OBSERVAÇÕES FINAIS OBSERVAÇÕES FINAIS
X X
O cronotopo determina a unidade artística de uma obra literária no O cronotopo determina a unidade artística de uma obra literária no que ela diz respeito à realidade efetiva. Por isso, numa obra, o que ela diz respeito à realidade efetiva. Por isso, numa obra, o cro-notopo sempre contém um elemento valioso que só pode ser isolado notopo sempre contém um elemento valioso que só pode ser isolado do conjunto do cronotopo literário apenas numa análise abstrata. Em do conjunto do cronotopo literário apenas numa análise abstrata. Em arte e em literatura, todas as definições espaçotemporais são arte e em literatura, todas as definições espaçotemporais são insepa-ráveis umas das outras e são sempre tingidas de um matiz emocional. ráveis umas das outras e são sempre tingidas de um matiz emocional. Ê evidente que uma reflexão abstrata pode interpretar o tempo e o Ê evidente que uma reflexão abstrata pode interpretar o tempo e o espaço separadamente e afastarse do seu momento de valor espaço separadamente e afastarse do seu momento de valor emocio-nal. Mas a contemplação artística viva (ela é, naturalmente, também nal. Mas a contemplação artística viva (ela é, naturalmente, também interpretada por completo, mas não abstrata) não divide nada e não interpretada por completo, mas não abstrata) não divide nada e não se afasta de nada. Ela abarca o cronotopo em toda a sua integridade se afasta de nada. Ela abarca o cronotopo em toda a sua integridade e plenitude. A arte e a literatura estão impregnadas por
e plenitude. A arte e a literatura estão impregnadas por valores cro-valores cro-notópicos
notópicos de diversos graus e dimensões. Cada momento, cada ele- de diversos graus e dimensões. Cada momento, cada
ele-mento destacado de uma obra de arte são estes valores. mento destacado de uma obra de arte são estes valores.
Em nossos estudos, analisamos apenas os grandes cronotopos tipo Em nossos estudos, analisamos apenas os grandes cronotopos tipo logicamente estáveis, que determinaram as variantes mais logicamente estáveis, que determinaram as variantes mais importan-tes do género romanesco nas primeiras etapas de sua evolução. Aqui, tes do género romanesco nas primeiras etapas de sua evolução. Aqui, no final de nosso trabalho, apenas mencionaremos e abordaremos no final de nosso trabalho, apenas mencionaremos e abordaremos rapi-damente alguns valores cronotópicos de diferentes níveis e volumes. damente alguns valores cronotópicos de diferentes níveis e volumes.
No
No ppririmmeieiro ro esestutudodo, , trtratatamam oos s do do crcrononototopopo o do do enencocontntroro; ; nenestste e crcroo- -notopo predomina o matiz temporal; ele distinguese por um forte notopo predomina o matiz temporal; ele distinguese por um forte grau de intensidade do valor emocional. O cronotopo da
grau de intensidade do valor emocional. O cronotopo da estrada,estrada, que que
se liga a ele, possui volume mais amplo, porém um pouco menos de se liga a ele, possui volume mais amplo, porém um pouco menos de intensidade de valor emocional. No romance, os encontros ocorrem intensidade de valor emocional. No romance, os encontros ocorrem freqiientemente na “estrada”. Ela é o lugar preferido dos encontros freqiientemente na “estrada”. Ela é o lugar preferido dos encontros casuais. Na estrada (“a grande estrada”) cruzamse num único ponto casuais. Na estrada (“a grande estrada”) cruzamse num único ponto espacial e temporal os caminhos espaçotemporais das mais diferentes espacial e temporal os caminhos espaçotemporais das mais diferentes pes
pessosoas, as, rereprpresesenentatantntes es de de totodadas s as as claclassesses, s, sisitutuaçaçõeões, s, rereligligiõiõeses, , nnacacioio- -nalidades, idades. Aqui podem se encontrar por acaso, as pessoas nor nalidades, idades. Aqui podem se encontrar por acaso, as pessoas nor
malmente separadas pela hierarquia social e pelo espaço, podem surgir malmente separadas pela hierarquia social e pelo espaço, podem surgir contrastes de toda espécie, chocaremse e entrelaçaremse diversos contrastes de toda espécie, chocaremse e entrelaçaremse diversos des-tinos. As séries espaciais e temporais dos destinos e das vidas dos tinos. As séries espaciais e temporais dos destinos e das vidas dos homens se combinam de modo peculiar, complicandose e homens se combinam de modo peculiar, complicandose e concretizan-dose pelas
dose pelas distâncias sociaisdistâncias sociais, que não superadas. Este é o ponto do, que não superadas. Este é o ponto do
enlace e o lugar onde se realizam os acontecimentos. Parece que o enlace e o lugar onde se realizam os acontecimentos. Parece que o tempo se derrama no espaço e flui por ele (formando os caminhos); tempo se derrama no espaço e flui por ele (formando os caminhos); daí a tão rica metaforização do caminhoestrada: "o caminho da vida”, daí a tão rica metaforização do caminhoestrada: "o caminho da vida”, “ingressar numa nova estrada”, “o caminho histórico” e etc.; a “ingressar numa nova estrada”, “o caminho histórico” e etc.; a meta-forização do caminho é variada e muito planejada, mas o sustentáculo forização do caminho é variada e muito planejada, mas o sustentáculo p
pririnncicippaal l é é o o trtrananscscururso so do do tetemmpopo..
A estrada é particularmente proveitosa para a representação de A estrada é particularmente proveitosa para a representação de um acontecimento regido pelo acaso (mas nem só para isso). A partir um acontecimento regido pelo acaso (mas nem só para isso). A partir daqui se compreende o papel temático da estrada na história do daqui se compreende o papel temático da estrada na história do romance. Ela passa pelo romance de costumes e de viagens antigo, o romance. Ela passa pelo romance de costumes e de viagens antigo, o
Satiricon
Satiricon de Petrônio e de Petrônio e O Asno de OuroO Asno de Ouro de Apuleio. Os heróis dos de Apuleio. Os heróis dos
romances de cavalaria da Idade Média saem para a estrada, em romances de cavalaria da Idade Média saem para a estrada, em torno da qual, freqüentemente, todos os acontecimentos do romance torno da qual, freqüentemente, todos os acontecimentos do romance se desenrolam ou estão concentrados (estão dispostos de ambos os se desenrolam ou estão concentrados (estão dispostos de ambos os lados). E num romance como
lados). E num romance como Parzival,Parzival, de Wolfram von Eschenbach, de Wolfram von Eschenbach,
o caminhoestrada real do herói até Montsalvat transformase desper o caminhoestrada real do herói até Montsalvat transformase desper cebidamente numa metáfora da estrada, o caminho da vida, da alma, cebidamente numa metáfora da estrada, o caminho da vida, da alma, que ora se aproxima de Deus, ora se distancia dele (dependendo dos que ora se aproxima de Deus, ora se distancia dele (dependendo dos erros, dos percalços do herói, dos acontecimentos que o encontram erros, dos percalços do herói, dos acontecimentos que o encontram na estrada real). Ela determinou os temas do romance picaresco na estrada real). Ela determinou os temas do romance picaresco espa-nhol do século XVI
nhol do século XVI (Lazarillo, Guzmán).(Lazarillo, Guzmán). No limiar dos séculos XVI No limiar dos séculos XVI
e XVII, é Dom Quixote que vai para a estrada para encontrar nela e XVII, é Dom Quixote que vai para a estrada para encontrar nela toda a Espanha, desde o forçado que anda nas galés, até o duque. toda a Espanha, desde o forçado que anda nas galés, até o duque. Esta estrada já é profundamente intensificada pelo transcurso do Esta estrada já é profundamente intensificada pelo transcurso do tempo histórico, pelas marcas e pelos sinais da sua marcha, pelos tempo histórico, pelas marcas e pelos sinais da sua marcha, pelos indícios da época. No século XVII, sobre uma estrada marcada indícios da época. No século XVII, sobre uma estrada marcada pel
pelos os acaconontetecicimmenentotos s da da GGuueerrrra a dos dos TTrrinin ta ta AnAnosos, , susurgrge e SimSimplipliciscissisi mus. Posteriormente, ainda conservando seu significado principal, a mus. Posteriormente, ainda conservando seu significado principal, a estrada passa por obras cruciais para a história do romance, tais estrada passa por obras cruciais para a história do romance, tais como
como FrancionFrancion de Sorel, de Sorel, Gil BlasGil Blas de Le Sage. O significado da de Le Sage. O significado da
estrada permanece (embora enfraquecido) nos romances (picarescos) estrada permanece (embora enfraquecido) nos romances (picarescos) de Defoe e de Fielding. A estrada e os seus encontros mantêm o de Defoe e de Fielding. A estrada e os seus encontros mantêm o seu significado temático também nos
seu significado temático também nos A Annoos s de de AApprere nnddizizaaggeemm e nos e nos A
Annoos s de de ViViagagenens s de de WW ililhheelm lm MMeieistster er (ainda que o sentido ideológico (ainda que o sentido ideológico
se modifique substancialmente, pois as categorias do “acaso” e do se modifique substancialmente, pois as categorias do “acaso” e do “destino” são radicalmente repensadas). De uma estrada semireal e “destino” são radicalmente repensadas). De uma estrada semireal e semimetafórica saem Henri von Ofterdingen, de Novalis, e outros semimetafórica saem Henri von Ofterdingen, de Novalis, e outros heróis do romance romântico. Finalmente, o significado da estrada heróis do romance romântico. Finalmente, o significado da estrada e dos encontros que nela ocorrem permanece no romance histórico, e dos encontros que nela ocorrem permanece no romance histórico,
em Walter Scott e, muito particularmente, no romance histórico em Walter Scott e, muito particularmente, no romance histórico russo, por exemplo:
russo, por exemplo: lúri Miloslávskilúri Miloslávski de Zagoskin1 é baseado na de Zagoskin1 é baseado na
estrada e nos seus encontros. O encontro de Grinióv e Pugatchóv estrada e nos seus encontros. O encontro de Grinióv e Pugatchóv nnaa estradaestrada, em meio a uma, em meio a uma nevascanevasca, determina o enredo de, determina o enredo de A A FilFilhaha do Capitão.
do Capitão. Lembremos também o papel da estrada em Lembremos também o papel da estrada em A Almlm aas s MMorortatass
de Gógol e em
de Gógol e em Quem Vive Bem na RússiaQuem Vive Bem na Rússia de Nekrássov2. de Nekrássov2.
Sem abordar aqui o problema da mudança das funções da Sem abordar aqui o problema da mudança das funções da "estra-da” e do "encontro” na história do romance, destacaremos apenas da” e do "encontro” na história do romance, destacaremos apenas um traço muito importante da “estrada”, comum a todas as variantes um traço muito importante da “estrada”, comum a todas as variantes enumeradas: a estrada atravessa o
enumeradas: a estrada atravessa o pa país ís nanatatall, e não um, e não um mundo exóticomundo exótico
e estranho (a Espanha de Gil Blas é convencional, e a permanência e estranho (a Espanha de Gil Blas é convencional, e a permanência temporária de Simplicissimus na França não é substancial, pois a temporária de Simplicissimus na França não é substancial, pois a estranheza do país estrangeiro é fictícia, nem sequer se trata de estranheza do país estrangeiro é fictícia, nem sequer se trata de exotismo); é revelado e mostrado o aspecto
exotismo); é revelado e mostrado o aspecto sócio-histórico múltiplosócio-histórico múltiplo
desse país natal (assim se se pode falar aqui de exotismo, seria acerca desse país natal (assim se se pode falar aqui de exotismo, seria acerca do “exotismo social” — os tugúrios, os
do “exotismo social” — os tugúrios, os bas-fonds,bas-fonds, o mundo dos o mundo dos
ladrões). Nessa sua função, a estrada também foi empregada fora ladrões). Nessa sua função, a estrada também foi empregada fora do romance, nos géneros atemáticos como as viagens publicistas do do romance, nos géneros atemáticos como as viagens publicistas do século XVIII (o exemplo clássico é a
século XVIII (o exemplo clássico é a Viagem de Petersburgo aViagem de Petersburgo a M
Mososcocouu de Raditchév3) e os diários de viagens dos publicistas da de Raditchév3) e os diários de viagens dos publicistas da
p
pririmmeieira ra mmetetadade e do do sécséculo ulo XXIIX X (p(por or exexememplplo, o, em em HHeieinene). ). As As vvarariaiantnteses romanescas enumeradas distinguemse por esta particularidade da romanescas enumeradas distinguemse por esta particularidade da “estrada” de uma outra linha do romance de peripécias, representada “estrada” de uma outra linha do romance de peripécias, representada p
pelelo o rorommanance ce anantitigo go de de viviagagenens, s, ppelelo o rorommanance ce dodos s sosofifiststas as gregregos gos (a(a cuja análise nós dedicamos o primeiro ensaio do presente trabalho) cuja análise nós dedicamos o primeiro ensaio do presente trabalho) e pelo romance barroco do século XVII. Nestes romances, “o mundo e pelo romance barroco do século XVII. Nestes romances, “o mundo estrangeiro”, separado do país natal pelo mar e pela distância, tem estrangeiro”, separado do país natal pelo mar e pela distância, tem uma função análoga à estrada.
uma função análoga à estrada. N
Na a InIngglalateterrrra a do do fifim m do do sécséculo ulo XX VV IIIIII, , foformrmouousse e e e fofortrtalalececeueussee no assim chamado romance “gótico” ou “negro”, um novo no assim chamado romance “gótico” ou “negro”, um novo territó-rio para a realização dos acontecimentos romanescos: o “castelo” rio para a realização dos acontecimentos romanescos: o “castelo” (pela primeira vez tratado com este sentido por Horace Walpole em (pela primeira vez tratado com este sentido por Horace Walpole em
O Castelo de Otranto,
O Castelo de Otranto, em seguida por Radcliffe, Lewis e outros). em seguida por Radcliffe, Lewis e outros).
O castelo está repleto de tempo, que por sinal é histórico no exato O castelo está repleto de tempo, que por sinal é histórico no exato sentido da palavra, ou seja, o tempo do passado histórico. O castelo sentido da palavra, ou seja, o tempo do passado histórico. O castelo é o lugar onde vivem os senhores feudais (por conseguinte, também é o lugar onde vivem os senhores feudais (por conseguinte, também as figuras históricas do passado), as marcas dos séculos e das as figuras históricas do passado), as marcas dos séculos e das gera-ções estão depositadas sobre várias partes do edifício, no mobiliário, ções estão depositadas sobre várias partes do edifício, no mobiliário, nas armas, na galeria de retratos dos ancestrais, nos arquivos de famí nas armas, na galeria de retratos dos ancestrais, nos arquivos de famí
1
1 M. N. Zagoskin M. N. Zagoskin (178(1789-189-18 53), 53), escriescritor rustor russo insso inspirado em Walter Scottpirado em Walter Scott (N.d.T.).
(N.d.T.). 2
2 N. N. Nekrássov Nekrássov (1821-1877), gran(1821-1877), grande de poeta rpoeta russo usso (N(N .d.T.d.T .)..). 3
3 A. A. Raditchév Raditchév ( ( 1749-1802), 1749-1802), populista populista russo da russo da época época de de Catarina IICatarina II (N.d.T.).
lia, nas relações humanas específicas da sucessão dinástica, da lia, nas relações humanas específicas da sucessão dinástica, da trans-missão dos direitos hereditários. Enfim, as lendas e as tradições missão dos direitos hereditários. Enfim, as lendas e as tradições revi-vem, pelas recordações dos acontecimentos passados, todos os vem, pelas recordações dos acontecimentos passados, todos os recan-tos do castelo e das cercanias. É isto que cria a temática do castelo tos do castelo e das cercanias. É isto que cria a temática do castelo desenvolvida nos romances góticos.
desenvolvida nos romances góticos.
A historicidade do tempo do castelo lhe permitiu exercer um A historicidade do tempo do castelo lhe permitiu exercer um pa- pe
pel l assassaz az imim ppoortrtanante te nna a evevololuçução ão do do rorommanance ce hihiststóróricico. o. O O cacastestelo lo veiveioo dos séculos passados e está voltado para o passado. É verdade que as dos séculos passados e está voltado para o passado. É verdade que as marcas do tempo assumem nele um certo caráter de museu, de marcas do tempo assumem nele um certo caráter de museu, de anti-quário. Walter Scott soube superar este perigo da Antigüidade por quário. Walter Scott soube superar este perigo da Antigüidade por meio de uma orientação preponderante sobre a lenda do castelo, meio de uma orientação preponderante sobre a lenda do castelo, so- b
bre re a a susua a ligligaçãação o com com as as papaisisagagenens s pepercrcebebididas as e e ininteterprpreretataddas as hhisistoto- -ricamente. No castelo, ocorre a fusão orgânica do ambiente dos aspec ricamente. No castelo, ocorre a fusão orgânica do ambiente dos aspec tosindícios espaciais e temporais, e a intensidade histórica desse cro tosindícios espaciais e temporais, e a intensidade histórica desse cro notopo deter
notopo determina mina aa sua produsua produtividtividade ade represerepresentativa ntativa nas diferentesnas diferentes etapas da evolução do romance histórico.
etapas da evolução do romance histórico. No
Nos s rorommananceces s de de SStetendndhahal l e e de de BalBalzac zac susurgrge e um um lulugagar r rerealalmmenentete novo para a realização das peripécias do romance: o
novo para a realização das peripécias do romance: o salão-sala desalão-sala de visita
visita (em sentido amplo). Naturalmente, este lugar não apareceu pela (em sentido amplo). Naturalmente, este lugar não apareceu pela
pr
primim eieira ra vez vez em em seus seus rorommananceces, s, mmas as fofoi i aí aí quque e ele ele aaddqquuiririu iu a a pplelenni- i-tude do seu significado como ponto de interseção das séries espaciais tude do seu significado como ponto de interseção das séries espaciais e temporais do romance. Do ponto de vista temático e composicio e temporais do romance. Do ponto de vista temático e composicio nal é aí que ocorrem os encontros (que já não têm o antigo caráter nal é aí que ocorrem os encontros (que já não têm o antigo caráter especificamente
especificamente fortufortuito do ito do encoencontrontro^ ^ na na "e"estrstr adad a” a” ou no ou no "m"mundundoo estrangeiro”), criamse os nós das intrigas, freqüentemente realizam estrangeiro”), criamse os nós das intrigas, freqüentemente realizam se também os desfechos; finalmente ocorrem, o que é particularmente se também os desfechos; finalmente ocorrem, o que é particularmente importante, os diálogos que adquirem um significado extraordinário importante, os diálogos que adquirem um significado extraordinário no romance, revelamse os caracteres, as "idéias” e as paixões dos no romance, revelamse os caracteres, as "idéias” e as paixões dos heróis.
heróis.
Este significado temáticocomposicional é totalmente compreensível. Este significado temáticocomposicional é totalmente compreensível. É lá, na sala de visitas da Restauração e da Monarquia de Julho que É lá, na sala de visitas da Restauração e da Monarquia de Julho que se encontra o barómetro da vida política e dos negócios. É lá que as se encontra o barómetro da vida política e dos negócios. É lá que as reputações políticas, comerciais, sociais e literárias são criadas e reputações políticas, comerciais, sociais e literárias são criadas e des-truídas, as carreiras iniciam e fracassam, estão em jogo os destinos da truídas, as carreiras iniciam e fracassam, estão em jogo os destinos da alta política e das altas finanças, decidese o sucesso ou o revés de alta política e das altas finanças, decidese o sucesso ou o revés de um projeto de lei, de um livro, de um ministro ou de uma cortesã um projeto de lei, de um livro, de um ministro ou de uma cortesã cantora; nela estão representadas de forma bem completa (e reunidas cantora; nela estão representadas de forma bem completa (e reunidas num único lugar e num único tempo) as gradações da nova num único lugar e num único tempo) as gradações da nova hierar-quia social; finalmente, revelase em formas visíveis e concretas o quia social; finalmente, revelase em formas visíveis e concretas o p
pooddeer r ononipipreresesentnte e do do nonovo vo dodono no dda a vvinindda a — — o o didinnheheiriroo..
Mas o principal nisto tudo é o entrelaçamento do que é histórico, Mas o principal nisto tudo é o entrelaçamento do que é histórico, social e público com o que é particular e até mesmo puramente social e público com o que é particular e até mesmo puramente pri-vado, de alcova; a associação da intriga pessoal e íntima com a vado, de alcova; a associação da intriga pessoal e íntima com a intriga política e financeira, do segredo de Estado com o segredo da intriga política e financeira, do segredo de Estado com o segredo da
alcova, da série histórica com a série biográfica e de costumes. Lá alcova, da série histórica com a série biográfica e de costumes. Lá estão condensados, concentrados os signos patentes e visíveis tanto estão condensados, concentrados os signos patentes e visíveis tanto do tempo histórico, como também do tempo biográfico e quotidiano, do tempo histórico, como também do tempo biográfico e quotidiano, e, simultaneamente, eles estão unidos na imagem mais densa, e, simultaneamente, eles estão unidos na imagem mais densa, fun-didos nos signos unitários da época, que se torna concreta e tema didos nos signos unitários da época, que se torna concreta e tema ticamente visível.
ticamente visível. N
Naatuturaralmlm enentete, , nos nos grgranandedes s rerealalisistatas, s, SStetendndhahal l e e BaBalzac, lzac, nenem m só só aa sala de visitas serve como lugar de interseção das séries espacial e sala de visitas serve como lugar de interseção das séries espacial e temporal, lugar de condensação dos traços do decurso do tempo no temporal, lugar de condensação dos traços do decurso do tempo no espaço. Ela é apenas um dos lugares. A capacidade de Balzac
espaço. Ela é apenas um dos lugares. A capacidade de Balzac ver ver oo
tempo no espaço era excepcional. Lembremos, nem que seja a tempo no espaço era excepcional. Lembremos, nem que seja a notá-vel representação das casas em Balzac como uma materialização da vel representação das casas em Balzac como uma materialização da História, sua descrição das ruas, da cidade, da paisagem rural no História, sua descrição das ruas, da cidade, da paisagem rural no pl
planano o da da susua a elelababororaçação ão tetemmpoporaral, l, hihiststóróricica.a.
Vejamos mais um exemplo de interseção das séries temporal e Vejamos mais um exemplo de interseção das séries temporal e espa-cial. Em
cial. Em M Madadamam e e BoBovavaryry de Flaubert, o lugar da ação é uma de Flaubert, o lugar da ação é uma cidacida dezinha provinciana.
dezinha provinciana. Esta cidadezinha provinciana e pequenobur* Esta cidadezinha provinciana e pequenobur*
guesa, com seus costumes bolorentos, é um lugar muito utilizado guesa, com seus costumes bolorentos, é um lugar muito utilizado p
paara ra a a rerealalizizaçação ão das das ppereripipécéciaias s rorommananesescacas s do do sécséculo ulo XXIX IX (t(tananto to anan- -tes como depois de Flaubert). Ela tem diversas varian-tes, entre as tes como depois de Flaubert). Ela tem diversas variantes, entre as quais uma que é muito importante, a variante idílica (nos regiona quais uma que é muito importante, a variante idílica (nos regiona listas). Nós mencionaremos somente a variante flaubertiana (que, na listas). Nós mencionaremos somente a variante flaubertiana (que, na verdade, não foi criada por ele).
verdade, não foi criada por ele).
Essa cidadezinha é o lugar do tempo cíclico dos costumes. Nela Essa cidadezinha é o lugar do tempo cíclico dos costumes. Nela não há acontecimentos, há apenas “o ordinário” que se repete. O não há acontecimentos, há apenas “o ordinário” que se repete. O tempo é privado do curso histórico progressivo, ele se move por tempo é privado do curso histórico progressivo, ele se move por círculos estreitos: o círculo do dia, da semana, do mês, de toda a círculos estreitos: o círculo do dia, da semana, do mês, de toda a vida. Um dia nunca é um dia, um ano nunca é um ano, uma vida vida. Um dia nunca é um dia, um ano nunca é um ano, uma vida nunca é uma vida. Dia após dia se repetem os mesmos atos nunca é uma vida. Dia após dia se repetem os mesmos atos habi-tuais, os mesmos temas de conversa, as mesmas palavras, etc. Durante tuais, os mesmos temas de conversa, as mesmas palavras, etc. Durante este tempo, as pessoas comem, bebem, dormem, têm esposas, este tempo, as pessoas comem, bebem, dormem, têm esposas, aman-tes (não romanescas), fazem intrigas mesquinhas, sentam nas suas tes (não romanescas), fazem intrigas mesquinhas, sentam nas suas lojas ou escritórios, jogam cartas, mexericam. É o tempo cíclico, lojas ou escritórios, jogam cartas, mexericam. É o tempo cíclico, co-mum, ordinário, quotidiano. Ele também nos é familiar em diversas mum, ordinário, quotidiano. Ele também nos é familiar em diversas variantes por intermédio de Gógol e Turguêniev, Gleb Uspiênski, variantes por intermédio de Gógol e Turguêniev, Gleb Uspiênski, Chtchédrin4 e Tchékhov. Os indícios deste tempo são simples, Chtchédrin4 e Tchékhov. Os indícios deste tempo são simples, gros-seiramente materiais, estão solidamente ligados às particularidades seiramente materiais, estão solidamente ligados às particularidades locais: as casinholas e as saletas da cidadezinha, as ruas sonolentas, locais: as casinholas e as saletas da cidadezinha, as ruas sonolentas, a poeira e as moscas, os clubes, os bilhares e etc. Aqui o tempo não a poeira e as moscas, os clubes, os bilhares e etc. Aqui o tempo não tem peripécias e parece quase parado. Não ocorrem nem “encontros” tem peripécias e parece quase parado. Não ocorrem nem “encontros” nem “partidas”. É um tempo denso, viscoso, que rasteja no espaço. nem “partidas”. É um tempo denso, viscoso, que rasteja no espaço. Por isso ele não pode ser o tempo principal çlo romance. É utilizado Por isso ele não pode ser o tempo principal çlo romance. É utilizado
4 M. E. Saltkov-Chtchédrin (1826-1889), escritor satírico russo (N.d.T.). 4 M. E. Saltkov-Chtchédrin (1826-1889), escritor satírico russo (N.d.T.).
pel
pelos os rorommananciciststas as comcomo o um um tetemmpo po sesecucundndárárioio, , mmisistuturarasse e com com as as oouu- -tras séries temporais, não cíclicas, ou é recortado por elas; freqiien tras séries temporais, não cíclicas, ou é recortado por elas; freqiien temente serve de fundo contrastante para as séries temporais, temente serve de fundo contrastante para as séries temporais, ener-géticas e fatuais.
géticas e fatuais.
Qualificaremos ainda um cronotopo impregnado de intensidade, Qualificaremos ainda um cronotopo impregnado de intensidade, com forte valor emocional, como cronotopo
com forte valor emocional, como cronotopo da soleira;da soleira; ele pode se ele pode se
associar com o tema do encontro, porém é substancialmente mais associar com o tema do encontro, porém é substancialmente mais
completo: é o cronotopo da
completo: é o cronotopo da crisecrise e da e da mudançamudança de vida. A própria de vida. A própria
p
palalavavra ra ““soso leleiriraa” ” já já aaddqquuiririuiu, , nna a vivida da da da lilingnguauagegem m (j(jununtatammenente te comcom seu sentido real), um significado metafórico; uniuse ao momento da seu sentido real), um significado metafórico; uniuse ao momento da mudança da vida, da crise, da decisão que muda a existência (ou da mudança da vida, da crise, da decisão que muda a existência (ou da indecisão, do medo de ultrapassar o limiar). Na literatura, o indecisão, do medo de ultrapassar o limiar). Na literatura, o crono-topo da “soleira” é sempre metafórico e simbólico, às vezes sob topo da “soleira” é sempre metafórico e simbólico, às vezes sob uma forma aberta, mas, com mais freqíiência, implícita. Em Dos uma forma aberta, mas, com mais freqíiência, implícita. Em Dos toiévski, por exemplo, o limiar e os cronotopos da escada, da ante toiévski, por exemplo, o limiar e os cronotopos da escada, da ante sala, do corredor, que lhe são contíguos, e também os cronotopos sala, do corredor, que lhe são contíguos, e também os cronotopos da rua e da praça, que lhes seguem, são os principais lugares da da rua e da praça, que lhes seguem, são os principais lugares da ação nas suas obras, são os lugares onde se realizam os ação nas suas obras, são os lugares onde se realizam os aconteci-mentos das crises, das quedas, das ressurreições, dos renasciaconteci-mentos, mentos das crises, das quedas, das ressurreições, dos renascimentos, das clarividências, das decisões que determinam toda uma vida. Nesse das clarividências, das decisões que determinam toda uma vida. Nesse cronotopo o tempo é, em suma, um instante que parece não ter cronotopo o tempo é, em suma, um instante que parece não ter duração e sai do curso normal do tempo biográfico. Em Dostoiévski, duração e sai do curso normal do tempo biográfico. Em Dostoiévski, esse^
esse^ momentos momentos decidecisivosivos s estãestão o incluídos nos gincluídos nos grandes randes cronotopos, cronotopos, queque tudo englobam, do tempo dos
tudo englobam, do tempo dos mistériosmistérios e do carnaval. Esses tempos e do carnaval. Esses tempos
se avizinham de modo singular, se cruzam e se entrelaçam na criação se avizinham de modo singular, se cruzam e se entrelaçam na criação de Dostoiévski, da mesma forma como eles fizeram por longos séculos de Dostoiévski, da mesma forma como eles fizeram por longos séculos nas praças públicas da Idade Média e do Renascimento (e nas praças públicas da Idade Média e do Renascimento (e substan-cialmente, mas de modo algo diferente, nas praças antigas da Grécia cialmente, mas de modo algo diferente, nas praças antigas da Grécia e de Roma). Em Dostoiévski, nas ruas e nas cenas públicas, no e de Roma). Em Dostoiévski, nas ruas e nas cenas públicas, no inte- inte-rior das casas (sobretudo nas salas de visita), a antiga praça dos rior das casas (sobretudo nas salas de visita), a antiga praça dos car-navais e dos mistérios parece se reanimar e transluzir5. Naturalmente, navais e dos mistérios parece se reanimar e transluzir5. Naturalmente, os cronotopos de Dostoiévski ainda não se esgotam com isso: eles os cronotopos de Dostoiévski ainda não se esgotam com isso: eles são complexos e variados, tais quais as tradições que neles se renovam. são complexos e variados, tais quais as tradições que neles se renovam.
À diferença de D
À diferença de Dostoiévski, na ostoiévski, na obra obra de L. de L. N. Tolstói o crN. Tolstói o cronotopoonotopo bá
básisico co é é o o temtem po po bibiogográráfifico co quque e flflui ui nonos s espespaçoaços s ininteteririorores es dadas s cascasasas e das mansões dos nobres. Naturalmente, nas obras de Tolstói e das mansões dos nobres. Naturalmente, nas obras de Tolstói tam- bé
bém m há há cricrisesses, , ququededasas, , reregegeneneraraçõçõeses, , reressssururrereiçiçõeões, s, mmas as elaelas s nnãoão
5 As t
5 As tradiçõradições ces culturais e ulturais e literárias literárias (inclu(inclusive as mais sive as mais antigas) antigas) se se conconservaservamm e vivem não na memória individual e subjetiva de um homem isolado em e vivem não na memória individual e subjetiva de um homem isolado em algum “psiquismo” coletivo, mas nas formas objetivas da própria cultura (inclu algum “psiquismo” coletivo, mas nas formas objetivas da própria cultura (inclu sive nas formas lingtiísticas e verbais), e nesse sentido elas são intersubjetivas sive nas formas lingtiísticas e verbais), e nesse sentido elas são intersubjetivas e interindividuais (conseqüentemente, também sociais); daí elas chegam às e interindividuais (conseqüentemente, também sociais); daí elas chegam às obras literárias, às vezes quase passando por cima da memória individual sub obras literárias, às vezes quase passando por cima da memória individual sub jetiva
são momentâneas e não saem do curso do tempo biográfico, estão são momentâneas e não saem do curso do tempo biográfico, estão firmemente soldadas a ele. Por exemplo, a crise e a clarividência de firmemente soldadas a ele. Por exemplo, a crise e a clarividência de
Ivan
Ivan IlitIlitchch6 6 estendese estendese popor todo o último r todo o último períodperíodo da sua doença, sóo da sua doença, só terminando um pouco antes de morrer. A regeneração de Pierre Be terminando um pouco antes de morrer. A regeneração de Pierre Be zukhov
zukhov (Guerra e Paz)(Guerra e Paz) foi longa e gradual, totalmente biográfica. foi longa e gradual, totalmente biográfica.
Menos longa, mas não momentânea, é a regeneração e a penitência Menos longa, mas não momentânea, é a regeneração e a penitência de Nikita
de Nikita (O Poder das Trevas).(O Poder das Trevas). Em Tolstói, nós encontramos só Em Tolstói, nós encontramos só
uma exceção: a radical regeneração de Brekhunov no último instante uma exceção: a radical regeneração de Brekhunov no último instante da sua vida, totalmente inesperada, que não foi preparada por nada da sua vida, totalmente inesperada, que não foi preparada por nada
(Patrão e Empregado).
(Patrão e Empregado). Tolstói não apreciava o instante, não procura- Tolstói não apreciava o instante, não
procura-va preenchêlo com algo de substancial e decisivo, a palavra "de va preenchêlo com algo de substancial e decisivo, a palavra "de re- p
peennttee” ” é é rarararammeennte te eennccoonntrtradada a e e nnuunnca ca ininclcluíuídda a nnum um acaconontetecicimmenentoto de qualquer forma significativo. À diferença de Dostoiévski, Tolstói de qualquer forma significativo. À diferença de Dostoiévski, Tolstói gostava da duração, da extensão do tempo. Depois do tempo e do gostava da duração, da extensão do tempo. Depois do tempo e do espaço biográfico, tem um significado capital para Tolstói o espaço biográfico, tem um significado capital para Tolstói o crono-topo da natureza, o cronocrono-topo do idílio familiar e mesmo o cronocrono-topo topo da natureza, o cronotopo do idílio familiar e mesmo o cronotopo
do trabalho idílico (na representação do trabalho agrícola). do trabalho idílico (na representação do trabalho agrícola).
No
No quque e reresiside de o o sisigngnifificicadado o dos dos crcrononototopopos os ananalalisisadados os ppoor r nónós?s? Em primeiro lugar, é evidente seu significado
Em primeiro lugar, é evidente seu significado temático.temático. Eles são os Eles são os
centros organizadores dos principais acontecimentos temáticos do centros organizadores dos principais acontecimentos temáticos do ro-mance. É no cronotopo que os nós do enredo são feitos e desfeitos. mance. É no cronotopo que os nós do enredo são feitos e desfeitos. Podese dizer francamente que a eles pertence o significado principal Podese dizer francamente que a eles pertence o significado principal gerador do enredo.
gerador do enredo.
Ao mesmo tempo salta aos olhos o significado
Ao mesmo tempo salta aos olhos o significado fi figgururatativivoo dos crono- dos
crono-topos. Neles o tempo adquire um caráter sensivelmente concreto; no topos. Neles o tempo adquire um caráter sensivelmente concreto; no cronotopo, os acontecimentos do enredo se concretizam, ganham cronotopo, os acontecimentos do enredo se concretizam, ganham cor- po
po e e encenchemhemse se de de sansangugue. e. PodPodese ese rerelalatatar, r, ininfoformrm ar ar o o fafatoto, , alalém ém disdisso,so, po
podedese se ddar ar inindidicacaçõções es prprececisisas as sosobrbre e o o lulugagar r e e o o tetemmpo po de de susua a rerea- a-lização. Mas o acontecimento não se torna uma imagem. O próprio lização. Mas o acontecimento não se torna uma imagem. O próprio cronotopo fornece um terreno substancial à imagemdemonstração cronotopo fornece um terreno substancial à imagemdemonstração dos acontecimentos. Isso graças justamente à condensação e dos acontecimentos. Isso graças justamente à condensação e concre-tização espaciais dos índices do tempo — tempo da vida humana, tização espaciais dos índices do tempo — tempo da vida humana, tempo histórico — em regiões definidas do espaço. Isso também cria tempo histórico — em regiões definidas do espaço. Isso também cria a possibilidade de construir a imagem dos acontecimentos no a possibilidade de construir a imagem dos acontecimentos no crono-topo (em volta do cronocrono-topo). Ele serve de ponto principal para o topo (em volta do cronotopo). Ele serve de ponto principal para o desenvolvimento das "cenas” no romance, quando outros desenvolvimento das "cenas” no romance, quando outros aconteci-mentos de ligação, que se encontram longe do cronotopo, são dados mentos de ligação, que se encontram longe do cronotopo, são dados em forma seca de informação e de comunicação (em Stendhal, por em forma seca de informação e de comunicação (em Stendhal, por exemplo, a informação e a comunicação têm grande peso; a exemplo, a informação e a comunicação têm grande peso; a
repre-6 Cf.
sentação é concentrada e condensada numas poucas cenas que sentação é concentrada e condensada numas poucas cenas que lan-çam uma luz de “concretude” sobre as partes informativas do çam uma luz de “concretude” sobre as partes informativas do roman-ce — vejase, por exemplo, a construção de
ce — vejase, por exemplo, a construção de Ar Armmanan cece).). Desta forma, Desta forma,
o cronotopo, como materialização privilegiada do tempo no espaço, o cronotopo, como materialização privilegiada do tempo no espaço, é o centro da concretização figurativa, da encarnação do romance é o centro da concretização figurativa, da encarnação do romance inteiro. Todos os elementos abstratos do romance — as generalizações inteiro. Todos os elementos abstratos do romance — as generalizações filosóficas e sociais, as idéias, as análises das causas e dos efeitos, filosóficas e sociais, as idéias, as análises das causas e dos efeitos, etc. — gravitam ao redor do cronotopo, graças ao qual se enchem etc. — gravitam ao redor do cronotopo, graças ao qual se enchem de carne e de sangue, se iniciam no caráter imagístico da arte de carne e de sangue, se iniciam no caráter imagístico da arte lite-rária. Este é o significado figurativo do cronotopo.
rária. Este é o significado figurativo do cronotopo.
Os cronotopos analisados têm um caráter típico de género, eles Os cronotopos analisados têm um caráter típico de género, eles bas
baseiaeiammse se em em vvarariaiantntes es dedefifininidadas s do do gégénenero ro rorommananesescoco, , quque e se se fofor- r-mou e se desenvolveu durante séculos (na verdade, as funções, por mou e se desenvolveu durante séculos (na verdade, as funções, por exemplo, do cronotopo da estrada se alteram nesse processo de exemplo, do cronotopo da estrada se alteram nesse processo de evo-lução). No entanto, toda imagem de arte literária é cronotópica. A lução). No entanto, toda imagem de arte literária é cronotópica. A linguagem é essencialmente cronotópica, como tesouro de imagens. linguagem é essencialmente cronotópica, como tesouro de imagens. É cronotópica a forma interna da palavra, ou seja, o signo mediador É cronotópica a forma interna da palavra, ou seja, o signo mediador que ajuda a transportar os significados originais e espaciais para as que ajuda a transportar os significados originais e espaciais para as relações temporais (no sentido mais amplo). Aqui não há lugar para relações temporais (no sentido mais amplo). Aqui não há lugar para abordarmos esse problema tão especial. Referirnosemos no capítulo abordarmos esse problema tão especial. Referirnosemos no capítulo correspondente ao trabalho de Cassirer
correspondente ao trabalho de Cassirer (Filosofia das Formas Sim(Filosofia das Formas Sim bólicas),
bólicas), onde é dada uma análise rica, baseada em fatos do reflexo onde é dada uma análise rica, baseada em fatos do reflexo
do tempo na língua (a assimilação do tempo pela linguagem). do tempo na língua (a assimilação do tempo pela linguagem).
O princípio de cronotopia da imagem artísticoliterária foi O princípio de cronotopia da imagem artísticoliterária foi desco- b
beertrto o pepela la ppririmmeieira ra vez, vez, com com totoda da clclararezeza, a, popor r LeLessissing ng no no seuseu La Laoo coonte.
coonte. Ele estabelece o caráter temporal dessa imagem. Tudo o que Ele estabelece o caráter temporal dessa imagem. Tudo o que
é estáticoespacial não deve ser descrito de modo estático, mas deve é estáticoespacial não deve ser descrito de modo estático, mas deve ser incluído na série temporal dos acontecimentos representados e ser incluído na série temporal dos acontecimentos representados e da própria narrativaimagem. Assim, no famoso exemplo de Lessing, da própria narrativaimagem. Assim, no famoso exemplo de Lessing, a beleza de Helena não é descrita por Homero, é mostrado, porém, a beleza de Helena não é descrita por Homero, é mostrado, porém, seu efeito sobre os velhos troianos, efeito este que é revelado numa seu efeito sobre os velhos troianos, efeito este que é revelado numa série de movimentos e ações dos velhos. A beleza é introduzida numa série de movimentos e ações dos velhos. A beleza é introduzida numa cadeia de acontecimentos representados e ao mesmo tempo se cadeia de acontecimentos representados e ao mesmo tempo se apre-senta não como o objeto de uma descrição estática, mas como o senta não como o objeto de uma descrição estática, mas como o objeto de uma narrativa dinâmica.
objeto de uma narrativa dinâmica.
Lessing, entretanto, além de abordar o problema do tempo na Lessing, entretanto, além de abordar o problema do tempo na lite-ratura de modo muito substancial e produtivo, colocao sobretudo ratura de modo muito substancial e produtivo, colocao sobretudo num plano formal e técnico (naturalmente, não no sentido formalis num plano formal e técnico (naturalmente, não no sentido formalis ta). O problema da assimilação do tempo real, ou seja, o problema ta). O problema da assimilação do tempo real, ou seja, o problema da assimilação da realidade histórica na imagem poética não é posto da assimilação da realidade histórica na imagem poética não é posto po
por r ele ele de de momodo do imimedediaiatoto, , emembobora ra sejseja a ababoordrdadado o no no seu seu trtrababaalhlhoo.. Baseado nessa cronotopia geral (formal e material) da imagem Baseado nessa cronotopia geral (formal e material) da imagem poé-tica como imagem da arte temporal que representa os fenómenos tica como imagem da arte temporal que representa os fenómenos espaciais e sensoriais no seu movimento e na sua transformação, escla* espaciais e sensoriais no seu movimento e na sua transformação, escla*
recese a singularidade dos cronotopos tipicamente temáticos e recese a singularidade dos cronotopos tipicamente temáticos e for-madores do enredo, sobre os quais nós falamos até agora. Tratase madores do enredo, sobre os quais nós falamos até agora. Tratase dos cronotopos específicos, romanescos e épicos que servem para dos cronotopos específicos, romanescos e épicos que servem para assimilar a verdadeira realidade temporal (até um certo limite, assimilar a verdadeira realidade temporal (até um certo limite, histó-rica) e que permitem refletir e introduzir no plano artístico do rica) e que permitem refletir e introduzir no plano artístico do ro-mance os momentos essenciais dessa realidade.
mance os momentos essenciais dessa realidade.
Aqui nós só falamos dos cronotopos grandes, fundamentais, que Aqui nós só falamos dos cronotopos grandes, fundamentais, que en-globam tudo. Porém, cada um destes cronotopos pode incluir em si globam tudo. Porém, cada um destes cronotopos pode incluir em si uma quantidade ilimitada de pequenos cronotopos: pois cada tema uma quantidade ilimitada de pequenos cronotopos: pois cada tema po
possssui ui o o seu seu ppróróppririo o crcrononototopopo, o, sosobrbre e o o quque e já já fafalalammos.os. No
Nos s limlimiteites s de de umuma a úúnnicica a obobra ra e e da da crcriaiaçãção o de de um um únúnicico o auautotor,r, observamos uma grande quantidade de cronotopos e as suas inter observamos uma grande quantidade de cronotopos e as suas inter relações complexas e específicas da obra e do autor, sendo que um relações complexas e específicas da obra e do autor, sendo que um
deles é freqüentemente englobador ou dominante. (Estes, deles é freqüentemente englobador ou dominante. (Estes, principal-mente, foram objeto de nossa análise.) Os cronotopos podem se mente, foram objeto de nossa análise.) Os cronotopos podem se in-corporar um ao outro, coexistir, se entrelaçar, permutar, confrontar corporar um ao outro, coexistir, se entrelaçar, permutar, confrontar se, se opor ou se encontrar nas interrelações mais complexas. Estas se, se opor ou se encontrar nas interrelações mais complexas. Estas interrelações entre os cronotopos já não podem surgir em nenhum dos interrelações entre os cronotopos já não podem surgir em nenhum dos cronotopos isolados que se interrelacionam. O seu caráter geral é cronotopos isolados que se interrelacionam. O seu caráter geral é
dialógico
dialógico (na concepção ampla do termo). Mas esse diálogo não pode (na concepção ampla do termo). Mas esse diálogo não pode
p
peenneetrtrar ar no no mmununddo o rereprpresesenentatado do na na oobbra ra nem nem em em nenenhnhum um dos dos seusseus cronotopos: ele está fora do mundo representado, embora não esteja cronotopos: ele está fora do mundo representado, embora não esteja fora da obra no seu todo. Esse diálogo ingressa no mundo do autor, fora da obra no seu todo. Esse diálogo ingressa no mundo do autor, do intérprete e no mundo dos ouvintes e dos leitores. E esses do intérprete e no mundo dos ouvintes e dos leitores. E esses mun-dos também são cronotópicos.
dos também são cronotópicos.
Mas como são apresentados os cronotopos do autor e do ouvinte Mas como são apresentados os cronotopos do autor e do ouvinte leitor? Primeiramente, eles aparecem na existência material exterior leitor? Primeiramente, eles aparecem na existência material exterior da obra e na sua composição puramente externa. O material da obra, da obra e na sua composição puramente externa. O material da obra, po
porérémm, , nãnão o é é ininerertete, , é é fafalalantnte, e, sisigngnifificicatativivo o (ou (ou sísígngnicoico), ), nónós s nãnão o oo vemos nem tocamos, mas sempre ouvimos a sua voz (mesmo numa vemos nem tocamos, mas sempre ouvimos a sua voz (mesmo numa leitura silenciosa e de si para si). Énos dado um texto que ocupa um leitura silenciosa e de si para si). Énos dado um texto que ocupa um lugar definido no espaço, ou seja, localizado; mas a sua criação, as lugar definido no espaço, ou seja, localizado; mas a sua criação, as informações que se tem dele fluem no tempo. O texto como tal não informações que se tem dele fluem no tempo. O texto como tal não é inerte. Se partirmos de qualquer texto, passando às vezes por uma é inerte. Se partirmos de qualquer texto, passando às vezes por uma longa série de elos intermediários, no final das contas sempre longa série de elos intermediários, no final das contas sempre che-garemos à voz humana, por assim dizer, a apoiamos no homem; garemos à voz humana, por assim dizer, a apoiamos no homem; poi
pois s o o textexto to esestá tá semsem prpre e coconsnsololididadado o sosobrbre e um um mmatatereriaial l mmororto to ququalal- -quer: nos estágios primeiros do desenvolvimento da literatura, sobre quer: nos estágios primeiros do desenvolvimento da literatura, sobre os sons físicos, no estágio da escrita, sobre os manuscritos (pedra, os sons físicos, no estágio da escrita, sobre os manuscritos (pedra, tijolo, couro, papiro, papel); posteriormente, o manuscrito pode tijolo, couro, papiro, papel); posteriormente, o manuscrito pode re-ceber a forma de um livro (livropergaminho ou livrocódex). Mas ceber a forma de um livro (livropergaminho ou livrocódex). Mas
qualquer que seja a forma dos manuscritos e dos livros, eles se qualquer que seja a forma dos manuscritos e dos livros, eles se en-contram já nos limites entre a natureza morta e a cultura; se nós os contram já nos limites entre a natureza morta e a cultura; se nós os abordamos como portadores do texto, eles entrarão no campo da abordamos como portadores do texto, eles entrarão no campo da cultura, no nosso caso, no campo da literatura. Naquele tempoespaço cultura, no nosso caso, no campo da literatura. Naquele tempoespaço totalmente real onde ressoa a obra, onde se encontra o manuscrito totalmente real onde ressoa a obra, onde se encontra o manuscrito ou o livro, encontrase também o homem real que criou a língua ou o livro, encontrase também o homem real que criou a língua fala-da, que ouve e lê o texto. Naturalmente, esses seres reais, autores da, que ouve e lê o texto. Naturalmente, esses seres reais, autores e ouvintesleitores, podem se encontrar (e freqüentemente se e ouvintesleitores, podem se encontrar (e freqüentemente se encon-tram) em temposespaços diferentes, separados às vezes por séculos e tram) em temposespaços diferentes, separados às vezes por séculos e p
por or didiststânâncicias as esespapaciciaiais, s, mamas s se se enencocontntraram m da da memesmsma a foformrma a nunum m mmuun- n-do uno, real, inacaban-do e histórico que é separan-do pela fronteira do uno, real, inacabado e histórico que é separado pela fronteira rigo-rosa e intransponível do mundo
rosa e intransponível do mundo representadorepresentado no texto. Por isso nós no texto. Por isso nós
po
podedemmos os chchamam ar ar esse esse mmunundo do dede criador criador do texto: pois todos os seus do texto: pois todos os seus
elementos — a realidade refletida no texto, os autores que o criam, elementos — a realidade refletida no texto, os autores que o criam, os intérpretes (se eles existem), e, finalmente, os ouvintesleitores que os intérpretes (se eles existem), e, finalmente, os ouvintesleitores que o reconstituem e, nessa reconstituição, o renovam — participam em o reconstituem e, nessa reconstituição, o renovam — participam em pa
partrtes es iguiguais ais da da crcriaiaçãção o do do mmunundo do rereprpresesenentatadodo. . DoDos s crcrononototopopos os rereaiaiss desse mundo representado, originamse os cronotopos refletidos e
desse mundo representado, originamse os cronotopos refletidos e criacria dos
dos do mundo representado na obra (no texto). do mundo representado na obra (no texto).
Como dissemos, entre o mundo real representante e o mundo Como dissemos, entre o mundo real representante e o mundo re- pr
presesenentataddo o na na oobbrara, , papassssa a umum a a frfroonnteteirira a ririgogororosa sa e e inintrtrananspspoonínívevel. l. IsIstoto nunca se pode esquecer; não se pode confundir, como se fez e até nunca se pode esquecer; não se pode confundir, como se fez e até hoje ainda se faz, o mundo representado com o mundo representante hoje ainda se faz, o mundo representado com o mundo representante (realismo ingénuo), o autorcriador da obra com o autorindivíduo (realismo ingénuo), o autorcriador da obra com o autorindivíduo (biografismo ingénuo), o ouvinteleitor de diversas (e muitas) épocas, (biografismo ingénuo), o ouvinteleitor de diversas (e muitas) épocas, que reconstitui e renova, com o ouvinteleitor passivo seu que reconstitui e renova, com o ouvinteleitor passivo seu contempo-râneo (dogmatismo de concepção e de avaliação). Confusões deste râneo (dogmatismo de concepção e de avaliação). Confusões deste género são totalmente inadmissíveis do ponto de vista metodológico. género são totalmente inadmissíveis do ponto de vista metodológico. Porém, é igualmente inadmissível a concepção dessa fronteira Porém, é igualmente inadmissível a concepção dessa fronteira rigo-rosa como absoluta e intransponível (especificação dogmática e rosa como absoluta e intransponível (especificação dogmática e sim- pl
plisistata). ). AApepesasar r de de totodda a ininseseppararababililididaade de dos dos mmunundodos s rereppreresesenntataddo o ee representante, apesar da irrevogável presença da fronteira rigorosa representante, apesar da irrevogável presença da fronteira rigorosa que os separa, eles estão indissoluvelmente ligados um ao outro e se que os separa, eles estão indissoluvelmente ligados um ao outro e se encontram em constante interação: entre eles ocorre uma constante encontram em constante interação: entre eles ocorre uma constante troca, semelhante ao metabolismo que ocorre entre um organismo vivo troca, semelhante ao metabolismo que ocorre entre um organismo vivo e o seu meio ambiente: enquanto o organismo é vivo, ele não se e o seu meio ambiente: enquanto o organismo é vivo, ele não se fun-de com esse meio, mas se for arrancado, morrerá. A obra e o mundo de com esse meio, mas se for arrancado, morrerá. A obra e o mundo nela representado penetram no mundo real enriquecendoo, e o nela representado penetram no mundo real enriquecendoo, e o mun-do real penetra na obra e no munmun-do representamun-do, tanto no processo do real penetra na obra e no mundo representado, tanto no processo da sua criação como no processo subseqíiente da vida, numa da sua criação como no processo subseqíiente da vida, numa cons-tante renovação da obra e numa percepção criativa dos tante renovação da obra e numa percepção criativa dos ouvinteslei-tores. Esse processo de troca é sem dúvida cronotópico por si só: ele tores. Esse processo de troca é sem dúvida cronotópico por si só: ele se realiza principalmente num mundo social que se desenvolve se realiza principalmente num mundo social que se desenvolve histo-ricamente, mas também sem se separar do espaço histórico em ricamente, mas também sem se separar do espaço histórico em
mu-tação. Podese mesmo falar de um cronotopo
tação. Podese mesmo falar de um cronotopo criativocriativo particular, no particular, no
qual ocorre essa troca da obra com a vida e se realiza a vida qual ocorre essa troca da obra com a vida e se realiza a vida parti-cular de uma obra.
cular de uma obra.
É preciso ainda que nos detenhamos brevemente sobre o autorcria É preciso ainda que nos detenhamos brevemente sobre o autorcria dor da obra e a sua atividade.
dor da obra e a sua atividade.
Encontramos o autor fora de sua obra como um homem que vive Encontramos o autor fora de sua obra como um homem que vive sua vida biográfica, mas dentro dela o encontramos como criador, sua vida biográfica, mas dentro dela o encontramos como criador, fora, porém, dos cronotopos representados, como que numa tangente fora, porém, dos cronotopos representados, como que numa tangente a eles. Nós o encontramos (isto é, a sua atividade) em primeiro a eles. Nós o encontramos (isto é, a sua atividade) em primeiro lu-gar na composição da obra: ele a desmembra em partes (cantos, gar na composição da obra: ele a desmembra em partes (cantos, ca- pí
pítutulolos, s, etetc.c.), ), quque e nnatatuuraralmlm eennte te rerececebebem m umuma a exexprpresessãsão o exexteteririoor r qquualal- -quer, mas que não se refletem diretamente nos cronotopos quer, mas que não se refletem diretamente nos cronotopos represen-tados. Esses desmembramentos variam segundo os diversos géneros. tados. Esses desmembramentos variam segundo os diversos géneros. Em alguns deles conservaramse tradicionalmente as divisões que eram Em alguns deles conservaramse tradicionalmente as divisões que eram determinadas pelas condições reais de execução e audição das obras determinadas pelas condições reais de execução e audição das obras desses géneros, nas épocas primeiras da existência prégráfica (oral). desses géneros, nas épocas primeiras da existência prégráfica (oral). Assim, nós distinguimos muito nitidamente o cronotopo do cantor e Assim, nós distinguimos muito nitidamente o cronotopo do cantor e o do ouvinte na articulação do cantos épicos antigos, ou o cronotopo o do ouvinte na articulação do cantos épicos antigos, ou o cronotopo da narração nos contos maravilhosos. Mas na articulação das obras da narração nos contos maravilhosos. Mas na articulação das obras da Idade Moderna são considerados tanto os cronotopos do mundo da Idade Moderna são considerados tanto os cronotopos do mundo representado, como os cronotopos dos leitores e dos criadores da obra, representado, como os cronotopos dos leitores e dos criadores da obra, isto é, realizase a interação dos mundos representado e isto é, realizase a interação dos mundos representado e
représen-tan
tant t e. Esta e. Esta interação interação reverevelaslase me m uito uito claramente claramente em em alguns alguns aspecaspectostos composicionais elementares: toda representação tem
composicionais elementares: toda representação tem começocomeço ee f fiimm,,
um acontecimento representado nela, também; entretanto, estes um acontecimento representado nela, também; entretanto, estes co-meços e fins se encontram em mundos diferentes, em cronotopos meços e fins se encontram em mundos diferentes, em cronotopos dife-rentes, que às vezes não podem se fundir ou se identificar e que, ao rentes, que às vezes não podem se fundir ou se identificar e que, ao mesmo tempo, estão correlacionados e ligados entre si. Poderíamos mesmo tempo, estão correlacionados e ligados entre si. Poderíamos dizer o seguinte: diante de nós há dois fatos — o que é contado na dizer o seguinte: diante de nós há dois fatos — o que é contado na obra e o que é da própria narração (deste último nós mesmos obra e o que é da própria narração (deste último nós mesmos parti-cipamo
cipamos como s como ouvintesleitores) ouvintesleitores) ; esses aco; esses acontecimntecimentos entos ocorrocorrem em emem tempos diferentes (diferentes também pela duração) e em lugares tempos diferentes (diferentes também pela duração) e em lugares di-ferentes; simultaneamente, eles estão indissoluvelmente unidos num ferentes; simultaneamente, eles estão indissoluvelmente unidos num acontecimento único, mas complexo, que nós podemos assinalar como acontecimento único, mas complexo, que nós podemos assinalar como a obra em sua plenitude factual, incluindo aqui seus dados materiais a obra em sua plenitude factual, incluindo aqui seus dados materiais externos, seu texto, o mundo nele representado, o autorcriador e o externos, seu texto, o mundo nele representado, o autorcriador e o ouvinteleitor. Assim, nós percebemos essa plenitude na sua ouvinteleitor. Assim, nós percebemos essa plenitude na sua totali-dade e indivisibilitotali-dade, mas ao mesmo tempo compreendemos dade e indivisibilidade, mas ao mesmo tempo compreendemos tam- bé
bém m totoda da a a ddiviverersisidadade de dos dos elelememenentotos s quque e a a comcompõpõemem..
O autorcriador movese livremente no seu tempo: ele pode O autorcriador movese livremente no seu tempo: ele pode come-çar sua narrativa pelo fim, pelo meio ou por qualquer instante dos çar sua narrativa pelo fim, pelo meio ou por qualquer instante dos
acontecimentos representados, sem com isso destruir o curso objetivo acontecimentos representados, sem com isso destruir o curso objetivo do tempo no acontecimento representado. Aqui manifestase do tempo no acontecimento representado. Aqui manifestase clara-mente a diferença entre o tempo que representa e o tempo que é mente a diferença entre o tempo que representa e o tempo que é re- p
preresesentntadado.o. No
No enentatanntoto, , dadaí í sursurge ge um um prproboblelemma a mmais ais gegeraral: l: de de quque e popontnto o espaespa çotemporal observa o autor os acontecimentos por ele representados? çotemporal observa o autor os acontecimentos por ele representados? Primeiramente, eles os observa a partir de sua contemporaneidade Primeiramente, eles os observa a partir de sua contemporaneidade inacabada em toda a sua complexidade e completude, encontrandose inacabada em toda a sua complexidade e completude, encontrandose ele mesmo como que numa tangente da realidade representada. Esta ele mesmo como que numa tangente da realidade representada. Esta contemporaneidade por onde observa o autor, compreende contemporaneidade por onde observa o autor, compreende principal-mente o domínio da literatura; não só contemporânea, no sentido mente o domínio da literatura; não só contemporânea, no sentido estrito da palavra, mas também passada, que continua a vida e se estrito da palavra, mas também passada, que continua a vida e se renova na atualidade. O domínio da literatura e, mais amplamente, da renova na atualidade. O domínio da literatura e, mais amplamente, da cultura (da qual não se pode separar a literatura) compõe o contexto cultura (da qual não se pode separar a literatura) compõe o contexto indispensável da obra literária e da posição do autor nela, fora da indispensável da obra literária e da posição do autor nela, fora da qual não se pode compreender nem a obra nem as intenções do autor qual não se pode compreender nem a obra nem as intenções do autor nela representadas7. A relação do autor com as diferentes nela representadas7. A relação do autor com as diferentes manifes-tações literárias e culturais assume um caráter dialógico, análogo às tações literárias e culturais assume um caráter dialógico, análogo às interrelações entre os cronotopos do interior da obra (sobre os quais interrelações entre os cronotopos do interior da obra (sobre os quais nós falamos acima). Mas estas relações dialógicas entram numa esfera nós falamos acima). Mas estas relações dialógicas entram numa esfera
semântica
semântica particular que extrapola os quadros da nossa análise pura- particular que extrapola os quadros da nossa análise
pura-mente cronotópica. mente cronotópica.
Como já dissemos, o autorcriador, situandose fora dos Como já dissemos, o autorcriador, situandose fora dos cronoto- pos
pos do do mmuundndo o ppoor r ele ele rereppreresesentntadado, o, enencocontntrarasse e nãnão o exexatatamam enente te foforara,, mas como que na tangente desses cronotopos. Ele pinta o mundo ou mas como que na tangente desses cronotopos. Ele pinta o mundo ou do ponto de vista de um personagem que participa do fato ilustrado, do ponto de vista de um personagem que participa do fato ilustrado, ou do ponto de vista do narrador, ou do falso autor, ou, finalmente, ou do ponto de vista do narrador, ou do falso autor, ou, finalmente, sem recorrer a ninguém como intermediário, ele conduz a narrativa sem recorrer a ninguém como intermediário, ele conduz a narrativa diretamente por si, como autor verdadeiro (no discurso direto do diretamente por si, como autor verdadeiro (no discurso direto do autor); mas neste caso, ele também pode representar o mundo espaço autor); mas neste caso, ele também pode representar o mundo espaço temporal, com os seus eventos,
temporal, com os seus eventos, como secomo se ele o visse, o observasse, ele o visse, o observasse, como se
como se ele fosse a sua testemunha onipresente. Mesmo se ele escre- ele fosse a sua testemunha onipresente. Mesmo se ele
escre-vesse uma autobiografia ou a mais verídica das confissões, como seu vesse uma autobiografia ou a mais verídica das confissões, como seu criador, ele igualmente permanecerá fora do mundo representado. Se criador, ele igualmente permanecerá fora do mundo representado. Se eu narrar (escrever) um fato que acaba de acontecer comigo, já me eu narrar (escrever) um fato que acaba de acontecer comigo, já me encontro,
encontro, como narrador como narrador (ou escritor), fora do tempoespaço onde o (ou escritor), fora do tempoespaço onde o
evento se realizou. É tão impossível a identificação absoluta do meu evento se realizou. É tão impossível a identificação absoluta do meu "eu” como o "eu” de que falo, como suspender a si mesmo pelos "eu” como o "eu” de que falo, como suspender a si mesmo pelos cabelos. O mundo representado, mesmo que seja realista e verídico, cabelos. O mundo representado, mesmo que seja realista e verídico, nunca pode ser cronotopicamente identificado com o mundo real nunca pode ser cronotopicamente identificado com o mundo real re- pr
presesenentatanntete, , ononde de se se enencoconntrtra a o o auautotorrcrcriaiaddoor r desdessa sa imimageagem. m. Eis Eis ppoor-
r-7 Aqui vamos nos abstrair dos outros domínios da experiência social e 7 Aqui vamos nos abstrair dos outros domínios da experiência social e pessoal do autor-criador.