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Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 13ª Câmara Cível

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0254463-12.2014.8.19.0001 CL

APELAÇÃO CÍVEL Nº. 0254463-12.2014.8.19.0001

APELANTE: ESTADO DO RIO DE JANEIRO

APELADO: BRUNA NIGRI

RELATOR: Desembargador Fernando Fernandy Fernandes

APELAÇÃO

CÍVEL.

MANDADO

DE

SEGURANÇA. IMPETRANTE QUE, APÓS TER

REALIZADO O EXAME DO ENEM E ATINGIDO

A

PONTUAÇÃO

NECESSÁRIA,

TEVE

NEGADO O CERTIFICADO DE CONCLUSÃO

DO ENSINO MÉDIO, SOB O FUNDAMENTO

DE NÃO POSSUIR IDADE MÍNIMA DE 18

ANOS

PARA

SUA

CONCESSÃO.

ILEGALIDADE.

INTELIGÊNCIA

DO

ENUNCIADO Nº 284 E PRECEDENTES DESTA

CORTE DE JUSTIÇA. ENTENDIMENTO FIRME

NO SENTIDO DE QUE O ACESSO Á

EDUCAÇÃO E A CAPACIDADE INTELECTUAL

DO ALUNO AFASTAM O CRITÉRIO ETÁRIO

ESTABELECIDO, COM BASE NOS ARTS. 227

E 208, V DA CRFB; ART. 54, V, DO ESTATUTO

DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O ART.

4º, V DA LEI DE DIRETRIZES E BASES.

APELAÇÃO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.

DECISÃO

Trata-se de Mandado de Segurança ajuizado por BRUNA NIGRI em

face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, contra ato da Coordenação de

Certificados da Secretaria de Estado de Educação do Estado do Rio de Janeiro,

que se negou a expedir certificado de conclusão do ensino médio com base no

resultado obtido no exame nacional do ensino médio – ENEM 2013.

Aduz a impetrante, em síntese, que se submeteu à prova do ENEM

obtendo pontuação necessária para adquirir o certificado de conclusão do ensino

médio, nos termos da Portaria nº 144/2012, bem como para ingressar no curso

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de Medicina da Universidade Estácio de Sá, porém, ainda não alcançada a idade

exigida na norma regulamentadora.

Requereu a expedição de certificado de conclusão do ensino médio

com base nas notas do ENEM à Secretaria de Estado de Educação, que foi

negada por não respondê-la no prazo de 48 horas.

Requer, portanto, a expedição do certificado de conclusão do ensino

médio da impetrante.

Decisão de índice 00076, que deferiu a tutela antecipada, determinando

que o Impetrado emita o certificado de conclusão do ensino médio à impetrante e

intimando o Reitor da Universidade Estácio de Sá para que possibilite a

matrícula da impetrante condicionada a posterior emissão do Certificado de

Conclusão por parte do impetrado.

Manifestação da Universidade Estácio de Sá de índice 00086/00088

que cumpriu a liminar, determinado pelo MM. Juízo a quo. No entanto, alegou

que a Impetrante não alcançou os requisitos apontados na Portaria nº 144 do

INEP, requerendo que reconsiderasse a decisão liminar, revogando-a.

Petição da Impetrante de índice 00127, informando que foi aprovada no

vestibular na 28ª colocação e que houve resposta do SEEDUC inadmitindo o

requerimento de solicitação do certificado do ensino médio, em razão da idade.

Parecer do Ministério Público de índice 00137, opinando pela

manutenção da liminar e procedência do pedido.

Sentença de índice 00160 que julgou procedente o pedido, mantendo a

liminar, nos termos do art. 269, I do CPC, sob os seguintes fundamentos, verbis:

“Como já decidido às fls. 44/45, a narrativa fática apresentada pela impetrante foi comprovada pelos documentos que instruem a petição inicial, havendo demonstração da existência do direito líquido e certo para a concessão do pleito liminar, naquela oportunidade. Em sede de mérito, o cenário mantém-se o mesmo, tendo em vista que normas infraconstitucionais não podem ser interpretadas e aplicadas em desconformidade com a constituição federal. Com efeito, se por um lado foi escolha

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política do Estado destinar a possibilidade de expedição de certificado de conclusão aos que dela mais necessitam, o critério etário não pode prevalecer ante os princípios que embasam o Direito da Criança e do Adolescente. Além disso, a impetrante já adquiriu a maioridade civil, tendo completado 18 anos no último dia 05/10/1996, estando legitimada a exercer os próprios atos da vida civil, o que fortalece a ilegalidade do ato impugnado.

Conforme previsto na Constituição, é dever do Estado garantir a todos acesso a níveis elevados de ensino e à progrssão acadêmica. Por outro lado, diante das multiplas formas e técnicas de ensino desenvolvidas no último século, incumbe primeiramente aos pais e responsáveis, juntamente com seus filhos, adotar as escolhas educacionais que melhor se adequarem a sua própria realidade.”

Dizendo em outros termos, desde que consciente em sua escolha e devidamente instruído pelos pais, nada obsta que um adolescente possa utilizar-se do Exame Nacional do Ensino Médio a fim de obter o Certificado e prontamente ingressar na faculdade. Assim, em que pese a finalidade primordial do ensino supletivo, não se pode deixar a a margem a situação da Autora. Em casos similares, embora não análogos, este Tribunal tem decidido ser possível o acesso de menores de 18 anos a cursos supletivos - Verbete Sumular n°284, TJRJ -, a fim de concluir o ensino médio e ingressar em Instituição de Ensino Superior para a qual foram aprovados.

Irresignado, o réu interpôs recurso de apelação, alegando, em suma,

que: (i) todo o regramento legal foi observado, sendo cumpridas todas as

formalidades legais, pois de acordo com a informação da Autoridade Coatora, a

certificação de conclusão do Ensino Médio por meio do ENEM, como

instrumento de correção da distorção idade-série, permite-se apenas àqueles

maiores de 18 anos, com a função de abreviar o tempo de conclusão do Ensino

Médio; (ii) é um dever da Administração Pública conferir se estão presentes as

condições mínimas e indispensáveis para emissão do referido certificado, dentre

elas, o requisito etário, descabendo, portanto, qualquer violação ao princípio da

legalidade.

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Contrarrazões apresentadas no índice 00194.

Parecer do Ministério Público de índice 00215, opinando pelo

conhecimento do recurso e pelo seu desprovimento, mantendo-se a r. sentença.

Parecer da Procuradoria de Justiça de índice 00229, opinando pelo

conhecimento e desprovimento do recurso.

Relatados, decide-se.

A apelação é tempestiva e estão satisfeitos os demais requisitos de

admissibilidade.

As alegações recursais não merecem prosperar, devendo a R.

Sentença ser mantida in totum

A questão versa unicamente se a Impetrante, menor de 18 anos,

aprovada no exame do ENEM, porém sem concluir o Ensino Médio, faz jus ao

respectivo certificado de conclusão.

O entendimento jurisprudencial é firme no sentido de que se afasta o

critério etário nesses casos, pois prevalece o acesso à educação e o critério

meritório, com o escopo de se efetivar as normas constitucionais que visam

preservar o desenvolvimento, com absoluta prioridade, da criança, do

adolescente e do jovem, nos moldes do art. 227 da CRFB.

Convém lembrar que o acesso aos mais elevados níveis do ensino é

garantido mediante aferição de sua capacidade intelectual, conforme previsão

expressa da Constituição Federal (art. 208, V) e que são reproduzidos pela

legislação infraconstitucional, quais sejam, o Estatuto da Criança e Adolescente

(art. 54, V), e da Lei de Diretrizes e Bases (art. 4º, V):

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

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Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

Outrossim, a inteligência do Enunciado nº 284 da Súmula desta Corte,

corrobora o pleito trazido pela Apelada, no sentido de que é dispensável que o

estudante possua 18 anos para adquirir o Certificado de Conclusão, sendo certo

que a Portaria 144/2012 deve ser interpretada à luz dos princípios

constitucionais.

Nº. 284"O estudante menor de 18 anos, aprovado nos exames de acesso à Universidade, pode matricular se no curso supletivo para conclusão do ensino médio."

Neste diapasão, colacionam-se decisões desta Egrégia Corte:

MANDADO DE SEGURANÇA 0009383-12.2014.8.19.0000

DES. FERDINALDO DO NASCIMENTO - Julgamento: 27/06/2014 - DECIMA NONA CAMARA CIVEL

MANDADO DE SEGURANÇA. Pretensão de expedição de Certificado de Conclusão do Ensino Médio com base nas notas obtidas no ENEM/2013. Impetrante que comprovou ter sido aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio ocupando a 50ª colocação, que o habilitou para ingresso no curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ. Por não possuir idade mínima de 18 anos, não logrou êxito em obter "certificado de conclusão do ensino médio", ao qual faria jus por sua aprovação, segundo as normas do Ministério da Educação e Cultura. Direito social, assegurado pela nossa Constituição Federal nos artigos 205, 208, V, 227. É certo que a Portaria Inep nº 144 de 24/058/2012 impõe a idade mínima de 18 anos. Contudo, o critério dos níveis de ensino é o da capacidade intelectual do aluno, e não o meramente etário, conforme dispõe o Estatuto da Criança e do

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4º, V da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. CONCESSÃO DA ORDEM para que seja expedido pela Secretaria de Estado de Educação do Estado do Rio de Janeiro, o Certificado de Conclusão do Ensino Médio com base nas notas obtidas no ENEM/2013.

0031616-03.2014.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANCA

DES. EDSON VASCONCELOS - Julgamento: 08/10/2014 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL

MANDADO DE SEGURANÇA ¿ IMPETRANTE MENOR DE IDADE ¿ APROVAÇÃO EM VESTIBULAR DO ENEM PARA UNIVERSIDADE FEDERAL ANTES DA CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO ¿ RECUSA DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO EM EXPEDIR O CERTIFICADO DE CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO, EM VIRTUDE DA MENORIDADE ¿ PRIORIDADE DA GARANTIA CONSTITUCIONAL AO PLENO ACESSO

À EDUCAÇÃO ¿ CRITÉRIO ETÁRIO COM

FUNDAMENTO NA LEI Nº 9.394/96, ART. 38, II, E PORTARIA NORMATIVA Nº 4, DE 11.02.2010 ¿ PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DE ACESSO A EDUCAÇÃO. O requisito formal deve ser mitigado na hipótese, à luz da razoabilidade e da garantia constitucional do direito à educação, tendo em vista, ainda, o grau de maturidade apresentado pela impetrante, que obteve aprovação no vestibular do ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio. Segurança concedida.

0009259-92.2015.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANCA

DES. JUAREZ FOLHES - Julgamento: 24/06/2015 - DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL

MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO POR CANDIDATO MENOR DE IDADE APROVADO NO ENEM, CONTRA ATO DO SECRETÁRIO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO. PRETENSÃO DE EXPEDIÇÃO DE CERTIFICADO DE CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO COM A FINALIDADE DE VIABILIZAR MATRÍCULA NA UNIVERSIDADE. AUTORIDADE COATORA ALEGA, PRELIMINARMENTE, ILEGITIMIDADE PASSIVA. NO MÉRITO, PRETENDE A DENEGAÇÃO DA ORDEM, AO ARGUMENTO DE QUE O IMPETRANTE TEM MENOS DE 18 ANOS. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA REJEITADA. LEI DE DIRETRIZES E BASES QUE OBJETIVA MANTER CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO PARA QUE TENHAM ACESSO À EDUCAÇÃO. DIREITO À EDUCAÇÃO RECONHECIDO NA

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONCESSÃO DA ORDEM. Preliminar de ilegitimidade passiva que se rejeita. O art. 5º da Portaria nº 144/12 do Ministério da Educação, que regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, atribui às Secretarias de Estado de Educação a expedição do certificado de conclusão do ensino, ao dispor que: "Compete às Secretarias de Educação dos Estados e aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia emitir os certificados de conclusão e/ou declaração parcial de proficiência, quando solicitado pelo participante interessado, conforme estabelecido no termo de adesão ao processo de certificação pelo ENEM.". No mérito, não obstante o que dispõe a Portaria nº 179, de 28 de abril de 2014, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, sobre o ENEM, notadamente no tocante à idade mínima de 18 anos, deve-se atentar que a finalidade dos exames é aferir os conhecimentos e as habilidades adquiridas pelo educando, de modo a habilitá-lo ao prosseguimento dos estudos (art. 38, caput e § 2º da Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes Básicas da Educação), o que, no caso dos autos, se efetivaria com o ingresso em curso de ensino superior. Tal imperativo normativo deve, em homenagem aos princípios da isonomia e da razoabilidade, ser interpretado em harmonia com a Constituição da República, que assegura, de forma prioritária, a toda criança e adolescente, o direito à educação, estabelecendo o artigo 227 que é dever do Estado, da família e da sociedade assegurar tal direito ao adolescente, com absoluta prioridade, sendo certo que o inciso V do artigo 208 garante às pessoas o acesso aos mais elevados níveis de ensino, conforme a capacidade de cada um. Considerando que o impetrante foi aprovado no exame para ingressar na Universidade, certo é que ele demonstrou possuir capacidade intelectual para o devido prosseguimento à sua formação, agora em nível superior, não havendo motivo para que o

critério etário prevaleça em detrimento da

capacidade demonstrada pelo estudante,

independentemente da conclusão do ensino médio. Inteligência da súmula nº 284 deste Colendo Tribunal. Reembolso das despesas processuais antecipadas, nos termos do art. 20 do CPC combinado com o art. 17,§ 1º, da Lei nº 3.350/99. Precedentes jurisprudenciais desta Corte. CONCESSÃO DA SEGURANÇA.

Destarte, não merece prosperar a tese sustentada pela Apelante, no

que tange à aplicação do princípio da legalidade estrita.

Pelo contrário, a Administração Pública viola frontalmente a legislação

ordinária, bem como os preceitos estatuídos em nossa Carta Magna ao negar o

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Certificado de Conclusão do Ensino Médio àquele jovem que possui

conhecimento e, portanto, apto a adentrar ao ensino universitário, somente pelo

fato de não ter alcançado a idade mínima de 18 anos.

Por tais fundamentos, conhece-se do recurso, para negar-lhe

seguimento, nos moldes do art. 557, caput, do CPC.

Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2015.

FERNANDO FERNANDY FERNANDES

DESEMBARGADOR RELATOR

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