A migração da economia paulistana, a partir da década de 1970, da indústria para o setor de serviços, deixou para trás um mar de áreas antes industriais, agora subutilizadas. São áreas plenamente inseridas em regiões bem providas de infra-estrutura.
“A Pinacoteca, a Sala São Paulo e Museu da Língua Portuguesa, excelentes instituições culturais sofrem de uma pressuposta revitalização de seus entornos.
Permanecem edificações isoladas onde os usuários chegam e saem apressadamente de carro, evitando penetrar em áreas além de seus muros. Ninguém pensou em criar escritórios, usos residenciais ou estúdios, subsidiados ou não, que poderiam ter criado um efeito “halo” nas redondezas .” (LORES; P. 49, 2008)
Qual seria o resultado se, ao invés do espalhamento periférico, a cidade adensasse seus vazios urbanos?
A correção dos rumos do futuro crescimento de São Paulo requer uma profunda auto-análise. As avenidas Berrini e Nações Unidas, o mais novo palco da economia paulistana, mostram que são necessárias correções do padrão desejado para a cidade.
“Nos últimos 20 anos as avenidas Berrini e Nações Unidas, tornaram-se a maior força
econômica de São Paulo. No entanto, a expansão de suas áreas apresentam uma série
de erros, especialmente na forma desumana, árida e insustentável que a cidade está
adotando. Estes erros não se deveram a falta de verbas como no caso de outras cidades
dos países em desenvolvimento. As vias que rodeiam a área são adequadas somente
para carros e não para o transporte público, o que traduz a mensagem: use seu carro
por que não pode confiar no metrô ou ônibus. A especulação imobiliária transformou
uma área marginal, habitada por favelas, em torres (inteligentes) que excluem a cidade.
Em alguns casos é difícil encontrarmos uma entrada que não seja pelo estacionamento
ou garagem. Os quarteirões são hiperdimensionados, não há árvores ou espaços
públicos e os níveis térreos carecem de restaurantes, lojas e lanchonetes. Mesmo
durante o dia, estas áreas parecem inabitadas e apartadas do congestionamento
permanente que as rodeia.” (LORES, P. 48, 2008)
Estas características indesejáveis da Av. Berrini, por exemplo, poderiam, segundo Lores, ser minimizadas se as autoridades exigissem que edifícios com mais de 15 pavimentos implicassem na criação de uma praça, jardim, espaço público, serviços, etc. Enfim, uma vitalização do espaço público dioturna, trazendo a condição de vigilância social que a cidade necessita. (LORES; RAUL, 2008)
Por outro lado, a Av. Paulista, referência de identidade da cidade de São Paulo, apresenta dinâmica totalmente diferenciada. O uso misto, enraizado em seu desenho, confere à avenida uma vitalidade permanente.
“Há o parque Trianon, praças, calçadas largas, quarteirões de tamanho médio e uma ocupação eclética. Ao lado de prédios residenciais como o Paulicéia, Saint Honore, Nações Unidas e o Três Marias, existem bancos, escolas, faculdades, hospitais, farmácias e bares, bancas de jornais e centros culturais como o teatro do Sesi, Itaú Cultural e MASP.” (LORES; P.48, 2008)
O uso misto constitui um dos instrumentos possíveis para que uma megacidade alcance um
desenvolvimento urbano sustentável. Este modelo de ocupação propicia menores deslocamentos,
economia de energia, otimização da infra-estrutura. A compactação de uma mancha urbana pode
gerar também uma menor pegada ecológica.
Na escala do edifício, quando nos referimos à multifuncionalidade em nossa arquitetura, o Conjunto Nacional, projetado em 1952, de autoria do arquiteto David Libeskind, é um paradigma incontestável.
“O Conjunto Nacional prova que São Paulo já soube como construir prédios inteligentes.
Em seus trinta e três pavimentos divididos em 3 blocos, existem escritórios e apartamentos com entradas independentes. As largas calçadas fora do edifício são pavimentadas com o mesmo piso que o seu interior, mascarando os limites entre o público e o privado. O piso térreo abriga cinemas, lojas, bancos, farmácias e restaurantes (...) O resultado é que a quadra do Conjunto Nacional é a que exibe mais vitalidade na Avenida Paulista, com fluxo contínuo de pessoas durante e nos finais de semana. Em uma cidade que é prisioneira da paranóia sobre segurança, a arquitetura generosa e
convidativa do Conjunto Nacional oferece coexistência e segurança para milhares de pessoas. Criminosos que preferem locais escuros e abandonados, onde podem agir sozinhos, não são bem-vindos aqui.” (LORES; P. 48, 2008)
CONJUNTO NACIONAL
Fonte:http://www.conjuntonacionalpaulista.com.br/conjunto/historia/in dex.htm
CONJUNTO NACIONAL