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Sérgio Ribeiro dos Santos 1 DEMCA/CCS/UFPB. 1 Enfermeiro. Doutorando em Sociologia pela UFPB. Professor Associado do Departamento de Enfermagem-

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Academic year: 2021

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INTERACIONISMO SIMBÓLICO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA DE ANÁLISE NA SAÚDE

SYMBOLIC INTERACTIONISM: A THEORETICAL APPROACH OF ANALYSIS IN THE HEALTH

INTERACIONISMO SIMBÓLICO: UN ACERCAMIENTO TEÓRICO DE ANÁLISIS EN LA SALUD

Sérgio Ribeiro dos Santos1

1 Enfermeiro. Doutorando em Sociologia pela UFPB. Professor Associado do Departamento de

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INTERACIONISMO SIMBÓLICO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA DE ANÁLISE NA SAÚDE

Resumo

Este artigo constitui uma pesquisa bibliográfica que tem o objetivo de apresentar o interacionismo simbólico como uma abordagem analítica aplicável na área de saúde. Nessa perspectiva, o interacionismo enfatiza o significado das coisas, que não seria facilmente interpretável utilizando apenas a análise quantitativa dos dados da pesquisa. Para tanto, busca enfocar os seguintes assuntos: concepções teóricas, aspectos fundamentais e conceitos básicos.

Palavras-chave: interação, interacionismo simbólico, teoria, saúde.

SYMBOLIC INTERACTIONISM: A THEORETICAL APPROACH OF ANALYSIS IN THE HEALTH

Abstract

The aim of this article was to present the symbolic interactionism as an applicable analytical approach in the area of health. In that perspective, the interactionism emphasizes the meaning of the things, which would not be interpreted easily just using the quantitative analysis of the data of the research. For so much, search to focus the following subjects: theoretical conceptions, fundamental aspects and basic concepts.

Key-word: interaction, symbolic interactionism, theory, health.

INTERACIONISMO SIMBÓLICO: UN ACERCAMIENTO TEÓRICO DE ANÁLISIS EN LA SALUD

Resumen

Este artículo tiene como objetivo apresentar el interactionismo simbólico como un acercamiento analítico aplicable en el área de salud. En esa perspectiva, el interactionismo da énfasis al significado de las cosas que no se interpretarían simplemente usando el análisis cuantitativo de los datos de la investigación. Para tanto, investigue enfocar los asuntos siguientes: las concepciones teóricas, los aspectos fundamentales y los conceptos básicos. Palabras-clave: la interacción, el interactionismo simbólico, la teoría, la salud.

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1. Introdução

O interacionismo simbólico tem sido bastante utilizado nas ciências sociais e na saúde por se ancorar numa concepção teórica em que o significado é o conceito central e os objetos sociais são construídos e reconstruídos pelos atores envolvidos de forma interminável. Ou seja, o significado social dos objetos se deve ao fato de lhes dar sentido no decurso de nossas interações(1). Portanto, as ações individuais e coletivas são construídas a partir da interação entre as pessoas, que definindo situações agem no contexto social que pertencem(2).

A interação social é um processo que constantemente está sendo construído pelos atores, de modo que estes podem interpretar o mundo que o cerca e o qual interagem. Isso significa que as ações sociais não podem ser capturados no decurso de uma lógica pré-estabelecida, casualmente estabelecida a partir de uma ordem de fatos externos e fixos.

A ordem dos fatos sociais e o sentido das ações estão sujeitas às mudanças e cada ato pode ser considerado uma nova interação. Logo, a pesquisa de campo a luz do interacionismo simbólico é importantíssima para as ciências sociais e da saúde. Por essa razão, o pesquisador deve observar o cotidiano das relações estabelecidas pelos atores no cenário social e procurar interpretar o sentido que eles dão a cada ato, no contexto em que se inserem, seja no tempo ou no espaço. Isso é intersubjetivo e potencialmente acessível a cada um de nós.

Assim, o interacionismo simbólico, dentro do paradigma interpretativo, se preocupa em compreender os aspectos internos experimentais da conduta humana, ou seja, a maneira como as pessoas percebem os fatos ou a realidade a sua volta e como elas agem em relação às suas convicções. Esse método permite aos pesquisadores e profissionais da saúde estabelecer juízo de valor do fenômeno investigado.

Portanto, o objetivo desse estudo consiste em discorrer sobre o interacionismo simbólico, vendo-o como um referencial teórico que trata da interação social das pessoas, seus sentimentos e atitudes, a partir dos significados interpretados.

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2. Concepções teóricas

A utilização do interacionismo simbólico permite que a pesquisa qualitativa cumpra o objetivo de investigar o sentido que os atores sociais dão aos objetos, pessoas e símbolos com os quais constroem o seu mundo social (1,3).

Nesse sentido, a capacidade do ser humano para fazer indicações para si mesmo dá um caráter distintivo para a ação humana. Isto significa que, ao confrontar o mundo de objetos que o rodeia, ele deve interpretá-lo a fim de agir. A ação do ser humano consiste em levar em consideração as várias coisas que ele observa, relacionando o significado das ações de outros e mapeando sua própria linha de conduta, à luz desta interpretação. Ele constrói um guia de ação, na base de como ele a interpreta, em vez de meramente responder aos fatores ambientais que sobre ele atuam(3).

Assim, o interacionismo simbólico é uma das formas de se interpretar as percepções das pessoas, o significado e o sentido que eles dão às coisas e como estes relatos se relacionam com as experiências vivenciadas. O interacionismo simbólico é uma metodologia empírica que usa procedimentos tais como: estudos de caso, entrevistas, observação participante, história de vida, conversações, análise de documentos, cartas, diários entre outros.

O termo interacionismo vem da palavra interagir, que significa “agir mutuamente”. O termo simbólico vem do grego symbolikós, e do latim symbolicu, significando “aquilo que tem caráter de símbolo”(4). A expressão interacionismo simbólico teve sua origem na psicologia social, através dos trabalhos de renomados acadêmicos norte-americanos como Charles Horton Cooley (1864 – 1929), W. I. Thomas (1863 – 1947), George Herbert Mead (1863 – 1931), além de nomes como: Herbert Blumer, John Dewey, Robert Park, Willian James, Florian Znaniechi, J. M. Baldwen, R. Redfield e L. Wirth(5).

O interacionismo simbólico está centrado na natureza social. Significa dizer que as atividades das pessoas são dinâmicas e sociais, e acontecem entre e dentro delas. Essa

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abordagem teve como expoente George Herbert Mead, psicólogo social e professor de filosofia da Universidade de Chicago. Após a sua morte, seus escritos foram catalogados e agrupados em livros. Sua principal obra é um conjunto de lições sobre filosofia, mind, self and society, considerada a “bíblia” do interacionismo simbólico, editada em 1934. O principal discípulo de Mead foi Herbert Blumer, responsável por reunir os escritos e pensamentos de seu mestre. Talvez tenha sido o mais importante intérprete das proposições filosóficas de Mead(6).

O interacionismo simbólico, como uma abordagem de análise interpretativa, passou a representar uma nova possibilidade de análise nas ciências sociais e na saúde. A sua influência como método qualitativo na pesquisa de campo contrariou os adeptos da concepção durkheimiana (ou positivista) do ator.

Embora Durkheim reconhecesse a capacidade do ator para descrever os fatos sociais que o cercam, ele acha que essas descrições são por demais vagas, muito ambíguas, para que o pesquisador possa usá-las de modo científico, sendo que tais manifestações subjetivas não estão subordinadas ao domínio da sociologia. Por outro lado, para os interacionistas a concepção que os atores sociais fazem para si do mundo, em última análise, representa o objeto essencial da investigação(1).

Nessa perspectiva, tanto o conhecimento das ciências sociais quanto da saúde, só pode ser percebido pelo pesquisador, através da observação direta e da interação entre os atores envolvidos, das ações práticas e o significado que eles interpretam dos objetos, às situações, aos símbolos que os cercam, porque é através desses elementos que os atores constroem seu mundo social. Portanto, se os pesquisadores da sociologia pretendem resgatar a realidade, deve levar em consideração os inúmeros contatos interacionais que se estabelecem entre as pessoas envolvidas (atores) nas ações do dia-a-dia. É importante salientar que os interacionistas não aprovam o modelo positivista da pesquisa quantitativa por causa das suas

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conseqüências sobre a concepção do rigor e da causalidade nas ciências sociais(1). De forma que, é impossível apreender o social apenas por princípios objetivos, uma vez que a subjetividade ou a intersubjetividade dos atores, é fundamental e determina as ações sociais. Desconsiderar esses aspectos é estabelecer um mundo virtual que não corresponde com o mundo real.

3. Aspectos fundamentais do interacionismo simbólico

A análise meadiana foi a que mais contribuiu para a conceituação da perspectiva interacionista(7). Essa teoria se caracteriza por apresentar ligações com a fenomenologia no que diz respeito ao estudo dos aspectos das experiências do comportamento humano. Em outras palavras, ela tenta compreender como as pessoas definem os eventos ou a realidade e como agem em relação às suas crenças(8).

Para compreendermos o interacionismo simbólico, quatro aspectos de fundamental importância que o distinguem da psicologia são descritos a seguir:

1. O interacionismo simbólico cria uma imagem mais ativa do ser humano e rejeita a imagem deste como um organismo passivo e determinado. Os indivíduos interagem e a sociedade é constituída de indivíduos interagindo.

2. O ser humano é compreendido como um ser agindo no presente, influenciado não somente pelo que aconteceu no passado, mas pelo que está acontecendo agora. A interação acontece neste momento: o que fazemos agora está ligado a essa interação.

3. Interação não é somente o que está acontecendo entre pessoas, mas também o que acontece dentro dos indivíduos. Os seres humanos atuam em um mundo que eles definem. Agimos de acordo com o modo como definimos a situação que estamos vivenciando. Embora essa definição possa ser influenciada por aqueles com quem interagimos, ela é também resultado de nossa própria definição, nossa interpretação da situação.

4. O interacionismo simbólico descreve o ser humano mais ativo no seu mundo do que outras perspectivas. O ser humano é livre naquilo que ele faz. Todos definimos o mundo em que agimos e parte dessa definição é nossa, envolve a escolha consciente, a direção de nossas ações em face dessa definição, a identificação dessas ações e a de outras e a nossa própria redireção(6).

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Ainda nessa abordagem, a natureza do interacionismo simbólico, apresenta três aspectos básicos(3):



Os seres humanos procuram agir, em relação às coisas, com base nos significados que elas têm para eles. Entende-se por “coisas” tudo o que o indivíduo pode notar em seu mundo – objetos físicos, outros seres humanos, individualmente ou em grupos, instituições, princípios orientadores, atividades dos outros, bem como as situações da vida cotidiana. O significado que tudo isso tem para o indivíduo influencia a formação do comportamento, e conhecê-lo é o que pode nos levar a compreender a ação humana.



O significado das coisas é derivado ou surge da interação social que os homens estabelecem uns com os outros. Em outras palavras, os significados são produtos sociais que surgem da interação.



Os significados podem ser manipulados e modificados através de um processo interpretativo usado pelo indivíduo quando lida com as coisas que ele encontra.

Na abordagem interacionista, o comportamento humano não é uma questão de respostas diretas às atividades dos outros, mas envolve uma resposta às intenções dos outros. Estas intenções são transmitidas através de gestos que se tornam simbólicos, ou seja, passíveis de serem interpretados. A sociedade humana está constituída na base do consenso, de sentidos compartilhados sob a forma de compreensões e expectativas comuns. Assim, quando os gestos assumem um sentido comum, isso é, quando eles adquirem um elemento lingüístico, podem ser designados de “símbolos significantes”. O componente significativo de um ato, que representa uma atividade mental, acontece através do role-taking .

Na análise realizada por Blumer, as pessoas levam em consideração as ações dos outros à medida que formam suas próprias ações, através do processo de indicar aos outros como agir e de interpretar as indicações feitas pelos outros. É através deste processo de

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interpretação e definição que se forma a conduta humana. A sociedade existe em ação e a vida do grupo pressupõe a interação entre os membros do grupo. Esta interação ocorre entre atores e não entre fatores que fazem aparecer o comportamento.

Com base nessas reflexões, percebemos que os estudos orientados pelo interacionismo mostram que não existe uma visão que seja exclusiva dessa abordagem, em virtude da multiplicidade das coisas originadas nos seus conceitos ou conjeturas. Embora a teoria tenha ampla aplicação, falta unificação nos métodos e nos achados. Inegavelmente, o interacionismo simbólico tem sua utilidade, que é originar novas teorias, cuja exigência é a manutenção das conjeturas abordadas, proporcionando uma visão do homem com sua interação no processo de definir, responder, interagir e raciocinar(9).

A identificação dos limites do interacionismo simbólico é uma questão relevante que merece destaque, uma vez que existem ênfases e enfoques diversificados dentro dessa abordagem teórica. A fenomenologia e a teoria de papéis são duas orientações as quais o interacionismo simbólico pode sobrepor. Assim, a melhor maneira de entender as semelhanças e diferenças entre elas é apoiar-se em dois contínuos para descrevê-las: o primeiro é a ênfase no subjetivo versus objetivo; a segunda diz respeito à microorientação versus macroorientação(10).

É importante destacar que o contínuo subjetivo-objetivo, em geral, relaciona-se à quantidade de atenção que os teóricos dão ao que acontece na mente humana. Noutro extremo, os estudiosos enfatizam as experiências, os aspectos subjetivos, não deterministas da mente e tendem a uma pesquisa metodológica completamente qualitativa. Por outro lado, segundo a referida autora, aqueles que se concentram nos aspectos mais objetivos de conceitos fundamentais tendem a dar maior ênfase à previsibilidade, repetitividade, mensuração e objetivo da conduta humana e a se encaminhar para um método mais quantitativo(10).

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4. Conceitos básicos sobre o interacionismo simbólico

Os estudos sobre o interacionismo simbólico fazem-nos perceber que ele pode estar situado numa posição intermediária entre a fenomenologia e a teoria de papéis, conforme se tem revelado nas pesquisas e na literatura que aborda a temática(9-10). Para esclarecer as características norteadoras do método descreveremos a seguir os conceitos centrais que servem de base à compreensão das idéias meadianas a respeito do interacionismo simbólico(3,6):

a) Símbolo: é o ponto central do interacionismo simbólico, pois sem ele os seres humanos não podem interagir uns com os outros. Símbolos são objetos sociais usados pelo ator para representação e comunicação(11). Na realidade, a comunicação se faz através de símbolos que têm seu significado entre as pessoas e, através da interpretação desses símbolos, ocorre à interação social. Em outras palavras, é por intermédio dos símbolos que as pessoas são socializadas, compartilham da cultura e entendem qual é o seu papel social. O símbolo é usado para pensar, comunicar, representar. Ele só é simbólico quando expressa um significado (uma representação), uma intencionalidade(3).

Nessa mesma linha de pensamento, os símbolos, enquanto objetos sociais são definidos na interação social caracterizando-se como significativos e significantes, isto é, têm um significado, envolvem um entendimento, tanto para os atores quanto para os indivíduos a quem se dirigem às ações(6). Essa abordagem é baseada na realidade social que se desenvolve a partir da interação de uns com os outros.

Assim, à medida que os indivíduos interagem, eles estão interpretando ou definindo as ações uns dos outros, ao invés de meramente reagindo às ações uns dos outros. Suas respostas não são dadas diretamente às ações do outro, mas baseadas nos significados que eles atribuem a tais ações. Então, a interação humana é mediada pelo uso de símbolos, por interpretação ou pela determinação de significados às ações dos outros(3). O mundo das pessoas consiste em

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objetos que podem ser de três tipos: físicos (coisas), sociais (pessoas) e abstratos (idéias). Os objetos adquirem significado somente através da interação simbólica.

b) Self (o ego/a própria pessoa): na interpretação que Blumer faz do pensamento de Mead, self significa que a pessoa pode ser objeto de sua própria ação, ou seja, objeto de si própria(3). Ao afirmar que o indivíduo possui um self, Mead enfatiza que, da mesma forma que o indivíduo age socialmente com relação a outras pessoas, ele interage socialmente consigo mesmo e age em relação a si próprio. Assim sendo, a pessoa pode tornar-se objeto de suas próprias ações dentro da sociedade que, de acordo com Mead, precede a existência do self(7).

Para os interacionistas, o self é um objeto social através do qual o indivíduo age. O fato de possuí-lo converte o ser humano em um tipo especial de ator, transforma sua relação no mundo, e dá à sua ação um caráter único(3). Assim, o self representa um processo social no interior do indivíduo que envolve duas fases analíticas distintas:

1. O Eu é a tendência impulsiva do indivíduo. É o aspecto inicial, espontâneo e desorganizado da experiência humana. Logo, representa as tendências não direcionadas do indivíduo.

2. Mim representa o ‘outro’ incorporado ao indivíduo. Logo, ele compreende o

conjunto organizado de atitudes e definições, compreensões e expectativas – ou simplesmente sentidos – comuns ao grupo. Em qualquer situação, ‘Mim’ compreende o outro generalizado e, raramente, um outro particular(7).

Para os interacionistas, self é um objeto e interage com os outros, por isso é definido, redefinido e muda constantemente. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que: “Como eu me vejo, como eu me defino, o julgamento que tenho de mim mesmo são todos altamente dependentes das definições sociais que encontro na vida”(6).

c) Mente: é um processo que se manifesta sempre que o indivíduo interage consigo próprio usando símbolos significantes. Esta significância ou sentido é também social em sua origem. Da mesma forma, a mente também é social, tanto em sua origem como em sua função, porque ela surge do processo social de comunicação(7).

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A mente é ação que usa símbolos e dirige esses símbolos em relação ao self(6). Seguindo esse raciocínio, podemos inferir que a pessoa, ao tentar fazer algo, age em seu mundo e se comunica com o self através da manipulação de símbolos. O seu mundo se transforma por causa das definições de mundo interpretado pela mente, de modo que a ação resulta da interpretação ativa da pessoa aos objetos.

d) Interação social: todos os conceitos anteriormente descritos levam ao entendimento do que seja interação social. Podemos resumir tudo isto afirmando que, na interação social, as pessoas são vistas como atores que se relacionam, comunicam-se e interpretam um ao outro. Assim sendo, quando interagimos, nós nos tornamos objetos sociais uns para os outros, usamos símbolos, direcionamos o self, nos engajamos em ação mental, tomamos decisões, mudamos direções, compartilhamos perspectivas, definimos a realidade, definimos a situação e assumimos o papel do outro. O entendimento da natureza da interação deve reconhecer a existência de todas essas atividades(6).

A interação social é construída a partir da ação social. A ação é formada à luz da situação na qual ela acontece. As pessoas agem de acordo com a forma de sua interpretação da situação. Assim, a interação simbólica envolve interpretação e definição, e ocorre entre as pessoas envolvidas.

O modelo característico da interação se dá em nível simbólico, quando se procura entender e interpretar o significado da ação do outro(11). A interação é simbólica quando os atos de cada indivíduo têm significado para o criador e o recebedor da ação(3). Assim, os seres humanos são atores sociais: eles levam outros em conta quando agem e os outros fazem diferença nas suas ações. Quando a ação social se torna mútua, quando atores se levam em conta e ajustam seus atos, eles estão engajados numa interação social. A interação social é simbólica: intencionalmente comunicamos quando agimos e outros interpretam o que fazemos(6).

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e) Sociedade: é toda atividade grupal que se baseia no comportamento cooperativo. O comportamento humano envolve uma resposta às intenções dos outros. Essas intenções são transmitidas através de gestos que se tornam simbólicos, isto é, passíveis de serem interpretados(7).

Naturalmente, observamos que as noções de interação social e sociedade estão intimamente relacionadas, consistindo a sociedade de indivíduos engajados num processo de interação social. No entanto, dois conceitos são dominantes no seio da sociedade: o de cultura e de estrutura social. Cultura é entendida como costume, tradição, norma, valor, regra, claramente derivada da ação das pessoas. Portanto, a sociedade é uma interação cooperativa, que desenvolve cultura. Esta tem o mesmo sentido de “consenso do grupo”, ou seja, as concordâncias, as divergências, a linguagem, o conhecimento diverso e as regras que se supõe governarem a ação(6). Os interacionistas caracterizam a sociedade como dinâmica, ou seja, os indivíduos interagem uns com os outros, definindo e alterando a direção dos atos uns dos outros.

5. Considerações finais

A conexão entre os conceitos do interacionismo simbólico e a visão de mundo dos atores sociais, vivenciado pela suas experiências, mapeia uma linha de ação à luz de uma interpretação em que os atores procuram dar significados aos fatos constatados em sua realidade. Essa linha de ação, consiste em considerar as várias coisas que as pessoas observam e forma uma regra de conduta, baseada na sua interpretação(3).

A interação simbólica focaliza o significado dos eventos para as pessoas no ambiente natural ou numa situação diária e está ligada ao conhecimento da filosofia fenomenológica. Tanto a fenomenologia como o interacionismo simbólico estão relacionados com o estudo dos aspectos internos ou experimentais do comportamento humano, ou seja, como as pessoas definem os eventos ou a realidade e como elas agem em relação às suas crenças.

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O interacionismo vê o comportamento humano como o resultado de vasto processo interpretativo em que as pessoas, de forma isolada ou coletiva, conduzem a si mesmas pela definição de um objeto, evento ou situações por elas encontradas(3). Dessa forma, o interacionismo é uma ferramenta teórica que possibilita a compreensão do fenômeno de uma maneira mais ampla, além de revelar e apontar o significado que as coisas têm para os atores sociais. Possibilita, ainda, compreender se esse significado é decorrente ou resultante da interação dos elementos envolvidos no processo social. Procura saber se esses elementos são significativos, toda vez que interagem e como utiliza o processo interpretativo ao agir mutuamente com os objetos mais significativos da sua realidade.

Referências

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10. Jorge MSB. Indo em busca de seu plano de vida: a trajetória do estudante universitário. Florianópolis(RJ): Papa-Livro; 1997.

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