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O que é que temos feito de nós mesmos

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Academic year: 2022

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(1)

O que é que temos feito de nós mesmos

de

Dinho Valladares

e

Jomar Magalhães

(2)

© Dinho Valladares

Este livro ou qualquer parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

Registrado na biblioteca nacional sob o n.- 687.319 Livro: 1.326 Folha: 329

Contato para liberação de montagem:

Cia. de Teatro Contemporâneo

Rua Conde de Irajá 253 – Botafogo – Rio de Janeiro/RJ Cep: 22271-020

teatro.secretaria@gmail.com

www.ciadeteatrocontemporaneo.com.br

+55 (21) 984141965

(3)

Os autores Dinho Valladares

Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Ator, autor, diretor e produtor.

Montou a Cia. de Teatro Contemporâneo e tem representado o Brasil em vários encontros internacionais tais como Chicago (Chicago Improv Festival – Maior Festival de Improvisação do Mundo), Buenos Aires/AR, Córdoba/AR, Mendoza/AR, Santiago/CH, Cundinamarca/CO onde ganhou com a Cia. o título de primeiro lugar no festival sul- americano. Como formação fez Pós-Graduação em Teatro Musicado na Uni-Rio Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestrado em Teatro na mesma universidade alcançando conceito em sua tese final de Excelente com indicação para publicação. Como Diretor montou a Cia de Teatro Contemporâneo, que ganhou o título da prefeitura do Rio de Janeiro/BR de “Entidade de Utilidade Pública”, a qual dirige até hoje, uma das mais respeitadas do Rio de Janeiro. Como autor já escreveu 10 (dez) peças sendo que 7(sete) já foram a cena, além de adaptar três textos de Shakespeare. Como ator participou de mais de 30 (trinta) peças entre as quais se destacam “Jango, uma Tragédya”, de Glauber Rocha, com Cláudio Marzo e “Uma Rosa para Hitler” de Roberto Vignati com Francisco Milani, além de Adorável Hamlet e Adoráveis Romeu e Julieta, foi indicado como MELHOR ATOR no prêmio Mambembe em 1993. Como professor de teatro já deu aula na UFF - Universidade Federal Fluminense neste período organizou o Seminário de Produção Cultural no Centro Cultural do Banco do Brasil, e foi um dos fundadores do PURO- Nucleo da UFF em Rio das Ostras, além de lecionar por mais de vinte anos dentro da Cia.

de Teatro Contemporâneo é também o Coordenador do Curso Profissionalizante de Ator da Cia. que é reconhecido pelo Ministério da Educação do Brasil pela sua qualidade de ensino. Curso que conta com convênios de escolas de vários países do mundo.

Jomar Magalhães

Jomar é autor de vários textos teatrais, entre eles "Quadrilha", baseado no poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade. O enredo conta uma história de amor entre três casais. "Quadrilha" é um dos textos de maior sucesso de Jomar, tendo sido apresentado por várias companhias teatrais no Brasil e na Europa. A"Quadrilha" foi apresentada em Minas Gerais em 2017, pela Companhia Itabirana de Teatro.

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Dedicatória:

Essa peça é dedicada a todos que acreditam no amor além da vida!

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Sinopse:

Julia esta com uma amiga experimentando seu vestido de noiva, quando entra Danilo o noivo avisando que vai pegar o anel que deixou em casa. No caminho acontece um acidente....

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Personagens:

Mae Julia Eliza Danilo Rodolfo Vidente

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AMOR ALÉM DA VIDA

CENA 1 – MUSICA ALTA GERA UM CLÍMAX COM SE ESTIVESSE NO ÁPICE DE UMA GRANDE TRAGÉDIA. CORES ESCURAS DESENHAM O PALCO. DUAS PESSOAS, ENCONTRAM-SE EM DOIS PONTOS DISTINTOS. FALAM EM DIREÇÃO A ALGUÉM QUE NÃO ESTÁ PRESENTE.

MÃE - Minha filha, ouça o que sua mãe está lhe dizendo. Eu sei que é difícil, mas a vida tem que continuar.

AMIGA - Mas, Júlia, se você não fez o exame, como pode afirmar que está grávida?

MÃE - O tempo é sempre o melhor remédio. Outros rapazes virão, Júlia. Aliás, pode não estar tão longe assim. E o Rodolfo?

AMIGA - Que ótimo que você está com essa sensação de alegria no ventre, mas se isso não for verdade!?

MÃE – Quantos romances surgiram da forma mais inesperada!? Eu mesma conheço uns quatro ou cinco.

AMIGA - Você está sentindo uma nova vida nascer? Pode nem ser gravidez, pois o amor também nasce dentro da gente!

MÃE - Sim, ele é seu primo, mas não é de 1o grau. O Rodolfo é filho do meu primo, portanto nem de 2o grau deve ser.

AMIGA - É isso que faz com que você tenha esse lindo sorriso no rosto, como tem agora. O amor é responsável pela intensa alegria, pelas grandes glórias e tragédias da humanidade.

MÃE - Não lembra que desde crianças vocês eram namoradinhos? Depois de crescidos ficaram encabulados e se distanciaram, mas você acha que eu não percebo o jeito que ele te olha a cada vez que a família se reúne?

AMIGA - É claro que a gravidez é um milagre a ser louvado, mas o olhar da gravidez é outro; é de ternura, de proteção... não essa chama irradiante que sai dos seus olhos agora.

CENA 2 – SALA DE ESTAR DE UMA CLASSE MÉDIA TIJUCANA. PAREDES VERDES DA SALA SE MOSTRAM COM ALGUNS PEDAÇOS DESCASCADOS PELO TEMPO.

JÚLIA EXPERIMENTA O VÉU E A GRINALDA NO INSTANTE EM QUE DANILO ENTRA EM CENA

DANILO - Visão do paraíso!

JÚLIA - (assusta-se) Danilo! O que faz aqui!?

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DANILO - Vim seguindo uma estrela que me disse encontrar aqui o exemplar feminino mais lindo que a terra já produziu.

JÚLIA - (rindo) Veio seguindo a uma estrela? Desapareça então como um cometa! Você bem sabe que a tradição não permite que o noivo veja a noiva se arrumando.

DANILO - Pelo que eu saiba, a tradição diz que não se pode ver a noiva de vestido.

JÚLIA - Pois então eu incluo agora o véu e a grinalda.

DANILO - Apenas acessórios.

JÚLIA - Acessórios coisa nenhuma! Saiba que o véu e a grinalda têm a ver com o formato do rosto, com a altura da noiva, horário da cerimônia e até mesmo com o tamanho da igreja.

DANILO – Exageros!

JÚLIA – Quem disse? Não se usa um véu muito volumoso em igreja pequena, por exemplo.

DANILO - Valha-me Deus! Será que meu terno também sofrerá uma avaliação tão rigorosa?

JÚLIA - Seu terno eu não sei, mas meu vestido, com certeza. Fica pronto semana que vem e será experimentado com portas trancadas pra evitar o acesso de intrusos.

DANILO – Acontece que o intruso veio apenas convidá-la pra irmos buscar as alianças!

JÚLIA - O que? Então já ficaram prontas?

DANILO - Desde cedo, pela manhã.

JÚLIA - Estou ansiosa por vê-las! Vamos!?

DANILO - Nada disso! Diz uma tradição que apenas o intruso poderá buscá-las enquanto a noiva experimenta os acessórios.

JÚLIA – De acordo! E essa mesma tradição diz que o intruso tem meia hora pra ir e voltar? Nem mais um minuto!

DANILO – Diz! Mas antes, um beijo de despedida.

BEIJAM-SE APAIXONADAMENTE ATÉ QUE JÚLIA O APRESSA JÚLIA – (rindo) Assanhadinho! Vai logo, anda!

JÚLIO RI, SAI E REAPARECE NOVAMAMENTE.

DANILO – Ah! Importante dizer que as alianças não são acessórios. Elas simbolizam o nosso amor que não se sabe onde começou e indicam que jamais terá fim. (sai)

CENA 3 - JÚLIA VAI AO PROSCÊNIO AJEITAR O VÉU E À GRINALDA COMO QUEM SE OLHA NO ESPELHO. UM GRUPO DANÇA E CANTA O AMOR AO SEU REDOR.

(valsa)

Quer coisa mais gostosa que um entardecer

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Dormir no ombro dele até se esquecer?

Abraçá-lo naquela tarde chuvosa Sentir que é seu

Que misturou Que encontrou

Encontrar alguém nesse mundo Que seja seu

Que seja carinho Que seja caminho

Que tome café ao seu lado

Que se espante com seus espantados Que dê tchau falando oi

Que liga só para conversar sobre a vida que passa E não vê a vida passar! Suas rugas sem lhe incomodar Que basta olhar pra você já sabendo o que responder Quero ficar assim neste estado original

Sinto-me suspensa no ar como um balão a flutuar Coração cheio, coração pleno, coração feliz!

CENA 4 - AO TÉRMINO DA COREOGRAFIA O GRUPO SE RETIRA. JÚLIA AFASTA-SE DO PROSCÊNCIO NO MOMENTO EM QUE DÁ-SE UM BRUSCO SOM DE FREADA DE AUTOMÓVEL, SEGUIDO DE COLISÃO. JÚLIA CONGELA. ELISA ENTRA EM CENA DESORIENTADA

JÚLIA - Olá, Elisa...! (apreensiva) O que houve?

ELISA - Júlia, minha querida... toma um copo de água... Senta aí que precisamos conversar...!

JÚLIA – Conversar o sobre o que?

ELISA – Bem...

JÚLIA - Fala logo Elisa, o que aconteceu?

ELISA – Uma tragédia Júlia, uma tragédia!

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JULIA – Que tragédia, amiga...? Não diga assim...! É coisa séria ou força de expressão?

ELISA – É sério, Júlia! Coisa muito séria!

JULIA – Elisa, você esta me assustando!

ELISA – Eu sei!

JULIA – Por favor, pare com isso, hoje é um dos dias mais importante da minha vida... Hoje eu vou experimentar uma aliança que dará um norte em toda minha vida.

ELISA CAI OS OLHOS, TOMA CORAGEM E TORNA A ERGUÊ-LOS ELISA – Não vai mais.

JULIA – Elisa... eu já estou trêmula...

ELISA – Júlia, senta e me escuta! (pausa) Houve um acidente!

JULIA – Sim... (dissimula) Bem... Acidentes ocorrem todos os dias.

ELISA – Sim. Mas esse foi diferente.

JULIA – Diferente...?

ELISA – Um carro desgovernado de um motorista bêbado se chocou de frente com um outro que estava parado no sinal.

JULIA – Nossa! Que triste... Fico muito triste com esse tipo de coisa, claro... mas, poxa, você vem me falar de acidentes logo no dia de hoje?

ELISA – Não houve sobreviventes. Os dois motoristas morreram no local.

JULIA – O que você... você... quer dizer com isso?

ELISA – O Danilo...

JULIA – (sussurrando) O Danilo... Que Danilo...!??

ELISA – Isso mesmo que você ouviu, Júlia. O motorista do carro que estava parado no sinal era o Danilo.

JULIA – (desorientada) O que!??? Não... Não é possível! Pare com isso, Júlia... Ele estava aqui agora mesmo.

ELISA – Sim, eu sei! Parece que saiu meio apressado.

JULIA – (sem forças) Deus meu...!

ELISA – Sinto muito, amiga!

JULIA – (transtornada) Não é possível...não é possivel... NÃÃÃOOO!!!... (cai aos prantos).

CAI A LUZ.

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CENA 5 - O GRUPO DE DANÇA ENTRA NOVAMENTE. O CANTO E A COREOGRAFIA REFLETEM A DESOLAÇÃO E O DESNORTEIO DA PROTAGONISTA, AO PASSO EM QUE LENTAMENTE TIRA-LHE O SEU VÉU E GRINALDA

Hoje tenho vontade de sumir De pular para onde for me perder pelas estrelas Arrancar o meu furor

Mesmo que no caminho encontre dor O caminho até chegar lá é feito de sangue E o final é no mangue

Não quero mais viver

Não quero mais saber dessa estrada, dessa virada, dessa quebrada Me leva para o norte subindo forte em vermelho

Cambalhoteando de um lado para o outro Perdendo a direção das estrelas

Que se transformam em cometas E nos levam para o chão

CENA 6 - JÚLIA E A MÃE CONVERSAM NOS DOIS PONTOS DO PALCO DA PRIMEIRA CENA

MÃE – Julia, minha filha, a vida anda para frente. Você precisa superar tudo isso. Dois meses já se passaram. Nada volta! Foi lindo e maravilhoso, mas foi.

JULIA – Se fosse fácil, minha mãe...

MAE – Não digo que é fácil. Você não sabe o quanto eu venho sofrendo por você, filha... mas não há mais remédio! A verdade é que temos apenas uma vida e devemos vivê-la da forma mais sensata possível. Ficar eternamente sofrendo não faz sentido.

JULIA – Eu sei, minha mãe. E a senhora sabe que eu não sou de me definhar... Eu busco forças, mas essa dor foi muito forte... seria tão bom se.... (soluça) minha felicidade estava lá!

MAE – Não Julia, sua felicidade está aqui dentro, ó! Esta dentro de você! Você precisa deixar de projetá-la pra fora de si. Compreenda que só será realmente feliz quando trouxer essa responsabilidade para você, para o seu interior.

JULIA – Felicidade não se constrói sozinha.

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MÃE – Pois então! Você já tem a minha ajuda pra irmos em busca de um outro alguém. Ponto!

JULIA – Não é tão fácil assim! Parece até que a senhora quer me colocar debaixo do braço pra sair por aí a busca de homem.

MÃE – Ótima idéia! E se acharmos dois eu fico com o segundo porque já faz tempo que botei seu pai pra correr.

JÚLIA – (sorriso apático) Não brinca, mãe! Não existe espaço pra se pensar em outro!

MÃE – Eu tenho que brincar pra quebrar esse seu tédio, filha! Entenda que não somos nós que mandamos tão livremente em nós mesmos. O nosso caminho já esta traçado desde lá de cima.

Temos que saber aceitar o nosso destino... Deus levou o Danilo e quis que você continuasse aqui, não percebe? Você poderia ter ido com ele aquele dia, mas Deus não quis. Ele quis que você ficasse porque o seu destino estava traçado pra ser diferente do de Danilo. Agora você tem que buscar novos caminhos. Fazer novamente sua vida ter sentido, achar uma luz.

JÚLIA – Como a senhora diz que eu devo buscar novos caminhos ao mesmo tempo em que afirma que não mandamos em nós mesmos? Vê como é tudo confuso?

MÃE (embaraçada) – Não confunda as coisas! Mandamos um pouco e não sabemos tudo. Pronto!

Isso nem eu, nem ninguém aqui da terra sabe! Mas quer saber o que eu sei?

JÚLIA – O que?

MÃE – Que o Rodolfo sempre foi apaixonado por você.

JÚLIA – Ora! Aquilo era coisa de infância... reunião de família! Éramos as únicas crianças.

Queríamos brincar de príncipe e princesa enquanto o resto da família conversava coisas de adultos.

Rodolfo nunca sentiu nada mais forte por mim e nem eu por ele.

MÃE - Verdade? E quando você fez quinze anos? Quem fez questão de valsar contigo? Ou fazia parte ainda da brincadeira de príncipe e princesa?

JÚLIA - Coisas da sua cabeça, minha mãe. Não há nenhum sentido nisso.

MÃE - Bem, de qualquer forma ele te convidou pra um jantar. Pode ser apenas um gesto gentil pra te confortar, mas nunca se sabe...

CENA 7 - EM UM DETERMINADO PONTO DO PALCO, RODOLFO ESTÁ À MESA DE UM RESTAURANTE. A EXEMPLO DA CENA 1, FALA COMO SE JÚLIA ESTIVESSE À SUA FRENTE.

RODOLFO - Conheci uma menina Que corria, dançava e pulava Ao saltar na grama pulei com ela Vi nela toda minha razão

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Porque a vida só faz sentido quando acha a sua razão Vagar por ai só cumprindo os dias,

Acordando, trabalhando e dormindo Fica vazio

Só você menina faz sentido Da razão

Quero ser seu primeiro olhar da manhã Quero ser seu desmaiar à noite

Seu começo e fim!

ENTRA JÚLIA, SENTANDO-SE À MESA, À FRENTE DE RODOLFO

RODOLFO - ...e por tudo isso que eu guardo desde a infância, é que lhe peço que não me interprete mal. Compreendo perfeitamente o momento difícil que você passa agora, mas me precipito a fazer-lhe um pedido pra não passar a mesma aflição que passei quando vi você comprometida com outro homem. (ergue uma taça de vinho) Casa-se comigo?

CAI A LUZ

CENA 8 - UMA FUMAÇA, À MEIA LUZ, TOMA CONTA DO PALCO. SURGE DANILO.

DANILO – Não entendo o que houve./ Tinha tanto a viver/ Não consigo me deixar ir/ Luz opaca em meu destino / que sombras me vêm povoar? / que tantas estradas possíveis deparo-me agora entre abismos?

O chão que eu pisava esvaiu-se / a mão que apertava afrouxou-se / que vácuo é esse, que largo, me deixa a vagar neste espaço?

Que força tem esse desterro? / Que febre me vem sem arder? / É mundo distante ou é berço que eu volto de novo a nascer?

CENA 9 - JÚLIA E A AMIGA ELISA CONVERSAM NO MESMO PONTO DO PALCO DA PRIMIERA CENA.

ELISA - Mas o que sinceramente você sentiu quando ele lhe pediu em casamento?

JÚLIA - Eu não sei, eu nem tenho como dizer... um misto de estranheza, repulsa, compaixão... não sei, Elisa! Como esquecer o Danilo? Ele habita meus pensamentos mais intensamente ainda que antes.

ELISA - Sim, compreendo... mas antes de conhecer o Danilo, você sentia alguma coisa por esse seu primo?

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JÚLIA - Um carinho muito grande com certeza, mas nunca tive motivos pra botar na balança e avaliar o peso. A nossa idade era a mais compatível dentre os demais primos, daí tínhamos uma atenção especial um para com o outro. Acontece que os anos avançam e cada um passa a viver uma outra realidade fora do seio familiar.

ELISA - Não sei, Júlia... às vezes o roteiro da vida dá uma volta enorme pra nos pegar de surpresa.

Essa coisa de você ser cortejada por um desde à infância e amar um outro que não está mais entre nós, é bastante curiosa. Parece pertencer a um plano espiritual.

JÚLIA - Eu acho que tudo pertence a um plano espiritual, só não compreendo nada.

ELISA - Olha, eu conheço o endereço de uma vidente que dizem ser muito boa! Que tal irmos até lá pra conferir?

CENA 10 - SALA DA CASA DA VIDENTE. HÁ UM GLOBO, CARTAS, CHARUTOS E DEMAIS APETRECHOS SOBRE A MESA

VIDENTE - Qual das duas ninas pretende ser consultada primeiro?

ELISA - Bem, na verdade, só ela... Eu vim apenas acompanhá-la.

VIDENTE - Entonces, sólo una chica escucha!

ELISA - Não compreendo...

JÚLIA - Ela diz pra somente uma ficar aqui.

ELISA - Sim, mas não seria melhor que eu ficasse também? Eu sei do problema dela e vim apoiá-la.

JÚLIA - Eu não me importo que ela fique, dona Magdala.

VIDENTE - Cada persona tiene una energia. Sua presença causará interferência, chica!

ELISA - Mesmo que eu contribua com a caridade?

EM MEIO À FALA, ELISA PEGA UMA NOTA DE 100 REAIS

VIDENTE – (sutilmente pegando a nota) Bien.. Nesse caso, vejamos o que yo possa fazer.

DONA MAGDALA SINALIZA QUE AS DUAS SE SENTEM, ENQUANTO CAMINHA PRA TRÁS DA MESA DE CONSULTA, COM UMA BOLA DE CRISTAL NO CENTRO

VIDENTE - (para Júlia) Percebo que usted está bastante perturbada, non?

JÚLIA - Sim, estou.

A VIDENTE MANUSEIA BÚZIOS, BARALHOS OU OUTROS APETRECHOS, ENQUANTO BUSCA OBSERVAR JÚLIA

VIDENTE - Coração de moça costuma acalentar lamento por algum ragazzo.

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JÚLIA - Sim! E muito!

VIDENTE - E percebo que ele parece estar distante.

JÚLIA - Infelizmente, sim! (chora)

ELISA - Calma, Júlia! Eu não te disse que ela era boa?

VIDENTE - Percebo aqui nos búzios que esse ragazzo gosta abbastanza de você.

ELISA - Verdade!? Ainda?

VIDENTE - E como não? Um vero amore não se desfaz assim como se possa imaginar.

JÚLIA - Você ouviu isso, Elisa?

ELISA - Sim, sim, claro!

JÚLIA - Mas ele está bem?

VIDENTE - Um momento! (pausa) Hola! Necessito utilizar um elixir pra tal informacón.

JÚLIA - Claro! Imagino!

VIDENTE - Elixir de ervas importadas que implica em uma contribución extra.

JÚLIA – Ah, sim! Naturalmente...

JÚLIA ENTREGA-LHE UMA NOTA DE 50 REAIS ENQUANTO A VIDENTE LANÇA UMA ESPÉCIE DE BÁLSAMO SOBRE A CONSULTA

VIDENTE - Ragazzo está saudoso!

JÚLIA - Mesmo?

ELISA - Mas saudoso como?

VIDENTE - Sua interferência pode prejudicar a consulta, ragazza.

ELISA - Ponha mais um pouco de elixir! Eu contribuo!

DONA MAGDALA LANÇA MAIS ELIXIR ENQUANTO RECEBE DE ELISA UMA NOTA DE 20 REAIS QUE, HESITANTE, LHE ENTREGA MAIS 20

VIDENTE - Perfeito! Agora está fluindo mijor! Bueno, o ragazzo está saudoso e pensa em voltar.

JÚLIA - Voltar? Como assim?

VIDENTE - Retornar, regressar, volver.

ELISA – Mas ele não pode!

VIDENTE - Como non?

JÚLIA - Talvez esteja havendo algum equívoco aí.

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VIDENTE - Dêem-me as mãos! Com duas chicas a vibración é mais forte. Dêem-me as mãos.

CONFUSAS, AS DUAS ATENDEM O PEDIDO

VIDENTE - Ragazzo fujão, mujeriego e infidele. Trate de volver para os braços de su amada!

JÚLIA - Espere! Eu acho que...

ELISA - Talvez a senhora...

VIDENTE - Silención! Silención! Não quebrem vibración!

A VIDENTE FAZ UM JOGO DE CENA QUALQUER, FINGINDO TRANSE

VIDENTE - Volte para su casa Cabrito Foragido! Su lugar é ao lado desta chica, Bambino arteiro!

Retorne já pro arraiá, Caballo Taradón!

AUMENTA O JOGO DE CENA E A LUZ FICA INTERMITENTE. SOA UMA SIRENE. A VIDENTE ATIÇA-SE, REBOLA, EXAGERA

VIDENTE – Fala, meu Pai, o fogo está aquecido! Lace pelo pescoço esse Caballo foragido!

DE REPENTE A BOLA DE CRISTAL SE SOLTA, REVELANDO UMA LÂMPADA PISCANDO. A CORTINA DO FUNDO CAI E APARECE UM MECANISMO ELÉTRICO QUE FAZ TUDO VIBRAR

JÚLIA – Ei! O que é isso!?

VIDENTE – Epa! Devagar, painho! Devagar com a vibracion!

ELISA – Olha só Júlia! É tudo mentira! A vibração está vindo do motor!

JULIA – O que!? Sua impostora!!

VIDENTE – Espere, menina! A coisa não é bem assim!

ELISA – Vivaldina!

VIDENTE – Calma eu posso explicar! Vocês não estão entendendo... Esse mecanismo ajuda atrair as almas!

ELISA – Eu vou te mostrar as almas que vão te fazer parar de enganar pobres inocentes!

VIDENTE – Espere, chicas! Vamos conversar... Vocês são inocentes, mas não tão pobres assim!

Pobre é essa humilde vidente que vive de caridade.

ELISA – E quem aqui é rica? A pobre da Júlia vive sozinha com a mãe que há anos botou o marido pra correr.

JÚLIA – Que isso, Elisa!? Pra que me expor assim?

VIDENTE – Chica está expondo nada porque já vi tudo isso na vibración elétrica!

JULIA – Me da o meu dinheiro de volta, anda!

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ELISA – E o meu também!

VIDENTE – (abraça-se à bolsa) Hein! Mas la consulta non terminou!

ELISA – Ninguém aqui quer mais saber desse trambique! Devolva o dinheiro, anda!

VIDENTE – Oh...! (chora dramaticamente) Não façam isso, non!! É o único resquelo que me apareceu nesses dias! Eu preciso comer! Abram a geladeira pra ver que essa pobre serva do Destino nada tem pra lançar ao estomago! Façam essa caridade, vá!!

A VIDENTE PEGA UMA CARTA DE BARALHO E AMEAÇA A CORTAR O PESCOÇO

JÚLIA – Calma... calma dona... dona...

ELISA – Dona Trambique! Acha que está enganando mais alguém?

VIDENTE – Não duvide de mim! Eu sou uma vidente sim. E vidente de tradição famíliar.

ELISA – Ninguém aqui está interessada em seu histórico. Queremos o nosso dinheiro de volta.

Isso sim!

VIDENTE - Minha mãe era mãe de santo de um terreiro em Campo Grande!

JÚLIA – Devia ter ficado por lá mesmo ao invés de vir parar no Rio?

VIDENTE – Mas era em Campo Grande aqui no Rio mesmo.

ELISA – Caramba! Mais longe ainda!

VIDENTE – Meu pai era pastor evangélico.

JÚLIA – Hã!?

VIDENTE – Daqueles que tiram o demônio do corpo das pessoas! Eles se encontraram e foi amor a primeira vista, mas veja aí a confusão! Quando ela fazia o orixá vir, ele queria botar pra subir.

Não havia espírito se entendesse naquela casa. E eu ali no meio, tadinha de mim.

JÚLIA – Complicado mesmo.

VIDENTE – Até que os dois largaram a ofício e abriram uma vendinha. Dali veio o nosso sustento por anos. Com a morte dos dois eu assumi a venda.

JÚLIA – Quem morreu primeiro.

VIDENTE – Minha mãe. Ela se converteu a uma seita evangélica e morreu afogada no batismo.

Meu pai ficou inconsolável e foi a um centro espírita saber notícias e morreu de susto com as revelações.

ELISA – Não dê trela a ela, Júlia! Em que nos interessa essa história?

VIDENTE – Porque passado algum tempo, eu comecei a perceber que as mercadorias da vendinha tremiam como a querer me avisar algo. Principalmente quando um cliente foi lá passar um cheque.

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JÚLIA – Cheque sem fundo?

VIDENTE – Não, cheque fantasma. Fiquei sabendo depois que depositei o cheque que aquele sujeito já havia morrido há dois anos.

ELISA – Sério?

VIDENTE – Estou te dizendo!? Já mais tarde as mercadorias começaram a voar de um lado para outro. No início consegui disfarçar dos clientes, mas com o tempo foi piorando e tudo começou a voar, inclusive os clientes, que não mais voltaram. Não teve jeito. Tive que fechar a venda.

JÚLIA – Você ouvia vozes?

VIDENTE – Muitas! Pilantra, bandida, cachorra, ordinária...! Até que um dia eu ouvi uma voz bem diferente das outras.

JULIA – Voz do Além?

VIDENTE – Não! Voz de prisão! Pra evitar que as mercadorias voassem, eu coloquei um peso de balança dentro delas. Então o freguês pagava por um quilo, mas só levava meio.

ELISA – Pilantra mesmo!

JÚLIA – Então você foi presa?

VIDENTE – Fugi por baixo da barraca e vim parar aqui, sem eira e nem beira. Até que não demorou muito e comecei a sentir presenças estranhas em minha casa. Procurei um candomblé por parte de mãe e uma igreja evangélica por parte de pai. Deu um nó! Depois fui atrás de um padre, de um monge, de um rabino, de um ateu... Nada! Então o jeito foi procurar um eletricista.

ELISA – Eletricista?

VIDENTE – Sim! Fui atrás de um eletricista pra poder abrir “A Tenda do Além” com essa bola de cristal que vive me dando choque. Pelo menos ninguém pode dizer que não existe uma energia muito forte aqui dentro.

ELISA – Então você confessa que a sua solução foi tapear as pessoas e brincar com os mortos.

VIDENTE – Que brinco com os mortos coisa nenhuma! Eu só quero é trabalhar. Eles é que brincaram comigo me fazendo perder os fregueses da feira.

JÚLIA – E essas presenças estranhas? Você já viu alguém?

VIDENTE – Ninguém! Nem o Adamastor que eu conheci num forró e que morreu de cachaça.

Aquele pinguço morreu me devendo três consultas.

ELISA – Chega! O caso é o seguinte: A senhora fez a gente perder tempo e despesa da passagem.

Se quiser ficar no lucro, devolva agora o nosso dinheiro antes que eu chame a polícia!

VIDENTE – Pare de exageros, chiquita! Eu já não disse que vivo num perrengue que Deus me livre?

ELISA – Problema da senhora! Pagamos por um serviço de araque. Ou devolva o dinheiro ou

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disco pra 190 agora mesmo.

ELISA TIRA O CELULAR DA BOLSA

VIDENTE – Respire... Vamos conversar mais um pouco...

ELISA – É um...

JÚLIA – Deixa a polícia pra lá, Elisa.

ELISA – É nove...

VIDENTE – Que pressa é essa!? Depois de um vem o dois!

ELISA – É zero!

SONOPLASTIA DE DISCAGEM. VOZ DE ATENDENTE ATENDENTE – Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro, boa tarde!

VIDENTE – Toma!

DEVOLVE O DINHEIRO. ELISA PEGA E RESPONDE ELISA – Oh, desculpe-me, foi engano!

JÚLIA – Vamos embora, Elisa, vamos!

ELISA – Claro! Agora vamos!

MAL AS DUAS DÃO MEIA VOLTA, A VIDENTE GRITA VIDENTE –Esperem!!!

SURPRESAS, AS DUAS PARAM

VIDENTE – Esperem mais um minuto, por favor! Agora é tudo ou nada porque esses espíritos vão ter que parar de me sacanear a vida de uma vez por todas!

A VIDENTE AJEITA O TURBANTE COM ATITUDE E VOLTA-SE PRA LÂMPADA, MESMO DANIFICADA

VIDENTE – Axé, Forças do Além, aqui vocês não enganam mais ninguém!!! Energizem meu baralho porque eu não posso perder esse cascalho! Iluminem meus búzios e meu cachimbo pra eu não mandar vocês pro limbo! Mobilizem luzes e som pra trazer de volta esse Caballo Taradón!

Desenrosquem ele da biscate que o agarra e traga-o de volta pra essa potranca aqui na marra!.

Segure esse touro, detenha essa tara! Me ajude caboclo Caça Vara!

JÚLIA – O que é isso, dona Magdala?

VIDENTE – Voltem aqui, chiquitas! Botem logo o dinheiro no meu bolso e apertem a minha mão porque agora a coisa vai!

JÚLIA E ELISA, DESORIENTADAS, OBEDECEM

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VIDENTE – Isso! Fé no coração pra ter de volta o Cabrito Fujón!

COMEÇA A CANTAR (Samba de breque)

Segura nessa mão Senão vem um esfregão Cuidado com o balanço Eu quero desenrascanço Vem! Vem! Vem! Vem!

Traz de volta esse varão!

A VIDENTE TREME TODA E ESTANCA JULIA – O que houve?

VIDENTE – Esperaí! Estou sentindo uma presença.

O PALCO FICA NA PENUMBRA. EM UM CANTO APARECE DANILO, PERTURBADO

DANILO - O que ocorre? Onde estou exatamente?

VIDENTE - (largando as mãos) Ei! Quem disse isso!?

JÚLIA - Isso o que?

VIDENTE - Mais alguém veio com vocês duas?

JULIA - Não, somente nós.. Por quê?

VIDENTE - Eu senti um calor... ouvi uma voz...

ELISA – Não venha de novo com aquela conversa fiada!

DANILO - Júlia!?

VIDENTE OLHA NA DIREÇÃO

VIDENTE – Como esse rapaz entrou aqui? Vocês deixaram a porta aberta?

JÚLIA – Não, nós fechamos... mas que rapaz?

DANILO – Júlia!?

VIDENTE – Como que rapaz, menina! Se ele está te chamando é porque te conhece.

ELISA – Como assim?

JÚLIA – De qual rapaz você está falando?

(21)

VIDENTE - Como “qual rapaz”? Não percebe? O que é aquilo ali?

AMBAS - Onde?

VIDENTE – Vocês beberam ou consumiram o que? O que vocês vieram fazer aqui exatamente?

JÚLIA - Vim saber sobre meu noivo... meu amado Danilo que faleceu às vésperas do casamento.

VIDENTE - O que!!? Faleceu!??

DANILO - Como? Então eu faleci?

VIDENTE – Puta que pariu! Deu merda! Corram! Abram a porta! Por que vocês fecharam essa merda?

AS DUAS SEGURAM A VIDENTE

ELISA – Pare com isso, dona Magdala! Diga logo o que está acontecendo!!!

VIDENTE – (trêmula) Ai, meu Santo Agripino! Ai minha pomba rola! Então o seu noivo empacotou?

JÚLIA – Não fala assim!

DANILO – Não compreendo bem... o que está acontecendo...?

VIDENTE – Se você que veio do além não compreende, imagina eu que só conheço Campo Grande?

JÚLIA - A senhora disse que ele está saudoso...

ELISA - E disse que ele vai voltar. Como assim?

VIDENTE – Já voltou, gurias! Olhe pra lá, estão vendo?

AMBAS - Onde?

VIDENTE - Sai pra lá, alma penada! Vocês tinham que me falar antes que o sujeito tinha morrido.

JÚLIA - Como assim? Ele está aqui?

DANILO - Sim, minha amada. Estou!

VIDENTE - Ouviu?

JÚLIA - O que?

VIDENTE - Jesus! Lascou-se! Só eu vejo o troço!

ELISA - Curioso que a senhora perdeu o sotaque!

VIDENTE - O sotaque? Nessas alturas eu já perdi até a calcinha!

DANILO - Júlia, o que está acontecendo?

(22)

VIDENTE – Acho mehor vocês marcarem encontro lá fora. A sessão já acabou.

ELISA – Mas foi a senhora que mandou a gente voltar!

JÚLIA - Diga, dona Magdala! É verdade que ele está aqui dentro?

DANILO - Então ela não me percebe mesmo?

VIDENTE - Está sim, menina. Está.

JÚLIA - Como eu posso ter certeza?

DANILO - Fale sobre as alianças que sempre irão nos unir.

VIDENTE - Só digo se você prometer desaparecer.

DANILO - Mas eu nem sei bem como apareci!

VIDENTE – Pega o 638 e pronto! Esse ônibus passa em tudo que é lugar!

ELISA – Diz pra nós o que ele disse.

VIDENTE - Ele disse que as alianças continuarão unindo vocês dois.

JÚLIA - (emocionada) Oh!

ELISA - Eu não disse que ela era boa!?

VIDENTE - Conte, menina, o que aconteceu com seu noivo?

JÚLIA - Ele saiu ansioso pra buscar as nossas alianças e sofreu um acidente de carro.

DANILO - Oh, sim, eu recordo vagamente isso...!

VIDENTE – Virgem Santíssima! Como vou dormir agora?

ELISA - O casamento seria na semana seguinte. Todo o enxoval já estava pronto.

DANILO - Sim, é verdade... agora percebo o que de fato me aconteceu... que terrível!

VIDENTE - Calmaí! Um de cada vez! Continua, Júlia.

JÚLIA - Estou inconformada. Por isso vim aqui.

ELISA - Dona Magdala, peça a ele que diga o que Júlia deve fazer.

VIDENTE - O que ela deve fazer eu não sei, mas o que nós vamos fazer é uma corrente pra mandar esse assombro embora!

JÚLIA - Não, por favor! Diga a ele que o amo. Pergunte o que ainda sente por mim.

VIDENTE - Menina, ele tá confuso porque mal se deu conta que já cantou pra subir.

DANILO - Diga que a amo também. Diga que ela ficou linda de véu e grinalda.

VIDENTE - Ele disse que também ama você e que você ficou linda de véu e grinalda. Pronto!

(23)

JÚLIA - (exultante) Oh, meu Danilo!

ELISA - Eu não disse que ela era boa?

DANILO - Diga-lhe também que...

VIDENTE - Não vou dizer mais nada que eu não sou papagaio! Ouçam uma coisa: vamos encerrar essa sessão agora mesmo pra o teu noivo achar o rumo certo, ouviram?

JÚLIA - Mas foi pra saber sobre ele que eu vim até aqui!

ELISA – Só mais dez minutos, dona Magdala!? Eu pago o extra!

VIDENTE – Ai, São Bartolomeu! Eu me borro toda, mas fico rica!

A VIDENTE ERGUE OS BRAÇOS EM VIBRAÇÃO. DANILO “ENTRA” NO CORPO DELA E COMEÇA A FALAR COM JÚLIA

VIDENTE/DANILO – Olá amor! Como é bom te ver de novo!

AS MENINAS SE OLHAM ATÔNITAS JÚLIA – Ih! Que isso, dona Magdala!?

ELISA – Quieta, Júlia! É ele!

JÚLIA – Como?

VIDENTE/DANILO – Sou seu Danilo, estou usando o corpo dela para poder me comunicar com você. Mas talvez seja por pouco tempo!

JÚLIA – Danilo, é você mesmo!? Que saudades meu amor!

VIDENTE/DANILO – Se o véu e a grinalda combinam até com o tamanho da igreja, o nosso amor ocupa o espaço da eternidade.

JULIA – Céus! Que lindo! Eu te quero pra todo o sempre!

VIDENTE/ DANILO - Eu também, minha amada!

APROXIMAM-SE PARA BEIJAR-SE. FALTANDO POUCO PARA OS LÁBIOS SE TOCAREM A VIDENTE DESPERTA

VIDENTE – Epa! Cadê eu!? (pausa) Que isso, menina!? Já sou trambiqueira e macumbeira e você quer me deixar mais queimada ainda?

JÚLIA – Cadê o Danilo?

VIDENTE – Que Danilo? Ah, sim...

A VIDENTE PEGA A MÃO DAS DUAS MOÇAS

VIDENTE - Deixa quieto quem já estava quieto! Vem cá as duas! (vibra orações) Bate asas, Cisne altivo! Ache o rumo verdadeiro! Volta de onde vieste que é por lá seu paradeiro!

(24)

A VIDENTE AUMENTA A VIBRAÇÃO DANILO - (lançando as mãos ao rosto) Nããooo!

APÓS NOVAS INSISTÊNCIAS, A LUZ FRAQUEJA E DANILO SOME DA CENA VIDENTE - (caindo-se sobre a cadeira) Uff!!!

JÚLIA - (chorosa) Oh, que saudade!

ELISA – Ele já se foi?

VIDENTE – Já! Vocês me pagam!

ELISA – De novo!?

VIDENTE – Vocês deveriam ter me avisado que a consulta era sobre alguém que já partiu. Vê lá se eu iria me meter com isso!? Agora como eu vou ficar aqui sozinha, nessa casa?

JÚLIA – A senhora acha que ele volta, dona Magdália?

VIDENTE – Tomara que não! Mas se voltar não me encontrar aqui porque já estou dando o fora pra qualquer buraco. Vamos logo antes que eu tenha um treco!

SAEM. CAI A LUZ

Cena 11 - RODOLFO NA CASA DE JÚLIA, CONVERSA COM SUA MÃE

RODOLFO - Sim, tia, eu sempre pensei em me casar com a Júlia. Mesmo tendo namorado outras moças, meu pensamento insistia em se voltar pra ela, virou quase uma obsessão.

MÃE - Isso pra mim não é nenhuma novidade, Rodolfo. Ou você acha que eu acreditei na viagem que você teria que fazer justamente na data em que ela se casaria?

RODOLFO - Nessas horas o embaraço é tanto que somos patéticos. Eu não suportaria ficar dentro da igreja.

MÃE - E nem mesmo fora dela imaginando a cerimônia lá dentro.

RODOLFO (pensativo / conturbado) Tia... o pior é admitir que... em meio a todo o pesar pelo ocorrido, não posso negar que por dentro senti um alívio... um nó desatado... a esperança de que teria mais uma oportunidade com a Júlia. Claro que não deveria ter sido dessa forma...

MÃE - Compreendo.

RODOLFO - Chego a sentir remorso por confessar isso, mas foi essa a sensação que me ocorreu.

MÃE - Não há remorso e nem culpa, Rodolfo! O nome disso é amor. Perceba como o amor chega a ser cruel pra satisfazer os seus próprios caprichos!

RODOLFO – Acredito.

(25)

MÃE - E por vezes, costuma ser cruel também com alguns amantes que se definham pelo ser amado, sem receberem a mesma atenção.

RODOLFO - Então a senhora diz isso por achar que a Júlia não aceitará meu pedido?

MÃE - Não necessariamente. É possível que aceite, mas me preocupa a maneira que ela e o Danilo se olhavam... aqueles olhares mostravam da mesma forma o capricho do amor.

CENA 12 – VIDENTE ENTRANDO NOVAMENTE EM CASA, AINDA COM AS CHAVES NAS MÃOS. JÚLIA E ELISA A ACOMPANHAM

ELISA – Calma! Pode deixar que a gente entra primeiro. Não precisa ter medo.

VIDENTE – Eu já disse que não quero mais mexer com isso! Daqui eu volto pra minha tia que não reapareço mais.

JÚLIA – Só mais essa vez, por favor!

ELISA – Veja! Está tudo como a senhora deixou uma semana atrás. Talvez até facilite o contato.

VIDENTE – Se eu não estivesse numa penduíba, não apareceria mais aqui. Qual das duas chicas vai querer se consultar?

JULIA – Eu novamente, claro! Pode botar o elixir.

JÚLIA SENTA-SE. A VIDENTE, EM SEGUIDA, CONTRAFEITA. APÓS ALGUNS RITUAIS PECULIARES, INVOCA

VIDENTE - Mistérios do Além Ungido! Tragam o Caballo foragido!

INVOCA. FAZ UMA PAUSA.

VIDENTE – Dos recantos do Universo Infindo! Permita que o Cabrito Arteiro esteja vindo!

PAUSA

VIDENTE – De tudo que for buraco do Sobrenatural! Vasculhe o Cisne Altivo em lar Espiritual!

PAUSA

VIDENTE – Vê só!? Ele já deve ter encontrado o rumo certo! Uff!

JÚLIA – Oh, não! É muito importante que ele apareça..!

VIDENTE - Pra quem? Pra mim!? Tem graça! Vá fazer você um curso de vidência!

ELISA - Mas...

VIDENTE - Não tem mais, nem menos, nem dinheiro extra pra elixir. Toma seu dinheiro de volta. (devolve as notas à Elisa) Se eu soubesse que a coisa era...

NESSE MOMENTO DANILO SURGE EM CENA

(26)

DANILO - Agora eu já sei onde estou!

VIDENTE - (grita) Santa Mãe! Olha ele aí! Devolva isso aqui de novo!

PEGA AS NOTAS DE VOLTA ELISA – Jura que não está mentindo?

VIDENTE – Mentindo o que, menina? Olhem só pra lá! Cabelos cacheados, nariz fino... Vocês estão vendo ou a coisa é só comigo de novo!?

JÚLIA - Onde?

ELISA - Eu não disse que ela era boa?

VIDENTE - São Benedito! Já vi que estou lascada outra vez! (para o espírito) Escuta aqui, rapaz;

você só volta aqui mais essa vez pra desembuchar o que for necessário, está claro!? Depois esqueça meu endereço, ouviu bem!?

DANILO - O plano que agora eu me encontro não está mais preso à carne.

JÚLIA - O que ele está dizendo?

VIDENTE - Sei lá! Acho que é vegetariano!

JÚLIA - Pergunta sobre mim?

VIDENTE - E a Júlia?

DANILO - Júlia foi o amor que eu tive na vida terrena e o amor transpassa os planos. Por isso, ele existe aqui também.

ELISA - Ele disse alguma coisa?

VIDENTE - Ele disse que o amor que sente por você existe lá também.

JÚLIA - Ohhh!!!

ELISA - Eu não disse que...

JÚLIA - Já sei, mas deixa o Danilo falar agora.

VIDENTE - Tem mais alguma coisa a dizer ou já acabou o crédito?

DANILO - Eu quero que Júlia saiba que eu a amo com um amor ainda mais intenso e que, por amá-la demais, devo permitir que ela siga em frente, que viva novas experiências...

VIDENTE – Olha, Júlia, ele está dizendo que ama você ainda mais que antes, mas que você precisa seguir em frente.

JÚLIA – Seguir em frente...? E ele...?

VIDENTE – (cochicha) Sei lá... deve querer ficar solto por aí... Você deve saber que homem, onde quer que esteja, é tudo igual!

(27)

DANILO – Pare de dar suas opiniões e diga-lhe que haverá uma melhor compreensão de tudo quando se chega neste plano.

VIDENTE – Olha... o nervosinho me deu uma bronca e está dizendo que você vai entender tudo melhor depois que chegar nesse plano.

DANILO - Que ela deve se permitir a novos romances sinceros porque isso só enriquece o espírito.

VIDENTE – Disse que vai fazer bem pro seu espírito se você ficar com outro homem. Mas que seja coisa séria, sem galinhagem!

JÚLIA – Vai fazer bem ao espírito de quem: Ao meu ou ao dele?

VIDENTE – Sei lá, deve ser o dele. Quer botar mais espírito ainda na minha conta?

ELISA - E como será o amor deles dois se ela se casar com outro?

VIDENTE – (aflita) Ai, caramba! É muita pergunta! (oportunamente) Mais elixir, mais elixir! (sinaliza a bolsa para Elisa)

APREENSIVA, ELISA PASSA-LHE MAIS UMA NOTA DE 20 REAIS VIDENTE - O que eu digo pra ela, hem!?

DANILO – Se essa compreensão fosse possível para o plano terrestre, eu já teria dito.

VIDENTE - (para Elisa) Tá vendo só! Por sua causa ganhei outro esporro!

JÚLIA - Então o nosso amor continua o mesmo ainda que novos amores me venham a surgir?

VIDENTE - Acho que é mais ou menos isso. Não vou perguntar mais nada porque ele mal chegou lá em cima e já pensa que é Deus!

JÚLIA - Eu fui pedida em casamento.

VIDENTE - Sério!?

ELISA - Sim, por um primo distante.

VIDENTE - Olha, então vê que se casa logo porque além de fantasma ele descobre que também é corno e desaparece de uma vez!

JÚLIA - Fale com ele!

VIDENTE – Olha aqui, moço, não sei se você vai ficar irritado, mas bastou você dar as costas e a Júlia já foi pedida em casamento. E então?

DANILO - Ela não deve anular a vida terrena por ansiedade na vida espiritual. Se as atitudes forem lícitas, jamais terá do que se arrepender.

VIDENTE – Ah, é?

AMBAS – É o que?

(28)

VIDENTE – Não sei. Agora ele resolveu falar bonito só pra me sacanear, mas disse que se você acha que tem que se casar, não sinta culpa e se case. Depois tudo se resolve certinho lá em cima. Já to começando achar que o sururu lá é mais incrementado que aqui.

JÚLIA – (confusa) Eu não sei o que fazer... tenho que pensar em tudo isso... só desejo que a senhora esteja presente nos momentos que eu julgar necessário.

VIDENTE - Eu!?

JÚLIA - Sim, porque eu terei a certeza que o Danilo estará por perto.

VIDENTE – Ah, é, Bebé? E quem te disse que eu quero mais ele por perto?

ELISA - Ao menos nesse início, dona Magdala. Fique morando lá em casa!?

JÚLIA - Por favor!

VIDENTE – Santa Anastácia! Lá se foi meu sossego de uma vez por todas.

ELISA - Eu não disse que ela era boa?

DANILO - Eu sigo para o meu plano. É possível que não haja mais a necessidade de...

VIDENTE - Tu ainda taí, homem!? Vai! Aproveita e avise pro sem vergonha do Adamastor que reze para que eu tenha muitos anos de vida porque assim que eu empacotar vou encher os cornos dele de porrada!

JÚLIA – Calma, dona Magadala, não faça isso?

VIDENTE – Como não? Ele que me aguarde!

JÚLIA – Não é isso! Não mande logo o Danilo embora. Peça-lhe que antes de ir, me deixe uma mensagem.

VIDENTE – (para Danilo) Calmaí! Não apaga ainda não! Ouviu o que ela pediu?

DANILO – Diga o seguinte a ela: Que no plano em que estou...

VIDENTE – Ele disse que no plano em que ele está...

DANILO – ...existe uma tradição...

VIDENTE – ...existe uma tradição...

DANILO – ... que não permite...

VIDENTE - ... que não permite...

DANILO - ... que um verdadeiro amor, termine jamais!

VIDENTE - ...que um verdadeiro amor, termine jamais!

EM MEIO À SONOPLASTIA, A LUZ DIMINUI LENTAMENTE

(29)

CENA 13 – RODOLFO ESPERA ANSIOSO NA SALA DA CASA DE JÚLIA. EM SEGUIDA ELA ENTRA

JULIA – Rodolfo!?

RODOLFO – Oi, Júlia...

JÚLIA – Você aqui..? Onde está minha mãe!

RODOLFO – Está lá dentro... Olha, eu vim aqui para....

JULIA – (interrompe) Espera, eu já entendi.

RODOLFO – O que foi?

JULIA – Gostaria de te perguntar. Quando foi que você se apaixonou por mim?

RODOLFO – Eu...?

JÚLIA – Sim, quando foi, Rodolfo? Diga!

RODOLFO – Júlia, dizer quando eu não saberia porque acredito que sempre fui apaixonado por você.

JULIA – Verdade? Desde a infância?

RODOLFO – Desde o primeiro olhar. Não tenho receio de dizer que você sempre foi a mulher da minha vida.

JULIA – Mas Rodolfo... você sabe o imenso carinho que eu tenho por você... nem preciso te provar isso.. mas é carinho, é afeto... não é amor. Não quero magoar você.

RODOLFO – Acredite que o afeto pode germinar em amor. E um amor tão grande como o que eu sinto por você... que de tão forte sustentará nós dois. O tempo dirá que estou certo.

JULIA – Estou confusa... você sabe o que estou vivendo...

RODOLFO – Permita-me protegê-la, ser seu amigo, seu cúmplice, estarmos juntos. Permita-me que sejamos uma família que se construiu em momentos diferentes.

JULIA – Você é uma pessoa muito especial e sei que buscará tudo pra me fazer feliz. Só não sei, Rodolfo, se eu ceder, será mesmo o seu pedido que estarei atendendo.

RODOLFO – O meu pedido é para que se case comigo. Ceda a esse pedido que eu saberei como conduzir a nossa felicidade.

JULIA BAIXA A CABEÇA. RODOLFO A ABRAÇA POR ALGUNS INSTANTES.

EM SEGUIDA ELA SE RETIRA. RODOLFO CANTA RODOLFO - Porque o amor se constrói

Amor é dia a dia É calmaria

(30)

É brisa do vento E salada light Amor é tijolo a tijolo Construção

Carinho Companhia Riso frouxo Amigo do coração Sexo encontrado Cama tranquila

Sei que é ela e que vou ser feliz!

CENA 14 - JÚLIA NO PROSCÊNIO, NOVAMENTE EXPERIMENTANDO O VÉU E A GRINALDA. SUA MÃE, ELISA E A VIDENTE DIZEM FRASES SOLTAS COMO SE ESTIVESSEM EM CENA EM MOMENTOS DIFERENTES

ELISA - Quero ser a primeira amiga a brindar o champanhe e a única a pegar o buquê, ouviu bem?

VIDENTE - Os mistérios que existem na terra me parecem ainda maiores do que os do universo.

MÃE - Rodolfo está lá fora. Soube que você estava se arrumando e nem pediu para entrar.

ELISA - A vida oferece novas oportunidades a todo momento, minha amiga.

MÃE - Vendo você assim, recordo-me uma vez em que vocês dois brincaram de casamento usando a roupa de primeira comunhão. Veja como 15 anos transformam brincadeiras em realidade.

VIDENTE - As estrelas ficam espalhadas aleatoriamente pelo céu, mas todas têm um roteiro a seguir.

ELISA - Como é gostoso saber que uma amiga de juventude e solteirices irá se casar. Ainda não consigo visualizar isso.

VIDENTE - Tenho uma nítida sensação de que hoje você realizará o maior sonho de sua vida.

MÃE - Definitivamente os filhos não são criados para os pais. Hoje eu compreendo mais do que nunca esse ditado.

JÚLIA - (levantando-se) Vamos! Estou pronta!!!

CENA 15 – DANILO SOZINHO EM CENA. PALCO COM POUCA LUZ E NEBULOSO

(31)

DANILO (perturbado) – Que tipo de sensação sinto? Não, não posso alimentar nenhum apego ao que é terreno. Ela está viva e eu também, mas em planos diferentes. Aqui não há ciúmes nem egoísmos, mas sinto desnorteios por não tê-la a meu lado. ! Por que ainda estou aqui? Por que ainda não me levaram? Será que minha missão ainda não foi cumprida? Será que ainda tenho que transitar por aqui?

(canta)

Amor você é tudo para mim Eu quero você de qualquer jeito Quero estar perto de você Quero sentir seu cheiro Quero olhar os seus olhos Falar Julia mil vezes Não importa o mundo Não importa o plano Julia te quero Julia te amo

Julia não consigo viver sem você

CENA 16 - IGREJA. RODOLFO ESTÁ NO ALTAR NO INSTANTE EM QUE JÚLIA ENTRA PELO CORREDOR DA IGREJA. UMA COREOGRAFIA NUPCIAL RODEIA JÚLIA ATÉ ELA PERFILAR-SE A RODOLFO, DE FRENTE PARA O PADRE.

SEGUE A COREOGRAFIA ATÉ O MOMENTO ÁPICE DA CERIMÔNIA

PADRE - Sr. Rodolfo de Albuquerque, é de sua livre e espontânea vontade casar-se com a Srta Júlia de Souza Martins?

RODOLFO - Sim!

PADRE - Srta Júlia de Souza Martins...

A COREOGRAFIA SEGUE. TODOS GIRAM, VALSAM, CANTAM JÚLIA

Será meu sim? Será meu não? Será meu fim?

Negar de vez o eterno amor que eu senti Vem nova vida, um novo amor virá ou não?

(32)

E a correnteza a me arrastar, a me perder, me sufocar Preciso ouvir meu coração, se abro mão, se abro mão Será meu fim? Será meu sim? Será meu não?

RODOLFO

Minha vida tem caminho tem um ninho

tem querer

O amor que eu construí desde que de perto vi você Explode, enfim, meu coração bradando o amor tão escondido

Oh Júlia minha, Júlia linda, Júlia eu vou estar contigo

DANILO

Se uma flor cair de vez ainda há de viver por um triz

se nessa flor que enfim tombou revigorar-se a raiz Parti, amada, tão triste assim

Fugiu-me o sonho num vendaval mas lhe preparo um lindo jardim num lado além do quintal

A CENA RETORNA À CERIMÔNIA

PADRE – Srta, Júlia, vou repetir: é de sua livre e espontânea vontade aceitar o senhor Rodolfo de Castro Albu...

NESTE MOMENTO, OUVE-SE EM ALTO TOM A VOZ DA VIDENTE NA PORTA DA IGREJA

VIDENTE - Aquiete-se Ragazzo fujão! Deixe-me quieta Cabrito Foragido! Sossega, Bambino

(33)

Arteiro!

TODOS OLHAM PRA TRÁS, NA DIREÇÃO DA PORTA ELISA – (ao lado do altar) O que há, dona Magdália?

A VIDENTE, EM TRANSE, RECUA PRA FORA DE CENA. OUVE-SE A VOZ DE DANILO

DANILO - Júlia eu te amo! E te amo com um amor além da vida!

ELISA - (grita) É Daniloo!!!

IMEDIATAMENTE JÚLIA GRITA, ABANDONANDO O ALTAR JÚLIA – Daniiiilo!!!

ABANDONA O ALTAR E, AO CORRER EM DIREÇAO À PORTA DE ENTRADA, CAI DESFALECIDA.

CAI A LUZ.

CENA 17 - JÚLIA REAPARECE NOS BRAÇOS DE DANILO, DESNORTEADA. A TESTA FERIDA. MUSICA SUAVE! O LOCAL É INDETERMINADO, PODE SER A IGREJA OU PODE SER UM LUGAR DE LUZ.

JÚLIA – (acordando) Danilo! Meu Danilo!? Meu amor! O que ocorreu? Onde estamos!?

DANILO - Acalme-se, meu amor! Voce estava se arrumando para o nosso casamento, escorregou e bateu a cabeça. Logo essa luz opaca se dissipará e compreenderemos melhor esse largo espaço em que estamos.

JÚLIA – Eu te amo meu amor DANILO – Eu também te amo JULIA- Além da minha própria vida!

DANILO- Ficaremos juntos por toda a eternidade!

BEIJAM-SE. VALSAM. A LUZ DIMINUI EM RESISTÊNCIA

CAI O PANO

CENA 18 (opcional) – POUCO APÓS O TÉRMINO DA PEÇA, ELISA PÕE O ROSTO PRA FORA DA CORTINA E FALA PARA O PÚBLICO

ELISA – Eu não disse que ela era boa?

FIM

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