• Nenhum resultado encontrado

Anemia em crianças de uma creche pública de Belo Horizonte e as repercussões sobre o desenvolvimento de linguagem

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Anemia em crianças de uma creche pública de Belo Horizonte e as repercussões sobre o desenvolvimento de linguagem"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Anemia em crianças de uma creche pública de Belo Horizonte e as repercussões sobre o desenvolvimento de linguagem

Palavras -chave: Linguagem, Anemia, Creches

INTRODUÇÃO

A anemia ferropriva atinge aproximadamente 2 bilhões de pessoas em todo mundo 1. Nos países em desenvolvimento, a anemia nutricional por carência de ferro atinge mais de 50% das crianças entre seis meses e cinco anos de idade, é considerada um dos quatro fatores de risco mundiais para alterações do desenvolvimento infantil, constituindo-se um sério problema de saúde pública que precisa ser urgentemente combatido 2. No Brasil a prevalência da anemia entre crianças pré-escolares varia de 30,2% 3 a 68,8% 4. Em Belo Horizonte, observou-se prevalência de 37,5% das crianças da região leste do município 5.

A anemia leva a importantes prejuízos com repercussões, principalmente, na aquisição das capacidades cognitivas, motoras, no desenvolvimento de linguagem, com influência no processo de aprendizagem 6– 7. Vários trabalhos apontam relação entre deficiência de ferro e atraso no desenvolvimento cognitivo e psicomotor na primeira infância

6-8. Estudos específicos sobre desenvolvimento auditivo em anêmicos sugerem atraso na mielinização do sistema nervoso auditivo 7.

A literatura ressalta existência de repercussões cerebrais da deficiência de ferro 9,10, situação esta já confirmada em modelos animais. Nestes, a deficiência de ferro pode acarretar diminuição da atividade das enzimas ferro-dependentes necessárias para síntese, função e degradação dos neurotransmissores, afetando diretamente o metabolismo de transmissão nervosa e também causando alterações na mielinização do sistema nervoso central 11.

Conforme exposto acima, espera-se encontrar alterações no desenvolvimento de linguagem de crianças anêmicas. No entanto, não existem estudos na população brasileira que avaliem as repercussões da anemia sobre o desenvolvimento de linguagem. Sendo assim, o objetivo deste estudo é comparar o desenvolvimento de linguagem de crianças anêmicas e não anêmicas de 2 a 6 anos de idade de uma creche pública do município de Belo Horizonte.

(2)

MATERIAL E MÉTODO

O presente estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (protocolo 380/05). Trata-se de estudo transversal do tipo caso e controle unicego.

Inicialmente, as crianças foram avaliadas através de punção digital para determinação do nível de hemoglobina (Hg), utilizando-se o espectrofotômetro de alta precisão HemoCue©. Com uma microcuveta obteve-se o volume preciso de sangue em contato com quantidade exata de reagente seco. A microcuveta foi, então, inserida no HemoCue©, determinando o valor de hemoglobina entre 15 e 45 segundos. Com este método, conseguiu-se um valor confiável do nível de hemoglobina a partir de pequena amostra. Aquelas crianças com níveis de hemoglobina inferiores a 11,3 g/dL (11,0 g/dL + 0,3 da variação do aparelho HemoCue©) pelo método digital foram consideradas anêmicas, seguindo recomendação da Organização Mundial da Saúde 12.

Posteriormente, foi realizada avaliação auditiva em todas as crianças constituída dos seguintes testes: emissões otoacústicas transientes (EOAT) e medidas de imitância acústica. A princípio, as crianças foram submetidas à meatoscopia. Em seguida, ao exame de EOAT, cujo critério utilizado no exame foi passar e falhar, obedecendo aos parâmetros de relação sinal/ruído maior ou igual a 3 dB e reprodutibilidade maior ou igual a 50% 13 . No exame imitanciométrico os valores de pressão que foram considerados normais para o pico timpanométrico foram entre –100 e +50 da Pa.

Após as avaliações para determinação dos níveis de hemoglobina a amostra foi distribuída em dois grupos segundo presença da anemia (grupo caso) ou ausência da mesma (grupo controle), conforme apresentado na figura1.

Figura 1: Fluxograma de participação no estudo.

139 crianças 02 a 06 anos

132 crianças

27 crianças anêmicas 107 crianças não anêmicas

GRUPO CASO N=22 7 excluídas Ausência de consentimento

5 crianças excluídas Alterações perinatais e auditivas

Amostragem aleatória pareada

GRUPO CONTROLE N=44

(3)

número de comportamentos avaliados – número de comportamentos não observados

ID: __________________________________________________________________________________________________________________________________________ X 100 número de comportamentos avaliados

Num segundo momento, as crianças foram avaliadas pela pesquisadora principal, que não conhecia os níveis de hemoglobina das mesmas. A avaliação de linguagem foi realizada na creche, em sala própria para a observação, em sessão individual com a criança de aproximadamente 40 minutos, e no ambiente de recreação, quando necessário, segundo critérios definidos por Chiari e colaboradores 14 utilizando o Roteiro de Observação de Comportamentos de crianças de 0 a 6 anos. O desenvolvimento de linguagem de cada um dos participantes foi observado, disposto segundo duas grandes áreas: aspectos comunicativos (recepção e emissão) e aspectos cognitivos da Linguagem.

Embora o instrumento utilizado não seja um teste padronizado, e sim um protocolo de observação de comportamentos, foram criados índices de desempenho (ID) a fim de qualificar as respostas das crianças. Para cada criança, foram calculados os ID em porcentagem em cada área, com valor máximo de 100%. Considerou-se índice de desempenho nos aspectos cognitivos (IDAC) os aspectos elencados pela autora na casela de aspectos cognitivos da linguagem, índice de desempenho na recepção (IDR) e índice de desempenho na emissão (IDE), os aspectos contidos nas caselas de recepção e emissão da linguagem, respectivamente. Os IDs foram analisados em relação à presença ou ausência de anemia nas diferentes faixas etárias.

Para entrada, processamento e análise dos dados utilizou-se o software EPI- INFO 6.04.

RESULTADOS

A descrição dos grupos caso e controle pode ser visualizada no quadro 1.

Quadro 1 – Distribuição das características das crianças e suas mães randomizadas em dois grupos segundo a presença da anemia.

Características Grupos caso –

anêmicos Grupo controle –

não anêmicos Testes χ2 – Exato de

Fisher p N % N %

Sexo Masculino 10 45Feminino 12 55 23 53 21 47 0.01 0.93 Amamentação

natural Não Sim 19 03 87 13 39 05 89 11 0.00 1,00 Dificuldades de

aprendizagem Não Sim 03 19 1387 0539 1189 0.00 1,00

média ± média ± Teste Anova p

Hemoglobina 10.6 0.5 12.5 0.6 150.9 0.00*

Idade em meses 47.6 9.3 50.2 10.8 0.34 0.95

(4)

Tempo amamentação

(meses) 12.7 13.4 12.9 12.6 0.004 0.94 Anos de estudo das mães 7.5 2.6 7.5 2.8 0.002 0.96

Todas as crianças dos grupos caso e controle apresentaram presença de emissões otoacústicas bilateralmente e 87% curva timpanométrica Tipo A, indicando integridade auditiva periférica.

Os resultados das avaliações de linguagem podem ser verificados na tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição dos índices de desempenho nos aspectos cognitivos da linguagem, recepção e emissão 66 crianças de 2 a 6 anos, randomizados em dois grupos segundo a presença da anemia.

Idade (meses)

Aspectos da linguagem

Grupo caso – Anêmicos

Grupo controle –

Não anêmicos Teste Valor de

mediana mínimo Máximo mediana mínimo máximo P

Geral (n=66)

IDAC 45.2 11.1 82.3 76.4 44.4 100 19.8 < 0.001*

IDR 75 0 100 100 50 100 4.8 0.02*

IDE 50 8.3 92.8 83.3 41.6 100 23.4 < 0.001*

Kruskal – Wallis

CONCLUSÃO

O presente estudo revelou diferenças estatisticamente significantes entre crianças anêmicas e não anêmicas quanto ao desenvolvimento de linguagem. No entanto, é necessário confirmar as observações encontradas com um estudo prospectivo. Se confirmadas, o desenvolvimento de programas de triagem para anemia e ações de fortificação de alimentos com ferro poderão ser incluídas como políticas públicas relevantes para crianças de creches.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Stoltzfus RJ. Defining Iron-Deficiency Anemia in Public Health Terms: A Time for Reflection. J. Nutr. 2001; 131: 565S-567S.

2. Walker SP, Wachs TD, Gardner JM, Lozoff B, Wasserman GA, Pollitt E, Carter JA;

International Child Development Steering Group. Child development: risk factors for adverse outcomes in developing countries. Lancet. 2007; 69 (9556):145-57.

(5)

3. Assunção MCF, Santos IS, Barros AJD, Gigante DP, Victora CG. Anemia em menores de seis anos: estudo de base populacional em Pelotas, RS. Rev. Saúde Pública. 2007; 41(3):328-335.

4. Bueno MB, Selem SSC, Arêas JAG, Fisberg RM. Prevalência e fatores associados à anemia entre crianças atendidas em creches públicas de São Paulo. Rev. bras.

epidemiol. 2006; 9(4): 462-470.

5. Capanema FD. Anemia em Crianças de 0 a 6 Anos em Creches Conveniadas da Prefeitura de Belo Horizonte – MG: aspectos clínicos e laboratoriais. Belo Horizonte, 2002. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Minas Gerais.

6. Lozoff B, Wolf AW, Jimenez E. Iron-deficiency anemia and infant development:

Effects of extended oral iron therapy. Journal of Pediatrics 1996; 129(3):382-89.

7. Algarin C, Peirano P, Garrido M, Pizarro F, Lozoff B. Iron deficiency anemia in infancy: long-lasting effects on auditory and visual system functioning. Pediatr Res.

2003; 53(2):217-23.

8. Walter T, de Andraca I, Chadud P, Perales CG. Iron deficiency anemia: adverse effects on infant psychomotor development. Pediatrics 1989; 84:7-17.

9. Lozoff B, Beard J, Conor J, Felt B, Georgieff M, Schallert. Long-Lasting neural and behavioral effects of iron deficiency in infancy. Nutr Rev. 2006; 64(5):S34-S91.

10. Halterman JS, Kaczorowski JM, Aligne CA, Auinger P, Szilagyi PG. Iron deficiency and cognitive achievement among school-aged children and adolescents in the United States. Pediatrics. 2001; 107(6):1381-6.

11. Unger EL, Paul T, Murray-Kolb LE, Felt B, Jones BC, Beard JL. Early Iron Deficiency Alters Sensorimotor Development and Brain Monoamines in Rats. Journal of Nutrition 2007; 137(1):118-124.

12. Demayer EM, Dallman P, Gurney JM, Hallberg L, Sood SK, Srikantia SG. Preventing and controlling iron deficiency anemia through primary health care. Genebra: World Health Organization; 1989: 8-10.

13. Martin GK, Probst RMD; Lonsbury-Martin BL. Otoacoustic Emissions in Human Ears:

Normative Findings 1990; Ear and Hearing 11(2):106-20.

14. Chiari BM, Basilio CS, Nakagawa EA, Cormedi MA, Silva NSM, Cardoso RM, Parreira VEW. Proposta de sistematização de dados da avaliação fonoaudiológica

(6)

através da observação de comportamentos de criança de 0 a 6 anos. Pró- Fono Rev Atual Cient 1991;3(2):29-36.

Referências

Documentos relacionados

Local de realização da avaliação: Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação - EAPE , endereço : SGAS 907 - Brasília/DF. Estamos à disposição

Os principais passos para o planejamento do processo estão baseados no fatiamento dos modelos 3D (geração das camadas), no posicionamento da peça na mesa de trabalho e

Verificada a efetividade da proposta, a Comissão de Licitações declarou vencedor o licitante Francisco Souza Lima Helm, sendo o total do item 14 licitado o valor de

Dois termos têm sido utilizados para descrever a vegetação arbórea de áreas urbanas, arborização urbana e florestas urbanas, o primeiro, segundo MILANO (1992), é o

A regulação da assistência, voltada para a disponibilização da alternativa assistencial mais adequada à necessidade do cidadão, de forma equânime, ordenada, oportuna e

13 Além dos monômeros resinosos e dos fotoiniciadores, as partículas de carga também são fundamentais às propriedades mecânicas dos cimentos resinosos, pois

Para atingir este fim, foram adotados diversos métodos: busca bibliográfica sobre os conceitos envolvidos na relação do desenvolvimento de software com

Gottardo e Cestari Junior (2008) efetuaram análise de viabilidade econômica na implantação de silo de armazenagem de grãos utilizando os seguintes modelos VPL,