T ra nsdisciplina rida de dá um Barato
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Jo sé da Roch a Car valh eir o
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mbo ra reco nhecend o seu fascínio, tive sempre dificuldade em aco mp anhar os meand ro s das abstraçõ es herméticas.Tam-bém, semp re tive um o lhar d e p ro fund o desdém para as generalizaçõ es vulgares e as incursõ es pro fanas p o r terreno s especializa-dos. Um ad vo gad o nisei, num d o s go verno s militares, foi ministro da A gricultura. Nada d e mais, se não invadisse o terreno técnico d o s indicadores eco nô mico s, imputando o chuchu
co mozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA causa da inflação . A imprensa diária, da mesma forma, co mete delitos co m tal
fre-qüência e gravidade q ue a to rnam quase inimputável. A sso ciar a qued a o u, mais rara-mente, a subida d o s índ ices da Bo lsa d e Valores a fatos po lítico s po ntuais é ap enas um exemp lo . Brandir o erro amostral co m o prova d o caráter científico de seus
levanta-mento s de o pinião , um o utro .
Não d eve ser o casio nal a po pularidade de que go za, nas Esco las d e Jo rnalismo , o d ebate so bre a crise d o s paradigmas. São estes pro fissio nais o s que mais de apro xi-mam do "ideal" de livre trânsito p o r um amplo co njunto d e disciplinas científicas, sem fron-teiras. A superficialidade co m que o fazem co nd uz a resultados equiv o cad o s, resp o nsá-veis maio res pela inund ação das Co lunas d o s Leitores p o r queixumes d o s prejudicado s, d o s injuriados o u, simplesmente, d o s afro ntado s pela impertinência.
Os jornalistas não estão esco teiro s. Se-guem-no s, d e perto , profissionais d e outras catego rias, fo nte freqüente de no tícias. Basta
ler as barbaridades que se falam sobre saú-de, doença, organização dos serviços e polí-ticas de saúde, para ficarmos apenas em nosso terreno. Generalizações vulgares são o que mais se vê. A falta de perspicácia na avalia-ção da complexa relaavalia-ção entre a clínica e a epidemiologia, sobre a qual Naomar de Almeida Filho tem sido um dos mais lúcidos investigadores, tem conduzido a verdadeiras aberrações apresentadas com credenciais de conhecimento científico. A recente proposta de banalizar a Investigação em Serviços de Saúde, sobre o qual escrevemos anteriormente (Carvalheiro, 1994), é uma iniciativa simulta-neamente instigante e preocupante. Uma de nossas citações, nesse trabalho, é especial-mente relevante, ao assinalar o descompasso entre o tempo das investigações e o das tomadas de decisão (Omram, 1990). O co-nhecimento para a decisão é acumulado e consolidado através de redes complexas, in-corpora contribuições de origens variadas (Callon, 1989).
Foram estas idéias que me vieram à mente pela leitura d o artigo d e Nao mar d e A lmeida Filho (1997), po sto em d ebate. Pensei meno s nas abstraçõ es, na fruição intelectual, no co nhecimento po tencial, e mais na sua atua-lização o u o peracio naatua-lização . Pensei nas idéias de Bo aventura So uza Santo s e em sua dupla ruptura ep istemo ló gica (Santo s, 1989). Senti-me cred enciad o a co ntribuir neste d ebate, so b retu d o p ela af irm aç ão v estib ular d e
Naomar que se p ro p õ e a
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" d e f i n i r m a i s p r e c i-s a m e n t e o c o n c e i t o d e t r a n -s d i -s c i p l i n a r i d a d e , e m u m a p e r s p e c t i v a p r a g m á t i c a , e x p l o r a n d o
s u a s p o s s i b i l i d a d e s d e a p l i c a ç ã o n o c a m p o d a
S a ú d e C o l e t i v a " . Não creio que tenha feito
==1 Professor da USP; Co o rdenado r do Projeto Bela
outra coisa em minha carreira a não ser tran-sitar por diversas disciplinas científicas, sem-pre com perspectiva pragmática. Creio, mes-mo, que caibo na categoria de operador
trans-disciplinar, contribuindo modestamente para
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"uma síntese transdisciplinar construída na
prá-tica transitiva dos agentes científicos...".
Cabe, aqui, uma co ntribuição , derivada de uma história de vida particular, ao esbo ço d o s " an f íb i o s" , p ro p o s to p o r N ao m ar. Parasitologista de labo rató rio e de camp o , na origem, transitei pela estatística matemática e seu d esenv o lv imento axio mático , antes de d esembo car na clareira da Epidemiologia (diria Social, se não so ubesse das idéias de Naomar a respeito ). Mantive, em meu arcabo uço de p ensamento , a fidelidade às o rigens. O "per-fil ep istemo ló gico " (no sentido da Filosofia do Não, de Bachelard , 1973) d o s co nceito s co m que trabalho está impregnad o pela mi-nha trajetória p esso al. Po rém, há anfíbio s co ntemp o râneo s e fó sseis. A credito que, no mo mento de transição da água para o so lo , fui de fato anfíbio. Hoje, não mais. Pelo meno s no mesmo sentid o anterior. Não sei quase nad a d o d e s e n v o l v i m e n to re c e n te d a Parasitologia de labo rató rio e sua bio lo gia mo lecular. Co nserv o me atento ao s d esd o -bramento s das idéias da Estatística, po rém cada vez mais co m o mero usuário . Esta dinâmica d eve ser incluída na idéia do s o p erad o -res transdisciplina-res, seu devir aco mp anha o dos o bjeto s co nstruíd o s.
Não tivesse eu pró prio me incluído co mo exemplar dessa no va esp écie, não resistiria à tentação de mudar a metáfo ra de Naomar. Talvez uma "metamo rfo se kafkiana" pud esse transformar o anfíbio num inseto , transitan-do entre múltiplos o bjeto s de d esejo . So rven-do fluirven-do s, d eixand o o v o s. Mas, também, dejetos. Veiculando germes de um sítio a outro
de maneira mecânica, propagativa ou ciclopropagativa ( n ão p erd i m eu v e z o d e parasito lo gista). Talvez o caráter ciclo pro pagativo , do p ensamento transfo rmado a partir de sua origem até chegar a novo sítio, esteja
na raiz do "longo processo de socialização no
estilo de pensamento de sua comunidade" (a
comunidade dos cientistas, segundo Fleck, zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA apud Löwy, 1994). Estas idéias deveriam ser
mais bem exploradas, especialmente quanto à apropriação de um fato científico por pen-sadores diferentes dos que o produziram. A tradução imperfeita não é necessariamente prejudicial, modifica os estilos de pensamen-to de ambos os grupos (Löwy, 1994). Ao contrário do que se poderia pensar, uma "im-perfeição" no uso de conceitos não é obriga-toriamente inútil. Ao contrário, pode residir exatamente aí seu maior potencial, sua fecundidade.
Goldberg (1990), num texto de larga circulação entre nó s, ao cuidar, no plano ep istemo ló gico , d o que chama ep id emio lo -gia só cio -eco nô mica, apresenta idéias que se
apro ximam d o mo d elo de interdisciplinaridade auxiliar d o artigo de Nao mar. As relaçõ es desiguais de p o d er, no s diverso s centro s de
p ro d u ç ão d o c o n h e c i m e n to , co nfig uram hegemo nias disciplinares transfo rmando em auxiliares, o u subo rd inad as, as disciplinas migrantes. No camp o da saúd e, a so cio lo gia esfo rça-se p o r ampliar seu esp aç o e sua impo rtância. Seria um exercício fascinante d escrever as mesmas relaçõ es em outro co n-texto : um ep id emio lo gista, o u um clínico , trabalhand o num d ep artamento de So cio lo -gia, po r exemp lo . Tenho uma exp eriência pesso al: ao aceitar-me, um méd ico , em seus quad ro s, o Instituto d e Estudo s A vançado s (IEA / USP), através de d ecisão de seu Co nse-lho , não vacilo u: incluiu-me no grupo de
Bio lo gia Molecular! A o apresentar seus "contra-postulados", Nao mar inco rpo ra o pensa-mento de Testa (1992) quanto à " n a t u r e z a e
à s d e t e r m i n a ç õ e s d o p o d e r p o l í t i c o " e sua
distinção do p o d er técnico , mesmo na "arena científica".
Em o utra o p o rtu nid ad e, já m e nc io nad a acima (Carv alheiro , 1994), analisei a Inv
es-tigação em Serv iço s d e Saúd e, realizad azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA nos próprios serv iço s e pelo pessoal d o s
servi-ço s. Co ncluía p ro p o nd o abo rd ar a q uestão numa p ersp ectiv a q u e inc o rp o rasse três asp ecto s essenciais: a m o d erna Teo ria d as Red es, na g ênese e circulação d o s fato s científico s (Callo n, 1989); as Matrizes d e Dad o s e o nível d e anco rag em (Samaja, 1995); o Po stulad o d e Co erência e a q ues-tão d o Po d er (Testa, 1992) . Po sterio rmente, po r co mentário s críticos de diversos co mp a-nheiro s, esp ec ialm ente Ev erard o Duarte
Nunes, fui instigado a agregar a idéia da dupla ruptura epistemológica de Santos (1989). Do reencontro da ciência com o senso comum,
ou
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"a ruptura com a ruptura epistemológica".Ultrapassando assim, o "paradigma que
pres-supõe o conhecimento científico como único conhecimento válido". Transformei o terno
numa quadra. A leitura deste artigo de Naomar conduz a uma quina: a maneira como é concebida a transdisciplinaridade, "um
pro-cesso práxico... de pesquisadores em trânsito",
é (ou dá?) um barato, numa das mais singu-lares acepções do léxico: aquilo que
propor-ciona prazer.
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