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AS CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A LEITURA E A ESCRITA NA ESCOLA

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Academic year: 2021

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AS CONTRIBUIÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A LEITURA E A

ESCRITA NA ESCOLA

Diego de Souza Moreira – UFJF Paulo Henrique Dias Menezes – UFJF

Agência Financiadora: FAPEMIG Resumo

Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa que tem por objetivo investigar as possíveis contribuições do ensino de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental para o processo de alfabetização e letramento dos estudantes. Para isso, partimos da hipótese de que a motivação gerada por atividades de ciências, potencialmente significativas para os alunos, pode gerar maior interesse no processo de produção da escrita e da leitura. O estudo está sendo desenvolvido em uma turma do 4º ano do ensino fundamental de uma escola pública de um município de porte médio do interior de Minas Gerais. Para o desenvolvimento da pesquisa foram elaboradas quatro sequências didáticas de ensino de ciências, baseadas numa metodologia ativa (mão na massa), sendo três voltadas para construção de brinquedos científicos. Cada sequência é orientada pela leitura de um texto introdutório; desenvolvimento da atividade propriamente dita; e elaboração pelos alunos de um texto/relato sobre o tema abordado. Neste trabalho apresentamos uma análise parcial da sequência Câmara de Orifício, que tratou do tema óptica, formação de imagens e visão humana. As fontes de dados foram constituídas por fotos e registros em vídeo das atividades, observação participante, textos produzidos pelos alunos e relatos da professora regente da turma. Os resultados obtidos até o momento indicam que os estudantes têm demonstrado especial interesse em participar das atividades, evidenciado pela participação em sala de aula, pelas perguntas e dúvidas apresentadas, pela curiosidade sobre os temas desenvolvidos e pela apropriação do vocabulário científico relacionado a esses temas. Esse entusiasmo tem se refletido nos textos que eles estão produzindo, principalmente com relação a criatividade da escrita e o interesse em fazer o registro. Palavras-chave: ensino de ciências, leitura e escrita, brinquedos científicos.

Introdução

Neste trabalho partimos do pressuposto de que o ensino de ciências nos anos iniciais da escola básica, quando vinculado aos processos de produção da leitura e da escrita, pode auxiliar de forma significativa nos processos de alfabetização e letramento dos estudantes. A ênfase dada ao aprendizado da leitura e da escrita da língua portuguesa, nessa fase de escolarização, faz com que outros conteúdos de ensino fiquem relegados a um segundo plano, entre os quais destacamos os de Ciências Naturais. Além disso, o ensino de ciências no primeiro ciclo do ensino fundamental representa um problema para muitos docentes que não possuem uma formação específica para tal, sobretudo em termos do conteúdo a ser ensinado e do modo como este deve ser ministrado. O trabalho que desenvolvemos apresenta uma proposta de articulação entre o ensino de ciências e o

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processo de alfabetização e visa contribuir para diminuir a fragmentação do conhecimento, possibilitando uma abordagem mais orgânica e interdisciplinar para o currículo dos anos iniciais do ensino fundamental. Nesse sentido, defendemos a hipótese de que a articulação dos conteúdos, competências e habilidades em ciências com o processo de leitura e escrita pode propiciar uma aprendizagem mais significativa para ambos os domínios do conhecimento.

A fim de testar a hipótese apresentada desenvolvemos um projeto de pesquisa e intervenção com os seguintes objetivos:

 Criar estratégias metodológicas para apresentar a Ciência com linguagem adequada à faixa etária dos alunos, sem perder o foco no que se quer ensinar.  Apresentar formas de vincular o conteúdo de Ciências aos domínios da leitura e da escrita que possibilitem ao aluno não só a capacidade de entender a Ciência articulada ao mundo em que vive, mas também de expressar esse entendimento.

 Desenvolver sequências didáticas de ensino de Ciências, baseadas na metodologia “mão na massa”, visando o processo de investigação-ação com turmas de quarto e quinto anos do Ensino Fundamental.

Justificativa

Entendemos que os processos de produção da escrita e da leitura ocorrendo de modo organizado e sistematizado com o registro e a prática de saberes científicos nos anos iniciais, poderia resultar numa alfabetização em linguagem e em ciências mais significativa para os alunos. De acordo com Moraes (1995), nesse tipo de empreendimento o professor possibilita ao seu aluno uma maior compreensão de seu pequeno mundo que, aos poucos, vai sendo ampliada com o entendimento do mundo maior, uma vez que associado ao processo de alfabetização científica estaria também sendo desenvolvida a sua capacidade de apropriação da língua escrita.

A hipótese que sustenta este trabalho está alinhada com as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino fundamental, que sugerem para o ensino das Ciências Naturais (BRASIL, 1997, p. 62) que:

Desde o início do processo de escolarização e alfabetização, os temas de natureza científica e técnica, por sua presença variada, podem ser de grande ajuda, por permitirem diferentes formas de expressão. Não se trata somente de ensinar a ler e escrever para que os alunos possam aprender Ciências, mas também de fazer uso das Ciências para que os alunos possam aprender a ler e a escrever.

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Apesar da importância atribuída ao ensino de ciências, este não possui o espaço ideal no processo de alfabetização e letramento. Quando há esse espaço, na maioria das vezes, ele ocorre por meio da simples e quase exclusiva utilização do livro didático. A priorização do processo de alfabetização, desarticulado dos demais conteúdos de ensino, faz com que as aulas de ciências no primeiro ciclo do ensino fundamental sejam ministradas com um pouco mais de regularidade somente após os alunos estarem dominando minimamente a leitura e a escrita, ou seja, depois do ciclo de alfabetização. Além disso, como agravante, as aulas ciências nos primeiros anos do ensino fundamental têm sido caracterizadas como um ensino do tipo reprodutivista que, conforme Guido (1996) e Molina (1997), prima pela transmissão de conhecimentos considerados prontos e inquestionáveis, cientificamente aceitos.

Neste trabalho defendemos a perspectiva freireana da alfabetização como ato de reflexão, criação, conscientização e libertação. Freire (1983), rejeita a concepção de alfabetização como aquisição mecânica de codificação/decodificação de palavras e signos. Na sua concepção, representar e ler o mundo tem uma amplitude muito maior e mais significativa que entender os conceitos cristalizados apresentados pela linguagem científica.

Metodologia

Para o desenvolvimento da pesquisa nos orientamos por um processo de investigação-ação nos termos de Carr e Kemmis (1988) e Ebbutt e Elliott (1990), atuando em duas turmas do 4º ano do Ensino Fundamental, de uma escola pública municipal, de forma colaborativa com a professora regente.

Na pesquisa participante o professor que desenvolve a investigação-ação em sua prática não é um mero técnico que se apoia em resultados prontos e sim um colaborador ativo de um processo que consiste em planejar, agir, observar e refletir, em movimento contínuo. Aliando esse processo com a metodologia “mão na massa” - na qual a ciência deve ser vivida e as experiências devem permitir que as crianças se envolvam diretamente na manipulação de objetos quotidianos e materiais de construção do mundo real - desenvolvemos quatro sequências didáticas: Sistema Solar; Disco de Newton; Câmara de orifício; e Caleidoscópio, divididas em três etapas cada uma: a) apresentação de um texto que caracteriza o tema a ser trabalhado, com linguagem apropriada a faixa etária dos alunos; b) desenvolvimento do tema científico por meio de discussão e elaboração de

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atividade “mão na massa”; c) Produções textuais dos alunos priorizando o processo de escrita orientado pelos conceitos de ciências presentes na atividade desenvolvida.

A seguir apresentamos uma análise parcial dos resultados obtidos com a sequência: Câmara de Orifício (olho humano e visão).

Descrição da atividade Câmara de Orifício (olho humano e visão)

Nesta atividade começamos com a leitura de um texto, elaborado por nós, que abordava o processo da visão e a importância da luz para que possamos enxergar algum objeto. Após a leitura em grupo, apresentamos um desenho com a estrutura do olho destacando a córnea, a pupila e a íris (como entrada da luz), a retina (como região onde se forma a imagem) e o nervo óptico (que transmite a informação ao cérebro).

Depoisde discutirmos sobre a visão, possíveis problemas da visão e as características do olho humano, passamos a construção de um protótipo para representar o olho humano com materiais de baixo custo: papel vegetal, latas de alumínio (de refrigerante) e papel cartão. Com esse material, orientamos passo a passo a construção de uma câmara de orifício. A cada passo da construção fazíamos um paralelo com a estrutura do olho humano (a lata de alumínio representava o globo ocular; o pequeno furo na lata representava a pupila; e o papel vegetal a retina). Terminada a construção da câmara, os estudantes foram orientados a observar objetos com ela para que pudessem perceber o que ocorria com as imagens desses objetos. Ao final da atividade foi solicitado um relato escrito de suas observações.

Discussão e Resultados

Durante a atividade foi nítido e envolvimento dos estudantes na confecção da câmara e no diálogo sobre o paralelo entre o modelo proposto e o olho humano, evidenciando uma aula de ciências mais prazerosa. Na análise dos relatos produzidos pelos estudantes, percebemos que os conceitos de ciências estavam presentes em seus textos, conforme os trechos destacados a seguir:

“(...) para ver a imagem certa precisamos de muita luz, mas mesmo assim você vai ver a imagem invertida.”

“(...) aprendi que vemos as imagens de cabeça para baixo. Sem o cérebro não conseguimos ver nada direito.”

“Hoje nós fizemos uma câmara escura usando os seguintes materiais (...) aprendi que para ver precisamos da retina e bastante luz, pena que a imagem fica invertida, mas o cérebro resolve isso.”

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A professora regente da turma destacou o envolvimento dos alunos com a atividade proposta como importante não apenas para o entendimento da visão, mas também na motivação para elaboração do registro, como destacamos a seguir:

“A abordagem metodológica usada foi baseada na construção de um instrumento curioso aos olhos das crianças, mas de grande entendimento científico, capaz de valorizar práticas lúdicas, pedagogicamente planejadas, voltadas para um ensino de ciências significativo, tendo a criança como foco de uma aprendizagem desafiadora e encantadora.”

Considerações finais

Durante todo o projeto foi nítido o envolvimento dos alunos e alunas que, incentivados por uma prática diferenciada de ensino e aprendizagem de ciências, mediada pela ação do professor, foram tirando conclusões que associavam as situações apresentadas em sala de aula com situações do seu cotidiano. Até o momento o estudo tem evidenciado que a aquisição do conhecimento científico pode contribuir para o desenvolvimento e aprimoramento da linguagem escrita, com potencial para atingir também para outros campos de conhecimento. As análises, preliminares, das produções textuais dos alunos indicam a presença de elementos da linguagem científica que corroboram com a hipótese inicial do nosso trabalho.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997.

CARR, W. & KEMMIS, S. Teoría crítica de laensenãnza: La investigación-acciónenlaformacióndelprofesorado. 1. ed. Barcelona: E. Martinez Roca, S. A., 1988. EBBUTT, D.& ELLIOTT, J. Por quédeben investigar losprofesores? In: ELLIOTT, John. La investigación-acción en Educación. Madrid: Ed. Morata, 1990. p. 176 – 190.

GUIDO, L. F. E. A Evolução Conceitual na Prática Pedagógica do Professor de Ciências das Séries Iniciais. 1996. vi, 159 f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Educação). UNICAMP, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Ed. Paz e Terra. 3. ed. Rio de Janeiro, 1983. MOLINA, A. El modelo didácticodel maestro y laclase de cienciasenla básica primaria. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, 1997, Sociedade Brasileira de Física, Águas de Lindóia, São Paulo, Atas.

MORAES, R. Ciências para as Séries Iniciais e Alfabetização. 2. ed. Porto Alegre: Sagra Editora, 1995.

Referências

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