Campos Eletromagnéticos & Saúde Pública: Efeitos de EMF no meio ambiente
Folha de Informação Fevereiro de 2005
Os níveis dos campos eletromagnéticos (EMF) de fontes construídas pelo homem têm crescido constantemente nos últimos 50-100 anos. A maioria das exposições a EMF vem do crescente uso da eletricidade e de novas tecnologias. Nas últimas décadas, os potenciais efeitos adversos da exposição a EMF na saúde humana têm sido um importante tópico de pesquisa. Entretanto, pouco tem sido publicado sobre o impacto de EMF no meio ambiente terrestre e aquático.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) está conduzindo esse assunto através do Projeto Internacional EMF. Um dos objetivos do projeto é prover recomendações para as autoridades nacionais e outros interessados sobre os efeitos dos EMF na saúde e no meio ambiente e medidas ou ações de proteção caso necessário.
Essa folha de informação resume os atuais entendimentos científicos sobre os efeitos da exposição à EMF no meio ambiente vivo, dentro do espectro eletromagnético na faixa de freqüência de 0-300 GHz. Essa faixa cobre todas as freqüências que são emitidas no ambiente através do uso de tecnologia EMF. Também são dadas recomendações para que pesquisas futuras possam preencher lacunas no conhecimento necessário para melhor avaliar os impactos dos EMF no meio ambiente.
HÁ ALGUMA RAZÃO PARA SE PREOCUPAR COM OS EFEITOS DE EMF NO MEIO AMBIENTE?
O conhecimento de quaisquer impactos ambientais dos EMF é importante para assegurar a preservação de ecossistemas terrestres e marinhos, os quais formam a base para o desenvolvimento sustentável. A proteção do meio ambiente e a conservação da natureza tornaram-se assuntos de grande interesse do público em geral bem como para os governos. Esse interesse geralmente é expresso pela preocupação sobre os possíveis impactos ambientais dos grandes projetos tecnológicos, como as represas, usinas nucleares e transmissores de radiofreqüência. Muitos projetos estão sujeitos à pressões públicas do setor ambiental, a qual EMF é uma questão, mas não necessariamente a única. Por exemplo, um transmissor de rádio de alta freqüência (HF) proposto para a Voz da América em Israel, a qual poderia ser a maior estação de rádio do mundo, teve sua construção bloqueada pelo setor ambiental, em parte relacionada à preocupações sobre potenciais efeitos de campos de radiofreqüência nos pássaros migratórios.
A preocupação pública sobre exposição do meio ambiente à EMF tem se estendido desde reclamações de redução da produção de leite em vacas pastando debaixo de linhas de transmissão até danos à árvores perto de radares de alta potência. Essas preocupações também podem afetar o desenvolvimento de novas tecnologias: vários projetos têm sido propostos desde o final dos anos 60 para gerar energia elétrica no espaço por conjuntos de painéis solares em órbita. Grandes quantidades de eletricidade gerada pelos satélites de
energia solar poderiam ser transmitidas para antenas terrestres de tamanho considerável. Além de superar as dificuldades técnicas, essas e outras novas tecnologias terão que conquistar a aceitação pública.
FONTES DE EXPOSIÇÃO AMBIENTAL
Emissões, tanto de fontes naturais quanto artificiais, compõem o ambiente de EMF que vivemos. Fontes naturais, que incluem radiação de EMF do sol, da terra e da atmosfera incluindo descargas elétricas atmosféricas (relâmpagos), proporcionam apenas uma pequena fração de toda emissão de EMF na faixa de freqüência de 0-300 GHz. Fontes construídas pelo homem da maioria das tecnologias têm se tornado um componente importante do total de emissões de EMF no meio-ambiente. Fontes relevantes no ambiente incluem:
Transmissores de Rádio FM e TV: Os campos de radiofreqüência mais intensos na maioria das áreas urbanas estão associados com os serviços de rádio e TV (para maiores informações, ver Fact Sheet 183). Nas áreas urbanas, as contribuições das estações rádio base dos sistemas de telefonia celular podem alcançar amplitudes similares.
Radar: Sistemas de radar são usados em vários serviços que vão desde a navegação até sistemas de vigilância aeronáutica e de mísseis (para maiores informações, ver Fact Sheet 226). Espera-se que os sistemas de radar anticolisão de veículos venham a ser muito utilizados.
Linhas de Transmissão de Alta Tensão: Linhas de transmissão entregam eletricidade (geralmente em 50 ou 60 Hz) e podem atravessar centenas de quilômetros (para maiores informações relacionadas a seus efeitos na saúde humana, veja os Fact Sheets da OMS 205 e 263).
Cabos de Força Submarinos: Cabos submarinos são usados na Europa (especialmente na Escandinávia e Grécia), Canadá, Japão, Nova Zelândia e Filipinas para transmitir energia elétrica através da água. Esses cabos usualmente conduzem altas correntes DC que chegam até milhares de ampères ou mais.
Para a maioria dessas fontes, EMF substanciais só existem próximos à fonte, onde pode exceder os limites internacionais de exposição das pessoas (ICNIRP, 1998). Essas áreas geralmente não são acessíveis ao público mas podem ser acessadas pela fauna. Longe das fontes de EMF, os campos diminuem rapidamente à intensidades abaixo dos limites de exposição recomendados pela ICNIRP.
RESUMO DOS ESTUDOS RELEVANTES Animais
A maioria dos estudos sobre os efeitos de EMF em animais têm sido conduzidos para investigar os possíveis efeitos adversos em humanos. Esses são geralmente realizados em laboratórios padrões de animais utilizados em estudos toxicológicos, como por exemplo ratos e camundongos, mas alguns estudos também têm incluído outras espécies como moscas de vida curta para investigação de efeitos genotóxicos. O assunto dessa folha de
informação, entretanto, é quando EMF podem causar impactos nocivos às espécies de animais selvagens e domésticos. Estão em consideração:
Espécies, em particular certos peixes, répteis, mamíferos e pássaros migratórios, os quais contam com o campo magnético estático (geomagnético) natural como um dos inúmeros parâmetros tidos como responsáveis pela orientação e navegação; Animais de fazenda (exemplo: suínos, ovinos e bovinos) pastando embaixo de
linhas de força (50/60 Hz) ou nos arredores de antenas de transmissão;
Fauna voadora, como pássaros e insetos, os quais podem passar através do feixe principal das antenas de radiofreqüência de alta potência e feixes de radar ou através de campos ELF de alta intensidade próximos às linhas de força.
Estudos realizados até agora encontraram pouca evidência sobre os efeitos de EMF na fauna em níveis abaixo dos estipulados pela ICNIRP. Em particular, não foram encontrados efeitos adversos no gado pastando embaixo de linhas de força. Entretanto, sabe-se que a desempenho dos vôos dos insetos podem ser prejudicados em campos elétricos acima de 1 kV/m, mas efeitos significantes somente apareceram em abelhas quando colméias eletricamente condutoras são colocadas diretamente embaixo das linhas de força. Condutores não isolados e não aterrados colocados em um campo elétrico podem se tornar carregados e prejudicar ou interromper as atividades de animais, pássaros e insetos.
Vegetação
Estudos de plantas e safras em exposição a campos de 50-60 Hz não mostraram efeito algum nos níveis encontrados normalmente no meio-ambiente, nem em níveis de campos diretamente sob linhas de força maiores que 765 kV. Entretanto, a variabilidade dos parâmetros associados às condições ambientais que afetam o crescimento das plantas (exemplo: solo, tempo) provavelmente impedirá a observação de qualquer possível efeito de baixo nível da exposição a campos elétricos. Os danos à árvores são bem conhecidos e ocorrem com forças de campos elétricos muito acima dos níveis da ICNIRP devido à radiação descarregada (efeito corona) nas pontas das folhas. Esses níveis de campos são encontrados apenas perto dos condutores de linhas de força de tensão muito alta.
Vida Aquática
Embora todos os organismos estejam expostos ao campo geomagnético, animais marinhos também estão expostos a campos elétricos naturais causados pelas correntes marinhas que se movem através dos campos geomagnéticos. Peixes com sensibilidade elétrica, como os tubarões e as arraias nos oceanos e o peixe-gato na água doce, podem se orientar por meio dos seus órgãos eletro-receptores em resposta a campos elétricos muito baixos. Alguns pesquisadores sugeriram que EMF construídos pelos homem, como cabos de força submarinos, podem interferir no senso de predação ou nas habilidades de navegação desses animais nas proximidades dos cabos marinhos. Entretanto, nenhum dos estudos realizados até agora, para avaliar o impacto dos cabos submarinos nos peixes migratórios (exemplo: salmão e enguias) e toda a fauna relativamente imóvel que habitam o fundo do mar (exemplo: moluscos), encontraram qualquer impacto comportamental ou biológico substancial.
CONCLUSÃO
O limitado número de estudos publicados sobre o risco de EMF à ecossistemas terrestres e aquáticos demonstram pouca ou nenhuma evidência de um impacto ambiental significativo, exceto por alguns efeitos perto de fontes muito fortes. Segundo as informações disponíveis até o momento, os níveis de exposição da ICNIRP para proteção da saúde humana também protegem o meio ambiente.
O QUE DEVE SER FEITO?
Estudos ambientais são necessários pois qualquer influência de EMF em plantas, animais como pássaros e outros organismos vivos, enquanto importante no seu próprio direito, poderia também, em última análise, causar impacto na vida e na saúde humana. Entretanto, muitos dos trabalhos existentes nessa área tiveram métodos diversos e qualidades não uniformes. Uma agenda coordenada de pesquisa que trate das questões científicas destacadas pelo crescimento dos níveis dos EMF no ambiente ainda não existe. Tendo em vista os fatos discutidos acima, não há necessidade urgente em dar prioridade à pesquisa desse assunto em relação a outros tópicos de saúde. Entretanto, enquanto existe um pequeno, mas ativo empenho de pesquisa nessa área, seria informativo:
Planejar a pesquisa dos efeitos biológicos em espécies selvagens para observar e identificar suas possíveis respostas às novas fontes de energia de EMF construídas pelo homem. A escolha apropriada das espécies para estudo é muito importante (exemplo: pássaros que podem entrar em áreas de campo de alta intensidade),
Desenvolver diretrizes ambientais sobre exposição a EMF em diferentes freqüências, considerando a informação dos estudos realizados. Essas diretrizes podem ser semelhantes às desenvolvidas para saúde humana, mas com as devidas adaptações para assegurar que os níveis de EMF estejam abaixo dos que possam produzir conseqüências adversas ao meio ambiente.
ONDE POSSO ENCONTRAR MAIS INFORMAÇÕES? As seguintes referências tratam mais profundamente esse assunto:
Matthes R., Bernhardt J., Repacholi M., editors: Proceedings of the International Seminar on Effects of Electromagnetic Fields on the Living Environment, Ismaning, Germany, ICNIRP, 2000 (ICNIRP 10/2000).
Foster K. and Repacholi M. Environmental Impacts of Electromagnetic Fields From Major Electrical Technologies. EMF Project report: http://www.who.int/peh-emf/publications/reports/en/env_impact_emf_from_major_elect_tech_foster_repach oli.pdf
Matthes R., Bernhardt J., McKinlay A., editors: Guidelines on Limiting Exposure to Non-Ionizing Radiation, ICNIRP, 1999 (ICNIRP 7/99). http://www.icnirp.org
All WHO Fact Sheets are available at http://www.who.int/docstore/peh-emf/publications/facts_press/fact_english.htm
Para acesso à versão original deste texto entre no link abaixo:
