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Adoção conjunta por casais homoafetivos e o desenvolvimento de crianças em famílias homoparentais comparado com as de família heteroparentais

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Academic year: 2021

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Adoção conjunta por casais homoafetivos e o desenvolvimento de

crianças em famílias homoparentais comparado com as de família

heteroparentais

Por Jussara Medeiros, Matheus de Paula e Sorhaya Allana Rodrigues Ferreira

Resumo: O presente artigo expõe a dificuldade encontrada por famílias homoparentais na tentativa de adoção. Para tal objetivo, inicia-se uma retrospectiva dentro das ordenações brasileiras, a fim de descobrir o status dos homossexuais no decorrer da história do país. Verifica-se, assim, o histórico de discriminação e preconceito que assolou tais indivíduos. Recentemente, após vários anos, verifica-se finalmente a permissão da união estável homoafetiva em dispositivo legal. Contudo, mesmo com tais vitórias, a adoção continua sendo um obstáculo para esses casais. Diversos argumentos, em sua maioria

preconceituosos e difamadores, dificultam a adoção, além do preconceito ainda arraigado na sociedade brasileira. Os argumentos variam da influência na "opção" sexual da pessoa à dificuldade de desenvolvimento da criança. No decorrer do artigo, verifica-se que tais argumentos são claramente inválidos. Diversos estudos hoje servem de base para a posição contrária, gerando contra-argumentos de força considerável, desde o melhor

desenvolvimento emocional de crianças criadas em lares homoafetivos até o melhor rendimento acadêmico. Assim, destrói-se pouco a pouco a posição contrária à adoção, o que leva a questionamentos significativos sobre o porquê de ainda existirem dificuldades consideráveis impostas a esta questão.

1. Introdução

A adoção por casais homoafetivos é um assunto que causa polêmica pelas diversas discordâncias de opinião dentro da sociedade, principalmente quando se fala em adoção conjunta, pois esta envolve uma maior legitimação do casal homoafetivo ao garantir a eles o direito de dividir a guarda da criança.

Todo casal que deseja adotar uma criança deve passar por avaliações e preencher pré-requisitos judiciais, sejam eles casais heteroafetivos ou casais homoafetivos. Porém, observa-se que casais homoafetivos enfrentam maiores dificuldades ao tentarem adotar uma criança do que casais heteroafetivos.

Nessa dissertação, falar-se-á sobre tal dificuldade de adoção, além de explanar sobre os argumentos favoráveis a essa adoção e os não favoráveis. Além do mais, essa dissertação versa também sobre como a decisão do Supremo Tribunal Federal, STF, referente à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, ADPF 132, - que reconhece a união estável entre casais homoafetivos e, dessa forma, os coloca em “pé de igualdade” com casais heteroafetivos – pode facilitar esse processo de adoção por casais homoafetivos.

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A relação entre o homossexualismo e o Direito no Brasil não é recente. Há, desde o Brasil colônia, dispositivos legais que versam sobre o homossexualismo. As Ordenações Manuelinas – por exemplo -, surgidas em 1521, consideravam o homossexualismo como um crime de lesa-majestade e condenavam o homossexual à pena de morte pelo fogo e o confisco de bens, além da injúria aos filhos e descendentes. Essas Ordenações foram revogadas, em 1569, pelo Código de Sebastião, e esse foi substituído, em 1603, pelas Ordenações Filipinas.

É de suma importância ressaltar que, nesse período, não havia uma separação entre Estado e Igreja e, por isso, a Igreja, mesmo não podendo executar o indivíduo, podia processá-lo e, após a decisão, entregá-lo para a punição estatal. Essa separação só ocorre com a Constituição de 1824.

No que tange à união entre casais homossexuais, esse direito só começa a ser atendido em 2007, através da decisão da 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Porto Alegre. Essa decisão reconhece à união estável de casais homossexuais os mesmos direitos garantidos a união estável de casais heterossexuais. Assim diz o texto:

Não se permite mais o farisaísmo de desconhecer a existência de uniões entre pessoas do mesmo sexo e a produção de efeitos jurídicos derivados destas relações homoafetivas. Embora permeadas de preconceitos, são realidades que o Judiciário não pode ignorar, mesmo em sua natural atividade retardatária. Nelas remanescem conseqüências semelhantes às que vigoram nas relações de afeto, buscando-se sempre a aplicação da analogia e dos princípios gerais do direito, relevados sempre os princípios constitucionais da dignidade humana e da igualdade.

Alguns projetos de lei que condenam a discriminação sexual ainda estão em trâmite no Congresso Nacional. Todavia, esses projetos sofrem resistência principalmente das bancadas evangélicas, que alegam que, caso tais projetos consigam se transformar em lei, padres e pastores podem ser presos ao pregarem contra o homossexualismo, ferindo a liberdade ao culto religioso que o Estado laico permite.

A Constituição de 1988 define, no artigo 226, o conceito de família:

§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

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O artigo 226, da Constituição Federal de 1988, § 3º, protege a união estável entre um homem e uma mulher e lhe dá o status de entidade familiar. Portanto, esse parágrafo concedeu à união estável a igualdade às formas oficializadas de união.

Entende-se por família as formas de convivência entre pessoas de um determinado núcleo, podendo ou não ser expandidas. As principais características da estabilidade derivam da convivência:

1) Pública; 2) Contínua; 3) Duradoura;

4) Com o objetivo de constituir família; 5) Entre homem e mulher.

Percebe-se, portanto, que todas as formas de conceituação de união estável excluem aquela entre casais homossexuais. Como tais uniões ocorrem no plano real, pode-se dizer que a lei deixou lacunas, que necessitam de solução por parte dos legisladores, visto que essa lacuna fere o princípio da Isonomia e do Estado Democrático de Direito. Portanto, o problema passa a ser não somente o de aplicação de leis, mas também o de vivenciar um Estado Democrático por parte de todos.

Os Ministros do STF, ao julgarem a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4277, ADIn 4277, e a ADPF 132, reconheceram a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Essa decisão deve beneficiar casais homossexuais que desejam adotar uma criança, na medida em que eles agora possuem os mesmos direitos e deveres que casais heterossexuais. Entretanto, apesar de unânime entre os membros da mais alta Corte, essa decisão trouxe novamente à luz essa questão polêmica, visto que foi uma decisão muito elogiada por uns, porém bastante criticada por outros, principalmente no que tange ao quesito da permissão de adoção por casais homossexuais.

Dentro dos dispositivos legais, não há normas que estabeleçam a legalidade da adoção de crianças por casais homossexuais. Contudo, algumas sentenças deram ganho de causa a casais homossexuais. Porém, conforme pesquisa do STJ em 2006, não existe jurisprudência acerca do caso, o que dificulta um consenso entre as várias decisões sobre esse assunto, visto que o Direito brasileiro também se assenta sobre a Jurisprudência.

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Dentre os argumentos utilizados para a defesa da não adoção conjunta por casais homoafetivos, um dos mais utilizados e aceitos é o de que a ausência de uma figura materna ou paterna pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Porém, o artigo 226, §4º da Constituição Federal de 1988 diz o seguinte: “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.” Deduz-se disso que a falta da figura de um dos sexos não compromete o status de família. O importante não é simplesmente ter as duas, mas sim que essa presença de pais e/ou mães seja forte o suficiente para guiar participativamente a vida das crianças. Afinal, uma figura abusiva e desatenciosa seria melhor que figuras do mesmo sexo que se propõem a cuidar e manter os adotados?

Um argumento por vezes vinculado ao anterior é o de que a criança desenvolveria tendências homossexuais pela falta de modelos dos dois gêneros em sua formação. O seguinte trecho demonstra como esses argumentos são equivocados e preconceituosos:

São levantados questionamentos relativos ao sadio desenvolvimento da criança, existindo a errônea convicção de que a ausência de referências comportamentais de ambos os gêneros traria prejuízos de ordem psicológica e dificuldades na identificação sexual do adotado, ante a falta de modelo do gênero masculino e feminino, o que o faria "optar" pela homossexualidade. Tal posicionamento, além de preconceituoso, não encontra amparo científico, pois as pesquisas constatam a não ocorrência de efeitos danosos ao normal desenvolvimento emocional da criança pelo fato de possuir pais do mesmo sexo. Também não há registro de prejuízos sequer potencial ao saudável estabelecimento de vínculos afetivos. Da mesma forma, nada comprova que a falta do modelo heterossexual acarreta perda de referenciais a tornar confusa a identidade de gênero. (ARAÚJO, Paulo Jeyson Gomes. Adoção por casais

homoafetivos, 2008)

Um terceiro argumento usado é a dificuldade de integração social que as crianças irão enfrentar por fazerem parte de uma família homoparental, sofrendo preconceito e ridicularizações por parte da sociedade.

Outro argumento levantado contra a adoção por casais homoafetivos é a possibilidade de o adotado ser discriminado no meio social por ser filho de iguais, tornando-se alvo de repúdio ou vítima do escárnio por parte de colegas e vizinhos, o que poderia lhe ocasionar perturbações psicológicas ou dificuldades de inserção social. Porém, todas as formas de discriminação são proibidas pelo ordenamento jurídico, sendo objetivo da República Federativa do Brasil, estabelecido no art. 3º, IV da CF/88, "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". Há um indisfarçável preconceito em considerar um lar homossexual como prejudicial ao desenvolvimento do adotado. (ARAÚJO, Paulo Jeyson Gomes. Adoção por casais

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Fala-se também do atraso cognitivo que um meio homoparental pode causar ao adotado. Porém, um estudo realizado na Universidade da Califórnia mostrou que adolescentes criados em famílias homoparentais se saíram melhores academicamente que adolescentes de famílias heteroparentais, além de apresentarem resultados semelhantes ou melhores em outras áreas.

The authors found that children raised by lesbian mothers — whether the mother was partnered or single — scored very similarly to children raised by heterosexual parents on measures of development and social behavior. These findings were expected, the authors said; however, they were surprised to discover that children in lesbian homes scored higher than kids in straight families on some psychological measures of self-esteem and confidence, did better academically and were less likely to have behavioral problems, such as rule-breaking and aggression. (PARK, Alice.

Study: Children of Lesbians May Do Better Than Their Peers, in Time)

Apesar de uma porcentagem das crianças sofrer reportadamente um certo nível de estresse por discriminação na infância, esse sentimento dos adotados se dissipava ao atingirem a adolescência. Estudos apontam suporte familiar e mudança na educação como agentes dessa transformação.

Not surprisingly, the researchers found that 41% of children reported having endured some teasing, ostracism or discrimination related to their being raised by same-sex parents. But Gartrell and Bos could find no differences on psychological adjustment tests between the children and those in a group of matched controls. At age 10, children reporting discrimination did exhibit more signs of psychological stress than their peers, but by age 17, the feelings had dissipated. "Obviously there are some factors that may include family support and changes in education about appreciation for diversity that may be helping young people to come to a better place despite these experiences," says Gartrell. (PARK, Alice. Study: Children of Lesbians

May Do Better Than Their Peers, in Time)

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É inegável também que crianças criadas em famílias homoparentais apresentam maior tolerância e entendimento em relação às novas estruturas familiares que têm surgido nos últimos tempos. Claro que esses valores também podem, e devem, ser ensinados em famílias heteroparentais, mas infelizmente ainda não se pode afirmar que é o que ocorre em todas elas.

3. Conclusão

Ao longo desse artigo fica claro que a adoção por casais homoafetivos não gera conseqüências negativas aos adotados, pelo contrário, acrescenta valores positivos à sua formação e aparenta criar um ambiente mais propício ao desenvolvimento psicológico e intelectual do adotado. Apesar de encontrarem obstáculos, eles se mostraram mais preparados para lidar com o assunto e direcionar seus filhos a um estado psicológico estável.

Se essa estrutura familiar causa tantos efeitos positivos à criança, por que correr o risco de precisar passar novamente por todo o processo de adoção se houver morte de um dos pais, no caso morte do que detém a guarda da criança? Por que não facilitar o processo de adoção conjunta e simplesmente legitimar o casal e a criança como uma entidade familiar? Esses são questionamentos que assolam estudiosos desse assunto e que se mostram completamente válidos após os argumentos e contra-argumentos expostos acima.

Entretanto, o problema maior dessa questão não se encontra no fato da adoção ou do direito à sucessão, mas sim num preconceito arraigado nas estruturas sociais brasileiras. A repulsa das pessoas a casais homossexuais é tamanha ao ponto de tentarem impedir esse processo de adoção, caracterizando também como uma forma de homofobia. Há uma ideia completamente distorcida de homossexual, principalmente os do sexo masculino. Comumente esses são estereotipados como promíscuos, portadores de AIDS e pecaminosos por opção, visto que muitos entendem a homossexualidade como uma “opção” sexual. Além do mais, é comum associarem ao homossexual a figura afeminada e passiva. Um argumento que comprova o que é dito encontra-se no fato de que homens heterossexuais podem, por inúmeras vezes, terem relações eventuais com travestis ou afeminados e não se considerarem homossexuais por isso, já que fazem o papel de dominante na relação, convencionalmente estabelecido pelo “macho”.

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desfavorecidas. São decisões como essa que fazem com que todos possam vivenciar, com qualidade de vida e liberdade, o Estado Democrático de Direito.

4. Referências bibliográficas

ARAÚJO, Paulo Jeyson Gomes. Adoção por casais homoafetivos. Disponível em http://www.lfg.com.br. 20 de Novembro de 2008.

BOS, Henny; GARTRELL, Nanette; GELDEREN, Loes Van; GOLDBERG, Naomi. Adolescents of the U.S. National Longitudinal Lesbian Family Study : Male Role Models, Gender Role Traits, and Psychological Adjustment. 1º de Junho de 2012.

BOS, Henny; GARTRELL, Nanette; PEYSER, Heidi. Family Characteristics, Custody Arrangements, and Adolescent Psychological Well-being After Lesbian Mothers Break Up. Dezembro de 2011.

BOS, Henny M.W.; GARTRELL, Nanette; GELDEREN, Loes Van; HERMANNS, Jo; PERRIN, Ellen. Quality of Life of Adolescents Raised from Birth by Lesbian Mothers: The US National Longitudinal Family Study. Janeiro de 2012.

Constituição Federal de 1988.

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