• Nenhum resultado encontrado

alunopaciente: análise de uma experiência prática da disciplina enfermagem psiquiátrica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "alunopaciente: análise de uma experiência prática da disciplina enfermagem psiquiátrica"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

Relatei aqui uma vivência que não terminou, mas que já impri-miu um caráter de NOVO no Curso de Pedagogia da UFC. (*).

Mas, ainda na muito o que fazer ...

VII. BIBLIOGRAFIA

I

1 . Documento da Proposta de Reforrnulação do Currículo de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, Faculdade de Educação, 1986. 2. FERNANDES, Joaquim Fernando Pimentel - Pressupostos para uma proposta de Refomulação Curricular numa Instituição de Ensino Superior. IN: Revista Educação em Debate. n.· 10. Fortaleza, Edições UFC 2.-semestre de 1985.

:3.

MOULIN, Nelly - Níveis de decisão na elaboração do currículo. IN;

Revista Temas de Educação. n," 2. Revista do Curso de Mestrado em Educação UERJ. Rio de Janeiro, produção CEP/UERJ, Janeiro/abril 1987.

4 SILVA, [efferson Ildefonso - Ação Conjunta na formulação de pro-postas de formação do Educador. IN: Caderno do CEDES. n," 2. A Formação do Educador em Debate. Cortez, Editores Associados/CEDES Ano I, 1981. pp. 6 a 8.

(*) Esta vivência de Reformulacão Curricular abraneeu. até agora as se-guintes gestões de Coordenação do Curso de Pedagogia da UFC: 1983-1984 - Profa. Rosernary Conti Furtado

1985-1986 - Profa. Maria Nobre Damasceno.

1987-1988 - Profa. Maria Estrêla Araújo Fernandes. 1989-1990 - Profa. Maria de Lourdes Peixoto Brandão.

132 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989HGFEDCBA

R E L A C IO N A M E N T O A L U N O - P A C IE N T E : A n á lis e d e u m a e x p e r iê n c ia p r á t ic a d a d is c ip lin a

E n f e r m a g e m P s iq u iá t r ic a

*

Raimunda Nobre Damasceno

**

A escolha do tema tem muito a ver com a minha prática pro-fissional, pois desde 1980 faço parte do corpo docente da disciplina Enfermagem Psiquiátrica e como tal sentimos a necessidade de ana-lisar mais criticamente essa experiência que vem sendo desenvolvida desde essa época. A escolha por essa experiência deu-se por ter sido essa a que tem sobrevivido às dificuldades da política de saúde, aos entraves das instituições prestadoras de assistência e às próprias di-ficuldades dos alunos em trabalhar com essa clientela.

Diferentemente de tentativas anteriores, esse estudo não enve-reda unicamente pela crítica institucional, nem tampouco pela aná-lise da conjuntura sócio-política que, em grande parte, a determina. Centra-se sobremodo na análise da experiência prática.

Não se pretende afirmar, CQm esta opção, que este é o cami-nho mais propício às mudanças. Ele é talvez o que melhor condi-ções de execução oferece já que, na sua modéstia de dissertação de mestra do não tem a pretensão de mexer com estruturas tão sólidas. Não se pode negar que esta decisão se inspira numa certa preocupa-ção ética. Aquela que sugere que, em matéria de crítica, se comece

pela autocrítica.

-Coloca-se ao longo da problematização do estudo algumas re-flexões sobre a relação saúde mental e orgânica na sociedade atual,

,. Tese submetida como pré-requisito à obtenção de grau de Mestre-Mes-trado em Educação - Universidade Federal do Ceará Maio/1989. n Professor adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade

Federal do Ceará.

(2)

compara-se a relação existente entre a assistência psiquiátrica e de saúde mental dentro da totalidade da assistência à saúde. Conside-rada aqui como um dos eixos orientadores das políticas sociais, arti-culada às políticas econômicas. Esclarece-se como tem sido tratada a questão saúde no Brasil atrelada às transformações sociais ocorri-das em função do desenvolvimento econômico e político.

Depreende-se que a depreciação. quanto à questão saúde é cla-ramente uma decorrência da base econômica; simplificam-se as si-tuações de saúde mental a ponto de colocá-Ias como mais uma das complicações orgânicas. FOlJCAULT critica esta forma de lidar com a saude mental uefendendo ser impossível transpor os esquemas de abstrações, os critérios de normalidade ou a definição do que seja doença mental ou orgânica, sem levar em consideração outras va-riantes que interagem com o ser humano dentro do seu contexto sócio-político e econômico.

Para uma melhor compreensão das relações saúde orgânica-saúde mental leva-se em conta nas relações parte-todo, o homem e a realidade numa perspectiva de unicidade e totalidade, respaldada por KOSIK, MARX t: GRAMSCI.

Essa concepção é fruto de uma compreensão dialética do ho-mem, entendido, como um ser concreto, que age sobre si mesmo e se relaciona de mod.o ativo com o meio onde se encontra. O que significa dizer que a própria natureza humana não é dada, mas é uma conquista do homem, uma resultante do conjunto das relações sociais que o homem concreto vivencia na sua interação com os ou-tros homens e com a natureza. Assim sendo, há que se ver o ho-mem como um ser de relações, que se modifica na medida que trans-forma e modifica todo o conjunto das relações do qual ele é o ponto central.

Pode ser a prática de enfermagem integrante do sistema de saú-de e, por conseguinte. como qualquer outra prática assistencialista, historicamente determinada através do processo de organização ma-terial, bem como da dinâmica das relações sócio-política e econô-. mica dessa sociedadeeconô-. Sociedade onde leitos hospitalares são

ocupa-dos não só por portadores de doenças mentais mas, na maioria, por aquelas cuja doença tem raízes sociais, o que coloca o enfermeiro numa situação de impotência, que extrapola seus limites de ação, . tendo que submeter-se a tais desafios fora de sua competência.

A complexidade do problema se avoluma quando os cursos de enfermagem ingenuamente acreditam serem capazes de, com simples mudança curricular, reverter a situação.

134 Educação em Debate, Fort. 17_18jan./dez. 1989

Pela dificuldade em romper com essa realidade, opta-se pela crítica da experiência, sem no entanto deixar de se considerar tal

realidade. Objetiva-se pois nesse estudo:

_ analisar a experiência de relacionamento terapêutico aluno-paciente, desenvolvida na disciplina Enfermagem Psiquiátrica;

_ criticar a experiência de relacionamento, utilizando-se uma abordagem dialético-analítica do real;

_ propor medidas alternativas pertinentes para elevar a prá-tica desenvolvida pela disciplina Enfermagem Psiquiátrica.

_ OS CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA -Essa pesquisa é do tipo descrltivo-explicativa e, para operacio-nalizá-la utiliza-se de uma abordagem dialético-analítica do real, buscada nos antipsiquiatras e nos marxistas, sem fechar-se contudo para trabalhos não necessariamente dialéticos, cuja seriedade parece importante resgatar.

A metodologia crítico-dialética, pode aqui ser entendida como um instrumento apropriado na apreensão dos fatos sociais e sobre-modo, na análise interpretativa destes, com vistas a uma contínua

transformação da realidade estudada.

As informações são provenientes do estudo de vinte e sete re-latórios escritos pelos alunos durante a prática da disciplina na épo-ca em que foi introduzida a síntese da interação, permitindo assim, observar a postura do aluno e paciente durante a interação.

A instituição onde se processou a experiência, é uma institui-ção privada, localizada em Fortaleza-CE, com capacidade para 200 leitos, sendo 188 credenciados pelo INAMPS, foram escolhidos dois postos, um misto e o outro exclusivamente feminino.

Os relatórios analisados retratam os resultados da experiência, no entanto, não podemos afirmar que neles se encontra escrito .exa-tamente o que se passou na interação .

Acredita-se que os fatores determinantes das deformações no relato são os mesmos que determinam a própria dificuldade da es-cuta e, assim, na impossibilidade de querer saber exatamente o que aconteceu centra-se a atenção em compreender os fatores que se in-terpõem à escuta.

A análise que se elabora aqui é mais uma inspiração, do que um modelo. Quando isso for didático, far-se-á apelo a freqüências estatísticas. Noutros momentos, porém, e com mais freqüência, a

(3)

compara-se a relação existente entre a assistência psiquiátrica e de saúde mental dentro da totalidade da assistência à saúde. Conside-rada aqui como um dos eixos orientadores das políticas sociais, arti-culada às políticas econômicas. Esclarece-se como tem sido tratada a questão saúde no Brasil atrelada às transformações sociais ocorri-das em função do desenvolvimento econômico e político.

Depreende-se que a depreciação, quanto à questão saúde é cla-ramente uma decorrência da base econômica; simplificam-se as si-tuações de saúde mental a ponto de colocá-Ias como mais uma das complicações orgânicas. FOlJCAlJLT critica esta forma de lidar com a saude mental defendendo ser impossível transpor os esquemas de abstrações, os critérios de normalidade ou a definição do que seja doença mental ou orgânica, sem levar em consideração outras va-riantes que interagem com o ser humano dentro do seu contexto sócio-político e econômico.

Para uma melhor compreensão das relações saúde orgânica-saúde mental leva-se em conta nas relações parte-todo, o homem e a realidade numa perspectiva de unicidade e totalidade, respaldada por KOSIK, MARX t: GRAMSCI.

Essa concepção é fruto de uma compreensão dialética do ho-mem, entendido, como um ser concreto, que age sobre si mesmo e se relaciona de modo ativo com o meio onde se encontra. O que significa dizer que a própria natureza humana não é dada, mas é uma conquista do homem, uma resultante do conjunto das relações sociais que o homem concreto vivencia na sua interação com os ou-tros homens e com a natureza. Assim sendo, há que se ver o ho-mem como um ser de relações, que se modifica na medida que trans-forma e modifica todo o conjunto das relações do qual ele é o ponto central.

Pode ser a prática de enfermagem integrante do sistema de saú-de e, por conseguinte. como qualquer outra prática assistencialista, historicamente determinada através do processo de organização ma-terial, bem como da dinâmica das relações sócio-política e econô-. mica dessa sociedadeeconô-. Sociedade onde leitos hospitalares são ocupa-dos não só por portadores de doenças mentais mas, na maioria, por aquelas cuja doença tem raízes sociais. o que coloca o enfermeiro numa situação de impotência, que extrapola seus limites de ação, tendo que submeter-se a tais desafios fora de sua competência.

A complexidade do problema se avoluma quando os cursos de enfermagem ingenuamente acreditam serem capazes de, com simples mudança curricular, reverter a situação.

134 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

Pela dificuldade em romper com essa realidade, opta-se pela crítica da experiência, sem no entanto deixar de se considerar tal realidade. Objetiva-se pois nesse estudo:

_ analisar a experiência de relacionamento terapêutico aluno-paciente, desenvolvida na disciplina Enfermagem Psiquiátrica;

_ criticar a experiência de relacionamento, utilizando-se uma abordagem dialético-analítica do real;

_ propor medidas alternativas pertinentes para elevar a prá-tica desenvolvida pela disciplina Enfermagem Psiquiátrica.

_ OS CAMINHOS METODOLOGICOS DA PESQUISA -Essa pesquisa é do tipo descritivo-explicativa e, para operacio-nalizá-la utiliza-se de uma abordagem dialético-analítica do real, buscada nos antipsiquiatras e nos marxistas, sem fechar-se contudo para trabalhos não necessariamente dialéticos, cuja seriedade parece importante resgatar.

A metodologia crítico-dialética, pode aqui ser entendida como um instrumento apropriado na apreensão dos fatos sociais e sobre-modo, na análise interpretativa destes, com vistas a uma contínua transformação da realidade estudada.

As informações são provenientes do estudo de vinte e sete re-latórios escritos pelos alunos durante a prática da disciplina na épo-ca em que foi introduzida a síntese da interação, permitindo assim, observar a postura do aluno e paciente durante a interação.

A instituição onde se processou a experiência, é uma institui-ção privada, localizada em Fortaleza-CE, com capacidade para 200 leitos, sendo 188 credenciados pelo INAMPS, foram escolhidos dois postos, um misto e o outro exclusivamente feminino.

Os relatórios analisados retratam os resultados da experiência, no entanto, não podemos afirmar que neles se encontra escrito .exa-tamente o que se passou na interaçâo .

Acredita-se que os fatores determinantes das deformações no relato são os mesmos que determinam a própria dificuldade da es-cuta e, assim, na impossibilidade de querer saber exatamente o que aconteceu centra-se a atenção em compreender os fatores que se in-terpõem à escuta.

A análise que se elabora aqui é mais uma inspiração, do que um modelo. Quando isso for didático, far-se-á apelo a freqüências estatísticas. Noutros momentos, porém, e com mais freqüência, a

(4)

cupação em se contextualizar essa prática situando-a no processo histórico e no próprio currículo do curso de enfermagem da UFC. Historia-se as origens da enfermagem como profissão paralela ao con-texto sócio-político e econômico brasileiro. Articula-se pois o seu desenvolvimento ao processo de transformação da sociedade, toman-do como eixo central a economia, a política e as transformações so-ciais presentes ao desenvolvimento do capitalismo. Examina-se a im-plantação do curso procurando vincular sua criação e

funcionamen-11) a política educacional, notadamente, no que se refere a LEI ....

5540/68 - Lei da Reforma Universitária.

Discute-se o processo de formação do enfermeiro dentro da gra-de curricuiar. Busca-se uma análise da disciplina Enfermagem Psi-quiátrica dentro da situação de assistência à saúde mental e a sua posição na grade curricular do curso. Descreve-se as várias tenta-tivas e ínvestidas de reverter a prática para uma assistência preven-tiva e a sua realidade, uma assistência predominantemente curativa-hospitalar.

RELACIONAMENTO TERAP~UTICO ATIVIDADES PRELIMINARES

Trata-se aqui dos aspectos iniciais do relacionamento quais se-jam a escolha do paciente, a explícitação dos objetivos do trabalho, as condições afetivas do aluno e paciente e o setting onde se dá as interações.

Quanto a escola permite ao aluno escolher um entre os cinco pacientes pré-estabelecidos. Deverá ele prestar assistência durante os vinte e quatro dias de prática. A escolha deu-se entre pacientes neu-róticos e psicóticos, embora contrariando a fundamentação buscada na corrente antipsiquiatra que não tipifica as pessoas, mas como a realidade hospitalar em que trabalhamos usa essa tipicidade, tive-mos que partir dela.

Considerando o universo institucional houve uma discreta pre-ferência por pacientes do sexo masculino. Já quanto ao diagnóstico a preferência voltou-se para os pacientes psic6ticos, apesar de uma escolha significativa por pacientes neuróticos.

No tocante a explicitação dos objetivos do trabalho, os alunos são orientados pelos docentes da disciplina a explicitar para o ente os objetivos do trabalho, no entanto, o entendimento do paci-ente acerca dos mesmos, dá-se no sentido de percebê-Ia mais como uma tarefa acadêmica (trabalho escolar do aluno), do que uma ati-vidade terapêutica.

136 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

No entanto, os resultados contrariam essa percepção do pacien-te, pois, 43

%

dos alunos ao explicitar os objetivos, os fizeram nos dois sentidos - tarefa pedagógica e ajuda terapêutica. 24

%,

aju-dar o paciente - ou seja ajuda terapêutica, só 6

%

referiram-se a ajuda pedagógica - tarefa acadêmica. 27

%

não explicitaram.

O aluno não deixa claro ao explicitar os objetivos do traba-lho as condições pelas quais decorrem o processo terapêutica, pois além da finalidade terapêutica (Afirmada de modo pouco ascertívo) haveria que fazer uma espécie de contrato: local, hora, condições da entrevista. .. Haveria que se perguntar também se não seria -me-lhor deixar claro que as entrevistas não se destinam a resolver pro-blemas concretos, tipo alta, saída, coisas de que o serviço social se encarregaria.

Nesse sentido. há que se pensar em apresentar para o paciente os objetivos do trabalho em termos de uma ajuda terapêutica. Por razões éticas pode ser aconselhável que o aluno explicite a sua con-dição de aluno-enfermeiro. A partir da apresentação, enquanto alu-no concludente, algo pode ser imaginado pelo paciente. Deixe-o imaginar e esteja disponível para suas fantasias.

Quanto as condições afetivas do aluno e paciente, os resulta-dos do estudo revelam que o aluno percebeu-se mais ansioso do que o paciente em 58% contra 18%. Esta evidência confirma-se quan-do a atribuição é de "calmo": 73% quan-dos pacientes contra 27% quan-dos alunos. Vale salientar a existência de um efeito de interação: os alu-nos que se perceberam calmos perceberam unanimemente seus pa-cientes igualmente calmos. O inverso também ocorreu embora em menor índice. o que nos faz pensar que alunos ansiosos tendem a pro-vocar ansiedade em seus pacientes.

A emergência de ansiedade na assistência do doente mental é percebida pelos alunos como o medo do desconhecido, por tratar-se

da primeira experiência com essa clientela; também por tratar-se de uma tarefa acadêmica - sentido de avaliação. Há pesquisas que comprovam tal fato, por mais que o docente se mostre neutro, a si-tuação relacional aluno-docente quando está em jogo avaliação ocor-re ansiedade no aluno.

(5)

cupação em se contextualizar essa prática situando-a no processo histórico e no próprio currículo do curso de enfermagem da UFC. Histeria-se as origens da enfermagem como profissão paralela ao con-texto sócio-político e econômico brasileiro. Articula-se pois o seu desenvolvimento ao processo de transformação da sociedade, toman-do como eixo central a economia, a política e as transformações so-ciais presentes ao desenvolvimento do capitalismo _ Examina-se a im-plantação do curso procurando vincular sua criação e

funcionamen-li) a política educacional, notadamente, no que se refere a LEI ... _

5540/68 - Lei da Reforma Universitária.

Discute-se o processo de formação do enfermeiro dentro da gra-de curricuíar. Busca-se uma análise da disciplina Enfermagem Psi-quiátrica dentro da situação de assistência à saúde mental e a sua posição na grade curricular do curso. Descreve-se as várias tenta-tivas e investidas de reverter a prática para uma assistência preven-tiva e a sua realidade, uma assistência predominantemente curativa-hospitalar.

RELACIONAMENTO TERAP1!UTICO ATIVIDADES PRELIMINARES

Trata-se aqui dos aspectos iniciais do relacionamento quais se-jam a escolha do paciente, a explicitação dos objetivos do trabalho, as condições afetivas do aluno e paciente e o setting onde se dá as interações _

Quanto a escola permite ao aluno escolher um entre os cinco pacientes pré-estabelecidos , Deverá ele prestar assistência durante os vinte e quatro dias de prática _ A escolha deu-se entre pacientes neu-róticos e psicóticos, embora contrariando a fundamentação buscada na corrente antipsiquiatra que não tipifica as pessoas, mas como a realidade hospitalar em que trabalhamos usa essa tipicidade, tive-mos que partir dela.

Considerando o universo institucional houve uma discreta pre-ferência por pacientes do sexo masculino. Já quanto ao diagnóstico a preferência voltou-se para os pacientes psicõticos, apesar de uma escolha significativa por pacientes neuróticos.

No tocante a explicitação dos objetivos do trabalho, os alunos são orientados pelos docentes da disciplina a explicitar para o ente os objetivos do trabalho, no entanto, o entendimento do paci-ente acerca dos mesmos, dá-se no sentido de percebê-lo mais como uma tarefa acadêmica (trabalho escolar do aluno), do que uma ati-vidade terapêutica.

136 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

No entanto, os resultados contrariam essa percepção do pacien-te, pois, 43

%

dos alunos ao explicitar os objetivos, os fizeram nos dois sentidos - tarefa pedagógica e ajuda terapêutica. 24

%,

aju-dar o paciente - ou seja ajuda terapêutica, só 6

%

referiram-se a ajuda pedagógica - tarefa acadêmica. 27

%

não explicitaram.

O aluno não deixa claro ao explicitar os objetivos do traba-lho as condições pelas quais decorrem o processo terapêutico, pois além da finalidade terapêutica (Afirmada de modo pouco ascertivo) haveria que fazer uma espécie de contrato: local, hora, condições da entrevista. .. Haveria que se perguntar também se não seria -me-lhor deixar claro que as entrevistas não se destinam a resolver pro-blemas concretos, tipo alta, saída, coisas de que o serviço social se

encarregaria.

Nesse sentido. há que se pensar em apresentar para o paciente os objetivos do trabalho em termos de uma ajuda terapêutica. Por razões éticas pode ser aconselhável que o aluno explicite a sua con-dição de aluno-enfermeiro. A partir da apresentação, enquanto alu-no concludente, algo pode ser imaginado pelo paciente. Deixe-o imaginar e esteja disponível para suas fantasias.

Quanto as condições afetivas do aluno e paciente, os resulta-dos do estudo revelam que o aluno percebeu-se mais ansioso do que

°

paciente em 58% contra 18%. Esta evidência confirma-se quan-do a atribuição é de "calmo": 73% quan-dos pacientes contra 27% quan-dos alunos. Vale salientar a existência de um efeito de interação: os alu-nos que se perceberam calmos perceberam unanimemente seus pa-cientes igualmente calmos. O inverso também ocorreu embora em menor índice. o que nos faz pensar que alunos ansiosos tendem a pro-vocar ansiedade em seus pacientes.

A emergência de ansiedade na assistência do doente mental é percebida pelos alunos como o medo do desconhecido, por tratar-se

da primeira experiência com essa clientela; também por tratar-se de uma tarefa acadêmica - sentido de avaliação. Há pesquisas que comprovam tal fato, por mais que o docente se mostre neutro, a si-tuação relacional aluno-docente quando está em jogo avaliação ocor-re ansiedade no aluno.

(6)

I

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa dispersão do paciente e em contrapartida pode vir a contribuir para elevar a ansiedade do aluno.

Portanto há uma diferença de setting terapêutico ao utilizado nessa experiência, local de socialização e não de uma terapia indi-vidualizada.

AS QUEIXAS DO PACIENTE DURANTE O PROCESSO INTERA TIVO

Trata-se aqui das queixas do paciente em função de quatro mo-dalidades: saúde física, saúde mental, ligadas à instituição e ao pro-cesso interativo.

Ao contrário das doenças orgânicas, sabe-se que definir a do-ença e a saúde psicológica é algo extremamente delicado e peculiar. Assim, do mesmo modo que se utiliza os mesmos métodos de diag-nóstico e tratamento para ambas as situações, deveria também se utilizar as mesmas prioridades de assistência e as mesmas preocu-pações na prevenção, o que não tem ocorrido.

Os profissionais de saúde e, particularmente, o enfermeiro é formado dentro dessa visão, onde se adotam os mesmos métodos de diagnóstico e tratamento para as doenças do homem independente de ser orgânica ou mental.

Revelam os resultados do estudo, que, as queixas quanto ao processo interativo e quanto à instituição foram insignificantes com-paradas às queixas referente à saúde mental e física.

A maior surpresa é quanto as queixas referentes à saúde física, bastante elevado. No entanto, é sabido que pacientes de baixa ren-da tendem a elaborar sua sintomatologia em termos de queixas so-máticas, onde por vezes fica difícil fazer uma diferenciação entre histeria, hipocondria e sornarização, Além de que, freqüentemente esses pacientes têm uma saúde precária e o imaginário de um qua-dro de doença se mistura e se confunde com a realidade de quadros patol6gicos orgânicos. Com frequência há ainda a má nutricão alia-da às precárias condições de higiene, somando-se e articulando-se com problemas psíquicos. Tais elementos tornam extremamente di-fícil caracterizar a natureza dos sintomas e especificar uma clara etiologia e, conseqüentemente, uma proposta terapêutica.

Apesar de tudo isto há que se perguntar se o grande número de queixas físicas não é função do direcionamento de escuta feita pejo aluno que, ao longo do seu curso, habilitou-se em detectar ouei-xas orgânicas com muito mais freqüência do que queixas psicoló-gicas. Constata-se, assim, que para cada queixa física há uma res-posta precisa e específica.

138 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

Por sua vez, o aluno quando frente às queixas diversificadas de um paciente; não dá respostas imediatas e específicas, conduz pro-vavelmente a este paciente e se perguntar pelo sentido de suas quei-xas e passe a indagar-se pela sua posição, seu papel na família e na sociedade em geral. enquanto membros de uma classe social deter-minada. O procedimento terapêutica vigente tende, ao contrário, a eliminar qualquer questionamento, por parte do paciente onde, a cada queixa corresponde uma resposta técnica e pontual. O sujeito é como compartimentalizado entre suas queixas e sua anatomia pro-blemática. Trata-se de um claro processo de alienação.

O processo de alienação é algo extensivo a todos os brasileiros que, amputados de seus direitos, seus anseias, suas lutas, calam-se oprimidos, marcham no dia-a-dia de suas vidas, dentro do sistema vigente, que não os aceita de modo diferente.

Esta situação de hipertrofia opressiva aliena mais ainda o ho-mem, que vê o seu país anos a fio a caminhar pelo autoritarismo desde o Estado Novo, até o seu pico com o regime de 64, com bre-ves momentos de distensão da sociedade civil. O autoritarismo po-lítico não permitia que fossem vislumbradas, questionadas e defendi-das as questões sociais e políticas sob pena do seu defensor ser pu-nido. Essa situação assemelha-se à questão do doente mental, visto como um ser compartimentalizado, onde a fala do louco não é vista como comunicação significativa ou reivindicatória e sim como puro material clínico que se superpõe para o diagnóstico.

Busca-se compreender o processo de alienação fundamentando-o em MARX, que o explica a partir de sua relação direta com o trabalho (meio pelo qual se age para modificar a realidade social). O trabalho constitui a coisa mais especificamente humana (caracte-riza o homem como tal).

MARX critica a forma como a sociedade capitalista lida com a questão do trabalho, modificando a relação do indivíduo como, o que constitui a essência da própria humanidade - o ato de criar e recriar.

Essa forma de alienação vai afetar a vida humana na sua to-talidade, estendendo-se às suas relações sociais e afetivas. Assim. no caso da saúde mental, a visão unilateral do paciente tem contribuí-do para acelerar o seu processo de alienação.

Nesse processo de alienação do paciente psiquiátrico surge o médico como representante do saber e encarregado de presentear o trabalhador com o status de doente mental. Com essa atitude o mé-dico contribui para aliená-Ia, pois ao ser inserido no sistema previ-denciário, escapa da rotulação de preguiçoso, mas ingenuamente in-gressa numa rotulação sem retorno, a de alienado mental. SAMPAIO,

(7)

a díspcrsao do paciente e em contrapartida pode vir a contribuir para elevar a ansiedade do aluno.

Portanto há uma diferença de setting terapêutico ao utilizado nessa experiência, local de socialização e não de uma terapia indi-vidualizada.

AS QUEIXAS DO PACIENTE DURANTE O PROCESSO INTERA TIVO

Trata-se aqui das queixas do paciente em função de quatro mo-dalidades: saúde física, saúde mental, ligadas à instituição e ao pro-cesso interativo.

Ao contrário das doenças orgânicas, sabe-se que definir a do-ença e a saúde psicológica é algo extremamente delicado e peculiar. Assim, do mesmo modo que se utiliza os mesmos métodos de diag-nóstico e tratamento para ambas as situações, deveria também se utilizar as mesmas prioridades de assistência e as mesmas preocu-pações na prevenção, 'o que não tem ocorrido.

Os profissionais de saúde e, particularmente, o enfermeiro é formado dentro dessa visão, onde se adotam os mesmos métodos de diagnóstico e tratamento para as doenças do homem independente de ser orgânica ou mental.

Revelam os resultados do estudo, que, as queixas quanto ao processo interativo e quanto à instituição foram insignificantes com-paradas às queixas referente à saúde mental e física.

A maior surpresa é quanto as queixas referentes à saúde física, bastante elevado. No entanto, é sabido que pacientes de baixa ren-da tendem a elaborar sua sintomatologia em termos de queixas so-máticas, onde por vezes fica difícil fazer uma diferenciação entre histeria, hipocondria e somatização. Além de que, freqüentemente esses pacientes têm uma saúde precária e o imaginário de um qua-dro de doença sc mistura e se confunde com a realidade de quaqua-dros patológicos orgânicos. Com frequência há ainda a má nutricão alia-da às precárias condições de higiene, somando-se e articulando-se com probl.emas psíquicos. Tais elementos tornam extremamente di-fícil caracterizar a natureza dos sintomas e especificar uma clara eríología e, conseqüentemente, uma proposta terapêutica.

Apesar de tudo isto há que se perguntar se o grande número de queixas físicas não é função do direcionamento de escuta feita pelo aluno que, ao longo do seu curso, habilitou-se em detectar nuei-xas orgânicas com muito mais freqüência do que queinuei-xas psicoló-gicas. Constata-se, assim, que para cada queixa física há uma res-posta precisa e específica.HGFEDCBA

1 3 8

Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

Por sua vez, o aluno quando frente às queixas diversificadas de um paciente; não dá respostas imediatas e específicas, conduz pro-vavelmente a este paciente e se perguntar pelo sentido de suas quei-xas e passe a indagar-se pela sua posição, seu papel na família e na sociedade em geral. enquanto membros de uma classe social deter-minada. O procedimento terapêutico vigente tende, ao contrário, a eliminar qualquer questionamento, por parte do paciente onde, a cada queixa corresponde uma resposta técnica e pontual. O sujeito é como compartimentalizado entre suas queixas e sua anatomia pro-blemática. Trata-se de um claro processo de alienação.

O processo de alienação é algo extensivo a todos os brasileiros que, amputados de seus direitos, seus anseios, suas lutas, calam-se oprimidos, marcham no dia-a-dia de suas vidas, dentro do sistema vigente, que não os aceita de modo diferente.

Esta situação de hipertrofia opressiva aliena mais ainda o ho-mem, que vê o seu país anos a fio a caminhar pelo autoritarismo desde o Estado Novo, até o seu pico com o regime de 64, com bre-ves momentos de distensão da sociedade civil. O autoritarismo po-lítico não permitia que fossem vislumbradas, questionadas e defendi-das as questões sociais e políticas sob pena do seu defensor ser pu-nido. Essa situação assemelha-se à questão do doente mental, visto como um ser compartimentalizado, onde a fala do louco não é vista como comunicação significativa ou reivindicatória e sim como puro material clínico que se superpõe para o diagnóstico.

Busca-se compreender o processo de alienação fundamentando-o em MARX, que o explica a partir de sua relação direta com o trabalho (meio pelo qual se age para modificar a realidade social).

O trabalho constitui a coisa mais especificamente humana (caracte-riza o homem como tal).

MARX critica a forma como a sociedade capitalista lida com a questão do trabalho, modificando a relação do indivíduo, com o que constitui a essência da própria humanidade - o ato de criar e recriar.

Essa forma de alienação vai afetar a vida humana na sua to-talidade, estendendo-se às suas relações sociais e afetivas. Assim. no caso da saúde mental, a visão unilateral do paciente tem contribuí-do para acelerar o seu processo de alienação.

Nesse processo de alienação do paciente psiquiátrico surge o médico como representante do saber e encarregado de presentear o trabalhador com o status de doente mental. Com essa atitude o mé-dico contribui para aliená-Io, pois ao ser inserido no sistema

previ-denciário, escapa da rotulação de preguiçoso, mas ingenuamente in-gressa numa rotulação sem retorno, a de alienado mental. SAMPAIO,

(8)

ql'-IIedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp o s t u r a d o m é d i c o , n u m a o r g a n i z a ç ã o q u e n e c e s s i t a

tb C I ' m é d ic o , p a r a l e g i t i m a r e a v a l i z a r q u e s t õ e s a s e u v e r m u i t o

111111'1 p u lltlc u s e i d e o l ó g i c a s d o q u e d e s a ú d e ; é n a d a m a i s n a d a IIII'IIWI q u e u t i l i z á - I o c o m o f o r ç a a l i e n a n t e c o n t r a o p a c i e n t e .

Q u e r q u e i r a o u n ã o , o m é d i c o a o c o n c e d e r e s s e status a o t r a -b a l h n d o r , p r e s s i o n a d o p o r q u e s t õ e s a l h e i a s à m e d i c i n a , m a s c a r a a s l u t a s d e c l a s s e , d i l u i a i m p o r t â n c i a e s m a g a d o r a d a e x p l o r a ç ã o s o b r e o t r a b a l h a d o r , c o n t r i b u i n d o d e s t a f o r m a p a r a u m a o u t r a e x p r e s s ã o

d a a l i e n a ç ã o - a a l i e n a ç ã o m e n t a l . .

E n t ã o , d u r a n t e a a n á l i s e d a s i n t e r v e n ç õ e s d o a l u n o , o b s e r v a - s e u m a p r e o c u p a ç ã o d e s t e e m p r e s c r e v e r c u i d a d o s d i s s o c i a d o s d a s r e a i s n e c e s s i d a d e s d o s p a c i e n t e s . E a e s c u t a ? S e r á q u e a o q u e i x a r - s e d e u m p r o b l e m a f í s i c o n ã o h a v e r á a l g o m a i s , a s q u e i x a s s ã o i n t e r p r e t a

-d a s a o p é d a l e t r a , c o n t r a r i a n d o a o p i n i ã o d e e s t u d i o s o s q u e s u g e -r e m q u e a s q u e i x a s n ã o d e v e m s e r t o m a d a s l i t e r a l m e n t e .

H á u m a d i s t o r ç ã o d a e s c u t a t e r a p ê u t i c a , q u e s u g e r e s e r l i v r e e s e m c o n s e l h o s .

N o q u e d i z r e s p e i t o a s q u e i x a s q u a n t o a i n s t i t u i ç ã o p s i q u i ã t r i - a , c a b e a q u i e s c l a r e c e r q u e e s t a c o m o t a l e m v e z d e c u m p r i r o s e u p a p e l r e a b i l i t a d o r , c u m p r e u m o u t r o : o d e o p r i m i r m a i s a i n d a o p a c i e n t e , i s s o a p a r t i r d o p r ó p r i o a m b i e n t e f í s i c o e m p o b r e c i d o , l o n -g e d o q u e s e p o d e r i a s U l ? o r c o m o a g r a d á v e l . P o u c o i l u m i n a d o , p a -r e d e s c o m c o r e s f r i a s s e m d e c o r a ç ã o ; d e p e n d ê n c i a s q u a s e s e m m ó -v e i s , A e s s e e m p o b r e c i m e n t o f í s i c o s o m a m - s e o u t r o s m a i s g r a v e s : o e m p o b r e c i m e n t o d a s r e l a ç õ e s i n t e r p e s s o a i s e n t r e a e q u i p e e p a c i e n t e . O m é d i c o n u m p e d e s t a l , a e m a n a r o r d e n s e a f a z ê - I a s c u m p r i r a t r a -v é s d a e q u i p e d e e n f e r m a g e m . A p o s t u r a d o p s i q u i a t r a a n t e o d o e n t e m e n t a l é d e q u e m a c r e d i t a q u e a s p a l a v r a s d o d o e n t e é p a r a s e r e m

e x a m i n a d a s e n ã o e s c u t a d a s , . .

E n t ã o , q u e p a r â m e t r o s t e r á o d o e n t e m e n t a l p a r a s e r e e d u c a r c s e o r g a n i z a r n u m c l i m a d e c o m p l e t a s o l i d ã o ?

A s q u e i x a s a p r e s e n t a d a s p e l o s p a c i e n t e s e v i d e n c i a m q u e i n s -t i -t u i ç ã o l a n ç a m ã o d e r e c u r s o t e r a p ê u r i c o d e f o r m a d i s t o r c i d a , u m a v e z ' q u e u t i l i z a a t e r a p i a o c u p a c i o n a l c o m o o b j e t i v o ú n i c o d e o c u -p a r p o r o c u p a r , n ã o a t e n d e n d o o s p r i n c í p i o s d a t e r a p i a o c u p a c i o -n a l q u e é u m a t e r a p i a p e l o t r a b a l h o , c u j o o b j e t i v o é p e r m i t i r q u e c a d a m e m b r o s e j a e n g a j a d o e m a t i v i d a d e s d e s e u i n t e r e s s e e s e j a o b s e r v a d o p o r t é c n i c o s c o m f i n s d e a v a l i á - l o s i s t e m a t i c a m e n t e .

A s s i m , p a r e c e - n o s q u e t a n t o os g r u p o s o p e r a t i v o s q u a n t o a t e r a -p i a o c u p a c i o n a l s e c o l o c a m a s e r v i ç o d a i n s t i t u i ç ã o e n ã o d a p r o -p o s t a p r o p r i a m e n t e t e r a p ê u t i c a , a s s u m i n d o p o i s u m a f u n ç ã o s e c u n -d á r i a , e m f u n ç ã o a t e r a p ê u t i c a m e d i c a m e n t o s a t i d a a q u i c o m o p r i n -c i p a l . O q u e v e m c o n f i r m a r a s c o l o c a ç õ e s d e F o u c a u l t , q u a n d o r e s

(9)

s a l t a q u e n ã o s e d e v e t r a t a r i g u a l m e n t e e s s a s d u a s á r e a s d o a d o e c e r h u m a n o : o o r g â n i c o e o m e n t a l .

Q u a n t o a s q u e i x a s r e l a c i o n a d a s a o p r o c e s s o i n t e r a t i v o o b s e r v a -s e u r n a a m b i v a l ê n c i a e n t r e d e s e n v o l v e r u r n a t a r e f a t e r a p ê u t i c a e , a o m e s m o t e m p o , s e r a v a l i a d o . O b s e r v a - s e u r n a b a t a l h a d o a l u n o e m p r e s e r v a r a r e a l i z a ç ã o d a s s e s s õ e s d e i n t e r a ç ã o e n o f i n a l a p r e s e n t a r u m r e l a t ó r i o e s c r i t o . O q u e p a r e c e c o n f i r m a r a d i f i c u l d a d e d e s e a v a l i a r s e m a m e a ç a r .

H á q u e p r e p a r a r o e n f e r m e i r o d e s d e a l u n o p a r a a e s c u t a t e r a -p ê u t i c a e n ã o s i m p l e s m e n t e q u e r e r t r a n s f o r m á - I o , e m t e r a p e u t a s e m n e n h u m a f o r m a ç ã o e s p e c í f i c a . B n e c e s s á r i o d e s e n v o l v e r n o a l u n o c a p a c i d a d e d e o u v i n t e e c l a r i f i c a d o r , o n d e s e j a c a p a z d e p e r m i t i r e p o s s i b i l i t a r e s p a ç o s p a r a o p a c i e n t e c o l o c a r a s s u a s e x p e r i ê n c i a s d e f e l i c i d a d e , d o r e s o f r i m e n t o . T a l p r e o c u p a ç ã o v e m n o s e n t i d o d e e v i t a r q u e o r e l a c i o n a m e n t o s e t r a n s f o r m e e m i n s t r u m e n t o d e m a n i p u -l o ç ã o , c o m o o u t r a s a t i v i d a d e s d e s e n v o l v i d a s n a i n s t i t u i ç ã o .

F a z - s e u m a s é r i e d e c o n s i d e r a ç õ e s a r e s p e i t o d a e s c u t a t e r a -p ê u t i c a e d o s i l ê n c i o u t i l i z a n d o - s e d e e s t u d i o s o s d a á r e a ( p e r e s t r e l l o , B r i a n , M u c c h i e l l i , B a l i n t e t c . ) ,

A p r i n c í p i o e s s a a t i t u d e d e e s c u t a é e x t r e m a m e n t e f r u s t r a n t e p a r a o a l u n o . A f i n a l e l e c h e g a p a r a a i n t e r a ç ã o c a r r e g a n d o s u a b a -g a -g e m d e c o n h e c i m e n t o s t é c n i c o s , a r d u a m e n t e a d q u i r i d o s e l h e p a -r e c e d i f í c i l a c e i t a r q u e o s i l ê n c i o p o s s a s e r u m a t é c n i c a m a i s e f i c i -e n t -e d o q u -e a a t i t u d -e q u a s e d e t e t i v e s c a d e q u e m f a z u m a p o r m e n o r i -z a d a a n a m n e s e . A l é m d i s s o , t o d a a s u a a p r e n d i z a g e m v a i n o s e n t i d o d e u m a b u s c a d i r i g i d a p a r a s i n t o m a s q u e e s p e c i f i q u e m o q u a d r o n o s o l ó g i c o . N e s s a b u s c a , e l e t e m r e s p o n s a b i l i d a d e d e g u i a , p o r q u e ' é e l e q u e m s a b e . B c o m p r e e n s í v e l a s s i m à f r u s t r a ç ã o d e q u e m d e s c o -b r e q u e é o p a c i e n t e q u e v e r d a d e i r a m e n t e s a b e d e s u a s d i f i c u l d a d e s , u m s a b e r m a s c a r a d o d e n ã o s a b e r .

A P R O B L E M Á T I C A D O P A C I E N T E E A P O S T U R A D O A L U N O N O P R O C E S S O I N T E R A T I V O :

T r a ç a - s e u m q u a d r o s i n t é t i c o q u e f a z u m a s ú m u l a d a f o r m a c o m o o a l u n o r e l a c i o n o u - s e c o m c p a c i e n t e d u r a n t e a s i n t e r a ç õ e s , i d e n t i f i c a a t e m á t i c a s i g n i f i c a t i v a e c l a s s i f i c a a p o s t u r a d o a l u n o d i -a n t e d e t a l t e m á t i c a . P o s t u r a e s s a a q u i c l a s s i f i c a d a e m t r ê s c a t e -g o r i a s : a u s ê n c i a d e i n t e r v e n ç ã o , i n t e r v e n ç ã o s u p e r f i c i a l e i n t e r v e n

-ç ã o m a i s p r o f u n d a .

D e n o m i n a - s e a u s ê n c i a d e i n t e r v e n ç ã o q u a n d o o a l u n o t e v e c o n -t a -t o c o m o p a c i e n t e e , n o r e l a t o e s c r i t o , n ã o h á i n d í c i o s d e n e n h u m

(10)

tipo de intervenção no que se refere a temática abordada pelo Ea-ciente.

I.:.x.: Paciente e aluno interagiram quatro vezes. No quadro te-mos: Refere saudades dos familiares, sente-se abandonado pelos mes-mos. Diz não ter vontade de ir para casa (temática identificada -sentimento de abandono, não quer ir para casa). Não há evidência do nenhuma intervenção por parte do aluno.

Entende-se por intervenção superficial aquela postura do aluno Que revele haver uma intervenção, contudo esta não pode ser carac-terizada como uma postura terapêutica, mas tão-somente como uma resposta do aluno a temática do paciente, situando-se, ainda nesse momento. ao nível de senso comum.

Ex.: Paciente falou que ~entia medo dos pacientes agressivos. Conversamos e chegamos a conclusão de que o melhor seria evitar cs pacientes agressivos.

Nas intervenções a nível mais profundo, os relatos evidenciam haver intervenção com um nível de aprofundamento razoável,

embo-ra na maioria dos casos a postura do aluno não possa ser conside-r.ida cientificamente terapêutica, encaminhando-se, no entanto, nes-ss direção.

Ex.: Paciente tinha vestígio de lágrimas .nos olhos, parecia an-siosa. Incentivei-a a falar sobre seus anseios e ela aceitando a su-f:estão falou sobre um arrocho no coração, medo de morrer. Ficou em silêncio. Indaguei-lhe se gostaria de dizer mais alguma coisa. Estou aqui para escutá-Ia e se possível ajudá-Ia. Referiu medo de ficar louca e não acreditava na sua cura. Teve crise de choro, disse que queria ir deitar-se. Devido suas condições encerramos ti intera-ção,

Selecionou-se as seguintes temáticas: Hospitalização - dificul-dades de adaptação do paciente a possibílídade de alta dificulda-eles a serem enfrentadas; situações financeiras de desemprego e pe-rícia e a sexualidade.

HOSPITALIZAÇÃO - DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO DO

PACIENTE:

Aqui faz-se algumas considerações acerca da forma como o pa-ciente é retirado do seio familiar, seu processo de regressão, as difí-culdades de superação desta situação em função do estilo de insti-tuição que se encontra.

Também se coloca alguns depoimentos acerca da dificuldade de adaptação do paciente na instituição.

142 Educação em Debate, Fort. 17_18 ían.zdes,' 1989

lix.: Não gosto do hospital, a alimentação não me agrada. Aqui sinto-me excluída do mundo.

Outros queixam-se de ausência das famílias, de roupa, des-III'II\;U de ficar bem e a manifestação de medo são regularmente 1I11l1l1l1icudospelos pacientes.

li sabido que ao chegar no hospital o paciente é desprovido de JII~ pertences, de sua privacidade, uma vez que habilitará espaços luklivos, dormirá em grandes enfermarias, não havendo espaço

al-11111pura a reorganização do seu eu. Como se não bastasse terá que p,uir as ordens, as normas, as regras e os horários da instituição.

Cri tica-se aqui a ociosidade típica dessa clientela. Isso devido I l.uorcs não só institucionais mas também aos extra-institucionais. r-.ll1fful é da opinião que a ociosidade desorganiza o sentido do ciclo dil vida, do transcurso da semana e leva o paciente a ter como tare-1'1111cstruturação do seu destino.

As queixas de medo é expressivamente real, o medo existe. Ora dilllllc de situações de agressão corporal, perda de privacidade e dll nutonornia, de não ter garantias quanto à sua própria segurança p,:ssoa I. conduz à sensação de que ali não se existe como gente e

im como objeto. E assim depõem:

Sinto medo dos pacientes agressivos.

Você sente medo de mim? Acha que faço mal as pessoas? Tenho medo de permanecer a noite aqui no hospital. Tenho medo que os remédios prejudiquem a minha saúde. Esses medos são realmente reais, o hospital estudado é extre-uunncntc precário, e essa precariedade perpassa também para o nível cllI~ relações interpessoais. A própria terapêutica utilizada, priorita-1IIIIllCnte biologizante., vem de encontro a posição de Foucault, de que permanecer utilizando os mesmos métodos de tratamento para a doença orgânica e mental é fabricar ciências, é multiplicar danos a l'ssa clientela já tão marginalizada pela Sociedade.

O hospital em vez de contribuir para a reintegração do paciente 1111seu meio sócio-familiar, ccntribui para a perpetuação da doença.

11 bom lembrar que essa instituição é extremamente

ambivalen-Il' 110 aspecto de reabilitação. Isso por operar claramente contra o \lI1 princípios de prevenção terciária, dificultando esses pacientes e

1111rcinserção e sua reincorporação a um dos valores socialmente legitimados através do trabalho, uma vez que, durante a internação os pacientes perdem sua fonte básica de treinamento social que, para

I urandc maioria da população, se faz através do trabalho.

(11)

tipo de intervenção no que se refere a temática abordada pelo Ea-ciente.

Lx.: Paciente e aluno interagiram quatro vezes. No quadro te-1110S:Refere saudades dos familiares, sente-se abandonado pelos mes-mos. Diz não ter vontade de ir para casa (ternática identificada -sentimento de abandono, não quer ir para casa). Não há evidência de nenhuma intervenção por parte do aluno.

Entende-se por intervenção superficial aquela postura do aluno Que revele haver uma intervenção, contudo esta não pode ser carac-terizada como uma postura terapêutica, mas tão-somente como uma resposta do aluno a temática do paciente, situando-se, ainda nesse momento. ao nível de senso comum.

Ex.: Paciente falou que ~entia medo dos pacientes agressivos. Conversamos e chegamos a conclusão de que o melhor seria evitar cs pacientes agressivos.

Nas intervenções a nível mais profundo, os relatos evidenciam haver intervenção com um nível de aprofundamento razoável,

embo-ra na maioria dos casos a postura do aluno não possa ser conside-r.ida cientificamente terapêutica, encaminhando-se, no entanto, nes-ss direção.

Ex.: Paciente tinha vestígio de lágrimas .nos olhos, parecia an-siosa. Incentivei-a a falar sobre seus anseios e ela aceitando a su-~estão falou sobre um arrocho no coração, medo de morrer. Ficou em silêncio. Indaguei-lhe se gostaria de dizer mais alguma coisa. Estou aqui para escutá-Ia e se possível ajudá-Ia. Referiu medo de ficar louca e não acreditava na sua cura. Teve crise de choro, disse que queria ir deitar-se. Devido suas condições encerramos

a

intera-ção.

Selecionou-se as seguintes temáticas: Hospitalização - dificul-dades de adaptação do paciente a possibilidade de alta dificulda-eles a serem enfrentadas; situações financeiras de desemprego e pe-rícia e a sexualidade.

HOSPITALIZAÇÃO - DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO DO

PACIENTE:

Aqui faz-se algumas considerações acerca da forma como o pa-ciente é retirado do seio familiar, seu processo de regressão, as difí-culdades de superação desta situação em função do estilo de insti-tuição que se encontra.

Também se coloca alguns depoimentos acerca da dificuldade de adaptação do paciente na instituição.

142 Educação em Debate, Fort. 17_18 Ian.zdea.' 1989

Ex.: Não gosto do hospital, a alimentação não me agrada. Aqui sinto-me excluída do mundo.

Outros queixam-se de ausência das famílias, de roupa, des-11l'IIÇU de ficar bem e a manifestação de medo são regularmente 1IIIIlIII1icados pelos pacientes.

n

sabido que ao chegar no hospital o paciente é desprovido de JII~ pertences, de sua privacidade, uma vez que habilitará espaços tlJklivüs, dormirá em grandes enfermarias, não havendo espaço

al-11111para a reorganização do seu eu. Como se não bastasse terá que guir as ordens, as normas, as regras e os horários da instituição.

;ritica-se aqui a ociosidade típica dessa clientela. Isso devido

1 t.uurcs não só institucionais mas também aos extra-institucionais.

t\l11rrut é da opinião que a ociosidade desorganiza o sentido do ciclo do vida, do transcurso da semana e leva o paciente a ter como tare-1'11n estruturação do seu destino.

As queixas de medo é expressivamente real, o medo existe. Ora diuutc de situações de agressão corporal, perda de privacidade e dll nutonornia, de não ter garantias quanto à sua própria segurança Ih·~S()al. conduz à sensação de que ali não se existe como gente e

im como objeto. E assim depõem:

Sinto medo dos pacientes agressivos.

_ Você sente medo de mim? Acha que faço mal as pessoas? _ Tenho medo de permanecer a noite aqui no hospital. _ Tenho medo que os remédios prejudiquem a minha saúde.

Esses medos são realmente reais, o hospital estudado é extre-nuuncnte precário, e essa precariedade perpassa também para o nível cllISrelações interpessoais. A própria terapêutica utilizada,

priorita-1(11mcn te biologizante,. vem de encontro a posição de Foucault, de

que permanecer utilizando os mesmcs métodos de tratamento para a doença orgânica e mental é fabricar ciências, é multiplicar danos a 1:IõSIIclientela já tão marginalizada pela Sociedade.

O hospital em vez de contribuir para a reintegração do paciente

1111 seu meio sócio-familiar, ccntribui para a perpetuação da doença.

n

bom lembrar que essa instituição é extremamente

arnbivalen-lI' no aspecto de reabilitação. Isso por operar claramente contra o

11I1 princípios de prevenção terciária, dificultando esses pacientes e

MIII rcinserção e sua reincorporação a um dos valores socialmente lcgitlmados através do trabalho, uma vez que, durante a internação

011 pacientes perdem sua fonte básica de treinamento social que, para

I zrnnde maioria da população, se faz através do trabalho.

(12)

,,1

POSSIBILIDADES DE ALTA - DIFICULDADES A SEREM ENFRENTADAS:

O paciente ao retornar para reassumir suas funções tem de enfrentar muitas dificuldades, a partir das atitudes 'dos familiares, de amigos e do antigo empregador. Ora, se os próprios familiares vêem o paciente como um peso, urna vergonha ou um risco, é muito provável que seu ajustamento fora 'do hospital seja seriamente amea-çado - se o ex-empregador se negar a aceitã-lo de volta às suas funções, suas oportunidades para competir com uma nova vaga em outra empresa será mais difícil, provando o desemprego.

Os familiares esperam milagres dessa instituição e ficam desa-pontados quando vêem retomar ao seio familiar a mesma pessoa de antes. A hospitalização vem de encontro ao bom senso que indica '- pessoas emocionalmente perturbadas estão melhor nas instituições psiquiátricas do que no seio familiar. Então, esta medida da família em afastar o paciente encontra respaldo da cultura que concorda com o senso comum.

Por outro lado, essa cumplicidade protege a família, que acre-dita ficar menos doente com a saída do paciente e, ainda, crê que ele será melhor cuidado na instituição. •

A ausência dos familiares, dos amigos, do mundo que o cerca desenvolve no paciente uma postura de alheamento, de apatia e de revolta às quais se aliam atitudes de defesa e julgamento à sua nova pessoa. Ele percebe o ciclo vicioso ou beco sem saída, segundo o estigma da sociedade - uma vez louco, louco para sempre. Assim, a doença mental torna-se uma espécie de SINA ou destino (como a pobreza), que tem que ser cumprida ou expiada até a chegada da morte.

Toda essa realidade pode ser detectada nos depoimentos dos pacientes, se não vejamos:

- Sinto-me desprezada pela minha família, não tenho notícias de casa;

- Sinto-me abandonada pela minha família;

Gosto do mel! companheiro, mas às vezes, ele não tem pa-ciência comigo, isso me deixa desanimada.

Apesar desses sentimentos a maioria dos pacientes ainda pre-ferem ir para casa verbalizando isso:

- Estou ansiosa para voltar para casa; - Gostaria de ir para casa;

- Quero sair daqui, pois de alta posso ajudar a minha

famí-lia.HGFEDCBA

1 4 4 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

Mesmo percebendo o desprezo e o descrédito dos seus

família-~)S pacientes possuem uma percepção diferente a respeito de

111111 cupucidades, pois expressam o desejo de voltar a trabalhar, de 1l'1I6Mllllirseu papel social - Expressos desta forma:

Desejaria reassumir minhas atividades; Desejo retomar ao trabalho;

Sinto saudades do trabalho, fui enganado, só queria licença uno 11 aposentadoria;

Sei que terei dificuldades no trabalho, pois já não tenho as II1C8nlllScondições.

Tal desejo de reassumir a vida deixada lá fora, coincide com o IIC~l'jOde sair do ciclo vicioso da rotulação e da marginalização. O IlIllil'nte chega a perceber que sem romper as idas e vindas da tri-1111I du hospitalização, nunca mais será o que foi antes. E para re-verter ti situação é tão complicado e árduo o caminho que a maio-Ilu niio chega a percorrê-lo.

I'J'UAÇOES FINANCEIRAS, DE DESEMPREGO E PER(CIA, \'ISTOS SOB O PRISMA DO DOENTE MENTAL:

Pesquisa realizada em Fortaleza constatou que 36,6% da ren-1111dos familiares de doentes mentais é oriunda do próprio doente nuntal quer seja pelo seu trabalho ativo, pelo seu afastamento tem-porúrio ou aposentadoria. Tal constatação gera na família insegu-runçu quando esse membro perde o emprego ou não consegue li-vença.

Nas classes menos Iavorecidas, as crises se superpõem dentro de um contexto tal de tensão permanente e em maior intensidade do que ocorre nas outras classes sociais.

A percepção dessa classe social é, via de regra, diferente, im-huida pela ideologia dominante, acredita, muitas vezes, que

modi-[icundo os acontecimentos externos, tudo se resolve, quando decor-rem das condições estruturais e superestruturais que dificultam a compreensão das possibilidades de transformação da realidade,

e

conveniente ressaltar que a percepção do doente mental su-r-cru as expectativas, isto se considerarmos as condições em que vive, Into constatado pelos depoimentos:

- Estou preocupado, pois não recebi meu abono; - Meu marido está desempregado e eu aqui;

- Comentou sobre a situação econômica do país e ao

prossc-nrir disse: Sem licenca, minha família vai passar fomc: quero sair pois de alta poderei trabalhar.

(13)

POSSIBILIDADES DE ALTA - DIFICULDADES A SEREM ENFRENTADAS:

O paciente ao retomar para reassumir suas funções tem de enfrentar muitas dificuldades, a partir das atitudes -dos familiares, dê amigos e do antigo empregador. Ora, se os próprios familiares vêem o paciente como um peso, uma vergonha ou um risco, é muito provável que seu ajustamento fora 'do hospital seja seriamente amea-çado - se o ex-empregador se negar a aceitá-lo de volta às suas funções, suas oportunidades para competir com uma nova vaga em outra empresa será mais difícil, provando o desemprego.

Os familiares esperam milagres dessa instituição e ficam desa-pontados quando vêem retomar ao seio familiar a mesma pessoa de antes. A hospitalização vem de encontro ao bom senso que indica -- pessoas emocionalmente perturbadas estão melhor nas instituições psiquiátricas do que no seio familiar. Então, esta medida da família em afastar o paciente encontra respaldo da cultura que concorda com o senso comum.

Por outro lado, essa cumplicidade protege a família, que acre-dita ficar menos doente com a saída do paciente e, ainda, crê que ele será melhor cuidado na instituição. •

A ausência dos familiares, dos amigos, do mundo que o cerca desenvolve no paciente uma postura de alheamento, de apatia e de revolta às quais se aliam atitudes de defesa e julgamento à sua nova pessoa. Ele percebe o ciclo vicioso ou beco sem saída, segundo o estigma da sociedade - uma vez louco, louco para sempre. Assim, a doença mental toma-se uma espécie de SINA ou destino (como a pobreza', que tem que ser cumprida ou expiada até a chegada da morte.

Toda essa realidade pode ser detectada nos depoimentos dos pacientes, se não vejamos:

- Sinto-me desprezada pela minha família, não tenho notícias de casa;

- Sinto-me abandonada pela minha família;

Gosto do meu companheiro, mas às vezes, ele não tem pa-ciência comigo, isso me deixa desanimada.

Apesar desses sentimentos a maioria dos pacientes ainda pre-ferem ir para casa verbalizando isso:

- Estou ansiosa para voltar para casa; - Gostaria de ir para casa;

- Quero sair daqui, pois de alta posso ajudar a minha famí-lia.

144 Educação em Debate, Fort. 17_18 jan./dez. 1989

Mesmo percebendo o desprezo e o descrédito dos seus familia-os pacientes possuem uma percepção diferente a respeito de IIIIMcupacidades, pois expressam o desejo de voltar a trabalhar, de ICIINhlllllir seu papel social - Expressos desta forma:

Desejaria reassumir minhas atividades; Desejo retomar ao trabalho;

Sinto saudades do trabalho, fui enganado, s6 queria licença

II 11110 H aposentadoria:

Sei que terei dificuldades no trabalho, pois já não tenho as IIICSIIHlScondições.

rui desejo de reassumir a vida deixada lá fora, coincide com o .lcsc]o de sair do ciclo vicioso da rotulação e da marginalização. O plIl\Íentc chega a perceber que sem romper as idas e vindas da

tri-11111 da hospitalização, nunca mais será o que foi antes. E para re-v-rter a situação é tão complicado e árduo o caminho que a maio-I in não chega a percorrê-lo.

ITUAÇOES FINANCEIRAS, DE DESEMPREGO E PER{CIA, \ ISTOS SOB O PRISMA DO DOENTE MENTAL:

Pesquisa realizada em Fortaleza constatou que 36,6% da ren-da dos familiares de doentes mentais é oriunda do próprio doente mental quer seja pelo seu trabalho ativo, pelo seu afastamento tem-I'lll'ório ou aposentadoria, Tal constatação gera na família insegu-ruuça quando esse membro perde o emprego ou não consegue li-«cnça.

Nas classes menos favorecidas, as crises se superpõem dentro de um contexto tal de tensão permanente e em maior intensidade do que ocorre nas outras classes sociais.

A percepção dessa classe social é, via de regra, diferente, im-huida pela ideologia dominante, acredita. muitas vezes, que

medi-Iicando os acontecimentos externos, tudo se resolve, quando

decor-J'l'Jl1 das condições estruturais e superestruturais que dificultam a

compreensão das possibilidades de transformação da realidade. E conveniente ressaltar que a percepção do doente mental su-r-era as expectativas, isto se considerarmos as condições em que vive, Into constatado pelos depoimentos:

- Estou preocupado, pois não recebi meu abono; - Meu marido está desempregado e eu aqui;

- Comentou sobre a situação econômica do país e ao prosse-guir disse: Sem licenca, minha família vai passar fome: quero sair

pois de alta poderei trabalhar.

(14)

lzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

i·!

['

I'

I

Portanto, as dificuldades circundam a vida dessa clientela. A linguagem da necessidade de comida fala mais alto do que a lin-guagem interior. A dor corporal é tão intensa que lhe escapa a preocupação de uma outra dor que fOf1e à sua capacidade de análise.

SEXUALIDADE:

\

E bastante explícita a repressão à sexualidade do doente men-tal. Esta conduta é evidenciada nas instituições psiquiátricas pela distribuição dos pacientes em pavilhões, por sexo, separados por grandes portões de ferro. Também essa repressão se faz notar du-rante as visitas dos familiares, que se dão em lugares públicos e à vista dos funcionários.

Essa realidade institucional controladora e repressiva predispõe a práticas homossexuais. Quanto a esta questão os pacientes depõem assim:

- Não sinto atração sexual por mulheres, me masturbava, mas, a partir do dia que me falaram que isso deixa a cabeça ruim, parei de Iazê-lo, não faço mais;

- Sabe, mantive relações sexuais com um colega, isso me fez sentir um pecador, foi a primeira e última vez.

Esses depoimentos centram a questão da sexualidade numa perspectiva de pecado, isto como fruto da cultura, da educação, tabus ele. Tal realidade faz com que seja negada ao paciente a possibili-dade de expressar seus desejos, suas fantasias e a sua capacidade de sonhar com uma necessidade fisiológica extremamente importante na vida do indivíduo - a sexualidade.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES:

Esta pesquisa dada a sua natureza metodol6gica, chegou as se-gllintes conclusões, que são mais reflexivas que definitivas, sem es-quecermos que as relações ação-reflexão-ação, podem conduzir a uma

nova postura, capaz de interferir positivamente na problemática. Então, conclui-se que:

- A assistência é estruturada de forma a unificar os problemas utilizando-se de padrões pré-estabelecidos dificultando a individuali-;a,';io de cada paciente;

146

Educação em Debate, Fort. 17_18 jan'/dez. 1989

Valoriza-se os sintomas, secundários, em detrimento dos es-, utiliza-se para tal de prescrições técnicas tipo receituário;

O modelo tende a ser utilizado como um inquérito onde o dllllll dó soluções pontuais e mecânicas a um paciente escondido

!iil. de um rosário de queixas;

A necessidade de esboçar c circuito de comunicação (super

-1)1 rotcíro-aluno-paciente), no qual se insere tal experiência

pare-te lusuíicienpare-te tratando-se de uma clientela com uma problemática

ir

,

O pl'e11Iiar;

A estratégia de diariamente se identificar problemas e tra-I~"I um plano sem que haja tempo para o paciente elaborar suas fl\ IIpriUS dificuldades e repensar novos caminhos parece inadequada

11111'11 essa clientela;

O modelo adotado tem efeitos nem sempre terapêuticos ao JlllOI'il.ur a doença e a valorizar os problemas físicos em detrimento

ilfI~ psíquicos. Favorece a utilização de uma psicologia do senso

co-111\1111, onde respostas imediatas mascaram a necessidade do

paci-IIk~;

_ A ansiedade do aluno tende a contribuir para a sua dificul-ILide em escutar as reais queixas dos pacientes;

_ O referencial teórico que embasa a formação dos profissio-nuis de saúde tem favorecido uma tendência em querer solucionar os

problemas do paciente, ao invés de possibilitar que este adquira con-Ilu;oes para fazê-lo:

_ A formação dos profissionais de saúde tem sido dirigida II/II'U uma visão de homem fragmentado-dicotomizado;

_ A situação da disciplina na grade curricular ofertada no penúltimo semestre sem nenhuma outra oportunidade anteriormente vlvcnciada com essa clientela;

_ A própria situação de assistência à saúde mental que vem pirorizando a assistência curativa em detrimento da preventiva.

PROPOE-SE, POIS:

_ Predominância dos fatores psicossociais na etiologia da do-ença mental.

(15)

I

I

I

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Portanto, as dificuldades circundam a vida dessa clientela. A linguagem da necessidade de comida fala mais alto do que a lin-guagem interior. A dor corporal é tão intensa que lhe escapa a preocupação de lima outra dor que fogte à sua capacidade de análise.

SEXUALIDADE:

I

B bastante explícita a repressão à sexualidade do doente men-tal. Esta conduta é evidenciada nas instituições psiquiátricas pela distribuição dos pacientes em pavilhões, por sexo, separados por grandes portões de ferro. Também essa repressão se faz notar du-rante as visitas dos familiares, que se dão em lugares públicos e à vista dos funcionário~.

Essa realidade institucional controladora e repressiva predispõe

11 práticas homossexuais. Quanto a esta questão os pacientes depõem

assim:

- Não sinto atração sexual por mulheres, me masturbava, mas, a partir do dia que me falaram que isso deixa a cabeça ruim, parei de fazê-Io, não faço mais;

- Sabe, mantive relações sexuais com um colega, isso me fez ~entir um pecador, foi a primeira e última vez.

Esses depoimentos centram a questão da sexualidade numa perspectiva de pecado, isto como fruto da cultura, da educação, tabus ctc. Tal realidade faz com que seja negada ao paciente a possibili-dade de expressar seus desejos, suas fantasias e a sua capacidade de sonhar com uma necessidade fisiológica extremamente importante na vida do indivíduo - a sexualidade.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES:

Esta pesquisa dada a sua natureza metodológica, chegou as se-gllintes conclusões, que são mais reflexivas que definitivas, sem es-quecermos que as relações ação-reflexão-ação, podem conduzir a uma nova postura. capaz de interferir positivamente na problemática.

Então, conclui-se que:

- A assistência é estruturada de forma a unificar os problemas utilizando-se de padrões pré-estabelecidos dificultando a individuali-/;h;;io de cada paciente;

1-16

Educação em Debate, Fort. 17_18jan'/dez. 1989

Valoriza-se os sintomas, secundários, em detrimento dos es-• utiliza-se para tal de prescrições técnicas tipo receituário;

O modelo tende a ser utilizado como um inquérito onde o

dllllO dá soluções pontuais e mecânicas a um paciente escondido

If'Ih de um rosário de queixas;

A necessidade de esboçar c circuito de comunicação (super-I~III roteiro-aluno-paciente), no qual se insere tal experiência pare-insuficiente tratando-se de uma clientela com uma problemática

1[11) peculiar;

- A estratégia de diariamente se identificar problemas e tra-II 11m plano sem que haja tempo para o paciente elaborar suas

I'11IpriUS dificuldades e repensar novos caminhos parece inadequada 1'1I1i1essa clientela;

O modelo adotado tem efeitos nem sempre terapêuticos ao 1"iorizar a doença e a valorizar os problemas físicos em detrimento

d,,:. psíquicos. Favorece a utilização de uma psicologia do senso co-11111111,onde respostas imediatas mascaram a necessidade do

paci-111l:;

- A ansiedade do aluno tende a contribuir para a sua

dificul-rl.ule em escutar as reais queixas dos pacientes;

- O referencial teórico que embasa a formação dos profissio-illlis de saúde tem favorecido uma tendência em querer solucionar os problemas do paciente, ao invés de possibilitar que este adquira con-Ilil,'ties para fazê-lo;

- A formação dos profissionais de saúde tem sido dirigida !,III'U uma visão de homem fragmentado-dicotomizado;

- A situação da disciplina na grade curricular ofertada no penúltimo semestre sem nenhuma outra oportunidade anteriormente vivcnciada com essa clientela;

- A própria situação de assistência à saúde mental que vem pirorizando a assistência curativa em detrimento da preventiva.

JlROPOE-SE, POIS:

- Predominância dos fatores psicossociais na etiologia da do-.nça mental.

(16)

- Introduzir na formação do aluno a partir de Introdução à

Saúde Pública uma visão de homem, levando-se em conta as rela-ções parte todo, homem e realidade numa perspectiva de unicidade e totalidade. Onde vê-se o homem como um ser concreto, que se modifica na medida que transforma e modifica todo o conjunto das relações do qual é o ponto central.

- Introduzir na formação Ido aluno de enfermagem a partir da disciplina Psicologia Aplicada a Enfermagem uma abordagem te-rapêutica, através de conhecimentos dirigidos particularmente para a escuta terapêutica.

148 Educação em Debate, Fort. 17.18 jan.ldez. 1989HGFEDCBA

" C U ID A D O C O M O S ID O S D E M A R Ç O " 24

José Anchieta Esmeraldo Barreto Rui Verlaine Oliveira Moreira

1. MALCOLM: Sim, se eu tivesse o poder ... , confundiria toda a harmonia da terra. 25

A questão lógica da indução, no período contemporâneo, tem sido uma preocupação daqueles que procuram uma fundamentação mais segura para os procedimentos científicos. Na tentativa de superar a certeza de BACON* c o ceticismo de HUME* ~ os pensadores contemporâneos enveredaram por duas direções distintas, conforme a resposta dada à pergunta clássica: o processo do conhecimento do homem é de natureza lógica ou sua expli-cação reside no âmbito da Psicologia? Em outras palavras: a tarefa do filó-sofo é explicar logicamente como as leis científicas são descobertas, ou o que se pode fazer é apenas verificar ou buscar justificativa, critério e apoios lógicos que caracterizem tais leis como pertencentes ao domínio da Ciência? Alguns optaram por desconhecer qualquer conteúdo lógico no processo de descoberta. A invenção de leis ou teorias científicas é

• "S6 há e s6 pode haver duas vias para a investigação e para a descoberta da verdade. ... A outra, que recolhe os axiomas dos dados dos sentidos e particulares, ascendendo contínua e gradualmente até alcançar, em úl-timo lugar, os princípios de máxima generalidade. Este é o verdadeiro ca-minho, porém ainda não instaurado.,,1

•• ••... por que a experiência passada deve ser estendida aos tempos e ob jetos futuros ,os quais pelo que sabemos, podem ser apenas similares na aparência esta é a questão principal sobre a q'.'al. insisto. O pão que comi no passado me alimentou... mas segue-se dai, que outro pão em outro tempo deverá me alimentar ... 1" 10

Educação em Debate, Fort. 17.18 jan.ldez. 1989

'"

Referências

Documentos relacionados

Não é permitida a reprodução deste conteúdo, de forma parcial ou total, quer em meio impresso ou digital, nem pode ser disponibilizado na internet sem permissão prévia, dos

Não pode ser copiado, escaneado, ou duplicado, no todo ou em parte, exceto para uso como permitido em uma licença distribuída com um certo produto ou serviço ou de outra forma em

De acordo com os achados deste trabalho, entende-se que a percepção de valor por parte dos alunos pesquisados quanto à inserção internacional das IES, objeto da pesquisa,

Esta disse~ aborda as relayoes entre o choro e o repert6rio pianistico brasileiro, atraves de um enfoque analitico sobre aspectos hist6ricos e musicais referentes tanto ao

:: SEBRAE DELAS - 2021 1000 MULHERES 1 Empreenda Rápido Sensibilização Softs Skills Aceleração Empreenda Rápido Sensibilização Softs Skills Sensibilização

No caso das gelatinas aciladas em maiores pHs de reação (10,6 e 11), principalmente em relação à gelatina MD06, que apresentou os maiores indicativos de

• O conteúdo de umidade das amostras ao final da etapa de resfriamento foi característico para cada tratamento, além de ser o fator decisivo para definir o tempo total da

- Serão atribuídos até 4 (quatro) créditos para livro editado e 2 créditos para capítulos de livros, nacionais ou internacionais, desde que estes possuam número de ISBN válido.