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A (RE)CONSTRUÇÃO DA ESCOLA: UM CAMINHO DE DESAFIOS. Pricila Rocha dos Santos 1 ¹

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Academic year: 2021

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A (RE)CONSTRUÇÃO DA ESCOLA: UM CAMINHO DE DESAFIOS

Pricila Rocha dos Santos1¹

pricilazuca@terra.com.br

A realidade da escola atual vem, ano após ano, desafiando educadores e especialistas da área de educação. Buscam-se constantemente respostas para sanar problemas referentes à desmotivação de nossos educandos frente ao formato no qual as aulas são ministradas. Cada vez mais, nos convencemos que nossa prática já não dá conta de atender a demanda de educandos que encontramos nos bancos escolares. A escola continua elitista, excludente e, principalmente, peca em não permitir que o educando exponha suas opiniões e desenvolva seu senso crítico. Por este motivo é fundamental que busquemos teorizar a prática pedagógica, procurando constantemente por questionamento que nos levem a refletir e encontrar alternativas para transformar a realidade educacional em que estamos inseridos.

Diante desta busca, temos claro o papel representado pelo educador Paulo Freire no desenvolvimento de estudos, reflexões, teorizações e construção de métodos que contribuíram decisivamente na transformação da educação. Autor de vários livros na área, Paulo Freire tornou-se reconhecido ao apresentar métodos inovadores na alfabetização de jovens e adultos, defendendo a educação popular e o acesso das classes trabalhadoras ao conhecimento, partindo de uma linguagem acessível e baseada na realidade dos educandos. Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias. Após este destaque, recebeu reconhecimento

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Graduada em História pela Faculdade Cenecista de Osório, pós-graduanda em Supervisão e Orientação Educacional.

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nacional fazendo parte do Ministério da Educação no governo João Goulart.Porém, logo depois, durante a Ditadura Militar, foi preso e exilado. Seu tempo de exílio em outros países, fez com que seu trabalho se tornasse conhecido e reconhecido internacionalmente, principalmente na América Latina e África. Com a volta ao Brasil, assumiu uma postura progressiva ao defender o caráter político da educação e a escola como um espaço para o desenvolvimento dialógico e crítico dos educandos tornando-os politizados e atuantes na sociedade.

Como seguidor do pensamento pedagógico defendido por Paulo Freire, podemos citar o educador estadunidense Ira Shor, responsável por implementar as metodologias criadas por Freire no contexto educacional dos Estados Unidos.

Freire e Shor escreveram juntos o livro Medo e Ousadia: o cotidiano do

professor, onde estabeleciam um diálogo constante entre suas experiências,

ideologias e reflexões acerca da aplicabilidade de uma educação libertadora, dialógica e crítica nas escolas. O livro destaca-se por apresentar experiências concretas dos autores, mescladas com análises reflexivas sobre estas práticas. Tanto Freire quanto Shor confrontam suas primeiras experiências como educadores e as construções realizadas com o decorrer das práticas docentes. Ao analisar as transformações da educação atual, os autores preocupam-se em analisar criticamente o papel político exercido pela escola e pelas classes responsáveis pela manutenção do status quo. A partir da década de 60 iniciava-se um movimento pela popularização da educação, onde as massas passaram a ter acesso às escolas. Porém, que escola era esta? Qual educação seria eficaz para essa nova realidade? Quais interesses moviam esse estado? Como manter a ordem? Diante desta nova realidade surgiu uma nova forma de ensinar. A ideologia progressiva libertadora nascia como forma de qualificar a educação e preparar os educandos a partir de seu conhecimento. É uma característica da educação progressiva e dos métodos de Freire partir do conhecimento do educando. Para Shor

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É importante aprender através da realidade, porém mais do que ‘ir até a realidade’, você aceitou (Freire) seus alunos como professores seus. Isso acrescenta profundidade ao conhecimento pela experiência, que é uma idéia comum na educação progressiva. (p.42) Para tal, defendia-se a inserção do estudante como protagonista do próprio aprendizado permitindo-se discussões, reflexões e análises a partir de temas acerca da realidade de cada um. Desta forma, o diálogo tornaria o educando agente de seu conhecimento e ativo na sociedade. Para Freire, “o professor libertador não está fazendo alguma coisa aos estudantes, mas com os estudantes”. É papel do educador, portanto, tornar-se um mediador em sala de aula e não um mero transmissor de informações. Contudo, esta é uma realidade ainda em voga na nossa educação. É comum vermos falas de professores, e aqui os reitero como professores, totalmente explicativos, detentores do saber e que possuem um status de superioridade diante da classe, do mesmo modo que supervisores protagonistas de um modelo de liderança inibidora da feiúra compartilhada. Porém, a educação libertadora defende o aprendizado recíproco entre os estudantes e seus educadores, assim como os supervisores, onde estes aprendem enquanto ensinam e ensinam enquanto aprendem.

Todavia, tornar o educando protagonista de seu próprio conhecimento, implica em torná-lo crítico e consciente da organização social elitista em que está inserido. Ou seja, torná-lo iluminado é torná-lo político, torná-lo capaz de refletir, criticar e reivindicar pelos direitos que, enquanto ser humano, todos possuem. Por isso, Freire define a educação como política. Segundo ele, “a educação é política e a política tem educabilidade” (p.77).

Para Freire, a educação é política segundo dois pontos de vista bem abrangentes. Em primeiro lugar a escola é um espaço onde os estudantes são instigados, levados a pensar, criticar e refletir assuntos diversos que os envolvem e que são determinantes em suas condições de vida. Assim, o estudante torna-se politizado e capaz de reivindicar por seus direitos. Desta forma, a escola passa a ser um local gerador de política, onde o educador e supervisor precisam assumir um papel de dualidade em alguns momentos.

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Segundo Freire “no momento libertador, devemos tentar convencer os educandos e, por outro lado, devemos respeitá-los e não lhes impor idéias”. O educador só é iluminador no sentido de dar espaços e subsídios para que o estudante possa tirar suas conclusões. A tradicionalidade implica em suprimir o espaço do educando em prol de conteúdos pré-estabelecidos. Para Freire, “os currículos são padronizados e limitam o professor” (p.95). Acrescenta, ainda, que os currículos são “à prova de professores”, no sentido de que procuram impedir que o educador construa a educação com liberdade. A educação libertadora, por outro lado cria a liberdade para que o educando construa seu senso crítico. E, para tornar-se crítico o estudante precisa ser educado, no sentido de que perceba que tem voz e liberdade de expressar-se. A liberdade precisa ser apresentada aos estudantes e é papel do educador fazer isso, logo também do supervisor.

Em segundo lugar, a escola é política no sentido de que representa interesses inerentes da elite e do poder. É disseminadora de idéias específicas de uma classe determinante, formadora de opinião e mantenedora do status quo. De acordo com Freire, a educação é limitada enquanto transformadora da política social, afinal “não é a educação que modela a sociedade, mas ao contrário, a sociedade é que modela a educação segundo os interesses dos que detêm o poder” (p.49). Freire diz ainda que “para que a educação fosse o instrumento da transformação seria necessário que a classe dominante no poder se suicidasse!” (p.50)

A escola é um espaço capaz de criar e difundir opiniões e crenças. Foi organizada de tal forma que seus freqüentadores acreditassem que esta ordem é a mais correta e justa. E, a possibilidade de estender a educação para as massas implica em manipular suas formas de pensar e agir para a manutenção do status quo, pois levar a massa a pensar sua realidade seria deixá-los perceber que estão sendo explorados. O educador e o supervisor precisam estar preparados para, em muitos momentos, nadar contra a corrente (FREIRE, p.50). Afinal, estamos constantemente desafiando a ordem ao possibilitar que os educandos cheguem às próprias conclusões dentro do espaço escolar. Então, passa a ser uma tarefa difícil convencer os educadores

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e do mesmo modo, os supervisores de que devem enfrentar o sistema para aderir a educação libertadora correndo o risco de serem punidos no seu ambiente de trabalho.

É comum vermos nas escolas supervisores e educadores que assumem uma postura libertadora e dialógica serem criticados pelos demais, definindo que suas aulas são bagunçadas, não possuem seriedade, rigor e são ainda desqualificadas por não prepararem o educando. O educador, o professor tradicional, assim como o supervisor definem que todas as coisas que existem são boas e devem ficar como estão, pois os que fracassam são culpados pelos seu próprio fracasso. Para Freire, o medo de que isso aconteça é normal e faz parte do ser humano. Não podemos aceitar apenas que este medo nos imobilize. Neste ponto, Shor define que deve haver o enfrentamento dos medos de repulsa dentro do ambiente escolar através da luta para transpor limites. Afinal, Freire e Shor dialogam no sentido de que

Paulo: Os professores têm de tornar-se cada vez mais militantes! Devem tornar-se militantes, no sentindo político dessa palavra. Algo mais do que um ativista. Um militante é um ativista crítico. [...]

Ira. O militante, o ativista crítico, no ensino ou em qualquer outro lugar, examina até mesmo sua própria prática, não se aceitando como pronto e acabado, reinventando-se à medida que reinventa a sociedade. (p.65)

E neste sentido, que a escola deve trabalhar em conjunto, envolvendo todos os seus profissionais, para possibilitar que a postura dialógica se concretize e seja aceita dentro do ambiente escolar. Sendo assim, também cabe ao supervisor propiciar este ambiente de liberdade para que os educadores possam desenvolver técnicas e métodos dialógicos sem medo da punição. Neste caso, o supervisor é mais um ativista crítico, alguém que necessita estar ao lado do educador para auxiliar na transformação ideológica e política da escola.

O trabalho é conjunto. Educador, educandos, supervisor e outros especialistas da escola necessitam estar unidos para implementar uma política que possibilite ao educando desenvolver o senso crítico e tornar-se político e ativista também. Freire (p.76) coloca a importância de trabalharmos em grupo fazendo um mapa ideológico da instituição, ou seja, nos aproximando daqueles

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que podemos ou não contar e sabendo contra quem lutar. O supervisor pode aparecer como um suporte neste mapa ideológico, alguém que não deve suprimir a liberdade e o diálogo das aulas através de suas atividades burocratizadas e do medo de punição ao transpor limites dentro da política escolar. O supervisor necessita fazer o mapa ideológico e perceber aqueles que podem desenvolver o trabalho ao seu lado. Quando o supervisor ampara seus educadores está amparado por eles, pois existe possibilidade maior de enfrentar o status quo e implementar a educação libertadora em sala de aula. Sendo assim, a obra “Medo e Ousadia: o cotidiano do professor” nos ajuda a construir a ideologia política educacional para superarmos os medos impostos pela política vigente na educação atual. Através dele, construímos conceitos e relacionamos as experiências concretas do nosso cotidiano, tirando conclusões sobre o papel que educadores, supervisão e educandos podem, unidos, assumir dentro do ambiente escolar. Fica claro que o trabalho em conjunto é que nos dá suporte para enfrentarmos o status quo e adotarmos uma postura libertadora. Nos damos assim suporte mútuo para apresentar os resultados que a libertação é capaz de trazer.

A obra, dá, portanto, a certeza de que podemos ultrapassar os nossos medos, as burocratizações impostas pelo sistema e nos tornarmos verdadeiros ativistas, abrindo a escola para um novo olhar sobre o papel da educação e de seus profissionais na construção de um modo mais justo e politizado.

Referências

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