94 CAPITALISMO, SOCIALISMO E DIREITO À LIBERDADE SOBRE A QUESTÃO DA INDISSOCIABILIDADE DOS DIREITOS DE CIDADANIA
Everton Werneck de Almeida1
RESUMO
O presente trabalho traz como objeto de análise os direitos civis, os direitos individuais ou, conforme a clássica tipologia de Marshall (1968), os direitos de primeira geração, ligando-os ao debate teórico, político e ideológico capitalismo
versus socialismo. Tal debate foi capaz de, no decorrer de todo o século XX, sob a
atmosfera da famosa Guerra Fria, forjar um senso comum que admitia os avanços nas respostas dadas à questão social por parte dos países do chamado “socialismo real”, inclusive ultrapassando grande parte do mundo capitalista de então quando o assunto em questão eram as políticas sociais. Entretanto, esse senso comum forjado questionava esses mesmos países no concernente à garantia, pelo Estado socialista, dos direitos individuais de suas populações, acusando esses regimes políticos de serem intrinsecamente violadores dos chamados “direitos humanos”. Por outro lado, a maioria das nações capitalistas, embora reconhecidamente deficitária no trato da questão social, era vista como naturalmente garantidora das liberdades individuais. Seria mesmo o socialismo, por sua natureza, violador dos direitos civis? Da mesma forma, não existiriam liberdades individuais para além do capitalismo?
Palavras-chave: Capitalismo. Socialismo. Liberdades individuais.
CAPITALISM, SOCIALISM AND THE RIGHT TO FREEDOM: ON THE ISSUE OF THE INSEPARABILITY OF CITIZENSHIP RIGHTS
ABSTRACT
The object of the present study is the question of civil rights, individual rights or, as the classical typology of Marshall (1968), the first generation rights, linking them to the theoretical, political and ideological debate about capitalism versus socialism. In the course of the entire twentieth century, under in the atmosphere of the famous Cold War, this debate was able to forge a common sense which admitted advances in responses to social issues promoted by the countries of the so called "real socialism", even surpassing great part of the capitalist world when the subject in question were social policies. Those countries, however, were questioned with regard to the guarantee, in the socialist state, of the individual rights of their populations, with accusations that those political regimes are inherently rapists as far as the so-called "human rights" were concerned. On the other hand, most capitalist nations, though admittedly deficient in dealing with social issues, were seen as naturally guarantors of individual liberties? Would socialism, by its very nature, violate civil rights? Likewise, there would be no freedom beyond capitalism?
1
95 Keywords: Capitalism. Socialism. Individual liberties.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz como objeto de análise os direitos civis, os
direitos individuais ou, conforme a clássica tipologia de Marshall (1968), os direitos
de primeira geração, ligando-os ao debate teórico, político e ideológico capitalismo
versus socialismo. Tal debate foi capaz, no decorrer de todo o século XX, sob a
atmosfera da famosa Guerra Fria, de forjar um senso comum que admitia os
avanços nas respostas dadas à questão social por parte dos países do chamado
“socialismo real”, inclusive ultrapassando grande parte do mundo capitalista de
então quando o assunto em questão eram as políticas sociais (vide até hoje o que
comumente se fala sobre a experiência cubana). Entretanto, esse senso comum
forjado questionava esses mesmos países no concernente à garantia, pelo Estado
socialista, dos direitos individuais de suas populações, acusando esses regimes
políticos de serem intrinsecamente violadores dos chamados “direitos humanos”2, ao
mesmo tempo em que a maioria das nações capitalistas, embora reconhecidamente
deficitária no trato da questão social, era vista como naturalmente garantidora das
liberdades individuais.
Ademais, entra neste ponto a necessária justificativa para a confecção do
presente escrito, a saber: não com pouca frequência, emerge, sobretudo na mídia,
acusações de violação dos “direitos humanos” levadas a cabo por diversos matizes
de regimes progressistas, a exemplo de Cuba, Venezuela, China etc. O uso
político-ideológico destas “informações” por parte das classes dominantes e seus
representantes é público e notório, inculcando na população uma associação
automática entre socialismo e ausência de liberdades individuais. Seria mesmo o
socialismo, por sua natureza, violador dos direitos civis?
AS REVOLUÇÕES BURGUESAS E AS ORIGENS DOS DIREITOS CIVIS
2 Escrevemos “direitos humanos” entre aspas, porque, na concepção hegemônica, existe certa associação entre
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Ao que tudo indica, na literatura técnico-especializada, existe certo
consenso quanto à vinculação dos direitos civis às transformações desencadeadas
pelas revoluções burguesas.
O clássico estudo de Marshall (1968) sobre o surgimento e o
desenvolvimento da cidadania moderna estabeleceu uma ordem cronológica para a
criação e desenvolvimento de três tipos de direitos, quais sejam, os direitos civis, os
direitos políticos e os direitos sociais ou, adotando a terminologia utilizada pelo
próprio Marshall (1968), direitos de primeira, segunda e terceira gerações,
respectivamente. Esse mesmo autor adverte que tal ordenamento não foi motivado
por qualquer lógica específica, mas procurou manter-se fiel aos acontecimentos e
fatos históricos, segundo os quais aos direitos civis (chamados também direitos de
primeira geração) corresponderia o século XVIII; aos direitos políticos, o século XIX;
à dita terceira geração de direitos, o século XX3. Sobre a suposta relação entre
direitos civis e revoluções burguesas, Marshall (1968) nada diz claramente, apesar
de a ordem cronológica desses direitos fazer coincidir o século das principais
revoluções burguesas com o momento de origem dos direitos individuais. Contudo, a
leitura dessa mesma obra liga claramente o estabelecimento dos direitos civis ao
desenvolvimento do capitalismo enquanto modo de produção hegemônico.
Antes, sob a ordem feudal ou absolutista, havia leis que reservavam uma
determinada ocupação para esta ou aquela classe ou grupo social, impedindo a
existência de um mercado de trabalho livre e unificado, repleto de braços prontos
para serem empregados a bel prazer dos capitalistas e, por outro lado, criava
barreiras para a livre movimentação de capitais em busca das maiores taxas de
lucro possíveis, à medida que algumas atividades eram monopolizadas por
determinadas classes ou grupos sociais.
Marshall (1968) reafirma a necessidade dos direitos individuais para o
pleno estabelecimento da “sociedade de mercado”4 e, ao mesmo tempo, concluía
3
Em relação a esta ordem histórica de criação e desenvolvimento dos tipos de direitos constituintes da cidadania moderna, Marshall (1968) avisa não se tratar de uma ordem exata e fechada, podendo haver variações e, principalmente, certo entrelaçamento em cada um dos momentos em questão – mais ainda no caso dos chamados direitos de segunda e terceira gerações, que possuiriam vínculos em seus respectivos desenvolvimentos. Ou, para simplificar, os direitos políticos, em alguns casos, fomentariam a luta e a obtenção de direitos sociais e vice-versa.
4 “Sociedade de mercado”, na acepção de Polanyi (1980). Este autor emprega e expressão para marcar a
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que o status da cidadania, pelo menos em seu aspecto “civil”, nenhuma barreira
opunha à desigualdade inerente ao capitalismo. Mais do que isso, esses direitos
ditos de primeira geração constituiriam condição de existência para o modo de
produção capitalista.
Em algumas linhas atrás, mencionamos a quase ausência dos fatores
políticos e da luta de classes nas análises de T. H. Marshall sobre a construção da
cidadania moderna, especialmente no que se refere aos direitos civis, mesmo que
este mesmo autor tenha afirmado a forte correlação entre tais direitos e o
desenvolvimento do capitalismo. Neste sentido, Singer (1999) parece completá-lo
quando discorre sobre o período histórico em que o capitalismo nada mais era do
que um modo de produção subordinado a uma estrutura maior, no interior de uma
formação social na qual predominava a produção simples de mercadorias. Nessa
sociedade, ainda de acordo com Singer (1999), predominavam as amarras legais
que travavam o avanço das atividades econômicas burguesas (conforme o exemplo
fornecido por Marshall) até o ponto em que, parafraseando K. Marx, “o
desenvolvimento das forças produtivas entra em contradição com as relações de
produção vigentes”, tendo lugar, então, a revolução política5, momento em que a
burguesia alcançou o poder político e livrou-se de todas essas barreiras que até
então impediam o bom andamento dos negócios.
Posição diferente tem Norberto Bobbio (1992). Este autor, em momento
algum, subestima o papel político desempenhado pela burguesia, o advento das
revoluções liberais (sobretudo a francesa), a luta das classes dominadas contra a
opressão e a desigualdade reinantes no mundo absolutista etc. Bobbio (1992) vê
essa questão dos direitos de cidadania como algo sempre provisório, cuja garantia,
efetivação e extensão se dão à custa da “eterna vigilância” das mobilizações e das
lutas sociais. Contudo, faz-se marcante em Bobbio (1992) a interpretação de que a
secundário na estrutura social como um todo, ao passo que, na segunda, assume lugar principal e passa a nortear todo o restante da vida em sociedade.
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revolução francesa, principalmente, deixou-nos como legado ou herança a conquista
das liberdades individuais, abrindo o caminho para que, desde então, as lutas pelo
cumprimento e ampliação dos direitos de cidadania continuassem em pleno vapor.
Todavia, acreditamos que deve ser relativizada a afirmação de que as
revoluções liberal-burguesas seriam marco histórico da origem dos direitos
individuais. Acerca dessa questão, tanto em Hobsbawm (2005) quanto em Trindade
(2006), a burguesia lidera e detém a hegemonia de todo o processo revolucionário,
comandando um vasto contingente de camponeses, proletários, pequenos artesãos,
pequenos proprietários e todo tipo de trabalhadores do campo e da cidade, todos
eles integrantes do chamado “Terceiro Estado”, casta sobre a qual recaíam quase
exclusivamente os elevadíssimos gastos provocados pela imprevidência da corte, da
nobreza e do clero, todos integrantes de uma classe dominante que vivia à custa do
excedente gerado pelas massas populares e pela burguesia.
Entretanto, para a burguesia em particular, hierarquias, normas,
costumes e monopólios próprios à ordem absolutista erguiam-se como entraves à
ascensão de suas atividades capitalistas, colocando-se, ao menos por um curto
lapso de tempo, lado a lado com as massas populares em sua luta contra a
opressão, a injustiça e a exploração absolutistas.
Contudo, ainda segundo Hobsbawm (2005) e Trindade (2006), depois de
desencadeado o processo revolucionário, a burguesia e o restante das classes
dominadas foram afastando-se rapidamente, à medida que seus interesses foram
tomando caminhos diferentes. A burguesia, uma vez no poder, levou a cabo um
ideal de cidadania e de direitos bastante aquém das reivindicações e dos anseios
das classes populares.
Direitos políticos e direitos sociais, sonhos antigos das classes populares,
foram limados pela nova ordem burguesa, restando de pé, ao final da turbulência
revolucionária6, certo número de direitos individuais e a igualdade perante a lei,
conforme já assinalou Trindade (2006).
A crítica marxiana aos chamados direitos civis
6 Durante a revolução francesa não foram poucas as tentativas das classes subalternas de ampliar o escopo dos
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Alguns poucos anos antes de lançar o famoso Manifesto Comunista, em
1848, Marx já tinha produzido uma série de escritos “menores”, girando em torno
das temáticas da filosofia e da economia, tornando-se, tempos depois, conhecidos
como Manuscritos Econômico-Filosóficos, produção marxiana considerada, ao
menos pelos marxistas, como referência quando o assunto é direitos individuais e
cidadania em geral, no capitalismo.
Até meados do século XIX, quando Marx então produziu os tais
manuscritos, a humanidade em geral, mas, sobretudo, proletários, camponeses e
demais trabalhadores, frustrava-se frente às promessas não cumpridas pelas
revoluções lideradas pela burguesia, e as massas, progressivamente, desiludiam-se
com a nova sociedade, à medida que esta se encontrava longe de atender às suas
principais aspirações. É neste quadro sociopolítico que os tão badalados “direitos do
cidadão” tornam-se uma mera retórica, vazia de sentido para imensos contingentes
de operários e outros trabalhadores.
De início, devemos pontuar uma questão importante para o estudo que
estamos desenvolvendo aqui: nada há que contraponha o pensamento de K. Marx
aos direitos de cidadania e aos direitos humanos em geral (MESZÁROS, 1993).
Acontece que, para o autor de O Capital, no interior de uma estrutura social como a
capitalista, é impossível a efetivação dos direitos do cidadão em sua plenitude, em
razão dos antagonismos, conflitos e desigualdades intrínsecos a tal modo de
produção.
Pensemos nos conhecidos “direitos de primeira geração”. Estes teriam
como objetivo maior estabelecer a igualdade perante a lei e a salvaguarda da
liberdade individual7. Marx (1982; 2001) reconhece o caráter progressista outrora
sustentado pela burguesia e seus ideais liberais, à medida que, além de
alavancarem as forças produtivas, possibilitando a criação de riquezas e níveis de
excedentes nunca vistos até então, conseguiram libertar grande parte da população
7 Os direitos civis tiveram a sua criação inspirada nas teorias liberais que afirmavam a primazia do cidadão frente
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da opressão e das relações de dominação baseadas em costumes, tradições e
religiões.
Contudo, a interpretação marxiana afirma que, em lugar de todos esses
aspectos opressivos do mundo antigo, a burguesia, já aí classe dominante, instituiu
um novo conjunto de opressões, desigualdades e privilégios, mas, conforme já dito,
de tipo novo. Marx (2001) chega a afirmar que, sob o domínio burguês, as pessoas
estariam até relativamente menos livres, uma vez que submetidas, agora, ao poder
das “coisas”. Porém, que “coisas” são essas às quais Marx se refere? Certamente, o
filósofo alemão está se reportando à coerção econômica oriunda dos imperativos de
valorização do capital.
Numa sociedade capitalista, a valorização do capital torna-se objetivo
supremo, inclusive submetendo as pessoas aos seus desígnios e caprichos,
“atropelando” as liberdades individuais. Para Karl Marx, as formações sociais
pré-capitalistas submetiam e oprimiam as classes dominadas via coerção
extraeconômica (de cunho religioso, político, tradicional), ao passo que o regime
burguês viola a liberdade por intermédio da dominação econômica, sendo este
último tipo de dominação um tanto menos visível do que a forma de dominação
antiga, daí que, olhando os fatos pelo lado dos dominados, Marx considera tal forma
de opressão como sendo relativamente mais nociva pela sua “invisibilidade”8.
Ademais, Marx (2001) questiona também outro aspecto primordial na
constituição dos direitos civis, a saber, a igualdade de privilégios para uma pequena
minoria à custa da exploração da imensa maioria, de grande valia na empreitada
humana rumo a um mundo com liberdade e justiça. Entretanto, a burguesia, ao
instituir o domínio do capital, deu origem a uma nova linhagem de desigualdades
sociais, não mais baseada em critérios de hereditariedade, mas, sim, em critérios
puramente econômico-financeiros.
Com efeito, quando o Estado liberal-burguês declarou a igualdade de
todos os seus cidadãos perante a lei, tratou-se, em verdade, de uma igualdade
apenas formal, ideal, ilusória, pois a formação social capitalista cinde Estado e
sociedade civil, com o primeiro proclamando uma igualdade inexistente no terreno
8 Segundo o próprio Marx (1882), “Na imaginação, os indivíduos parecem mais livres sob o domínio da
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“real” da sociedade civil, lugar em que reina a desigualdade exacerbada, a
competição e o individualismo.
Socialismo versus liberdade e capitalismo versus questão social: o consenso pós-guerra fria
Kosik (1976), quando discorre sobre a teoria do conhecimento e a
realidade social em sua obra, lança mão dos conceitos de pseudoconcreticidade e
práxis, ao mesmo tempo em que enseja situar o lugar ocupado pelas ciências e pela
filosofia na construção de interpretações ou explicações para a realidade na qual
vivemos. Para o autor, os fatos ou fenômenos se apresentam aos olhos humanos
exibindo uma determinada aparência e, paralelamente, “escondendo” a sua
essência9, cabendo às ciências e à filosofia a tarefa de ultrapassar a aparência,
atingindo e desvendando a essência dos fenômenos10.
Ainda de acordo com Kosik (1976), os homens, entretanto, em seu
cotidiano, na vida prática do dia-a-dia, na “práxis” da vida material, necessitariam
lidar com tais fenômenos (embora a grande maioria deles não fosse formada por
cientistas e filósofos), claro que de acordo com as requisições de sua vida material.
Logo, os homens, a depender de suas condições sociais, políticas, ideológicas,
culturais, dentre outras, formariam um determinado juízo acerca dos fenômenos que
os cercam (estando ausentes, repetimos, os métodos científicos ou filosóficos). Com
efeito, Kosik (1976) afirma que tal “conhecimento comum” não alcança a essência
dos fenômenos, detendo-se, portanto, na aparência dos fatos, constituindo a
chamada “pseudoconcreticidade”, conceituada por ele mesmo.
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Kosik (1976) assinala ainda que, na busca da essência dos fenômenos, a aparência é indispensável, à medida que, sem ela, tornar-se-ia praticamente impossível alcançar a essência e, por conseguinte, compreender o fenômeno como um todo, superando a dada pseudoconcreticidade.
10 Este autor (1976) afirma também que o pensamento religioso e outras formas de pensamento místico
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O dito “senso comum” e aquilo que Marx um dia denominou “ciência
vulgar”11 integram o mundo da pseudoconcreticidade, no qual a aparência dos fatos
basta para explicá-lo, permanecendo intocada e desconhecida a essência dos
mesmos. A leitura de Kosik (1976) permite-nos inferir a importância política e a
funcionalidade da pseudoconcreticidade para a manutenção do status quo, o que, no
âmbito da sociedade capitalista, seria sinônimo de garantia da hegemonia das
classes dominantes via manipulação ideológica dos fatos sociais12.
Neste sentido, fatos como a desigualdade social, a pobreza da maioria e
a riqueza da minoria, a exploração, dentre outros fenômenos, a depender da
burguesia e de seus representantes, permaneceriam sem ter a sua essência
buscada para além das impressões imediatas que a aparência dos fatos nos
apresenta num primeiro momento. É aqui que se torna indispensável a presença do
conhecimento científico e/ou filosófico crítico, realmente disposto a compreender a
essência dos fatos e o porquê de os mesmos apresentarem tal ou qual aparência.
Kosik (1976), todavia, vem nos informar que, muitas vezes, depois de
superada uma dada pseudoconcreticidade, ou seja, compreendido o fenômeno
como um todo (aparência e essência), este mesmo conhecimento produzido termina
sendo divulgado e absorvido pelo senso comum, que, deve-se assinalar, tende a
simplificar e até vulgarizar a informação obtida, isto, é claro, de acordo com as
condições da práxis, da vida material. Constitui belo exemplo desse processo o
seguinte senso comum: “o socialismo é capaz de dar resposta eficaz à questão
social, mas incapaz, por natureza, de garantir o respeito aos direitos individuais
(civis)”; “já o capitalismo seria menos capaz no que se refere à questão social,
porém naturalmente garantidor das liberdades individuais”.
11 A concepção de “ciência vulgar” expressa por aqui se encontra em Lowy (1994). Nessa obra, Lowy relembra a
distinção, estabelecida por Karl Marx, entre “clássicos” e “vulgares” ao tratar da economia política e seus principais autores. Segundo Lowy (1994), no entendimento de Marx, seriam considerados “clássicos” aqueles cientistas que, embora pertençam à classe burguesa e adotem o ponto de vista da mesma, ainda assim conseguiram produzir conhecimentos válidos sobre a realidade capitalista em razão de seu comprometimento ético com a ciência e a produção de conhecimento, ao passo que se poderia chamar de “vulgares” aqueles cientistas que colocam a ciência a serviço dos interesses e vontades das classes dominantes, pouco se importando com a produção de conhecimento.
12 As noções de hegemonia e dominação presentes nesta seção inspiram-se nos ensinamentos proferidos pelo
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Essa opinião disseminou-se em meio ao senso comum a partir do
contexto histórico-político que ficou conhecido como “Guerra Fria”. A partir do final
da Segunda Guerra Mundial (1945) até o final da década de 1980, o mundo viu-se
dividido em dois blocos de países político-ideologicamente distintos, a saber, o bloco
dos países ditos do “socialismo real”, liderado pela então URSS, e, contrapondo-se a
este, o bloco das nações capitalistas, liderado pelos EUA. Puxados por suas
respectivas superpotências (URSS e Estados Unidos), ambos os grupos competiam
nas mais variadas esferas da vida social (política, econômica, cultural etc.),
objetivando demonstrar a superioridade de seus respectivos projetos de sociedade,
socialista ou capitalista.
Destarte, no ambiente político, ideológico e cultural descrito no parágrafo
anterior, a academia, como não poderia deixar de ser, desempenhou papel principal
ao refletir a efervescência político-ideológica e cultural da época, envolvendo-se “de
corpo e alma” nos debates sobre projetos de sociedade (capitalista, socialista,
populista, etc.) e produzindo um inestimável número de estudos que, direta ou
indiretamente, vinculavam-se à atmosfera da luta política mundial.
Logicamente, em meio a esta profusão de estudos, muito se produziu em
torno dos temas “capitalismo” e “socialismo”, originando deste debate o senso
comum mencionado linhas atrás. Assim sendo, no auge da “Guerra Fria”, foram
inúmeros os estudos que apontavam o próprio modo de produção capitalista e sua
dinâmica como sendo a verdadeira causa da questão social em suas mais variadas
formas de manifestação; por outro lado, as classes dominantes respondiam tentando
demonstrar o “perigo” autoritário contido na proposta socialista.
No mais, podemos concluir que todo o processo acima narrado só
corrobora o método do materialismo histórico presente em Marx (1982). O fundador
do socialismo científico defende que as ideias e as teorias não possuem uma
existência em si mesma, totalmente deslocadas da vida material, do mundo da
práxis cotidiana, sendo, em verdade, influenciadas e, ao mesmo tempo,
influenciadoras do mundo da práxis cotidiana. Ademais, esse mesmo processo vem
reafirmar a tese marxista de que “a luta de classes se dá também no campo teórico”,
fazendo-se contrapor distintos pontos de vista, de acordo com os igualmente
104 Socialismo ou capitalismo, quem “garante” as liberdades individuais?
Na seção anterior, vimos que todo o debate teórico-político suscitado pelo
contexto geopolítico da Guerra Fria desembocou em um senso comum que afirma o
insuperável vínculo entre todo e qualquer projeto socialista e a ausência de respeito
às liberdades individuais.
Em relação ao debate teórico-político mencionado linhas atrás, parece ter
havido um processo de simplificação e reificação das conclusões desse debate, fato
explicado, pelo menos em última instância, pela luta política e ideológica que
logicamente perpassa uma sociedade fragmentada em classes e frações de classes
contraditórias ou antagônicas13.
De início, pode-se proceder à seguinte afirmação: não há respaldo teórico
ou histórico para, assim como o pensamento comum anteriormente relatado,
estabelecer uma conexão automática entre o modo de produção capitalista e a
garantia das liberdades individuais14.
Uma vez se tornado modo de produção hegemônico15, com sua
correspondente superestrutura política, jurídica e ideológica, o capitalismo nunca
manteve uma longa fidelidade aos princípios democráticos de salvaguarda dos
direitos do cidadão frente ao Estado ou, num plano mais geral, de garantia das
liberdades fundamentais do indivíduo. O cientista político Atílio Borón, no livro
Estado, Capitalismo e Democracia, do início ao fim denuncia a natureza falaciosa da
discussão que identifica capitalismo e democracia, sobretudo na América Latina e
13 O conceito gramsciano de hegemonia talvez seja o mais adequado para a compreensão desta questão. Gramsci
sustentava a ideia de que, sobretudo em países do ocidente político, não era mais possível às classes dominantes manter seu poder apenas pela coerção, adquirindo maior espaço a necessidade da busca de legitimidade pela via do consentimento das massas, do convencimento e da manipulação ideológica destas em prol de seus próprios interesses. Vide Coutinho (1986).
14 Constituem os chamados direitos civis, direitos individuais ou, segundo Marshall (1968), direitos de “primeira
geração”: liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, liberdade de consciência e de crença, liberdade de ação profissional etc. No presente estudo, buscaremos refletir sobre essas liberdades específicas, mas, principalmente, sobre a liberdade individual num sentido bem mais amplo.
15 O conceito de modo de produção hegemônico é usado por Singer (1999). Segundo este autor, no interior de
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toda a sua história marcada por recorrentes violações dos direitos humanos. Para
Borón (2003), ao menos em nosso continente, a regra, até hoje, é a manutenção de
regimes autoritários e violadores das liberdades e garantias individuais, à exceção
dos relativamente breves períodos de ordem democrática.
Apesar disso, afirmam Borón (2003) e outros cientistas sociais que
estudam a nossa América Latina que as relações de produção burguesas em
momento algum deixaram de expandir-se, seja em regimes autoritários, seja em
regimes democráticos. Indo mais além, adotando uma perspectiva mais radical,
estudos demonstram que as maiores taxas de crescimento econômico se deram em
períodos de desrespeito generalizado aos chamados direitos civis – vide o caso,
muito oportunamente abordado por Furtado (1982) do chamado “milagre econômico
brasileiro”, época brasileira em que se exibiam as maiores taxas de crescimento, ao
mesmo tempo em que o Estado praticamente liquidava as garantias e as liberdades
individuais fundamentais.
Contudo, os direitos do cidadão proclamados pelas revoluções burguesas
representaram, sim, um avanço rumo à realização plena da liberdade e da
emancipação humana à medida que essas revoluções colocaram abaixo todo tipo
de sujeição e dominação fundamentadas em critérios hereditários, religiosos,
tradicionais, políticos e outros. Porém, essa mesma burguesia, então revolucionária,
ensejou a criação de uma sociedade que apenas substituiu os antigos laços de
dominação e dependência pessoais (tal qual o vínculo do servo ao monarca, à igreja
etc.) por uma nova sujeição, qual seja, a dominação econômica, aquela mesma que
expressa, hoje, a dependência e a sujeição do proletário ao conjunto da classe
capitalista, uma vez que os primeiros não possuem meios para, de forma
independente, garantir a sua subsistência e de sua família.
Com efeito, pode-se perguntar: onde queremos chegar com tudo isto?
Relembrando o que fora afirmado um pouco mais acima, a ideia de que direitos
individuais e capitalismo podem não coexistir deve ser relativizada porque há um roll
de direitos deste tipo que são indispensáveis para o bom funcionamento do
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e comprar no livre-mercado capitalista16. Portanto, todo o elenco de liberdades
fundamentais que convergir para os propósitos mercantis é de suma importância
para o Estado capitalista17. Logo, infere-se que os ditos direitos de primeira geração
terminam sendo algo bastante mesquinho no interior de uma sociedade que tem
como meta principal a valorização do capital.
Dando prosseguimento à nossa análise, agora numa perspectiva mais
teórica, ver-se-á a grave incorreção contida no senso comum quando correlaciona,
mesmo que implicitamente, direitos civis e capitalismo. Da parte dos críticos e
opositores da propriedade privada burguesa, além dos questionamentos de Karl
Marx aventados no segundo tópico deste trabalho, seria esta instituição social o
maior empecilho para que as liberdades individuais se tornem efetivas e completas,
ultrapassando os direitos de primeira geração amesquinhados pela formação social
capitalista.
Marx (1982b) já assinalara que, sob o modo de produção capitalista, o
“sagrado” direito à propriedade se encontrava já suprimido para nove décimos dos
cidadãos. Logo, em uma sociedade de mercado, tal qual a descreveu Polanyi
(1980), a maioria destituída de propriedade necessitaria, inelutavelmente, viver da
negociação diária de sua força de trabalho com os detentores dos meios de
produção, os capitalistas por excelência. Eis, então, a primeira limitação das
liberdades individuais em termos absolutos, visto que, da maneira descrita, para
garantir a sua subsistência, o conjunto da classe trabalhadora não pode prescindir
do conjunto da classe capitalista, esta detentora real dos meios de produção.
Todavia, pode-se questionar o fato de também a burguesia necessitar
imperiosamente dos braços da classe trabalhadora para manter seus lucrativos
negócios, porém, isto só é verdade em parte, visto haver um desnível muito grande
16 Freire (2007) afirma que “a liberdade apregoada pelo (neo)liberalismo é a de participar no mercado” (p. 147).
Pouco antes, a mesma autora, citando Maria Lúcia Werneck Vianna, escreve: “O interesse do governo é formar produtores-consumidores mais do que resguardar direitos civis. A inclusão social defendida pelos programas e políticas sociais voltados para a pobreza traduz-se na inclusão no mercado. Não por acaso o indivíduo é incitado a agir por si só, em uma tática de enpowerment” (FREIRE, apud VIANNA, 2007, p. 146).
17 Harvey (1996) expõe muito bem a natureza e as funções de um Estado capitalista. Este tipo de Estado
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entre oferta e demanda no mercado de mão-de-obra. Quanto a isto, Offe (1995)
adverte que tal “desnível” está no âmago do modo de produção capitalista, haja vista
que somente uma pequena minoria detém os meios de produção18. Além de Offe
(1995), essa situação de dependência da classe operária foi muito bem trabalhada e
apreendida por Burawoy (1990) quando este observa a existência de uma razão
proporcional entre maiores e melhores políticas sociais e menor autoritarismo do
capital e seus representantes nos locais de trabalho, ou seja, quanto mais meios de
subsistência extramercado, menor a sujeição dos mesmos aos desígnios e
caprichos do capital.
Outra questão importante: a definição de produzir ou não, como e quando
produzir é determinada pelos objetivos de valorização do capital, restando
totalmente alijada desse importante processo a classe trabalhadora, para quem só
resta adequar-se ao tipo de mão-de-obra requisitado pelo capital, o que nem sempre
coincide com as necessidades e vontades individuais. Além do mais, uma vez
incorporadas ao processo produtivo segundo a dinâmica brilhantemente exposta por
Marx (1985), o trabalhador se torna mera engrenagem de um processo produtivo
bem mais amplo, vivendo todas as agruras do trabalho alienado, aquele que,
segundo Mészáros (2006), desconhece a totalidade do processo e não reconhece o
produto como seu19.
Se, no interior dos locais de trabalho, o proletário não pertence a si
mesmo, mas, sim, ao capital, grassando o autoritarismo deste sistema20 e, portanto,
ausente a liberdade do trabalho. Quando se ultrapassa os muros fabris, outros
constrangimentos à liberdade se colocam. Em relação à extensão do tempo livre, o
atual momento histórico, marcado pela reestruturação produtiva e pelo
18 Offe (1995) observa com perspicácia que, se tal “desnível” entre oferta e demanda no mercado de trabalho
capitalista fosse suprimido, o próprio processo de acumulação e a capacidade do capital extrair trabalho excedente seriam postos em xeque, paralisando o sistema.
19 O célebre trabalho de Braverman (1977) explica em detalhes toda a dinâmica e o processo pelos quais o
capital e seus representantes vão, progressivamente, expropriando os saberes operários, até reduzi-los a tarefas as mais simples possíveis, resultando em perda do poder de barganha destes trabalhadores frente ao capital e, por conseguinte, aumentando a sujeição destes últimos.
20 Singer (1999) assinala que uma das características marcantes do modo de produção capitalista é a
108
neoliberalismo, impõe novas formas de extração de sobretrabalho (a famosa
mais-valia absoluta) através da (re)criação dos mais diversos tipos de ocupação informal,
dentre eles, o trabalho domiciliar e o salário por produção. Muitos outros autores21
assinalam que tal heterogeneização das relações de trabalho promovidas pela
reestruturação produtiva dilui a outrora bem delineada linha demarcatória que
separava tempo de trabalho e tempo de não-trabalho, uma nova configuração em
que, na maioria dos casos, conduz ao aumento exponencial do tempo de trabalho
sem que os próprios indivíduos assim o percebam por estarem completamente
envolvidos na busca por “maiores” remunerações, o que termina redundando num
círculo vicioso de autoexploração por parte dos próprios trabalhadores.
Fora de seus respectivos locais de trabalho, o proletariado, no impessoal
reino econômico-financeiro promovido pela ordem capitalista, torna-se um simples
“consumidor”, mas nem por isso encontra a tão propalada “liberdade individual”.
Marx, no capítulo de O Capital destinado à “lei geral da acumulação capitalista”,
relata a relação capital/trabalho e os mecanismos de extração do trabalho
excedente, quer seja via “mais-valia absoluta”, quer seja via “mais-valia relativa”. Em
ambos os casos, o capital eleva a sua produtividade e, consequentemente, aumenta
seus lucros, mas, em contrapartida, produz uma relativa diminuição da remuneração
do fator trabalho, o que, após certo tempo, conduz o capitalismo às crises de
superprodução: à medida que aumenta sua produção, ao mesmo tempo reduz o
mercado consumidor das mesmas através do referido rebaixamento salarial.
Entretanto, que relação isto teria com a questão da liberdade estudada até aqui?
Ora, na dinâmica apontada acima, a classe trabalhadora, em geral, convive com
uma tendência ao rebaixamento absoluto ou relativo de sua remuneração e, num
mundo onde quase tudo se compra e se vende, como o capitalista22, menor
21 Sobre isso, Mészáros (2006) fala em “produção de tempo livre (sobretrabalho) e sua paralisante negação com
o imperativo de reproduzir e explorar o trabalho necessário”. Mesmo dentro do processo produtivo formal, a autoexploração dos operários se faz presente em decorrência das inovações trazidas no bojo da reestruturação produtiva (CQC, métodos Just in time, Kanbam etc.), conforme aponta Druck (1999). Alves (2000) também enxerga isto quando aborda a questão da nova subjetividade operária requisitada pela empresa pós-fordista, cujo cerne está na busca da conquista dessa subjetividade operária para as metas e objetivos da empresa capitalista acima de tudo.
22 Nisto também consiste o “fio condutor” da crítica de Polanyi (1980) quando do estabelecimento do
109
remuneração acaba sendo sinônimo de menores possibilidades e, por conseguinte,
menores “liberdades”.
No mais, para terminar, há de se problematizar os constrangimentos
impostos pela ordem do capital à questão da liberdade individual, uma vez que estas
grandes corporações concentram o poder de decisão sobre o que produzir, como e
quando produzir em bem poucas mãos, escolhas que nem sempre vão de encontro
às expectativas da população em geral23.
Após pensarmos sobre a questão da liberdade individual sob o ponto de
vista de quem possui, enquanto propriedade, apenas sua própria força de trabalho,
refletir sobre o mesmo assunto a partir da ótica daqueles que detêm a propriedade
dos meios de produção em princípio parece ser simples, pois caberia, sem sombra
de dúvidas, o raciocínio contrário, qual seja, à burguesia estaria assegurada a
realização, de fato, da liberdade individual (aquela prometida pela revolução
francesa), em virtude de sua condição social e econômica. Todavia, há de se
relativizar tal opinião aparentemente óbvia, pois, até mesmo em algumas obras
marxianas, o burguês aparece como se, de uma forma ou de outra, sua liberdade
fosse tolhida pelos imperativos e requisições da valorização do capital em meio a um
mundo de concorrência acirrada igual ao capitalista.
Vista a relação entre capitalismo e liberdade numa perspectiva
teórico-crítica, resta a análise da mesma relação sob a ótica liberal. Surpreendentemente,
foi a leitura de Castel (2005) quem nos chamou a atenção para algo que até então
passava despercebido: o protótipo de cidadão imaginado pelo liberalismo
revolucionário do século XVIII era, com certeza, o burguês, aquele que possuía
propriedade. Segundo Castel (2005), os liberais apregoavam um Estado defensor da
liberdade, da vida e da propriedade de cada cidadão, inexistindo qualquer
preocupação com a criação de “redes de proteção social” (CASTEL, 2005), já que
“todos” os cidadãos haveriam de ter propriedade e esta, por si só, bastaria para
protegê-lo dos infortúnios da vida que pudessem pôr em risco sua subsistência
material (velhice, doenças, acidentes e tudo o mais que pudesse prejudicar a sua
23 Um bom exemplo disso nos fornece, hoje em dia, a conhecida “indústria cultural”. Essa indústria cultural
110
capacidade de trabalho e, com isto, arriscar a sua subsistência), cabendo à figura do
Estado somente a função de garantidor da “segurança civil” (CASTEL, 2005).
Vê-se, com isto, que, no horizonte dos liberais revolucionários do século
XVIII, não havia espaço para pensar os indivíduos destituídos de propriedade, pois o
estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de
produção não comportavam mais do que uma incipiente classe operária24.
Entretanto, o modo de produção socialista seria capaz de “garantir as
liberdades individuais”? Karl Marx e Friedrich Engels, fundadores do socialismo
científico, foram capazes de desdobrar de suas análises sobre a então jovem
modernidade capitalista (suas contradições, antagonismos, progressos e
retrocessos) a proposta política revolucionária da supressão da propriedade privada
dos meios de produção e a instauração de uma nova sociedade, calcada na
propriedade coletiva dos meios de produção, a sociedade comunista, estágio último
no qual desaparecem as desigualdades, o Estado e a propriedade privada (LÊNIN,
2007).
Para Marx (1982b), o capital cumpriu importante papel na história ao
potencializar o desenvolvimento das forças produtivas, gerando riquezas em
quantidades e qualidades inimagináveis nas formações sociais anteriores. Em
virtude disto, a socialização dos meios de produção e, por conseguinte, da riqueza
produzida pelo capitalismo seria capaz de atender às necessidades fundamentais da
maioria da população e, portanto, pôr fim ao mundo de agruras e privações oriundo
da relação capital/trabalho, a qual Marx (1985) concluiu ser fruto da “lei geral da
acumulação capitalista”.
Ademais, a transformação proposta visa à substituição do alienante
domínio do capital pela produção planejada voltada para a satisfação das
necessidades do conjunto da população, recolocando a economia a serviço da
comunidade ao invés de seu contrário, quando, sob a hegemonia burguesa, a
sociedade encontrava-se submetida ao “estranho poder das coisas”, quer dizer,
submetida às vontades e necessidades do capital e sua busca incessante por
valorização (MÉSZÁROS, 2006). Certamente, este seria o maior passo dado pelo
24 Este raciocínio é em nada discrepante do método materialista-histórico perfeitamente exposto em Marx
111
socialismo/comunismo em direção à efetivação do lema “liberdade, igualdade e
fraternidade” que, nas revoluções burguesas, não foi completamente posto em
prática, conforme vimos anteriormente aqui, neste trabalho25.
Neste sentido, devolver à comunidade as rédeas de suas próprias
atividades cotidianas constituiria a verdadeira liberdade, cuja natureza, já sob essa
nova ordem, não mais seria individual, mas, sim, coletiva, à medida que a liberdade,
a autonomia e o pleno desenvolvimento humano de cada um passaria a ser
impulsionado pela associação com os outros, não sendo uma liberdade
(“individual”), cujo pressuposto para sua realização é a separação dos indivíduos, a
exemplo da “liberdade” posta em prática no seio de uma sociedade capitalista, tal
qual Marx criticou em A questão judaica.
Todavia, há a possibilidade de questionamentos à teoria socialista quando
da abordagem do assunto “liberdade” em virtude das experiências socialistas do
século XX, o chamado “socialismo real”. Essas experiências são costumeiramente
acusadas de regimes autoritários e não respeitadores das liberdades individuais,
apesar de terem conseguido alcançar um considerável nível de desenvolvimento
socioeconômico em suas terras. Porém, é preciso proceder a uma clara distinção
entre prática e teoria, coisa que, neste caso, não foi feita pelo senso comum sobre o
assunto em questão26. Na realidade, as experiências do chamado “socialismo real”
suplantaram a propriedade privada dos meios de produção sem, contudo, evoluir
para a superação da estrutura social alienada através da progressiva
democratização das mais diferentes esferas da vida social27, decorrendo deste fato
as acusações de terem sido tais regimes autoritários e opressivos. Sem embargo, a
25 Isto já foi afirmado nas seções 1 e 2 do presente estudo. Trindade (2006) igualmente afirma que, de certa
forma, assim como todos os socialistas da época, Marx também era caudatário das frustrações geradas pelas revoluções burguesas no que diz respeito às prometidas melhorias das condições de vida das massas populares.
26
Kosik (1976) adverte ser inerente ao senso comum a tendência à naturalização dos fatos, conforme parece ter acontecido neste caso.
27 As experiências do “socialismo real” não conseguiram alcançar a liberdade pensada nas teorizações marxianas
112
evolução dos acontecimentos, ao sabor da luta de classes e das condições
econômicas e culturais de cada país, caminhou em direção à burocratização e à
expansão do Estado em detrimento dos rumos apontados por Marx e Lênin acerca
da progressiva superação do aparelho estatal em favor da entrega dos mais distintos
segmentos e atividades outrora sob a condução estatal ao controle direto das
massas populares, nisso residindo o cerne da questão sobre a superação da
alienação e a consequente realização plena e completa da liberdade28.
CONCLUSÕES: OS DIREITOS CIVIS E A QUESTÃO DA LIBERDADE NO SÉCULO XXI
Para concluir a análise desenvolvida até aqui, diremos, primeiramente,
que capitalismo e liberdade não são, de forma alguma, “irmãos siameses”, duas
coisas inseparáveis, conforme faz supor o senso comum, que afirma a
incompatibilidade entre socialismo e liberdade individual.
No desenrolar de todo o trabalho, mostramos que a liberdade individual,
em sua forma plena, é quase impraticável nos quadros da acumulação capitalista e
do livre-mercado para a maioria da população, constituída pela classe trabalhadora,
por aqueles cuja única propriedade para “vender” no mercado é a sua própria força
de trabalho. Além disso, viu-se também que, mesmo em se tratando de uma
liberdade relativa, como aquela cujo conteúdo se expressa nos chamados direitos
civis, não há nada que impeça o bom funcionamento do mercado, o processo de
valorização do capital e, portanto, a reprodução das relações sociais capitalistas.
Tais direitos de primeira geração estariam reduzidos ao mínimo necessário para a
continuidade da acumulação, como parece ser o caso da quase totalidade dos
países da periferia do sistema capitalista mundial, sobretudo dos latino-americanos,
vide o caso brasileiro, citado anteriormente, do “milagre econômico”, no qual altas
28 “Ao contrário da evolução do assim chamado ‘socialismo realmente existente’, o que se exigia como condição
113
taxas de crescimento econômico conjugaram-se com a supressão de grande parte
dos direitos individuais29.
Por outro lado, a proposta socialista ou comunista, inspirada no
pensamento marxiano mostra-se cada vez mais como a alternativa para a
humanidade, caso esta queira novamente empenhar-se na tarefa histórica da
realização de um mundo verdadeiramente livre. Nosso trabalho, até aqui, tentou
mostrar que, sob as contingências oriundas da chamada questão social, intrínseca à
sociedade capitalista, a liberdade individual torna-se uma quimera para operários,
camponeses e demais trabalhadores, ampla maioria da população. Com efeito, só o
projeto socialista, pelo menos hoje, mostra-se historicamente viável para a resolução
da chamada questão social30 e, com isto, eliminar as barreiras e as restrições de
ordem material para a efetivação da liberdade individual.
As experiências socialistas do século XX foram, aí imitando as palavras
empregadas por Trindade (2006), “revoluções perdidas pelo caminho”, termos muito
bons para expressar a natureza incompleta dessas revoluções. Os estudos de
Trindade (2006) convergem para a hipótese de que tais revoluções, depois de
suprimirem a propriedade privada dos meios de produção, não avançaram rumo à
superação da alienação através da progressiva democratização dos mais distintos
âmbitos da vida social (político, econômico, cultural etc.), fazendo com que os
próprios indivíduos e suas comunidades “retomassem” as rédeas dos destinos de
suas próprias vidas outrora em mãos do capital. Deste modo, a progressiva
obsolescência do Estado apontada por Lênin (2007) não ocorreu, mas, ao contrário,
este permaneceu, ampliou-se e cada vez mais se separou da sociedade civil, o que
fez com que a liberdade efetiva prometida pelo socialismo não se realizasse – ao
mesmo tempo em que não existiu uma preocupação inicial nem mesmo com a
questão dos direitos civis31 –, uma vez que, no projeto inicial, a distinção entre
Estado e sociedade civil desapareceria aos poucos.
29 No auge da ditadura militar brasileira, o crescimento econômico deu-se, pari passu, à violação dos seguintes
direitos: dignidade da pessoa humana, liberdade de expressão, liberdade de consciência e de crença, inviolabilidade de domicílio, sigilo de correspondência, dados e comunicações telefônicas, etc.
30
Segundo Paulo Netto (2007), “a questão social é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo. Não se suprime a primeira conservando-se o segundo” (p. 157).
31 De acordo com Bobbio (1998), os direitos civis nasceram da necessidade de limitação dos poderes absolutistas
114
Toda a discussão teórica acima realizada convida-nos a uma reflexão
sobre a atual situação dos ditos direitos de primeira geração e a questão da
liberdade. Todavia, devemos ressaltar que não dá para pensar na questão dos
direitos individuais e da liberdade separadamente da questão social, ratificando a
tese, presente em Trindade (2006), da indivisibilidade dos direitos humanos em seus
conteúdos civis, políticos, sociais, ambientais e quantos mais existirem32.
Hoje, primeiros anos do século XXI, tem-se, em geral, um capitalismo em
plena crise enquanto “modo de controle do metabolismo social”, atesta-nos a leitura
de Mészáros (2006). A partir da leitura deste autor, entendemos que o capitalismo
vive uma crise estrutural, de natureza bem distinta dos seus conhecidos ciclos de
expansão e retração33, trazendo diversas consequências nefastas para a
humanidade como um todo, fato que, segundo Mészáros (2006), tem o potencial de
pôr em risco o futuro da humanidade (PAULO NETTO, 2007).
Nessa conjuntura problemática, a quase totalidade dos aspectos da vida
em sociedade é atingida pela crise: o econômico, o político, o social, o ambiental,
dentre outros. No que se refere à questão social, são incontáveis os estudos
publicados que demonstram cabalmente os impactos desastrosos do neoliberalismo
e da reestruturação produtiva34: desemprego estrutural, crescimento exponencial da
pobreza, aumento da desigualdade, expansão sem igual da exploração e do
trabalho precarizado etc. Ademais, observa-se a deterioração de toda a rede de
políticas sociais construída no pós-guerra, o chamado Estado de bem-estar social,
na quase totalidade das nações capitalistas35, fato potencializador do aumento da
pobreza e da miséria do proletariado. Por outro lado, a política e a esfera pública,
teoricamente espaços privilegiados para a expressão da insatisfação, através do
esvaziamento dos poderes de decisão da esfera pública, espalham a descrença
generalizada na política enquanto principal caminho para uma vida melhor.
superação da dicotomia Estado versus sociedade civil fez com que os revolucionários não se preocupassem com a inclusão deste tipo de direitos em seus regimes. Vide nota anterior do presente trabalho.
32 Segundo Trindade (2006), historicamente a burguesia e seus representantes resistiram em reconhecer, de
verdade, os direitos sociais enquanto conteúdo indispensável dos direitos humanos.
33
Mészáros fala em uma fase depressiva muito duradoura, ensejando a interpretação de que se trata de uma crise estrutural e não conjuntural, como no passado.
34 Vide Alves (2000) e Antunes (1999), dentre outros.
115
É necessário acrescentar ainda que a questão ambiental também não é
esquecida, pois vários estudos demonstram que os caminhos destrutivos seguidos
pelo capital em crise têm incorrido em impactos ambientais negativos de grande
monta, sobretudo para as classes subalternas36.
Dentro desse brevíssimo panorama, o que pensar sobre os direitos civis e
a liberdade individual? É possível falar em “liberdade” quando grande parte da
classe trabalhadora encontra-se exposta ao desemprego, à pobreza e à miséria,
sem ter garantida nem sequer a sua sobrevivência material cotidiana, ao passo que
a outra metade dos trabalhadores encontra-se, cada vez mais, subsumida aos
imperativos de valorização do capital, seja em sua extensa jornada oficial de
trabalho, seja em seu tempo “livre”37? Como pensar em liberdade quando os
cidadãos, na prática, já não contam com o direito de escolher, não governantes, mas
sim, projetos de governo, de sociedade? Faz sentido pensar em liberdade vivendo
em meio a ambientes deteriorados?
A brevíssima exposição feita acima retrata um típico processo de
contrarreforma, tal qual concebido por Behring (2003) ao analisar especificamente o
caso brasileiro. Sem embargo, o conceito de contrarreforma significa um processo
de retirada das concessões feitas às classes subalternas pelo Estado em momentos
de crise ou de hegemonia inabalável dos dominantes, implicando numa progressiva
perda de direitos adquiridos após árduas lutas e mobilizações das camadas
populares. Esse processo de contrarreforma, tão bem retratado por Behring (2003),
no que diz respeito aos direitos sociais, pode, sem dúvida, ser aplicado, para
entendermos a cidadania como um todo, inclusive em seus direitos políticos e civis.
No caso deste último, nosso objeto específico, talvez cause estranheza pensar
assim, pois, tradicionalmente, identificamos estes às origens do capitalismo. Na
realidade, e isto já foi colocado aqui, o regime burguês garante tão somente aquelas
liberdades e garantias fundamentais indispensáveis ao livre funcionamento do
36
Estudos sociológicos sobre conflitos socioambientais mostram como em sociedades desiguais as externalidades negativas do desenvolvimento capitalista são “empurradas” para as classes menos favorecidas. Ver Herculano e Pacheco (2006).
116
mercado. Ou seja, outros aspectos importantes do ponto de vista dos direitos civis
são constantemente vilipendiados, e a história está aí para comprovar38.
Os trabalhos de Wacquant (2001) e Behring (2006) atestam que, na atual
conjuntura, em meio ao acirramento da questão social, mostra-se uma tendência,
verificada em todo o mundo capitalista, de redução das políticas sociais e expansão
do braço repressivo do Estado sob o pretexto do “combate à violência” e, de carona,
a pressão das vozes conservadoras no sentido de mais reduções no roll das
liberdades individuais, vide a velha discussão a respeito da redução da maioridade
penal, “endurecimento” das penas e outros do tipo. Dessa forma, cabe às
organizações populares e demais forças políticas progressistas a tarefa de tomar
enquanto bandeira de luta pela liberdade e pelo respeito aos direitos civis (outrora
taxados de “burgueses”) reafirmando a interligação deles e a impossibilidade de
serem tratados de maneira separada. Tais forças políticas devem mostrar a
incapacidade do capitalismo em garantir a efetivação dos direitos humanos como um
todo (MÉSZÁROS, 1993), incluindo aí os direitos civis e a liberdade.
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