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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL. Conflito de Jurisdição nº

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Des. Maria Sandra Kayat Direito - Relatora Conflito de Jurisdição nº 0046891-26.2013.8.19.0000

Primeira Câmara Criminal

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL

Conflito de Jurisdição nº 0046891-26.2013.8.19.0000

Suscitante: I Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital

Suscitado: Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Capital Interessado: Liliane da Silva Luiz

Presidente: Des. Marcus Henrique Pinto Basilio Relatora: Des. Maria Sandra Kayat Direito

EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA – LESÃO CORPORAL DE ÂMBITO FAMILIAR – ART. 129 §9º DO CP – CRIME SUPOSTAMENTE PRATICADO PELA FILHA CONTRA A MÃE - NÃO EVIDENCIADA SITUAÇÃO DE FRAGILIDADE OU VULNERABILIDADE PROVENIENTE DO GÊNERO MULHER – INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE SUBORDINAÇÃO – A AGRESSÃO TERIA OCORRIDO APÓS UMA DISCUSSÃO POR MOTIVO BANAL, EM RAZÃO DE UM VIDRO DE ACETONA QUE A FILHA HAVIA PEGADO EMPRESTADO DA MÃE, QUE AO SABER, RETIROU DE SUAS MÃOS - INAPLICABILIDADE DA LEI 11.340/06 – COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA 32ª VARA CRIMINAL DA CAPITAL. Conflito negativo de competência suscitado pelo I Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, apontando como competente o Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Capital. Tratando-se de suposta lesão corporal de filha contra a mãe, no interior de sua residência, podemos falar que existe vínculo afetivo entre as envolvidas, porém, a violência não se deu em razão da vulnerabilidade da mãe, mas sim, em razão de uma discussão entre as duas, o que afasta o procedimento elencado na Lei Maria da Penha. Isto porque os fatos narrados na exordial não revelam uma relação de dominação-subordinação da mãe com sua filha. Também não restou evidenciada a situação de vulnerabilidade experimentada pela suposta ofendida, não havendo qualquer ligação com a violência que o legislador pretendeu coibir com o advento da Lei Maria da Penha. PROCEDÊNCIA DO CONFLITO, firmando-se a competência do Juízo Suscitado.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Conflito de Jurisdição em que figura como suscitante o Juízo de Direito do I Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca da Capital e como suscitado o Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Comarca da Capital,

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ACORDAM os Desembargadores que integram a Egrégia Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em julgamento realizado em 14 de janeiro de 2014, por unanimidade de votos, em julgar procedente o conflito, declarando-se competente o Juízo Suscitado, qual declarando-seja, Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Comarca da Capital, nos termos do voto da Desembargadora-Relatora.

RELATÓRIO

Trata-se de Conflito Negativo de Competência suscitado pelo Juízo de Direito do I Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca da Capital, apontando como competente o Juízo de Direito do Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Comarca da Capital, ao fundamento de que o caso em questão não envolve violência de gênero, uma vez que, apesar da vítima ser mulher e entre ela e acusada uma relação familiar (mãe e filha) a conduta imputada à acusada não foi baseada no gênero, como exige a Lei n° 11.340/2006, no caput do seu artigo 5°, sendo, portanto, incompetente este Juízo para processar e julgar o presente feito. (doc. 56).

Já o suscitado declinou a competência, pois entendeu que o presente caso se trata de violência baseada no gênero. (doc. 51).

No doc. 74, o Juízo Suscitado apresentou informações, enfatizando que “Da análise dos autos, resta confirmada a convivência familiar e as relações domésticas, entre a acusada e a vítima, razão pela qual fica evidenciada a incidência da Lei Maria da Penha ao caso em tela.” (Doc. 74).

Instada a se manifestar, a Procuradoria de Justiça emitiu parecer pela procedência do presente conflito negativo de jurisdição, oficiando pela fixação da competência do Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Comarca da Capital.

É o relatório.

VOTO

Analisada a hipótese tratada nos autos verifica-se que tem razão o Juízo suscitante. O exame dos autos demonstra a competência do Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Capital.

É importante não olvidar que a Lei Maria da Penha não se restringe a violência doméstica, abrange também a violência familiar, do que não estão livres os demais membros da família.

Conforme o disposto no art. 5º da Lei nº 11.340/06, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão

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baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto.

In casu, os autos versam sobre a prática, em tese, do delito previsto no artigo 129 §9º do Código Penal, contra a filha.

De acordo com a denúncia: “No dia 04 de março de 2012, no horário compreendido entre 15:30h e 15:40h, na Ladeira Ari Barroso, no 1, casa 1, Copacabana, nesta Cidade, a denunciada, com vontade livre e consciente, ofendeu a integridade física de sua mãe MARLEI PEREIRA DA SILVA, dando-lhe um tapas e socos no braço, causando-lhe as lesões descritas no laudo de fls. 08/09. Segundo restou relatado nos autos, a agressão acima foi praticada após uma discussão por motivo banal, por causa de um vidro de acetona que lhe foi retirado das mãos por sua mãe.” (Doc. 04).

Em sede policial, a suposta vítima Marlei Pereira da Silva afirmou “Que comparece na data de hoje para informar que sua filha LILIANE tem o temperamento difícil, às vezes é muito agressiva e já chegou a agredi-la outras vezes; Que imagina que a filha aja dessa maneira devido a problemas particulares com seu companheiro; Que sua filha não poderá comparecer à esta UPJ na data de hoje, no horário marcado, porque não tem ninguém para tomar conta dos filhos; Que vai levar pessoalmente o Mandado de Intimação para sua filha, com nova data; e mais não disse.” (Doc. 19).

Por sua vez, Liliane da Silva Luiz, filha e suposta agressora, em sede policial declarou: “Que reside com sua mãe, a Sra. MARLEI PEREIRA DA SILVA, e no dia 04 de março de 2012, entre 15h3Omin e 15h4Omin houve uma discussão entre as duas; Que a discussão foi motivada porque a declarante havia pego um frasco de acetona de sua mãe; Que sua mãe ficou chateada e veio tomar-lhe satisfações, arrancando-lhe o frasco de sua mão, momento em que a declarante deu um tapa no braço de sua mãe; Que a declarante nunca havia agredido a sua mãe anteriormente; Que a declarante e sua mãe não conversam muito, mas às vezes há algumas discussões; Que tem três filhos, sendo que o pai de seus filhos mais novos está preso, e quase sempre quando ela o visita, há alguma discussão, pois ele é muito ciumento; Que acredita que essa situação a deixa muito estressada e nervosa; e mais não disse.” (Doc. 22).

Pois bem, para que o fato tenha como competente o Juízo de Direito da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e, o conflito venha a ser ajustado nos termos da Lei Maria da Penha, é necessário que a agressão tenha sido praticada no âmbito familiar, que a conduta típica seja perpetrada contra o sexo feminino e em razão do gênero.

A matriz constitucional da Lei Maria da Penha está no artigo 226 da Constituição Federal, o mesmo dispositivo que assegura proteção à família, a cada um dos seus integrantes.

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Então, data vênia de outros entendimentos, para que se respeite a isonomia igualmente assegurada na Constituição Federal, é de ser assegurado a qualquer integrante do sexo feminino da família, vítima de violência doméstica, os mecanismos de proteção da Lei Especial, inclusive no que diz respeito às restrições de benefícios.

Dispõe a Constituição da República: “Capítulo VII - DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO Art. 226 – A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º - (...) I- (...) § 8º - O Estado assegurará a assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”

O comando constitucional não se limita à mulher, mas a qualquer integrante da família, aí incluída qualquer integrante, quando colocada em uma situação de inferioridade, na qual esteja a merecer proteção.

Ocorre que, apesar de a suposta vítima ser do sexo feminino, a violência de que trata o processo não é fruto de fragilidade ou hipossuficiência proveniente do gênero, condição sine qua non para a aplicação da referida lei.

Na presente hipótese, tratando-se de suposta lesão corporal de filha contra a mãe, no interior de sua residência, podemos falar que existe vínculo afetivo entre as envolvidos, porém, a violência não se deu em razão da vulnerabilidade da mãe, mas sim, em razão de uma discussão banal entre mãe e filha, o que afasta o procedimento elencado na Lei Maria da Penha.

Isto porque os fatos narrados na exordial não revelam uma relação de dominação-subordinação da mãe com sua filha. Também não restou evidenciada a situação de vulnerabilidade experimentada pela suposta ofendida, já que se trata de mulher com 51 anos de idade, não havendo qualquer ligação com a violência que o legislador pretendeu coibir com o advento da Lei Maria da Penha.

Neste sentido, vem entendendo a jurisprudência desta Colenda Câmara e do E. Superior Tribunal de Justiça:

Conflito Negativo de Competência. Juízo de Direito do I Juizado Especial Criminal da Capital e Juízo de Direito do I Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher da Comarca da Capital. Ameaça. Mãe e filha. Dos documentos juntados vê-se que as partes divergem sobre a criação do neto da suposta acusada e filho da suposta vítima.

Inexistência de qualquer tipo de supremacia, nem mesmo física, de uma sobre a outra. Situação que não passou de um desentendimento

ocorrido no âmbito familiar, não possuindo qualquer ligação com a violência que o legislador pretendeu coibir com o advento da Lei Maria da Penha. Violência que não foi baseada no gênero. Conflito que se julga improcedente para fixar a competência do juízo suscitante. 0034584-40.2013.8.19.0000 - CONFLITO DE JURISDICAO 1ª Ementa

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DES. KATYA MONNERAT - Julgamento: 20/08/2013 - PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL. (grifo nosso)

EMENTA: Conflito de Competência. Crime de ameaça envolvendo duas irmãs. Declínio de competência. Lei nº. 11.340/06. Abrangência do conceito de violência doméstica e familiar. Divergência doutrinária. Interpretação restritiva. Violência de gênero. A incidência da Lei nº

11.340/2006 reclama situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. Precedentes do E. STJ. Ausência de motivação de

gênero. Precedentes da Câmara. Conflito conhecido e desprovido para declarar competente o Juízo Suscitante. Todavia, de ofício foi declarada extinta a punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva. 0043567-28.2013.8.19.0000 - CONFLITO DE JURISDICAO 1ª Ementa DES. MARCUS BASILIO – Julgamento: 20/08/2013 - PRIMEIRA CAMARA CRIMINAL. (grifo nosso).

Ementa CRIMINAL. HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL.

TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 41 DA LEI Nº 11.340/06. NÃO VERIFICAÇÃO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RELAÇÃO FAMILIAR. APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA. INTERPRETAÇÃO LITERAL DA NORMA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E CONCEDIDA. I. O pedido de trancamento da ação pena não foi submetido ao crivo do órgão colegiado do Tribunal a quo, de modo que não pode ser conhecido por esta Corte, sob pena de indevida supressão de instância. II. A Constituição Federal, ao definir a competência dos juizados especiais, não definiu a expressão "infrações penais de menor potencial ofensivo", cabendo ao legislador ordinário tal delimitação. Precedentes. III. Hipótese cujo mérito é afastar a aplicação da Lei Maria da Penha em suposta lesão corporal praticada por tia contra sobrinha que não residia no mesmo domicílio. IV. Para a aplicação da Lei Maria da Penha, é necessária a demonstração da motivação de gênero ou situação de vulnerabilidade que caracterize situação de relação íntima. Precedentes. V. Embora o inciso II, do art. 5º, da Lei nº

11.340/06 disponha que a violência praticada no âmbito da família atrai a incidência da Lei Maria da Penha, tal vínculo não é suficiente, por si só, a ensejar a aplicação do referido diploma, devendo-se demonstrar a adequação com a finalidade da norma, de proteção de mulheres na especial condição de vítimas de violência e opressão, no âmbito de suas relações domésticas, íntimas ou do núcleo familiar, decorrente de sua situação vulnerável. VI. A previsão de aplicação da

Lei nº 11.340/06 à violência praticada no âmbito da unidade doméstica, do mesmo modo, não almeja a proteção do mero espaço físico contra agentes externos que nele adentrem para cometer o delito, mas sim ao próprio âmago sentimental que se estabelece entre indivíduos que compartilham a mesma moradia, com fim de proteção dos mais vulneráveis dentro desse grupo de pessoas. VII. Ademais, o art. 129, § 9º, do Código Penal, não se aplica a situação dos autos, não sendo a paciente ascendente, descendente, irmã, cônjuge ou

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companheira da vítima, inexistindo convivência, ou prevalecimento das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. VIII. Ordem parcialmente conhecida e concedida. Processo HC 176196 / RS HABEAS CORPUS 2010/0108461-9 Relator(a) Ministro GILSON DIPP (1111) Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento12/06/2012 Data da Publicação/Fonte DJe 20/06/2012. (grifo nosso).

Merece destaque o Enunciado nº 07 do Aviso nº 50, deste Egrégio Tribunal de Justiça: "Firma-se a competência do juizado da violência e doméstica e familiar contra a mulher, quando a conduta típica é perpetrada em razão do gênero nos termos dos artigos 5º e 7º, da Lei nº 11.340/006, não bastando que seja cometida contra pessoa do sexo feminino".

Não é todo e qualquer crime contra a mulher que deve merecer o tratamento diferenciado da Lei nº 11.340/06 e o fato da suposta vítima ser do sexo feminino não teve qualquer influência na conduta da suposta agressora.

Assim, não podemos dar a simples desavenças entre familiares o mesmo tratamento dado às vítimas de violência de gênero.

Por tais razões, acolho o parecer da Procuradoria de Justiça e voto no sentido de dar provimento ao conflito de jurisdição para declarar como competente o Juízo Suscitado, isto é, o Juízo de Direito da 32ª Vara Criminal da Comarca da Capital.

Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 2014.

DES. MARIA SANDRA KAYAT DIREITO Relatora

Referências

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