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A Rádio Cordel: programação adaptada aos tempos de pandemia 2. Victória Maria Bezerra de Melo SANTOS 3

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020

A Rádio Cordel: programação adaptada aos tempos de pandemia1

Victória Maria Bezerra de Melo SANTOS 2

Daniel do Nascimento SANTOS 3

Ayrton Antonio Paulino da CRUZ4

Eduardo Severino da SILVA 5

Felipe Barros da Silva MENDES6

Laís Carolyne Tavares dos SANTOS7

Luis Enrique Lopes do NASCIMENTO 8

Maria Victória Gomes de CARVALHO 9

Nicoly Cristina da Rocha GREVETTI10

Nichole Emília de Andrade ALVES 11

Paula Beatriz da Silva LIMA 12

Vitória Regina Oliveira de LIMA 13

Sheila Borges de OLIVEIRA 14

Giovana Borges MESQUITA 15

Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, PE

RESUMO

Este artigo compartilha a experiência de adaptar a programação da Rádio Cordel ao trabalho remoto em tempos de pandemia. A Rádio Cordel é um projeto de extensão do Centro Acadêmico do Agreste, campus da Universidade Federal de Pernambuco em Caruaru. Com a suspensão das aulas presenciais, a equipe reconfigurou a programação de 2020, produzindo 55 programas para dar visibilidade às ações da UFPE no enfrentamento à Covid-19 e mostrar os efeitos do distanciamento social no dia a dia dos moradores do Agreste. As rotinas da equipe foram reinventadas para se planejar as temporadas, compartilhadas por serviços de streaming de música e ​podcast​, redes sociais, aplicativos e rádios comunitárias e públicas. Consideramos o conceito de rádio

1 Trabalho apresentado no IJ04 - Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação

Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

2 ​Estudante de Graduação 5°. semestre do Curso de Comunicação Social da UFPE, e-mail: ​victoria.melo@ufpe.br 3Estudante de Graduação 5°. semestre do Curso de Comunicação Social da UFPE, e-mail: daniel.nsantos@ufpe.br 4Estudante de Graduação 10º. semestre do Curso de Design da UFPE, e-mail: ayrton.cruz@ufpe.br

5​Estudante de Graduação 1°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: eduardo.severinos@ufpe.br

6 ​Estudante de Graduação 7°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail:

felipe.barrosmendes@ufpe.com.br

7Estudante de Graduação 3°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail:lais.carolyne@ufpe.br

8 ​Estudante de Graduação 7°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: luis.enrique@ufpe.br 9 ​Estudante de Graduação 5°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: victoria.carvalho@ufpe.br

10Estudante de Graduação 3°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: nicolycrg@hotmail.com

11 ​Estudante de Graduação 7°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: nichole.andrade@ufpe.br

12Estudante de Graduação 5°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: paula.bslima@ufpe.br

13Estudante de Graduação 5°. semestre do curso de Comunicação Social da UFPE, e mail: vitoria.regina@ufpe.br 14Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da UFPE, e-mail:

sheilaborges12@gmail.com

15Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da UFPE,

e-mail:giovanamesquita@yahoo.com.br

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expandido, de Kischinhevsky (2016), como central para a nossa produção.

PALAVRAS-CHAVE: Rádio; Mídias sonoras; Comunicação; Rádio comunitária;

Covid-19

Introdução

A Rádio Cordel é um projeto de extensão desenvolvido por alunos e professores que atuam no Núcleo de Design e Comunicação (NDC), do Centro Acadêmico do Agreste (CAA), campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em Caruaru, cidade pólo da Região Agreste pernambucana. Quando a instituição decidiu suspender as aulas presenciais, a partir do dia 16 de março por conta da pandemia da Covid-19, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), manteve as atividades que poderiam ser realizadas remotamente, como as ações de extensão e pesquisa.

Essa suspensão fez com que parte da equipe retornasse às casas dos pais, localizadas em municípios distantes de Caruaru. Para desenvolver o processo de produção, redação, gravação, edição e divulgação dos programas, a equipe contava com o apoio dos laboratórios da Agência Experimental de Comunicação (Aveloz) e do Observatório da Vida Agreste. Sem esse apoio no trabalho remoto, as coordenadoras do projeto mobilizaram os integrantes que poderiam atuar de suas casas por meio de computadores, ​tablets e celulares conectados às redes de internet, uma vez que nem todos os alunos dos cursos de Comunicação Social e de Design, que atuam no projeto, têm equipamentos adequados e acesso a internet em suas casas.

Encontrar meios de integrar a maioria do grupo ao trabalho remoto foi o primeiro desafio. Isso ocorreu a partir da elaboração de uma nova rotina, adaptada ao distanciamento físico. O objetivo era manter, mesmo virtualmente, todos juntos e unidos até em função do impacto da suspensão das ações presenciais na saúde física e mental. A reinvenção do fluxo de produção dos programas, neste momento de pandemia, mobilizou cerca de 20 estudantes, um número que variava ao longo das quatro temporadas (entre março e dezembro) dependendo da disponibilidade dos alunos.

Para ajustar a grade de programação, que havia sido planejada em fevereiro, a

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equipe passou a se reunir virtualmente por meio de ferramentas disponíveis na internet, que poderiam ser usadas nos computadores, tablets e celulares pessoais de cada membro do grupo. Formatamos os novos programas em temporadas para que pudéssemos ir reconfigurando a grade, dependendo da necessidade identificada pela equipe no diálogo com as comunidades do próprio CAA e da Região Agreste.

A Rádio Cordel foi criada para ser uma rádio comunitária que funcionasse como rádio-poste, dentro das dependências do CAA, e na web, por meio de podcasts em plataformas de streaming. A Cordel promove uma prestação de serviços à comunidade, apresentando as ações desenvolvidas por professores, estudantes e técnicos do CAA. O projeto pretende oferecer, também, cursos de capacitação de redação e produção radiofônica para alunos de outros cursos do CAA e cidadãos do Agreste. O primeiro foi realizado em agosto de 2020.

A construção de uma rádio comunitária web universitária no Agreste de Pernambuco representa um estreitamento dos laços entre a universidade e a sociedade. Ela é capaz de produzir um conteúdo inovador, democrático e distinto dos veículos tradicionais daquela região, que, em sua maioria, são comerciais. Ela ainda se mostra uma ferramenta de aproximação do meio acadêmico com a sociedade, contribuindo para a divulgação do conhecimento produzido no campus.

A Rádio Cordel não dispõe de uma estrutura adequada para a veiculação de um programa de rádio dentro do campus do CAA. Isso, no entanto, não prejudicava a realização da programação no período anterior à pandemia, compartilhada na ​web por meio de site, plataformas de áudio, redes sociais e aplicativos para celulares.

É importante ressaltar, também, que a Rádio Cordel está de acordo com os objetivos da Política Nacional de Extensão Universitárias. Dentro das diretrizes de um projeto de extensão, podemos listar as de 1) reafirmar a extensão universitária como processo delineado de acordo com as exigências da realidade, além de ser indispensável para a formação do estudante e a qualificação do professor em função do diálogo aberto com a sociedade; 2) contribuir para que a extensão faça parte da solução dos grandes problemas sociais do Brasil e 3) possibilitar novos meios e processos de produção, destacando a inovação e a disponibilização de conhecimento para ampliar o acesso ao

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saber científico (FÓRUM DE PRÓ-REITORES DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRAS, 2015).

Esse projeto de extensão está vinculado a ações de ensino e pesquisa do curso de Comunicação Social do CAA. Em ensino, às teorias e práticas dos alunos vinculados à Cordel são aprofundadas em atividades de disciplinas voltadas para as mídias sonoras. O nosso projeto se configura como interdisciplinar, pois conta com a colaboração de cursos do CAA, como o de Design. Em termos de ações de pesquisa, está interligado às investigações do Inventário do rádio em Pernambuco, executadas desde 2018.

De acordo com Figueiredo, Pereira, Gomes e Oliveira (2011), Pernambuco é considerado um local pioneiro para a criação e o desenvolvimento da radiodifusão no Brasil. Em 6 de abril de 1919, instala-se, no Estado, a Rádio Clube: a primeira rádio de toda a América Latina. Surgiu de forma experimental para o estudo das transmissões telegráficas e telefônicas sem fio. Essa coragem e ousadia foram colocadas no próprio

slogan ​da Clube, conhecida como “a pioneira”. Segundo Maranhão Filho (1991), em 1923, foi reorganizada, transformando-se em emissora.

Em Caruaru, a radiodifusão é bastante popular. De acordo com Santos, Silva e Oliveira (2019), as emissoras caruaruenses utilizam tanto os formatos tradicionais como as inovações tecnológicas nas suas narrativas discursivas. Em destaque, estão o aplicativo de mensagens ​WhatsApp​, uma ferramenta essencial de difusão, e o uso de

podcasts​, como meio de democratização dos programas, uma vez que podem ficar

armazenados na internet, em plataformas de streaming, e serem ouvidos no momento que o ouvinte preferir. Como veremos mais adiante, estes dois meios on-line também são utilizados na difusão dos programas da Rádio Cordel.

Cordel: rádio comunitária na internet

No atual contexto brasileiro, a comunicação comunitária é uma alternativa que vem alcançando diversas dimensões na busca pela democratização da comunicação, como identificou Peruzzo (2006). A rádio comunitária foi regulamentada pela Lei nº 9.612/98 e decretos subsequentes. Com base nessa legislação, ela não pode ter comerciais, mas ser utilizada como porta voz para as comunidades e grupos sociais 4

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organizados com o objetivo de promover o desenvolvimento social. Elas são divididas em rádios comunitárias legalmente constituídas, rádios livres comunitárias, de alto-falante ou de poste e virtuais comunitárias.

Segundo Neuberger (2006), a rádio-poste está vinculada à imagem de cidades pequenas, onde as caixas de som do sistema de alto-falantes ficam instaladas no centro ou em mercados públicos. A grade de programação é formada com base nas necessidades do público local. Peruzzo (2010) apresenta definição semelhante ao explicar que essas emissoras formam sistemas sonoros pequenos para transmitir mensagens por alto-falantes.

As rádios virtuais comunitárias, para a autora, divulgam o conteúdo exclusivamente pela internet. De caráter público, as comunitárias não têm fins lucrativos e desempenham importante papel no processo de conscientização e mobilização social. Elas transmitem uma programação de interesse social vinculada à realidade local. Em tempos de pandemia, a Cordel adaptou a programação para atender demandas do CAA e do Agreste.

A rádio comunitária é, portanto, uma ferramenta com a qual um bairro, uma comunidade ou uma região utiliza para transmitir informações e entretenimento que interessam a um determinado público. O perfil desse tipo de rádio é criado a partir do perfil da própria população para a qual ela se destina. Com isso, é preciso investir em uma programação multicultural, dando amplo espaço para várias vozes. Além de comunitária, a Cordel também é educativa até por estar vinculada à UFPE.

A Rádio Cordel funciona com as características das rádios comunitárias. Será uma rádio-poste, mas enquanto não tem os equipamentos para essa instalação física, opera apenas como uma rádio virtual. Ou seja, apostamos no que Kischinhevsky (2016) chama de rádio expandido, um conceito que está na centralidade da produção sonora, uma vez que há um transbordamento dos conteúdos da rádio para outras plataformas através da internet. Ao sair das ondas hertzianas do dial, o conteúdo chega às mídias sociais em função da própria capacidade de ubiquidade da internet.

Com a possibilidade de espalhamento pela grande rede, os formatos do rádio se tornam mais híbridos, passando a ser sintonizados pela audiência que está no celular, no 5

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computador, no ​tablet e nas redes sociais. Isso só é possível em função da convergência tecnológica. O rádio expandido está nos sites dos próprios veículos radiofônicos. Ele pode ser acessado por aplicativos de celulares. Com as tecnologias digitais, o rádio se fortalece. Isso porque, além de ampliar a abrangência dos programas, também aumenta a potencialidade da interatividade. Para Herschmann e K ​ischinhevsky (2008), essa potencialidade se configura com o transbordamento das produções para as redes sociais. Dessa forma, os receptores também passam a ser emissores. O surgimento do podcast colabora para a reinvenção das mídias sonoras.

De acordo com Vanassi (2007), o ​podcast é um conteúdo em áudio, disponibilizado por arquivo pela internet, para os ouvintes consumirem a qualquer momento. Os ​podcasts são, segundo Lucio Luiz, “programas de áudio ou vídeo, cuja principal característica é um formato de distribuição direto e atemporal chamado

podcasting​” (2014, p. 9). Herschmann e K​ischinhevsky (2008, p. 103) observam que, sobretudo, os jovens se sentem atraídos pelo podcast por causa “da ausência de regras rígidas. Não há padrões de locução ou restrições em termos de linguagem e temas abordados. A principal hierarquização se dá por meio dos diretórios (...)”.

É nesse cenário que o rádio é expandido, conceito de Kischinhevsky (2016), extrapolando o dial das ondas ​hertzianas e permitindo o consumo do conteúdo radiofônico por múltiplas plataformas sociais e digitais que reproduzem as mídias sonoras. O rádio expandido permite, para o autor, não só a ampliação da interação, mas a possibilidade de multimidialidade, com o uso da linguagem de múltiplas mídias; de hipertextualidade, com as informações que se reúnem por meio de ​links​, complementando-se e aprofundando-se através das plataformas; de personalização, com a narrativa multilinear quando o ouvinte pode escolher o que escutar; e de memória, com a formação de banco de dados para se guardar e acessar os conteúdos.

O processo de construção das temporadas especiais na pandemia

O Projeto Rádio Cordel Especial da Covid-19 nasceu da necessidade de se falar sobre as diversas realidades e perspectivas da Região Agreste diante da pandemia e do distanciamento físico. Com quatro temporadas distintas, mas focadas em temáticas que

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envolviam a Covid-19, o especial da Rádio Cordel aborda, na primeira temporada, entre abril e maio, os efeitos imediatos da quarentena, como o trabalho remoto e a produção de equipamentos de proteção para doação.

Na segunda temporada, em junho, foi trabalhada a repercussão da suspensão das festas juninas de Caruaru, que têm importância estratégica na cultura e na economia daquela região. Na terceira temporada, com o prolongamento da quarentena, o foco foi a saúde mental por meio da arte, com programas veiculados entre julho e setembro. Já na quarta temporada, veicula de outubro até dezembro, os episódios são sobre as memórias da quarentena com histórias de pessoas diversas e suas experiências.

Toda essa produção relatada foi realizada de casa por cada membro que compõe a equipe. Entrevistas, gravações, produções de script, edições, veiculações e divulgações foram realizadas com equipamentos próprios, sem estúdio de gravação ou ambientes adequados. A imagem abaixo mostra como os repórteres realizaram as entrevistas, utilizando os próprios telefones celulares.

Figura 1 - Realização das entrevistas em casa pelo​ WhatsApp Fonte: elaboração própria

Na segunda quinzena de março, quando as aulas presenciais foram suspensas por conta da Covid-19, o foco da produção foi o tema da pandemia. Assim, a grade programada para o ano de 2020 foi cancelada. Entre abril e maio, foram ao ar os 24 programas da primeira temporada com pequenas reportagens, entre cinco e dez minutos, 7

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veiculadas nas principais plataformas de ​streaming três vezes por semana. Naquele momento, as edições trataram das diferentes realidades impactadas pela pandemia.

No quarto episódio daquela primeira temporada, por exemplo, entrevistamos Tatiani Busulo, brasileira, que reside em Dublin, na Irlanda. Ela enfrentava a pandemia longe da família. Portadora de uma doença autoimune, sofreu os efeitos dos discursos pró-hidroxicloroquina, medicamento utilizado por ela para o tratamento da doença e indicado, sem comprovação científica, para pacientes com a Covid-19, o que levou muita gente a comprar e isso comprometeu o tratamento de muitos usuários. Já no quinto episódio, tratamos da experiência de ficar em isolamento com uma criança. Entrevistamos a estudante de Comunicação Social da UFPE Natália Ribeiro, mãe de Caetano, de três anos, que falou sobre as suas dificuldades.

Com o distanciamento físico, todas as etapas de produção tiveram que se adaptar ao momento, inclusive as entrevistas, realizadas remotamente pelo aplicativo de mensagens ​WhatsApp​. As decisões sobre as edições, trilhas e temas eram tomadas por reuniões feitas pela plataforma do ​Google​, o ​Google Meet​. As locuções foram gravadas de casa, sem a utilização de um estúdio ou de equipamentos mais adequados para uma captação sonora de qualidade. Tudo era realizado pelos aplicativos de gravação de celular e com materiais que cada um dispunha em casa.

Nesse sentido, utilizamos a criatividade, como a ideia de entrar dentro de guarda-roupas ou de gravar embaixo de cobertores para melhorar a qualidade sonora dos episódios. O que, por vezes, era feito de madrugada para evitar a gravação dos ruídos da casa ou externos, como mostra a imagem abaixo.

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Figura 2 - Guarda-roupa como espaço para gravação Fonte: elaboração própria

No andamento do trabalho, observamos que apenas uma temporada não era suficiente para tratar dos assuntos que envolvem um período tão difícil de nossa história, a pior crise sanitária desde o século passado. Diante disso, nasceu a segunda temporada, em junho, que retratou as festividades juninas em tempos de pandemia. Foram produzidos 11 programas. Sete deles foram formatados como crônicas, que retratavam a memória vivenciada no São João por pessoas de Caruaru, embaladas em tom de repente e poesia, com duração de até cinco minutos.

Os quatro programas restantes tiveram uma duração maior, de até 30 minutos. Os dois primeiros contavam a história da festa de São João em Caruaru. Os dois últimos traziam a repercussão da suspensão das festas de rua, tão tradicionais naquele município. Dessa vez, o especial ganha um tom narrativo diferente, que brinca com uma sonoplastia, nos remetendo aos sons típicos dessa fase do ano: fogueira, comida e forró, mexendo com as lembranças do mês mais festivo de todo o Nordeste.

O processo de produção desse especial foi construído através das memórias e lembranças de pessoas que esperam o ano inteiro pelas comemorações juninas com entrevistas que percorrem vários cenários dessa festividade tão tradicional na cidade, como economia, turismo e cultura. Foram cerca de 33 entrevistados entre músicos, artesãos, empreendedores, turistas e moradores da cidade, que relataram, com emoção e nostalgia, a importância dos festejos juninos nas suas vidas.

No primeiro episódio, o tema foi a economia e a sua relação com o São João. Nele, trouxemos pequenos empreendedores que tinham nas festividades uma oportunidade de conseguir uma renda extra durante os trinta dias dos festejos. Eles relataram a experiência de não viver as festas juninas deste ano e as dificuldades impostas pela pandemia. No segundo episódio, a cultura da cidade ganhou destaque. Foram entrevistados músicos da cena alternativa da cidade, criadores das tradicionais comidas gigantes, artesãos e artistas de renome nacional que se apresentam na cidade. A produção dele pode ser vista na imagem abaixo.

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Figura 3 - Umas das alunas produzindo em casa. Fonte: elaboração própria

Com a conclusão da temporada sobre as festas juninas, a terceira temporada foi iniciada com a produção de 11 programas entre julho e setembro, cada um deles com cerca de 25 minutos. Nela, a saúde mental foi abordada por um viés diferente, o da arte. Nas duas primeiras temporadas especiais sobre a Covid-19, ao entrar em contato com as rotinas e histórias de várias pessoas, percebemos que expressões artísticas, como dança, cinema e fotografia, faziam parte do dia a dia dos entrevistados como forma de enfrentar o isolamento físico.

Essa temporada, então, foi voltada para as artes, trabalhando como elas poderiam auxiliar a saúde mental neste período tão complicado. Foram produzidos episódios com os temas da saúde mental por meio da literatura, cinema, televisão, música, teatro, dança, artes plásticas, moda artesanal, games, fotografia e desenho. A seguir, uma aluna fazendo a edição de um dos programas.

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Figura 4 - Aluna editando episódio da terceira temporada Fonte: elaboração própria

Os ​scripts foram elaborados a partir de um padrão criado para a terceira temporada. Nela, cada episódio começava com trechos das entrevistas captadas pelos repórteres. Geralmente, eram selecionados de quatro a cinco entrevistados para aprofundar o tema. Entre eles, um psicólogo para fazer a conexão entre a expressão artística abordada e as possibilidades de se trabalhar, por meio delas, a saúde mental.

Durante a temporada, contribuíram com os episódios entrevistados de diversos estados do país, que compartilharam os seus projetos para a manutenção da saúde, realizando atividades, mesmo dentro de casa, para enfrentar, por exemplo, a ansiedade provocada pela quarentena prolongada. No programa que aprofundou a arte através da televisão, a atriz paranaense Dig Dutra falou sobre a experiência de trabalhar na pandemia e a superação dos traumas com a suspensão de projetos em curso.

Já no episódio sobre os games, contamos com a participação do psicólogo Marcelo Rigoli, do Rio Grande do Sul, que nos ajudou a construir a conexão entre os jogos eletrônicos e as formas de se trilhar um caminho para a saúde mental na superação do isolamento físico. Ele é integrante do Scicast, o maior podcast sobre ciência atualmente no Brasil, com 120 mil ​downloads​, segundo o Portal Deviante. Parcerias como essas geraram aumento na diversificação dos conteúdos oferecidos pela rádio.

A quarta temporada está em curso. Foi iniciada em outubro e prossegue até dezembro para finalizar a grade da Cordel este ano. Nessa fase, nove programas estão sendo elaborados, com a veiculação uma vez por semana, apresentando as memórias da quarentena a partir de histórias de pessoas comuns, que compartilham as experiências vividas durante a pandemia da Covid-19.

Conclusão

O projeto da Rádio Cordel contempla as diretrizes que devem orientar as formulações e implementações das ações de extensão, como a interação dialógica, que, segundo Santos (2004), surge como resposta às crises da universidade pública. “Não se

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trata mais de ‘estender à sociedade o conhecimento acumulado pela Universidade’, mas de produzir, em interação com a sociedade, um conhecimento novo (SANTOS, 2004, p. 47)”. Santos (2004) fala também de um conhecimento que possa contribuir para a superação da exclusão social.

A comunicação comunitária da Cordel está seguindo os princípios da comunicação libertadora que tem como norte a ampliação da cidadania. E isso começa no trabalho dos próprios estudantes envolvidos na ação de extensão, muitos deles são os primeiros membros de suas famílias a ingressarem em uma universidade pública e gratuita.

Com as aulas presenciais suspensas, cada estudante desenvolveu, de casa, o seu trabalho remoto, operando aparelhos que tinha à disposição e realizando um método novo para a produção do material sonoro, feito para a Cordel. Recursos de comunicação remota foram utilizados para as reuniões da equipe. Por meio delas, elaborou-se a pauta que subsidiava cada programa das temporadas produzidas remotamente. Isso ocorreu em todo o processo de elaboração: das entrevistas, passando pela edição e chegando à divulgação. O que possibilitou contatos com pessoas de vários lugares e vivências de novas experiências que não estavam previstas quando o planejamento da Cordel foi iniciado, em fevereiro deste ano, antes mesmo da pandemia.

A Rádio Cordel atuou, também, como rádio expandido quando compartilhou o

seu conteúdo na internet, abrindo o diálogo com a audiência potencializando a reverberação do seu conteúdo na web. Dentro da revolução tecnológica que a internet traz para o consumo da mídia sonora, podcasts foram produzidos, um formato que disponibiliza o conteúdo gravado a partir de plataformas de áudio no mundo digital e virtual. O que amplia a capacidade de mediação entre o produtor de conteúdo e a audiência, proporcionando novas possibilidades de interação e criação de conteúdo.

As temporadas da Rádio Cordel: na frequência do Agreste podem ser sintonizadas pelas plataformas de áudios: ​Spotify​, Radio ​Públic​, ​Pocket Casts​, ​Overcast​,

Google Podcasts​, ​Breaker e ​Anchor​. É possível, também, ter acesso ao conteúdo do projeto pelo ​Instagram @radiocordel, ​Facebook da Aveloz, agência experimental de comunicação, e site www.radiocordel.ml. A Cordel começou no ​Spotify e no ​Facebook​.

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Depois, na quarentena, foi para as demais plataformas de mídias sonoras e o ​Instagram​, assim como grupos de ​WhatsApp​ do CAA.

Os programas foram veiculados ainda pelas Rádio Universitária 99.9 FM e 820 AM e Frei Caneca 101.5 FM, ambas públicas e sediadas no Recife. Também foram feitas parcerias com a rádio comunitária de Toritama, a Líder FM; o laboratório Comunicast, da Universidade Federal de Mato Grosso, por meio do qual os programas da Cordel foram veiculados e um programa foi feito conjuntamente para um dos episódios do Vida em Quarentena, da UFMT; e a Rádio da Universidade Federal de Ouro Preto. Todos os programas da Cordel foram disponibilizados para a rede de rádios comunitárias do Brasil.

Em função da repercussão do conteúdo compartilhado pela Rádio Cordel, a rádio comunitária da UFPE de Caruaru desempenhou o seu papel, favorecendo a participação ativa das comunidades do CAA e das cidades do Agreste, região no qual o projeto está inserido, realizando, como defende Peruzzo (2006), um trabalho de informação, de educação não-formal, de desenvolvimento da cultura e de mobilização social, na direção da auto emancipação cidadã.

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Referências

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