UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM
THIAGO HESSEL
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR II
SERVIÇOS DA REDE BÁSICA:
Estratégia de Saúde da Família Divisa
Porto Alegre 2015
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR II – SERVIÇOS DA REDE BÁSICA: Estratégia de Saúde da Família Divisa
Relatório das atividades desenvolvidas durante a disciplina de Estágio Curricular II – Serviços de Rede Básica pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para aprovação.
Professora Orientadora: Dra. Letícia Becker Vieira Enfermeira Supervisora: Márcia A. M. Albrecht
Porto Alegre 2015
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ... 4
2 DESCRIÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO ... 5
2.1 ESF Divisa ... 5
2.2 Área de atuação ... 5
2.3 Área Física e Recursos Humanos ... 6
2.4 Funcionamento da ESF ... 7
3 ATIVIDADES REALIZADAS PELO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM ... 9
3.1 Atividade realizada em destaque: Consulta de Pré-Natal ... 9
4 CONCLUSÃO ... 11
1 INTRODUÇÃO
A Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem como pré-requisito para a conclusão do Curso de Enfermagem por parte do discente a aprovação na disciplina Estágio Curricular II – Rede Básica de Saúde. Desse modo, além de realizar as atividades do estágio de maneira exitosa, é necessário realizar um relatório descrevendo as atividades realizadas no campo de estágio, bem como de que modo a experiência vivenciada contribui no desenvolvimento e na formação profissional do discente.
O presente relatório trata da experiência de um acadêmico de enfermagem da URFGS, cujo estágio curricular foi realizado na Estratégia de Saúde da Família (ESF) Divisa. Durante a realização de suas atividades práticas, o aluno foi supervisionado pela enfermeira que trabalha e também coordena a ESF, além de contar com o apoio de uma professora da Escola de Enfermagem da UFRGS.
O estágio proposto teve início em 15 de dezembro de 2014 e término em 25 de fevereiro de 2015, com carga horária total de 236 horas. O turno de trabalho no qual as atividades foram realizadas foi durante a manhã, das 08:00 horas às 12:00 horas, à tarde, das 13:00 às 17:00 horas e em turno integral, das 08:00 às 17:00 horas.
A proposta do estágio curricular em um serviço da rede básica de saúde é propiciar ao aluno a experiência e a vivência do Enfermeiro em uma esfera de cuidado tão peculiar e complexa, que envolve a promoção da saúde e prevenção de agravos e doenças. Proporcionar ao discente uma verdadeira aproximação com a realidade da população, além dos desafios diários e do gerenciamento de pessoal e da unidade de saúde, são alguns dos objetivos que permeiam esse estágio.
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2 DESCRIÇÃO DO CAMPO DE ESTÁGIO
2.1 ESF Divisa
A ESF Divisa está localizada na Rua Upamoroti, número 735, bairro Cristal, pertencendo ao distrito sanitário Glória/Cruzeiro/Cristal. Segundo dados colhidos na ESF, são atendidas um total de 744 famílias, distribuídas em cinco microáreas, totalizando uma população de cerca de 3.000 pessoas. A Área I atende 114 famílias, a Área II atende 150, a Área III 132, a Área IV 155 e a Área V 164. A ESF possui 146 diabéticos cadastrados (aproximadamente 4% da população da área) e 344 hipertensos (aproximadamente 11%).
Da população adstrita na área de atuação da ESF, cerca de 46% é composta por homens e 54% por mulheres. Em relação á faixa etária, cerca de 20% dos indivíduos possuem mais de 60 anos, e 7% possuem menos de 05 anos de idade. (IBGE, 2010).
Em relação aos aspectos urbanísticos, a área de atuação da ESF apresenta ruas limpas e pavimentadas com casas e prédios bem estruturados, que contrastam com vielas de chão batido com esgoto aparente. A área que circunda a ESF é limpa e pavimentada, porém a 200 metros da unidade inicia a região mais carente, sem pavimentação e com domicílios improvisados, de madeira, de papelão e de sobras de alvenaria. As famílias mais vulneráveis encontram-se nessa região, a 200 metros da ESF, e as mais favorecidas residem em ruas adjacentes à unidade de saúde.
Situações ligadas à vulnerabilidade social estão presentes no cotidiano dos usuários, entre elas: consumo de drogas e tráfico de entorpecentes, prostituição, violência doméstica e contra a mulher, incursões da polícia (incluindo perseguições à traficantes dentro da comunidade, colocando em risco os indivíduos lá presentes).
2.2 Área de atuação
Rua Curupaiti - 499 ao 836; Travessa Jataí - 11 ao 196; Avenida Divisa - 07 ao 1136; Rua Capivari - 833 ao 1163; Rua Jataí - 08 ao 291; Rua Butuí - 390 ao 490; Rua Upamoroti - 272 ao 836; Travessa Upamoroti - 315 ao 51; Rua Comandaí - 69 ao 143; Rua Arapeí - 12 ao 104; Rua Divisa II - 02 ao 957; Rua Jaguari - 13 ao 810.
2.3 Área Física e Recursos Humanos
A ESF Divisa dispõe de:
Uma sala de espera/recepção. Nesse local foi criada uma pequena biblioteca, em parceria com a Biblioteca Comunitária do Cristal e a ONG Cirandar, para empréstimo de livros e revistas aos usuários da ESF e à comunidade da área;
Uma sala para armazenamento de estoque de materiais e medicações e uma farmácia;
Uma sala de reuniões; Uma cozinha;
Dois banheiros, um para os usuários e outro para os funcionários; Uma sala de vacinas e teste do pezinho;
Uma sala de curativos e procedimentos; A sala Aconchego Mãe-Bebê;
Três consultórios, um para o médico, um para o enfermeiro e outro para atendimento odontológico;
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A equipe de saúde da ESF Divisa é composta por um médico de família, uma enfermeira, duas técnicas de enfermagem, cinco agentes comunitárias de saúde, uma dentista, uma auxiliar de saúde bucal e um agente de endemias.
2.4 Funcionamento da ESF
A ESF funciona de segunda à sexta-feira no horário das 08 às 12hs e das 13 às 17hs, atendendo a livre demanda e também os pacientes agendados. A livre demanda é atendida na forma de acolhimento, realizado primeiramente pelas técnicas de enfermagem na sala de acolhimento. O acolhimento, conforme regulamenta o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), é conduzido a partir da classificação de risco de “Problema Agudo” ou “Problema Não Agudo”. Após a verificação de sinais, peso e/ou glicemia, sendo considerado problema agudo, o atendimento é imediato (médico, enfermagem ou odontológico), podendo o usuário permanecer em observação ou ser encaminhado (ou removido) para outro serviço para o atendimento da necessidade. Sendo considerado problema não agudo, são ofertadas as orientações, encaminhamentos, discussões e agendamentos necessários.
Além da demanda proveniente do acolhimento, o Enfermeiro realiza as seguintes ações programáticas e gerenciais:
Visitas domiciliares;
Consultas do Programa Prá-Nenê; Pré-Natal de baixo risco;
Saúde da Mulher (com prevenção do câncer ginecológico, coleta de material citopatológico do colo do útero, prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama);
Aconselhamento na saúde sexual e reprodutiva e Teste Rápido para doenças sexualmente transmissíveis (HIV, hepatites B e C e sífilis); Programa Saúde na Escola (PSE);
Atividades administrativas relacionadas à coordenação da ESF, como a participação de reuniões na gerência distrital, contabilização da
produção ambulatorial, resolução de problemas relacionados a quantitativo de material, segurança e manutenção da área física;
Supervisão e gerenciamento dos técnicos em enfermagem e dos agentes comunitários de saúde (ACS);
Reuniões semanais com a equipe da ESF para alinhamento das informações passadas nas reuniões de gerência, além de mediação de conflitos dentro da equipe;
Educação Permanente: discussão de casos, treinamentos, capacitações oferecidas pela gerência;
Grupos de educação em saúde: grupo de gestantes, grupo de caminhada, grupo de tabagismo.
Outros serviços também são prestados à comunidade através ESF, como a realização de curativos, retirada de pontos, nebulização, realização de medicações injetáveis (anticoncepcionais, antibióticos, antiinflamatórios), distribuição de medicações (exceto medicações controladas), aferição de pressão arterial e glicemia capilar, pesagem, medidas antropométricas e administração de imunobiológicos do PNI.
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3 ATIVIDADES REALIZADAS PELO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM
As seguintes atividades foram oportunizadas e realizadas pelo discente no período de estágio:
Aferição de pressão arterial e glicemia capilar; Medidas antropométricas;
Realização de curativos e avaliação de feridas; Realização de medicações injetáveis e vacinas; Dispensação de medicamentos;
Organização da unidade e organização da farmácia e de seu depósito; Consulta de enfermagem (de crianças, de adolescentes, de adultos e
de idosos);
Prescrição de cuidados e medicamentos protocolados; Acolhimento;
Realização de consultas de pré-natal de baixo risco; Realização de consultas de puericultura;
Coleta de exame citopatológico do colo do útero; Solicitação de mamografia e exames laboratoriais; Realização do teste rápido de gravidez;
Realização de teste rápido para HIV, hepatites B e C e Sífilis; Visita domiciliar;
Encaminhamento para especialidades; Participação nas reuniões de equipe;
Discussão de casos de pacientes com a equipe;
Elaboração, sob supervisão da enfermeira e coordenadora, dos relatórios mensais de produção enviados à gerência distrital.
3.1 Atividade realizada em destaque: Consulta de Pré-Natal
Entre todas as atividades realizadas durante o estágio curricular, certamente a consulta de pré-natal foi a mais importante e complexa, segundo minha concepção.
Conforme o Ministério da Saúde, embora tenhamos observado uma ampliação na cobertura do acompanhamento pré-natal, contraditoriamente mantém-se elevada a incidência de sífilis congênita, assim como da hipertensão arterial sistêmica, que é a causa mais frequente de morbimortalidade materna e perinatal no Brasil (BRASIL, 2012). A incidência desses dois agravos corrobora com uma gama de complicações que podem interferir numa gestação, parto e puerpério adequados, sem anormalidades. Por isso que a consulta de pré-natal exige do enfermeiro um preparo técnico e científico, além do conhecimento do sistema e da rede de apoio, caso haja necessidade.
A consulta de pré-natal requer do enfermeiro um preparo peculiar. Portanto, praticar uma escuta qualificada e estar atento aos mínimos sinais de agravos, além de conhecer antecedentes de saúde e o meio social do usuário são conceitos essenciais. A possibilidade de participar das consultas de pré-natal acompanhando a enfermeira supervisora e realizá-las foi um aprendizado ímpar par meu desenvolvimento profissional.
Entretanto, devido à complexidade desse tipo de cuidado, é importante conscientizar a paciente da importância do pré-natal, da realização dos exames laboratoriais e à adesão às recomendações dadas nas consultas. A co-responsabilização pelo cuidado é uma peça fundamental na integralidade do cuidado, para desse modo minimizar riscos e agravos inerentes à gravidez e às vulnerabilidades do meio social.
Na ESF Divisa as consultas de pré-natal são realizadas todas as sextas à tarde pelo médico e pela enfermeira da unidade, ou encaixadas na agenda conforme a necessidade da gestante. Até a 36ª semana de gestação as consultas são realizadas mensalmente e intercaladas entre o médico e o enfermeiro. Da 36ª até a 38ª semana as consultas passam a ser quinzenais, a partir da 38ª semana as consultas passam a ser semanais.
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4 CONCLUSÃO
Vivenciar a prática é sempre enriquecedor. Esse foi o ponto chave desse estágio curricular na rede de atenção básica. Através da prática e do enfrentamento de problemas reais, o discente desenvolve um pensamento crítico e a habilidade para tomar decisões coesas, que impliquem em benefícios ao usuário e à comunidade.
Percebi como é fundamental o papel do enfermeiro na atenção básica, e na situação de coordenador da Estratégia, multiplica-se a importância desse papel. Conciliar o tripé de atividades burocráticas e administrativas, com atividades práticas relacionadas ao cuidado à saúde e o gerenciamento e supervisão dos técnicos e agentes comunitários de saúde exige empenho, preparo e conhecimento do enfermeiro.
Como discente, tive o privilégio de ser bem acolhido pela equipe da ESF Divisa desde o início. Os Agentes Comunitários de Saúde me apresentaram a realidade da comunidade com suas dificuldades e vulnerabilidades. As técnicas de enfermagem me propiciaram aprendizado em momentos que exigiram habilidade técnica e destreza no manejo com os usuários do serviço de saúde. O médico possibilitou a discussão de casos e a escolha da terapêutica mais adequada em diversas situações. A Enfermeira, de modo competente, permitiu que eu ingressasse na rotina de desafios de que é feito o cotidiano de um enfermeiro de Estratégia, desde a abordagem de um usuário de difícil manejo até a liderança da organização e do empenho da equipe da Estratégia, contribuindo muito para a minha percepção e desenvolvimento profissional.
A realização do estágio curricular na ESF Divisa me possibilitou vislumbrar o cuidado na atenção básica através de vários vieses, a partir das experiências que tive ao acompanhar um pouco do trabalho de cada profissional. O período, em que como discente tive a possibilidade de estagiar, mostrou-me o quão fundamental é o papel do enfermeiro na atenção básica, tanto no gerenciamento, como no cuidado com os usuários e com a comunidade. Todavia, esse papel fundamental desencadeia uma responsabilidade muito elevada desconhecida, por vezes, pelos
próprios outros profissionais enfermeiros e acadêmicos de enfermagem que, frequentemente, não atribuem o devido valor a esse líder da saúde na comunidade.
Em suma, confio no potencial da atenção primária para impactar nas condições de saúde dos usuários, uma vez que nenhum outro nível de atenção a saúde é capaz de criar tamanho vínculo com um usuário e com uma comunidade, e permitir que o usuário participe de forma tão ativa das melhorias nas condições de saúde. Isso é visível na confiança que a comunidade retribui para com o serviço de saúde e em como a própria comunidade se sente cuidada, acolhida, importante.
Entretanto, na contramão de tamanha satisfação em ver impactos positivos nas condições de saúde da comunidade, há muitos obstáculos que dificultam a excelência da atenção primária, como a violência presente nas comunidades, as dificuldades do sistema de saúde que geram demora nos atendimentos e encaminhamentos, a oferta de serviços da atenção primária nem sempre condizente com a demanda. Assim, o enfermeiro é o pilar que dá suporte a toda essa estrutura, não deixando que a equipe e nem os usuários desanimem-se diante das dificuldades.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica: controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/controle_cancer_colo_utero_mama.pdf> Acesso em 24 de fevereiro de 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 1. ed.; 1. reimp. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. Disponivel em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf>. Acesso em: 24 de fevereiro de 2015.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censo 2010. Disponível em:
<http://www2.portoalegre.rs.gov.br/sms/default.php?p_secao=918>. Acesso em: 26 de fevereiro de 2015.
PORTO ALEGRE. Observa POA. 2011b. Divisa. Disponível em: <
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/observatorio/default.php?p_sistema=S&p_rop=11> Acesso em: 24 de fevereiro de 2015.
PORTO ALEGRE. Serviços de Saúde. Secretaria da Saúde. ESF Divisa. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/sms/default.php?reg=19&p_secao=837>.
