BIB
BIBLI
LIOTEC
OTECA
A PÓLE
PÓLEN
N
Para q
Para quem não quer confund
uem não quer confundir
ir rigor com rigid
rigor com rigidez,
ez, é útil
é útil consid
considerar
erar que
que
afiloso
afilosofia
fia não é
não é somen
somente
te uma ex
uma exclusivi
clusividade
dade desse comp
desse competente
etente e
e titulad
tituladoo
téc
técnic
nico
o cha
chamad
mado
o filó
filósof
sofo.
o. Nem
Nem sem
sempre
pre ela se apre
ela se apresen
sentou
tou em pú
em públic
blicoo
revesti
revestida de trajes acadêm
da de trajes acadêmicos,
icos, cultiva
cultivada
da em
em viveiro
viveiros protetores
s protetores contra
contra
o pe
o perig
rigo
o da refle
da reflexão
xão:
: a pr
a própr
ópria
ia crít
crítica
ica da razão
da razão, , de Kan
de Kant,
t, com todo o
com todo o
seu
seu apara
aparato
to tecnol
tecnológico,
ógico, visava
visava, declaradam
, declaradamente,
ente, liberta
libertar
r os
os objeto
objetos da
s da
metafí
metafísica
sica do "monopó
do "monopólio
lio das Es
das Escolas"
colas"..
O
O filosofar,
filosofar, desde
desde aa Antiguidade,
Antiguidade, tem acontecido
tem acontecido naforma
naforma defragmentos,
defragmentos,
poemas,
poemas, diálogos,
diálogos, cartas,
cartas, ensaios,
ensaios, confissôes,
confissôes, meditaçôes,
meditaçôes, paródias,
paródias,
peripatéticos
peripatéticos passeios,
passeios, acompanhados
acompanhados de
de infindável
infindável comentário,
comentário, sempre
sempre
recom
recomeçado,
eçado, e
e até os m
até os modelos
odelos mais clássi
mais clássicos
cos de sist
de sistema
ema (Espin
(Espinosa
osa com
com
sua ética, Hegel com sua lógica, Fichte com sua dou
sua ética, Hegel com sua lógica, Fichte com sua doutrina
trina da ciên
da ciência)
cia) são
são
atingid
atingidos
os nesse
nesse própri
próprio
o estatut
estatuto
o sistem
sistemático
ático pelo pa
pelo paradoxo
radoxo constit
constitutivo
utivo
que osfaz
que osfaz viver. Es
viver. Essa vitalidade
sa vitalidade da
da filosofi
filosofia,
a, em sua
em suas múltiplas formas,
s múltiplas formas,
é
é
d
deno
enomin
minado
ador
r com
comum
um dos livro
dos livros
s des
desta
ta col
coleçã
eção,
o, que não se prete
que não se pretende
nde
dis
discipl
ciplina
inarme
rmente
nte filo
filosóf
sófica
ica, , mas
mas, jus
, justam
tament
ente,
e, por
portad
tadora
ora des
desses
ses grã
grãos
os
de an
de antido
tidogma
gmatism
tismo
o que imp
que impede
edem
m o
o pen
pensam
samento
ento de enc
de enclau
lausur
surar-s
ar-se:
e: um
um
convite à liberdade
convite à liberdade e à a
e à alegria da
legria da reflexã
reflexão.
o.
Ruben
Rubens
s Rodrig
Rodrigues
ues Torres
Torres Filho
Filho
G.E. Lessing
G.E. Lessing
LAOCOONTE
LAOCOONTE
ou
ou
sobre as fronteiras da
sobre as fronteiras da
Pintura e da Poesia
Pintura e da Poesia
Com es
Com escla
clarec
recime
imento
ntos
s oca
ocasio
sionai
nais
s sob
sobre
re
difer
diferente
entes
s pont
pontos
os da h
da histór
istória
ia da art
da arte an
e antiga
tiga
Introdução,
Introdução, tradução
tradução e notas
e notas
Márcio Seligmann-Silva
Márcio Seligmann-Silva
ILUMJ4'URAS
ILUMJ4'URAS
PREFÁCIO
PREFÁCIO
o
o
primeiro que
primeiro
que comparou
comparou pintura
pintura
22e poe
e poesia
sia entr
entre
e si-era um hom
si-era um homem
em
de sen
de sentim
timent
ento'
o' fin
fino, que notav
o, que notava
a em si um efeit
em si um efeitoo
44semel
semelhante
hante de am
de ambas
bas
as ar
as artes
tes. Ambas
. Ambas, , ele perc
ele percebe
ebeu,
u, rep
repres
resent
entam
am par
para
a nós coisa
nós coisas
s aus
ausente
entess
como pre
como presentes
sentes, , a a
a aparên
parência
cia como efet
como efetividade
ividade; ; ambas iludem e a
ambas iludem e a ilusão
ilusão
de ambas
de ambas gera prazer.
gera prazer.
5 5Um segund
Um segundo
o procur
procurou
ou penetr
penetrar
ar no in
no interior
terior desse prazer e des
desse prazer e descobriu
cobriu
que em ambas as artes ele fluía da mes
que em ambas as artes ele fluía da mesma
ma fonte. A bele
fonte. A beleza,
za, cujo conceito
cujo conceito
nós
nós primei
primeirament
ramente
e deriva
derivamos
mos de
de objetos corpóreos
objetos corpóreos, , possui regras gerais,
possui regras gerais,
que po
que podem
dem ser apl
ser aplica
icadas
das a mu
a muita
itas
s cois
coisas:
as: a açõ
a ações,
es, a pe
a pensa
nsamen
mentos,
tos, bem
bem
como a formas.
como a formas.
Um terc
Um terceiro
eiro, , que refl
que refletiu
etiu sob
sobre
re o valo
o valor
r e sobr
e sobre
e a rep
a reparti
artição
ção des
dessas
sas
regras gerai
regras gerais,
s, notou que umas domina
notou que umas dominavam
vam mais na pintu
mais na pintura,
ra, outras mais
outras mais
na po
na poesia
esia; ; que
que, , por
portan
tanto,
to, aqu
aqui i a po
a poesia
esia pod
poderia
eria aju
ajudar
dar a pi
a pintur
ntura
a com
com
esc
esclar
larecim
eciment
entos
os e ex
e exemp
emplos
los, , ali a p
ali a pint
intura
ura fari
faria
a o mes
o mesmo
mo com rela
com relação
ção
à à
poesia.
poesia.
O pri
O primei
meiro
ro era o amado
era o amador;
r; o segu
o segundo
ndo o filó
o filósofo
sofo; ; o terc
o terceir
eiro
o o crít
o crítico
ico
de arte.
de arte.
66Os doi
Os dois
s pri
primei
meiros
ros não pod
não podiam
iam fac
facilm
ilment
ente
e faz
fazer
er um uso inc
um uso incorre
orreto
to
nem do se
nem do seu senti
u sentimen
mento,
to, nem das sua
nem das suas conclu
s conclusõe
sões.
s. Pelo con
Pelo contrár
trário,
io, as
as
observ
observações
ações do cr
do crítico
ítico de ar
de arte na su
te na sua maio
a maior
r parte dependem
parte dependem da c
da correçã
orreçãoo
da apli
da aplicaç
cação
ão ao cas
ao caso
o sin
singul
gular;
ar; e, um
e, uma vez
a vez que tem havi
que tem havido
do par
para cada
a cada
um
um c
críti
rítico
co de art
de arte com
e com pen
penetra
etração
ção de ent
de entend
endime
imento
nto out
outros
ros cin
cinque
quenta
nta
com espírit
com espírito,7 seria um milagre
o,7 seria um milagre se es
se essa aplicação
sa aplicação tivesse
tivesse sido reali
sido realizada
zada
sem
sempre
pre com tod
com toda
a a ca
a caute
utela
la nec
necess
essária
ária par
para
a se m
se mant
anter
er o ba
o balan
lanço
ço ent
entre
re
ambas as artes.
ambas as artes.
Se Apele
Se Apele e Protóg
e Protógenes
enes
XX , ,nos seu
nos seus escrit
s escritos
os perdid
perdidos
os sobre a
sobre a pintura
pintura,,
confir
confirmaram
maram e
e esclare
esclareceram
ceram as
as regras dela através das regras da po
regras dela através das regras da poesia
esia
já
já estabelecidas,
estabelecidas, então
então podemos
podemos com
com certeza
certeza acreditar
acreditar que
que isso
isso deve
deve
ter sid
ter sido
o fei
feito
to com a mo
com a moder
deraçã
ação
o e a e
e a exati
xatidão
dão com as qua
com as quais
is nós ain
nós ainda
da
hoj
hoje
e vem
vemos
os Ari
Aristó
stótele
teles,
s, Cíc
Cícero
ero, , Hor
Horáci
ácio,
o, Qui
Quintil
ntilian
ian00
99apl
aplicar
icarem
em nas
nas
su
poesia. É prerrogativa dos antigos não fazer nada nem de mais nem
de menos.
Mas nós modernos
lOfrequentemente acreditamos termo-nos posto
em diversas coisas muito acima deles quando nós transformamos os seus
pequenos caminhos prazerosos em estradas; por mais que as estradas,
mais curtas e mais seguras, dirijarn-se para sendas, bem como atravessem
desertos.
A ofuscante antítese do Voltaire grego, segundo a qual a pintura seria
uma poesia muda e a poesia uma pintura falante,11 decerto não figurava
em um manual. Foi um achado, como muitos outros de Simônides, cuja
parte verdadeira é tão evidente, que cremos ter de deixar despercebido
o elemento indeterminado e errado que ela traz consigo.
Não obstante, os antigos não deixaram de o perceber. Antes,
restringindo o dito de Simônides ao efeito das duas artes, eles não se
esqueceram de precisar que, apesar da completa semelhança desse efeito,
elas ainda assim são diferentes, tanto quanto aos objetos como também ao
modo da imitação deles (u[lhl kai. tro,poij mimh,sewj [quanto à matéria
e aos modos de imitação]).
Mas, como se não houvesse em absoluto uma tal diferença, muitos
dos críticos de arte mais modernos deduziram as coisas mais parvas
do mundo a partir dessa concordância entre a pintura e a poesia. Ora
eles forçaram a poesia dentro dos confins estreitos da pintura; ora
eles deixaram a pintura preencher toda a larga esfera da poesia. Tudo
que está certo para uma, também deve ser permitido para a outra;
tudo o que agrada ou desagrada numa delas, deve necessariamente
também agradar ou desagradar na outra; e, tomados por essa ideia,
eles proferem no tom mais firme os juízos mais rasos quando eles
tomam por erros as divergências recíprocas entre as obras do poeta
e do pintor sobre um mesmo objeto12, para em seguida culpar uma
arte ou a outra, conforme eles tenham maior gosto pela arte poética
ou pela pintura.
Essa pseudocrítica inclusive seduziu em parte os próprios virtuoses. 13
Ela gerou na poesia a mania da descrição e na pintura o alegorismo; 14
assim procurou-se fazer da primeira uma pintura falante, sem se saber
propriamente o que ela pode e deve pintar, e da segunda um poema
mudo, sem se ter refletido em que medida ela pode expressar conceitos
universais sem se distanciar da sua determinação e se transformar num
tipo de escrita arbitrário
l5.
Trabalhar contra esse gosto errôneo e contra esses juízos infundados,
tal é a intenção principal dos estudos a seguir.
Eles surgiram casualmente e cresceram mais em função da sequência
das minhas leituras do que por meio de um desenvolvimento metódico
de .princípios universais 16.Trata-se, portanto, mais de uma colletanea
desorganizada para um livro do que um livro.
Ainda assim eu me gabo que, mesmo como tais, eles não deverão ser
totalmente desprezados. A nós alemães não faltam livros sistemáticos. A
partir de um par de definições aceitas deduzir tudo aquilo que queremos
na mais bela ordem, quanto a isso somos melhor do que qualquer nação
no mundo.
Baumgarten deu a conhecer que os exemplos da sua Estética foram
em grande parte extraídos do dicionário de Gesner. Se o meu raciocínio
não é tão conciso quanto o baumgarteano, ao menos os meus exemplos
terão mais o sabor da fonte.17
Uma vez que, por assim dizer, eu parto do Laocoonte
l8e volto diversas
vezes a ele, eu quis conceder a ele também uma participação no título.
Outras pequenas digressões sobre diferentes pontos da história da arte
antiga pouco contribuem para o meu objetivo e encontram-se aqui porque
não posso ter esperança de dedicar-lhes algum dia um local melhor.
Ainda recordo que eu compreendo sob o nome de pintura as artes
plásticas em geral; assim como não excluo o fato de, sob o nome de
poesia, não ter levado em conta também as demais artes cuja imitação
NOTAS
I) [Cf. quanto aos planos de Lessing de escrever outras partes para o seu Laocoonte a última nota do capo XXIX.]
2) [Lessing tratará da comparação - e, portanto, da competição no sentido da aenlulatio
retórica e do paragone de Leonardo da Vinci - entre a pintura e a poesia. Apesar de ele destacar no final do prefácio que compreende "sob o nome de pi ntura as artes plásticas em geral", toda a sua atenção se dirigiu para a pintura. Essa limitação foi criticada posteriormente por Herder na primeira das suas Kritische \Vdlder. Cf. Herder,
Kritische Wiilder, in: Ausgewiilte Werke in Einzelausgabe. Schriftel1 zur Literatur 2/1,
org. Regine OUo, Berlin, Weimar, 1990.]
3) ["Sentimento" traduz Gefiihl. Esse termo possui muitas vezes em Lessing o sentido de "sensação". O mesmo tipo de oscilação de significado vale para o termo ElI1pfindung.
que após os românticos pode ser vertido normalmente sem mais por "sensaçâo", mas que em Lessing via de regra corresponde ao que compreendemos hoje sob os termos "sentimento" e "afeto". Cf. a nota de Michele Cometa à sua tradução do Laocoonte
de Lessing, Palermo, 1991, p. 125.]
4) [EJeito traduz aqui Wirkung, termo alemão consagrado pela dita Wirkungsiisthetik da escola de Konstanz, a estética da recepção. Portanto, o estudo do efeito das obras de arte sobre o espectador, ou seja, a análise da recepção já está posta logo na abertura do texto. Mais adiante Lessing afirma que o efeito das artes é igual, os objetos e o modo da imitação que seriam diversos. O efeito que as obras de arte buscam é justamente a "restituição" do objeto representado. Cada arte deve se adequar a esse fim e a Estética se desenvolve partindo dessa abordagem intersemiótica. Cf. a introdução quanto a esse ponto.]
5) [A dívida de Lessing para com a Poética de Aristóteles já fica clara nesse primeiro parágrafo: a arte é definida como representação, como imitação (lI1i.mhsijl de algo
ausente; portanto, ela é essencialmente jogo ilusório, Tiiuschung, engano que agrada.
Quanto ao papel da ilusão na teoria de Moses Mendelssohn e de outros dos seus contemporâneos, cf. a introdução.]
6) [Tradicionalmente essas três personagens paradigmáticas que Lessing lança mão para introduzir o percurso do saber no campo da estética são identificadas respectivamente com Nicolai (1733-1811, amigo de Lessing e de Mendelssohn, junto com eles editou a importante Bibliothek der schônen Wissenschaften e as Briefe, die neuesle Literalur belreffend) o "amador"; Moses Mendelssohn, o "filósofo"; e com o próprio Lessing, o "crítico de arte". Breitinger, não obstante, afirmou na sua Critische Dichlkunst (Zürich, 1740, v. I, pp. 14 ss.) algo muito semelhante ao que diz o "amador" em questão: "Ambos, o pintor e o poeta possuem o mesmo intuito, a saber, representar para nós coisas ausentes e dá-Ias para que nós possamos as sentir e as perceber [empjinden]".
Esse artifício de dramatização da exposição teórica é constante ao longo do texto. Lessing utiliza, para tanto, sobretudo a polêmica. A expressão "crítico de arte" é a tradução de Kunslrichter, literalmente, "juiz da arte", termo que caiu em desuso a partir dos românticos Novalis e Friedrich Schlegel. Cf. Walter Benjamin, Der Begrijj' der Kunstkritik in der deuschen Romantik, trad. por mim: Oconceito de crítica de arte no romantismo alemão, São Paulo, Iluminuras, 1993.]
7) ["Penetração de entendimento" traduz schafjsinnig e "com espírito" é a tradução de
wilzig. Essa oposição, ScharfsinnlWitz, era usual na época e opõe o discurso lógico e preciso (que, cartesianamente, procede de modo claro e distinto) ao pensamento
combinatório, que fUflciona com base na associação de semelhanças. Essa oposição pode ser encontrada, entre outros autores, em Hobbes, Locke, Wolff,A.G. Baumgarten, Meier, Gottsched e em Mendelssohn. Burke na "Introduction on Taste" da sua
Philosophiral enquiry into the origins of our ideas of the sublime and beautiful, de 1757 (Oxford, Nev; 't'ork, Oxford University Press, 1992, p. 17), afirmou com relação a esses conceitos: "M/: Locke very justly andfinely observes of wit, lhat it is chiej/y conversant in tracing resenlblances; he remarks atthe same time, thatlhe business of judgment is ralher infinding differences. [t ma)' perhaps appear, on this supposilion,
thm tlzere is no material distinctiol1 between the wit and lhe judgment, as they both
seemIl)resuftfroll1 difterent operalions ofthe same faculty ofcomparing. But in reality,
whether theyare or are not dependent on the same power ofthe mind, they differ so very materially in many respects, thal a perfect wúon of wil a1'ldjudgment is one of the rarest things in the world. When lwo distinct objects are unlike to each olher, it is only whal we expecl; things are in their comll1on way; and therefore they make no impression on the imagination: hut when tll'Odistinct objects have a resemblance we are struck, we attend to them, and we are pleased. The mind of man has naturally a far greater alacrity and satisfaction in tracing resell1blances than in searching for differences; beca use by lI1aking resemblances we produce new images, we unite, we create, we enlarge our stock". Posteriormente, como é bem conhecido, o Witz tornou--se um conceito-chave na poética e na filosofia de Friedrich Schlegel e de Novalis.] 8) [Apele e Protógenes, pintores gregos do século IV a.c. Quanto aos escritos perdidos
desses pintores aos quais Lessing se refere, cf. C. Plini Secundi Naturalis Historia Libri XXXVlf, ed. K. Fr. Th. Mayhoff, Leipzig: Teubner. 1892-1909 (1967), v. V, p.
258 (35,79).]
9) [Cf. sobretudo: Platão, Fedro, 275d; Aristóteles, Poética, 1-11;VI; e Politico, VIll, 5, 7; Cícero, Brutus, XVIlI, 70; Orator, 11.5, 8; De Oratore, l!, 70;
m,
7, 26; Quintiliano,lnstiturio Oratoria, 2, l3, 8 sS.; 5, 12,21: Horácio, Ars poetica, 1-13 e 361-365. Cf. a nossa introdução e a bibliografia quanto ao tema da relação entre a poesia e a pintura, ou seja, o topos da uI pictura poesis.]
10) ["Mas nós modernos", essa introdução deixa claro o contraponto com os "antigos" e destaca um dos lopoi mais importantes da intrincada trama de temas e subtemas que perpassa toda esta obra, a saber, o topos da quereI/e des anciens et des modernes. Esse conflito entre a modernidade e a antiguidade clássica constitui nesta obra mais uma manifestação da escrita como aemulatio, que não se resolve propriamente. Lessing aparece aqui como um adepto dos antigos, mas já na suaHamburgische Dramaturgie
esse fascínio compete (paraR01w) com a sua admiração por Shakespeare. O teatro burguês, nacional, que ele tem em mente seria uma espécie de original que conseguiu
cortar o cordão umbilical que o ligava à fonte pura da tragédia grega. As discussões em torno dessa querela com os antigos e da autoafirmação dos Estados e línguas nacionais levou tanto Lessing (sobretudo nesta última obra mencionada) quanto muitos de seus contemporâneos a fundar uma reflexão teórica sobre a tradução. Cf. Jürgen von Stackelberg, "Das Ende der 'belles infidêles'. Ein Beitrag zur franzosischen Übersetzungsgeschichte", in: Festschrifl zum60.Geburtstsg von Mario Wandruszka,
org. Karl-Richard Bausch e Hans-Martin Gauger, Tübingen, 1971,pp. 583-596; Walter Frãnzel, Geschichte des Übersetzens im18. Jahrhundert, Leipzig, 1913; e Thomas Huber, Studien zur Theorie de Übersetzens im Zeilalter der deutschen Aufkldrung 1730--l770, Meisenheirn a. Glan, 1968.J
11) lO "Voltaire grego" é Simônides de Ceos (556-468 a.c.), autor de poemas líricos e de elegias. Plutarco, no seu De gloria Atheniensium (3, 346 d), cita o seu famoso aforismo "a pintura é uma poesia muda; a poesia uma pintura que fala", que Winckelmann,
esculturas mais famosas da Antiguidade, data de cerca de 140 a.c. - i.e., da época de inflexão entre o declínio do mundo grego e o nascimento de Roma como potência europeia. Em 1506 foi encontrada em Roma uma cópia romana de mármore dele (a partir do original de bronze) de autor ia de tr ês escultores de Rodes da era do reinado
de Tibério (4-37 a.C.) que pode ser vista até hoje no Vaticano, onde ela foi abrigada. Uma ideia do original grego de bronze, embora sem o braço direito de Laocoonte, encontrado apenas em 1904, pode ser obtida a partir da observação do bronze do grupo Laocoonte de autoria de Primaticcio, de 1540 realizada em Fontainebleau. Os conhecimentos quanto a essa escultura eram ainda muito obscuros
à
época de Lessing, que desconhecia a existência de um original de bronze. Apenas a partir de importantes descobertas arqueológicas de 1957, em Sperlonga, a arqueologia desvendou os mistérios que envolviam essa obra. Cf. quanto a essa escultura os dois livros de Bernard Andreae, Laokoon und die Kunst von Pergamon. Die Hybris der Giganten,Frankfurt am Main, Fischer, 1991 ;eLaokoon und die Gründung Roms. Mainz, 1988.] por sua vez, utilizou como epígrafe no seu Versuch einer Allegorie, besonders für die
Kunst, publicado em 1766, o mesmo ano do Laocoonte. Simônides era valorizado pelos seus epigramas na mesma medida em que era criticado pela sua mal-afamada
cobiça por dinheiro e pela sua feiura. Lessing, portanto, dá com essa comparação mais uma das suas famosas alfinetadas em Voltaire. No seu "Epitáfio a Voltaire 1779" esse verdadeiro ódio contra o filósofo francês alcança as raias da paranoia. Vale a pena citar essa típica peça do humor mordaz de Lessing: "Aqui jaz - se em vocês podemos crer,! Prezados senhores! - aquele que se olvidara de morrer.! O bom Deus perdoe com misericórdia! A sua Henriade,! As suas tragédias,! E poesias pias:/ Pois o que de resto ele tem,! Isso ele fez muito bem".J
12) ["Objeto" é a tradução de Vorwurf, tenno recorrente ao longo da obra. Como o dicionário
Duden etimológico nos ensina, no sentido de "um objeto de trabalho artístico" esse termo é empregado desde o século XIV derivado da palavra latina objectllm, que, por sua vez, derivou do grego próblema. Desde o século XVlII o termo alemão é utilizado para denominar o objeto, o tema, a matéria ou motivo, na literatura, nas artes plásticas e na música.]
13) [ O Virtuoso é uma figura que Lessing encontrara descrita em Shaftesbury, para quem
"Arts and Virtues [are] mutually Friends", como se lê no seu Advice to an Author
das Characteristics (apud. Eva Engel, in: M. Mendelssohn, Gesammelte Sehriften.
JubiJaumausgabe. Stuttgart/ Bad Cannstadt, v. IV:Rezensionsartikel in Bibliothek der schOnen Wissenschften und der freyen Künste (1756·1759), 1977, p. 438).J 14) [A crítica da alegoria era uma constante nos escritos sobre Estética do Iluminismo.
Lessing desenvolveu essa crítica na sua importante obra Abhandlung über die Fahel
de 1759 que já continha muitos dos teoremas centrais do seu Laocoonte.]
15) [Quanto a esse conceito de escrita arbitrária, cf. a nossa discussão sobre Dubos na introdução. J
16) [Lessing nos fragmentos e notas preparatórias para o Laocoonte (publicados e indicados aqui como Paralipomena) havia escrito em vez de "princípios universais" [allgemeine Grundsdtze], "conceitos distintos" [deutliche Begri.ffe]. Mendelssohn, que lera e anotara esses Paralipomena, indicou ao seu amigo numa nota: "universais, pois todos os conceitos da pintura são distintos" (L, p. 216). A descrição que Lessing faz nesse parágrafo da sua obra como uma apresentação não sistemática de notas de leitura e das suas reflexões deve ser lida não tanto como uma tática de captatio benevolentiae,
mas antes como uma estratégia para simular ignorância - sobretudo quanto à obra de Winckelmann, Geschichte der Kunst des Altertums, publicada em 1763.]
17) [Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), professor de filosofia em Frankfurt/Oder c aluno de Christian Wolff. A sua Aesthetica foi publicada em latim em dois volumes entre 1750 e 1758. Vemos aqui mais um exemplo da ironia lessingeana. A Estética
de Baumgarten além de representar uma dessas obras '"alemãs sistemáticas", às quais Lessing se refere, é tida como a obra que fundou a Estética enquanto uma disciplina autônoma dentro da filosofia. A passagem a que Lessing se refere encontra-se no "Praefatio". Johann Mathias Gesner (1691-1761) foi diretor da Thomasschule em Leipzig e, posteriormente, professor de oratória em GOttingen. A obra referida por Lessing é: Novus linguae et eruditionis Romanae thesaurlls, 4 volumes, 1747-1748.] 18) [Laocoonte, sacerdote troiano de Apolo, foi castigado por sua desobediência quando quis revelar aos troianos a artimanha do cavalo. Quando da partida simulada dos gregos, durante um sacrifício ao deus do mar, Posídon, que ele realizava na praiajunto com os seus dois filhos, os deuses enviaram duas cobras, Pórcia e Caribeia, sobre os três. Lessing discute no capítulo cinco o passo da Eneida de Virgílio que descreve esse evento. O grupo de mánnore que representa Laocoonte com seus filhos, uma das
I
o
sinal distintivo universal principal das obras-primas gregas na
pintura e na escultura o senhor Winckelmann localiza numa nobre
simplicidade e numa grandeza quieta' tanto no posicionamento quanto
na expressão. "Assim como as profundezas do mar", ele diz
2,
"sempre
permanecem calmas, por mais que a superfície se enfureça, do mesmo
modo a expressão nas figuras dos gregos mostra, em todas as paixões,
lima alma grande e sedimentada.
Essa alma, apesar do sofrimento extremo, está exposta na face do
I
,aocoonte e não apenas na face. A dor que se revela em todos os músculos
l'
tendões do corpo e que nós sem observar a face e as outras partes,
upenas no abdome dolorosamente retraído, quase que cremos estarmos
II<ÍSmesmos a sentir; essa dor, eu dizia, exterioriza-se no entanto sem
lIt'llhuma fúria na face e em todo o posicionamento. Ele não brada nenhum
",rito terrível, como Virgílio canta do seu Laocoonte; a abertura da boca
1 1 < 1 0
o permite: trata-se muito mais de um gemido medroso e oprimido,
("omo Sadolet' o descreve. A dor do corpo e a grandeza da alma são
distribuídas, e como que balanceadas, por toda a construção da figura
com a mesma força. Laocoonte sofre, mas ele sofre como o Filoctetes de
SMocles: a sua miséria penetra até a nossa alma; mas nós desejaríamos
poder suportar a miséria como esse grande homem.
A expressão de uma alma tão grande vai muito além da transformação
da bela natureza. O artista deveria sentir em si mesmo a força do espírito
qlle ele grava no seu mármore. A Grécia possuía artista e filósofo em
lima pessoa, e mais do que um Metrodoros
4.A sabedoria estendia a mão
para a arte e soprava nas suas figuras mais do que almas ordinárias etc."
A observação que é fundamental aqui, que a dor não se mostra na
lace de Laocoonte com aquela fúria que se deveria supor devido à sua
violência, é perfeitamente correta. Também é incontestável que justamente
onde o pretenso conhecedor deveria julgar que o artista ficou abaixo da
natureza e não atingiu o verdadeiramente patético da dor; exatamente
nisso, eu afirmo, a sabedoria dele brilha de modo muito especial.
Apenas no que toca ao motivo que o senhor Winckelmann atribui a
essa sabedoria, na universalidade da regra que ele deriva a partir desse
motivo, eu ouso ser de uma outra opinião.
Eu confesso que o olhar lateral de reprovação que ele lança sobre
Virgílio, em primeiro lugar, me deixou perplexo; e em seguida a
comparação com o Filoctetes.
5Eu quero partir desse ponto e escrever os
meus pensamentos precisamente na ordem na qual eles se desenvolvem
em mim.
"Laocoonte sofre como o Filoctetes de Sófocles." Como sofre este? É
estranho como o seu sofrimento deixou em nós impressões tão diferentes
As lamentações, o grito, as maldições selvagens com as quais a sua dor
preenche o campo e atrapalha todo sacrifício, todos os rituais sagrados,
ressoavam de modo não menos terrível pela ilha deserta e foram eles
que o haviam desterrado para lá. Quais sons de pesar, de lamento, de
desespero que também o poeta na sua imitação deixa ressoar o teatro.
Alguns acharam o terceiro ato dessa peça desproporcional mente mais
curto que os demais. Com isso vê-se, afirmam os críticos de arte
6,
que os
antigos não se importavam com a igualdade de comprimento dos atos. Eu
também creio nisso; mas nesse caso eu preferiria me basear num outro
exemplo do que nesse. As exclamações de lamento, o gemer, os ~A eX,eX,
eX,epEÚ,anc(,[O:L,
WIJ.OL,1J.0L!
[â, â,pheú, auata!, ai de mim!] quebrados,
as frases inteiras repletas de TIO:TIO:L,
TIO:TIO:L
[papai, papai],que constituem
esse ato e que deviam ser declamadas com alongamentos e interrupções
muito diferentes daqueles necessários num discurso ordenado fizeram
com que a representação desse ato sem dúvida durasse praticamente tanto
quanto os outros. Ao leitor ele parece ser muito mais curto no papel do
que terá parecido aos ouvintes.
O grito é a expressão naturaF da dor corporal. Os guerreiros de
Homero não raro caem no chão aos gritos. A Vênus arranhada grita
altaR;não para a expor com esse grito como a deusa branda da volúpia,
mas antes para fazer justiça à natureza sofredora. Pois mesmo o brônzeo
Marte, quando ele sentiu a lança de Diomedes, gritou de modo tão
horrível, como se dez mil guerreiros enfurecidos gritassem ao mesmo
tempo, de modo que os dois exércitos se espantaram.
9Por mais que Homero, de resto, eleve os seus heróis acima da natureza
humana, eles permanecem, no entanto, sempre fiéis a ela quando se trata
das sensações de dor e de ofensa, quando se trata da exteriorização dessas
sensações pelo grito ou pelas lágrimas, ou pelas invectivas. Segundo
os seus atos trata-se de criaturas de tipo mais elevado; segundo os seus
sentimentos, verdadeiros humanos.
Eu sei que nós, finos europeus de uma posteridade mais aquinhoada
em entendimento, sabemos dominar melhor a nossa boca e os nossos
olhos. Cortesia e decoro
lOproíbem gritaria e lágrimas. A coragem ativa
da primeira idade do mundo rude transformou -se em nós numa coragem
passiva. É verdade que mesmo os nossos avós eram melhores nesta que
naquela. Mas os nossoS avós eram bárbaros. Suportar todas as dores,
olhar de frente o golpe da morte sem mover os olhos, morrer sorridente
sob as mordidas das cobras, não chorar nem os pecados nem a perda
do seu melhor amigo, são traços da antiga coragem heroica nórdica.
11Palnatoko deu aos cidadãos de Jomsburg
12a lei de não temer a nada e
nào proferir nem uma vez a palavra medo.
O grego não era assim! Ele sentia e temia; ele externava as suas dores
c as suas aflições; ele não se envergonhava de qualquer das fraquezas
humanas; mas nenhuma poderia detê-lo no seu caminho para a honra
l'
para o cumprimento da sua obrigação. O que nos bárbaros advinha
da selvageria e do endurecimento, atuava nele como princípios. Nele
o heroísmo era como as faíscas escondidas no cascalho, que dormem
calmamente enquanto nenhuma força externa as despertam e não roubam
da pedra nem a clareza nem o frio. Nos bárbaros o heroísmo era uma
llama clara devoradora que sempre bramia e consumia, ou no mínimo
obscurecia, toda e qualquer boa qualidade neles. Quando Homero conduz
para a batalha os troianos com gritos selvagens e, em contrapartida, os
gregos em resoluta quietude, os intérpretes notam com razão que o poeta
desse modo quer expor aqueles como bárbaros e estes como um povo com
moral. Admira-me que eles numa outra passagem não tenham notado uma
semelhante oposição característica,u Os exércitos inimigos estipularam
uma trégua; eles se ocupam com a cremação dos seus mortos, o que se
passa dos dois lados não sem quentes lágrimas; õáKpUO:SEplJ.&XÉOVTEÇ
Iderramando lágrimas quentes]. Mas Príamo proíbe os seus troianos
de chorar; ouo' E'lo:KÀO:LELV
IIpLO:lJ.oçIJ.Éyo:ç[O grande Príamo, entanto,
proibiu choro]. Ele os proíbe de chorar, diz a Dacier
14,
pois ele receia que
eles possam se amolecer demais e no dia seguinte ir para a luta com menos
coragem. Correto; ainda assim eu pergunto: por que apenas Príamo deve
recear isso? Por que Agamenon não proíbe o mesmo aos seus gregos? O
sentido do poeta vai mais ao fundo. Ele quer nos ensinar que apenas o
grego com a sua moral pode chorar e ser corajoso ao mesmo tempo; por
outro lado o troiano sem moral, para sê-lo, antes deveria sufocar toda
humanidade. NEflEOoWlJ.aL
yE f lEv OUOEV
KÀaLELV
[não julgo possível de
censurai quem chora], ele permite que o ponderado filho do sábio Nestor
o profira num outro ponto.
15É notável que entre as poucas tragédias que chegaram da Antiguidade
até nós, encontram-se duas peças nas quais a dor corporal não constitui a
menor parte do infortúnio que recai sobre o herói. Além do Füoctetes, o
Hércules morrendo
1ó•
E também este último, Sófocles deixa lamentar-se,
gemer, chorar e gritar. Graças aos nossos gentis vizinhos, esses mestres
do decoro, de ora avante um Filoctetes gemente, um Hércules que
grita, seriam as personagens as mais ridícuLas e insuportáveis no palco.
É verdade que um dos seus poetas mais modernos
l]aventurou-se no
Filoctetes. Mas ele podia ousar mostrar a eles o verdadeiro Filoctetes?
Mesmo um Laocoonte encontra-se entre as peças perdidas de Sófocles.
Se o destino nos tivesse concedido, sim, também esse Laocoonte! A partir
das breves menções que alguns dos gramáticos antigos fizeram a ele, não
se pode concluir como o poeta tratou a sua matéria. De uma coisa eu
estou certo, que ele não teria exposto o seu Laocoonte mais estoico que
Filoctetes e Hércules. Todo estoico é não teatral; e a nossa compaixão é
sempre proporcional ao sofrimento que o objeto de interesse manifesta. Se
nós o vemos suportar a sua miséria com grande alma, então essa grande
alma irá decerto despertar a nossa admiração, mas a admiração é um
afeto frio, cujo maravilhar desprovido de atividade exclui qualquer outra
paixão mais quente, bem como qualquer outra representação distinta.18
E agora eu chego no meu corolário. Se é verdade que, sobretudo
segundo o modo de pensar dos gregos antigos, o gritar na sensação de
dor corporal pode coexistir muito bem com uma grande alma: portanto a
expressão de uma tal alma não pode ser a causa pela qual, apesar disso,
o artista não quer imitar esse grito no seu mármore; antes deve haver
um outro motivo por que aqui ele separa-se do seu rival, o poeta, que
expressa esse grito com o melhor propósito.
NOTAS
1I I'"Nobre simplici dade" e '"grandeza quieta" traduzem, respectivamente. edle Einfalt e
"rille Cr6jJe,1 , ,
'iIcm der NadwhlTlul1!!, der griechi.\Chen Werke in der Malerel und BLidhauerkunst, pp, 21-22, [Lessing cita a partir da segunda edição desta obra de 1756 (1. ed" 1755) que continha um acréscimo anônimo, Sendschreihen üher dle Gedanken von,der NlU"hnitmllng der griechischen Werke in der Malerel und BLidhauerkunst e o Importante texto que Winckelmalln acrescentou também em 1756 à g~lsa de resposta aos seus críticos (também aqui uma espécie de polêmIca encenada), Erlaurerung der Gedanken mn der iVachelhmung der griechischen Werke in der Malerei und Bildhauerkunst; und Beal1tworlung des Sendschreibens über diese Gedanken, Esses textos enc~ntram-se
numa bela coletânea de obras teóricas do pré-classicismo alemão que reune esses trabalhos de Willckelmann (além das suas famosas descrições do Apolo e do Torso do Belvedere, bem como do próprio grupo Laocoonte) e também os do seu amIgo Anton Raphael Mellgs e os de Wilhelm Heillse.
cr
Winckelmann, Mengs, Hemse,Frühklassizisl11us. org, Helmut pfotenhauer et aL, Frankfurt am MaIn, Deutsche Klassiker Verlag, 1995, (Bibliothek der Kunstliteratur, v, lI).]
\) [Tanto o poema de Sadolet quanto o passo de Virgílio sobre o Laocoonte encontram-se transcritos mais adiante por Lessing.]
,I) [Metrodoros, século V a,C., filósofo e pintor,
I
. '
'i) [Lessing sentia-se especialmente seguro quanto a Sófocles, uma vez qu~ ele pesqUl.sara sobre esse autor para o seu estudo Sophokles, de 1760, Flioctetes e uma figura da mitologia grega que recebera de Héracles um arco e uma flecha como recompensa por ter acendido a pira funerária que este construíra paraSI sobre o monte Eta. Segundo
um oráculo, Troia só seria conquistada com esse arco e essa flecha" Flloctetes fOI abandonado na ilha de Tênedo durante a viagem para Traia, após ter Sido p1Ca~o por uma cobra, o que lhe provocara uma terrível ferida. Mais tarde UlIsses e Neoptolemo
voltaram para levá-lo para Troia,J ., '
6) Brumoy, Theat, des Grecs, LH, p, 89, [Pierre Brumoy (1688-1742),JesUlta pesq~lsador da Antiguidade, autor de Le Théôtre de, Gren, onde se pode ler (v, lI. ~mste,~da, 1732. p, 89): "Mais les Anciens ne s'embarassoient pas de faire ?es Actes egaux , Lessmg
cita essa obra de Brumoy também no seu trabalho sobre Seneca, de 1754.] '. ' 1) [Novamente vemos aqui uma alusão à distinção centr,al na incipiente semlotIca do
século XVIII, a saber à divisão dos signos em naturaIS e artlhclals, - O gnto e as lágrimas são tratados nas cartas sobre a tragédia de Lessing (1756-1757) como signos da "humanidade" dos heróis gregos, Cf, sobretudo a carta de 28.11,1756 a Moses Mende1ssohn.]
8) li" V, v, 343, ~
6 ,
w'ya LlÍ.XOlJOa- [Alto. então. gritou a deusaJ.9) 1/., V, v, 859, 'f
10) [Nesse parágrafo observa-se uma alusão irônica à QuereI/e, sendo qu: esta se mam esta juntamente com uma crítica óbvia ao classicismo de cunho frances, marcad~" par~ Lessing, pela "cortesia e decoro", Na Hamburgische Dramaturgle essa cntlca e
desdobrada de inúmeros modos,] ,
1 1 ) T Iz . Bartholilllls de causis contemptae a Danis adhuc gentilihus mO~lLs,cap, I. [In:
Antiquitares [)llnicae, 1690, Thomas Barttholinus (1619-1680), medICO e er~dlto
dinamarquês_ HerdeI' criticou essa oposição, para ele slmpltsta, entre o herOIsmo bárbaro e o grego, evidentemente defendendo os povos nórdicos. E interessante notar
que a tentativa de Herder conectar a Antiguidade grega à tradição germânica era um topos do nacionalismo da sua época que contaminou também Holderlin e Friedrich Schlegel pós-revista Athendum. Cf. Herder, op. cit., pp. 25 ss.]
12) [Palnatoko, herói lendário dinamarquês do século X, fundou a cidade de piratas Jomsburg na ilha Wollin. A sua história é narrada no capítulo XIV da J011lsl'ikinga Saga de Bartholinus.]
13) ll., VII, v. 421.
14) [Cf. a tradução da J1íada de autoria de Anne Dacier (1686-1775), adeptadosAnciens, esposa do famoso filólogo André Dacier e ela mesma filóloga. A tradução em prosa da Mme. Dacier - que também traduziu a Odisseia - fora elogiada, entre outros, por Gottsched no seu Versuch einer Critischen Dichtkunst vor die Deutschen; reimpressão fac-similar da quarta edição (Leipzig, 1751); Darmstadt, quinta edição, 1962, p. 149.] 15) Od., IV, 195.
16) [A morte de Hércules foi tratada por Sófocles nas suas Traquíneas.]
17) Chataubrun. [Jean-Baptiste Vivien de Châteaubrun (1686-1775) publicou a sua tragédia em cinco atos Philoctete em 1756. Mais abaixo, no capítulo IV, Lessing retoma a esse autor.]
18) [Esse último argumento contra o estoicismo e a "admiração" ou "maravilhar-se"
(Bewunderung) expressa o ponto de vista de Lessing (contra Mendelssohn) que
ele tratara nas suas cartas sobre a tragédia de 1756-1757. Também o conceito de "compaixão", Mitleid, desse parágrafo é central naquelas cartas, bem como na
Hamburgische Dramaturgie (cf. sobretudo a parte de número 75).]
II
Que seja fábula ou história que o Amor tenha realiZado a primeira
lentativa nas artes plásticas: uma coisa é certa, ele não se cansou de guiar
as mãos dos grandes mestres antigos.
lPois se agora em geral a pintura,
enquanto a arte que imita corpos em superfícies, é explorada em todo o seu
âmbito; o sábio grego havia lhe imposto fronteiras muito mais estreitas e
a limitado apenas à imitação de belos corpos. Seu artista pintava apenas o
belo; mesmo o belo ordinário, o belo de gêneros mais baixos, constituía
apenas o seu objeto casual, seu exercício, sua distração. A perfeição do
objeto mesmo nas suas obras deveria extasiar; ele era grande demais
para exigir dos seus observadores que eles deveriam se content ar com o
mero deleite frio que advém da semelhança atingida, da consideração da
sua habilidade; nada era mais da sua predileção, nada parecia-lhe mais
nobre, do que o fim último da arte.
"Quem vai querer te pintar, se ninguém quer te ver", diz um antigo
epigramatista
2sobre um humano extremamente deformado. Alguns
artistas modernos diriam; "Seja tão deformado quanto possível; eu ainda
quero te pintar. Por mais que já ninguém queira te ver de bom grado:
ver-se-á de bom grado a minha pintura; não na medida em que ela te
represente, mas antes na medida em que ela é uma prova da minha arte,
que sabe imitar de modo tão semelhante um tal monstro".
Certamente essa tendência para a ostentação exuberante com
enfadonhas habilidades, que não são enobrecidas pelo valor dos seus
objetos, é natural demais para que também os gregos não devessem ter
tido os seus Pausão, os seus Pireicus.' Eles os possuíam; mas lançaram
sobre eles uma justiça rigorosa. Pausão, que ainda se detinha no belo
da natureza comum e cujo gosto inferior expressava de preferência o
defeituoso e o feio na forma humana
4,
viveu na mais desprezível pobreza.
5E Pireicus, que pintava com toda a diligência de um pintor dos países
baixos, barbearias, oficinas sujas, jumentos e hortaliças, como se tais
coisas tivessem tanta graça na natureza e fossem tão raras de serem
vistas, recebeu o apelido de Rhyparographo
6,o pintor de sujeira; apesar
descrições dessa pintura o mencionam, portanto, tanto mais deverei tratá-lo c()mo lllll acréscimo com o qual Valéria quis enriquecê-Ia a partir da Sllacabeça. [Cf. quant() ao passo de Cícero, M. Tu/li Ciceronis Scripta QUl1eManseruntOmnia, Fase. 50rator,
org. R. Westmann, Stuttgart, Teubneri, 1967, p. 22. Quant() ao passo de Quintiliano, cf. Inst. Oratoria, 2,13,13 (na trad. de H. E. ButIerda Harvard University Press, T:he Loeb Classical Library, Londres, 1989, v.lI, p. 295).1
24) Bellorii, Admiranta, Tab. 11, 12. 25) [Nas Traquíneas de Sófocles, v. 786-788.1 26) Plínio, libr. XXXIV, sect. 19.
27) [Pitágoras Leontino, cerca de 460 a.c., pintor grego que na verdade nascera em Reggio.]
28) "Eundem", a saber, Míron [artista da Ática do século V a.C.l, lê-se n() Plínio, (libr. XXXIV, sect. 19)"viàt et Pytagoras Leontinus, quifeeit stadiodromem Astylon. qui O/ympiae ostenditur: et Libyn puerum tenentem tabulam, eodem loco. et malaferentem nudum. Syracusis autem claudicantem: cuius hulceris dolorem sentire etiam sl,ectantes vidcntur." ["O mesmo (Míron) foi ainda sobrepujado por Pitágoras de Leontino, que realizou o corredor Astilo que se vêem Olímpiae umjovem líbio segurando um quadro, no mesmo local, e um nu portando maçãs; em Siracusa um coxo: os espectadores eles mesmos parecem sentir a dor da sua chaga." Citaçã() alterada.] Consideremos mais detidamente as últimas palavras. Não se fala evidentemente aí de um personagem que é conhecido em toda parte por causa de uma úlcera dolorosa'! "Cuius hulceris" etc. E esse
"cuius" deveria referir-se ao mero"claudicantem", e o"claudicantem" talvez ao ainda mais distante "puerum"'! Ninguém tem mais direito que Filoctetes de ser conhecido por uma tal úlcera. Eu leio, portanto, em vez de"c!audicantem", "Philoctetem", ou
ao menos defendo que o último foi trocado pelo primeiro e que dever-se-ia ler os dois juntos, "Philoctetem claudicantem". [Vemos aqui um claro exemplo da "filologia"
da época de Lessing; passagens são modificadas com base em meras conjecturas
(Konjekturalkritik). De resto, Riedel nas suas notas sobre o Laocoonte ("Über den Laokoon des Herrn LeBings", in:Philosophische Bibliothek, V. 11,Halle, 1769, pp.
1-30) notou que essa conjectura já havia sido proposta por Gronovius, i. e., Johann Friedrich Gronov (1611-1671), professor de filologia de Leiden.] Sófocles o deixa acL~ov KaT' àVtXYKav epnELV[arrastar-se penosamente pelo caminho] e isso devia causar uma claudicação de tal modo que ele poderia pisar com menos força no pé doente. [A citação de Sófocles está alterada, nos versos correspondentes (Ph. 206-207) lemos: TOU aT[~ov KUT' àVtXYKav I 'ÉpnovTOç,"de quem se arrasta penosamente pelo caminho".]
III
Mas, como já mencionamos, a arte conquistou nos tempos
moder-IIOSfronteiras incomparavelmente mais largas. A sua imitação, diz-se,
,'\tender-se-ia a toda natureza visível, da qual o belo é apenas uma
pequena parte, Verdade e expressão seriam a sua primeira lei; e assim
como a natureza mesma sacrificaria a toda hora a beleza a intenções
superiores, do mesmo modo também o artista deveria subordiná-Ia ao
seu desígnio universal e não entregar-se a ela mais do que verdade e
expressão o permitem. Em suma, graças à verdade e à expressão o mais
feio da natureza é transformado num belo da arte.
Posto que se quisesse de primeiro deixar esses conceitos incontestados
nos seus valores ou desvalores: não se deveria fazer outras considerações
independentes deles sobre por que, a despeito disso, o artista deveria
comedir-se na expressão e nunca colhê-la do ponto supremo da ação?1
Eu creio que o momento único no qual os limites materiais da arte
conectam todas as suas imitações levar-nos-á a tais considerações.
Se o artista só pode utilizar da natureza sempre em transformação
nunca mais do que um único momento e o pintor, em particular, esse único
momento também apenas a partir de um único ponto de vista; se ainda
as suas obras são feitas não apenas para serem meramente olhadas, mas,
antes, consideradas, serem longamente e repetidas vezes consideradas:
então é certo que aquele momento único e único ponto de vista desse
único momento não podem ser escolhidos de modo fecundo demais. Mas
só é fecundo o que deixa um jogo livre para a imaginação. Quanto mais
nós olhamos, tanto mais devemos poder pensar além.
2Quanto mais
pen-samos além disso, tanto mais devemos crer estar vendo.
3Mas no decorrer
inteiro de uma emoção nenhum momento possui menos essa vantagem
do que o degrau mais elevado dela. Além dele não há nada e mostrar
ao olho o extremo significa atar as asas da fantasia e obrigá-Ia, uma vez
que ela não consegue escapar da impressão sensível, a ocupar-se sob ela
com imagens fracas, sobre as quais ela teme a plenitude da expressão
como se fosse a sua fronteira. Quando, portanto, Laocoonte suspira, a
imaginação pode escutá-lo gritar; se, no entanto, ele gritasse, ela não
poderia nem subir um degrau acima na sua representação, nem descer
um degrau abaixo, sem olhá-lo num estado mais tolerável e, portanto,
mais desinteressante. Ela o escuta apenas gemendo ou já o vê morto.
4E mais. Se esse momento único recebe graças
à
arte uma duração
imutável, então ele não deve expressar o que não se possa pensar senão
enquanto transitório.
5Todos os fenômenos que, segundo os nossos
con-ceitos, nós computamos como parte da sua essência que eles possam
irromper de repente e desaparecer de repente, que eles possam ser aquilo
que eles são por apenas um momento; todos os fenômenos desse tipo,
quer sejam agradáveis ou terríveis, adquirem, graças
àprolongação da
arte, um aspecto tão antinatural, que a cada olhar repetido a impressão
toma-se mais fraca e, finalmente, o objeto todo gera asco e horror em nós.
La Mettrie
6,que deixou-se pintar e gravar como um segundo Demócrito,
ri apenas da primeira vez que o olhamos. Se o contemplamos mais vezes
ele transforma-se de filósofo em néscio; seu riso transforma-se em careta.
O mesmo ocorre com o gritar. A dor violenta que arranca o grito, logo
cede ou destrói o sujeito que sofre. Mesmo, portanto, quando o homem
o mais paciente e constante
7grita, ainda assim evidentemente ele não
grita ininterruptamente. E é apenas esse aparente ser ininterrupto que
na imitação material da arte transformaria o seu gritar numa impotência
feminina, em algo puerilmente insuportável. Ao menos isso o artista do
Laocoonte deveria ter evitado se o gritar já não tivesse prejudicado a
beleza, se também tivesse sido concedido à sua arte expressar o
sofri-mento sem a beleza.
Entre os pintores antigos, aparentemente Timomac0
8elegeu
pre-ferencialmente temas de extrema emoção.
O seu Ájax furioso, a sua
Medeia assassina de crianças, eram pinturas famosas. Mas, a partir das
descrições que nós possuímos delas, fica claro que ele compreendeu
de modo primoroso e combinou um com o outro aquele ponto no qual
o observador não vê o extremo, mas antes o pensamento o adiciona,
com um fenômeno ao qual não ligamos necessariamente o conceito de
transitório, já que a sua prolongação graças à arte deveria desagradar.
Ele não tomou a Medeia no momento em que ela efetivamente assassina
os filhos
9;mas antes, alguns momentos antes, quando o amor maternal
ainda luta com o ciúmes. Nós prevemos o fim dessa luta. Trememos
antecipadamente pelo simples fato de logo ver a horrível Medeia e a
nossa imaginação vai muito além de tudo o que o pintor poderia mostrar
nesse terrível momento. Mas justamente devido a esse fato, a indecisão
de Medeia que perdura na arte nos violenta tão pouco que nós, antes,
Jesejamos que também na natureza se estancasse nesse ponto, que a luta
Jas paixões nunca se tivesse definido, ou ao menos, tivesse se detido até
4ue o tempo e a reflexão tivessem enfraquecido a fúria e pudessem
asse-gurar a vitória dos sentimentos maternais. Essa sabedoria de Timomaco
atraiu para ele elogios constantes e grandes, e o alçaram muito acima de
um outro pintor desconhecido, que havia sido suficientemente incauto
para mostrar a Medeia na sua suprema loucura, fornecendo assim uma
Juração a esse grau fugaz e superficial da extrema loucura que revolta
toda a natureza.
O poeta lOque o condena nesse caso, diz portanto muito
engenhosamente, dirigindo-se à própria imagem: "Estás constantemente
sedento pelo sangue dos teus filhos? Sempre está aí um novo Jasão e
uma nova Creusa que te exasperam incessantemente? - Para o verdugo
contigo, também nas pinturas!", acrescentou ele com todo desgosto.
O Ájax furioso de Timomaco pode ser julgado a partir do que afirma
Filostrato.
1 1Ájax não aparece quando ele enfurece-se em meio ao rebanho
e toma o gado e os carneiros por pessoas, os imobiliza e mata.
12Antes o
mestre mostra como ele após esse ato heroico louco, senta-se cansado e
trama o seu próprio suicídio. E isso é efetivamente o Ájax enlouquecido;
não porque ele esteja louco exatamente agora, mas antes porque se vê que
ele esteve enlouquecido; porque apreende-se a grandeza da sua loucura
do modo mais vivaz a partir da vergonha cheia de desespero que ele
mesmo sente sobre ela. Vê-se a tempestade nas ruínas e nos cadáveres
que ele lançou no campo.
NOTAS
1) [A teoria desse ponto supremo, da sua natureza conforme cada arte, é tratada no capítulo XVI. Shaftesbury fora um dos que antecederam Lessíng nesse ponto na sua obraA
notion of the historical draught or tablature of the judgement r d Hercules, 1713.] 2) [A arte só existe para Lessing no campo da imaginação: o efeito da arte para se realizar
exige um espaço livre para o desdobramento do jogo da imaginação. A obra de arte deve fazer com que o espectador "queira ver mais": ela não pode se abrir completamente. Cada arte deve reger esse jogo conforme o seu meio. Daí Lessing - junto com alguns de seus contemporâneos, como Diderot e Mendelssohn - dever ser considerado como um dos pais da Medieniisthetik. Winckelmann também defendera essa ideia da necessária opacidade da obra de arte nosErliiuterungen der Gedanken: "O nosso entendimento possui além disso o mau hábito de prestar atenção apenas naquilo que não é descoberto pelo primeiro olhar, e de deixar para trás displicentemente aquilo que lhe é claro como o sol: por isso imagens desta última categoria deixam frequentemente apenas um traço momentâneo na memória, como o navio na água" (op. cit., p. 116). Cf. ainda Burke: "a great clearness helps but little towards affecting the passions, as it is in some sort an enemy to ali enthusiasm whalsoever" (op. cit.. p. 56).] 3) [O objetivo último das artes é, como eu notei na introdução, a evidentia, a ilusão da
presença do objeto representado. Essa é a suma da estética da representação. cuja superação iniciar-se-á com a estética da "criação abi,oluta" do romantismo.] 4) [Essa teoria da escolha correta do parhos na exposição artística foi retomada, entre
outros, por Schiller no seu texto Oher das Pathetische, de 1793.]
5) [A Representação do transitório é condenada aqui porque o seu efeito prolongado no
tempo causa asco - novamente esse termo que, como já afirmei, funciona para Lessing como o limite da arte bela. O "transitório" funciona corno um conceito negativo do "momento fecundo". que é analisado no capítulo XVI. Vale lembrar que Goethe, por sua vez. que tanto admirava o Laocoonte de Lessing. afirmou o exato oposto no seu "Üher Laokoon·'. Aí ele escreveu: "Se uma ohra das artes plásticas deve efetivamente mover-se diante dos nossos olhos. então deve-se escolher um momento transitório
[vorübergehend]; pouco antes nenhuma parte do todo pode ter se encontrado nesse estado, pouco depois cada parte deve forçosamente ahandonar esse estado; desse modo a obra sempre será novamente vivaz diante de milhões de espectadores". In: Goethe,
Goethes Werke. Hamburger Ausgabe in 14 Bi.inden. org. Erich Trunl, München, décima edição, 1982, vol XII. pp. 59 ss·1
6) IJulien OfT'ray de La Mettrie (1709-1751), filósofo e médico francês. Aqui Lessing refere-se à sua obra L'homme machine, de 1748, que defende posições materialistas.] 7) [No original standhaft, palavra que traduz o conceito estoico de constantia. ligado a
uma "ética" já criticada acima por Lessing.1
8) [Timomaco. pintor grego de cerca de 300 a.c. Os exemplos. Ájax e Medeia, foram provavelmente extraídos de Plínio, 7, 126 e 35. 26 e 136. Medeia, feiticeira, esposa do herói grego Jasão, matou a amante dele, Creusa. ou Gláucia, e os dois filhos que tivera com ele quando este a ahandonou. Sohre Ájax lemos em Ruth Guimarães
(Dicionário de Mitologia Grega, São Paulo. Cultrix, 1983. p. 29): "Uma [...1 versào [...] conta que o herói se tornou louco, porque lhe recusaram as armas de Aquiles. Diz a tradição que Tétis, a deusa dos pés de prata, apareceu trazendo a celeste armadura de Aquiles para o mais valente de todos os gregos, o que maior temor inspirara aos troianos. Interrogados os prisioneiros, estes foram unânimes em adjudicar o prêmio
de hravura ao valm5lso Clisses. Ao conhecer a decisão. um desespero atroz escureceu o olhar do Grande Ajax. Vendo-lhe o torvo semblante, os companheiros o conduziram até os scus naVIO,. Quando veio a noite e todos se entregaram ao sono reparador. ele se revcstlu da~ armas hrilhantes, desembainhou o gládio e saiu. Rangia os dentes e tinha e~puma no,~[áhio\. Pela madrugada, encontrou um rebanho de carneiros e se abateu sohre os mansos animais. como um leão furioso fazendo uma terrível camificina. Acreditava estar matando os gregos, contra os quais tinha agravos. Ao voltm' do acesso, compreendeu ter praticado atos de demência e, voltando contra si mesmo a espada, l,ncrgulhou-a na garganta até os copos. Os gregos prestaram-lhe honras fúnebres".]
'J I[(t a famosa passagem da Ars poetica de Horácio. v. 185: "que Medeia não trucide as sua, cnanças diante do público".]
10 1 PhllIpplI\ (/\llzl1oi.. IIh. IV. capo 9. cp. 10 [Anthologia graeca. etl. Clt.. v. IV. p. 378]).
(ti, l ~àp
6lill«ç~p~q,hn' q,ó[Jo[J:~
:L, 'I~O(üvÔ'l)C( po,1 1 r),(.d,K~ aç eúÁl OOL epó<jlaol,: ('PP( va .L fl) KrlP(~ TIO'lflOKtóVt
-[Sempre tens ,,~dedo sangue de bebês" Ou um segundo .lasãoJ ou uma nova Glauce serve-te de pretexto',' Aos corvos' c na morte, assassino de crianças ...]
1 1 ) .~'ita/\1 7 0 1 1 ., Iib. li. capo 22. [FlaI'ii Philostrati Opera, org. c.L. Kayser. Lipsiai. Ieubncn, 1970, v. I, p. 66. Lessmg volta a se referir a esse passo de Filostrato nos
Briele antlljuuriscilen lnhalt\. in: L, p. 586.]
121 [Esse é o terna central da cena Íntrodutória do Ájax, que Lessing traduziu no seu