PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DA BAHIA

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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DA BAHIA Processo N° 0007811-78.2016.4.01.3300 - 12ª VARA FEDERAL

Nº de registro e-CVD 00016.2016.00123300.1.00142/00136

CLASSE: AÇÃO ORDINÁRIA/OUTRAS (1900)

PARTE AUTORA: DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DA BAHIA – DETRAN/BA

RÉ: UNIÃO FEDERAL

JUIZ FEDERAL: ÁVIO MOZAR JOSÉ FERRAZ DE NOVAES

DECISÃO

Vistos etc.

Trata-se de ação ordinária ajuizada originalmente no plantão judicial pelo

DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DA BAHIA – DETRAN/BA em face da UNIÃO FEDERAL, buscando obter, em sede de tutela de urgência, comando judicial “suspendendo

os efeitos do artigo 14._{8-A do Código de Trânsito Brasileiro e da Deliberação nº 145/2015, do}

CONTRAN, desobrigando o DETRAN-BA, até o julgamento do mérito da ação, de exigir o exame toxicológico de larga janela de detecção para o consumo de substâncias psicoativas para candidatos à obtenção de CNH’s nas categorias C, D e E, ou renovação das habilitações previstas no artigo 143 do CTB, autorizando a imediata liberação do sistema de forma a desbloquear os condutores bloqueados e possibilitar a abertura de serviços e realização de etapas para habilitação (mudança de categoria ou renovação) nas categorias C, D e E”.

Alega, em síntese, que a Lei nº 13.103/2015 acrescentou ao Código de Trânsito Brasileiro o artigo 148-A, criando nova modalidade de exame, chamado de “exame toxicológico de larga janela de detecção para o consumo de substâncias psicoativas”, obrigatório para a adição e renovação da habilitação nas categorias C, D e E, a ser realizado por laboratórios credenciados junto ao DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito, de acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN, em especial a Deliberação nº 145 do CONTRAN, publicada em 30/12/2015, que alterou

Assevera que, para o fim de regulamentar o artigo 148-A do CTB, foi publicada, em 30/12/2015, a Deliberação n. 145 do CONTRAN, alterando a alínea “g” do inciso III e o §3º do art. 4º da Resolução 425/2012, dispondo acerca do “exame toxicológico de larga janela de detecção para o consumo de substâncias psicoativas”.

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________________________________________________________________________________________________________________________ Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ÁVIO MOZAR JOSÉ FERRAZ DE NOVAES em 08/04/2016, com base na Lei 11.419 de

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Aduz que ambos os normativos estão eivados de ilegalidades e violações a dispositivos constitucionais (privacidade, dignidade da pessoa humana, segurança jurídica, valores sociais do trabalho, na medida em que a inserção legal do artigo 148-A do CTB somente ocorrera em março de 2016; o exame não se mostra eficiente ao fim colimado; o exame apresenta onerosidade excessiva e:

desproporcionalidade, posto que abarca somente três meses dentre os três a cinco anos de vigência das CNHs; a realização do exame enseja descontinuidade do serviço público, ante a sua elevada demanda e insuficiência de laboratórios habilitados ao fim; a logística e acessibilidade para a realização do exame se mostra prejudicial aos que dele necessitam, ensejando vez e outra a necessidade de extensos deslocamentos para a sua realização; problemas técnicos, na medida em que o exame somente abarca janela de detecção de noventa dias, não se prestando, portanto, a identificar o uso de substâncias nocivas durante o ato de dirigir.

Informa que a ABRAMET – Associação Brasileira de Medicina do Tráfego – emitiu parecer técnico contrário ao exame, a Sociedade Brasileira de Toxicologia emitiu carta aberta questionando o exame e que diversos outros DETRAN’s ajuizaram ações similares, obtendo a concessão da tutela de urgência em diversos juízos federais.

Procuração e documentos às fls. 27/160.

Despacho de fl. 161 do juízo plantonista determinou a remessa dos autos à Distribuição, em face da inexistência de risco de perecimento de direito na ocasião.

Recebidos os autos por este juízo, postergou-se a apreciação da tutela de urgência para depois da manifestação da ré (fl. 164).

Intimada, a União apresentou manifestação e documentos (fls. 168/232), aduzindo, em síntese, que há uma extensa rede de laboratórios, inclusive em expansão, apta a efetuar a coleta prévia do material e posterior envio para exame. Assevera, ainda, os fins sociais da norma, com a exigência de realização do exame toxicológico, bem como a necessidade de o órgão de trânsito zelar e cumprir as normas de segurança do trânsito.

Às fls. 233/253 (reproduzida e acompanhada de novos documentos às fls. 395/732), a Associação Brasileira de Provedores de Serviços Toxicológicos de Larga Janela de Detecção – ABRATOX requer a sua inclusão no feito, na qualidade de assistente litisconsorcial da União, ou assistente simples, nos termos do artigo 121 e 124 do NCPC, refutando, na oportunidade, as alegações

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da parte autora.

Às fls. 256/394, a parte autora reitera o pedido de concessão da tutela de urgência.

Em manifestação e documentos de fls. 734/746, a ABRATOX reitera o pedido para ingressar no feito, postulando seja indeferida a tutela de urgência.

DECIDO.

De início, defiro o ingresso da Associação Brasileira de Provedores de Serviços

Toxicológicos de Larga Janela de Detecção – ABRATOX na lide, na condição de assistente simples da parte ré, nos termos do artigo 121 e seguintes do NCPC. Anote-se.

Em relação à tutela de urgência, o artigo 300 do Novo Código de Processo Civil preconiza que será esta deferida quando i) houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e ii) o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Da análise detida dos autos, vislumbro restarem preenchidos os requisitos para o deferimento da tutela de urgência postulada.

A respeito do exame toxicológico de larga janela de detecção para o consumo de substâncias psicoativas, dispõe o artigo 148-A do Código de Trânsito Brasileiro, in verbis:

Art. 148-A. Os condutores das categorias C, D e E deverão submeter-se a exames toxicológicos para a habilitação e renovação da Carteira Nacional de Habilitação. § 1o O exame de que trata este artigo buscará aferir o consumo de substâncias psicoativas que, comprovadamente, comprometam a capacidade de direção e deverá ter janela de detecção mínima de 90 (noventa) dias, nos termos das normas do Contran.

§ 2o Os condutores das categorias C, D e E com Carteira Nacional de Habilitação com validade de 5 (cinco) anos deverão fazer o exame previsto no § 1o no prazo de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses a contar da realização do disposto no caput.

§ 3o Os condutores das categorias C, D e E com Carteira Nacional de Habilitação com validade de 3 (três) anos deverão fazer o exame previsto no § 1o no prazo de 1 (um) ano e 6 (seis) meses a contar da realização do disposto no caput.

§ 4o ._{É garantido o direito de contraprova e de recurso administrativo no caso de resultado} . W:\GAJUS\Minutas\RBS\Minutas\DECISÕES

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positivo para o exame de que trata o caput, nos termos das normas do Contran.

§ 5o A reprovação no exame previsto neste artigo terá como consequência a suspensão do direito de dirigir pelo período de 3 (três) meses, condicionado o levantamento da suspensão ao resultado negativo em novo exame, e vedada a aplicação de outras penalidades, ainda que acessórias.

§ 6o O resultado do exame somente será divulgado para o interessado e não poderá ser utilizado para fins estranhos ao disposto neste artigo ou no §6º do art. 168 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.

§ 7o O exame será realizado, em regime de livre concorrência, pelos laboratórios credenciados pelo Departamento Nacional de Trânsito - DENATRAN, nos termos das normas do Contran, vedado aos entes públicos:

I - fixar preços para os exames;

II - limitar o número de empresas ou o número de locais em que a atividade pode ser exercida; e

III - estabelecer regras de exclusividade territorial.

O CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito, por sua vez, através da Deliberação 145/2015, alterou a Resolução 425/2012, dispondo, em seu artigo 30, que deverá o DENATRAN - Departamento Nacional de Trânsito proceder ao credenciamento de laboratórios para a realização do exame toxicológico de larga janela de detecção, atendendo aos demais requisitos previstos.

Acontece que, da análise dos autos, dessume-se, ao menos por ora, que, a despeito do quanto preconizado pelo artigo 148-A do Código de Trânsito Brasileiro e pela Deliberação 145/2015 do CONTRAN, as referidas disposições legais não foram acompanhadas da correspondente estruturação administrativa para a viabilização do regular atendimento à considerável demanda dos exames sob comento, prejudicando consideravelmente a habilitação e/ou renovação das CNHs nas categorias “C”, “D” e “E”..

Com efeito, das provas carreadas aos autos, em cotejo com uma simples consulta ao sítio virtual http://www.denatran.gov.br/toxicologico_novo.htm, identifica-se que, até a presente data, existem apenas seis laboratórios (cinco em São Paulo e um no Estado do Rio de Janeiro) credenciados em todo o país pelo DENATRAN para a realização do exame toxicológico de larga janela de detecção, o que, por certo, não se compatibiliza com a demanda pelo serviço.

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Vale registrar, por oportuno, que a eventual extensão da rede de clínicas laboratoriais para a coleta do material biológico, desacompanhada da extensão da rede de laboratórios aptos à realização do exame toxicológico, não resolve, a contento, o descompasso entre a estrutura administrativa e a demanda, somente servindo, em verdade, para assoberbar os referidos laboratórios, dificultando sobremaneira a prestação do serviço com a celeridade que a segurança do trânsito requer.

Neste sentido, dada a exiguidade dos laboratórios credenciados para a realização do exame toxicológico previsto no artigo 148-A do CTB, denotando o não cumprimento satisfatório, por parte do DENATRAN, do quanto disposto no artigo 30 da Resolução 425/2012, mas sem imiscuir-se nas demais alegações apresentadas pela parte autora, aferíveis por ocasião da prolação da sentença, exsurge a probabilidade do direito invocado, nos termos do artigo 300 do NCPC.

Com relação ao perigo de dano, resta insofismável a sua ocorrência, na medida em que, ao menos no Estado da Bahia, “7294 (sete mil, duzentos e noventa e quatro) candidatos estão com o processo de renovação da CNH sem conclusão”, em face da obrigatoriedade do exame toxicológico de larga janela de detecção para o consumo de substâncias psicoativas, conforme atestam os documentos de fls. 261/394, fato este que prejudica, sobremaneira, o exercício profissional de inúmeras pessoas que dependem da emissão/renovação das CNHs nas categorias “C”, “D” e “E”.

Gize-se, por fim, que não se olvida aqui da relevante necessidade de se tutelar a esperada segurança do trânsito, visando-se coibir acidentes provocados por motoristas sob efeito de entorpecentes, mas se almeja, nesta ocasião, no exercício da função jurisdicional consagrada constitucionalmente, que as medidas normativas consentâneas à segurança do trânsito não sejam desacompanhadas da correspondente estruturação de aparato estatal com aptidão para atender à demanda social.

Diante disso, restando presentes os requisitos do artigo 300 do NCPC, a concessão da tutela de urgência é medida que se impõe.

Ante o exposto, DEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA, nos termos do artigo 300 do Novo Código de Processo Civil, para determinar a suspensão da exigência do exame toxicológico

de larga janela de detecção, previsto no artigo 148-A do Código de Trânsito Brasileiro e na Deliberação 145/2015 do CONTRAN, para habilitação ou renovação das carteiras nacionais de habilitação nas categorias “C”, “D” e “E”, autorizando a imediata liberação do sistema de forma a desbloquear os condutores bloqueados e possibilitar a abertura de serviços e realização de etapas para habilitação (mudança de categoria ou renovação) nas categorias “C”,

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“D” e “E”, até ordem ulterior deste juízo em sentido contrário.

Intime-se a ré, com urgência, para ciência e cumprimento da presente decisão. Cite-se.

Retifique-se a autuação, incluindo nos autos, na condição de assistente simples da parte ré, a Associação Brasileira de Provedores de Serviços Toxicológicos de Larga Janela de Detecção –

ABRATOX.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se.

Salvador/BA, 8 de abril de 2016.

ÁVIO MOZAR JOSÉ FERRAZ DE NOVAES JUIZFEDERAL