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PROCESSOS FORMATIVOS EM AGROECOLOGIA NO MST/PR: A LUTA PELA EMANCIPAÇÃO HUMANA

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PROCESSOS FORMATIVOS EM AGROECOLOGIA NO MST/PR: A LUTA PELA EMANCIPAÇÃO HUMANA

LIMA, Aparecida do Carmo (UEM) NOMA, Amélia Kimiko (Orientadora/UEM)

Agência Financiadora – CNPq

Este texto aborda a proposta de educação em construção no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Trata de processos formativos na luta pela emancipação humana, desenvolvidos na materialidade das práticas educativas em Agroecologia do Movimento Sem Terra do Estado do Paraná (MST/PR).

A discussão desenvolvida embasa-se em análise de documentos produzidos pelo MST (Cadernos de Educação, Cadernos de Formação e Jornal Brasil de Fato) e pelo MST/PR referente às Práticas Educativas em Agroecologia (Projeto Pedagógico, artigos em revistas e cartilhas). Aportes teóricos e metodológicos foram buscados na literatura pertinente para subsidiar o diálogo com os documentos e para concretizar a análise das fontes primárias selecionadas.

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) – tem articulações com o Movimento Social Popular do Campo (MSPdoC) – é fruto das contradições histórico da sociedade brasileira a partir de meados dos anos 1970. Entende-se que as ações coletivas protagonizadas pelos sujeitos coletivos, os Sem Terras resultam da necessidade da socialização dos bens materiais e imateriais, tidos como propriedades privada sob o domínio da classe dominante. De modo contraditório, os sujeitos sociais do campo organizado nos Movimentos Sociais Populares, demarcam espaço na sociedade, desvelando os problemas estruturais e as suas respectivas causas e conseqüências. Opõem-se ao projeto preconizado pela classe dominante. Buscam intervir, organizar processos socioeconômico visando à socialização dos bens materiais e ampliar o processo de formação da consciência de classe.

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Diante da crise do modo vida social capitalista, O MST identifica a necessidade da construção um outro projeto político coletivo, alternativo e emancipatório, pois urge a necessidade de superação dos problemas estruturais para assegurar as condições para produzir a vida com dignidade. Neste contexto, o Movimento Social Popular, a educação e os processos organização da produção sob princípios da Agroecologia, são dimensões que se associam à construção de um projeto de campo em contraposição à lógica do capital.

Concomitantemente, ampliou-se a ofensiva da classe dominante, para com os sujeitos do campo brasileiro, em função da defesa do projeto hegemônico na perspectiva da reestruturação e incorporação de novas forças produtivas para a organização do trabalho visando uma produção, destinada aos interesses da capital. A partir dos meados dos anos de 1990, o projeto hegemônico de desenvolvimento do campo passou a ser articulado com predomínio do capital financeiro internacional, por intermédio das empresas transnacionais, que passaram a controlar o mercado agrícola e também os recursos naturais.

Entre as décadas dos anos de 1990 e 2000, o Movimento tem promovido ações políticas e organizativas na luta pela democratização das riquezas na sociedade brasileira. Tem sistematizado as suas experiências (processos formativos e educacionais) no interior da sua práxis político-educativa em consonância com os seus objetivos e Projeto Pedagógico em construção.

O MST, nos seus 25 anos de história, tem desenvolvido um conjunto de processos político-organizativo de confrontação à lógica de funcionamento do capitalismo. Nos espaços de Reforma Agrária, nos acampamentos (espaços de luta e resistência para a conquista da terra) e nos assentamentos (território sócio-político conquistado como direito legal-jurídico), em consonância com a práxis política e organizativa dos sujeitos sociais pertencentes a este Movimento, propõe-se e constrói-se a organização da produção, do trabalho e da educação.

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As práticas socioeconômicas (assentamentos e acampamentos) e as práticas educativas possuem características contraditórias pela sua inserção concreta na sociedade de classe, vivenciam-se e manifestam as tensões, contradições, os limites e expressam dimensões e possibilidades da constituição de processos socioeconômicos emancipatórios.

A insistência do Movimento Social do Campo em investir na formação humana, construindo espaços alternativos à lógica do capital, possibilita uma formação de sujeitos sociais conscientes que podem se engajar na luta pelas transformações das relações de produção e das relações sociais no campo e na cidade.

O MST e a luta pela concretização de Políticas Sociais Pública de Educação nos territórios e espaços da Reforma Agrária

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é identificado e se autodenomina em seus documentos internos como Movimento dos Sem Terra ou simplesmente pela sigla “MST”. É um Movimento de Massas, de caráter Sindical, Popular e Político, “[...] é um movimento social, de massas, autônomo, que procura articular e organizar os trabalhadores rurais e a sociedade para conquistar a Reforma Agrária e um Projeto Popular para o Brasil” (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA. 2001a, p. 1, grifos do autor).

A luta do MST pela terra possui vínculo estreito com a luta pela educação, entendida como processo social, e também com a educação escolar, processos que, articulados em mediação com a luta social e a organização coletiva, têm se caracterizado como dimensões formativas dos sem terra. Em meados dos anos de 2000, os sujeitos do campo (Sem Terra), pertencentes ao MST, reafirmaram a necessidade de construir processos socioeconômicos no campo pautados em novas relações sociais entre os homens e o homem com o meio ambiente e a natureza, na busca pela superação das relações sociais contraditórias praticadas na vida no assentamento. Uma das iniciativas

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do Movimento foi a luta pelos direitos às condições necessárias para a produção da existência e à apropriação do conhecimento sistematizado historicamente.

Como o Movimento Social também é produzido pela sociedade de classe, os sujeitos sociais do campo, ao lutarem pela terra na sociedade brasileira, demarcam que a luta pelo trabalho e pela educação é processo indissociável da luta pela transformação social. O acesso e a permanência na educação escolar caracterizam-se como possibilidade de ampliar a escolarização e a participação dos sujeitos Sem Terra na construção de um projeto alternativo de sociedade. Devido à materialidade da luta e à construção dos processos formativos no interior do MST, estas questões acontecem pela mediação, essencialmente contraditária, entre a educação formal, sob o controle do Estado, e a intencionalidade pedagógica do MST de uma educação emancipatória.

Assim, as principais práticas educativas formais, articuladas mediante a construção de políticas públicas de educação, são as Escolas de Assentamentos e as Escolas Itinerantes. Estas estão integradas à rede pública de ensino, com manutenção e controle do “Estado - em Ação”, por meio da intervenção das Secretarias Estaduais de Educação, do Ministério da Educação e dos Núcleos Regionais de Educação, ou seja, integram-se ao Sistema Nacional de Educação, cujo financiamento segue as orientações da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases n. 9.924/96.

Entende-se que a constituição de uma política educacional para e no campo está intrinsecamente associada e influenciada pelas determinações históricas da sociedade contemporânea. Ressaltam Guhur e Silva (2009, p.11) que a experiência educativa do MST se forja como não estatal “[...] não por apelar ao jogo do mercado, de um lado, nem por configurar-se em assistencialismo, de outro, mas ao contrário, por reivindicar o controle direto dos trabalhadores sobre a educação a que têm direito e que lhes interessa, e que o Estado tem obrigação de prover”.

Diversos estudiosos têm dialogado com a documentação e produção teórica do Movimento visando compreender e analisar o conjunto das suas práticas educativas, que

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primam em se basear nos princípios educacionais do MST, podem ser citados Araújo (2007), Bahniuk (2008), Machado (2003), Cestille (2009), Guhur (2010), entre outros.

Para o MST, o sentido de uma prática educativa no processo de formação humana está associado à concepção de educação no sentido amplo; além da ocupação da escola, deve-se ter uma intencionalidade política, contribuindo para a superação da alienação e para o processo de humanização do ser social. Essas práticas incluem: as lutas sociais, os cursos informais, os encontros, as atividades intersetoriais, os centros/escolas de formação, as marchas, as romarias, a feira da comunhão e partilha, as manifestações e os protestos.

A proposta educacional do MST se fundamenta em cinco princípios, os quais estabelecem uma educação: 1) para a transformação social; 2) aberta para o mundo, aberta para o novo; 3) voltada para o trabalho e a cooperação; 4) voltada para as várias dimensões da pessoa humana; 5) como um processo permanente de formação/transformação humana.

Tais princípios são os fundamentos na elaboração dos objetivos estratégicos do trabalho educativo para o MST (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, 2002). Nos processos formativos das práticas educativas realizadas pelo Movimento, a intencionalidade e a sua concretização, em parte, são articuladas com uma metodologia de trabalho em consonância com tais princípios.

A luta por política pública de educação no campo resulta das necessidades dos trabalhadores envolvidos no processo de luta por uma sociedade sem exploração. De acordo com Caldart (2004), o ano de 1998 significou um marco histórico na definição de um novo modo de lutar e de pensar a educação para o povo brasileiro que produz a vida no campo. A partir disto, tanto o debate e quanto a mobilização popular passaram a remeter ao conceito de Educação do Campo e não mais educação rural ou educação para o meio rural.

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A construção da Educação do Campo deve-se às ações políticas “[...] dos sujeitos coletivos do campo na esfera federal, tanto pela forma como se deu sua construção quanto pelo conteúdo, foi a Resolução CNE/CEB nº 1, de 03 abril de 2002, que institui as “Diretrizes Operacionais da Educação Básica para as Escolas do Campo” (MUNARIM. 2006, p.18).

Na reflexão de Caldart, “[...] a materialidade educativa de origem da Educação do Campo está nos processos formadores dos sujeitos coletivos da produção e das lutas sociais do campo”. Neste contexto, esse novo conceito teórico e prático, “[...] desafia o pensamento pedagógico a entender estes processos, econômicos, políticos, culturais como formadores do ser humano e, portanto, constituintes de um projeto de educação emancipatória, onde quer que ela aconteça inclusive na escola” (CALDART, 2008, p. 81).

No percurso da construção da práxis política organizativa do Movimento Sem Terra, tem sido valorizada a luta pela educação no âmbito das políticas sociais públicas de educação. Esta “[...] luta por educação despertou a consciência do direito à educação e a noção de público entre as famílias sem terra e outras famílias do campo, o que é fundamental num país como o Brasil, para construção de políticas realmente públicas” (BRASIL DE FATO, 2006, p. 1).

Simultaneamente, o MST vem construído uma concepção de educação e de escola associada à produção histórica e social da educação, na busca de um constante aprimoramento, em dialogo e coerência, com os seus objetivos e princípios. O Movimento “[...] aprendeu com a luta que a escola deve estar onde o povo está, e que os camponeses têm o direito e o dever de participar da construção de seu projeto de escola” (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, 2001b, p. 125.). No decorrer da luta pela Reforma Agrária, tem-se firmado também um jeito de fazer a formação das pessoas:

Uma educação centrada no desenvolvimento do ser humano, preocupada com a formação de sujeitos da transformação social e da

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luta permanente por dignidade, justiça e felicidade [...]. O MST é movimento que valoriza a educação como um importante processo de libertação dos sujeitos. Acredita que a educação pode humanizar e forjar sujeitos que promovam mudanças (BRASIL DE FATO, 2006, p. 1).

A partir de 2005, uma das definições políticas do Movimento, relacionada à tarefa atribuída à educação, tem se expressado no tema “Todos e Todas Sem Terra Estudando”. Entende-se que estudar é uma das demandas e necessidades dos sujeitos do campo para compreender a realidade social na sua totalidade concreta e, também, as mediações que influenciam e determinam as relações sociais na produção do campo, e que esses sujeitos sociais se coloquem na condição de sujeitos históricos na construção de um projeto popular de campo. O estudo é um dos princípios políticos e organizativos do Movimento, e tem sido assumido como uma das dimensões educativas na formação humana, na perspectiva de elevar o processo da formação da consciência da classe trabalhadora.

No processo de luta pela Terra e pela Reforma Agrária, até os anos de 2006, o MST/PR, conquistou 311 áreas de assentamentos, com a média de 30 mil famílias assentadas. Quanto à situação das famílias acampadas, conta com 65 acampamentos organizados pelo MST, com uma média de 7.560 famílias (MST/PR, 2006, p. 37). No levantamento de informações referente ao MST/PR, encontram-se alguns dados relativos à situação educacional de processos formativos nas áreas de Reforma Agrária no Estado do Paraná. O MST contribuiu e participou da “[...] construção de 93 escolas, com educação infantil, ensino fundamental e médio, onde estudam 11.300 pessoas. São 62 escolas municipais, com 4.500 educandos; 20 colégios estaduais, com 4.300 educandos; e 11 escolas itinerantes, com 2.500 educandos” (BRASIL DE FATO, 2006, p. 2).

A concretização de processos formativos no Movimento Social tem possibilitado tecer uma análise das suas experiências. E, também, a realização de reflexões em comum entendimento político sobre as Práticas Educativas coordenadas pelo Movimento Social, associadas e caracterizadas pelos Cursos Formais combinados com a Escolarização e a Profissionalização, diferenciando a sua intencionalidade e os aspectos que mantêm

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conforme as orientações da Política Educacional brasileira para a “Educação Profissional”. (INSTITUTO TÉCNICO DE CAPACITAÇÃO E PESQUISA DA REFORMA AGRÁRIA, 2007).

No movimento contraditório das relações sociais no campo brasileiro, há a negação de direitos sociais básicos como a terra, o trabalho, a educação e a escola. Logo, a conquista ao direito à educação, o acesso e a permanência na educação escolar caracterizam-se como possibilidades de ampliar a escolarização e a participação dos sujeitos sem terra. Essa demanda tem se realizado em função da pressão política do MST para com e mediante a intervenção do Estado como responsável para efetivar o direito à educação escolar.

No entendimento de Araújo (2007), a proposta de educação no MST almeja uma educação para a transformação, por intermédio das lutas pela garantia da educação escolar e, pela escolarização, são fundamentais para a construção da emancipação dos trabalhadores. Contrapõe-se a uma educação para a conformidade e para a integração ao mundo do trabalho capitalista.

Práticas educativas no MST/PR

Para o Movimento Social, a Agroecologia, constitui-se em uma base teórica metodológica que pode somar na construção de um novo jeito de viver no campo e na construção da estratégia política dos Movimentos Sociais do Campo, visando forjar um Projeto Popular para o Campo. Devido à ausência de políticas públicas – de educação, crédito e acompanhamento técnico – no campo, entende-se que a mudança na forma de produzir, a luta por políticas públicas, e a educação no sentido amplo, são tomados como dimensões político na disputa de projeto de campo entre os grupos sociais antagônicos.

Tratar das Práticas Educativas em Agroecologia no MST/PR exige estabelecer diálogo com alguns elementos e definições tomados para a totalidade dos processos formativos

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no interior do MST em território nacional, os quais são mediados pelas determinações gerais em parte do campo da política educacional brasileira, do campo socioeconômico e da agricultura.

Em decorrência dos determinantes históricos e circunstâncias da política econômica neoliberal incorporada na lógica de desenvolvimento da sociedade brasileira em meados dos anos de 1990 e nos anos de 2000, as ações políticas do Governo Federal e do Estado do Paraná foram de total a represália aos Movimentos Sociais Populares do Campo, a exemplo o MST. Além da criminalização, perseguição política aos sujeitos sem terra, houve corte e retirada de programas sociais conquistados pelos povos do campo, como o Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (PROCERA), o Convênio de Contratação de Técnico para atuar em áreas de Reforma Agrária (LUMIAR). Diante da deficiência e da ausência de assistência técnica, a orientação do Movimento no Estado do Paraná buscou articular um processo formativo interligado à realidade concreta dos acampamentos e assentamentos das áreas de Reforma Agrária.

O MST/PR, particularmente algumas pessoas da direção política do Movimento, juntamente com os Setores de trabalho (Setor de Educação, Formação e Produção) sintetizam a demanda relacionada à organização da Produção nos Assentamentos. Concomitante, elabora-se e planeja-se a possibilidade de promover processos formativos visando à formação de militantes – técnicos “Técnicos Pés no Chão”, vinculados organicamente à base social do Movimento.

Salienta Luzzi (2007), na sua análise acerca da construção do debate agroecológico Brasil, as perspectivas da agenda de diferentes atores sociais do campo e a importância da temática para cada um deles, tais como: a) a experiência da Rede PTA (Projeto Tecnologias Alternativas)/FASE (Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional); b) os Movimentos Sociais Rurais (especialmente o movimento sindical e o MST); c) algumas instituições do Estado (sobretudo a Política Nacional de ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural) e o marco referencial da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

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Ressalta Guhur (2010, p. 148-150) dois processos formativos: o curso não - formal “Prolongando em Agroecologia”, realizado na Escola José Gomes da Silva, em 2001, com duração de 60 dias; e, no Centro de Formação e Pesquisa Ernesto Guevara (CEPAG), em Santa Cruz de Monte Castelo, Noroeste do Paraná, outra experiência de curso não-formal, “Técnicos de Pés Descalços”, entre 1999 a 2000, com uma formação parcial direcionada à Agroecologia.

Ao tratar das Práticas Educativas, esta deve ser compreendida interligada com a totalidade de outros processos formativos, tais como Jornadas de Agroecologia, Campanhas, Mobilizações, Encontros, Reuniões, Congressos, Marchas e Romarias da Terra, Oficinas de Capacitação, entre outros, realizados pelas Organizações e Movimentos Sociais Populares do Campo (Via Campesina e também a Consulta-Assembléia Popular). Evita-se, assim, não atribuir funções e responsabilidade a processos que só têm força e trazem acúmulo para a luta dos trabalhadores associados às definições que se somam na construção do Projeto Popular para o Campo (Agricultura), defendido pelo MST e a Via Campesina e as demais Organizações Populares da classe trabalhadora.

Esta tomada de definição soma-se às estratégias e linhas políticas definidas pelo MST a partir do 4º Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília em 2000. Agroecologia foi assumida como bandeira de luta do MST no 4º Congresso Nacional, significando um novo projeto para o campo, baseado noutra matriz tecnológica para o enfrentamento ao agronegócio e às políticas neoliberais.

A Reforma Agrária defendida pelo MST aponta a Agroecologia como alternativa econômica e ambiental. Embora não haja consenso, a Agroecologia pode ser entendida como um campo de conhecimentos de caráter multidisciplinar que subsidia, aos trabalhadores organizados no campo princípios e conceitos ecológicos para o manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis.

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Para o Movimento Social, a Agroecologia, constitui-se em uma base teórica metodológica que pode somar na construção de um novo jeito de viver no campo e na construção da estratégia política dos Movimentos Sociais Populares do Campo.

O Movimento Sem Terra no Estado do Paraná, nos anos de 2000, tem construído o entendimento sobre a necessidade concreta de organização dos assentamentos conquistados pela luta das famílias Sem Terra a demanda e ausência de um acompanhamento técnico, assim como aspectos estes que combinou com a necessidade de planejar, programar e coordenação processos formativos. A construção desse entendimento no MST/PR possibilitou vivenciar algumas experiências educativas vinculadas à Agroecologia de modo pontual, as quais antecederam a criação dos Cursos formais Técnicos em Agroecologia.

O processo de transição para a Agroecologia se constitui como uma experiência recente nos assentamentos de Reforma Agrária no Brasil (CEAGRO, 2008). Mas há diversas experiências sendo desenvolvidas e existe a consciência de que a Agroecologia é estratégica para o desenvolvimento dos assentamentos e uma possibilidade de garantir certo grau de autonomia aos agricultores e agricultoras e suas organizações. A Agroecologia é considerada como uma das bases científicas da agricultura.

A relação entre as práticas pedagógicas do MST/PR e o estudo da Agroecologia tem sido incorporada no debate, na elaboração e na construção de práticas educativas para a formação de militantes técnicos, por ser constituída na perspectiva da formação vinculada a fundamentos teórico-metodológicos sob enfoque da Agroecologia.

A formação de estudantes articulados à perspectiva da atuação do militante-técnico em Agroecologia caracteriza-se pela necessidade concreta de contribuir na reorganização dos assentamentos de reforma agrária e realizar o acompanhamento técnico junto às famílias participantes das comunidades do campo.

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O processo de reestruturação da organicidade interna do Movimento contribuiu para o debate e definições do MST no Estado do Paraná (MST/PR.2004; MST/PR.2006) sobre a função dos Centros/Escolas de Formação e a organização e criação dos Cursos Técnicos em Agropecuária e Agroecologia (Ensino Médio Integrado e Pós-Médio), ampliando, em conjunto com o MST e a Via Campesina brasileira e da América Latina, para o Curso de Graduação e Tecnólogo em Agroecologia. Em meados dos anos de 2008, foi criado o Curso Tecnólogo em Gestão de Cooperativas e o Técnico em Contabilidade, em função das demandas das cooperativas e associações (GUHUR. 2010).

O MST/PR tem desencadeado ações para consolidar práticas educativas em agroecologia, na formação política e técnica dos sujeitos Sem Terra no Estado do Paraná. A formação em agroecologia é desenvolvida nos centros/escolas de formação do MST/PR; Escola Iraci Salete Strozak, (em Cantagalo), Escola Ireno Alves dos Santos (em Rio Bonito do Iguaçu), Escola José Gomes da Silva (em São Miguel do Iguaçu-PR), Escola Milton Santos (em Maringá) e Escola Latino Americana de Agroecologia (na Lapa).

Ressalta-se que, orientada pelo referencial da Pedagogia do Movimento (CALDART, 2004), a educação tem compromisso político e com a transformação social, em consonância, a organização e o fazer educativo nas práticas educativas em agroecologia devem priorizar a construção do vínculo, no tempo/espaço-escola, com as comunidades de origem dos educandos e com os processos de produção e processos formativos desenvolvidos.

Por isso, na organização e no fazer das práticas educativas em agroecologia, é fundamental que faça parte da intencionalidade política pedagógica a compreensão de que a formação do Sem Terra não se resume às atividades desenvolvidas na escola, mas que esta é forjada, também, nas matrizes da formação humana, conforme identificamos na Pedagogia do Movimento “o princípio educativo do trabalho, a práxis social e a história” (CALDART, 2004, p. 42).

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A formação do militante-técnico deve garantir a dimensão do conhecimento técnico-científico, político e organizativo. Dessa forma, o Projeto Político Pedagógico dos Centros/Escolas de Formação e das Práticas Educativas em Agroecologia (curso formais) e o seu desdobramento (planejamento, organização e o fazer pedagógico) necessitam articular estes aspectos. Este é o motivo, também, pela opção das Práticas Educativas em Agroecologia serem organizadas em regime de alternância, tendo momentos distintos denominados de Tempo Escola (T. E) e Tempo Comunidade (T. C), compreendidos como tempos contínuos do processo educativo.

O MST/PR, no seu processo de luta pela terra, pela reforma agrária, de resistência e conquista, tem consolidado os centro/escolas de formação de abrangência estadual, sendo a Escola Iraci Salete Strozak, a Escola José Gomes da Silva, a Escola Milton Santos, a Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA).

De modo geral, ressalta-se que os Centros/Escolas de Formação não estão legalizados como escola (instituição de ensino), são caracterizados com esta identidade por meio da atribuição dada pelos próprios sujeitos Sem Terra. Nesses espaços, realizam-se a educação escolar e a formação técnica em agroecologia dos estudantes de acordo com a estrutura curricular de cada curso formal. Os cursos formais são realizados em parcerias com algumas instituições públicas, são certificados pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR), que contribui de modo relevante na construção dos mesmos, e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) por meio dos recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA).

No percurso de seis anos de intervenção dos centros/escolas de formação, as práticas educativas em agroecologia proporcionaram a formação de 185 militante-técnicos habilitados para intervir na organização e construção de práticas agroecológica nas áreas de reforma agrária e comunidades do campo. Nesses espaços, além dos Cursos Técnicos em Agroecologia, acontecem outras atividades formativas, como encontros, seminários, cursos e reuniões de interesse dos seus sujeitos e parceiros.

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Apresentam-se os principais aspectos centrais que constituem de modo comum e perpassam o Projeto Político-Pedagógico dos Cursos Técnicos em Agroecologia, nas respectivas áreas especificas de aprofundamento e particularidade da habilitação; o Curso Técnico em Agroecologia (Ensino Médio Integrado), Curso Técnico em Agroecologia com ênfase em Agropecuária e em Agroecologia, Tecnólogo em Agroecologia, Curso Técnico em Saúde Comunitária (Nível Médio), particularmente, o CEAGRO tem realizado o Curso Técnico em Agroecologia com Ênfase em Sistemas Agroflorestais e Tecnologia da Madeira. Ao consultar os materiais do MST/PR que tratam do conjunto dessas Práticas Educativas em Agroecologia, realizadas nos Centros/Escolas de Formação, as orientações e princípios gerais que se articulam ao fazer pedagógico para a formação do militante-técnico-educador em Agroecologia deriva das definições políticas tomadas em comum pela Direção Política e Setores de Trabalhos do MST/PR, que respondem, politicamente e de forma direta, pelos processos formativos.

Com base na pesquisa em fontes documentais da Escola Milton Santos (2002; 2004), Toná (2006), MST/PR (2006) e CEAGRO (2008), identifica-se que as questões centrais, nelas apresentadas, somam-se aos aspectos relativos à compreensão da necessidade de o Movimento planejar, programar e coordenar, teórica e metodologicamente, a formação Técnica em Agroecologia dos Sujeitos Sem Terra ante a demanda e o desafio para consolidar o processo sócio-organizativo e produtivo nas áreas de Reforma Agrária no Estado do Paraná em consonância com as definições políticas do MST em território nacional.

Conforme material do MST (2006), as Práticas Educativas em Agroecologia têm por objetivo geral estabelecer uma proposta de educação da classe trabalhadora em que as técnicas e as ciências possam estabelecer parâmetros que ofereçam alternativas à agricultura convencional e que, portanto, volte-se para a vida do humano com dignidade. Para tanto, o método pedagógico dos processos formativos em Agroecologia é organizado em função de garantir a formação técnica, política e a capacitação das

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pessoas que nela participam. Visa, sobretudo, possibilitar o desenvolvimento da consciência organizativa e política, combinada com outras dimensões da formação humana.

Considerações finais

Compreende-se que fazem parte do percurso histórico da construção do Projeto Pedagógico do MST, as lições e aprendizados construídos mediante a sua práxis política organizativa do MST, a luta política na efetivação de demandas concretas por educação nas áreas de Reforma Agrária e, também, a luta por Políticas Sociais Públicas de Educação. Estas questões são determinadas pelas relações sociais de produção antagônicas no campo brasileiro, associadas à disputa política de projeto de sociedade, de campo, de educação.

Devido à materialidade da luta e à construção dos processos formativos no interior do MST, estas questões acontecem pela mediação, essencialmente contraditória, entre a educação formal, controlada pelo Estado, e a intencionalidade pedagógica do MST de uma educação emancipatória.

Os fundamentos assumidos pelas Práticas Educativas em Agroecologia do MST/PR possibilitam que os sujeitos que vivenciam o processo formativo possam fazer a leitura da realidade, “desnaturalizando” as relações sociais. São processos formativos de lutas pela emancipação humana, desenvolvidas na materialidade das práticas educativas em agroecologia do MST/PR, que têm proporcionado formação de sujeitos sociais para a construção de projetos de produção alternativos no campo.

Estabelece-se a relação indissociável entre trabalho e educação visando contribuir para formar sujeitos protagonistas que se oponham à formatação da sociedade de classe e sua manutenção. As práticas educativas em Agroecologia estabelecem a organização e a realização de trabalho socialmente útil, a organização coletiva e a dimensão do estudo. O propósito é possibilitar que os sujeitos das práticas educativas participem do projeto

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educativo que contribui para a construção de uma educação que não internaliza os valores da ideologia dominante.

A produção teórica no campo da educação e da formação sistematizada pelo MST tem se constituído em diálogo com a demanda de um Projeto Político Popular de Campo brasileiro e os anseios na construção de uma sociedade emancipada socialmente e humanamente. Na perspectiva do MST/PR, os Centros/Escolas de Formação no e do Movimento devem contribuir na luta pela emancipação política e também pela emancipação humana.

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Referências

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