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Conceito de rede e as sociedades contemporâneas

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Conceito de rede e as sociedades contemporâneas

The concept of network and the contemporary societies

Ana Lúcia S. Enne

Profa. Dra. do Depart ament o de Ant ropologia da UFRJ. E-mail: anaenne@t erra.com.br

Resumo

A proposta deste artigo é mapear algumas das principais abordagens referentes ao conceito de rede, muito utilizado nas reflexões sobre as sociedades contemporâneas. 0 conceito é apresentado em sua relação com os fluxos de bens e informações, a partir das práticas de interação social.

Palavras-chave: rede; fluxo de informação; sociedades contemporâneas

Introdução

' BARNES, 1: A. "Redes sociais e processo político". In: FELDMAN-BIANCO, Bela (Org.). Ant ropologia das Sociedades Cont emporâneas. São Paulo, Global, 1987.

ríf sse trabalho é citado pelo próprio Barnes, no texto já citado. A referência é: BARNES, J.A. "Class and Committees

in a Norwegian Island Parish".

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA

Human Re/ations, n° 7,1964.

3 MAYER, Adrian. "A importância dos 'quase-grupos' no estudo das sociedades complexas". In: FELDMAN-BIANCO, op. cit ., 1987, p. 129. 0 trabalho de FIRTH a que ele se refere é "Social Organization & Social Change", iournal of the Royal Anthopological Institute, n°84,1954. Sobre o papel de Raddiffe-Brown como pioneiro no uso do termo rede para pensar relações sociais, ver também BOTT, Elizabeth. Família e Rede Social.

Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1976, p. 294

Lu gar c o m u m n as an álises d a sociedade con temporân ea, o conceito de rede t em sid o m u it o em pr egad o par a definir as novas formas de socialização e fluxo in formacion al den tro da ch amada o r d e m glob alizad a. N o e n t an t o, tal conceito vem sen do trabalhado de formas distintas den tro das Ciên cias Sociais, em e sp e cial n a An t r o p o l o gi a e n a Co m u n i c a ç ã o , e essa m u lt ip licid ad e conceituai n em sempre é levada em conta. A proposta deste artigo é mapear algumas das principais abordagens referentes a essa cat egor ia, p r o cu r an d o dar con t a d as possibilidades teóricas geradas por esse conceito para descrever determinados tipos de relações sociais.

Redes como sistemas de interação social

O con ceit o d e rede é p en sad o, muitas vezes, como u m tipo de sistema de inter-relação social diferente A o grupo, por diversas características. O s autores que a go r a ap r e se n t ar e m os, co n si d e r ad o s clássicos n as Ciên cias Sociais por suas propostas de teorização do conceito, vão desfilar tais características e, m esm o com alguns pon t os divergentes, irão convergir n o principal aspecto definidor do que seria u m a rede: sua capacidade de articulação e rearticulação permaíiente.

N a década de 60, J. A. Barnes, em seu ar t igo "Re d e s sociais e pr ocesso político",1 procura ampliar as explicações acerca do conceito de redejí utilizado por ele em u m trabalho anterior sobre u m a

comun idade da Noruega,2 e que, segun do o autor, teria padecido de u m a falta de d e fi n i ç ã o co n ce i t u ai ge r ad o r a d e interpretações confusas por parte de alguns leitores/pesquisadores. Assim, ele vai tentar indicar qu e a idéia de rede utilizada em seu trabalho está, antes de tudo, pensada como socialmente compost a por indivíduos que irão se articular a partir de interações, e n ão por composições egocêntricas, como irão pr opor outros. A rede com a qual trabalharia seria, portanto, a rede social totaL

O qu e Barnes se propôs a fazer - e n esse se n t id o é p er ceb id o c o m o u m precursor n o uso d o conceito de rede para p en sar an alit icam e n t e d e t e r m in ad os con textos sociais em qu e a idéia de grupo n ão pareceria adequ ada — é tran spor o conceito simbólico de rede, como utilizado primeiramen te por Radcliffe-Brown, para usá-lo analiticamente, com o instrumento metodológico de compreen são de relações sociais entre indivíduos. Assim, Radcliffe-Brown teria pen sado o conceito de rede com o u m a sim bologia para entender a estrutura social. Rede estaria, dessa forma, ligada a situações de permanência, e não a articulações temporárias. Segun do explica Mayer, cit an do Firth , "Radcliffe-Brown usou a n oção de rede para expressar de m o d o im pr ession ist a "o qu e sen tia ao descrever m et afor icam en t e o qu e via", cab en d o a Bar n es dar ao t er m o u m a defin ição mais precisa".3

Barnes prefere falar de dois tipos de rede: "redes sociais totais" e "redes sociais parciais". Sobre as primeiras, ele afirma:

(2)

Q u er a rede possa ou não ser associada de maneira útil à estrutura social, n ão podemos encontrá-la n em aqui nem ali. In depen den temen te de qualquer

coisa, a redezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA é u m a abst r ação d e primeiro grau da realidade, e con tém

a maior parte possível da in formação sobre a totalidade da vida social da com u n id ad e à qu al cor r esp on d e. Ch amo-a de rede social total.4

Q u a n t o às redes parciais, se r iam "qu alqu er ext ração d e u m a r ede total, c o m base e m algu m critério q u e seja aplicável à r ed e t o t al ".5 Assi m , p o r su a p r o p o st a , qu alqu er in divídu o (qu e ele irá t r abalh ar gen er icam en t e c o m o Alfa) d en t r o d e u m a rede p od e ser t o m ad o c o m o referên cia par a pen sar a su a com p osição, e n ão u m ego e m especial. A p ar ar d e u m Alfa qualquer , seria possível m edir gr au s d e associação en t r e o s c o m p o n e n t e s d e u m a r e d e , c u j a gr an deza poder ia ser m e d i d a a par t ir d a m et áfor a d e u m a con st elação. O u seja, o s in divíduos qu e estivessem e m relação direta ser iam estrelas d e u m a or d e m d e pr im eir a gran deza, en qu an t o aqueles q u e n ão fossem dir et am en t e ligados a Alfa, m as est ivessem ligad os a u m agen t e d ir e t am e n t e a ela relacion ado (por exem plo, Bet a), pod er iam ser acion ados par a u m con t at o através d a in t er m ediação d e Bet a. Ser iam , en t ão, d e u m a or dem d e segu n da gran deza. Urna rede seria, portanto, um a construção social de relações de grandezas distintas, m as que possibilitariam o contato entre os diversos elem entos que iriam gerar sua com posição (por exemplo, paren tesco, vizin h an ça, laços polít icos, den t r e ou t r os). Esse con ceit o d e r ede p od e r ia ser ap licad o p ar a diver sos est u dos sociais, sen do útil

n a descrição e análise de processos políticos, classes sociais, relação entre u m mercado e sua periferia, provisão de serviços e circulação de ben s e in formações n u m meio social n ão-estruturado, manutenção de valores e n or m as pela fo fo ca, d ifer en ças estruturais en tre sociedades tribais, rurais e urbanas, e assim por diante.6

O t r a b a l h o d o p e sq u i sa d o r , a o et n ogr afàr as redes, dever ia ser t am b é m , c o m o ap oio d e teorias m at em át icas, o d e

m edir a d en sid ad e d as relações en t r e as estrelas e suas gr an dezas, e m t er m os d e co n e xão . Se gu n d o ele, o cor r et o ser ia defin ir "est a m ed id a, a d en sid ad e d a zon a, c o m o sen do a pr opor ção das lin h as diretas, t e o r i c a m e n t e p o ssí v e i s, q u e d e f a t o e xist e m " en t r e as diver sas est r elas q u e c o m p õ e m u m a r ede. Por isso, qu est ões c o m o a fl n i t u d e o u o l i m i t e d a r e d e ocu p ar iam posições d e dest aqu e n os seu s t r abalh os. M a s, in d e p e n d e n t e m e n t e d a den sidade d e u m a rede, o est u d o das r edes p a r c i a i s l e v a r i a , n e c e s s a r i a m e n t e , à com pr een são d a r ede t ot al.7

Mayer vai par t ir d a for m u lação d o con ceit o d e r ede p or Bar n es — e t a m b é m p or Bot t — e p r op or u m a dist in ção dessa cat egor ia face a d e conjunto, p or ach ar q u e o t er m o rede, u sado par a t odos os con t ext os d e in t er ação, n ão per m it e u m a d epu r ação d os diversos níveis d e con t at o. Assim , p ar a Mayer , rede deveria ser p en sad a d e fo r m a m ais abran gen te, co m o algo ilimit ado e q u e c o r r e sp o n d e sse à e st r u t u r a social (n o sen t ido pr opost o p or Radcliffê- Br ow n ). Já o t er m o conjunto (der ivado d e action-set, conjunto-de-ações) ser ia m ai s a d e q u a d o p a r a p e n s a r s i t u a ç õ e s d e c o n t a t o

4 BARNES,

zyxvutsrponmlkihgfedcbaUTSRPOLJIGFEDCBA

op. at ,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYVUTSRPONMLJIHGFEDCBA

p. 166. Carl Landé

também sugere que, ao estudar uma parte da rede, o pesquisador seja capaz de compreender a lógica da rede de forma mais ampla. Mas ele sugere o termo "web" para substituir as idéias de "estrela" e "grandeza" propostas por Barnes. Cf. LANDÉ, Carl. "Introduction: the dyadic basis of dientelism". In: SCHMIDT, Steffen et alii (ed.). Friends, Fot t ouers, andFact ions. A reader in polit ical dient elism.

Berkeley, University of Califórnia Press, 1977, p.xxxiii.

5

BARNES, /ófe/77,p. 166.

® /oísot, p. 161.

7 Segundo Barnes, "se examinarmos uma rede qualquer, quer seja limitada ou ilimitada, f M a ou infinita, total ou parcial, e concentrarmos nossa atenção numa pessoa particular como ponto de referênda, descobriremos as várias propriedades egocêntricas da rede. Isto é bastante diferente do que simplesmente dizer que a rede em si mesma é egocêntrica: ela não o é."

Idem, p. 180.

Ana Lúcia S. Enne. Conceito de rede eas sociedades contemporâneas

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8 MAYER,

zyxvutsrponmlkihgfedcbaUTSRPOLJIGFEDCBA

op. cit ., p. 127.

9 /ofew.p. 128.

,080TT, op. at . O texto a que me refiro é "A História do Conceito de Rede desde 1957", presente na obra citada.

c o n j u n t u r a i s, q u e a c o n t e c e r i a m e m d e t e r m i n a d a s si t u a ç õ e s ( u m p l e i t o eleitoral, p or exemplo), cr ian do u m a série d e r e l a ç õ e s, m a s se m c a r á t e r n e ce ssar i am e n t e p e r m an e n t e . El e vai

pr ocur ar m ost r ar com o esseszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA conjuntos-de-ação c o n fi gu r a r i a m quase-grupos, o u

m e l h o r , i n d i v í d u o s a r t i c u l a d o s p o r in teresses com u n s a part ir de u m ego, m as q u e n ão p od er iam ser p en sad os c o m o gr u p o s n ão só p o r seu car át er ab er t o (t ípico das redes), m as pela ausên cia de características típicas de u m gr u po, qu e se r i a c o n s t i t u í d o "p o r u m n ú m e r o d et er m in ad o d e m em b r os qu e m an t êm algu m a for m a de in teração esperada en tre si — q u an d o n ão em t er mos de direitos e ob r igações"8. Para ele, par t e dos est u dos sobr e redes sociais deveria ser o est u do dos quase-grupos qu e, e m conjuntos-de-ações, est ão sen do m on t ad os m edian t e relações diretas ou subjacen t es, as quais d en om in a d e laterais (con tatos entre os respon den tes d e u m det er min ado ego, os quais m an t êm r e l a ç õ e s t a m b é m e n t r e e l e s, se m n ecessar iamen t e passar pela figu r a deste).

Assim , par a ele, o con ceit o de rede p r op ost o p or Bar n es serviria m ais par a si t u a ç õ e s p e r m a n e n t e s , n ã o s e n d o ad equ ad o par a con t ext os de con ju n ções m o m e n t â n e a s , a i n d a q u e a l g u m a s p u d essem , post er ior m en t e, adquir ir u m caráter m ais per m an en t e (por exem plo, u m d e t e r m in ad o p e r íod o eleit or al faz

su r gi r u m a sé r i e d e r e l a ç õ e s e n t r e i n d i v í d u o s q u e , p o st e r i o r m e n t e , pod er iam fu n d ar u m par t ido político). O ideal, par a esses casos, seria o con ceit o já cit ado d e quase-grupos, qu e sur gir iam em conjuntos-de-ação e sp e c í f i c o s. E im por t an t e n ot ar qu e Mayer sugere du as categorias de quase-grupos. Um a primeira, d os quase-grupos classificatórios, em qu e "a classificação, aqu i, poder ia ser feita em fu n ção d e in teresses com u n s qu e estão subjacen tes ao qu e poder íam os ch amar de ' gr u po pot en cial' ." A ou t r a, d os quase-grupo interativos, seria baseada em "u m con ju n t o de in divídu os em in t eração". E c o m est a q u e Mayer pr et en de trabalh ar, d efin in d o assim os quase-grupos:

Est e s q u ase - gr u p os d ifer em fun damen t almen t e do gr upo e da associação. Em primeiro lugar, estão centrados em um ego, no sentido de que sua própria existência depende de u m in divíduo específico como foco organizador central: é diferente de u m gr upo, on de a organização pode ser difusa. Em segundo lugar, as ações de qu alqu er m em b r o t or n am - se r elevan t es apen as n a medida em que são interações com o próprio ego ou seu intermédio. O critério de associatividade não inclui a interação com outros membros do quase-grupo em geral.'

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sobr e famílias e relações d e par en t esco, "as fam ílias, com o t ot alidades sociais, n ã o e st a v a m c o n t i d a s e m g r u p o s or gan izados m as, som en t e, em r edes".11

Segu n d o Bot t , a plu r alidade d e for mulações utilizadas par a se pen sar o

con ceit o dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA rede n ão in valida o seu u so, m as r equ er u m a r eflexão acer ca d as

diversas apr opr iações qu e o t er m o t em gerado. Assim , o con ceit o de rede t em t ido, segu n do as obser vações d a aut or a, t r ês a c e p ç õ e s: u m a p r i m e i r a , m a i s m et afór ica, n a já cit ad a r efer ên cia a Ra d c l i ffe - Br o w n ; u m a se gu n d a , n o se n t i d o d e r ed e t ot al, su ge r i d o p o r Barn es; e u m a terceira, em qu e a rede é p e n sa d a c o m o se n d o "p e s s o a l " o u "e go c ê n t r i c a ", c o m o p r o p o st o , p o r e x e m p l o , p o r M a y e r . A s s i m , "p r at i cam e n t e t o d o s" — i n c l u i n d o a própria Bott—, "com exceção d e Barn es", estariam usan do t an t o o con ceito de rede total qu an t o o de r ede egocên t r ica n os seus diversos est u dos.1 2

Se g u n d o El i z a b e t h Bo t t , o con ceit o d e rede é fu n d a m e n t a l e m sit uações em qu e a cat egoria grupo n ão c o n se gu e d ar c o n t a d a c o m p l e x a m obilidade en tre os sujeit os qu e estão se relacion an do socialmen t e. Assim , em seu est u d o sob r e fam ílias e laços d e paren tesco, ela resolve adot ar o con ceit o por con sider á- lo m e t o d o l o gi cam e n t e adequ ado.1 3

Mit ch ell, t am b ém em u m texto q u e c o n t r i b u i u e n o r m e m e n t e p a r a organ izar o debat e acerca d o con ceit o de rede, dest aca a im por t ân cia d o t r abalh o desen volvido por Bot t , m as lam en t a qu e a ap r op r iação d e Bot t , asso ci an d o o c o n c e i t o d e r e d e a o e st u d o d a s com posições familiares, t en h a, por u m período, se cristalizado com o a referência pr edom in an t e sobr e o u so d o con ceit o, U m i t a n d o - o .1 4 P ar a r esolver t al pr oblem a, ele ir á pr opor , ju n t am e n t e com ou t r os aut or es, com o Epst ein , qu e o con ceito possa ser relacion ado t am b ém a diversas outras sit uações características de sociedades com plexas e ur ban as. D e certa for m a, a pr ópr ia Elizabet h Bot t p r o c u r o u d e i xa r b e m c l a r o q u e o con ceit o de rede, ut ilizado n o seu caso par a o est u d o d e r elações fam iliar es,

deveria ser pen sado com o associado a qu alqu er sist em a d e r elações sociais, cit an do o pr ópr io Barn es com o t en do r e p e n sad o o seu con ce it o or igin al e con clu ído qu e "as redes atravessam todos os cam pos sociais".15

Redes como fluxos de mercadoria e informação

Sugerin do a utilização d o con ceito de r ede par a o est u d o de socied ad es c o m p l e x a s e u r b a n a s, M i t c h e l l vai apon t ar par a a existên cia d e dois t ipos de redes: u m a en volven do a troca de ben s e serviços, e ou t r a en globan do a t r oca de in for mações, sen do esta segu n da u m p r o c e sso d e c o m u n i c a ç ã o . A s s i m , com en t an do essa segu n da pr opr iedade das redes, Mit ch ell afir m a qu e:

So far sociologists who have used the notion of personal networks to analyse their fíeld material have done so in relation of two different problems. Th e first of these relates of the flow of communication through networks, especially in relation to the definirion of norms, in what we might call a communication-set.16

Tam bém A. L. Epstein vai utilizar essa idéia de pensar a rede como um sistema de trocas de in formações, capaz de gerar padrões normativos para as con dutas dos grupos e, conseqüentemente, padrões de iden tificação, em seus estudos urban os. Essa apropriação é explicitada por Mitchell, ao referir-se a Epst ein ,1 7 m as pod e ser percebida mais claramente n a leitura qu e fazem os d o texto d o pr ópr io Epst ein , quan do ele apon ta para a importân cia das configurações da rede em termos de seus fluxos comun icacion ais, n o sen t ido d e ger ar prestigio en t r e os agen t es qu e a com p õe m . Assim , ele afir m a qu e t od a relação social envolve a idéia de troca, e cabe ao pesquisador mapear quais são os tipos de in formação que são trocadas por meio de práticas imagéticas e discursivas.18

Epstein vai utilizar a proposta de Bott de dividir as redes sociais em "abertas" o u "fe c h a d a s", d e a c o r d o c o m o estreitamen to ou a frouxidão dos laços

" Idem, p. 67.

,2

Idem, p. 300.

13 " ,.. a idéia de rede é necessária porque o conceito familiar de grupo e de grupo corporativo da antropologia tradicional não era inteiramente adequado para os dados de campo com os quais eu estava lidando. As famílias pesquisadas não viviam em grupos. Elas "viviam" em redes, se é que podemos usar o termo "viviam em" para descrever a situação de estar em contato com um conjunto de pessoas e organizações, algumas das quais estavam em contato umas com as outras, ao passo que Outras não estavam." Idem, p. 294.

14 Afirma Mitchell: "This striking and stimulating study should have the effect of associating the notion of social networks almost exdusively with conjugai roles". Cf. MITCHELL,

op A, p. 6.

l5B0Tr, op. d., p. 303. Grifo da autora

" Idem, p. 37.

17

Idem, p. 27. "The flow of information is also the point that Epstein selects as the aspect of the personal network to emphasize in his study of networks in towns", indica Mitchell.

Ana Lúcia S. Enne. Conceito de rede eas sociedades contemporâneas

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18

EPSTEIN, A. L. "Gossip, norms and social network". In: FELDMAN-BIANCO, op. cit„ p. 124.

13 No caso da "

zyxvutsrponmlkihgfedcbaUTSRPOLJIGFEDCBA

Babada Fluminense" , este me parece um aspecto bem rico

para pensarmos a formação de uma rede de memória e história, como demonstrei em minha tese de doutorado. Cl ENNE, 2002.

^Hannerzcita Barth em HANNERZ, Ulf.

Cult ural Compíexit y. Columbia University Press, New York. 1992, pp.13-14.Também Barth, em "A Análise da Cultura nas Sociedades Complexas", indica ter encontrado "ecos dessa perspectiva no trabalho de Hannerz, em suas explorações da antropologia urbana em termos de geração de significados partilhados". Ver BARTH, F "A análise da cultura nas sociedades complexas". In: O guru, o iniciadore out ras variações ant ropológicas.

Organização de Tomke Lask. Rio de Janeiro, Contracapa, 2000, p. 127.

21 HANNERZ, op. cit , p. 17.

existen tes en tre os diversos in divíduos qu e com p õe m essa rede. Para ele, com o par a ou t r os autores já abor dados neste artigo, tais laços vão permitir qu e os m em br os de u m a r e d e , m e d i a n t e p r o c e sso s interacionais, possam trocar tan to ben s em for m a d e materiais e serviços com o ben s e m caráter simbólico, com o in formações. Tais t r ocas, c o n fo r m e su ger e Ep st ein , p a s s a m a ser f u n d a m e n t a i s p a r a a

con figur ação dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA status e prestígio par a os m em b r os d a r ede.'9

A idéia de fluxos cult ur ais apar ece d e m a n e i r a clar a n o t r ab alh o d e U l f H a n n e r z , t a m b é m u m a r e f e r ê n c i a f u n d a m e n t a l q u a n d o se p e n s a e m sociedade em rede. Se gu n d o H an n e r z , p a r t i l h a n d o d e p o n t o s d e v i st a d e F r e d e r i c k Ba r t h ,2 0 as so c i e d a d e s com plexas n ão p o d e m ser per cebidas a part ir de u m a dicot om ia en tre a estrutura social e a est rut ura cultural, pois os fluxos d e i n f o r m a ç õ e s e i d é i a s, su a m at er iaiização e dist r ibu ição, são fat or es o r d e n a d o r e s e r e o r d e n a d o r e s d a s com p osições sociais, fazen do co m qu e est as sejam m ar cad as p or u m a con st an t e m o b i l i d a d e . Se g u n d o ele, a gr a n d e p r e o c u p a ç ã o d o s a t o r e s so c i a i s en volvidos n a con st r u ção das sociedades com plexas diz r espeit o à adm in ist r ação desses flu xos d e in for m ação, q u e devem ser m at er ializados, t or n ados pú b licos e dist r ibu ídos d e acor do co m as d em an d as d ad as pelas in t er ações sociais.

"As actors and as networks of actors, they are constandy inventing culture or maintaining it, reflecting on it, experimenting with it, remembering it or forgetting it, arguing about it, or passing it on. Th ere are not only st at ic d ist r ib u it ion s o f fact u al knowledge but also different ways of doing things with meanings, likewise unevenly spread out amon g people and situations. We speak of common sense an d consciousness raising, of experts and dilettants, of ritual, play, and critique, of fads an d fashions. Th e covering terms I shift between, in suggesting this processual view of cu lt u r e as act ivit y, ar e 't h e man agemen t of mean in g', or 'the m an agem en t o f cult ur e', or ju st 'cultural management'."21

H an n e r z está par t in d o d a idéia de q u e a cu lt u r a n ão é un ivocal, e sim u m c o m p l e x o p r o c e sso p o l i f ô n i c o , e m con st an t e flu xo de in t er ações. Assim , a c u l t u r a t e r i a t r ê s d i m e n s õ e s : u m a r elacion ada ao c a m p o das idéias e aos m o d o s d e p e n s a r ; u m a s e g u n d a r elacion ada às for m as d e ext ern alização d essas idéias, o u seja, c o m o t or n á- las pú blicas; e u m a t er ceir a r elacion ada à dist r ibu ição social dessas idéias e for m as d e pen sar . Se gu n d o o aut or , as Ciên cias Sociais, d e for m a geral, t em p en sad o a cu lt u r a pr ivilegian d o essa or d em par a lid ar c o m o con ce it o d e cu lt u r a. Ele p r op õe u m a in ver são, in d ican d o que, a se u ver , o c a r á t e r d i st r i b u t i v o d as in for m ações cu lt u r ais é o m ais relevan te p a r a e n t e n d e r m o s c o m o a cu lt u r a é con st r u ída a par t ir d as in terações e com o os flu xos são capazes d e gerar as idéias e for m as d e pen sar . Por t an t o, seu in teresse recai sobr e os fluxos e as estratégias de gest ão cult ural ("cultural m an agem en t "), p o r par t e d os at or es e agên cias sociais, d o q u e d eve ser d ist r ib u íd o, e m q u e con t ext o e a q u e m , pois o con t r ole sobr e t ais i n fo r m açõ e s é gar an t ia d e poder , pr est ígio, au t or id ad e e, cor r elat amen t e, f u n d a m e n t a l n a c o n f i g u r a ç ã o d a s iden t idades sociais. Nesse sen t ido, com o agen t e fu n d am e n t al n esse pr ocesso, a m í d ia é u m p od e r oso in st r u m en t o par a o con t r ole d o q u e deve ser in for m ad o plen am en t e, par cialm en t e ou t ot almen t e om it id o.

As reflexões de H an n er z apon t am par a a qu est ão cen tral qu e per m eia seu texto: os fluxos culturais são fun damen t ais n a con st r u ção de sign ificados pú blicos par a diversas dim en sões d o social, den tre elas, a m em ór ia. Su a defin ição d e fluxo n os parece d e ext r ema relevância para este t r abalh o:

(6)

en dless; extern alization s depen d on previous in terpretation s, d epen d in g on previous externalizations. An d th e extern alization s occur r in g n ow will brin g ab ou t in terpretation s wh ich in t h eir t u r n l e a d t o f u r t h e r extern alization s in th e fu t u r e.2 2

A ssi m , as re de s de i n t e raç ão social que po de m ser encontradas nas so c i e dade s c o m pl e x as são t am b é m redes de interação cultural, e m que as t ro c as v ão se dar e m m o v i m e n t o s c o n t í n u o s e n tre ato re s so c i ai s qu e estarão se relacionando e m fronteiras fluidas, que tenderão a se reordenar de acordo com os contextos interativos. Nesse sentido, o trabalho de Frederick Bart h , já c i t ad o de p a s s a g e m anteriormente, se apresenta aqui co m o fun dame n tal.

Barth marco u um a ruptura nos estudos tradicionais acerca das relações interétnicas ao pro po r um a m udan ç a no paradigma conceituai que indicava que a man ute n ção dos limites étnicos seria uma coisa natural, resultante do

isolamento. Para Barth, é o

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA

contato,

ao

c o n t rári o , q u e i m p õ e o s l i m i t e s é tn ico s. Et n i c i dade seriai po rt an t o , resultado das

interações.

O s próprios

atores, nessas interações, definiriam as fro n t e i ras é tn i c as. A c u l t u ra se ria, então, u m a co n stan te co n strução . É fun dame n tal a idéia de processo para d e m o n s t rar c o m o se dá c o n s t an t e m e n t e a c o n s t ru ç ão das culturas. Os atores sociais delimitariam as fro n te iras sociais e seus critérios identificatórios

A p ro p o s t a de Bart h para o e studo de gru po s é tn ico s de fi n i do s t am bé m po de ser am pl i ada para os e s t u d o s ac e rc a de s o c i e d ad e s c o m pl e xas, c o m o pro põ e o pró pri o autor em um texto h o je con sagrado. Ele critica as correntes an tropológicas qu e se e sfo rç aram para m ape ar o s padrões culturais das sociedades e se re c usaram , c o n f o rm e sua c rí tic a, a perceber que as mudan ças sociais não são uma contradição e m face de um a estrutura fech ada, m as um indicativo de um a lógica processual, e m que os

conflitos e transformações devem ser vistos co m o inerentes e constitutivos das relações, sendo fun dam e n tais para as c o n fi gu raç õ e s e re c o n fí gu raç õ e s dessas sociedades, e n ão uma ameaça a um padrão estático de cultura.

Essa d i v e r si d a d e d e sc o n e x a (ao m en os apar en t emen t e) de atividades e a m ist u r a d o n ovo com o velh o, f o r m a n d o u m c e n á r i o c u l t u r a l si n c r é t i c o , sã o c a r a c t e r í st i c a s d e sc o n fo r t á v e i s c o m as q u a i s o an t ropólogo irá se defron tar em quase t o d o lu gar . So m o s t r e i n a d o s a supr imir os sin ais d e in coerên cia e d e m u l t i c u l t u r a l i sm o e n c o n t r a d o s, t o m a n d o - o s c o m o asp e ct o s n ão-e ssão-e n c i a i s d ão-e c o r r ão-e n t ão-e s d a m oder n ização, apesar d e saber m os qu e n ão h á cult ur a que n ão seja u m c o n g l o m e r a d o r e su l t a n t e d e acr éscimos diversificados.24

Podemos então dizer que, para Barth, as práticas interativas são o motor da produção da cultura, fazendo co m que existam múltiplas possibilidades de arranjos e negociações, dependendo do potencial de contatos e fronteiras que os age n te s so c iais e n v o l v i do s e m tais pro ce sso s po de m estabelecer. N e sse se n tido , seria impossíve l pe rce be r a sociedade como uma unidade fechada, com suas características dadas, mas sim c o m o um pro c e sso pe rm an e n t e de interações sociais e culturais, em que estas seriam constantemente construídas e descònstruídas, obedecendo a demandas contextuais. Sua proposta metodológica pode ser resumida neste trecho:

Abordar essa áspera cacofon ia de vozes autorizadas com a expectativa de qu e suas men sagen s e en sin amen tos sejam coerentes, qualquer que seja o sen t ido q u e se d ê a e ssa p a l a v r a , se r ia car act er íst ico d e u m an t r o p ó l o go bastan te dogmát ico. N ã o afir m o qu e o qu e é dito e feito n ão siga padr ão algu m : apen as qu e devemos esperar u m a m u l t i p l i c i d a d e d e p a d r õ e s parciais, que interferem un s sobre os outros, e se estabelecem em diferentes graus n as diferentes localidades e n os difer en t es cam p os; e q u e d evem os

21 Idem ,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYVUTSRPONMLJIHGFEDCBA

p. 4.

23 Ver BARTH, Fredrik. "Introdution". In:

zyxvutsrponmlkihgfedcbaUTSRPOLJIGFEDCBA

Et hnic Groups and Boundaries: The social organizat ion of cult ural

difference. London, George Allen íi

Unwin, 1969.

24 BARTH, op. àt ., 2000, p. 109.

Ana Lúcia S. Enne. Conceito de rede eas sociedades contemporâneas

(7)

25

Idem,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYVUTSRPONMLJIHGFEDCBA

p. 120.

26

Idem, p. 126-127.

27 BARTH, op. cit , 2000, pp. 128-129.

2! "A network is made up of pairs of persons who interact with one another in terms of social categories, and who regard each other therefore as approximate social equals, ignoring in this context the slight differences in social status there may be between them. Since it is essentialfy 'personal' the network allows of many different configurations, and these in turn may provide the basis for a typology of

networks". Epstein,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o p A , $ . 110.

25 LANDÉ, op. A, p. xiii.

du vidar d e t od a a afir m ação de coerência, salvo quan do tiver sido devidamente demonstrada.25

Assim , o trabalh o d o pesquisador dever ia ser o d e per ceber a "est r u t u r a pr ofu n da", qu e se escon deria por sob u m a est r u t u r a m ai s visível, ap ar en t em en t e padr on izada. N a estrutura m ais pr ofu n da se r i a p o ssí v e l p e r c e b e r as m ú l t i p l a s

corren tes d e tradições culturais (

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA

st ream s) q u e f o r m a r i a m o q u e o a u t o r e st á

ch am an d o d e plur alismo cultural. Essas cult ur as dever iam ser per cebidas c o m o cam p os de discurso, com algu m gr au de coer ên cia, q u e ir iam se con st it u ir e se reproduzir d e fôrmas diversas, mas estariam e m con st an t e processo de in teração, com possibilidades de misturarem-se. Assim ,

Devemos abordar as várias correntes que iden tificarmos, toman do cada uma delas como universo de discurso, e: (i) caracterizar seus padrões mais destacados; (ii) mostrar como ela se produz e reproduz, e como man tém su as fr on t eir as; (iii) ao fazê- lo, descobrir o que permite que h aja coerên cia (...). Devemos t am bém identificar os processos sociais pelos quais essas correntes se misturam, ocasionando por vezes interferências, distorções e mesmo fusões.26

E m su a bu sca p or recon ceitualizar a cu lt u r a, Bar t h p r op õe u m con ju n t o d e asser ções q u e devem or ien t ar o t r abalh o d o pesqu isad or : 1) " O significado é um a relação en tre u m a con figu r ação ou sign o e u m obser vador , e n ão al gu m a coisa sacr am en t ada e m u m a expressão cultural par t icu lar "; 2) "E m r elação à p op u lação, a cultura é distributiva; com p ar t ilh ad a p o r algu n s e n ão p or ou t r os"; 3) "O s at or es est ão (sem pr e e essen cialm en t e) posicionados."', 4 ) "E v e n t o s sã o o

r esu lt ad o d o jo go en t r e a cau salid ad e m a t e r i a l e a i n t e r a ç ã o so c i a l , e con seqü en t em en t e sem p r e se distanciam das intenções d o s at or es in d ivid u ais."2 7

An t es, por ém , par a fecharmos esta r eflexão, p o d e m o s utilizar o con ceit o de rede p r op ost o p or Epst ein2 8, ju n t am en t e c o m os p on t os ab or d ad os at é aqu i, par a apr esen t ar algu m as idéias cen trais acer ca

d o q u e est am os ch am an d o aqu i de rede: t r at a- se d e u m t i p o d e co n fi gu r ação social q u e n ão p o d e ser con sider ado u m gr u p o o u agr u p am en t o, por seu caráter flu id o e pela au sên cia d e u m a u n idade en t r e os m e m b r o s, pois estes n ão est ão n ecessar iam en t e t od os em con t at o un s c o m os ou t r os, d e fo r m a dir et a, e m pr ol d e u m objet ivo c o m u m , c o m o n o caso d e u m gr u p o; as r elações se d ão através d e lin k s e n t r e o s age n t e s, d e f o r m a in t er pessoal, m ar cad os p or u m flu xo d e in for m ações, ben s e ser viços, qu e irão result ar e m pr ocessos d e in t er ação cujas fr o n t e i r a s n ã o sã o e st át i cas, m a s se en con t r am e m p er m an en t e con st r u ção e descon st r u ção. Nesse sen t ido, t or n a-se fu n d am en t al a con ceit uação d e díades, co m o pr opost o p or Car l Lan dé. Segu n do ele, "a d y ad ic r elat ion sh ip, in its social scien ce sen se, is a dir ect r elat ion sh ip i n v o l v i n g so m e f o r m o f in t e r act io n bet w een t w o in d ivid u ais".2 9 Assim , as r elações d iád icas est ar iam n a base d os g r u p o s n ã o - c o r p o r a d o s e , p r in cip alm en t e, d as r edes sociais, q u e p o r ele se r iam d e fi n i d as d a se gu in t e for m a:

Lar ger an d m or e in clusive th an dyadic relationship or dyadic non-corporate groups, are social networks. Ne t w or k s h ave been defin ed as 'matrices of social links' or as 'social field s m ad e u p o f r elat ion sh ip between people'. Th ey include ali individuais who find themselves in a given field, an d who are within direct or in direct con t act reach of each other. Th at is to say, they include ali in d ivid u ais w h o ar e con n ect ed dir ect ly w it h at least on e ot h er member of network.30

(8)

qu e estão ligadas u m as às outras direta ou in diretamen te".

Globalização: redes mundiais de socialização

A partir desse esfor ço con ceituai, podem os fazer algumas observações para con cluir este ar t igo e pr opor algu m as reflexões sobre a idéia de rede associada às so c i e d a d e s c o n t e m p o r â n e a s, e m especial n os est udos de Com u n icação.

E m p r i m e i r o lu gar , c o n fo r m e p o d e m o s p e r c e b e r p e l as d i v e r sa s con ceituações apresen tadas, redes podem ser pen sadas em sen t idos diver sos: ou c o m o si st e m a d e i n t e gr a ç ã o e n t r e pessoas, m edian t e práticas de in t eração, em u m sen t ido mais social; ou com o u m sistema de troca de mer cador ias e ben s m a t e r i a i s, em u m se n t i d o m a i s e c o n ô m i c o ; o u c o m o t r o c a s d e in for mações e ben s sim bólicos, em u m sen t ido mais cultural.

Q u a n d o v a m o s p e n sar , c o m o pr opôs, por exem plo, M . Cast ells, as so c i e d a d e s c o n t e m p o r â n e a s c o m o sociedades em rede, é pr eciso levar em con sideração todos os sen t idos pr opost os acima. A globalização traz, com o u m dos se u s e fe i t o s m a i s p e r c e p t í v e i s, a p o ssi b i l i d a d e d e se e st a b e l e c e r explicit am en t e sist em as d e in t er ação social em rede, em qu e sujeit os, através

de

zyxvutsrponmlkihgfedcbaUTSRPOLJIGFEDCBA

links, participam de trocas econ ômicas

e cu l t u r ai s e m a m p l a s e scal as, q u e ext rapolam limites espaciais e t empor ais an tes r ígidos.

As transformações tecnológicas n o campo do transporte e das telecomunicações evidenciam uma alteração nas possibilidades reais de interação social, atuan do com o u m facilitador nas trocas interpessoais, ao vivo ou virtualmente, on-line ou com in tervalos t e m p o r a i s. D a m e s m a f o r m a , a im p lan t ação de sist em as d e m e r cad o in tegrados e a pr od u ção de cidadan ias extraterritoriais, com o n o caso eu r opeu , t am bém at u am c o m o agilizadores par a pr om over u m a m aior m ob ilid ad e dos sujeitos con t em por ân eos par a além de seu s locais de o r i ge m . O b v i a m e n t e ,

apr esen t amos essas quest ões aqui m ais com o referências poten ciais d o qu e com o m odificações de fat o, já que, com o n os l e m b r a Z . Ba u m a n , "t u r i st a s" e "v a g a b u n d o s " m o v e m - se (o u n ã o c o n se g u e m se m o v e r ) d e f o r m a s difer en ciadas den t r o desse m od elo d e sociedade sem fronteiras qu e se apresen ta com o a n ova or dem m u n dial. Por t an t o, sabem os qu e o m esm o m odelo que ger a i n cl u são t a m b é m é p r o f u n d a m e n t e gerador de exclusões, O que n os interessa, n o e n t a n t o , é le van t ar aq u i q u e características, ao men os poten cialmen te, são e v i d e n c i a d a s n as so c i e d a d e s con t em p or ân eas par a q u e elas sejam classificadas com o sociedades em rede. U m a d e ssas car act e r í st i cas, c o m o in dicamos, é a possibilidade de u m maior fluxo d e pessoas por meio de sistemas de t r a n sp o r t e e t e l e c o m u n i c a ç ã o m a i s abran gen tes.

D a mesma forma, com o explica N . Can clin i, as práticas comerciais da n ova or dem mun dial substituem a tradicion al d i st i n ção en t r e p r ó p r i o e alh eio. A proliferação de pr odut os im por t ados n as prateleiras in dica, ao men os em tese, a possibilidade cada vez mais acen t uada de trocas de bens materiais e mercadorias em e scala p l a n e t á r i a . N o v a m e n t e , as facilitações n o cam po dos tran sportes e das telecomun icações (per mit in do, por exem plo, m aior r apidez n o en vio de mercadorias de lugares dist an t es t an t o quan t o n o próprio poder do con su m idor de agilizar suas com pr as in tern acion ais p o r m e i o d a I n t e r n e t ) t a m b é m são fun damen tais para a compreen são do que se en ten de com o u m a sociedade em rede. P or f i m , a t r a n sm i ssã o d e in for mações e ben s sim bólicos (desde o din h eiro volatizado nas bolsas de valores i n t e gr a d a s at é os si st e m a s d e comun icação digitalizados qu e at u am n o m u n d o in teiro) apon t a clar amen t e par a a efetivação de u m fluxo de com u n icação em rede de pr opor ções in édit as. Est e ú l t i m o asp e ct o, in clu sive, t em si d o objet o reflexivo de in úm er os t rabalh os n o cam po da com u n icação n as ú lt im as décadas, m ot ivan do in úmeras discussões acerca d a relação entre o global e o local n o cam p o d a cultura.

30 LANDÉ,

op. at , p. xxxiii.

" BEZERRA, Marcos Otávio. Corrupção Um est udo sobre poder público e relações pessoais no Brasil. Rio de Janeiro, Reiume-Dumará, ANPOCS, 1995, p. 38.

Ana Lúcia S. Enne. Conceito de rede eas sociedades contemporâneas

(9)

N ã o h á dúvida, por t an t o, de que

a idéia de u m azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaWUTSRONLIHGFECBA sociedade em rede, a partir das t r an sfor m ações cit adas acim a, é

pertin en te e adequada aos novos estudos sobr e as sociedades con t em por ân eas. M a s, e m u m m ist o d e con clu são e i n q u i e t a ç ã o , c o l o c a m o s a q u i d u a s orden s de pr oblemas que n os parecem i m p o r t a n t e s d e ser em le vad as e m con sider ação e que, n o en t an t o, t êm sido relegadas de u m a for m a geral.

Em pr imeir o lugar, gost ar íamos d e ch amar a aten ção par a a n ecessidade d e r e fi n a r o c o n c e i t o d e rede^ pr ocur an do buscar suas matrizes an tes de usá-lo aleatoriamen te. Co m o vimos n o texto aqui apresen tado, trata-se de um con ceito polissêmico, com sen tidos diversos. N o en t an t o, ele vem sen do t r at ad o c o m o d a d o , sem q u al q u e r esfor ço de localizá-lo h istoricamen te e m esm o d e con ceituá-lo m in im am en t e. H á, por t an t o, em n ossa compr een são, u m u so gen eralizan te d o con ceito que só t en de a esvaziá-lo, em detrimen to de sua riqueza e adequação.

Em segu n do lugar, exat amen t e p e l a a u sê n c i a d e u m e sfo r ç o d e h i st o r i c i z a ç ã o , p e r c e b e m o s u m a t en dên cia a con siderar qu e o con ceito d e r ed e ser ia ad e q u ad o som e n t e às so c i e d a d e s c o n t e m p o r â n e a s globalizadas. Co m o vim os n o breve l e v a n t a m e n t o aq u i ap r e se n t ad o , o con ceit o é ad e q u ad o par a qu alqu er sociedade. O qu e poder íamos destacar, n o caso con t em por ân eo, em face d o pr ocesso de globalização, é a expan são d a rede, sua poten cialização am pliada e su a e xp l i ci t ação . N e sse se n t i d o , o con ceit o n os parece m u lt o pertin en te, p o i s t r at a- se, se m d ú v i d a, de u m a con jun t ur a h istórica em qu e os sen tidos p r o p o st o s p ar a o con ceit o de r ed e (in t er ação en t r e in divíduos, troca d e m er cador ias e fluxo de in for m ações) estão eviden ciados e acabam ocu pan do u m l u gar ce n t r al n a c o n fi gu r a ç ã o cultural, política, econ ôm ica e social. Mas é preciso cuidado para n ão cairmos e m u m r e d u c i o n i sm o h i st ó r i c o , n egan do o qu an t o as quest ões que h oje n o s i n q u i e t a m fazem p ar t e d e u m pr ocesso de lon ga duração.

Abstract:

Th e pr opose of this article is to in dicate some ô f the main reflections on th e network con cept, much used in the analyses on th e contemporaries societies. Th e con cept is presented in its relation with the flows o f good an d in formation . Key words: network; information flow; con temporaries societies

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