• Nenhum resultado encontrado

THEODORO DE MORAES ( ) E O ENSINO DA LEITURA PELO MÉTODO ANALÍTICO.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "THEODORO DE MORAES ( ) E O ENSINO DA LEITURA PELO MÉTODO ANALÍTICO."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

THEODORO DE MORAES (1877 - 1956) E O ENSINO DA LEITURA PELO MÉTODO ANALÍTICO. Bárbara Cortella Pereira. Universidade Estadual Paulista, Campus de Marília. babicortella@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Nesta comunicação, apresentam-se resultados parciais de pesquisa de Mestrado (bolsa CNPq), desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Marília. Essa pesquisa vincula-se à linha “Alfabetização” do Grupo de Pesquisa “História do ensino de língua e literatura no Brasil” (GPHELLB)1 e do Projeto Integrado de Pesquisa “História do ensino de língua e literatura no Brasil” (PIPHELLB), em funcionamento, respectivamente, desde 1994 e 1995, ambos coordenados pela professora Maria do Rosário Longo Mortatti 2.

É importante mencionar que essa pesquisa de Mestrado deriva das atividades desenvolvidas, em 2006, como graduanda em Pedagogia na Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), da UNESP - campus de Marília, e bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UNESP). Das atividades de iniciação científica que desenvolvi resultou principalmente um instrumento de pesquisa intitulado Bibliografia de e sobre Theodoro de Moraes o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Pedagogia , intitulado Um estudo sobre Meu livro (1909), de Theodoro de Moraes. (PEREIRA, 2006).

Com base nos resultados da análise da configuração textual apresentados nesse TCC, constatei a importância do estudo dessa cartilha e dos livros para o ensino da leitura, escritos por esse professor e que tiveram sucessivas edições e altas tiragens, com grande circulação no estado de São Paulo e em outros estados do país, também nas décadas seguintes a sua publicação; e, apesar dessa importância, constatei também a inexistência de estudos específicos sobre a cartilha analisada e sobre os livros de leitura escritos por Theodoro de Moraes.

Por essas razões, considerei pertinente e relevante dar continuidade à pesquisa de iniciação científica, com o objetivo de contribuir para a compreensão de um momento pouco explorado da história do ensino de leitura e escrita no Brasil. Nessa pesquisa, focaliza-se a proposta para o ensino da leitura3 defendida pelo educador

1

Cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil – CNPq. Certificado pela UNESP.

2

O GPHELLB e o PIPHELLB se organizam em torno do tema geral, método de investigação e objetivo geral que são comuns a todas as pesquisas de seus integrantes. O tema geral – ensino de língua e literatura no Brasil – se subdivide em cinco linhas de pesquisa: “Formação de professores de língua e literatura (inclusive alfabetizadores)”; “Alfabetização”; “Ensino de língua portuguesa”; “Ensino de literatura”; e “Literatura infantil e juvenil”. O método de investigação está centrado em abordagem histórica, com análise da configuração textual de fontes documentais.

3

(2)

paulista Theodoro de Moraes (1877-1956), conforme apresentada em dois livros didáticos de sua autoria: a cartilha Meu livro - primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico (1909), com sucessivas edições até a década de 1950, e o livro de leitura Meu livro - segundas leituras de accôrdo com o methodo analytico (191?), com sucessivas edições até a década de 1940, ambos publicados pela Typ. Augusto Siqueira até 1935 e, posteriormente, pela Companhia Editora Nacional.

Essa pesquisa está situada no 2º momento crucial4 da história da alfabetização no Brasil, que se caracterizou pela disputa entre os defensores do “novo e revolucionário método analítico”, que consistia em iniciar o ensino da leitura a partir do “todo” para depois proceder à análise em “partes”, e aqueles que continuavam defendendo os “tradicionais” métodos sintéticos, em especial o da silabação. Há também, nesse segundo momento, um embate entre os “mais modernos e modernos” defensores do método analítico, devido às diferentes formas de processuação desse método, decorrentes de se considerar como o “todo”, ou a palavra, ou a sentença, ou a “historieta”5.

Quanto aos procedimentos metodológicos, essa pesquisa, em andamento, está centrada numa abordagem histórica, no âmbito da pesquisa em educação, com base, especialmente, nas contribuições da “história cultural”, (CHARTIER, 1990, p.16-17). Articuladamente a essa opção, o método de análise adotado deriva do conceito de configuração textual proposto também por Mortatti (2000), que o define como o:

[...] conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto, os quais referem-se: às opções temático-conteudísticas (o quê?) e estruturais-formais (como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento histórico (quando?), movido por certas necessidades (por quê?) e propósitos (para quê?), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) e logrando determinado tipo de circulação, utilização e repercussão. (p.31).

4

Mortatti (2000), apresenta as disputas em torno dos métodos de ensino da leitura e escrita que ocorreram no estão de São Paulo, no período de 1876/1994, dividindo-o em quatro “momentos cruciais”, assim caracterizados pela autora:1º momento (1876 a 1890) – “metodização do ensino da leitura”; 2º

momento (1890 a meados da década de 1920) – “institucionalização do método analítico”; 3º momento

(meados da década de 1920 a final da década de 1970) – “alfabetização sob medida” e 4º momento (início da década de 1970 aos dias atuais) – “desmetodização da alfabetização”.

5 Esse termo foi utilizado no momento histórico de publicação da cartilha e livro de leitura, em análise, e

(3)

A seguir, seguem-se alguns aspectos já analisados da configuração textual dos dois livros didáticos em questão.

APRESENTAÇÃO DE THEODORO DE MORAES6

Theodoro Jeronymo Rodrigues de Moraes, filho de Antonio Augusto Rodrigues de Moraes e de Maria Eugenia de Vasconcelos de Moraes, nasceu no dia 18 de agosto de 1877, na cidade de São Paulo.

Iniciou sua carreira de professor público em Amparo-SP no ano de 1898, como adjunto no Grupo Escolar “Luís Leite”, onde lecionou até o ano de 1902. Nessa mesma cidade se casou e constituiu família, tendo tido oito filhos.

Em 1903, ingressou no curso de formação para professor, na Escola Normal “Caetano de Campos”, para quatro anos mais tarde se diplomar, juntamente com outros 50 normalistas, destacando-se entre os mais dedicados de sua turma.

Em 1907, foi nomeado diretor do Grupo Escolar “Coronel Joaquim de Sales”, em Rio Claro-SP, pelo então diretor Geral da Instrução Pública, Dr. Oscar Thompson, onde permaneceu por menos de um ano.

No ano seguinte, regressou à cidade de São Paulo, tendo sido nomeado professor na Escola Modelo Isolada do Largo do Arouche, onde permaneceu trabalhando por três anos. Em junho de 1908, Theodoro de Moraes foi nomeado também redator efetivo da Revista de Ensino, órgão da Associação Beneficente do Professorado Público Paulista7, função na qual permaneceu até dezembro de 1909.

Iniciou sua produção de livros didáticos, em 1909, com a publicação da cartilha Meu livro (primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico) e continuou escrevendo cartilhas e livros de leitura baseados no método analítico, durante as primeiras décadas do século XX.

De acordo com o site da E.E. “Theodoro de Moraes”, localizada na cidade de São Paulo (SP), esse professor foi, ainda, chefe do Departamento de Educação do Estado de São Paulo, tendo-se aposentado com 33 anos de serviços dedicados à educação. Theodoro de Moraes faleceu em 1956, aos 79 anos.

Ao longo de sua carreira no magistério, Theodoro de Moraes escreveu cartilhas para crianças, “adolescentes” e adultos baseados no método analítico, livros de leitura, artigos em revistas e jornais, documentos oficiais e livros.

6 As informações contidas neste tópico foram extraídas, especialmente, de: Moraes (1917), Barboza

2006), Revista Educação (MORAES, v.4, 1928) e do site http://www.eeproftheodorodemoraes.blogspot.com/

7

(4)

O instrumento de pesquisa, mencionado, está organizado em duas seções: a bibliografia de Theodoro de Moraes e a bibliografia sobre Theodoro de Moraes, as quais foram subdivididas em seções, de acordo com o tipo de texto. A bibliografia de Theodoro de Moraes contem 298 referencias de textos (o número das diferentes edições de um mesmo livro foi contabilizado nesse total de referências) escritos por esse autor, publicados entre 1902 e 1956. Essas referências foram organizadas em seções, de acordo com o tipo de texto, a saber: 2 livros; 1 folheto; 7 artigos em periódicos; 3 documentos oficiais; 3 textos de literatura infantil; 1 conferência; 1 palestra; 1 entrevista em jornal; livros didáticos (54 cartilhas para o ensino da leitura; 215 livros de leitura; 5 cadernos de caligrafia; 1 caderno de aritmética) e 4 traduções.

A bibliografia sobre Theodoro de Moraes contem a relação de 35 referências de textos escritos por outros autores, que tratam de aspectos da vida, atuação profissional e produção escrita desse professor, publicadas entre 1910 e 2006, respectivamente a data da publicação mais antiga e mais recente. As 35 referências foram organizadas em duas seções: 3 de textos que tratam especificamente de Theodoro de Moraes e sua produção escrita e 32 de textos que apenas mencionam esse professor, sendo 6 em livros; 6 em teses, dissertações e similares; 8 em artigos de periódicos, 1 em jornal, 4 em documentos oficiais, 1 em livro didático e 6 em sites na internet. Mediante o conjunto dessas informações pode se confirmar a importância de Theodoro de Moraes como autor de livros didáticos, no entanto ainda há poucos estudos específicos sobre a sua produção escrita.

APRESENTAÇÃO DOS DOIS LIVROS DIDÁTICOS EM ANÁLISE

A cartilha Meu livro: primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico, destinada aos alunos do primeiro ano do curso primário, foi publicada pela primeira vez em 1909, por Augusto Siqueira & Comp., com sucessivas edições pela mesma editora até 1935. A partir da 23ª edição, de 1936 até a última, a 70ª edição, de 1950, essa cartilha passou a ser publicada na Coleção Caetano de Campos, pela Companhia Editora Nacional, que comprou seus direitos de publicação.

Essa cartilha é composta por 60 lições, com 67 exercícios intercalados entre elas, apresenta também o total de 190 “estampas”8. Ao final da cartilha, da página 137 à 142, há instruções ao professores, sob o título “Direcção”, extraídas do folheto A leitura analytica, de Theodoro de Moraes, no qual apresenta instruções sobre como utilizar essa cartilha para se obter bom êxito no ensino da leitura.

Essa cartilha teve sucessivas edições, totalizando 220.000 mil exemplares publicados pela Companhia Editora Nacional, sem levar em conta as edições anteriores publicadas por Augusto Siqueira & Comp. e por Salles Oliveira.

8

(5)

O livro de leitura Meu livro: segundas leituras de accôrdo com o methodo analytico destinava-se ao ensino da leitura aos alunos do segundo ano escolar do curso primário. Apesar de a primeira edição de Meu livro (segundas leituras) não ter sido localizada, pode-se inferir que a primeira edição desse livro de leitura foi publicada no final da década de 1910, já que a 5ª edição é de 1931, tendo sido publicado por Augusto Siqueira & Comp., até a 9ª edição, de 1935. A partir da 10ª edição, de 1936, até a última localizada, a 38ª, de 1944, esse livro de leitura passou a ser publicado pela Companhia Editora Nacional, integrando também a Coleção Caetano de Campos.

É composto por 61 “historietas”, fábulas e contos morais. Ao final de cada lição, são apresentados exercícios de linguagem escrita, totalizando 81 ao longo do livro de leitura e apresenta 136 estampas. Da página 167 a 195 é apresentado um “léxico”, para que as crianças busquem a compreensão do significado de palavras e expressões desconhecidas por elas em cada lição. Ao final, da página 196 a 200 há instruções para os professores sob o título “Indicação pratica”.

O livro de leitura Meu livro (segundas leituras) teve o total de 135.000 exemplares publicados, também sem levar em conta as edições anteriores publicadas por Augusto Siqueira & Comp.

Mediante o conjunto de informações obtidas até o momento, pode-se inferir que tanto a cartilha Meu livro: primeiras leituras quanto o livro de leitura Meu livro: segundas leituras, ambos de Theodoro de Moraes, foram amplamente utilizadas para o ensino da leitura e da escrita, por mais de quatro décadas e, devido à alta tiragem dos exemplares para a época de sua circulação, certamente foram também utilizados em escolas de outros estados do país.

OS DOIS LIVROS DIDÁTICOS NO “SEGUNDO MOMENTO”

O segundo momento crucial no movimento de constituição da alfabetização como prática escolar e objeto de estudo no Brasil, proposto por Mortatti (2000), teve início em 1890 e se estendeu até meados de 1920. Esse foi um momento tanto de intenso combate ao uso do método silábico e do método da soletração para o ensino da leitura, considerados como “tradicionais”, quanto de disputa entre os “mais modernos” e “modernos” defensores do método analítico, “[...] pela hegemonia de tematizações, normatizações e concretizações relativamente ao ensino da leitura, da qual resulta a fundação de uma (nova) tradição” (MORTATTI, 2000, p. 78).

Segundo essa pesquisadora, a origem dessa disputa está relacionada com a reforma da instrução pública paulista, iniciada em 1890, pelo Dr. Antonio de Caetano de Campos que:

(6)

na educação da criança e delineavam a hegemonia dos métodos intuitivos e analíticos para o ensino de todas as matérias escolares, especialmente a leitura. (MORTATTI, 2000a, p.78).

Os principais defensores e propulsionadores do método analítico integravam uma geração de professores normalistas que:

[...] após a Proclamação da República, passa - em substituição ao bacharel em Direito - a ocupar cargos na administração educacional, liderar movimentos associativos ao magistério, assessorar autoridades educacionais e produzir material didático e de divulgação das novas idéias, especialmente no que diz respeito ao ensino da leitura. (MORTATTI, 2000a, p.78).

A atuação desses normalistas engendrou uma das principais características desse segundo momento: a disputa entre os “mais modernos e modernos”, em oposição à disputa no momento anterior, dos “modernos e antigos”, em que:

[...] os grupos de normalistas que se foram formando em torno dos propugnadores da ‘nova bussola’ passaram, no entanto, a produzir apropriações diferenciadas, gerando-se as disputas em torno do melhor modo de se processar o método analítico para o ensino da leitura. (MORTATTI, 2000a, p.82).

Segundo Mortatti (2000), a utilização mais sistemática do método analítico para o ensino da leitura teve início entre o final da década de 1890 e o início da década de 1900, quando começaram a ser publicadas as primeiras cartilhas escritas por brasileiros e afinadas com esse novo método para o ensino da leitura.

No entanto, o método analítico para o ensino da leitura passou a ser indicado oficialmente somente durante a primeira gestão de Oscar Thompson, na Diretoria da Instrução Pública (1909-1910), tendo sido “[...] adotado em grupos escolares da capital e do interior do Estado, como objetivo de uniformizar esse ensino e consolidar o modelo considerado cientificamente verdadeiro”. (MORTATTI, 2000, p.83).

(7)

Ao iniciarmos o magisterio, não era ainda conhecido, em nosso meio escolar, o chamado METHODO ANALYTICO para o ensino da leitura aos principiantes. Mas, já éramos inspector districtal do ensino, quando, pela primeira vez, a convite do Sr. Director Geral da Instrcção Publica, fomos assistir ás aulas do operoso prof. Theodoro de Moraes, então detentor dos segredos do novo caminho a seguir.

Entrávamos, então, durante os trabalhos de inspecção, a observar como collegas competentes faziam a applicação do mesmo ás suas classes. Depois, começámos a intervir directamente nos exercicios com muito interesse e assiduidade. (TOLOSA, 1930, p.289).

A cartilha Meu livro foi publicada a partir de um plano adotado por Oscar Thompson e já praticado pelo professor Theodoro de Moraes; e essa cartilha foi indicada e aprovada para a adoção nas escolas públicas do Estado de São Paulo, pois atendia à:

[...] necessidade da organização de uma Cartilha, accomodando o methodo analytico ás exigencias da lingua portugueza, o professor Theodoro de Moraes acaba de publicar as primeiras leituras de accordo com o referido methodo, realizando fielmente as condiçoes exigidas para o ensino racional da leitura aos analphabetos. Esse trabalho, que se intitula “Meu livro”, é baseado no plano que adotei e que tem sido posto em pratica com pleno sucesso por aquelle professor na Escola Modelo Isolada annexa à Normal e por alguns grupos desta Capital. Em vista do que acabo de expor, venho solicitar que o trabalho “Meu livro” do referido professor seja aprovado pelo Governo e adotado nas escolas publicas. (THOMPSON apud MORTATTI, 2000, p. 98).

(8)

O MÉTODO ANALÍTICO CONCRETIZADO EM MEU LIVRO

Nesse momento histórico, o método analítico inicia o ensino da leitura “[...] com unidades completas de linguagem, para posterior divisão em partes ou elementos menores [...]” (MORTATTI, 2004, p.123). Há também uma subdivisão do método analítico, de acordo com os processos utilizados: método da palavração, método da sentenciação e método da “historieta” ou de contos.

A cartilha Meu livro (1909) foi tida como o melhor modelo de processuação do ensino da leitura pelo método analítico e foi seguida por muitos professores do ensino primário:

Nos primeiros tempos, fazíamos seguida, com toda a fidelidade, a única cartilha analytica existente - O MEU LIVRO - da lavra do prof. Theod. de Moraes, pois, a pouca pratica do processo não nos permitia qualquer iniciativa em sua aplicação.9 (TOLOSA, 1930, p.290, grifos do autor). O método analítico apresentado por Theodoro de Moraes, na cartilha Meu livro, propunha o ensino da leitura para crianças do primeiro ano do curso primário, a partir do “todo” - a historieta - para a posterior divisão em “partes”.

Nas lições dessa cartilha, Theodoro de Moraes utiliza historietas compostas por sentenças simples, com a finalidade de alcançar o pensamento infantil, visto que:

As sentenças serão usadas como unidades. A criança domina mais facilmente a sentença que a palavra; esta exprime uma idéia dispersa, isolada; aquella é um feixe de idéias coordenadas: é a fórma tangivel do pensamento. (MORAES, 1913, p.11).

Alguns propugnadores do método analítico, inclusive o professor Theodoro de Moraes, defendiam o uso da sentença no ensino da leitura às crianças, pois concebiam “[...] que o aluno, à vista da grafia de uma sentença, tenha uma ‘unidade de percepção’, sem se deter sobre as partes componentes e sem saltar de uma palavra a outra [...]” (MORTATTI, 2000, p.186), ou seja, dominaria a sentença “por um só golpe de vista”.

Uma das críticas de Theodoro de Moraes quanto ao uso dos métodos sintéticos para o ensino da leitura, é que a forma fragmentada e monótona com que esse método era utilizado contrariava a natureza da criança.

Por que apagar-lhe o interesse e estragar-lhe o praser da leitura pelo monótono psittacismo de syllabas inexpressivas e sentenças anti-melodicas, percicientes, ingratas ao ouvido e ao intendimento, quando ella [a criança] possue a necessaria aptidão para lêr proposições bem simples, onde se engaste um pensamento que lhe seja familiar? (MORAES, 1913, p.5).

9

(9)

Segundo as instruções apresentadas ao final da cartilha Meu Livro (primeiras Leituras), o professor deve seguir três passos fundamentais para o ensino da leitura:

1º) Palestras com os alumnos sobre o texto das doze primeiras lições; 2º) leitura das doze primeiras lições no quadro parietal; 3º) utilização do livro, comprehendendo: a) leitura da sentença; b) fragmentação da sentença; c) rimas e palavras similhantes. (MORAES, 1920, p.137). O livro de leitura, Meu livro (segundas leituras), segue basicamente as mesmas estruturaras formais das lições da cartilha (estampa, historieta e exercícios) e os mesmos passos para o ensino da leitura proposto por Theodoro de Moraes, porém o grau de dificuldade da leitura vai aumentando gradualmente, “do começo as sentenças ainda são curtas; do meio do livro em diante, de isoladas que eram começam a apparecer reunidas em periodos fáceis” (MORAES, 1931, p.197).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da configuração textual da cartilha e do livro de leitura, Meu livro, tem permitido avançar na compreensão dos aspectos constitutivos do sentido desses livros didáticos, pois não se limita à análise de seus aspectos temático-conteudísticos e estruturais-formais, mas incide sobre os diferentes aspectos: formação e atuação profissional do autor; momento histórico e “lugar social” em que estão inseridos; o público a que se destinam; os objetivos e necessidades a que respondem; e sua relação com o método analítico proposto por educadores da época em foram publicados.

(10)

REFERÊNCIAS

a) das fontes documentais citadas

MORAES, Theodoro de. Meu livro - primeiras leituras de accôrdo com o methodo analytico. 9.ed. São Paulo: Typ. Augusto Siqueira & Comp., 1920. 142 p.

MORAES, Theodoro de. Meu livro - segundas leituras de accôrdo com o methodo analytico 5.ed. São Paulo: Typ. Augusto Siqueira & Comp., 1931. 202 p.

b) da bibliografia citada

BARBOZA, Andressa Cristina Coutinho. Cartilha do Operário: alfabetização de adolescentes e adultos em São Paulo (1920-1930). 2006. 217f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2006.

CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Trad. M. Manuela Galhardo. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.

MORAES, Theodoro. A leitura analytica. São Paulo: Typographia do “Diario Official”, 1913.

______. Sansões. São Paulo: Pocai, 1917.

______ Escolas Normaes Livres. Educação, São Paulo, v. 4, n. 2/ 3, agos/ set. 1928, 148-153.

MORTATTI, Maria do Rosário Mortatti. Os sentidos da alfabetização: (São Paulo/1876-1994). São Paulo: Ed. UNESP, 2000.

______. Educação e letramento. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.

______. Notas sobre linguagem, texto e pesquisa histórica em educação. História da educação. Pelotas, v.6, p. 69-77, out. 1999.

PEREIRA, Bárbara Cortella. Um estudo sobre Meu livro (1909), de Theodoro de Moraes. 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2006.

Referências

Documentos relacionados

Trata-se de ação cautelar fiscal movida pela Fazenda Estadual contra LAERTE CODONHO, ECOSERV PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE MÃO DE OBRA LTDA, EMPARE EMPRESA PAULISTA DE

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Darcy Ribeiro  Prédio 5  CEP 39401-089 Montes Claros/MG  Fone: (38)3229.8246e-mail: concurso.docente@unimontes.br.

Box-plot dos valores de nitrogênio orgânico, íon amônio, nitrito e nitrato obtidos para os pontos P1(cinquenta metros a montante do ponto de descarga), P2 (descarga do

Considerando-se que o trabalho de Coordenação Pedagógica revela complexidades pró- prias que, num contexto prático, posiciona o profissional perante a validação de registros de

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Este estudo apresenta como tema central a análise sobre os processos de inclusão social de jovens e adultos com deficiência, alunos da APAE , assim, percorrendo

Desse modo, tomando como base a estrutura organizacional implantada nas SREs do Estado de Minas Gerais, com a criação da Diretoria de Pessoal, esta pesquisa permitirá