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Novas formas de avaliar o desempenho de crianças com problemas específicos de aprendizagem

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Academic year: 2018

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NOVAS FORMAS DE AVALIAR O DESEMPENHO DE CRIANÇAS COM PROBLEMAS ESPECíFICOS DE APRENDIZAGEM

MARIA LÚCIA LOPES DALLAGO

Ph.D. e Professora Adjunto do Departamento de Educação da UFC.

Investigações empmcas têm oferecido respostas que co-meçam a esclarecer o quadro de deficiências específicas de aprendizagem, dando igualmente reforço às diferenças exis-tentes nesse grupo de crianças especiais. Diz-se que "existe um problema significativo de aprendizagem quando o desem-penho real do indivíduo ou sua realização em uma habilidade qualquer está bem abaixo de sua capacidade ou potencial" ..:. As habilidades mais consideradas têm sido a leitura e a es-crita.

Fatores explicativos foram inicialmente buscados entre aqueles de natureza biológica enquanto que, em proposições mais recentes, fatores cognitivos têm merecido investigação. Assim é que deficiências no processo da atenção, da memória ou da linguagem são freqüentem ente consideradas como fa-tores nos distúrbios específicos de aprendizagem. Do mesmo modo, pode acontecer que incapacidades de leitura e escrita possam ser remontadas à distorção de certas representações

fundamentais ou mesmo estruturas pré-representacíonaís.XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa

Deve-se acrescentar, ainda, o reconhecimento bastante re-cente da situação total de desenvolvimento da criança, sua

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motivação e experiências SOCIaIS,O que vem provocando im-portantes reformulações ou tipo de programação oferecida a

crianças com deficiências específicas de aprendizagem.XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÉ

cer-to que a imagem da criança com deficiência de aprendizagem obtida no contexto das relações de pais, colegas e professores pode revelar que o problema sofre influências significativas por parte de um outro componente desse sistema de inte-rações.

A evidência acumulada não oferece, portanto, apoio à idéia de que existe um fator básico responsável pelas dificul-dades na aprendizagem. Além disso, é sempre oportuno lem-brar que as diferenças individuais nesse segmento da popu-lação existem de maneira tão convincente quanto na popula-ção global. Crianças com distúrbios específicos de aprendiza-gem e outras que, junto a elas, são chamadas de "excepcio-nais", constituem um grupo heterogêneo, com características de aprendizagem variadas as quais não podem ser preditas a partir de um conceito tão global como "idade mental" ou "quociente intelectual". Sob a influência atual das ciências sociais abandonou-se a busca de princípios gerais que pu-dessem servir a todos os indivíduos, em todas as situações e, em seu lugar, surge a atitude de busca, de exploração, de todo um complexo de interações que desafiam generalizações fáceis ou receituários prontos.

Como a resposta habitual da escola ao princípio da hete-rogeneidade tem sido a de agrupar os alunos para a instru-ção, uma prática que se estende também a alunos excepcio-nais, por conveniência administrativa e pela maior facilidade no planejamento da instrução, essas considerações vêm su-gerir que o profissional que lida com problemas de aprendi-zagem na criança deve estar atento à variedade de fatores que concorrem para aqueles distúrbios; sugerem, ainda, que tais fatores devem sempre ser considerados em situação in-dividual.

Diante disso, o educador necessita de um amplo conheci-mento das técnicas disponíveis e de uma disposição psicoló-gica bastante flexível que o torne capaz de reconhecer as

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cessidades de cada aluno e de atuar eficientemente através de técnicas apropriadas.

O presente artigo representa contribuição para esse

obje-tivo apresentado, de modo sucinto, o modelo do ensino prescritivo.EDCBA

A s b a s e s e f e i ç õ e s d o e n s i n o p r e s c r i t i v o

Valett4 recomenda que os dados essenciais para a

iden-tificação de problemas de aprendizagem sejam obtidos a par-tir da observação sistemática do desempenho de uma tarefa por parte do aluno, em situação natural, seja ela em sala de aula, em casa, no trabalho ou então em situação controlada. Desse modo, há o reconhecimento da necessidade de um diagnóstico específico das dificuldades educacionais de cada indivíduo o que leva, conseqüentemente, a um atendimento educacional adaptado às suas características individuais. Nesse sentido, o ensino deverá ser pensado (ou prescrito) a partir de um diagnóstico, ou seja, uma avaliação acurada do estágio de aprendizagem da criança e a identificação de seus problemas específicos.

Embora no presente relato não se discutam as bases teóricas do ensino prescritivo é possível encontrá-Ias em Bloom,1 para quem a condição ótima da instrução é

conse-guida, 1) pelo estabelecimento de objetivos instrucionais es-pecíficos, derivados da descrição da tarefa e acessíveis para o professor e para os alunos; 2) pela análise da tarefa d

cada objetivo; e 3) pelo arranjo seqüencial ou hierarquiz do dos desempenhos que se espera do aprendiz. Além d s , utrt teórico, Piaget, apóia a crença na ordenação n t u r n l q u r

emerge, como processos sucessivos de experi n i m I

n-tais coordenadas por sistemas organizad s, m n VOIi lillit

-mas mais altamente integrados .d n 1 <I ' , I o e l 1 0 di Guilford, por sua vez, especifi 1 1m ÚI I ' ( I 111'11< 1,(m t (

grande de tipos de intcU n 1 , P r r n t, Ido u <i I LI (" '1\' o de cada um deles em t rm 1 I ( I l I ! > ( n l l ) em t l u ' ( \ r n ' n-ereta, 4 Em todos ] ,pr 111' -li( 1\ ( ' ( ) I " ' ! ' pon I n i ntr o

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que a criança é capaz em determinada época e as exigências da tarefa a ser executada.

Ysseldyke e Salvia5 indicam os quatro pressupostos do ensino baseado no diagnóstico prescritivo:

1. A criança entra numa situação de ensino com dife-rentes níveis da habilidade;

2. Tais habilidades estão relacionadas de forma causal com a aquisição de habilidades acadêmicas;

3. Essas habilidades iniciais podem ser avaliadas de forma válida e confiável;

4. Há relação bem definida entre estes diferentes ní-veis de habilidades e a eficácia da instrução.

Como se pode perceber, nessa abordagem o atendimento educacional parte não de informações hipotéticas, mas das necessidades específicas em termos de comportamentos que o aluno precisa desempenhar. O êxito do ensino diagnóstico depende, portanto, do reconhecimento preciso dos compor-tamentos que já existem no "repertório" do aluno e que são relevantes à aprendizagem das habilidades ou tarefas pro-postas. Um exemplo pode bem ilustrar essa nova estratégia

de ensino:

Tipos de infor-mação sobre o aluno

discrimi-Maria João

Observáveis

Dificuldade de nação auditiva. Altera a seqüência na

es-crita de palavras. (Ex. "boal" por bola)

Troca letras na escrita. (Ex. "pala" por bola) Inferenciais

Atendimento

Memória visual seqüencial falha.

Educacional

Desenvolver a escrita dan- Desenvolver a escrita dando do "pistas" para facilitar a "pistas" para a

discrimina-seqüência das letras. ção auditiva das letras.XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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Colocação semelhante a essa, embora ampliada, e encon-trada na proposta teórica de BIoom1 sobre as variáveis

in-terdependentes no processo de aprendizagem escolar referin-do-se, no caso, à extensão em que:

o aluno já dominou os pré-requisitos básicos para a aprendizagem a ser alcançada;

o aluno se acha motivado para se envolver no pro-cesso de aprender;

o ensino a ser dado se acha apropriado ao aluno. Estão, assim, incluídas características do aluno, do en-sino e os resultados da aprendizagem. Eis como essas variá-veis se acham representadas:

Características

do aluno Ensino

Resultados da Aprendizagem

Comportamento cognitivo .de "entrada" -7

-7 Nível e tipo de desempenho Tarefa(s)

de -7 Ritmo de aprendiza 'em Características afetivas

de entrada -7 Aprendizagem -7 C o n s e q ü ê n c ia s a f 'c t iv u - ,

i

Qualidade do ensino

A análise cognitiva dos comportamentos "de entrad " nos informa, ainda, sobre as operações mentais que serã pro-cessadas no desempenho de determinada tarefa ou n . 111-ção de um problema. O exemplo utilizado por Gin burg : bastante ilustrativo. Num problema que envolv r. po: ta diferida, o examinador mostra à criança d 2 um u ti-nho de plástico. Coloca, então, diante da cri n m fl1 ,

três caixas. A tarefa consiste em localizar r; ti 11 , !P t r sido este deslocado de uma caixa para utra, l i I I I I a rd m sucessiva. De acordo com o autor, s a ( l ~ l I m n . l u

pe-rações mentais que a criança dev pr S S f r pura s r b m sucedida: atividade perceptual, qu Ih p rmlta r nh

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1I1( 1110 10 obj t nas várias posições em que se apresente;XWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( 'o m !> 1 ' das instruções e memória.

11 tr ões semelhantes se estenderiam a inúmeras outr situações ressaltando a utilidade de se examinar as t r fa de aprendizagem em termos dos processos mentais

nvolvidos.

De igual importância se reveste a análise das caracte-rísticas afetivas que se manifestam na abordagem de um novo problema, pelas crianças. Algumas se mostrarão inte-ressadas e imediatamente envolvidas na solução da tarefa; para elas, a aprendizagem de uma coisa nova parece rele-vante e desejável. Outras se aproximam da tarefa de forma relutante e incerta como se aprender significasse apenas um dever. E, finalmente, aquelas que se mostram receosas e per-turbadas como se a situação nova que se lhes apresenta significasse uma ameaça à sua auto-estima. Dessa forma, o

que se verifica é uma notável variedade entre os indivíduos na preparação emocional para a aprendizagem, manifestada por interesses, atitudes e percepção de si mesmos.

Evidentemente, pelo que se acha assim exposto, cada aluno enfrenta um determinado curso, disciplina ou mesmo uma simples tarefa com uma "história" que o prepara dife-rentemente dos outros alunos, para aquela aprendizagem. Suas reais possibilidades devem ser conhecidas através de técnicas informais de observação ou mesmo de testes padro-nizados quando estes ofereçam informações suficientemente detalhadas em termos de habilidades do aluno.

Ao mesmo tempo que os informes sobre o aluno são cole-tados, as próprias tarefas têm que ser analisadas para que se determinem os passos ou etapas dentro de uma ordem que assegure o máximo de sucesso.

A análise de tarefas

Definida como o processo de decompor uma situação de prendizagem nos seus elementos componentes, a análise d tar fas ajuda o professor a decidir quais os passos

neces-fiO R Iv. luuc. I'vi D I BATI: - FORT., V. 3 - N." 3 - p,\G. 4 5 - 5 4 1 9 7 9

sários para que o aluno chegue ao objetivo visado. Por exem-plo, para ser bem sucedido na tarefa "24-7", a criança pre-cisaria saber:

o que significa "menos" e que - significa "menos"; que 24 significa "2 dezenas e 4 unidades";

que 7 significa 7 unidades;

que 24 pode ser decomposto em uma dezena e 14

unidades;

que 14 - 7 é igual a 7.

Consiste, pois, de um modo bastante claro e objetivo, numa proposição do que ensinar mas enfatizando suas par-tes componenpar-tes e o arranjo destas numa seqüência evolu-tiva. Assim, não há maiores preocupações com a organização lógica dos assuntos mas com os passos seqüenciais que o in-divíduo deve seguir de modo a sair do seu nível atual de fun-cionamento para aquele que se acredita ser desejável que ele atinja.

A análise de tarefas envolve um ciclo contínuo no qual a construção de uma seqüência é seguida pela supervisão do desempenho do aluno, com a reconstrução da seqüência com base nesse desempenho, novamente supervisão, e assim por diante. Somente através desse processo, o professor pode ch -gar à formulação de seqüências válidas, isto é, baseadas ns

experiência e não permanecer apenas nas seqüências logic -mente determinadas. Isto implica na estruturação d pl n s individuais onde as seqüências são propostas conform " necessidades do aluno indicadas num pré-teste. Fie m SIi

gurados desse modo, objetivos realistas porqu ,'10

com o nível real de desempenho do aluno, bem m I n d l

vidualização do próprio processo de instru ão.

Além do mais, permite saber em qu p nt d l i'ql ' I t

existe uma descontinuidade, o que parti ularm t HlI 1"

sua utilização com crianças que apr s nt m p r o b t - m u s , 'P

'-cíficos de aprendizagem.

Outros benefícios se referem mais adequados para agrupar lu

rlt ri

m s u

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nível atual de desempenho nas habilidades visadas e a faci-lidade de conhecer as realizações diárias ou semanais da criança. Assim, o aluno vai progredindo sempre, em peque-nas etapas e, pela própria realimentação cognitiva, fica mo-tivado a prosseguir.

Apreciando-se o modelo diagnóstico prescritivo em fun-ção da nossa realidade, apresenta-se como uma vantagem, uma vez que favorece a identificação pelo professor, de mui-tos problemas manifestados pela criança em tarefas especí-ficas de aprendizagem. Diante da impossibilidade atual de se contar nas escolas com equipes multidisciplinares para um diagnóstico acurado da criança, seus problemas poderão ser minorados através dessa intervenção.

Uma tentativa, nesse sentido, foi realizada durante o primeiro semestre letivo de 1979, numa classe de 1.a série (1.0 grau) da Escola Iracema, em Fortaleza, onde a protes-sora, auxiliada por estagiárias do curso de Pedagogia, elabo-rou um plano para o diagnóstico dos seus alunos, dentro da abordagem ora descrita. Baseando-se nas subetapas da lei-tura de palavras, a análise feita situou os 31 alunos observa-dos em cinco grupos distintos.

O grupo que concentrou maior número - 13 alunos -correspondeu àqueles que demonstraram dificuldade com a "discriminação visual e auditiva das vogais em palavras", su-gerindo a necessidade de treinamento ,a partir daquele ponto. Pode-se argumentar, de um ponto de vista mais critico, que a organização hierárquica das tarefas constitui-se um problema de vez que mesmo os especialistas não têm opinião idêntica quanto aos passos envolvidos seqüencialmente nu-ma determinada tarefa. Veja-se, no caso da leitura, a discor-dância entre os profissionais da área quanto às etapas que devem constituir o processo da leitura. Diante desses argu-mentos pode-se sugerir que seria inapropriado ao professor seguir irrefletidamente determinada seqüência, sem conferi--Ia com sua posição pessoal diante do assunto.

A análise de tarefas torna-se possível mesmo em tarefas de maior nível de complexidade, exigindo mais tempo e pro-cedimentos mais refinados por parte do programador .. A

pr 'oXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA' l I ! 1 ' [ com a totalidade do indivíduo sugere, antes de tudo, LarEDCBAi a s que favoreçam uma amplitude de respostas,

en-tr adas n processo global da educação.

Compreende-se, ao longo desse relato, que a aplicação ad quada do modelo ensino prescritivo depende, primordial-mente, do grau de competência do professor e se torna mais válido na medida em que foge de padrões normativos e se aproxima das necessidades reais do aluno.

REFERtNCIAS BIBLIOGRAFICAS

I. BLOOM. B. S. H u m a n c h a r a c t e r i s t c s a n d s c l i o o l l e a r n i n g ; New York,

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3. PHILUPS, JR .. J. L O r i g e n s d o i n t e l e c t o : a teoria de Piaget. São Paulo, Nacional, Ed. da USP, 1971.

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models. E x c e p t i o n a l c h i l d r e n , 41: 181-85. J974,

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