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Diarreia Persistente: um Desafio para o Pediatra. Compartilhe conhecimento!

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Academic year: 2021

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A diarreia persistente pode ser um desafio para o pediatra, mas precisa ser tratada o quanto antes. Revisamos aqui estudos sobre a etiologia. o manejo e o tratamento da DP.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a diarreia persistente (DP) é definida como um episódio diarreico de causa presumivelmente infecciosa, que se inicia como um processo agudo e se prolonga, de forma não usual, por um período igual ou superior a 14 dias.

O ponto de corte de 14 dias de duração se justifica pelas taxas de mortalidade por diarreia, que sobem de 0,8% quando a diarreia dura até 14 dias para 14% quando a duração ultrapassa os 14 dias. Estima-se que 3 a 20% dos episódios de diarreia aguda em crianças menores de 5 anos tornam-se persistentes. Dados brasileiros mostram que, das mortes provocadas por diarreia, 36–54% estão associadas a DP. Além disso, a maioria dos casos ocorre até os 2 anos de idade, período crítico do crescimento físico e desenvolvimento mental, podendo acarretar em agravos na curva pôndero-estatural, nas funções intelectuais, além do aumento da

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Adaptado do estudo “Global Burden of Childhood Diarrhea and Pneumonia: What Can and Should Be Done?” Pela complexidade dos mecanismos etiopatogênicos, e talvez também pela escassez de estudos sobre a

eficácia de propostas de manejo dietético, a investigação diagnóstica e o manejo dos casos de DP ainda podem ser desafiantes para o pediatra. A compreensão dos aspectos já estudados da etiopatogênese pode auxiliar no raciocínio clínico para direcionar o diagnóstico e tratamento.

ETIOLOGIA DA DIARREIA PERSISTENTE

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Dano persistente da mucosa por agentes específicos ou infecções sequenciais: infecções entéricas subclínicas repetidas e frequentes poderiam levar à atrofia das vilosidades, infiltração celular da lâmina própria e perda da barreira epitelial e função absortiva. Os agentes enteropatogênicos isolados na DP nem sempre são os mesmos encontrados na fase aguda da diarreia, o que sugere que infecções secundárias podem assumir um papel relevante no prolongamento da diarreia. É possível, ainda, encontrar infecção por múltiplos agentes. Os principais agentes isolados em coprocultura de crianças com DP são:

1- Bactérias: E. coli enteroagregativa, E. coli enteropatogênica, Shigella, Clostridium difficile,

Campylobacter, Salmonella;

2- Vírus: rotavírus, norovírus, sapovírus, astrovírus;

3- Parasitas: Cryptosporidium (sobretudo em pacientes com HIV), Giardia, Cyclospora, Entamoeba

histolytica;

Desequilíbrio da microbiota intestinal;

Perda da atividade da lactase com má absorção de carboidratos, com poder osmótico: a lesão infecciosa à mucosa e à borda em escova do enterócito provoca redução das enzimas da membrana entérica, com destaque às dissacaridases como a lactose. Os carboidratos não absorvidos no lúmen promovem um efeito osmótico;

Aumento da permeabilidade da mucosa com sensibilização a antígenos alimentares: a perda da barreira mucosa favorece a passagem de proteínas alimentares intactas ou parcialmente hidrolisadas, permitindo a sensibilização e o desenvolvimento de alergia alimentar, como alergia à proteína do leite ou da soja.

Fatores do hospedeiro (deficiência de micronutrientes ou vitaminas, desnutrição, imunodeficiência): a desnutrição está associada a uma disfunção dos mecanismos imunológicos necessários para debelar infecções e a um atraso no reparo intestinal. Isso leva a má absorção de carboidratos e a aumento da permeabilidade da mucosa, possibilitando sensibilização a alérgenos alimentares;

Supercrescimento bacteriano (SCB): ocorre quando há colonização do intestino delgado por bactérias da microbiota colônica ou aumento do seu número. O SCB pode ser uma complicação da diarreia aguda devido à infecção recente, presença de carboidratos e ácidos graxos de cadeia curta no lúmen, alteração temporária de motilidade intestinal ou por uso prévio de antibióticos. As bactérias anaeróbias provocam desconjugação e 7α-desidroxilação de sais biliares, levando à formação de produtos lesivos à mucosa (com consequente diminuição da superfície de absorção e favorecendo penetração de macromoléculas potencialmente alergênicas), provocando secreção de água e sódio e impedindo a formação da micela mista (resultando em esteatorreia e má absorção de vitaminas lipossolúveis).

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ou pouco tempo após um episódio de gastroenterite aguda caracterizada por pelo menos 2 dos

seguintes fatores: febre, vômito, diarreia ou coprocultura positiva. Estima-se que ocorra após cerca de 10% dos casos de gastroenterite. Ou seja, a maioria dos casos de gastroenterite (cerca de 90%) se resolve sem problemas residuais, mas alguns indivíduos podem ter sintomas persistentes por uma combinação de elementos: fatores bacterianos, fatores genéticos, estresse psicológico, liberação de citocinas e alteração da microbiota intestinal. Para confirmar o diagnóstico, é importante diferenciá-lo de causas orgânicas, excluindo sinais de alarme como perda de peso e presença de sangue nas fezes. Os critérios de ROMA que devem ser preenchidos para o diagnóstico de SII são: dor ou desconforto

abdominal (que melhoram após evacuação), mudança no hábito intestinal ou no aspecto das fezes e ausência de processo inflamatório, anatômico, neoplásico, metabólico. O prognóstico geralmente é bom, com recuperação gradual da maioria dos pacientes.

Tabela 1: Fatores relacionados à etiologia da diarreia persistente

DIARREIA PERSISTENTE: MANEJO

A avaliação deve ser iniciada pela coleta de informações referentes ao paciente e à família quanto a

antecedentes dietéticos, história de infecções intestinais, alergia alimentar e doenças intestinais. Ressalta-se a importância da determinação do estado nutricional (procurando identificar se há perda de peso) e do estado de hidratação.

Na ausência de perda de peso, pode-se avaliar se o paciente preenche os critérios de ROMA para SII. Se o paciente preenche critérios de SII pós-infecciosa, poderia ser considerada a possibilidade de não realizar investigação complementar e acompanhar a evolução do paciente no que diz respeito aos sintomas e,

sobretudo, ao peso. Nesse caso, a dieta deve suprir a quantidade de gordura equivalente a 35–40% da ingesta calórica, deve conter fibras (pela introdução de frutas e pão integral) e não deve haver consumo de sucos ricos em sorbitol.

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determinação do pH fecal, pesquisa de substâncias redutoras e, quando possível, a dosagem de eletrólitos fecais, além da pesquisa e dosagem de gordura nas fezes, podem ser úteis ao diagnóstico.

Investigando a má absorção de lactose

A investigação de má absorção de lactose pode ser feita através do teste oral de intolerância à lactose ou, preferencialmente, por meio do teste do hidrogênio expirado. No teste oral, o paciente ingere uma quantidade fixa de lactose e a glicemia é dosada antes e depois da ingesta. O indivíduo capaz de digerir a lactose

apresenta um incremento de 20 mg/dL na glicemia. Também é possível medir o hidrogênio no ar expirado após a sobrecarga oral, pois, pela fermentação da lactose pelas bactérias colônicas, há produção de hidrogênio, que é absorvido no intestino e parcialmente eliminado pelos pulmões. O teste do hidrogênio expirado, utilizando a lactulose (que não é digerível), pode ser usado para investigar o supercrescimento bacteriano. Quando este está presente, a lactulose é metabolizada por bactérias e isso resulta anormalmente em dois períodos separados de produção de hidrogênio durante o teste: um período mais precoce, causado pela bactéria no intestino delgado, e um mais tardio causado pela bactéria no cólon.

A maioria das crianças que apresentam perda de peso requer intervenção médica específica e acompanhamento cuidadoso

Na investigação, poder-se-ia ainda solicitar screening para doença celíaca e testes cutâneos para alergia alimentar ou dieta de eliminação com desencadeamento subsequente, caso haja história familiar ou pessoal de atopia.

TRATAMENTOS

Apesar da possibilidade de auxílio ao diagnóstico com a investigação laboratorial, o tratamento empírico pode ser efetivo na maioria dos casos. A intervenção terapêutica proposta para as crianças com perda de peso inclui restringir a lactose.

Em estudo em um

hospital-referência, 50% dos

pacientes internados com DP

teve resolução do quadro

recebendo como tratamento

a dieta de restrição de

lactose.

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Antimicrobianos e Probióticos

O tratamento antimicrobiano deve ser preferencialmente reservado para quando há evidência de infecção com base na observação clínica ou investigação laboratorial, isto é, pelo isolamento nas fezes de agentes reconhecidamente associados à DP. Porém, o tratamento empírico pode ser feito com antibióticos que cubram infecções entéricas e/ou supercrescimento bacteriano, como sulfametoxazol-trimetoprim.

Crianças com giardíase devem ser tratadas com metronidazol. A nitazoxanida tem atividade contra

protozoários, nematoides, cestoides, trematoides e algumas bactérias. Pelo seu amplo espectro, pode ser uma estratégia em algumas situações para poupar tempo gasto com testes para tentar identificar a causa da diarreia.

Como terapia adjuvante, há evidências de que o uso de probióticos reduz o número de evacuações, a duração da DP e a duração da internação hospitalar. Os probióticos estudados e que demonstraram essa evidência foram o Saccharomyces boulardii e Lactobacillus spp.

A dieta da criança deve incluir alimentos localmente disponíveis e baratos. Estudos sobre alimentos

culturalmente identificados por determinada população como “antidiarreicos” (como a banana verde) sugerem que pode haver um papel na recuperação dessas crianças.

Como crianças com DP podem ter comprometimento do estado nutricional e deficiência de vitaminas e micronutrientes, a reposição de zinco contribui para a resolução do dano do intestino delgado e encurta a duração da diarreia.

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REFERÊNCIAS

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