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VIDA AOS MORTOS: INVENTÁRIO DOS CEMITÉRIOS VIDA NOVA, SÃO JORGE DO ANZOL, ALVORADA, NOVA ESPERANÇA E MURATÚ ARUÁ EM RORAIMA.

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VIDA AOS MORTOS: INVENTÁRIO DOS CEMITÉRIOS VIDA NOVA, SÃO JORGE DO

ANZOL, ALVORADA, NOVA ESPERANÇA E MURATÚ ARUÁ EM RORAIMA.

Jimmy Iran dos Santos Melo1

Resumo: O presente artigo teve como objetivo elaborar um inventário dos cemitérios nas áreas rurais de uma empresa em Roraima, por meio de fontes orais, documentais e iconográficas de todos os sepultamentos identificados nos cinco cemitérios localizados nas regiões de Vida Nova, São Jorge do Anzol, Alvorada, Nova Esperança e Muratú Aruá no estado de Roraima, bem como, reconhecer e descobrir os motivos que levaram os antigos moradores daquelas regiões a enterrarem seus familiares nos referidos locais, reconstruindo uma memória de valorização do local onde se encontram os cemitérios na região, buscando mostrar neles parte de sua própria história familiar, sobre os quais nunca havíamos visto o semblante antes da emblemática fotografia tumular.

Palavras-Chave: Cemitério; Fazendas; Família.

1Graduado em História pela Universidade Federal de Roraima – UFRR; Mestre em Sociedade e Fronteiras pela Universidade Federal de Roraima – UFRR. É professor de História no Colégio de Aplicação – CAp/UFRR.

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Introdução

A pesquisa analisou os cemitérios em áreas rurais conhecidos como: Vida Nova, São Jorge do Anzol, Alvorada, Nova Esperança e Muratú Aruá no atual estado de Roraima, discutindo suas localizações em zonas rurais. Partimos de questionamentos tais como: formas de organização familiar no antigo território do Rio Branco, a partir da observação dos aspectos históricos e migratórios das várias levas de brasileiros que contribuíram para formação do atual estado de Roraima.

O artigo tem a finalidade reconhecer alguns dos motivos que levaram os antigos moradores daquelas regiões a enterrarem seus familiares nos locais, bem como mostrar uma memória de valorização dos espaços de sepultamento nos cemitérios.

Assim, buscamos inventariar os cemitérios atualmente encontrados nas áreas rurais de uma empresa em Roraima, por meio de fontes orais, documentais e iconográficas, sobre todos os sepultamentos identificados nas áreas conhecidas por Vida Nova, São Jorge do Anzol, Alvorada, Nova Esperança e Muratú Aruá, através dos aspectos sociais, culturais e econômicos das pessoas identificadas e enterradas nesses locais.

Estabelecemos os pressupostos para analisar as histórias das antigas famílias que viviam na região, utilizando da metodologia da História Oral em entrevistas aplicadas aos familiares dos mortos; pesquisa documental nos órgãos públicos e privados, como: documentos das terras em posse da empresa em Roraima; levantamento do acervo iconográfico dos familiares dos mortos2; técnica de elaboração de croquis para localizar os túmulos dentro dos cemitérios e o levantamento fotográfico dos cemitérios e sepulturas no sistema digital.

Inicialmente utilizou-se de fichas e formulários específicos, com o objetivo de realizarmos coletas de dados referentes à estrutura dos cemitérios, como por exemplo: data de fundação dos cemitérios, a quantidade de túmulos, período cronológico, ornamentação funerária, estado de conservação, entre outras informações.

Realizou-se posteriormente um levantamento de informações quanto à documentação das terras dos antigos proprietários e as entrevistas com os familiares. Assim, a pesquisa foi acompanhada por um cronograma, onde depois de realizados as coletas dos dados dos cemitérios, eram elaboradas pequenos relatórios e junto anexávamos as fotografias dos túmulos e cemitérios.

Discutimos sobre a extensão da estrutura fundiária das antigas fazendas, a partir de relatos orais e os documentos antigos para entendermos as formas de utilização dos recursos naturais para se fixarem por longos períodos nas regiões pela criação dos vínculos e laços tão fortes com a terra, levando seus parentes a enterrarem os mortos nas fazendas como forma de espaços de lembranças. Todo esse material atualmente encontra-se em pose da empresa em forma de inventário.

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1. Breve Contexto Histórico de Roraima

A região atualmente conhecido como Estado de Roraima, tendo hoje suas fronteiras bem definidas, reservas indígenas homologadas, municípios organizados dentro da Federação Brasileira, foi e ainda é ao longo dos séculos palcos de disputas e conflitos pela posse da terra.

No período colonial, nações como Portugal, Espanha e Holanda disputaram a posse do Vale do Rio Branco. A construção do Forte São Joaquim no século XVIII, marca a presença dos portugueses na região, iniciando-se assim o processo de ocupação colonial da área com diversos interesses, sejam de ordem religiosa, econômica com a captura de indígenas na utilização da mão de obra escrava e catequização como estratégia religiosa-militar, como bem expõe FARAGE (1991) ao afirmar:

O discurso colonizador português para o Branco montar-se-ia sobre o tema da necessidade de sua ocupação para estancar a invasão insidiosa dos manufaturados holandeses, flanco aberto na segurança dos domínios portugueses na Amazônia. Nesse sentido, a ocupação do Branco seria vital não tanto pela preservação desse território em particular, mas por sua condição de entrada para o vale amazônico. (FARAGE, 1991, p.79).

No decorrer dos séculos, o panorama político do Rio Branco, vai denotar uma condição de isolamento tanto geográfico quanto político perante as forças do poder federal. É nesse contexto que, o trabalho tem a função de tentar analisar as condições históricas e sociais que levaram as migrações para a região, onde existem os cemitérios nas fazendas, buscando discutir o que motivou os familiares a realizarem os rituais de sepultamento nas regiões por eles estabelecidos.

Partindo do conhecimento macro histórico de Roraima, podemos fazer uma ligação com o contexto histórico geopolítico nacional da primeira metade do século XX, mostrando o descaso de projetos políticos por governos para a região da Amazônia, evidenciando os motivos do isolamento da região do Rio Branco até o surgimento das propostas de ocupação por novos migrantes.

No período do Estado Novo, por exemplo, a intenção de Getúlio Vargas para a política nacional relativa às regiões da Amazônia era criar mecanismo de ocupações. De acordo com Magalhães (2008) essa aponta os seguintes mecanismos dessa estratégica política:

O presidente Getúlio Vargas nos dois períodos em que governou o país (1930 – 1945 e 1951 – 1954) procurou fortalecer as funções do governo central. Elaborou e executou diversos programas de desenvolvimento nacional. Entre as regiões alvo estava a Amazônia, concebida como um problema para sua administração. Ao visitar o norte do país, examinou os problemas in loco da região. Na sua visão, a solução dos problemas dependia da exploração das riquezas regionais. Os problemas levantados foram à falta de colonização, saneamento, crédito, transporte e organização do trabalho. (MAGALHÃES, 2008, p.56, grifo nosso). Portanto, por meio deste relato conseguimos perceber historicamente a situação que se encontrava a região, principalmente no sentido de que não havia políticas públicas de apoio aos projetos de fixação das famílias que ocupavam a área, sendo assim, podemos inferir que a não utilização dos cemitérios em zonas urbanas estariam condicionadas ao isolamento físico que essas famílias eram submetidas, conforme observou Magalhães (2008):

Em 1943, Lukmann (1989) afirma que no ano em que foi criado o Território Federal do Rio Branco, sua população estava assim distribuída: Boa Vista 2.000 habitantes;

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Campos Gerais (pecuária) 10.400 habitantes; região Montanhosa (Garimpo) 1.500 habitantes e Caracaraí e outras Vilas (extrativismo) 1.090. Nesse contexto Cavalcanti (1945) informa o contingente populacional, observa-se que a área de pecuária no alto rio Branco concentrava cerca de 80% da população do Território, dentre os quais estavam incluídos os habitantes de Boa Vista. A área coletora, do Baixo Rio Branco, correspondia a outros 10% e, a montanhosa/mineira, os restantes 10% do total da população (MAGALHÃES, 2008, p.89).

Diante do censo demográfico apontado por Luckmann (1989) na obra de Magalhães (2008), percebemos o quão pequeno era a população do estado de Roraima e que as atividades econômicas em sua grande maioria eram voltadas para questões rurais, justificando a presença das famílias no campo e a consequente criação de alguns cemitérios em áreas rurais.

Ao analisarmos o antigo Território Federal do Rio Branco é frequente encontrarmos denúncias por parte dos governantes locais em relação ao isolamento local, reafirmando a grita que precisa de mudanças e melhoramento em todos os setores, como bem mostra Freitas (1993) no Plano Quinquenal elaborado para o Governo de Ene Garcês, que diz:

[...] são precárias as condições sócio-econômica do Território exigindo Obras demasiado complexa, de grande vulto, que o Território se viu na contingência de estabelecer fases de trabalho, ordens de urgência e prioridades, objetivos a atingir progressivamente [...] o planejamento dentro de setores bem definidos de trabalho, em cada órgão restrito, previsto um desenvolvimento progressivo no período de 5 anos, isto é 1945-1950”. (FREITAS, 1993, p.38-39, grifo nosso).

Observamos mais uma vez que o antigo território federal do Rio Branco por sua condição geográfica e política no final da primeira metade do século XX, precisava de reforma para que a população fosse assistida em aspectos básicos, como saúde pública, estrada e saneamento.

Partindo dessa informação logra-se uma clara compreensão não somente do esquecimento da região amazônica, que incluiu o antigo território Federal do Rio Branco, mas principalmente, as populações em região mais afastada do município de Boa Vista, como as fazendas instaladas ao longo do campo do Rio Branco que ficavam praticamente esquecidas pelo poder público.

Assim, o antigo território Federal do Rio Branco, que a partir de 1962 passou a denominar-se Território Federal de Roraima, vivia uma situação que não permitia acessibilidade das populações em zonas rurais as condições básicas de saúde pública, sendo uma delas enterrar os mortos em regiões urbanas, pois, as construções das estradas e as condições a saúde pública não eram acessíveis a toda população, principalmente as rurais.

Na segunda metade do século XX, com a instalação do regime militar devido o interesse pela proteção de regiões de fronteiras é que haverá a implementação do programa de terras (PROTERRA), criado pelo Decreto-lei nº 1.178, de 1º de Junho de 1971, que tinha como objetivo facilitar a aquisição de terra, melhorar as condições do trabalhador rural e promover a agroindústria na Amazônia e no Nordeste (MAGALHÃES, 2008).

Assim, a constatação dos isolamentos das fazendas que não estavam próximas a área urbana do município de Boa Vista, permite-nos inferir alguns dos motivos que justificam estes locais de enterro nas fazendas, sendo essas instituições autônomas, onde se produzia desde os alimentos de subsistência, a criação de gado e os espaço de lembranças como os cemitérios aqui estudados.

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2. As Fazendas no Vale do Rio Branco

No panorama histórico traçado anteriormente em relação à formação e ocupação do atual estado de Roraima, justificou-se por diversas fontes os motivos do isolamento dessa região, levantando aspectos que nos possibilitaram compreender os motivos da criação de fazendas em regiões localizadas as margens de outros rios que são afluentes do Rio Branco.

Partindo dessa premissa é que vamos encontrar relatos sobre as organizações familiares nas fazendas das regiões. Analisando o relatório de Cavalcante (1944), membro da comissão especial do Plano de Valorização Econômico da Amazônia, encontramos indícios de como ocorreram à organização das antigas fazendas localizadas nas terras atualmente da empresa em Roraima.

No relatório do comissário do governo brasileiro, é feita uma descrição da região do Rio Branco, onde podemos perceber a vida das antigas comunidades que ocupavam essa área. O comissário menciona elementos e evidências da vida local de algumas regiões, dentre elas, a região do Alto Rio Branco, assim diz:

No território do Rio Branco, a distribuição da população se faz ao longo dos rios, tal como em toda a Amazônia, porque os rios facilitam os transportes, fornecem água, peixes para alimentação e durante a vasante, margens adubadas para culturas de ciclo vegetal rápido (CAVALCANTI, 1944, p.14-15, grifo nosso).

Observamos ainda, que existiam ao longo de outros rios e, não somente no Rio Branco regiões ocupadas, como: Alto Tacutu, Rio Surumu, Rio Parimé e, Boca do Rio Maú. Ainda segundo Cavalcante (1944, p.15) essa: “é a zona de maior concentração demográfica do Território, fixada em terras firmes férteis e ricas, praticando uma agropecuária elementar de modestas proporções”. Assim, por meio desses indícios percebemos como se formaram núcleos familiares diversos com organizações próprias, possivelmente descendentes das levas de migrantes que exploraram a região.

3. As Fazendas e os Cemitérios Rurais

Os documentos de registro de imóveis das terras ocupadas atualmente pela Empresa em Roraima, onde estão os antigos cemitérios rurais, são datados a partir dos últimos 40 anos. Assim as fontes documentais que forneceriam os dados que buscávamos em relação às antigas famílias, não estariam em sua total disponibilidade. Tendo em vista que existem cemitérios datados do ano de 1910, desta maneira, utilizamos a metodologia da História Oral junto aos antigos moradores das fazendas para evidenciar os porquês da existência dos cemitérios.

No que tange o estudo e a pesquisa realizada pela metodologia da História Oral, podemos perceber uma frequência nas atuais pesquisas históricas, como possibilidade de reescrever fatos onde os documentos oficiais não têm disponibilidade de acesso por diversos motivos, sejam eles por perdas, ou, até mesmo o não registro do mesmo.

Partindo desses motivos, a utilização da fonte oral como metodologia de estudo, tem o objetivo de analisar as formas como pessoas e grupos efetuaram e elaboração das experiências vividas:

A história oral é uma metodologia para constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita (ALBERTI, 2005, 155).

Assim buscamos na metodologia da História Oral a base para elaboração das respostas levantadas nos porquês da pesquisa sobre a criação dos cemitérios em antigas fazendas de

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Roraima. Com isso, encontrando diversas respostas entre os motivos que justificam a existência dos campos santos, reafirmando o que já havia sido tratado anteriormente, o “isolamento do local” (MAGALHÃES, 2008).

Ao entrevistar a senhora, Alice Lima e Adelia Lima, no dia 23 de Junho de 2011, em sua residência, filha de João de Souza Lima e Leonilia Lima, que encontram-se sepultados no cemitério da fazenda Nova Esperança, percebermos os motivos pelos quais seus pais foram enterrados naquele local, bem como a origem da família e o cotidiano na antiga fazenda.

Sendo essa família migrante oriunda do nordeste, mais especificamente do estado da Paraíba chegando àquelas regiões no início da primeira metade do século XX, fixaram-se ali, desenvolvendo atividades rurais, tais como: criação de gado, plantações de milho, arroz e mandioca, utilizando da pesca como alimento, transporte em carros de bois e cavalos.

Nesse período a família do seu João Lima não disponibilizava de trabalhadores, ficando ao cargo da própria família as atividades laborais, a produção dos recursos para sua subsistência. Sobre a locomoção a Boa Vista, essa se dava somente para comprar: sal, açúcar, querosene e outros produtos que não poderiam ser produzidos na própria fazenda.

Durante a entrevista, ainda foi mencionado pelos familiares do seu João Lima, que a locomoção até Boa Vista, se dava através de carro de boi que ao chegar à foz do Rio Branco fazia a travessia em pequenos barcos movidos a remo ou motor de popa.

Em relação à morte da senhora, Leonilia Lima, ocorrida no dia 07 de Abril de 1969, conforme informações dos familiares, o falecimento se deu provavelmente em decorrência de problemas de coração, pois a mesma teve uma morte repentina, tendo sido sepultada na fazenda devido à dificuldade de translado.

Desta maneira, o amor a terra permitiu que fosse formando naquele núcleo familiar um vínculo com a terra. Ao entrevistar um morador de outra fazenda, a senhora Adélia Lima, essa fez a seguinte afirmação em relação ao pedido do seu pai antes de falecer: “Ali tinha uma sucubeira, uma árvore. Que ele não derrubava aquela árvore, que no dia que ele morresse, ele queria ser enterrado lá, que ele não queria ser enterrado em outro cemitério”.3

O motivo do desejo de ser enterrado era porque sua esposa também tinha sido enterrada naquele local.

Portanto, partindo desse pressuposto, onde compreende-se um fragmento da vida autônoma das antigas famílias que moravam nas fazendas das regiões isoladas no estado de Roraima, permite entender os vínculos e os laços que criaram com a terra, além dos espaços de lembranças que são os cemitérios, encontrados nas diversas fazendas da Empresa em Roraima.

4. Os Cemitérios e Rituais de Sepultamentos

Os rituais dos motivos de se enterrar alguém em determinado lugar, sabe-se que de alguma maneira o local para tal sepultamento reflete diversos motivos, sejam eles ligados às questões da própria organização familiar no lugar; Questões religiosas; Econômicas, ou, Geográficas aos termos do acesso e a outras regiões.

No caso de alguns dos cemitérios rurais no estado de Roraima e mais especificamente nas fazendas da empresa é importante salientar que já ocorriam à existência de locais de sepultamento legalmente autorizadas pelo estado, como os da cidade de Boa Vista, pois de acordo com os arquivos da administração do cemitério Nossa Senhora da Conceição, os primeiros sepultamentos ocorreram no ano de 1916.

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Posto isso, de modo geral, a história do cemitério não é tão recente quando se trata do processo de inumação, portanto, temos primeiro que entender como se dá o processo histórico da formação desses espaços e saber o porquê da existência deles, principalmente a simbologia do espaço como lugar sagrado.

Um ponto chave a ser colocado é que antes dos chamados campos santos que seriam os cemitérios como conhecemos hoje, os mortos eram sepultados nas igrejas. Um dos motivos que levava essas pessoas a serem sepultadas nas igrejas, está relacionado ao fato de que estas estariam mais próximas de Deus, ou a meio caminho do paraíso (MORENO, 2009).

A existência de cemitérios no mundo ocidental está ligada a duas questões, em um primeiro momento temos o grande crescimento populacional e atrelado a esse crescimento surge então à preocupação sanitária, sendo esse um fenômeno que ganhou forma no final do século XVII. O que a partir de então, os mortos começaram a ser sepultados fora das igrejas, beneficiando aqueles que não eram católicos ou pessoas que não tinham nenhuma religião.

Em relação ao Brasil, os mortos que eram sepultados fora da igreja na sua maioria eram os não-católicos, protestantes, muçulmanos, judeus, condenados ou escravos. Para que os católicos fossem enterrados fora das igrejas, foi necessária a implantação de uma lei, que visava como já citado acima, preservar a comunidade de doenças decorrentes dos sepultamentos realizados nas criptas dentro das igrejas. O enterramento sai da esfera religiosa e vira questão de estado e saúde pública.

Se antes não se tinha essa preocupação sanitária, o surgimento de cemitérios em espaço aberto permitiu também o desenvolvimento da arte funerária, sendo comum encontrar nas estruturas tumulares símbolos como cruzes ou anjos de porcelana, madeira ou gesso, dentre outros.

Os cemitérios rurais aqui pesquisados têm em comum em sua grande maioria, as cruzes identificando os túmulos. Não foi identificado estruturas de construções sofisticadas como as encontradas em cemitérios urbanos.

Em Boa Vista, atualmente existem dois cemitérios que estruturalmente seguem alguns padrões dos já existentes nas regiões urbanas do Brasil. Existem inúmeros cemitérios em áreas rurais, que foram criados principalmente nos períodos das primeiras levas migratória, quando o acesso à cidade de Boa Vista ocorriam com grandes dificuldades, como demonstramos nos tópicos acima.

Na análise da arte tumular dos cemitérios da pesquisa, verificamos forte presença da religião cristã, pois todos os sepultamentos possuem cruzes, símbolo do cristianismo. A cruz para os seguidores de Jesus Cristo representa ao mesmo tempo o lugar da morte e triunfo do Cristo, sendo este símbolo e lugar da mais alta expressão do amor de Deus pela humanidade.

De acordo com Trevissam apud (HEINZ-MOHR, 1995), na arte cristã as primeiras imagens da cruz de Cristo surgem no ano de 134 d.C na cidade de Palmira. No ano de 220 d.C. aparece uma representação no túmulo do Viale Manoze, em Roma.

Verificamos ainda na pesquisa, que alguns dos cemitérios encontram-se em estado bem precário, como é o caso do cemitério na fazenda Vida Nova, onde há elevações no solo, que podem ser confundidas com túmulos, mas não temos elementos suficientes para fazer tal afirmação devido à precariedade nas condições da conservação.

Os cemitérios também têm suas peculiaridades em relação ao número de pessoas enterradas, alguns encontram uma quantidade significativa de túmulos, chegando ao número de vinte sepulturas, enquanto em outros, possuem apenas dois ou três túmulos.

Outro fato observado no aspecto das estruturas tumulares nos cemitérios, é que todos eles utilizavam materiais básicos como: cimento, tijolos, ferros para as cruzes e em alguns a madeira é também utilizada para fabricação das cruzes.

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Existem ainda, grande quantidades de covas simples, sendo que os túmulos que possuem uma estrutura mais elaborada, com presença de fotografias, epígrafes e ornamentos funerários, podem nos levar a pensar, alguém cuja importância era significativa para aquela família, como os primeiros donos da terra.

Os cemitérios estão no meio das plantações de acácias, sendo o acesso realizado por meio de veículos automotores, tanto pelos profissionais que trabalham na manutenção e cuidado das plantações de acácias, como os familiares em datas que remetem a lembranças significativas, os dias de finados.

5. Cemitérios nos seus respectivos lugares Mapa 1. Cemitérios

Fonte: FIT - Manejo Florestal Ltda.

O Cemitério Nova Esperança, município do Bonfim, está nas coordenadas E= 806006,129m e N= 293754,871m, localizado na gleba Tacutu, com via de acesso pela BR 401, seguindo posteriormente por uma estrada de chão, encontra-se no interior das plantações das acácias. O cemitério na fazenda Vida Nova está localizado no município do Alto Alegre nas coordenadas planas UTM respectivamente em E= 703620,410m e N= 338017,109m, a cerca de 80 km da Cidade de Boa Vista, Roraima. Esse município localiza-se a noroeste do estado.

O cemitério na fazenda São Jorge do Anzol, no município de Boa Vista localizado nas coordenadas planas UTM respectivamente em E= 761301,726m e N= 366723,049m, fica no

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município de Boa Vista-RR na gleba Murupu, a cerca de 70 km do centro da capital, tendo como via de acesso a BR 174 seguindo posteriormente através da RR 312 até o local da fazenda onde se encontra o cemitério. O cemitério em Alvorada, município de Boa Vista, nas coordenadas planas UTM respectivamente em E= 748158, 441m e N= 2971121,334m. O cemitério na fazenda Alvorada, denominado São Francisco, localizado no município de Boa Vista-RR, gleba Cauamé, fica a 24 km da capital do estado, com via de acesso pela BR 174, seguindo posteriormente por uma estrada de chão, onde o mesmo encontra-se no interior das plantações das acácias.

O cemitério em Muratú-Aruá/Fazenda Sol Nascente, município do Bonfim, nas coordenadas E= 827516,671m e N= 296316,174m, o cemitério Muratú-Aruá, na Região da Serra da Lua, localizado na gleba Tacutú, fica a cerca de 90 km da capital do estado, com via de acesso pela BR 401, seguindo posteriormente por uma estrada de piçarra, no qual o mesmo permanece no interior das plantações das acácias.

Considerações finais

O campo santo é um lugar de visita para os familiares, portanto, o significado que aquele lugar representa não pode ser esquecido no tempo. Elaborar uma proposta de melhoria que atenda as necessidades dos familiares que tiveram parte na construção daquele lugar deve ser visto com um olhar histórico, pois as representações simbólicas e imaginárias permeiam a memória e a vida cotidiana de quem tem um parente, avô, tio, irmão, que se encontra sepultado em um dos campos santos.

Após termos contato com familiares dos cemitérios, percebemos que existe a necessidade urgente em criar melhorias nos lugares. Pois, os cemitérios não têm nenhuma estrutura de alvenaria que os delimite, ficando exposta a ação de vários intemperismo. Além disso, precisa melhorar a acessibilidade, pois em datas importantes como: ano da morte, dias de finados, os locais são visitados.

Desta forma, compreendemos os cemitérios como espaço de memória, com importante significado para compreensão da história das famílias migrantes para Roraima, que habitaram nesses espaços em períodos onde a acessibilidade à área urbana, era difícil. Pelo qual foram criando sepultamentos em áreas rurais, devendo esses espaços ser conservados para memória de um povo, sendo esse os atuais moradores de Roraima.

Referências

ALBERTI, Verena. “Histórias dentro da História” in.: PINSKY, Carla Bassanezi (Org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

BELLOMO, Harry R. et al. Cemitérios do Rio Grande do Sul: Arte, Sociedade, Ideologia. 2ª ed. rev. e ampl, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

CAVALCANTE, Araújo. Recuperação e Desenvolvimento do Vale do Rio Branco. 2.ed. Rio de Janeiro: Jornal do Comercio, Rodrigues & Cia, 1949.

FARAGE, Nádia. As muralhas dos sertões: os povos indígenas no Rio Branco e a Colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra; ANPOCS, 1991.

FREITAS, Luiz Aimberê Soares de. A história Política e Administrativa de Roraima: de 1943-1985. 1 ed. Manaus: Editora Umberto Caldearo LTDA, 1993.

MAGALHÃES, Maria das Graças Santos Dias. Amazônia, o extrativismo vegetal no sul de Roraima: 1943-1988. Boa Vista: Editora da UFRR, 2008.

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MORENO, Tânia Maria. O sagrado e o profano: o cemitério na cidade de São Paulo. Cordis: NEHSC-PUC/SP, n. 1, 2009.

TREVISAN, Armindo. O rosto de Cristo: a formação do imaginário e da arte cristã. 2ª Ed. Porto Alegre, AGE. 2003.

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