direitos de estirpe diversa dos já positivados poderia satisfazer. (NUNES, 2016)

Tais direitos então, mencionados como direitos da solidariedade ou fraternidade, configuram-se pela questão coletiva ou difusa, coincidindo então com o reconhecimento do processo de internacionalização dos direitos humanos.

Como destaca Nunes (apud SARLET, 1998, p. 50-51):

[...] trazem como nota distintiva o fato de se desprenderem, em princípio, da figura do homem individuo como seu titular, destinando-se à proteção de grupos humanos (família, povo, nação), e caracterizando-se, consequentemente, como direitos de titularidade coletiva ou difusa. [...] Dentre os direitos fundamentais da terceira dimensão consensualmente mais citados, cumpre referir os direitos à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao meio ambiente e qualidade de vida, bem como o direito à conservação e utilização do patrimônio histórico e cultural o direito de comunicação. Cuida-se na verdade do resultado de

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novas reivindicações fundamentais do ser humano, geradas dentre outros fatores, pelo impacto tecnológico, pelo estado crônico de beligerância, bem como pelo processo de descolonização do segundo pós-guerra e suas contundentes consequências, acarretando profundos reflexos na esfera dos direitos fundamentais.

Ainda mencionando as gerações de direitos humanos, poderíamos falar em quarta e quinta gerações, porém, estas ainda não são pacificadas pelos doutrinadores. Entende-se pela quarta geração, os direitos contra a manipulação genética, direito de morrer com dignidade, e direito a mudança de sexo. Todos estes direitos, seriam para elucidar conflitos novos, fruto da sociedade contemporânea.

Finalmente a quinta geração, está direcionada ao direito de imagem, a honra, os direitos virtuais, que ressaltam o princípio da dignidade da pessoa humana, decorrente de uma nova era, contemporânea, que surgiu com o exacerbado desenvolvimento da internet nos anos 90.

1.3 Os Direitos Humanos e a proteção internacional da criança

Durante os estudos e evoluções do direito humano, podemos verificar que o “ser (humano) criança” também sofreu várias evoluções, sendo até considerada desnecessária, sem importância.

Como nos demonstra Mattioli e Oliveira (apud DEL PIRORI, 2008, p. 84):

O período mais crítico estendia-se do nascimento até os sete anos de idade. Caso viesse a falecer, a dor pela sua perda seria suplantada por outra criança que viria a nascer. Parece-nos desumano, esta forma de agir. No entanto, não o era para outras sociedades históricas, pois „[...] na mentalidade coletiva, a infância era, então, um tempo sem maior personalidade, um momento de transição [...]‟

Ao falarmos especificamente de um grupo, como as crianças, estamos tratando de um sistema heterogêneo, especial, pois dirige-se especificadamente a um determinado conjunto, reconhecendo-se suas particularidades.

Desta maneira nos demonstra Mattioli e Oliveira (apud MACHADO, 2003, p.115-116):

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[...] os direitos fundamentais da criança e adolescente demandam uma conformação especial, uma estruturação distinta daquela conferida aos direitos fundamentais dos adultos, eis que, se assim não se concebesse faltaria o „minimum necessário e imprescindível‟ que constitui o conteúdo da noção de personalidade, [...]; se assim não se concebesse as crianças e os adolescentes seriam apenas objeto de direito do mundo adulto.

Historicamente podemos começar a mencionar as questões de direitos quando mencionamos a Primeira Guerra Mundial, onde houve uma tentativa de organização internacional para instituir a paz mundial. Então, em 1919 com o Tratado de Versalhes se cria a Liga das Nações, para este fim, porém, o que infelizmente não corre, e acaba por eclodir então a Segunda Guerra Mundial.

Ainda com dados históricos, e voltados a infância em 1924 é assinada a Carta da Liga, conhecida também como Declaração de Genebra. Este documento, é o resultado de uma luta encabeçada pela união internacional Salve as Crianças pelos direitos da infância, “vislumbrando que a proteção à infância deve abranger todos os aspectos da vida da criança.” (MATTIOLI; OLIVEIRA, 2013, p. 16)

Apesar de ser de grande valia a tentativa, Mattioli e Oliveira (2013 p. 16) na obra Direitos Humanos de crianças e adolescentes: o percurso da luta a proteção, nos demonstra que:

Embora, pioneira na proclamação da defesa da criança, a Declaração de Genebra apresenta uma infância vulnerável que deve ser protegida pelo mundo adulto, limitando a enumerar deveres para com esta infância. Outro ponto que merece atenção é o fato de esta declaração não possuir força coercitiva perante as nações, figurando como recomendação da Liga das Nações aos governos.

Esta tentativa da Liga das Nações ocorre em virtude do pós-guerra, onde existia um grande número de crianças abandonadas, com a então necessidade de assisti-las, tanto em relação a educação, como alimentação, e várias outras questões, dada a vulnerabilidade da criança.

Mesmo, não sendo um documento com tanta “força”, capaz de gerar diferenças, é um marco inicial, onde já se vislumbrava a necessidade da criança. E com este marco, que foi a carta de Genebra, em 20 de novembro de 1959 é aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Declaração dos Direitos da

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Criança (UNICEF, 1959).

Documento este, que amplia as garantias das crianças, uma vez que são reconhecidas como sujeitos de direito. Como demonstra Mattioli e Oliveira (apud AMIN, 2011. p.12):

Reafirmando a crença nos direitos humanos e confirmando a condição especial da criança, a Declaração dos Direitos da Criança constitui „[...] o grande marco no reconhecimento de crianças como sujeitos de direitos. Carecedoras de proteção e cuidados especiais‟.

Direitos estes que começa a permear na comunidade internacional. Momento então que ao se mencionar os direitos da Criança internacionalmente, que foi adotado pela ONU em 1989 e vigente desde 1990, devemos destacar que é o tratado internacional de proteção de direitos humanos com o maior número de ratificações, contando em 2008 com 193 Estados-partes.

Porém, deve-se fazer uma ressalva, como mostra Steiner e Alston (apud PIOVESAN, 2009, p. 282):

[...] a primeira menção a „direitos da criança‟ como tais em um texto reconhecido internacionalmente data de 1924, quando a Assembleia da Liga das Nações aprovou uma resolução endossando a Declaração dos Direitos da Criança, promulga no ano anterior pelo Conselho da organização não governamental [...] Em 1959, a Assembleia Geral das Nações Unidas promulgava a Declaração dos Direitos da Criança, cujo texto iria impulsionar a elaboração da Convenção.

A Convenção em seu artigo 1º, define criança sendo todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, pela legislação aplicável, a maioridade seja atingida mais cedo.

O tratado engloba a concepção do desenvolvimento integral da criança, a reconhece como sujeito de direito, podendo assim exigir proteção especial e absoluta.

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Os direitos previsto na Convenção incluem: o direito à vida e à proteção contra a pena capital; o direito a ter uma nacionalidade; a proteção ante a separação dos pais; o direito de deixar qualquer país e de entrar em seu próprio país; o direito de entrar e sair de qualquer Estado-parte para fins de reunificação familiar; a proteção para não ser levada ilicitamente ao exterior; a proteção de seus interesses no caso de adoção; a liberdade de pensamento, consciência e religião; o direito ao acesso a serviços de saúde, devendo o Estado reduzir a mortalidade infantil e abolir práticas tradicionais prejudiciais a saúde; o direito a um nível adequado de vida e segurança social; o direito à educação, devendo os Estados oferecer educação primária compulsória e gratuita; a proteção contra exploração econômica, com a fixação de idade mínima para admissão em emprego; a proteção contra o envolvimento na produção, tráfico e uso de drogas e substâncias psicotrópicas; a proteção contra a exploração e o abuso sexual [...]

Como pode-se perceber, a Convenção dos Direitos das Crianças é bastante ampla, e abrangente. Ela trata de todos as gerações de direitos, os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, porém, sem fazer distinções entre as áreas. Assumindo desta maneira uma indivisibilidade, dando igual importância a todos os direitos.

Quando se fala em convenções, tratados, protocolos, deve-se estar presente a ideia de que, para um Estado fazer parte deste tratado, precisa ratificá-lo, com ou sem reserva. E que uma vez ratificado, os Estados-partes se comprometem a seguir, agir e realizar os acordos convencionados, levando-se em considerações caso haja alguma reserva.

Desta forma, para um melhor entendimento, sobre a origem e a funcionalidade de um tratado, Leonardo Gomes de Aquino (2010), na obra tratados internacionais (teoria geral) nos esclarece:

[...] Em primeiro lugar, se observa a necessidade de um acordo formal, ou seja, os tratados necessitam de um documento escrito. Tal aspecto formal faz com que o tratado seja diferenciado dos costumes. Em segundo lugar, está a necessidade de os tratados serem firmados entre sujeitos de direito internacional público, ou seja, entre Estados ou entre Estados e organismos internacionais. Por fim, o acordo deve produzir resultados jurídicos. A assinatura e ratificação de um tratado implicam, portanto, assunção de direitos e obrigações pelas partes envolvidas. Não se pode deixar de ressaltar, também, que, para um tratado ser válido, depende ele da expressão legítima da vontade do sujeito envolvido. No caso dos Estados nacionais, tal expressão da vontade se dá pela estrita observância das normas internas a respeito das convenções internacionais, dentre as quais se podem incluir a competência das autoridades e a existência de ratificação com

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observância às normas internas.

Porém, a Declaração de Viena trouxe um objetivo diferenciado, a ratificação universal, e sem reservas, dos tratados e protocolos de direitos humanos adotados no âmbito do sistema das Nações Unidas.

Desta forma, destaca-se imperioso a ratificação universal da Convenção sobre os Direitos das Crianças, e a sua efetiva implementação por todos os Estado- partes, mediante a adoção de todas as medidas legislativas, administrativas e de outra natureza que se façam necessárias (PIOVESAN, 2009).

Ainda sobre a Declaração de Viena, ela demonstra ser de grande valia a não- discriminação e o interesse superior da criança, sendo estes, o princípio fundamental em relação as crianças, devendo também, sempre ser levado em consideração os interesses das mesmas.

Neste sentido Piovesan (2009, p. 283) elucida que:

[...] os mecanismos e programas nacionais e internacionais de defesa e proteção da infância devem ser fortalecidos, particularmente em prol de uma maior defesa e proteção das meninas, das crianças abandonadas, das crianças de rua, das crianças econômica e sexualmente explorada, inclusive as que são vítimas de pornografia e prostituição infantis e da venda de órgãos, das crianças acometidas por doença, entre as quais a síndrome da imunodeficiência adquirida, das crianças refugiadas e deslocadas, das crianças detidas, das crianças em situação de conflito armado [...] Deve-se promover a cooperação e a solidariedade internacionais com vistas a apoiar a implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança e os direitos da criança devem ser prioritários em todas as atividades das Nações Unidas na área dos direitos humanos.

Ainda com a problemática no tocante a exploração econômica e sexual, e sobre os conflitos armados, criou-se dois protocolos facultativos, em 25 de maio de 2000. Para fortalecer ainda mais, e tratar da melhor forma possível estes dois problemas crescentes (PIOVESAN, 2009).

Estes protocolos facultativos têm por objetivo principal tratar especificamente estes problemas, trazendo em seus artigos, pontos importantes a serem seguidos pelos países que o ratificarem.

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Como fica claro no artigo 1º (UNICEF, 2016): “Os Estados Partes devem adotar as medidas possíveis para assegurar que os membros das suas forças armadas que não atingiram a idade de 18 anos não participem diretamente nas hostilidades.”

A Convenção dos Direitos das crianças, como já mencionado, tem seu escopo bastante amplo, trazendo consigo cinquenta e quatro artigos, divididos em quatro categorias, que são os direitos pessoais, direitos relacionados a saúde e educação, direito a proteção e por fim os direitos de participação.

Entre todos esses artigos, importante salientar os princípios que o preâmbulo nos traz, como nos demonstra Maria João Gonçalves e Ana Isabel Sani (2013) citando a Convenção da UNICEF, salientam que:

O fato de as crianças devido a sua vulnerabilidade necessitarem de uma proteção e de uma atenção especial e sublinha de forma particular a responsabilidade fundamental da família no que diz respeito aos cuidados e proteção. Menciona ainda a necessidade de proteção jurídica e não jurídica da criança antes e após o nascimento, a importância dos valores culturais da comunidade da criança, e o papel vital da cooperação internacional para que os direitos da criança sejam uma realidade.

Devemos ainda mencionar alguns artigos da referida Convenção, para elucidar da melhor forma possível os princípios que ficam explícitos em seus artigos. Como no artigo 3º, que traz em seu texto o princípio do melhor interesse da criança, bem como o artigo 6º que fala sobre o direito à vida, à sobrevivência.

Ainda, para demonstrar a real importância que as crianças devem ter, para todos os países, podemos fazer menção a outros documentos internacionais com igual importância da convenção dos direitos da criança.

Estes documentos são a Convenção de Haia, que trata da adoção internacional, a Convenção nº 138 da organização internacional do trabalho, que tem o objetivo de regular a idade mínima de admissão no emprego, o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, adotado em 1998 e dirigido a crimes de Guerra ou

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genocídio, violência sexual, prostituição infantil ou ataques contra escolas ou hospitais (GONÇALVES; SANI, 2013).

E, para que haja um verdadeiro comprometimento em relação ao cumprimento da Convenção, existe uma fiscalização. Onde o Comitê sobre os Direitos das Crianças, analisa os relatórios emitidos pelos Estados-parte, para averiguar se está realmente sendo implementado, e seguido o tratado na Convenção (PIOVESAN, 2009).

Podendo o comitê através de seus membros, também realizar relatórios para uma melhoria, em determinadas situações, dando indicações para os estados partes de como agir em determinadas situações, para quem sabe haver uma melhora no problema apontado.

Desta forma, podemos verificar que os direitos das crianças, bem como foi com os direitos humanos, se deu através de uma lenta e gradual evolução, com muitos percalços pelo caminho e com muitas medidas e atitudes ainda a serem tomadas.

Principalmente com relação ao problema crescente e preocupante que tem se tornado a migração de um país ao outro, para escapar de guerras, problemas econômicos, que as pessoas fogem de seus países de origem em busca de paz, uma melhor condição de vida e proteção as suas crianças. Ponto este que será melhor esclarecido no capítulo seguinte.

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2 OS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS E A PROTEÇÃO DA CRIANÇA

Quando se menciona movimentos migratórios, devemos ter presente que este é um instituto antigo, uma vez que desde o século XV o mesmo existe.1 Muitas vezes esses movimentos acontecem em razão de perseguições que podem ocorrer por diversos motivos, como exemplo, raça, religião, guerra, fazendo com que as pessoas migrem de um território a outro. 2

Os grupos mais afetados nessas migrações, são as pessoas com maior vulnerabilidade, como as crianças, que por muitas vezes acabam desassistidas de suas famílias nessas longas jornadas, que é a procura por paz, moradia, emprego, uma situação confortável para as famílias, que já não existe em seus países.

2.1 Os Movimentos Migratórios do século XXI

Os movimentos migratórios surgiram em decorrência de diversos motivos, como exemplo, religião, raça, nacionalidade, questões políticas, econômica, porém, começam a ganhar “importância”, haver a proteção institucionalizada na metade do século XX3, por acontecer a fuga de milhões de pessoas, e não ter mais a

1

Conforme Liliana Lyra Jubilut (2007, p.23), “Alguns apontam a existência de refugiados na Antiguidade, mais especificamente no antigo Egito, mas é a partir do século XV que os refugiados começaram a aparecer de forma mais sistemática, razão pela qual aponta-se esta data como a do aparecimento dos refugiados.”

2 No entender de Liliana Lyra Jubilut (2007, p.23), “primeiramente com os judeus expulsos da região da

atual Espanha, no ano de 1492, em função da política de europeização do reino unificado de Castela e Aragão – iniciada após a reconquista deste da dominação turca – que levou à expulsão da

população apátrida, não totalmente assimilada e que contabilizava 2% do total da população, em função de esse reino ter a unidade religiosa como uma de suas bases constitutivas. E, logo em seguida, de Portugal, país no qual buscaram refúgio.”

3 Conforme esclarece Liliana Lyra Jubilut (2007, p.24,25), “O surgimento dessa percepção somente no

século XX, apesar de o problema existir há mais de quatro séculos, pode ser explicado em função de dois fatores. O primeiro, já mencionado, relaciona-se ao contingente numérico dos refugiados, pois, enquanto até o século XX as cifras giravam em torno de centenas de milhares, no início desse os números passaram para a casa dos milhões, o que ameaçava consideravelmente a segurança interna dos Estados que acolhiam essas pessoas, sem contar com um sistema organizado de proteção. O segundo fator relaciona-se à configuração geopolítica da comunidade internacional, posto que os refugiados existentes antes da institucionalização do refúgio possuíam inúmeras possibilidades de locais de acolhida, uma vez que a totalidade de territórios do mundo ainda não se encontrava dividida sob a forma de Estados-nações independentes,7 o que não ocorria mais na década de 20 do século XX, quando os refugiados, ao deixar seus Estados de origem pela falta de proteção a eles por parte desses, deparavam se sem alternativas, pois, estando a comunidade internacional dividida em unidades políticas autônomas, e não havendo regras internacionais sobre o tema, cada uma dessas estipulava as regras de entrada em seu território, excluindo, na maioria das vezes, os refugiados, que chegavam (e ainda chegam) sem dinheiro, sem referência e, à época, em grande número.”

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possibilidade de passar despercebido, principalmente pela comunidade internacional.

Em razão deste deslocamento, desta fuga, existe dois institutos conhecidos, o asilo e o refúgio, que por alguns doutrinadores são considerados iguais, em virtude de se tratar de acolhimento de pessoas que fogem em razão de perseguição.

Como nos coloca Lilian Lyra Jubilut (2007, p. 36) na obra O Direito Internacional dos Refugiados

O direito de asilo está previsto na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, aprovada pela Assembleia Geral da ONU. Tal documento assegura o direito de qualquer pessoa perseguida em seu Estado a solicitar proteção a outro Estado, mas não estabelece dever de um Estado de conceder asilo.

Serve ele de base jurídica para as diversas modalidades modernas de proteção às pessoas perseguidas por um Estado, tanto por meio do asilo propriamente dito quanto o refúgio.

Ainda para comprovar esta semelhança entre os institutos, Jubilut nos coloca que a leitura do parágrafo 4º preambular da Convenção de 51, que, ao estabelecer as regras internacionais sobre refúgio, menciona o direito de asilo, invocando, assim, este com base para aquele ao mesmo tempo em que exorta os Estados a praticar a cooperação internacional (JUBILUT, 2007).

Porém devemos também considerar a diferenciação entre os institutos, principalmente, em virtude de na Declaração Universal de Direitos Humanos o instituto do asilo perder um pouco da sua força, e ficar o entendimento da diferenciação dos mesmos.

Como demonstra Jubilut (2007, p. 41):

1. Todos têm direitos de buscar e gozar de asilo em função de perseguição, em outros Estados. 2. Persecuções processuais decorrentes de crime não políticos e de atos contrários aos propósitos das Nações Unidas não constituem perseguição.

Desta forma, esclarecemos que o asilo é um instituto que por mais que a Declaração de Direitos Humanos menciona, devemos ter presente que é utilizado

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para pessoas perseguidas por crimes políticos, onde o Estado tem poder discricionário de conceder proteção ao solicitante que esteja em sua jurisdição. Este instituto pode ser classificado em duas categorias, que são, o asilo territorial e o asilo diplomático.

Nos esclarece Jubulit (2007, p. 38) na obra O Direito Internacional dos Refugiados:

[...] asilo territorial – verificado quando o solicitante se encontra fisicamente no âmbito territorial do Estado ao qual solicita proteção; e asilo diplomático – o asilo concedido em extensões do território do Estado solicitado como, por exemplo, em embaixadas, ou em navios, ou aviões de bandeira do Estado.

Quando tratamos do instituto do refúgio, temos presente que o mesmo visa também pela proteção de pessoas perseguidas, porém ele tem um viés diferenciado do asilo, principalmente por ter seu foco central na proteção para pessoas perseguidas, que não sejam crimes políticos, por existir um órgão internacional que fiscaliza sua proteção, o que não ocorre com o asilo, pois como já visto, o mesmo depende unicamente de um ato discricionário do Estado concedente.

Porém, quando mencionamos que o mesmo serve para proteção de pessoas perseguidas, deve haver um entendimento aprimorado em relação a esta conceituação de perseguição. Neste sentido, Jubulit (2007, p. 44) coloca em sua obra:

Atualmente, após uma longa construção doutrinária, que culminou, na esfera internacional em seu âmbito universal, com a Convenção de 1951 e com o protocolo de 1967, o status de refugiado é reconhecido a qualquer pessoa que sofre perseguição em seu Estado de origem e/ou residência habitual, por força de sua raça, nacionalidade, religião, opinião política ou pertencimento a determinado grupo social, [...]

Então se esclarece que, para poder ser reconhecido o status de refugiado, o mesmo deve ter sofrido algum tipo destas perseguições acima mencionadas, que é a essência desta definição. Porém, por mais notório o fato de o status de refugiado ser caracterizado pela perseguição, não é claro nos estatutos internacionais quando ocorre esta perseguição, como nos demonstra Jubulit (2007, p.45) em sua obra:

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O ACNUR estabelece em seu „Manual de Procedimentos e Critérios a Aplicar para Determinar a Condição de Refugiado – de acordo com a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 relativos ao Estatuto dos Refugiados‟, de 1979, que perseguição é qualquer ameaça à vida ou a liberdade, devendo ser auferida tanto por critérios objetivos como por critérios subjetivos. Tal definição tem como ponto positivo o fato de ser decorrente do posicionamento do órgão da ONU especifico para o tema, mas é soberania ampla e difusa, além de não ser decorrente de um ato com força vinculante incontestável.

Neste sentido, para tentar direcionar, e estabelecer quando aconteceria perseguição, James Hathaway menciona que, de suma importância são os direitos que compõem os Direitos Humanos, pois os mesmos são inderrogáveis, e entre estes direitos, estariam, o direito a não ser submetido a tortura, o direito a não ser submetido à escravidão, a liberdade de pensamento, de consciência e de religião e a garantia de não sofrer prisão arbitraria (JUBILUT, 2007).

O que nos leva a entender, portanto que, quando alguns destes direitos inderrogáveis, presente na Declaração de Direitos Humanos forem violados, existe perseguição, podendo a pessoa com tais direitos suprimidos fugir deste local, e ser caracteriza então como refugiada.

Mas para uma melhor compreensão em relação aos movimentos migratórios que vem ocorrendo atualmente, devemos dividi-los em três grupos, que são eles, os migrantes por razões econômicas, os deslocados internos, que não ultrapassam fronteiras, e os refugiados. Porém, por mais que sejam divididos em grupos para um melhor entendimento, os mesmos fogem de seus territórios, lares, em busca de uma melhor condição de vida, seja por perseguição, por guerras, pela situação econômica, todos procuram o mesmo objetivo, uma condição mais digna para suas famílias.

Neste contexto, Julia de David Chelotti e Daniela Richter (2016, p. 4), esclarecem que:

Os deslocados internos, por sua vez, tratam-se de pessoas ou grupos de pessoas que, não tendo cruzado uma fronteira estatal internacionalmente reconhecida, viram-se forçados ou obrigados a deixar o seu lar habitual, para evitar os efeitos de um conflito armado, de situações de violência generalizada, de violações de direitos humanos ou de catástrofes naturais ou provocadas pelo ser humano. No que tange aos refugiados, estes se destacam no cenário

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internacional, necessitando de uma melhor análise e legislação protecionista própria para garantir direitos fundamentais, uma vez que, diferentemente dos migrantes econômicos, tratam-se de pessoas que deixaram seus países porque a vida, segurança ou liberdade foram ameaçadas em decorrência da violência generalizada, agressão estrangeira, conflitos internos, violação massiva dos direitos humanos ou outras circunstancias que perturbaram gravemente a ordem pública.

O que claramente pode ser verificado no gráfico abaixo, pois cada vez mais pessoas são forçadas a deixar seus lares.

FONTE: ACNUR (2016)

Verifica-se a cada ano que passa estes números só aumentam, tomando proporções cada vez maiores. Principalmente por guerras e conflitos armados, um dos motivos centrais das fugas. Já que os conflitos armados vêm tomando proporções gigantescas, com seu foco central na Síria, Iraque.

Como demonstra a reportagem do site G1 (2016):

Assim como a liderança da Síria entre os maiores países de origem de refugiados, a tendência de crescimento no índice total de deslocados é atribuído pelo Acnur ao início da guerra civil na Síria,

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onde o presidente Bashar al-Assad, da minoria étnico-religiosa alauíta, enfrenta há quase quatro anos uma rebelião armada que tenta derruba-lo do poder. Para piorar a situação no país, o grupo jihadista Estado Islâmico avança de forma violenta aumentando seu território controlado, que abriga importantes regiões tanto da Síria como do Iraque.

Com o passar dos anos as fugas foram tomando proporções maiores, pois como verificado em 2005 o número de pessoas forçadas a deixar suas casas eram 37,5 milhões, e em 2013 o número aumentou para 51,2 milhões, assim como consecutivamente, até a marca de 65,3 milhões registrados em 2015. (ACNUR, 2015)

FONTE: G1 (2016)

Essa migração foi causada pelo aumento dos conflitos na Síria, e também por outros diversos conflitos registrados na África, Oriente Médio, Europa e Ásia, conforme gráfico.

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FONTE: ACNUR (2016)

Estas fugas que ganharam proporções maiores a cada ano que se passou, como demonstrou o gráfico acima, foram espalhando pessoas por todos os territórios, como a Europa principalmente, porém o Brasil também tem sido alvo de buscas destas pessoas para obterem um novo lar, para que possam viver em paz.

O ACNUR, agência da ONU específica, que trata sobre os refugiados, realiza acompanhamentos constantes sobre estas questões, e mostra suas preocupações com estes números cada vez mais alarmante, como demostra a reportagem: Relatório do ACNUR revela 60 milhões de deslocados no mundo por causa das guerras e conflitos

„Estamos testemunhando uma mudança de paradigmas, entrando em uma nova era na qual a escala do deslocamento global e a resposta necessária a este fenômeno é claramente superior a tudo que já aconteceu até agora‟, disse o Alto Comissário da ONU para refugiados, Antonio Gueterres. “É aterrorizante verificar que, de um lado, há mais e mais impunidade para os conflitos que se iniciam, e, por outro, há uma absoluta inabilidade da comunidade internacional em trabalhar junto para encerrar as guerras e construir uma paz perseverante”, afirmou o Alto Comissário.

Em razão de todo este cenário atual, a UNICEF órgão que cuida as crianças e o ACNUR, em conjunto, tentam solucionar uma das questões mais preocupantes dos refugiados, o número cada vez maior de crianças. Estes órgãos têm a

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preocupação do estado em que se encontra e a situação atual das mesmas. Pois o número de crianças é expressivo, chegando a 48 milhões segundo dados do UNICEF.

Motivo pela qual será verificada como está sendo tratada esta questão, qual a situação das crianças solicitantes de refúgio, sejam elas com seus familiares, ou então desacompanhadas.

2.2 A situação da criança refugiada no Brasil

No decorrer de toda a história da humanidade viu-se lutas, conflitos, até que alcançarmos o início de uma almejada mudança, que foi a conquista dos Direitos Humanos, trazendo garantias e direitos inderrogáveis aos seres humanos. O que não foi diferente em relação às crianças, uma vez que foi gradativamente que se alcançaram direitos e garantias as mesmas, como a Convenção dos Direitos das Crianças. A crise humanitária, e a questões dos refugiados, está afetando sensivelmente o grupo mais vulnerável, o que menos tem capacidade de se proteger e garantir suas condições de sobrevivência em razão de sua imaturidade.

Ademais, mostra-se ímpar na introdução de uma consciência universal acerca da hipossuficiência em que se encontram os menores de idade, visto que lhes credita o imperativo de proteção social, a fim de promover o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e em condições de liberdade e dignidade, protegendo-lhes, também, contra atos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza.

Em qualquer lugar do mundo, o que os pais querem para os filhos é um futuro melhor que o deles. Observando em especial o caso dos refugiados, que nessa busca se arriscam em longas jornadas de migração entre um território a outro, ou ainda dentro do mesmo, buscando uma região que lhes ofereça melhores condições de vida, saúde e educação, e a certeza de um futuro digno.

Nessa busca arriscada por uma vida melhor, muitas pessoas, entre elas, crianças, ficam desassistidas, e chegam em um novo território sozinhas, ou melhor,

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sem a sua família, contando com a ajuda de outras famílias e pessoas desconhecidas.

Nessa etapa começa a maior dificuldade dos países ou regiões que as recebem, pois na maioria das vezes por se tratar de uma jornada árdua trazem consigo poucas bagagens, quando não as perdem no caminho. E ao adentrar em novo território, começa um novo desafio, que é a identificação, como idade, nome, região de origem.

Como todos os países estão com olhares voltados aos refugiados, o Brasil foi um dos primeiros países integrantes do Comitê Executivo do ACNUR, a criar o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), órgão interministerial presidido pelo Ministério da Justiça, na busca de criar melhores políticas para os refugiados no país, como garantir leis para documentos básicos e outros direitos civis.

Como fica claro na reportagem do site O ACNUR no Brasil (2016):

O trabalho do ACNUR no Brasil é pautado pelos mesmos princípios e funções que em qualquer outro país: proteger os refugiados e promover soluções duradouras para seus problemas.

O refugiado dispõe da proteção do governo brasileiro e pode, portanto, obter documentos, trabalhar, estudar e exercer os mesmos direitos que qualquer cidadão estrangeiro legalizado no Brasil que possui uma das legislações mais modernas sobre o tema (lei 9474/97).

No Brasil não é diferente de outros países, entre todos os desafios a serem enfrentados, como a língua, a adaptações à nova cultura e falta de acesso a uma política educacional, a direitos básicos, são as crianças que mais sofrem, em razão de todo o contexto.

Neste sentido o relatório da UNICEF crianças “desenraizadas” vem de encontro para demonstra algumas das situações precárias que as crianças enfrentam quando chegam em um novo território:

[...] uma questão fundamental é que as crianças e os adolescentes que foram forçados a deixar suas casas têm acesso limitado a serviços como educação – um importante fator para muitas crianças, adolescentes e famílias que optam por migrar. Uma criança refugiada

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tem cinco vezes mais probabilidade de não frequentar a escola que uma criança não refugiada. Quando podem ir à escola, crianças e adolescentes migrantes e refugiados são frequentemente vítimas de discriminação, incluindo tratamento injusto e bullying.

Fora da sala de aula, obstáculos legais impedem meninas e meninos refugiados e migrantes a receber serviços iguais aos das crianças e adolescentes nativos de um país. No pior dos casos, a xenofobia pode se transformar em ataques diretos [...]

Todas essas preocupações que o Brasil vem demonstrando, se justificam pelo número de registros do CONARE de solicitação de refúgio entre 2010 e 2015. No ano de 2010 houve 966 solicitações, e em 2015 esse número salta para 28.670, a maioria dos pedidos vem da África, Ásia (incluindo Oriente Médio) e Caribe, conforme gráfico do Departamento de Polícia Federal.

Fonte: Departamento de Polícia Federal (2016)

Atualmente o Brasil possui 8.863 refugiados reconhecidos, de várias nacionalidades (registra-se 79), o gráfico abaixo mostra as principais:

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Fonte: CONARE (2016)

São nessas condições, com números expressivos de refugiados, que o Brasil vem trabalhando para poder recebê-los de forma digna, de maneira a garantir a assistência necessária. Assim em Setembro de 2015 o CONARE prorrogou por mais dois anos a Resolução nº 17 que permite a emissão de vistos especiais para refugiados do conflito na Síria, pois somente após essa parte burocrática do pedido de refúgio é que se consegue atender as demais emissões de documento.

Considerando a excepcionalidade das circunstâncias presentes e a necessidade humanitária de facilitar o deslocamento desses indivíduos ao território brasileiro, de forma a lhes proporcionar o acesso ao refúgio, Resolve:

Art. 1º Poderá ser concedido, por razões humanitárias, o visto

apropriado, em conformidade com a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, e do Decreto 86.715, de 10 de dezembro de 1981, a indivíduos afetados pelo conflito armado na República Árabe Síria que manifestem vontade de buscar refúgio no Brasil.

Parágrafo único. Consideram-se razões humanitárias, para efeito desta Resolução Normativa, aquelas resultantes do agravamento das condições de vida da população em território sírio, ou nas regiões de fronteira com este, como decorrência do conflito armado na República Árabe Síria.

Art. 2º O visto disciplinado por esta Resolução Normativa tem caráter especial e será concedido pelo Ministério das Relações Exteriores. Art. 3º Esta Resolução Normativa vigorará pelo prazo de 2 (dois) anos, podendo ser prorrogada. (Prazo prorrogado por igual período pela Resolução Normativa CONARE Nº 20 DE 21/09/2015).

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Ao chegar aqui os refugiados vão se distribuindo conforme mapa abaixo, e o que podemos identificar ainda é que estão migrando a maioria para o norte, sudeste e sul, com 25%, 31% e 35%, respectivamente, os dados são até abril de 2016.

Fonte: ACNUR (2016)

Os números até então apresentados demonstram claramente as proporções da crise humanitária que o mundo vem enfrentando, e quanto difícil é conseguir uma forma para solucionar tal problemática. Em razão disto, e principalmente pela vulnerabilidade das crianças, que o ACNUR lançou as Diretrizes Sobre Proteção Internacional n.08, que traz pontos mais específicos sobre as crianças, modos de as mesmas serem tratadas, como demonstra o trecho a seguir:

Estas Diretrizes pretendem oferecer uma orientação legal de interpretação para os governos, profissionais de direito, tomadores de decisões e o judiciário, assim como para os funcionários do ACNUR que trabalham com a determinação da condição de refugiado.

As circunstâncias específicas que as crianças solicitantes de refúgio enfrentam, na qualidade de indivíduos que entram com solicitações independentes para a condição de refugiado, geralmente não são bem compreendidas. As crianças podem ser consideradas mais como parte de uma unidade familiar do que como indivíduos que têm seus próprios direitos e interesses. Este fato é parcialmente explicado pelos papéis, posições e condições de subordinação que as crianças ainda têm em muitas sociedades no mundo todo. É mais provável que os relatos das crianças sejam analisados individualmente quando as crianças estão desacompanhadas de sua família. Mesmo assim, suas experiências únicas de perseguição, devido a fatores como idade, nível de maturidade e desenvolvimento, assim como sua dependência dos adultos, nem sempre são consideradas. As crianças podem não conseguir articular suas solicitações de refúgio da mesma forma que os adultos e, assim, elas podem precisar de assistência especial.

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É nesta seara, com esta preocupação que passamos a analisar as perspectivas que as crianças refugiadas possuem segunda a legislação brasileira, uma vez como já apontado as mesmas precisam de uma assistência especial em razão de suas fragilidades.

2.3 Perspectiva para a proteção da criança refugiada segundo a legislação brasileira

Notório é o fato que a Convenção dos Direitos da Criança foi um dos tratados internacionais com o maior número de ratificações, por diversas razões, como a criança ser reconhecida como ser merecedor de direitos, por sua fragilidade, vulnerabilidade entre vários outros fatores. Porém, por diversas vezes somente está proteção se faz ínfima perto dos grandes traumas e dificuldades que as mesmas encontram, como exemplo mais específico, a situação das crianças refugiadas.

Em razão desta percepção, podemos afirmar que o fato de ser criança e refugiado aumenta a sua vulnerabilidade, já que estas duas condições somadas somente acentuam as dificuldades encontradas pelas mesmas, pois o fato de ser criança indica que a mesma está formando sua personalidade, e ela estando em situações precárias, que é o que as crianças refugiadas são impostas, pode causar grandes prejuízos as mesmas.

Por esta razão que a Convenção dos Direitos das Crianças e do Adolescente traz em seu artigo 22 as medidas a serem tomadas em relação aos mesmos:

1. Os Estados Partes tomam as medias necessárias para que a criança que requeira o estatuto de refugiado ou que seja considerado refugiado, de harmonia com as normas e processos de direitos internacional ou nacional aplicáveis, quer se encontre só, quer acompanhadas de seus pais ou de qualquer outra pessoa, beneficie de adequada proteção e assistência humanitária, de forma a permitir o gozo dos direitos reconhecidos pela presente Convenção e outros instrumentos internacionais relativos aos direitos dos homens ou de caráter humanitário, de que os referidos Estados sejam Partes. 2. Para esse efeito, os Estados Partes cooperam, nos termos considerados adequados, nos esforços desenvolvidos pela Organização das Nações Unidas e por outras organizações intergovernamentais ou não governamentais competentes que colaborem com a Organização das Nações Unidas na proteção e assistência das crianças que se encontrem em tal situação, e na procura dos pais ou de outros membros da família da criança

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refugiada, de forma a obter informações necessárias à reunificação familiar. No caso de não terem sido encontrados os pais ou outros membros da família, a criança deve beneficiar, à luz dos princípios enunciados na presente Convenção, da proteção assegurada a toda a criança que, por qualquer motivo, se encontre privada temporária ou definitivamente do seu ambiente familiar.

Neste viés, importante seria salientar que o Brasil é signatário da Convenção dos Direitos das Crianças e Adolescentes, bem como de outras convenções, como a que cuida dos refugiados, que é a Convenção de 1951 e o Protocolo das Nações Unidas de 1967, e para uma melhor regulamentação em 1997 o Brasil promulgou a lei 9.474, que trata especificamente do tema.

Assim sendo, para Alice Lopes Mattos (2016, p. 5):

[...] A lei brasileira não se limitou a reproduzir os artigos do Estatuto dos Refugiados (Convenção de 1951), tendo previsto a criação do Comitê Nacional para Refugiados, o CONARE, que é, conforme artigos 11 e 12 da Lei, órgão de deliberação coletiva do Ministério da Justiça, competente para, dentre outras coisas, analisar os pedidos de refúgio, tendo o arbítrio de reconhecê-los ou não. Além disso, a Lei 9.474 destaca-se pelo fato de, no seu artigo 1°, ter a previsão de que não é refugiado somente aquele que teme ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas ou que, estando fora de seu país, não pode ou, devido ao temor, não quer voltar, tal como previsto no artigo 2 da Convenção de 1951. Segundo a lei brasileira, pode também obter o status de refugiado aquele que, devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. A inserção dessa hipótese de concessão de refúgio ampliou a possibilidade de mais pessoas se enquadrarem nessa condição e, consequentemente, usufruírem dos direitos e proteção dispensados aos refugiados. Importante notar que essas previsões, mais do que limitarem quem pode ser considerado refugiado, expõem a situação de vulnerabilidade dessas pessoas. Devido a isso, a elas devem ser dispensadas normas protetivas específicas, motivo pelo qual se tem, tanto no âmbito nacional quanto internacional, diplomas aplicáveis exclusivamente a elas.

Evidenciado está que tais disposições têm como prioridade a proteção dos Direitos Humanos e proteção do indivíduo, contudo percebe-se uma lacuna em relação às crianças, pois tal lei demonstra um tratamento único em relação ao refugiado, desta forma não atende as peculiaridades de cada indivíduo, como deveria ser. Como demonstra Mattos (apud ACNUR, 2016, p. 6):

[...] deve ser interpretada de uma forma que considere a idade e o gênero, analisando os motivos, formas e manifestações particulares da perseguição vivenciada pelas crianças. Perseguição de parentes,

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recrutamento de menores, tráfico de crianças para prostituição, e exploração sexual ou sujeição à mutilação genital feminina, são algumas das formas e manifestações de perseguição específicas contra crianças que podem justificar o reconhecimento da condição de refugiados, se tais atos estiverem relacionados aos elementos da Convenção de Refugiados de 1951. Assim, os Estados devem dar atenção especial a essas formas e manifestações de perseguição específicas contra a criança, assim como à violência com base em gênero, nos procedimentos nacionais de determinação da condição de refugiado.

Neste sentido, importante é salientar que a criança deve ser tratada de forma diferente, deve haver a diferença entre a personalidade delas e dos adultos, visto que as crianças estão em fase de formação, amadurecimento, formação de caráter, de desenvolvimento. As crianças devem ter protegidos e garantidos todos os direitos inerentes a sua formação, motivo pelo qual deve-se ter normas especificas a este grupo.

A partir desse pensamento que o ACNUR em suas Diretrizes Sobre a Proteção Internacional n.08 menciona que as crianças podem enfrentar danos semelhantes aos adultos, mas vivenciam estas perseguições muitas vezes com mais intensidade. Por isso, norteiam alguns pontos em relação a solicitação de refúgio das crianças, principalmente em relação a solicitação das mesmas, apontando a importância de ser levado em conta os danos psicológicos que as mesmas sofrem, já que elas são afetadas consideravelmente com todo este processo.

Percebe-se assim que mesmo o Brasil sendo signatário de tratados que cuidam das questões dos refugiados e das crianças, através das Convenções já mencionadas, imperioso seria ter uma norma adequada e específica, caso este que não ocorre, pois, o Brasil possui uma norma que trata das crianças e dos adolescentes, que é a lei 8.069/90, que prevê proteção integral as crianças e adolescentes, porém com a mesma falha dos diplomas internacionais, já que nenhum faz menção a criança em situação de refúgio.

A omissão na legislação brasileira não pode causar prejuízo a estas crianças que estão em nosso território, desta forma mostra-se imprescindível encontrar outras formas para garantir proteção as mesmas, seja por dispositivos que não são

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específicos, garantindo assim todos os direitos para que possam ter seu desenvolvimento pleno.

Razão pela qual pode-se analisar melhor a Convenção dos direitos das crianças e não única e exclusivamente o seu artigo 22, que é o artigo que trata especificamente das crianças refugiadas, pois outros artigos têm também grande relevância. Como exemplo, o artigo 2º que traz em sua redação, que deverá ser assegurada a toda criança qualquer proteção, sem distinção alguma, seja de raça, religião ou qualquer outra que possa a existir, o que é essencial para as crianças em situação de refúgio.

Ademais, pode-se ainda mencionar o artigo 8º do mesmo diploma, onde menciona que os Estados partes se comprometem a respeitar o direito de preservar sua identidade, nacionalidade, nome e relações com a família, o que se mostra de grande valia, pois em muitas situações é somente isto que resta a essas crianças nestas situações. Neste mesmo sentido, vem de encontro o artigo 9 e 10 da Convenção, onde lecionam respectivamente que a criança não seja separa de seus pais, a menos que isso não seja compatível com seu interesse superior, e que a criança e seus pais tenham o direito de sair e entrar em um país a fim de promover a reunificação familiar a manutenção da relação entre pais e filhos.

Ainda em analise a Convenção sobre os direitos das crianças, cabe mencionar outros artigos, como a exemplo, o artigo 14 que traz em seu texto a importância dos Estados Partes respeitarem o direito da criança à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, o que se mostra de suma importância, pois desta maneira as crianças podem manter sua essência, preservando de certa forma um pouco de seu país, que teve que deixar as pressas. Ainda o mesmo artigo menciona que somente pode ser restringido este direito quando mostrar necessário a proteção a segurança, ordem pública, e direitos fundamentais de outrem.

Tratando de direitos inerentes, deve ser feito menção ao artigo 28 da Convenção sobre os direitos da Criança que trata sobre a educação, o que é imprescindível para a fase de formação das crianças, já que muitas estão em pleno desenvolvimento. Este artigo traz em seu texto:

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