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A INTERFERÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

A

INTERFERÊNCIA DA LÍNGUA MATERNA

NO ACRÉSCIMO DA VOGAL EPENTÉTICA NA LÍNGUA

-

ALVO

MAGALI ROSA DE SANT’ANNA

INTRODUÇÃO

As dificuldades fonéticas e fonológicas do aprendiz do idioma inglês são diversificadas; assim, procuramos elencar algumas delas no que diz respeito ao acréscimo da vogal epentética aos padrões silábicos consonantais finais das palavras inglesas nesse artigo. Em nenhum momento tivemos a pretensão de esgotar as possibilidades de erros ou mesmo de análise, apenas tentamos elencar algumas das dificuldades de pronúncia do estudante no início da aquisição da língua inglesa que vivenciamos em sala de aula. Em nenhum momento também pretendemos discutir as variadas maneiras de como ajudar os alunos a superar as ocorrências das dificuldades fonológicas dos falantes do português da região metropolitana de São Paulo.

CONTRASTE FONOLÓGICO DAS LÍNGUAS INGLESA E PORTUGUESA

Neste item iremos comparar os fonemas consonantais e vocálicos das línguas inglesa e portuguesa, pois achamos de grande importância para podermos discutir as semelhanças e diferenças das sílabas de ambas as línguas. Tentaremos ilustrar, na medida do possível, com palavras que contenham o fonema na posição inicial, medial e final, porém nem sempre o inventário dos vocábulos de uma língua ocorrem nas três posições. Para tanto basearemos esse contraste em alguns autores que tratam de descrever a língua portuguesa tais como SILVA (2002), BISOL (2001), NETTO

(2001); e os que descrevem a língua inglesa como GLEASON (1961), STEINBERG (1985).

A autora é Licenciada e Bacharel em Letras – Língua e Literatura Inglesas (PUC/SP), Mestre em Letras – Semiótica e Lingüística Geral (FFLCH/USP) e, doutoranda na mesma área. Atualmente é Professora e Coordenadora do Curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE.

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

A SÍLABA

A sílaba é formada por fonemas1 que se agrupam em seqüências, as quais obedecem a um padrão elementar específico da língua.

Com o objetivo de ilustrar a estrutura interna da sílaba que acabamos de definir utilizaremos o gráfico (1) abaixo com as possibilidades combinatórias do núcleo silábico.

(1) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C

O símbolo s refere-se à sílaba dividida em um ataque e uma rima. A rima consiste de um núcleo e uma coda. Os elementos grafados ‘C’ e ‘V’2 são respectivamente ‘consoante’ e ‘vogal’. A vogal é o núcleo da sílaba e as consoantes ocupam as partes periféricas. A vogal é parte obrigatória na estrutura silábica enquanto a consoante é facultativa. O núcleo pode ser simples de apenas uma vogal ou complexo de mais de uma vogal.

MODELOS DE SÍLABAS INGLESA E PORTUGUESA

A partir da explicação acima podemos verificar que o piso silábico é fator determinante na constituição da sílaba. Se pensarmos nas possibilidades das sílabas das línguas inglesa e portuguesa teremos sílabas leves e pesadas3 como mostraremos no gráfico (2) abaixo.

1 Entende-se por fonemas os traços distintivos [consonantal] e [silábico] que se agrupam em feixes.

2 “C e V são abreviações para o conjunto de traços [+cons, -voc] e [-cons, +voc] (ou qualquer outro conjunto de traços com função semelhante de distinguir consoantes e vogais).” (cf. em BISOL 2001:95.)

3 Sílaba leve: rima com apenas uma vogal. Sílaba pesada: rima formada com uma vogal e uma consoante, ou com

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(2a) s

Ataque Rima

Núcleo C C

V

(falante do Inglês) p r

‘pronounce’

(falante do Português) p r

‘pré’

(2b) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C

(falante do Inglês) b

d ‘bed’

(falante do Português) m a r ‘mar’

Como mostra o gráfico (2a) o ataque da sílaba é ramificado em duas partes, em duas consoantes e a rima possui apenas o núcleo, a vogal. Quanto à (2b) o ataque é formado por uma consoante e a rima da sílaba possui um núcleo (uma vogal) e uma coda (uma consoante). BISOL (2001:94-5) “observa que o ataque é irrelevante para o peso silábico;” afirmando que “apenas a rima contribui para o peso”. Vale lembrar que não só a rima constituída por uma vogal mais uma consoante é pesada, mas a rima com duas vogais, que podem ser um ditongo ou uma vogal longa, também o são.

Se o ataque da sílaba pode se ramificar, parece óbvio afirmar que a rima, tanto o núcleo quanto a coda, poderão se ramificar também. Observe o gráfico (3) que se segue:

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

(3) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C C

V V C C

(falante do Inglês) k r a i m z ‘crimes’

(falante do Português) t r a - n s- ‘transparente’

PADRÕES SILÁBICOS

Cada língua possui características próprias e como não poderia deixar de ser ela também possui padrões silábicos próprios, que permitem que um determinado número de segmentos se combine formando um constituinte silábico.

Como cada língua possui um número de estruturas silábicas possíveis, elencaremos algumas palavras monossilábicas inglesas (o que existe em grande quantidade) e seus respectivos padrões silábicos.

V a / / VV I / /

VC it / / VVC ache / /

CVC sick / / CVV say / /

CVCC sand / / CVVC site / /

CCV phrenetic /fr -/ CCVV dry / /

CCVC plan / / CVVCC coast / /

CCVCC drink / / CCVVC groom / /

CCCVCCC strengths / / CCVVCC grapes / /

Quanto à língua portuguesa os padrões silábicos já não podem ser exemplificados apenas com palavras monossilábicas, há a necessidade de buscarmos as sílabas de palavras dissílabas, trissílabas ou polissílabas. Assim, os padrões silábicos das palavras de mais de uma sílaba estarão sublinhados para melhor entendimento.

V oh / / VV ei /e /

CV / / CVV sai / /

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VC as / / VVC ais / /

CVC paz / / CVVC paus / /

CCV truta / -/ CCVV comprou /- /

VCC inspirar / -/ CCVVC calafrios /- /

CVCC tens / / CCVC livros /- / CCVCC transcrito / -/

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PADRÕES SILÁBICOS CONSONANTAIS FINAIS

Há uma variedade de ocorrências relacionadas aos padrões silábicos consonantais finais das sílabas inglesa e portuguesa, desta forma trataremos de alguns aspectos que parecem ser relevantes do ponto de vista pedagógico, pois uma vez que o professor de língua inglesa conhece as dificuldades fonológicas do aluno falante da língua portuguesa, ele poderá ajudá-lo a superá-las.

Esse aspecto pode ser mais bem detalhado se observarmos as ocorrências relacionadas às particularidades fonológicas, a alofonia diferente e a proximidade fonética4 que geram dificuldades para o estudante de inglês. Podemos exemplificar com:

os fonemas /

/, dentre outros, podem ocorrer no final de sílabas na língua inglesa, porém embora ocorram na língua portuguesa, seu uso não acontece nas sílabas finais das palavras portuguesas, pois não há palavras que terminem em consoante e tenham tal consoante pronunciada como fonema consonantal pelos falantes do português da região metropolitana de São Paulo. Tais fonemas provavelmente serão pronunciados com o acréscimo de uma vogal epentética pelo falante do português durante a aquisição e aprendizagem do Inglês, o que resultará ainda num acréscimo do número de sílabas à palavra. na língua inglesa, os substantivos no plural, a 3ª pessoa do singular dos verbos no tempo presente e o caso genitivo têm três possibilidades de finalização das

4 As particularidades fonológicas são aquelas que fazem parte do sistema articulatório daquela língua

especificamente, quando comparada com uma outra língua. Já a alofonia diferente entre as duas línguas pode levar o estudante a pronunciar as diferentes realizações de alguns fonemas ingleses da maneira como ele está habituado a fazê-lo em sua própria língua e talvez esse seja o problema mais difícil de superar durante o processo de aprendizagem da língua inglesa. Quanto à proximidade fonética, como a própria palavra já diz, é um fonema da língua materna que possui uma articulação muito próxima ao fonema da língua estrangeira que não se realiza na língua mãe. (cf. SANT’ANNA, 2003:64-67.)

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palavras, dependendo do último fonema da palavra antes de se acrescentar o sufixo, as pronúncias são: /- /, para as palavras com terminação /

/, para /

/ ou para aquelas que terminem em fonema vocálico; e /- /, para /

/. Essas terminações também podem ser difíceis para o estudante.

os verbos regulares da língua inglesa —aqueles com terminação em -ed— têm três possibilidades de pronúncia de acordo com o fonema anterior ao acréscimo do -(e)d, são elas: /- / para os verbos terminados em /

/; /- / para aqueles com a terminação /

/ ou com fonema vocálico; e, /- / para verbos terminados com os fonemas / / ou / /. A adição de tais sufixos também pode trazer dificuldades para o aprendiz.

na língua inglesa os fonemas africados alveolopalatais / / podem trazer problemas para o estudante que não utilizar tais fonemas em sua própria língua. No caso da língua portuguesa dos falantes da região metropolitana de São Paulo, tais fonemas são alofones dos fonemas oclusivos alveolares / / respectivamente.

o fonema lateral alveolar vozeado inglês / / possui os alofones [ ] no início de sílaba ou posição intervocálica, [ ] no final da sílaba ou diante de um fonema consonantal e [ ] se for precedido de / /, / / ou / / no começo da palavra ou na sílaba tônica. Se a língua portuguesa só possui a realização da lateral alveolar vozeada [ ], é possível que o estudante encontre dificuldades ao pronunciar tais alofones, vocalizando a consoante, o que é absolutamente comum na fala do português da região metropolitana de São Paulo, isto é, o fonema lateral pode ser pronunciado com o ditongo / / ou / / depois de uma vogal.

os fonemas interdentais ingleses / / (que não fazem parte do sistema articulatório da língua portuguesa), terão três possibilidades de substituição, são elas / / para o fonema fricativo linguodental desvozeado / / e / / para o fonema fricativo linguodental vozeado / /.

a fricativa glotal desvozeada inglesa / / pode ser substituída pelo falante da língua portuguesa tanto pelo fonema vibrante alveolar vozeado / / quanto por nenhum fonema. Embora ambas as línguas envolvidas possuam palavras

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

iniciadas pela letra h- (tal fato pode levar o aluno à não utilizar nenhum fonema porque na língua portuguesa essa letra não tem pronúncia, ou seja, o falante do português sabe que não existe fonema correspondente a tal letra), que pode ser muda; enquanto que a língua inglesa possui também outras palavras em que a letra h deve ser pronunciada, daí a substituição pelo fonema vibrante alveolar vozeado do português.

Os itens de interferência ou transferência negativa elencados acima serão detalhados no item seguinte, pois assim poderão ser ilustrados com palavras inglesas e com as possíveis pronúncias que o falante do português da região metropolitana de São Paulo poderá realizar.

DISCUSSÃO DAS INTERFERÊNCIAS OU TRANSFERÊNCIAS NEGATIVAS DE OCORRÊNCIA LEVANTADAS

Ao compararmos os padrões silábicos consonantais finais das sílabas inglesa e portuguesa podemos supor que o aprendiz do idioma inglês como língua estrangeira, que tem a língua portuguesa como língua materna, possivelmente produzirá uma sílaba a mais ao final das palavras inglesa, sempre que houver um fonema consonantal final. Isso irá ocorrer pelo fato de que em português são raras as sílabas que terminem num fonema consonantal.

Esse aspecto pode ser um exemplo de ‘interferência’ ou ‘transferência negativa’ na produção das sílabas uma vez que facilmente podemos detectar a propensão do estudante em pronunciar uma vogal epentética /- / ou /- / ao final das sílabas inglesas, pois ele buscará este apoio para produzir as palavras. Infelizmente esse aspecto trata outro problema ainda maior que é a inexistência dessas palavras na língua- alvo, ou mesmo, formando uma palavra que não tem nada a ver com o contexto.

Podemos exemplificar o acréscimo da vogal epentética na sílaba final das palavras inglesas que terminam em fonemas consonantais, formando um vocábulo que não existe na língua-alvo: / / para ‘ache’ = / /. Ou ainda, uma palavra inglesa possível, mas que não se encaixe ao contexto: / / ‘tree’ ao invés de produzir a palavra / / ‘three’.

Devemos considerar ainda que muitas dessas ‘interferências’ ou

‘transferências negativas’ ocorrem na produção oral pelo fato das palavras terem a

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mesma grafia em ambas as línguas, porém com significados diferentes, o que também pode gerar sentenças sem sentido.

No exemplo (4) mostramos a possível confusão que o aluno pode cometer ao pronunciar uma palavra que possui a mesma grafia em ambas as línguas. Em (4a) temos a palavra inglesa ‘come’ (verbo vir) e em (4b) a comparação do referido vocábulo inglês com a palavra portuguesa ‘come’ (do verbo come):

(4a) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C

(falante do Inglês) k

m ‘come’

(verbo ‘vir’ do inglês)

(9)

A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

(4b) s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo C

V C V

(falante do Português) ‘k a m ‘come’

(verbo ‘vir’do inglês) (falante do Português) ‘k

m ‘come’

(verbo ‘comer’ do português)

Explicando melhor: a palavra monossilábica inglesa ‘come’ passa a ser dissílaba quando pronunciada erroneamente pelo falante do português e também fica sem sentido uma vez que tal palavra não existe na língua inglesa. Assim podemos afirmar que tal problema ou dificuldade deve ser uma preocupação do professor ao ensinar o idioma inglês como língua estrangeira desde o início do aprendizado para que ele possa ter uma pronúncia mais próxima do falante nativo, tanto do ponto de vista auditivo quanto da produção oral.

SOBRE AS PARTICULARIDADES FONOLÓGICAS

Podemos exemplificar também os padrões silábicos finais da língua inglesa com as diferentes pronúncias dos substantivos no plural, da 3ª pessoa do singular dos verbos no presente do indicativo e do caso genitivo, ou seja, as pronúncias /- /, /- / e /- /. Tais pronúncias podem trazer dificuldades para o falante do português uma vez que as palavras no plural são produzidas, de maneira geral, com o fonema /- /. Veja o exemplo (5) abaixo com os três tipos de pronúncias:

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

(5a) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C C

(falante do Inglês)

‘Pat’s’

s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo C

V C V C

(falante do Português)

‘Pat’s’

(5b) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V V C C

(falante do Inglês)

‘sides’

(11)

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s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo C

V V C V C

(falante do Português)

‘sides’

(5c) s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo Coda

C

V C V C

(falante do Inglês)

‘washes’ (falante do Português)

‘washes’

No exemplo (5a) o caso genitivo ilustrado com a palavra inglesa ‘Pat’s’ apresenta a vogal epentética que o falante do português acrescenta entre as duas consoantes finais. No outro exemplo, no (5b), foi utilizado o substantivo ‘side’ no plural; em inglês as palavras terminadas na letra –e não possuem pronúncia, tendo como pronúncia final da sílaba a consoante (ou consoantes) anterior, o que não ocorre no idioma português, por isso, no início do aprendizado da língua inglesa o aluno acrescenta a vogal epentética antes de pronunciar o plural dos substantivos. Já o exemplo (5c) traz o verbo ‘wash’ na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, especificamente neste caso o aluno mantém a pronúncia muito próxima do falante nativo, entretanto a pronúncia final é realizada com –s, tal qual todos os outros exemplos em (5).

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

Mostraremos também as três diferentes ocorrências do passado regular – (e)d do inglês e como os falantes do português da região metropolitana de São Paulo as pronunciam. Nos exemplos (6) veremos que o fato de existir na grafia de alguns verbos regulares a vogal final –e, faz com que os o falante do Português o produza, num primeiro momento, o que significa acrescentar uma sílaba a mais nos dois primeiros tipos de verbos.

(6a) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C C

(falante do Inglês)

‘watched’

s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo C

V C V C

(falante do Português)

‘watched’

(6b) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V V C C

(falante do Inglês)

‘bathed’

(13)

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s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo C

V V C V C

(falante do Português)

‘bathed’

(6c) s

s

Ataque Rima Rima

Núcleo Coda Núcleo Coda

C

V V C V C

(falante do Inglês)

‘waited’ (falante do Português)

‘waited’

No exemplo (6a) do verbo regular inglês ‘watch’ no passado apresenta a vogal epentética que o falante do português acrescenta entre os dois fonemas consonantais finais. No outro exemplo, no (6b), foi utilizado o verbo regular ‘bathe’ no passado; em inglês as palavras terminadas na letra –e não possuem pronúncia, tendo como pronúncia final da sílaba a consoante (ou consoantes) anterior, o que não ocorre no idioma português, por isso, no início do aprendizado da língua inglesa o aluno acrescenta a vogal epentética antes de pronunciar o padrão silábico final que pode ser representado por /- / para o verbo em questão. Já o exemplo (6c) traz o verbo regular

‘wait’ no passado, especificamente neste caso o aluno mantém a pronúncia muito próxima do falante nativo, entretanto a pronúncia final é realizada tanto com os fonemas /– / quanto com /– /.

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SOBRE A ALOFONIA DIFERENTE

O sistema consonantal do Português não possui fonemas africados alveolopalatais /t d / tal como o sistema da língua inglesa, muito embora eles existam como alofones [t d ] dos fonemas oclusivos alveolares / / e / / respectivamente, desde que o contexto fonológico contenha o / / como fonema vocálico consecutivo. Os falantes do português da região metropolitana de São Paulo costumam utilizar ambos alofones, então é possível que em alguns casos haja pronúncias errôneas de palavras inglesas que contenham os fonemas / /, porém em final de palavra parece-nos difícil que ocorra a menos que a palavra seguinte inicie pelos fonemas vocálicos ou / /, ou / /, ou / /, o qual propicia o contexto para que os alofones possam ocorrer no idioma português.

Os pesquisadores da pronúncia do inglês norte-americano Hewings e Goldstein (2000:83) afirmam que durante o momento da fala os fonemas consonantais alveolares /t d s z/, quando seguidos por uma palavra iniciada pelo fonema palatal / / podem ser unidos e pronunciados da seguinte maneira:

/ / + / / / / forget your passport

/ / + / / / / need your jacket

/ / + / / / / miss your train / / + / / / / lose your camera

Esse aspecto abordado pelos pesquisadores mencionados acima é chamado de ‘palatalização’, tanto em português quanto em inglês, e ocorre provavelmente na fala rápida, fluente, principalmente com os fonemas oclusivos alveolares / / e / / mais do que com / / e / /. Com o processo de palatalização, a sentença ‘What’s your name’, por exemplo, pode parecer muito próxima de ‘Watch your name’.

Outro aspecto que devemos observar é que as palavras portuguesas com a letra l no final da sílaba, na pronúncia dos falantes da região metropolitana de São Paulo, terão sua pronúncia vocalizada, ou seja, o falante irá substituir o - final da escrita pelos fonemas /- / ou /- / mudando novamente o número de sílabas e o sentido da palavra do idioma inglês. Veja no exemplo (7) abaixo como o falante nativo e o falante do idioma português pronunciam, possivelmente, a palavra inglesa ‘fill’:

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(7) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C

(falante nativo Inglês)

‘fill’

(falante do Português)

‘fill’

Tal como afirmamos anteriormente, a letra l final da palavra inglesa ‘fill’ sofreu o processo de vocalização. Em inglês, o fonema /- / final é velarizado [ ] sendo pronunciado, portanto, como um fonema consonantal. Em português, a letra - l final da palavra é vocalizada, sendo produzida como um fonema vocálico ou /- /, ou /- /. Essa característica da língua portuguesa induz o estudante iniciante do idioma inglês a produzir a lateral alveolar vozeada velarizada do inglês como ele o faz em sua língua materna, o que possivelmente gera uma palavra inexistente na língua-alvo.

SOBRE A PROXIMIDADE FONÉTICA

As ilustrações (8) abaixo estão relacionadas aos fonemas fricativos interdentais ingleses / /, os quais não existem no inventário fonético-fonológico da língua portuguesa. Devido a esse fato eles podem trazer dificuldades no início da aprendizagem, pois como já dissemos, eles não ocorrem no idioma português, então os falantes do português da região metropolitana de São Paulo irão pronunciá-los com fonemas semelhantes aos fonemas ingleses, isto é, com aqueles que estão acostumados a ouvir e a produzir, tal qual os fonemas desvozeados / / e os vozeados / /, respectivamente para / / e / /.

(8a) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

C

V C

(falante nativo Inglês)

‘thin’ (falante 1 do Português)

‘thin’ (falante 2 do Português)

‘thin’ (falante 3 do Português)

‘thin’

(8a) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V C

(falante nativo Inglês)

‘that’ (falante 1 do Português)

‘that’ (falante 2 do Português)

‘that’ (falante 3 do Português)

‘that’

Especificamente para o falante 1 do português que tem como exemplo a palavra ‘this’, provavelmente na sua pronúncia com o fonema oclusivo alveolar desvozeado / /, a interferência ou a transferência negativa pode ser explicada pela própria grafia do th do vocábulo, ou seja, se no idioma português a letra h não tem pronúncia, resulta simplesmente na pronúncia da letra t.

Quanto às três possibilidades de pronúncia para o / /, / /, e para o / /, / /, elas só ocorrem devido à proximidade fonológica dos sons interdentais da língua inglesa aos sons que pertencem ao inventário fonológico da língua portuguesa. Isso quer dizer que o fonema inglês fricativo interdental desvozeado pode ser realizado pelo falante do português com o fonema oclusivo alveolar desvozeado, ou com o fricativo alveolar desvozeado, ou ainda com o fricativo labiodental desvozeado. Já o fonema inglês fricativo interdental vozeado, por sua vez, pode ser realizado pelo falante do português como um fonema oclusivo alveolar vozeado, ou com um fricativo alveolar vozeado, ou ainda com um fricativo labiodental vozeado. Em ambos os casos podemos imaginar que o falante do idioma português não consegue perceber auditivamente que

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os fonemas fricativos interdentais ingleses não são nenhum dos fonemas portugueses e, conseqüentemente, os pronunciam com uma das possibilidades exemplificadas acima.

No próximo exemplo (9) trataremos de mostrar a interferência ou transferência negativa que pode ocorrer relacionado ao fonema inglês fricativo glotal desvozeado / /. Tal fonema pode ser produzido pelo falante do português da região metropolitana de São Paulo de duas formas, uma delas seria nenhuma produção audível, uma vez que a letra h em português nunca tem pronúncia; outra possibilidade seria produzir erroneamente tal fonema, pois auditivamente o falante do português ouviria o fonema vibrante alveolar vozeado / / e o pronunciaria entendendo que estaria correto. Somente com o passar do tempo do processo de aquisição fonológica da língua inglesa, o falante do português consegue perceber a diferença e produzir tal fonema inglês corretamente.

(9a) s

Ataque Rima

Núcleo Coda

C

V V C

(falante nativo do Inglês)

‘house’

(falante nativo do Português) ‘house’

O resultado da produção oral da palavra inglesa ‘house’ demonstra claramente que há a ocorrência de dois tipos de erros. O primeiro é utilizar um fonema existente na sua língua materna para produzir um fonema da língua-alvo; e, o segundo é não perceber auditivamente, e nem mesmo depois de pronunciado, que houve a troca de um fonema inglês desvozeado por um vozeado do português. Somente com a continuidade do aprendizado é que essa dificuldade fonológica pode ser superada. Num primeiro momento o aluno terá que aprender a ouvir para que posteriormente possa pronunciar o fonema vibrante glotal desvozeado do inglês mais próxima do falante nativo.

Todas as palavras que ilustraram os exemplos foram por nós escolhidas. Num primeiro momento elas são suposições já realizadas anteriormente por nossos

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A interferência da língua materna no acréscimo da vogal epentética na língua-alvo – Magali Rosa de Sant’Anna

alunos. Portanto, podemos concluir que, todos os exemplos utilizados ilustram as

‘interferências’ ou ‘transferências negativas’ que o falante do português da região metropolitana de São Paulo faz ao iniciar seu aprendizado na língua inglesa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao contrastar os padrões silábicos consonantais finais das sílabas inglesas e portuguesas, quando há o acréscimo de uma vogal epentética, todos os exemplos utilizados e abordados foram apenas alguns dos aspectos fonológicos que ocorrem durante a aquisição fonológica do ensino do Inglês como língua estrangeira para os falantes do português.

Devemos ressaltar que as prováveis pronúncias das palavras inglesas com relação às sílabas finais com fonemas consonantais apresentadas nesse trabalho são uma pequena amostra das interferências ou transferências negativas que podem ocorrer durante a aquisição fonológica de uma língua estrangeira. O acréscimo de uma vogal epentética na sílaba final das palavras inglesas acarreta na adição de uma nova sílaba. Esse acréscimo traz um problema semântico à tona, ou seja, o significado da palavra pode tanto ser outro, quanto o vocábulo poderá não existir na língua inglesa, gerando sentenças sem sentido.

Esperamos então com esse estudo ter contribuído de alguma forma, mesmo que de maneira simples, para o conhecimento de alguns dos problemas fonológicos do inglês como língua estrangeira que ocorrem na pronúncia dos falantes do português da região metropolitana de São Paulo, no que diz respeito à adição de uma vogal ao final de palavras inglesas que terminam em consoantes e geram interferência durante o processo de aquisição da língua-alvo.

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