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PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social

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Academic year: 2021

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PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social O MITO E A LITERATURA: FORMAÇÕES DO INCONSCIENTE VÍNCULADOS

AO CONCEITO DE FANTASIA

Raphael Edson Dutra*, FAMMA, Faculdade Metropolitana de Maringá, Maringá- PR, Brasil; Eliane KiyomiTabuti*, FAMMA, Faculdade Metropolitana de Maringá, Maringá- PR, Brasil; Kelly Cristina Pereira Puertas, FAMMA, Faculdade Metropolitana de Maringá, Maringá- PR, Brasil, UNESP/ Assis-SP, Brasil.

contato: raphael_edson15@hotmail.com Palavras-chave: Psicanálise. Mito. Literatura. Fantasia.

Desde os primórdios, os seres humanos procuram dar vasão aos seus sentimentos, suas angústias e as vivências caóticas que assombram a sua realidade. Assim, para Armstrong (2005), é impulsionado pelo desespero que os seres humanos procuram alocar suas vidas em um cenário ampliado, o que lhes possibilita enxergar que mesmo diante do estado caótico, há significação e valor em suas relações. É neste ínterim que cria-se, pelos vieses da imaginação, um cenário grandioso, mítico, abarcando a mitologia e a religião. O enredo mitológico, nesse sentido, surge como uma possibilidade para a expansão das vivências dos povos, desde tempos mais tênues, funciona como vicissitude que transcende a vivência. O mito alcança o âmago das relações humanas, de modo que deuses onipotentes, amores proibidos, heróis e guerras cósmicas, parecem encenar os dramas humanos com trágicas relações e enredos mórbidos. Destarte, o mito se estabeleceria como instrumento propulsor social das relações e do imaginário humano, tornando-se em narrativas de que englobam um tempo fabuloso.

Para Rocha (1996), o mito diferencia-se das demais narrativas humanas, pois estabelece uma junção de fenômenos, com sentido difuso, que tornam-se pouco nítidos. Mas, a multiplicidade de significados coexiste com o contar dos mitos. Caso as narrativas míticas sucumbissem às demais narrativas, “se descaracterizaria, perderia sua especificidade, seria tragado, submerso pelo oceano de narrativas, falas e discursos humanos” (Rocha, 1996, p. 3).

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Abbagnano (2012, p.784) supõe que o mito não é “demonstrável nem claramente concebível, mas sempre é claro o seu significado moral ou religioso, ou seja, o que ele ensina sobre a conduta do homem em relação aos outros homens ou em relação à divindade”. Além de revelar o pensamento de determinado povo, o mito, para Rocha (1996), possui uma característica peculiar, no sentido de que permite alocar fator naturalista que é pertinente aos enredos míticos. Assim, segundo Armstrong (2005), os enredos mitológicos fazem parte da estruturação de uma psicologia inicial, ou seja, a partir deles pode-se extrair diversos mecanismos e funcionamentos da psique e dos povos. Histórias drásticas e aventuras sobre-humanas de deuses e semideuses que “descendem das profundezas da terra e lutam contra monstros e atravessam labirintos trouxeram a tona os mecanismos misteriosos da psique” (Armstrong, 2005, p. 15). Em suma, o mito torna-se um denunciador de pensamentos dos povos primitivos, embora seu intuito não esteja em fazer-se como história, mas com o auxilio do estudo das ciências psicológicas poder-se-ia retirar deles elementos da própria psique humana, como feito por Freud e Jung.

Outro elemento pertinente aos mitos é que sua essência torna-se anterior a própria palavra escrita, e com o surgimento desta o mito sobreviverá como forma metaforizada, poética e artística (Rocha, 1996). A inserção da escrita permite que as obras sejam eternizadas às gerações futuras sem a necessidade da mediação de outras figuras, de narradores, além do autor. Se antes da escrita os mitos eram contados de geração em geração, podendo sofrer perdas e/ou acréscimos nos enredos, com a escrita essas transformações na obra não faziam, necessariamente, mais parte de sua transmissão. Os enredos, as sagas humanas e as fantásticas, em formato escrito adquirem um caráter duradouro, torna-se possível conservar sua versão original, o que foi escrito pelo autor/criador. A Literatura é uma arte que vem acompanhando o homem em seu processo de evolução cultural. Uma obra literária é demarcada pela época a qual pertence, assim como a sua natureza e a sua realidade estão intimamente relacionadas com o meio social a qual pertenceu o seu autor (Amorim, 2001).

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Porém, para que uma obra literária seja reconhecida como Literatura, se faz necessário o rigor de alguns critérios adotados normativamente. É fundamental que a obra tenha o aval institucional (uma instituição escolar ou reconhecida como a Academia Brasileira de Letras) e passe pela crítica especializada. Uma obra literária existe a partir do momento que uma pessoa escreva e outra pessoa a leia; por isso, ela é considerada um objeto social. Destarte, é por meio do intercâmbio social que temos a sua propagação, promovida dentro dos moldes capitalistas: a obra literária precisa ser comercializada para ser consumida. (Lajolo, 1991)

No final do século XIX, período no qual as concepções científicas racionais estavam emergindo, Sigmund Freud trouxe novas concepções e conceitos que formavam o arcabouço teórico de uma nova disciplina em estado nascente: a Psicanálise. A vida de Freud sempre foi permeada pela presença marcante da literatura, sendo que esta teve influência na criação da psicanálise. O conceito norteador da teoria psicanalítica freudiana é o inconsciente. Kon (2003) indaga-se se este conceito não é fruto da tentativa freudiana de conciliar o imaginário com o real, transformando-o em conflito psíquico. Pensamos que este elemento conciliador pode ser vislumbrado na noção de fantasia.

O conceito de fantasia, na obra freudiana, está diluído em diversos textos. Para Freud (1911/1996; 1916-1917/1996), os sintomas desenvolvidos por um paciente são fruto das fantasias que possuem realidade psíquica, entendendo-se dessa forma que realidade psíquica é sinônimo de fantasia. Para Freud (1911/1996), as fantasias são originadas de desejos que foram frustrados, ou seja, insatisfeitos. Dessa maneira, podemos inferir que o psiquismo utiliza a fantasia como um mecanismo para a realização parcial desses desejos que ficaram insatisfeitos, por meio de investimento libidinal em objetos. As formas utilizadas pela fantasia para se expressar são os atos falhos, os sintomas e os sonhos.

O conceito de fantasia também é discutido no texto Escritores criativos e devaneios (Freud, 1908/1996), na qual o autor faz uma comparação entre o brincar da criança com a criação do escritor criativo. A criança cria um mundo de fantástico ao brincar e não se vergonha disso, porém o adulto deixa de brincar e passa a fantasiar. No entanto, nada é mais difícil que abandonar um prazer experienciado. Não abandonamos este prazer, apenas o substituímos por algo outro.

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universalidade destas fantasias”. Este fato explica-se pelas fantasias originárias constituírem um patrimônio que é transmitido filogeneticamente. Freud (1915, citado por Roudinesco e Plon, 1998), cita que a observação de um “comércio sexual entre os pais é uma peça que raramente falta no reservatório de fantasias inconscientes que podemos descobrir, através da análise, em todos os neuróticos e, provavelmente, em todas as crianças”.

Mitos e obras literárias atrelam-se no sentido de deslindarem formulações pertinentes aos conteúdos presentes no inconsciente, portanto, material reprimido. Desta forma, fantasias originárias em relação à cena primária, temores referidos a castração na tramitação edípica, tornam-se substrato psíquico para expressões artísticas e poéticas. Deste modo, as formas fantasiadas destes percursos, repetem-se em determinado tempo e ascendem à consciência, porém, devido ao mecanismo de repressão são soterradas e alojam-se no inconsciente. Entretanto, o material reprimido não permanece latente e procura mecanismos e vicissitudes para manifesta-se. É neste contexto que desejos insatisfeitos tomam forma, e exprimem-se de maneira distorcida sob a forma de atos falhos, sonhos, mitos, contos de fadas e expressões artísticas. Destarte, localizamos as obras literárias e o mito como expressões dos desejos insatisfeitos. Atrela-se a nível individual uma obra literária, e os mitos ao seu caráter coletivo, da mesma forma que as fantasias originárias possuem sua epistemologia calcada na origem filogenética. Exemplificando, encontraríamos no mito de Medusa, criatura com cobras em lugar de cabelos, que foi decapitada por Perseu, uma referência a manifestação do temor da castração. Podemos observar a presença da mesma fantasia originária no conto de fadas da Gata Borralheira. Diante deste vasto território muito tem-se a contribuir, e por isso, as pesquisas continuam no sentido de ampliar as discussões e a compreensão no entrelaçamento dessas formações do inconsciente que se manifestam no meio social.

Referências

Abbagnano, N. (2012). Mito. In: Abbagnano, N. Dicionário de Filosofia. Alfredo Bosi (trad), Ivone Castilho (trad). (6ª ed.). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.

Amorin, A. R. de (2001, julho). A literatura em busca de um conceito. Revista Urutagua, 1(2). Recuperado em 10 de março, 2015. http://www.urutagua.uem.br//02_literatura.htm. Andrade, P. A. da S. (s/d). O passado de uma ilusão frente ás questões existenciais, o homem busca na mitologia um sentido para si e para o universo. In: Andrade, P.A. Psique ciência

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Armstrong, K. (2005). O que é mito? In: Armstrong, K. Breve História do mito. São Paulo: Companhia de letras.

Freud, S. (1996). Escritores criativos e devaneio. In: Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, Volume IX, pp.131-143 (Trabalho originalmente publicado em 1908).

Freud, S. (1996).Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental. In: Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago Editora. 1996.Volume XII, pp.231-244 (Trabalho originalmente publicado em 1911).

Freud, S. (1996). Conferências introdutórias sobre psicanálise. In: Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago. Volume XVI, pp.361-378. (Trabalho originalmente publicado em 1916).

Freud, S. (1996). Cabeça da Medusa. In: Freud, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago. Volume XVII, pp. 289-290. (Trabalho originalmente publicado em 1940).

Kon, N. M. (2011). Psicanálise e literatura: ambiguidades e confluências. In: Passos, C. R. P.; Rosenbaum, Y. Escritas do desejo: crítica literária e psicanálise (orgs). Cotia: Ateliê Editorial, pp. 61-78.

KON, N. M. (2003). A viagem: da literatura a psicanálise. São Paulo: Companhia das letras. Kon, N. M. (2011). Psicanálise e literatura: ambiguidades e confluências. In: PASSOS, C. R. P.; ROSENBAUM, Y. Escritas do desejo: crítica literária e psicanálise (orgs). Cotia: Ateliê Editorial, pp. 61-78.

Lajolo, M. (1991). O que é literatura (13ª ed.). São Paulo: Brasiliense.

Laplanche, J.; Pontalis. (2001). Cena Primária. In: Laplanche, J.; Pontalis. Dicionário de

psicanálise. Pedro Tamen (trad).4.ed. São Paulo: Martins Fontes.

Rocha, E. (1996).O que é mito. São Paulo: Editora Brasiliense.

Roudinesco, E.; Plon, M. (1998). Cena Primária. In: Roudinesco, E.; Plon, M. Dicionário de

Psicanálise. Michel Plon (trad.),Vera Ribeiro, Lucy Magalhães (trad.), Marco Antonio

(sup.).Rio de Janeiro: Editora Zahar.

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